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INTRODUÇÃO HOSPITALIZAÇÕES POR CETOACIDOSE NO BRASIL Apesar dos dados serem antigos (2003), eles chamam a atenção pelo seguinte fato: observe como a mortalidade varia de estado para estado – isso se explica pela diferença nos cuidados médicos. QUEM TRATA A CETOACIDOSE? A Maioria dos casos está no pronto-socorro e na UTI; é uma doença tratada essencialmente por clínicos. COMPLICAÇÕES AGUDAS DO DIABETES MELLITUS Cetoacidose diabética Estado Hiperosmolar hiperglicêmico Glicemia: > 250 Acidose metabólica pH < 7,3 Bicarbonato < 18 Cetonemia/cetonúria Glicemia: > 600 pOsm > 320 mOsm/kg Cetonúria < ++ Os critérios diagnósticos da ADA (American Diabetes Association) para o EHHNC são: (1) Glicose plasmática > 600 mg/dl; (2) pH arterial > 7,3; (3) HCO3 > 18; e (4) Osmolaridade plasmática efetiva > 320 mOsm/kg. A diferenciação laboratorial entre cetoacidose diabética e EHHNC vai além da presença ou não de cetonemia. A glicemia atinge níveis mais elevados nesta última, podendo chegar a 2.000 mg/dl, assim como o sódio e a ureia séricos costumam ser mais altos. Se você tem hiperglicemia + acidose metabólica = cetoacidose. Só falta confirmar que é de origem cetônica. Podemos confirmar a cetonúria por hálito cetônico, (clinicamente), presença de corpos cetônicos na urina ou pela dosagem de ânion gap. Deve-se pensar em hipoglicemia em todo paciente que dê entrada em um serviço de emergência em coma sem causa evidente, principalmente se for diabético ou houver suspeita de etilismo. O quadro clínico inclui sinais e sintomas relacionados ao excesso de adrenalina circulante (sudorese, tremor, taquicardia, ansiedade e fome) e à disfunção do sistema nervoso central por deficiência de seu principal substrato energético (cefaleia, vertigem, mal estar, escurecimento da visão, confusão mental, convulsão e coma). Há casos de deficit neurológico focal reversível desencadeado pela hipoglicemia. Precisamos de mais ou menos 15 gramas de glicose para tirar um indivíduo do estado de hipoglicemia. Se ele estiver consciente podemos dar de forma oral Não adianta nada fazer insulina no PS e mandar de volta para casa no estado hiperosmolar e na cetoacidose. Precimos corrigir a hiperglicemia no pronto socorro e mandamos com uma receita diferente, temos que veririficar o motivo da ocorrência desses estados. Diante um paciente que vem apresentando hipoglicemias frequentes, devemos investigar a ocorrência de situações que cursem com menores necessidades de insulina, como por exemplo insuficiência renal, hipotireoidismo, insuficiência adrenal etc. CLASSIFICAÇÃO A gravidade da cetoacidose não depende da glicemia, e sim do pH, do bicarbonato sérico e do nível de consciência. Hoje em dia existe uma complicação causada pelos ISGLT2 que geram cetoacidose euglicêmica (mas não é tão comum) Na cetoacidose, temos uma situação paradoxal em relação ao potássio e ao fosfato: apesar de uma grande perda urinária e grave espoliação corporal destes elementos, os seus níveis séricos mantêm-se normais ou elevados. São basicamente três motivos: (1) a depleção de insulina predispõe à saída de potássio e fosfato das células; (2) a hiperosmolaridade extrai água e potássio das células; e (3) a acidemia promove a entrada de H+ nas células em troca da saída de potássio. FATORES PRECIPITANTES Em primeiro lugar: infecção e em segundo lugar vem a falha terapêutica. Dica: sempre realizar um eletro, pois diabético infarta muito sem dor devido a neuropatia. Não é incomum ter estado hiperosmolar desencadeado por IAM COMPLICAÇÕES AGUDAS HIPERGLICÊMICAS SINAIS E SINTOMAS • Poliúria: pois aumenta a osmolaridade, glicose é eliminada na urina e carrega água junto • Polidipsia: que ocorre pelo aumento da osmolaridade (que aumenta pelo aumento da glicose) e pela desidratação • Fraqueza • Perda de peso • Embaçamento visual: a glicose passa tranquilamente pela maioria dos fluídos no nosso organismo. Essa glicose, quando muito alta, vai parar dentro do humor aquoso, deixando a visão turva (muda o índice de refração) – é o ultimo sintoma a sumir • Náuseas e vômitos • Confusão mental, torpor: pela desidratação e edema cerebral Cetoacidose diabética Estado Hiperosmolar Mais comum em jovens DM1 Respiração acidótica (Kussmaul) Dor abdominal (crianças) Coma (10% dos casos) Mais comum em idosos DM2 Coma Acredita-se que a dor abdominal venha pelo excesso de amilase, que causa a dor parecida com a da pancreatite; O estado hiperosmolar é mais comum em idosos porque geralmenet o jovem faz cetoacidose diabética antes de fazer o EHH CAUSAS POTENCIAIS DE ERRO NO DIAGNÓSTICO • Hálito cetônico: pode não ser percebido • Febre: vasodilatação diminui a temperatura • Leucocitose: inespecífica • [Na]: nível falsamente baixo por hiperlipemia ou hiperglicemia – pois quando aumenta a osmolaridade, por outras causas, o Na abaixa (pensar nas pseuhiponatremias) • [K]: falsamente elevado em acidose • Creatina: falsamente elevada (interferência do ensaio) • Cetonúria: não mede B-Hidroxi-butirato – então as vezes já está em cetoacidose e ainda não apareceu na urina • Amilase: Pode estar aumentada (parótida) → muita glicose circulante aumenta a produção de amilase salivar pela parótida (assim é muito fácil fazer diangóstico de abdome agudo na criança de forma errônea) EXAMES LABORATORIAIS • Glicemia capilar a cada 60 minutos • Glicemia sérica – porque a maior parte dos aparelhos não mede glicemia acima de 500 • Cetonemia e cetonúria a cada diurese • Gasometria: não precisa ser gasometria arterial todas as vezes; normalmente fazemos primeiro a arterial e depois as venosas → Nosso objetivo é saber se o bicarbonato está melhorando, e o bicarbonato venoso é quase igual ao arterial (a coleta da arterial é muito dolorosa, pode formar fístulas, etc..) • Eletrólitos • Uréia e creatinina TRATAMENTO- COMPLICAÇÕES AGUDAS METAS POR ORDEM DE IMPORTÂNCIA • Manutenção das vias respiratórias pérvias e, em caso de vômitos, indicação de sonda nasogástrica; • Correção da desidratação; • Correção de distúrbios eletrolíticos e acidobásicos; • Redução da hiperglicemia e da osmolalidade; • Identificação e tratamento do fator precipitante (abcesso cutâneo, pneumonia, infarto, infecção urinária, etc...) SEQUÊNCIA PRÁTICA: 1. Expansão intravascular; 2. Correção dos déficits; 3. Insulinização; 4. Identificação e tratamento do edema cerebral TRATAMENTO DE REPOSIÇÃO DE VOLUME Necessidades hídricas diárias: 30 ml/kg de água Deve ser prontamente iniciada, pois é a medida isolada de maior impacto no tratamento da cetoacidose. A solução de escolha é a salina isotônica (SF a 0,9%), com um volume na primeira hora em torno de 1.000 ml. O ringer lactato deve ser usado com cautela no início, pois contém potássio, mas tem como vantagem a menor concentração de cloro. Em cardiopatas ou outros pacientes de risco para a infusão de grandes quantidades de fluidos, a reposição deve ser cuidadosamente monitorada. Os objetivos da reposição volêmica são: repor o deficit de água, manter a pressão arterial, reduzir os níveis de glicemia e melhorar a perfusão tissular e renal, o que contribui para a reversão da acidose. • Paciente chocado: não pode receber soro hipotônico: quem segura líquido no vaso é o Na (nunca iremos fazer soro a 0,45%) • Paciente cardiogênico não consegue receber líquido: tem que passar um catéter, independente de qual • Hipotensão leve (é a maioria) Em estado hiperosmolar o soro é sempre a 0,45% para não mandar muito soluto e não piorar a osmolaridade que já está alta. Só não vamos fazer soro hipotônico nos pacientes com choque hipovolêmico ou sódio baixo (masgeralmente o sódio nunca está baixo) REPOSIÇÃO DE VOLUME – MANUTENÇÃO Volume → NHD + Perdas Estado hiperosmolar é sempre grave. Já cetoacidose iremos classificar de acordo com o pH, bicarbonato e o estado de consciência. Ex.: Necessidades hídricas diárias + perdas → paciente de 70 kg em estado grave → 8 litros de soro para o paciente por dia. Se eu dei volume (observe que ainda não dei potássio e nem insulina) e a glicemia já caiu, colocar soro glicosado a 5% para correr cerca de 30ml/hora → mais ou menos 500-1 litro por dia. Esse paciente é um paciente hipertônico, logo, se cair muito rápido a glicemia ele faz edema cerebral. MANUTENÇÃO Repor em 24 horas: necessidades hídricas diárias + perdas 1a HORA Expansão: 10-20 ml/kg ou 1 L de SF 0,9% Choque hipovolêmico NaCl 0,9% 1L/h Choque cardiogênico Controle hemodinâmico Hipotensão Leve Sódio Baixo NaCl 0,9% Sódio Alto NaCl 0,45% Sódio Normal NaCl 09% NaCl 0,45% (EHH sempre NaCl 0,45%) Perdas Cetoacidose leve 50 ml/kg/dia Cetoacidose moderada 70 ml/kg/dia Cetoacidose grave 100 ml/kg (máximo) Administração 1/3 nas primeiras 6 horas 1/3 de 6-12 horas 1/3 nas 12 horas seguitnes Glicemia = 250 mg/dl Cetoacidose diabética Glicemia = 300 mg/dl Estado hiperosmolar hiperglicêmico Adicionar glicose a 5% Quando a glicemia atinge 250 mg/dl, a reposição de fluidos deve ser feita com solução glicosada a 5% e com NaCl a 0,45% para prevenção de hipoglicemia e para a prevenção do edema cerebral, que poderia ocorrer com uma queda muito rápida da glicemia. A infusão deve variar entre 150-250 ml/h, mantendo- se a glicemia entre 150-200 mg/dl. A reposição excessiva de líquidos, que alguns autores consideram como mais de cinco litro em um período de 8h, pode contribuir para o surgimento de complicações da cetoacidose, como edema cerebral e síndrome da angústia respiratória. REPOSIÇÃO DE POTÁSSIO • Se K < 3,3: hidratar, repor K, e após isto, iniciar insulina • Tudo isso é antes da insulina → pois a insulina joga o potássio para dentro da célula ESQUEMA DE REPOSIÇÃO: Geralmente colocamos de 1-2 ampolas naquele soro que demos, dependendo do valor do potássio. O comum é colocarmos 1 ampola. REPOSIÇÃO DE BICARBONATO • Geralmente não é necessário repor. INDICAÇÕES: • pH < 6,9 • Bic < 5 mEq/L • Ou seja: é para aquele paciente com acidose grave; • Quando fazemos reposição de bicarbonato, ele se dissocia em CO2 e água, então tem risco de aumentar a acidose intracelular; além disso, o bicarbonato de sódio dado é 8,4% (tem muito sódio) e o paciente já está com osmolaridade aumentada. • Reposição: Bicarbonato de Sódio 50 -100 mEq em 1 L de NaCl 0,45% por hora até pH = 7,0 Você pode diluir em soro hipotônico ou em água destilada INSULINOTERAPIA Embora seja parte essencial do tratamento da cetoacidose diabética, a insulinoterapia só será eficaz se as medidas para restabelecimento da volemia estiverem em curso. O início da insulina antes da reposição volêmica pode agravar a hipovolemia e precipitar o choque hipovolêmico, pois a insulina promove a captação celular de glicose, que provoca a entrada de água nas células, espoliando o intravascular!!! No caso de cetoacidose, para infundir a insulina precisa de bomba de infusão. Caso não tenha, em casos leves ou moderados, nós podemos usar a insulina subcutânea ou IM. Já no estado hiperosmolar tem que ser SEMPRE por via endovenosa. Deve ser realizada, inicialmente, uma dose de ataque de insulina regular intravenosa (0,1 a 0,15 U/kg) para sensibilizar os receptores insulínicos, seguida de infusão venosa contínua de 0,1 U/kg/h. O objetivo é uma queda média da glicemia de 50 a 75 mg/dl/h. A dose da infusão deve ser dobrada caso esta queda não ocorra. Deve-se evitar quedas da glicemia acima de 100 mg/dl/h, devido ao risco de hipoglicemia e de edema cerebral. A ausência de queda da glicemia pode sugerir a presença de um processo infeccioso ou de hidratação inadequada. A infusão contínua deverá ser mantida enquanto durar a cetonúria ou, preferentemente, até a normalização do pH e bicarbonato, passando-se então para a via SC. Na presença de hipocalemia (K < 3,3), a insulina não deve ser iniciada!!! Existe um esquema alternativo de insulinoterapia com insulina regular IM ou SC K > 5 mEq/L Não repor e checar K a cada 2 horas K 4-5 mEq/L Repor 20 mEq/L K 3-4 mEq/L Repor 30-40 mEq/L K < 3 mEq/L Repor 40-60 mEq/hora até K > 3,3 Cetoacidose diabética Insulina endovenosa Insulina subcutânea ou IM Casos leves/moderados EHH Insulina endovenosa Insulina endovenosa Insulina regular 0,15 UI/kg EV em bolus Insulina regular infusão lenta 0,1 UI/Kg/hora Insulina Subcutânea Insulina regular 0,4 UI/Kg 1/2 EV em bolus e 1/2 SC Insulina Regular SC 0,1 UI/Kg/Hora A conta fica fácil quando usamos um sorinho de 100 ml. Hoje, para facilitar a vida, nem se faz o bolus mais, já se coloca direto na bomba de infusão Meu objetivo é a glicemia abaixar cerca de 50 mg/hora → se não cair, eu dobro a dose de infusão da insulina. Na infusão subcutânea nós não dobramos a dose, apenas fazemos um bolus a mais. Se cair mais do que 70 você reduz a dose. Controle metabólico: até o pH e o bicarbonato normalizar Quando a glicemia atinge valores ≤ 200-250 mg/dl, a infusão de insulina deve ser diminuída (0,02-0,05U/kg/h) e SG 5% deve ser adicionado à hidratação. O objetivo é manter uma glicemia entre 150-200 mg/dl até que a CAD se resolva. A cetonemia pode ser acompanhada pelo cálculo do ânion-gap, o que deve ser feito a cada duas horas inicialmente e, posteriormente, a cada quatro horas. A normalização da acidose e da cetonemia demora, normalmente, o dobro do tempo necessário para que a glicemia atinja 250 mg/dl. Para avaliação do bicarbonato e do pH séricos, pode-se utilizar amostras de sangue venoso, desde que se corrija o pH conforme a seguinte equação: pH sangue arterial = pH sangue venoso + 0,03 Os critérios de resolução da CAD são: pH > 7,3; bicarbonato > 18 mEq/l; e glicemia < 200 mg/dl. Quando isto é alcançado, é possível liberar a dieta e iniciar o esquema de insulinização subcutânea conforme valores de glicemia capilar a cada 3 ou 4h. A infusão contínua de insulina venosa só será suspensa após 1- 2h da dose de insulina SC... Com o paciente estável e se alimentando corretamente, pode-se retornar (ou iniciar) a insulina NPH/Glargina/Detemir. TRANSIÇÃO DE INSULINA R IV PARA SC PACIENTE QUE NÃO ESTÁ COMENDO: • Insulina diária / 6 a cada 4h – insulina R • Insulina diária / 4 a cada 6h – insulina R • Monitorar a glicemia capilar 4/4h PACIENTE QUE ESTÁ COMENDO: • Introduzir esquema de insulina basal + bolus: ► Insulina NPH 2-3x ao dia + insulina rápida ou ultra-rápida antes das refeições • Glicemia capilar pré-prandial, antes de dormir e às 3h Se for primodiagnóstico: calculamos a dose de 0,5 UI/Kg e divide em 3 tomadas. Se não perguntamos a dose que ele tomava antes e retomamos. COMPLICAÇÕES • Hipoglicemia – esse paciente faz dextro de hora em hora, uma vez em casa dedo – temos que resolver a cetoacidose em 24 horas. • Hipocalemia – complicação grave – pode gerar torsades des points • Acidose de difícil resolução não é cetoacidose, se tiver acidose de difícil resolução procurem outra causa • Edema pulmonar – estamos dando muito soro, existe o risoc de edema, temos sempre que auscultar o pulmão • Edema cerebral – quando corrige muito rápido tem o risco de edema cerebral – é o risco mais temido, por isso fazemos soro glicosado a 5% Insulina endovenosa Se a glicose não cair 50- 70 mg/dl na primeira hora Dobrar a dose de infusão da insulina Até glicose cair 50-70 mg/dl/hora Insulina subcutânea Se a glicose não cair 50- 70 mg/dl na primeira hora Insulina EV em bolus 10 UI/hora Atéglicose cair 50- 70 mg/dl/hora Quando glicemia < 250 mg/dl Insulina endovenosa Manter a infusão de 0,05 - 0,1 UI/hora de insulina regular Até controle metabólico Insulina subcutânea 5-10 UI de insulina regular SC a cada 2 horas Até controle metabólico
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