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1 Fernanda E. Bocutti T6 - A maior parte da morfogênese pulmonar ocorre no período pós-natal, com crescimento alveolar até os 8 anos de idade - A prevalência das malformações são de 30 a 42 casos para cada 100.000 habitantes por ano e apresentam grande variabilidade clínica, desde crianças assintomáticas até incompatíveis com a vida - O tratamento precoce permite uma velocidade de crescimento pulmonar adequado e na medida do possível, permite ao paciente ter um grau de desenvolvimento pulmonar o mais próximo da normalidade Principais malformações pulmonares congênitas Efisema lobar congênito Cisto broncogênico Sequestro intralobar Sequestro extralobar Malformação adenomatoide cística Malformação arteriovenosa (MAV) Obs: Agenesia e aplasia pulmonares também são descritas Embriogênese do trato respiratório - Via aérea inferior é originada da evaginação da parede ventral do intestino primitivo anterior (foregut), que resulta no parênquima pulmonar, no epitélio de revestimento interno de laringe, na traqueia e nos brônquios - As cartilagens, a musculatura lisa e o tecido conjuntivo dos pulmões originam-se do mesoderma esplâncnico Há quatro fases intrauterinas: período embriônico, pseudoglandular, canalicular e sacular terminal. A última fase, a maturação pulmonar, ocorre após o nascimento Período embriônico: até 4ª semana gestacional Forma-se o divertículo respiratório, resultado da evaginação da parede ventral do intestino primitivo Resultados dessa evaginação: prega traqueoesofágica e os primórdios do tubo laringotraqueal Essas pregas se fundem gradualmente e formam o septo traqueoesofágico e o broto traqueal Ocorre a formação dos brotos pulmonares e do tubo laringotraqueal, já separado do esôfago Período pseudoglandular: 5ª a 17ª semana gestacional Pulmão em desenvolvimento apresenta epitélio cuboide carregado de glicogênio, de maneira similar ao de uma glândula Nessa fase, não é possível distinguir tecido pulmonar do mesênquima esplâncnico No fim dessa fase há a diferenciação em tecido vascular e tecido conjuntivo e todas as estruturas pulmonares, exceto as envolvidas nas trocas gasosas, estão formadas, ainda que incompletas Período canalicular: 17ª à 26ª semanas gestacionais Ocorre o aumento dos brônquios e bronquíolos terminais. Há a formação dos capilares do tecido pulmonar e ácinos, resultando na membrana alveolocapilar Na 24ª semana surgem dos bronquíolos terminais pelo menos dois bronquíolos respiratórios e destes, 3 a 6 passagens tubulares denominadas dutos tubulares No final dessa fase ocorre a diferenciação dos pneumócitos tipo 1 (que formam a membrana alveolocapilar) e tipo 2 (produtores de surfactantes, importante para manutenção da tensão superficial alveolar e evitar colapso/atelectasia) Os sacos terminais e o tecido pulmonar estão bem vascularizados, prontos para a troca de gases. Por isso, nessa fase diz-se que o feto já pode sustentar vida extrauterina por ter capacidade de realizar trocas gasosas com o meio ambiente O líquido amniótico é composto por substâncias produzidas no pulmão, o surfactante. A principal função do surfactante, que se situa entre as camadas de água e o ar no interior do alvéolo, é a redução da tensão superficial no final da expiração para evitar o colapso alveolar A respiração depende do surfactante que é essencial para estabilizar os alvéolos e evitar o colapso ao final da expiração, de tal forma que é possível a manutenção adequada da troca gasosa durante o ciclo ventilatório Período sacular terminal: corresponde ao fim do desenvolvimento intrauterino Ocorre a multiplicação celular e o ganho de volume alveolar em razão da formação de capilares nos sáculos alveolares. Malformações pulmonares 2 Fernanda E. Bocutti T6 Um feto normal, a termo, quando nasce, apresenta 8% do número de alvéolos maduros da vida adulta, cerca de 20 milhões de alvéolos Período de maturação pulmonar: ocorre após o nascimento até os 8 anos de vida. Intensa divisão sacular que leva à formação de dutos alveolares e é responsável pela maior parte do desenvolvimento alveolar. Os alvéolos primitivos têm seu revestimento epitelial cada vez mais delgado, o que significa que alvéolos imaturos geram alvéolos primitivos adicionais e alvéolos maduros no futuro. Durante esse período, há crescimento real no número de alvéolos, e não somente no tamanho O pulmão tem a capacidade de crescer cerca de 20 vezes após o nascimento do indivíduo. Esse é um dos motivos pelos quais o tratamento cirúrgico de afecções congênitas pulmonares é recomendado. Quando se realiza ressecção pulmonar em crianças com menos de 5 anos, ocorre o crescimento compensatório real do pulmão remanescente, com formação de novos alvéolos e ácinos. Com isso, a função ventilatória é reestabelecida à normalidade, sem perda funcional. No adulto os mecanismos de compensação da perda de parênquima ocorrem por distensão dos alvéolos remanescentes, sem crescimento de novos alvéolos. O mecanismo é baseado em hiperinsuflação compensatória, com aumento do volume pulmonar em tamanho, mas não em função. Há perda funcional de fato, proporcional à área ressecada Fatores mecânicos importantes para o desenvolvimento pulmonar Espaço torácico disponível para o crescimento pulmonar: quanto menor for o espaço torácico, mais limitado será o desenvolvimento do pulmão; Movimentos respiratórios fetais: são considerados importantes para condicionar tanto a musculatura respiratória quanto para criar gradiente de pressão entre pulmões e líquido amniótico, fator pelo qual se acredita ocorrer o desenvolvimento pulmonar. Se o gradiente pressórico for inferior ao normal, a consequência é a hipoplasia pulmonar, por exemplo, a hipoplasia pulmonar secundária ao oligodrâmnio; Volume adequado do líquido amniótico: o gradiente de pressão mencionado depende da quantidade de líquido amniótico dentro do trato respiratório, pois quanto maior a quantidade de líquido, maior a pressão hidrostática Efisema lobar congênito - Prevalência entre 1:20.000 e 1:30.000 nascidos vivos, sendo 2 homens para 1 mulher - Acomete mais os lobos superior e esquerdo, médio e o superior direito - Caracteriza-se pela “hiperinsuflação” do lobo pulmonar e efeito de massa que comprime os demais lobos com desvio do mediastino - Histologicamente, o pulmão com ELC tem baixo grau de dilatação alveolar; a característica principal é a polialveolose (aumento no número total de alvéolos decorrente de um número maior de alvéolos por ácino pulmonar (ácino é gigante) - O nome enfisema lobar congênito, apesar de não ter correspondência anatomopatológica, já é clássico para denominar essa malformação. Quadro clínico A maioria das crianças é sintomática logo ao nascer ou até os 6 meses de vida, mas há casos em que elas podem ser assintomáticas por anos. As principais manifestações são taquipneia, cianose, retração da parede torácica e sibilos desde o nascimento. O recém-nascido pode também apresentar insuficiência respiratória e cianose central imediata de 9 a 15% das 3 Fernanda E. Bocutti T6 vezes, com necessidade de ressecção operatória imediata No exame físico, pode haver desvio contralateral de traquéia e do mediastino, hipersonoridade à percussão e diminuição de murmúrio vesicular ipsilateral ao hemitórax afetado. Infecções pulmonares de repetição também podem fazer parte do quadro clínico. Atentar para não confundir com pneumotórax hipertensivo: a drenagem torácica agrava o quadro clínico do ELC, uma vez que a doença não apresenta acometimento pleural Exames complementares: • Em recém-nascidos (RN) com síndrome de angústia respiratória intensa, a radiografia torácica é o único que pode ser solicitado, pois se está diante de uma emergência médica. • Em situaçõessem insuficiência respiratória grave, a tomografia computadorizada (TC) de tórax pode ser considerada. • TC de tórax: lobo homogêneo de grande volume e hipodenso com vasos sanguíneos escassos e distendidos, além dos sinais de aumento da pressão intratorácica, desvio do mediastino, rebaixamento do diafragma, aumento dos espaços intercostais e atelectasia do lobo adjacente. O lobo mais acometido geralmente é o superior esquerdo, em 47% dos casos, seguido pelo médio, em 28%, e depois o lobo superior direito, em 20%. Os lobos inferiores raramente apresentam polialveolose Tratamento: ressecção do lobo afetado, apesar de alguns estudos mostrarem conduta conservadora nos casos leves (controverso) Cisto broncogênico • Malformações torácicas mais prevalentes em crianças. A hipótese mais aceita sobre a origem desses cistos é de que sejam anomalias de divisão do intestino primitivo anterior, ainda no período embriônico. • Histopatológicamente é um cisto revestido por epitélio colunar pseudoestratificado ciliado e com conteúdo mucóide. Dentro da sua parede, podem também ser identificados tecidos cartilaginosos e musculares lisos. • Quando se comunicam com as vias aéreas, pode ocorrer a saída desse muco e entrada de ar, com sinal do nível hidroaéreo na radiografia de tórax Localização: mediastinais e intrapulmonares • Os cistos mediastinais são mais comuns, e estão localizados em regiões paratraqueais, peri-hilares ou subcarinais, sempre próximos à via aérea central. • Os cistosbroncogênicos intrapulmonares geralmente são mais encontrados nos lobos inferiores. • Independentemente da localização, os cistos em geral estão unidos às vias aéreas principais ou ao esôfago, mas nem sempre se comunicam com as vias aéreas Quadro clínico: depende da localização • Os sintomas podem ser secundários à: - Compressão da via aérea: tosse persistente, dispneia progressiva, cianose, sibilos e estridores. - Compressão de estruturas mediastinais: dor ou desconforto torácico. - A disfagia pode estar presente em situações de compressão extrínseca do esôfago. • Cistos intrapulmonares serão sintomáticos quando infectados. • 1/3 dos cistos broncogênicos diagnosticados é assintomático e cistos broncogênicos mediastinais, quando diagnosticados em adultos, geralmente são achados radiográficos incidentais. Exames Complementares: Radiografia de tórax: exame de imagem de maior utilidade para o diagnóstico dos cistos broncogênicos: serão observados cistos no mediastino ou no hemitórax que podem apresentar sinal do nível hidroaéreo quando se comunicam com as vias aéreas. Desvio de traqueia, brônquios ou esôfago, sinais de hiperinsuflação, atelectasia ou infecção pulmonar são achados potencialmente presentes. TC de tórax: lesões são esféricas ou elípticas, limites definidos, conteúdo homogêneo, proximidade com a via aérea de grande calibre quando localizados no 4 Fernanda E. Bocutti T6 mediastino. Quando localizados dentro do parênquima pulmonar, apresentam relação com um brônquio ou bronquíolo. RNM: mostra sinais de intensidade alta em imagens em T1 e sinais de intensidade muito alta em imagens em T2 Os cistos broncogênicos têm alto potencial para complicações, ao redor de 45%: ruptura do cisto, atelectasia pulmonar, infecção, hemoptise e malignização epitelial. Por esses motivos, a ressecção cirúrgica é a conduta de escolha. A remoção completa do cisto broncogênico promove o alívio dos sintomas e o tratamento definitivo da doença. No caso de cistos intrapulmonares, é necessário fazer a ressecção do lobo ou do segmento pulmonar que contenha o cisto broncogênico. Há a possibilidade de recorrência do cisto broncogênico se a camada epitelial do cisto não for completamente retirada Tipos de cisto broncogênico - Paratraqueal - Peri-hilar - Intrapulmonar - Subcarinal Sequestro pulmonar • Alterações congênitas em que uma massa de tecido pulmonar não funcionante, é irrigada por uma artéria sistêmica anômala, sendo esta comumente um ramo da aorta torácica, do tronco celíaco ou das artérias intercostais. • 6,45% de todas as malformações pulmonares. • De maneira geral, os sequestros são unilaterais, sendo raros os bilaterais. O sequestro pulmonar é classificado em extralobar (SPE) ou intralobar (SPI) • A teoria mais aceita para a etiologia dos sequestros pulmonares é baseada na sequência temporal da formação das membranas pleurais e do aparecimento de um broto pulmonar extra. • Esse broto supranumerário surge causalmente ao broto do pulmão normal, migrando juntamente com o esôfago. • Se o desenvolvimento desse broto extra acontecer antes da formação da pleura, o broto será revestido tardiamente e resultará em um sequestro pulmonar intralobar • Se, ao contrário, a pleura se desenvolver antes, revestirá o pulmão normal e quando o broto pulmonar extra surgir, terá seu revestimento pleural próprio, resultando em sequestro pulmonar extralobar. • Sabe-se unicamente que, por conta da sua origem embriológica, o SPE está muito associado com o trato digestivo e, em até 10% dos casos, está localizado dentro do abdome. Sequestro Pulmonar Extralobar (SPE): • Predominância pelo sexo masculino na relação de 3:1 e em 50% dos casos está associado com outras anomalias, como defeitos vertebrais e de parede torácica, duplicações de intestino grosso, doenças cardíacas congênitas e principalmente hérnia diafragmática congênita. • Possui revestimento pleural próprio, independentemente do restante do pulmão. É como um tecido pulmonar ectópico e esse tipo não apresenta comunicação com a árvore traqueobrônquica. • Não contém espaços aéreos e geralmente é irrigado por ramos da artéria aorta ou intercostais, sendo a drenagem realizada pela veia ázigos, hemiázigos, porta, intercostais ou outras veias sistêmicas. • Na maioria dos pacientes, é achado de exame, sem a evidência de processos infecciosos ou sintomas. • Representa cerca de 25% de todos os sequestros pulmonares, e sua localização mais frequente é entre a base do pulmão esquerdo e o diafragma Sequestro Pulmonar Intralobar (SPI): • Está situado dentro do pulmão e suprido quase invariavelmente por ramos anômalos da artéria aorta. • Quando há infecções, aparecem comunicações com o parênquima pulmonar adjacente e inicia-se ciclo de infecções de repetição. • A drenagem venosa é realizada por meio das veias pulmonares. A localização mais frequente é nos lobos pulmonares inferiores. • Cerca de 75% dos sequestros pulmonares são intralobares e em 10% dos casos nota-se associação 5 Fernanda E. Bocutti T6 com outras anomalias, como a comunicação com o esôfago ou o estômago. • Geralmente, é diagnosticado em jovens, com idade média de 32 anos Quadro Clínico: • Nos recém-nascidos o Sequestro Pulmonar Intralobar pode ser assintomático. • Quando sintomáticos, apresentam desconforto respiratório, pneumonias, dificuldade de alimentação, hemorragias ou insuficiência cardíaca congestiva. • Os adultos jovens com Sequestro Intralobar, quando sintomáticos, apresentam pneumonias recorrentes, abscessos pulmonares e hemoptise. • Esses sintomas podem ser relacionados com a drenagem inadequada da árvore traqueobrônquica, causada pela lesão ou pela atelectasia do pulmão adjacente. • Já o Sequestro Pulmonar Extralobar geralmente é assintomático e só é diagnosticado tardiamente na vida infantil ou adulta Exames Complementares: • O diagnóstico pré-natal pode ser realizado através de ultrassonografia Doppler, apesar do diagnóstico diferencial com outras lesões que ocupem espaço intratorácico ser difícil. • Ao exame de ultrassom, o SPE aparece como uma massa bem definida, hiperecogênica e homogênea. Um sinal patognomônico de sequestro pulmonar é a identificação por meio do Doppler de um fluxo sanguíneo que vai de um ramo da artéria aorta até a massa pulmonarfetal do sequestro. • O diagnóstico pós-natal é realizado por meio de exames de TC, angiografia ou RM, que determinam a lesão pulmonar e seu suprimento sanguíneo. Também são utilizados para procurar e confirmar anomalias associadas e verificar a comunicação com a árvore traqueobrônquica ou com o trato digestório. Tratamento: • A lobectomia é a primeira opção terapêutica, justificada pelo aumento recorrente do risco de infecções. • Alguns autores também preconizam o uso de embolização arterial, com o sucesso advindo da regressão da massa após falta de suprimento sanguíneo. Contudo, essa técnica pode apresentar diversas complicações Malformação adenomatóide cística (mac) • Caracterizada pelo aumento “adenomatoso” das estruturas respiratórias terminais e supressão alveolar. São lesões intrapulmonares, geralmente unilaterais e unilobares, preferencialmente nos lobos inferiores. • A MAC se desenvolve na fase pseudoglandular do desenvolvimento pulmonar, entre a 5ª e 17ª semana. Resulta da estagnação da maturação dos brônquios e do hiperdesenvolvimento de elementos mesenquimais, que colaboram com o aspecto adenomatoso. • Apresentam cistos de vários tamanhos, comunicando-se entre si, com epitélio colunar pseudoestratificado ciliado ou epitélio cilíndrico. • Malformação com prevalência entre 1 em 10.000 e 1 em 35.000, representando de 30 a 40% de todas as anomalias pulmonares congênitas. Distribuem-se igualmente entre os pulmões direito e esquerdo, entre os sexos masculino e feminino e entre todas as etnias. • Possuem comunicação com a árvore traqueobrônquica normal e têm suprimento vascular normal. • Microscopicamente, observam-se células cuboides, colunares ou ciliadas revestindo os cistos, com uma quebra do padrão arquitetural normal. As cartilagens geralmente estão ausentes dentro da massa. • Outros sinais patológicos que distinguem a MAC de outras lesões pulmonares incluem: projeções polipoides da mucosa; aumento de músculo liso e de tecidos elásticos nas paredes do cisto; presença de células mucossecretoras; ausência de inflamação A associação com carcinoma bronquioalveolar, adenocarcinoma e rabdomiossarcoma são reportadas em crianças de diversas idades. Essas transformações malignas foram observadas em lesões MAC primárias e que foram incompletamente ressecadas. Esse potencial de malignidade em longo prazo faz com que a conduta terapêutica preferida seja a excisão cirúrgica pós natal, e não o acompanhamento a longo prazo por métodos radiológicos • O diagnóstico pré-natal é realizado com ultrassom entre a 18ª e a 20ª semana, período em que a taxa de detecção pode chegar a 100%. • Identificada uma lesão cística ao exame ultrassonográfico, procede-se com o reconhecimento 6 Fernanda E. Bocutti T6 do local, tamanho, volume e suprimento sanguíneo. O Doppler ajuda a identificar lesões híbridas. • O diagnóstico diferencial inclui sequestros pulmonares, cisto broncogênico ou neuroentérico e hérniadiafragmática. O acompanhamento com ecocardiograma pré natal é essencial para verificar associação com outras malformações cardíacas • O prognóstico é ruim quando se identificam lesões bilaterais ou hidropisia fetal. • A hidropisia surge pela diminuição do retorno venoso causado pelo desvio do mediastino acentuado, o que acarreta repercussões intrauterinas, como aumento da pressão hidrostática intravascular e acúmulo de líquido no organismo. A hidropisia é o conjunto de alterações: derrame pleural, ascite e anasarca (edema generalizado). Quanto mais precoce ocorrer, pior o prognóstico. • A intervenção intrauterina está indicada em 10% dos pacientes com diagnóstico no pré-natal, sendo possível realizar punção simples das lesões císticas, estabelecimento de uma comunicação entre a malformação e a cavidade aminiótica (shunt toracoamniótico); ressecção da malformação fetal. As duas situações para que a intervenção fetal seja mandatória é a presença de grandes massas císticas e hidropisia. • Grandes lesões tornam-se sintomáticas logo após o nascimento e é por isso que se recomenda que o parto seja realizado em centro especializado. Lesões pequenas já têm menor probabilidade de demonstrarem sintomas ao nascimento, exigindo acompanhamento posterior com a realização de exames de tomografia em até 1 mês. • Aproximadamente 14% dos pacientes diagnosticados com MAC nascem mortos. Dos que nascem vivos e são diagnosticados depois do nascimento, 80% apresentam sintomas de desconforto respiratório no período neonatal ou durante o primeiro mês de vida. • Apenas 10% dos pacientes apresentam os primeiros sintomas após o primeiro ano de vida. Exames Complementares: • A radiografia de tórax mostra a hiperinsuflação do lobo acometido, com desvio do mediastino para o lado contralateral e rebaixamento do diafragma. • A tomografia de tórax caracteriza melhor as lesões e deve ser utilizada para excluir uma eventual lesão híbrida entre sequestro e MAC. Sempre se deve considerar a possibilidade de um vaso anômalo associado à MAC Tratamento: • O tratamento operatório deve ser realizado antes dos 5 anos de idade. • As apresentações tardias incluem pneumonias recorrentes ou persistentes, abscesso pulmonar, pneumotórax, doença reativa das vias aéreas e transformação maligna. • Uma ressecção pulmonar de emergência logo nas primeiras horas de vida pode ocorrer em 10% dos pacientes. • Se pouco sintomático, deve-se seguir com a investigação por tomografia e posterior ressecção cirúrgica. A operação pode ser feita por toracotomia ou videotoracoscopia e os resultados de ambas as vias de acesso são similares e satisfatórios. Agenesia e aplasia pulmonares • As agenesias pulmonares uni ou bilateral são malformações raras, com prevalência de 0,5 a 1 a cada 10.000 indivíduos. • São caracterizadas pela falta de desenvolvimento do broto pulmonar e não há parênquima pulmonar nem vasos pulmonares. • O quadro clínico em RN é variável: pacientes podem ser sintomáticos ou apresentar dispneia, taquipnéia e cianose. • No exame físico, podem ser encontrados sibilos e desvio de traqueia. Ocorre também a hiperexpansão do pulmão presente • Cardiopatias são encontradas em 50% dos casos de agenesia pulmonar, especialmente em agenesia do pulmão direito. • Agenesias unilaterais são compatíveis com a vida, enquanto a bilateral é incompatível. • Não existe tratamento específico para a doença, embora a correção de malformações cardíacas possa aliviar os sintomas. • Na aplasia pulmonar, o quadro clínico desenvolvido pelo paciente é similar ao da agenesia pulmonar. O único diferencial é a presença de um coto brônquico rudimentar em fundo cego 7 Fernanda E. Bocutti T6 Agenesia, aplasia e hipoplasia pulmonar Malformação arteriovenosa (MAV) • Vários termos têm sido usados para descrever as malformações arteriovenosas (MAVs), tais como fistula arteriovenosa, aneurisma arteriovenoso pulmonar, hemangioma pulmonar, angioma cavernoso pulmonar, telangiectasia pulmonar, entre outros. • Distribuída igualmente entre os sexos. • A média de idade de seu diagnóstico situa-se por volta dos 41 anos, com uma incidência de 2-3 casos por 100.000 pessoas. • 25-50% dos pacientes irão apresentar alguns sinais e sintomas: cianose, baqueteamento digital, dispneia, fadiga e policitemia. • Sua distribuição ocorre bilateralmente em 8-20% dos pacientes, sendo múltiplas em 33-50% dos ´pacientes, com uma maior incidência dos lobos médio e inferior esquerdo • Sua apresentação mais comum é a de uma comunicação anormal e direta entre artérias pulmonares e veias pulmonares através de pequenos aneurismas, nos quais ocorrem shunt direita-esquerda, mas mantendo, na maioria das vezes, uma função cardíaca normal. • Com o crescimento, as crianças passam a apresentar queda na saturação de oxigênio e policitemia. • Esses pacientes geralmente apresentam ecocardiogramanormal e radiografia de tórax com opacificação na área afetada pela MAV. • Aproximadamente 95% dessas anastomoses arteriovenosas ocorrem a partir das artérias pulmonares. Podem originar-se também das artérias brônquicas, da artéria mamária interna, ou da aorta descendente. • Essas malformações tendem a aumentar de tamanho, especialmente quando são múltiplas, e raramente regridem espontaneamente. • A conexão entre vasos arteriais e venosos pulmonares pode ser única, múltipla ou como telangiectasias difusas, podendo ainda ser uni ou bilaterais. • Grandes fístulas geralmente são bem localizadas e únicas, enquanto as pequenas geralmente são múltiplas Exames Complementares: • A angiografia é o método de escolha para o diagnóstico, bem como para o delineamento do • suprimento arterial e da drenagem venosa da MAV. • A ressonância magnética tridimensional tem-se mostrado efetiva e com boa acurácia para o • diagnostico de MAV, além de ser um exame não invasivo. • Diagnósticos diferenciais: • MAC, atresia brônquica, sequestro pulmonar, neoplasias císticas, os cistos broncogênicos e as duplicações esofágicas Os objetivos do tratamento das MAVs são basicamente três: 1) Melhora dos sintomas de dispneia/hipoxemia. 2) Prevenção de hemoptise. 3) Prevenção de complicações neurológicas Tratamento: a) Embolização. b) Ressecção cirúrgica. A taxa de mortalidade de pacientes sintomáticos e não tratados varia de 4-22%, podendo chegar aos 40%. • A TC de tórax é padrão ouro para o diagnóstico dessas patologias no período pós natal, enquanto a ultrassonografia obstétrica é considerada um excelente método diagnóstico pré-natal. • Há uma tendência a indicar procedimentos cirúrgicos cada vez mais precocemente, ao nascimento nos casos críticos ou por volta dos três meses de idade naqueles pacientes estáveis. • Dessa forma, o tratamento cirúrgico não deve ser adiado para a fase adulta pelas possíveis complicações de cada patologia.
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