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Medicina Veterinária Semiologia Veterinária Rebeca Meneses @RebecaWoset EXAME PARA DIAGNÓSTICO DE CLAUDICAÇÃO De modo geral, a sequência adotada é inicialmente a identificação do animal e a anamese, realizada com o acompanhante (proprietário, tratador ou treinador) do equino. Observa-se o equino em repouso e em exercício, a fim de determinar o membro claudicante. A seguir, para determinar a fonte da dor, o examinador realiza a palpação e manipula o membro do equino. O veterinário deve realizar a palpação no sentido distoproximal do membro, utilizando também a palpação indireta por meio da pinça de casco. IDENTIFICAÇÃO E ANAMNESE O conhecimento da idade no raciocínio do examinador é importante, pois, a partir dessa informação, sabe-se que uma claudicação moderada bilateral dos membros posteriores em um equino de 1,5 a 2 anos provavelmente estará relacionada com ostecondrose nas articulações do tarso ou femurotibiopatelar; ao contrário, se for um equino adulto, é mais provável que o diagnóstico seja uma doença articular degenerativa, acometendo as articulações do tarso. Dentre as perguntas mais importantes, estão: • Qual foi a causa da claudicação? O proprietário pode ter visto o que ocorreu ou as circunstâncias que podem ter levado à claudicação. A respeito da modalidade esportiva que o equino desenvolve, é importante conhecer o grau de dificuldade e a sua frequência, bem como suas características específicas, capazes de provocar qualquer tipo de lesão no aparelho locomotor. Alguns exemplos estão descritos no Quadro 12.6. • O animal tropeça frequentemente? O tropeço pode resultar de alguma interferência na ação sinérgica dos músculos e tendões flexores ou extensores, bem como a ocorrência de dor na região do talão, enfermidade neurológica, ou ainda por apresentar uma pinça do casco muito longa • Quando o cavalo foi ferrado e/ou casqueado pela última vez? Eventualmente, com a turquês ou grosa, retira-se uma porção exacerbada do casco atingindo até a região sensitiva. Ocorre também a possibilidade de se inserir um cravo próximo ou na região sensitiva, o que geralmente é revelado pelo teste da pinça do casco • Quais são o tratamento realizado e o efeito produzido? É importante registrar dose e frequência de administração de fármacos. Se o animal recebeu uma terapia apropriada, sem ter causado efeito benéfico, provavelmente o prognóstico será reservado. Além disso, é necessário saber se o animal está sob efeito de analgésico por aplicação de algum anti- inflamatório não esteroide ou esteroide que possa mascarar os sinais clínicos. EXAME FÍSICO O exame físico do paciente compreende inspeção, palpação e manipulação dos membros em repouso e em movimento, além da utilização de alguns instrumentos que facilitem o exame. Os principais objetivos do exame do aparelho locomotor são: determinar qual o membro claudicante, localizar a lesão no membro e diagnosticar a enfermidade. Inicialmente, realiza-se inspeção panorâmica do equino em estação, seguida de inspeção localizada dos segmentos corporais, fixando-se a atenção em áreas restritas. Nessa fase, é possível observar assimetrias de conformação e aprumos, deformações, aumentos de volume, atrofias muscula res, soluções de continuidade, cicatrizes Medicina Veterinária Semiologia Veterinária Rebeca Meneses @RebecaWoset ou posturas anormais, visua lizadas de frente, de ambos os lados e de trás. Na se quência, o equino será examinado em movimento, uma vez que algumas enfermidades exibem seus sinais clínicos apenas nesse estado. O examinador deve ser capaz de observar todos os membros em conjunto, inicialmente, e então cada um individualmente, para facilitar o diagnóstico de claudicação. O principal objetivo durante o exercício é identificar o membro ou membros envolvidos e o grau de claudicação, além de uma possível incoordenação do animal em movimento. Na maioria dos exames, o movimento inicial será em linha reta, em superfície plana e terreno duro, seguido de observação em outros tipos de terreno e em movimentação circular. Inicia-se com andamento a passo, para que a sequência lenta do movimento do pé possibilite ao examinador inspecionar cuidadosamente o seu trajeto durante a progressão do membro e o modo de apoio do pé ao solo. Posteriormente, o animal será conduzido ao trote lento e rápido. Geralmente, nas claudicações de apoio do membro anterior, o animal eleva a cabeça quando apoia o membro lesado no solo, na tentativa de aliviar o peso aplicado sobre ele na fase de apoio e, em seguida, abaixa a cabeça quando apoia o membro normal. Já nas claudicações do membro posterior, a garupa do lado afetado se eleva ao apoio do membro lesado e desce ao apoio do membro são. A condução do equino em círculos acentua claudicações leve, ele deve ser mantido ao trote, iniciando com um círculo longo, fechando-o com diminuição gradual. Animais com claudicação bilateral dos membros anteriores não observados em linha reta ao trote apresentarão claudicação no membro anterior interno com fre quência. Se a claudicação persistir quando o membro estiver externo ao círculo, deve ser considerada bilateral, geralmente envolvendo o ligamento suspensor do boleto, lesão no ligamento colateral, alterações nos ossos do carpo radial e enfermidades do II metacarpal. Em virtude de a superfície dura não pressionar a sola ou ranilha, equinos com suspeita de apresentar enfermidade no pé devem ser submetidos ao exercício em superfície irregular como em cascalho. As claudicações dos membros posteriores costumam ser caracterizadas por aumento de movimentação da garupa em virtude do aumento da amplitude de elevação e depressão desta. GRADUAÇÃO DA CLAUDICAÇÃO 0. Não Claudica 1. Claudica com inconsistência em certas superfícies 2. Claudica com consistências em certas superfícies 3. Claudicação ao trote 4. Claudicação ao passo 5. Perca de função TESTES DE FLEXÃO A dor pode ser exacerbada por flexão passiva de uma articulação com sinovite e efusão. Sob flexão, a capacidade do volume intrassinovial é reduzida e o fluido sinovial exerce pressão na membrana sinovial e cápsula sensitiva, causando dor pela ativação de receptores de dor. Após a flexão das articulações, o cavalo é submetido ao trote ou até mesmo ao passo. Na maioria dos testes, a flexão é feita por 30 a 60 s, à exceção do teste da articulação társica. As ar ticulações devem ser flexionadas lentamente para possibilitar a acomodação dos mecanorreceptores à tensão. Esse procedimento faz com que o animal aceite melhor a manipulação realizada. Após a flexão, o condutor deve estar preparado para sair imediatamente ao trote com o animal, deixando a cabeça deste com a guia de Medicina Veterinária Semiologia Veterinária Rebeca Meneses @RebecaWoset condução livre. Uma resposta positiva é obtida quando o animal apresenta uma exacerbação da claudicação nos primeiros 3 a 4 passos após liberar a flexão do membro. Nos membros posteriores, os testes de flexão são realizados de maneira semelhante, iniciando-se sempre nas articulações distais do membro. Para flexionar as articulações interfalângicas e a metatarsofalângica, o examinador apoia o membro distal em sua perna, deixando as mãos livres para flexionar as articulações. A flexão da articulação do tarso, conhecida como “teste do esparavão”, é realizada segurando-se o metatarso paralelo ao solo, sem flexão ativa sob a articulação metatarsofalângica. Essa posição deve ser mantida por 1 a 2 min e, então, o cavalo inicia o trote rapidamente. EXAME POR INSPEÇÃO E PALPAÇÃO ESPECÍFICAS PÉ De modo geral, o casco deve ser inspecionado para assimetria, conformação, altura do talão, espaço entre os talões, anéisde crescimento, rachaduras do estojo córneo e drenagem de exsudato da região coronária. Prossegue-se com o exame físico, realizando-se a pressão e a percussão aplicadas na sola e na parede do casco pela pinça de casco. A percussão costuma ser realizada com um martelo apropriado ou com a própria pinça de casco. QUARTELA À inspeção e à palpação podem ser observados aumentos de volume, seguidos de aumentos discretos de temperatura e sensibilidade nas superfícies dorsais, medial e lateral da articulação interfalângica proximal, indicando osteoartrite ou exostose. BOLETO | ARTICULAÇÃO METACARPOFALÂNGICA A inspeção do boleto deve ser realizada visando detectar aumento de volume nas re giões dorsal e palmar dessa estrutura. As “bolsas” palmares estão localizadas entre os ramos do ligamento suspensor do boleto e o aspecto palmar dos ossos terceiro metacarpal. A articulação do boleto deve ser flexionada para testar a amplitude de movimento (em geral, 90°) e avaliar qualquer aumento de sensibilidade que possa estar presente. O boleto é flexionado por 1 min e então o animal é submetido ao trote, com resultado positivo caso claudique. Na interpretação desse teste, é Medicina Veterinária Semiologia Veterinária Rebeca Meneses @RebecaWoset importante considerar que a flexão do boleto envolve também a flexão das articulações interfalângicas proximal e distal. REGIÃO DO III METACARPO As lesões visíveis nessa região incluem aumento de volume, envolvendo a região dorsal do terceiro metacarpal e região proximal dos segundo e quarto metacarpais; ou, ainda, na face palmar, envolvendo os tendões flexores ou bainhas sinoviais da região. A palpação é realizada inicialmente com o membro em apoio e posteriormente com o membro semiflexionado e elevado, quando os tendões e ligamentos se apresentam sem tensão e são mais facilmente palpáveis. REGIÃO DA ARTICULAÇÃO DO CARPO Com a flexão do carpo, realiza-se mais facilmente a palpação da articulação do carpo e estruturas ósseas relacionadas. Com o membro flexionado, é possível sentir mais facilmente as duas fileiras ósseas, (bem como as superfícies articulares entre elas (radiocarpal e intercarpal). REGIÃO DAS ARTICULAÇÕES UMERORRADIOULNAR E ESCAPULOUMERAL O teste de extensão deve ser realizado com o examinador posicionado à frente do animal, realizando a extensão e a elevação do membro, forçando o local de inserção do músculo tríceps no olécrano e também a articulação escapuloumeral. REGIÃO DO TARSO | JARRETE O objetivo do exame dessa região é visualizar distensão da cápsula ar ticular tarsotibial dorsomedial ou plantar, medial e lateral (que caracteriza as artrites serosas, hidroartroses társicas ou “esparavão mole”) e espessamentos ósseos localizados sobre a face dorsomedial. REGIÃO DA ARTICULAÇÃO FEMOROTIBIOPATELAR A articulação femorotibiopatelar é formada pelas articulações femorotibial e femoropatelar. Essa região é acessada facilmente pela localização cranial da crista da tíbia e proximal a esta pela identificação dos ligamentos patelares medial, médio e lateral, o tendão do músculo extensor digital longo e os ligamentos colaterais medial e lateral da articulação femorotibial. REGIÕES COXAL E LOMBAR Medicina Veterinária Semiologia Veterinária Rebeca Meneses @RebecaWoset Inicialmente, o exame externo da pelve deve contemplar a observação da simetria das tuberosidades coxal, isquiática e sacral em cada lado do animal. Os movimentos de flexão, extensão e abdução, associados à auscultação com estetoscópio, podem auxiliar na detecção de crepitação REFERÊNCIAS F., FEITOSA,.Francisco. L. Semiologia Veterinária - A Arte do Diagnóstico. Grupo GEN, 2020.
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