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Introdução 1. As obrigações podem ser positivas ou negativas. As obrigações positivas se subdividem em obrigações de dar e obrigações de fazer. E as obrigações negativas consistem em obrigações e não fazer. Aqui será tratado das obrigações de dar. Obrigações de dar: modalidades e subdivisões 1. A obrigação de dar tem por objeto a prestação de coisa. Possui 3 modalidades: · Atividade de dar: transferindo-se a propriedade da coisa; · Entregar: transferindo-se a posse da coisa; · Restituir: quando o credor recupera a posse ou a detenção da coisa entregue ao devedor. 2. O Código Civil subdivide as obrigações de dar em obrigações de dar coisa certa e obrigações de dar coisa incerta. Obrigações de dar coisa certa 1. Nas obrigações de dar coisa certa, o devedor obriga-se a dar, entregar ou restituir coisa específica, certa, determinada. Se contrapõe a obrigação de dar coisa incerta, que será estudada em seguida. 2. Nessas obrigações segue-se o princípio jurídico de que o acessório segue o principal (matéria estudada em Bens jurídicos). Veja a art. 233: Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. 3. Se a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição (da entrega da coisa), ou pendente condição suspensiva (o negócio encontra-se subordinado a um acontecimento futuro e incerto: o casamento do devedor, por exemplo), fica resolvida a obrigação para ambas as partes, suportando o prejuízo o proprietário da coisa que ainda não a havia alienado. 4. Se a coisa se perder, por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente (valor da coisa), mais perdas e danos. Neste caso, suportará a perda o causador do dano, já que terá de indenizar a outra parte. Imagine a hipótese de o devedor, por culpa ou dolo, haver destruído o bem que devia restituir. 5. Perda é a destruição total da coisa, deterioração é a perda parcial da coisa. Na hipótese de a coisa se deteriorar (ao invés de se perder) segue-se as regras abaixo. Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos. 6. Para ficar claro, é importante que se diga que a obrigação de entregar uma coisa só surge depois de o devedor ter recebido um valor (preço), muitas vezes em dinheiro, por aquela coisa. Se o devedor fizer melhoramentos na coisa antes da tradição, poderá exigir um aumento no preço. Se o credor não anuir (concordar) a obrigação pode ser resolvida (o devedor devolverá todos os valores pagos pelo credor). Veja o art. 237. Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação. Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes. 7. Conforme estudado em Bens Jurídicos, frutos são utilidades que a coisa principal periodicamente produz, cuja percepção não diminui a sua substância (ex.: a soja, a maçã, o bezerro, os juros, o aluguel). Percepção (percebido) significa colhido ou produzido. 8. O art. 238 se refere a obrigação de dar na modalidade restituir. Isso significa que o devedor está na posse de um bem que pertence ao credor (proprietário). Um possui o direito de posse e o outro o direito de propriedade. Isso ocorre, por exemplo, quando o devedor aluga uma coisa. Nessa situação a coisa pode eventualmente perecer (se perder) ou ser deteriorada. Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. 9. Quando o legislador diz que estão ressalvados os direitos do credor até o dia da perda, se refere, a situações como a do seguinte exemplo: uma coisa depositada gerou frutos até a sua perda, sem atuação ou despesa do depositário, que inclusive tinha ciência de que as utilidades pertenceriam ao credor. Este terá direito sobre elas até o momento da destruição fortuita da coisa principal. Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. 10. Como assim “perdas e danos”? Imagine a hipótese em que um indivíduo (o devedor) aluga um carro. O carro se perde antes da tradição por culpa do devedor. Imagine que o credor alugaria esse carro para uma outra pessoa no dia seguinte. A perda do carro, incorreria em um prejuízo, pois o credor não poderia mais alugá-lo. O devedor deverá indenizar o credor por esse prejuízo. Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239. Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização. Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé. Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé. 11. Se os acréscimos se referem a benfeitorias necessárias ou úteis (isso foi estudado em Bens Jurídicos) o devedor de boa fé terá direito a ser indenizado, podendo inclusive reter a coisa restituível, até que lhe seja pago o valor devido. 12. Estando de má-fé, o devedor só terá direito a reclamar a indenização pelos acréscimos necessários, sem possibilidade de retenção da coisa. Obrigações de dar coisa incerta 1. A coisa incerta é aquela indicada apenas pelo gênero e pela quantidade, sem que se especifique a qualidade. Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. 2. Pelo art. 244, vê-se que a prestação indeterminada deverá se converter em prestação determinada, quando o devedor ou o credor escolher o tipo de produto a ser entregue, no momento do pagamento. A conversão da coisa certa em incerta é chamada de concentração (concentração do débito ou concentração da prestação devida). 3. Se a escolha couber ao devedor, este não poderá escolher a pior (nem é obrigado a escolher a melhor) – é o chamado princípio do meio termo. Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente. Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito. 4. Art. 246: o gênero nunca perece (genus nunquam perit). Referências: GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil, volume 2. 21 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020
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