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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MACHADO DE ASSIS FACULDADES INTEGRADAS MACHADO DE ASSIS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO CLÍNICA ESTÉTICA ROSANA SOUZA ROSA DERMATITE ATÓPICA E SEBORREICA INFLUÊNCIA ALIMENTAR E TRATAMENTO NUTRICIONAL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO SÃO PAULO 2020 ROSANA SOUZA ROSA DERMATITE ATÓPICA E SEBORREICA INFLUÊNCIA ALIMENTAR E TRATAMENTO NUTRICIONAL Artigo de Revisão apresentada à IPGS - Instituto de Pesquisas, Ensino e Gestão em Saúde, como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Nutrição Clínica e Estética. . Orientadora: Doutora Annerose Barros SÃO PAULO 2020 3 RESUMO Atualmente, observa-se um crescimento progressivo das afecções cutâneas, como doenças alérgicas, acne, dermatites, entre outras. A dermatite atópica é uma doença inflamatória crônica que se define por anormalidade na barreira cutânea e processo imunológico. A dermatite seborreica provem de uma insuficiência no funcionamento das glândulas sebáceas. Ainda não havendo uma cura permanente para a dermatite, estudos têm buscado em terapias complementares, principalmente, na nutrição, uma possível alternativa para minimizar os sintomas da doença. Observou-se efeitos positivos em uma dieta isenta de alergênicos, o uso de probióticos e ômega 3, porém são necessárias mais pesquisas sobre a suplementação de fitoterápicos, vitaminas e minerais para estabelecer parâmetros de utilização e padrões de protocolos. O objetivo deste trabalho é revisar sobre os mecanismos envolvidos na dermatite atópica e seborreica, a influência alimentar e o tratamento nutricional. O método utilizado para o desenvolvimento desse trabalho de revisão foram a utilização de estudos nas bases de dados, livros de nutrição, estética e bioquímica. Palavras-Chave: Dermatite, dermatite seborreica, dermatite atópica, tratamento nutricional, inflamação cutânea. SUMMARY Currently, there is a progressive growth of skin disorders, such as allergic diseases, acne, dermatitis, among others. Atopic dermatitis is a chronic inflammatory disease that is defined by abnormalities in the skin barrier and immune process. Seborrheic dermatitis stems from an inadequate functioning of the sebaceous glands. Although there is no permanent cure for dermatitis, studies have sought complementary therapies, especially nutrition, a possible alternative to minimize the symptoms of the disease. Positive effects were observed in an allergen-free diet, the use of probiotics and omega 3, but further research on herbal supplementation, vitamins and minerals is needed to establish parameters of use and protocol standards. The aim of this paper is to review the mechanisms involved in atopic and seborrheic dermatitis, food influence and nutritional treatment. The method used for the development of this review work was the use of database studies, nutrition books, aesthetics and biochemistry. Key Words: Dermatitis, seborrheic dermatitis, atopic dermatitis, nutritional treatment, skin inflammation. 4 1. INTRODUÇÃO Na atualidade, existem inúmeras evidências procedentes apoiando a influência da nutrição nos distúrbios dermatológicos. Grande parte do progresso vem da investigação do papel da regulação nutricional em reações de oxidação-redução, inflamação e alterações hormonais e as alterações sugeridas impacto da alteração na microbiota intestinal e no eixo – pele e intestino (MAAROUF, PLATTO, SHI, 2018). A dermatite atópica caracteriza-se por lesões cutâneas pápulo-vesiculares intensamente pruriginosas que evoluem para descamação, despigmentação e posterior liquenificação. Em cerca de 60-80% dos casos, a dermatite atópica surge nos dois primeiros anos de vida, com maior propensão pelo sexo feminino. Na maioria das vezes tem uma evolução favorável, sendo que quando persiste na idade adulta tende a ser mais grave (LOPES, et al, 2019). A dermatite seborreica ou eczema seborreico é uma doença inflamatória papulosa e escamosa crônica ou aguda da pele, áreas que são afetadas são as ricamente supridas com glândulas sebáceas (hipersecreção), porém o sebo não está necessariamente associado à dermatite atópica). A característica mais proeminente da condição é a aparência de escama, que pode apresentar-se como seca ou oleosa (BRENNER, HORWITZ; 1988). Estudos têm sido realizados envolvendo nutrientes, alimentos e fitoterápicos a fim de diminuir os sintomas e o prognóstico da doença em crianças e, principalmente, em adultos. Para prevenir a dermatite atópica, estudos constataram que o status nutricional materno durante a gravidez e durante o aleitamento materno exclusivo na criança por 4 a 6 meses e a oferta precoce de crianças a alergênicos são os principais pontos a serem avaliados (OLIVEIRA, 2014). Nos anos 50, o foco dos estudos sobre DS foi pesquisar a sua associação com as deficiências vitamínicas, como as vitaminas B6, B12, D e o mineral zinco (SAMPAIO, et al, 2011). Ainda hoje, não está claro se os hábitos alimentares e a deficiência de micronutrientes têm relação com o aparecimento e agravamento das dermatites. Enfim, objetivo dessa pesquisa foi analisar a influência alimentar e a eficácia da nutrição no tratamento do mesmo. 5 2. MÉTODOS Esse estudo caracteriza-se como uma revisão da literatura. Foram incluídos artigos originais e de revisão publicados entre os anos de 1988 e 2019, incluindo algumas referências tradicionais mais antigas. Foram realizadas buscas nas bases de dados Scielo, Pubmed, Bireme, LWW Journals Specialty, Medline, sendo utilizados os seguintes indexadores em português bem como seus correspondentes em inglês, associados ou não: “dermatite”, “dermatite seborreica”, “dermatite atópica”, “tratamento nutricional”, “inflamação cutânea” e em inglês “dermatites”, “seborrheic dermatites”, “atopic dermatites”, “nutritional treatment”, “skin inflammation”. Foram encontrados 67 artigos sobre o assunto, contudo para este estudo foram utilizados 35. Os artigos não utilizados não possuíam relação direta com a temática aqui estudada. 3. DESENVOLVIMENTO 3.1 DERMATITE ATÓPICA E DERMATITE SEBORREICA A dermatite atópica é uma doença inflamatória cutânea crônica de etiologia multifatorial que se apresenta clinicamente sob a forma de eczema. (KATAYAMA, 2017). Sua característica se mostra pela anormalidade na barreira cutânea e processo imunológico mediado pelas células T helper tipo 2 (Th2), e em alguns casos, incluindo os mecanismos mediados também por imunoglobulina E (IgE). Predominando a resposta do tipo Th2, os pacientes, em parte, com dermatite atópica evolui também para rinite alérgica ou asma (NOVAK, 2011). Em média 60% dos pacientes desenvolvem a doença no primeiro ano de vida, e 90%, antes dos 5 anos. No entanto, apenas 25% dos casos permanecem até a fase adulta. Nestes pacientes, constata-se associação com alergia respiratória e eczema flexural precoce (FISET, 2006). Tabela 1: Locais e características das lesões da DA conforme idade. Fonte: Adaptada de CLARO, 2006. IDADE LOCAIS PREDOMINANTES DE DESENVOLVIMENTO DA LESÃO CARACTERISTICAS DA LESÃO 0-2 anos Face (áreas convexas), couro cabeludo, joelhos, punhos e mãos. Eczema agudo com eritema, pápulas e/ ou vesículas, exsudação e crosta. 2-11 anos Superfícies de flexão dos membros, como dobras do joelho, braços, pregas antecubitais, punhos, região cervical e flancos. Lesões mais secas, menos exsudativas, com presença de áreas de liquenificação da pele (expressão de eczema crônico). A partir dos 12 anos (adolescentes e adultos) Semelhante aos locais de crianças de 2 a 11 anos, com frequente envolvimento das mãos, pés, pálpebras, genitais e mamilos (em mulheres) e das pregasflexoras. Predomínio de liquenificação da pele. 6 A dermatite seborreica é um processo inflamatório crônico comum, devido ao aumento abundante do fungo Malassezia spp. que aflige 3-5% da população, com propensão na população imunocomprometida. Apresenta distribuição etária bimodal que geralmente se mostra em crianças e em adultos de meia idade ou idosos. Seu surgimento acontece após o crescimento da atividade da glândula sebácea que imita o processo da formação da acne (SCHWARTZ, JANUSZ, JANNIGER, 2006). Os homens são acometidos com uma grande frequência em todas as faixas etárias e não há preferência racial, sugere-se que ela esteja associada a hormônios sexuais. (SAMPAIO, et al, 2011). A predominância das áreas afetadas são: face (87,7%), couro cabeludo (70,3%), tórax (26,8%), membros inferiores (2,3%), membros superiores (1,3%) e outros locais (5,4%), como as dobras (Figura 1) (PEYRI, LLEONART, 2007) Figura 1: Topografia da Dermatite Seborreica Figura adaptada de PEYRI, LLEONART, 2007. 3.2 INFLUÊNCIA ALIMENTAR NO DESENVOLVIMENTO DA DERMATITE ATÓPICA E SEBORREICA Recentemente, existem diversas indícios apoiando a influência da nutrição nos distúrbios dermatológicos. Uma enorme parte do progresso provém da investigação do papel da regulação nutricional em reações de oxidação-redução, inflamação e alterações 7 hormonais e a alteração do impacto da microbioma intestinal e no eixo intestinal da pele (JEREMY, et al, 2003). A ideia de "eixo intestinal da pele" propõem uma teoria que vincula as alterações do microbioma gastrointestinal para permeabilidade intestinal aumentada, inflamação sistêmica, e posteriormente, o desenvolvimento da acne vulgar e outros distúrbios dermatológicos, como a dermatite. Outros estudos sobre a conexão pele-intestino mostram que a colaboração do microbioma intestinal à regulação de inflamação também induz o estresse oxidativo, controle glicêmico e o conteúdo lipídico do tecido. Devido à extensão de alteração individual no microbioma e a complexidade do eixo pele- intestino, não é de se admirar que esses sistemas contribuam para uma ampla variedade de distúrbios cutâneos (BOWE, PATEL, LOGAN, 2014). Igual a acne, a literatura descreve poucos casos de aumento da tolerância à glicose no sangue e pele de pacientes com dermatite seborreica. Contudo, Dowlati et al. não mencionaram diferença nas concentrações de insulina entre um grupo de 20 paciente com dermatite seborreica e 20 pacientes saudáveis (P = 0,13). Deste modo, diferentemente da acne e de outros distúrbios, não há associação entre hiperinsulinismo e dermatite seborreica (DOWLATI, et al., 1998). Tradicionalmente a criança apresenta a dermatite atópica nos primeiros meses de vida, que pode ser seguida pela sensibilização ao consumo das proteínas do leite de vaca, ovo ou amendoim, ocasionalmente manifestando vômitos, diarreia ou anafilaxia associados à ingestão destes alimentos, por volta dos 6-12 meses de vida (THOMSEN, 2015). A dermatite atópica está relacionada com o aumento de IgE (sIgE) distinta para alimentos, diversas vezes já detectável no início da infância. De modo geral, há relatos que a dermatite atópica mais grave relaciona-se a maior prevalência de alergia alimentar. Assim sendo, crianças com dermatite atópica leve, por diversas vezes não são classificados como estando em risco significativo para uma alergia alimentar, não sendo recomendado realizar testes de IgE e teste de desafio oral nesses pacientes (ROERDINK, 2016). Há três diferentes respostas que foram reconhecidas em pacientes com dermatite atópica após a ingestão de alimentos que causam alergia: 1 - Reações do tipo imediato, que em geral acontecem dentro de 2 horas após a ingestão de alimentos, como urticária, angioedema, sintomas respiratórios; 8 2 - Prurido, acontecendo dentro de 2 horas após a ingestão de alimentos com arranhões subsequentes, estendendo-se a uma deterioração da dermatite atópica; 3 - Reações tardias (um surto de dermatite que ocorre após 6 a 48 horas). Reações tardias também podem evoluir após uma reação do tipo imediato (ROERDINK, 2016). Um terço das crianças com dermatite atópica moderada/ grave tem alergia alimentar associada; no entanto, alergia alimentar não é a causa de dermatite atópica. Dietas restritivas só devem ser prescritas para crianças com alergia alimentar comprovada (AOKI, et al, 2019). 3.3 TRATAMENTO NUTRICIONAL NA DERMATITE ATÓPICA E SEBORREICA ALIMENTAÇÃO Pesquisas analisaram que a exclusão de alguns grupos de alimentos distintos da dieta diminui os sintomas da dermatite em crianças e adultos. Em média 90% dos casos de alergia alimentar são ocasionados pelo trigo, leite de vaca, soja, peixe, ovos e amendoim, sendo o leite de vaca, trigo (em alguns casos, o glúten) e ovos os mais estudados em pacientes com dermatite (OLIVEIRA, 2014). O crescimento da permeabilidade intestinal e uma barreira cutânea irregular contribuem também para reações alérgicas proporcionados por certos alimentos, os quais aumentam a expansão de células T positivas para o antígeno associado a linfócitos cutâneos (CLA), colaborando para o aparecimento ou piora dos sintomas da dermatite (CELAKOVSKÁ, et al, 2012). Estudos mostram ainda que aditivos alimentares administrados isolados ou por meio de alimentos processados em adultos e crianças também foram responsáveis pelo crescimento de coceira e ressecamento da pele, já que agem como pseudoalérgenos (OLIVEIRA, 2014). Celakovská et al. realizaram uma pesquisa com 149 adultos (108 mulheres e 41 homens) e notaram a eficácia de uma dieta hipoalergênica (isenta de glúten, leite de vaca e derivados, ovos, peixes e frutos do mar, oleaginosas e temperos) no período de três semanas. Os pesquisadores também analizaram que os sintomas clínicos de 80% dos pacientes com dermatite atópica moderada ou grave diminuiram, sendo 76% de forma significativa (CELAKOVSKÁ, et al, 2012). 9 Mais revisões analisaram que a isenção do leite de vaca, glúten e ovos também diminuíram manifestações dermatológicas, apressando a melhora dos sintomas clínicos ou até mesmo minimizando as crises na dermatite atópica (OLIVEIRA, 2014). PROBIÓTICOS A utilização de probióticos tem sido pesquisado para a tratamento de várias doenças, inclusive em dermatologia (KUMAR, MAHAJAN, KAMRA, 2014). Probióticos são microrganismos vivos com ação benéfica na saúde dos hospedeiros, modificando a resposta imune, competindo com flora intestinal prejudicial, toxinas e hospedeiro produtos, auxiliando na melhora da função da barreira intestinal (YANG, et al, 2014). Há uma causa genética conhecida para a dermatite atópica, mas ela por si só não explica essa prevalência crescente. Outro mecanismo envolvido na dermatite é a disfunção na barreira intestinal da pele. Irregularidades de barreira parece afetar a mucosa intestinal, composição da microflora intestinal é alterado em pacientes com dermatite atópica. Na dermatite, a barreira é prejudicada, não somente na pele, mas também na mucosa intestinal, ocasionando a transferência de antígenos exógenos (YANG, et al, 2014). Os probióticos assemelham com citocinas Th1 e limitam a Resposta Th2, eles também atuam em Tregs, que regula resposta imune, manifestação inversamente correlação com imunoglobulina E (IgE), eosinofilia, e interferon-gama (IFN-γ), por conseguinte, a Tregs reduz a via inflamatória. Além disto, alguns expressaram a capacidade de acelerar a recuperação da função de barreira da pele (BAQUERIZO, YIM, KERI, 2014). Com o objetivo de pesquisar o efeito da administração de iogurtes enriquecidos com Bifidobacterium animalis lactis LKM512 em pacientes com dermatite atópica intratável, Matsumoto et al. notaram que tal administração melhorou a recuperação da função da mucosa e aumentou a produção depoliaminas e ácidos graxos de cadeia curta (principalmente o butirato) no intestino, aumentando a produção de citocinas do tipo Th1, proporcionando um equilíbrio da relação Th1/Th2 e diminuindo, dessa forma, os sintomas clínicos da doença nestes pacientes (OLIVEIRA, 2014). Iemoli et al. administraram uma combinação de duas cepas (Lactobacillus salivarius LS01 e Bifidobacterium breve BR03) em adultos no período de 12 semanas e notaram que tal suplementação também concedeu melhoras clínicas e imunológicas, incluindo a 10 diminuição dos sintomas clínicos da doença, redução da translocação microbiana, redução da ativação do sistema imune, e contribuiu para o equilíbrio da razão Th1/Th2. Estudos parecidos verificaram que a administração somente de Lactobacillus salivarius LS01 e uma combinação de Lactobacillus acidophilus 74-2, Lactobacillus paracasei Lpc-37 e Bifidobacterium animalis subespécie lactis DGCC 42075 também foram responsáveis por minimizar os sintomas clínicos da dermatite e a Th1/Th2 (ROESSLER, et al, 2008). ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS Os ácidos graxos essenciais e seus produtos fazem um importante papel na manutenção da integridade da estrutura e fisiologia da pele, bem como na atividade de receptores e enzimas da membrana. Além disso, tais ácidos graxos são precursores de prostaglandinas, leucotrienos e outros eicosanoides, os quais regulam respostas imunológicas, inflamatórias e proliferativas (OLIVEIRA, 2014). Alguns autores apresentam que a dermatite atópica está ligada com uma anormalidade no metabolismo dos ácidos graxos essenciais e também prejudica a incorporação dos mesmos na membrana fosfolipídica (HORROBIN, 2000). Outros estudos ainda verificaram que, na deficiência dos ácidos graxos essenciais, a pele fica mais suscetível ao aparecimento de lesões secas, escamosas e avermelhadas, igualmente àquelas ocorridas na dermatite atópica, uma vez que há um aumento na atividade metabólica, na proliferação das células epidérmicas, na formação de esteróis-ésteres e queratinócitos anormais, na perda de água pela pele e na colonização de Staphylococcus aureus (BONEBERGER, RUPEC, RUZICKA, 2010). ÔMEGA 3 Os ácidos graxos poli-insaturados do tipo ômega-3 têm importantes efeitos antialérgicos, já que reduzem a produção de prostaglandina E2 (PGE2), mediador inflamatório responsável por aumentar a interleucina 4 (IL-4) e inibir o interferon gama (IFN-γ), citocinas estas que estão envolvidas com a resposta alérgica Th2 (PRESCOTT, CALDER, 2004). Mayser, et al. verificaram que a administração de 200 ml de infusão contendo 10% de óleo de peixe em 22 pacientes hospitalizados com dermatite atópica moderada ou grave foi eficiente na melhora dos sintomas e gravidade da doença, comparado ao grupo suplementado com ômega-6 (MAYSER, et al, 2002). 11 Em pesquisas de revisões efetuadas por alguns autores, notou-se redução dos sintomas em pacientes portadores de dermatite atópica com a administração de óleo de peixe rico em ômega-3, porém tal redução não foi significativa no estudo de Prescott, et al. (PRESCOTT, CALDER, 2004). VITAMINAS (B6, B12, D) E ZINCO Estudos analisaram a conexão de alguns micronutrientes com a dermatite atópica tanto em adultos quanto em crianças. Autores mostraram que suplementações de B6, B12, D e zinco podem proporcionar melhoras nos sintomas clínicos de tal doença (OLIVEIRA, 2014). A piridoxina (vitamina B6) é uma vitamina hidrossolúvel que age como cofator de diversas reações bioquímicas no nosso corpo. Não há estudos que mostrem um mecanismo específico da piridoxina envolvido na dermatite, mas verifica-se que uma dieta deficiente em tal vitamina pode aumentar o risco de dermatite (DINICOLA, KEKEVIAN, CHANG, 2012). Porém, no único estudo randomizado e duplo-cego envolvendo a suplementação de 50 mg de piridoxina em crianças com dermatite atópica não foi observada nenhuma diferença entre o grupo suplementado e o placebo, concluindo que a suplementação de tal vitamina não é eficaz para melhorar os sintomas e/ou aumentar os riscos do desenvolvimento de sintomas clínicos da doença (OLIVEIRA, 2014). A cianocobalamina (vitamina B12) também tem sido estudada no tratamento da dermatite atópica, haja vista que possui papel importante na diminuição da síntese de citocinas inflamatórias (STUCKER, et al, 2004). Tais citocinas estão envolvidas na estimulação da óxido nítrico sintase, enzima responsável pela produção de óxido nítrico e por sintomas como eritema, vasodilatação e prurido (DINICOLA, KEKEVIAN, CHANG, 2012). Segundo DiNicola et al., a vitamina D é considerada uma grande promessa para o tratamento da dermatite, uma vez que pode induzir a diferenciação de queratinócitos, facilitar a cicatrização de feridas, aumentar a síntese de fator de crescimento de plaquetas, reduzir a síntese de citocinas inflamatórias e favorecer a expressão da catelicidina, um peptídeo antimicrobiano, reduzindo, assim, a infecção cutânea (DINICOLA, KEKEVIAN, CHANG, 2012). Estudos observaram que baixos níveis de vitamina D contribuem para o agravamento dos sintomas clínicos da doença (AKAN, et al, 2013). Heine et al. justificam tal relação, em seu estudo caso-controle, através da 12 grande incidência de polimorfismo no gene receptor de vitamina D entre pacientes com dermatite atópica grave, contribuindo para a desregulação da barreira cutânea e do sistema imune local (HEINE, et al, 2012). David et al. verificaram que crianças com dermatite atópica tem baixo nível de zinco sérico, e uma suplementação via oral pode melhorar os sintomas clínicos de tal doença (OLIVEIRA, 2014). Takahashi et al. também notaram que em ratos alimentados com uma dieta pobre em zinco aumentou a incidência de eczemas e erupções cutâneas, a produção de IgE e a proliferação de Staphylococcus aureus na pele, bem como o número de células T CD4+ e CD25+ (TAKAHASHI, et al, 2008). No entanto, no estudo conduzido por Ewing, et al, a administração de 184,5 mg de sulfato de zinco por duas semanas em crianças de 1 a 16 anos não promoveu melhoras significativas nos sintomas clínicos da dermatite atópica (EWING, et al, 1991). FITOTERÁPICOS A fitoterapia vem sendo utilizada tanto de forma tópica quanto de uso interno como uma alternativa aos medicamentos alopáticos, os quais possuem diversos efeitos colaterais e, em muitos casos, não promovem uma resposta significativa no paciente com dermatite (LEE, BIELORY, 2010). Os fitoterápicos para a ingestão para a melhoras de sintomas de crianças e adultos com dermatite são o chá Oolong (Camellia sinensis), a administração de 1 litro de chá de Oolong três vezes ao dia por seis meses melhorou os sintomas de dermatite atópica em 63% dos pacientes estudados já no primeiro mês e manteve a melhora em 54% dos pacientes após o fim do estudo. Estes resultados são atribuídos às propriedades antialérgicas dos polifenóis presentes na erva (UEHARA, SUGIURA, SAKURAI, 2001). O Hochu-ekki-to é um misto de 10 ervas japonesas: Astrágalo (Radix astragali), Ginseng (Panax ginseng), Bai Zhu (Rhizoma atractylodis), Alcaçuz (Glycyrrhiza uralensis), Dong-Quai (Angelica sinensis), Chen Pi (Pericarpium citri reticulatae), Erva de São Cristóvão (Rhizoma cimicifugae), Chai Hu (Radix bupleuri), Gengibre (Zingiber officinale), Da Zao (Fructus jujubae date), ervas medicinais tradicionais chinesas. Os autores confirmaram redução significativa na contagem de eosinófilos e IgE sérico, o que pode ser a justificativa para a melhora no quadro clínico da doença (OLIVEIRA, 2014). 13 O estudo de Hon et al, se deu pela a administração de ervas da Medicina Tradicional Chinesa, em que uma dose diária de 9 g de PentaHerbs, contendo 1 g de Bohe (Herba menthae), 2g de Jin Yin Hua (Flos lonicerae), 2 g de Mu Dan Pi (Cortex moutan), 2 g de Bai Zhu (Rhizoma atractylodis) e 2 g de Huang Bai (Cortex phellodendri),dividida três vezes ao dia, durante 12 semanas reduziu o quadro clínico de crianças com dermatite atópica moderada ou grave, diminuindo assim o uso de corticosteroides. Essa melhora se justifica pela redução nos níveis de quimiocina cutânea atraente para células T (CTACK), importante parâmetro inflamatório (HON, et al, 2004). Efeito semelhantes foram analizados no estudo de Sheehan et al, porém com a administração de 200 ml de água com 10 g de extrato de ervas (Clematis armandii, Dictamnus dasycarpus, Glycyrrhiza glabra, Ledebouriella seloides, Lophatherum gracile, Rehmannia glutinosa, Paeonia lactiflora, Potentilla chinensis, Tribulus terrestris e Schizonepeta tenuifolia), preparadas sob a forma de decocção, onde foi observada redução do aumento e gravidade do eczema (SHEEHAN, 1992). 14 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A literatura mostra que dermatite é uma doença complexa, de causa desconhecida, porém com vários mecanismos que podem ser o motivo para o surgimento da mesma, é uma doença que não possui cura. A revisão dos estudos apontou efeitos positivos em uma dieta isenta de alimentos alergênicos, o consumo de ômega 3 e o uso de probióticos que aparentam serem eficazes no tratamento da dermatite, obtendo melhora na maioria dos casos entre crianças e adultos/idosos. Entretanto, a suplementação de vitaminas e minerais e o uso de fitoterápicos para diminuir os sintomas causado por essa doença necessita de estudos mais conclusivos, principalmente em relação à dose e ao tempo de suplementação. Sobre o ômega 3, apesar dos resultados positivos, são necessários mais estudos para verificar a quantidade de DHA e EPA benéfica para esses casos. Enquanto essas dúvidas que cercam a dose e ao período de utilização da suplementação de micronutrientes e fitoterápicos e a associação entre eles ao controle da dermatite atópica e seborreica forem desvendadas, é aconselhável o estimulo de uma dieta equilibrada, isenta de alergênicos, consumo de ômega 3 e o uso de probióticos. 15 5. REFERÊNCIAS MAAROUF, M.; PLATTO, J. F.; SHI, V. Y. The role of nutrition in inflammatory pilosebaceous disorders: Implication of the skin-gut axis. Australasian Journal of Dermatology. Austrália, USA, 2018; 60(2):90-98. LOPES, C.; et al. 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