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Ação Civil Pública 1

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) FEDERAL DA VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE FLORIANÓPOLIS/SC COMPETENTE POR DISTRIBUIÇÃO
 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu Procurador da República signatário e o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, por intermédio do Promotor de Justiça que a esta subscreve, no uso de uma de suas atribuições constitucionais e legais, fundamentado nos arts. 127, caput, e 129, inciso III, todos da Constituição Federal de 1988, arts. 1º, inciso III e IV, e 5º, inciso I, ambos da Lei Federal nº 7.347/85 e art. 25, inciso IV, alínea “a”, da Lei Federal nº 8.625/93, dentre outras normais aplicáveis, vem, perante Vossa Excelência, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL, com pleitos de antecipação dos efeitos da tutela, de obrigações de fazer e não fazer e demolitório, contra:
COSTÃO DO SANTINHO EMPREENDIMENTOS TURISTICOS S A, pessoa jurídica, inscrito no CNPJ nº 78.538.535/0002-99, localizado na Estrada Vereador Onildo Lemos, nº 2505, CEP: 88058-700, Praia do santinho, Bairro: Florianópolis/SC, tendo como responsável o sr. Fernando Marcondes de Mattos; 
FUNDAÇÃO DO MEIO AMBIENTE (FATMA), pessoa jurídica, Administração Pública em Geral, inscrito no CNPJ nº 83.256.545/0001-90, localizado a Rua Felipe Schmidt, 423 S1, Mafra – SC, CEP: 89300-000, tendo como responsável o sr. Sergio Grando; 
INSTITUTO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SANTA CATARINA (IMA), autarquia vinculada à Secretária de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável de Santa Catarina, podendo ser citada na pessoa de seu Diretor-Presidente Alexandre Waltrick Rates, na Rua Artista Bitencourt, 30, Centro, Florianópolis, Estado de Santa Catarina;
MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS/SC, pessoa jurídica de direito público, com sede em sua Prefeitura Municipal, na Rua Conselheiro Mafra, 656 - Centro, Florianópolis - SC, 88010-102, representado pelo Prefeito sr. Dário Berger;
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA, autarquia federal de regime especial, criada pela Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, alterada pelas Leis nº 7.804, de 18 de julho de 1989, 7.957, de 20 de dezembro de 1989 e 8.028, de 12 de abril de 1990, inscrito no CNPJ/MF sob o nº. 03.659.166/0001-02, com sede no Setor de Clubes Esportivo Norte (SCEN), trecho 2, Edifício Sede do IBAMA, na cidade de Brasília/DF, CEP 70.818-900;
I - DOS FATOS
 Em agosto de 2007 foi instaurado procedimento administrativo, convertido em inquérito civil público, a fim de apurar possíveis danos ambientais causados pela retirada de areias de dunas na Rua do Miro, altura nº 201, Praia do Santinho, em Florianópolis/SC. Destaca que, de tal procedimento, tem-se que no ano de 1938 já existia interferência antrópica na região, sendo que no ano de 2002 se observa que a ocupação urbana no local continuou em expansão, abrangendo áreas protegidas por lei, apontando o IBAMA 253 pontos de intervenção em APP, ainda naquele ano. Defende o MPF que cumpre buscar evitar a ocorrência de mais danos à Região do Santinho/Ingleses, uma vez que estes são de difícil reparação, mantendo-se não só a paisagem da orla da Praia do Santinho conservada, mas, sobretudo, as áreas de proteção ambiental ainda não construídas/ocupadas devidamente protegidas. Requereu, liminarmente, que o Município de Florianópolis se abstenha de conceder e/ou suspenda a concessão de alvarás e/ou licenças para construção na região supra referida. 
 Em setembro de 2019, o Ministério Público de Santa Catarina afirmou que há um “descontrole” no desenvolvimento urbano da capital catarinense: “a maioria das falhas que permitem esse descontrole é resultado da omissão do município em fiscalizar, de conceder irregularmente alvarás, carnês de IPTU e licenças ambientais”. Mais de 5 mil processos em 2019 resultaram no embargo de 1.841 obras em Florianópolis. Dessas, 59 foram parciais ou totalmente demolidas.
 Em Ação civil pública promovida pelo Ministério Público Federal em face do Município de Florianópolis que objetiva impedir a concessão de novos alvarás e licenças de construção em área de preservação permanente na Praia do Santinho/Ingleses, Santa Catarina, especificamente, entre a estrada principal de acesso ao Santinho (Estrada Vereador Onildo Lemos) e o mar.
 O entorno da Lagoa do Jacaré também é zoneado pelo Município como APP (LC 184/14), além da legislação que o contempla (Lei nº 11.428/06). Já, a restinga fixadora de duna, tem extensa proteção jurídica e está expressamente contida como de necessária proteção ambiental pelo Código Florestal vigente (Lei nº 12.651/2012, artigo 4º VI). Ampliação da área a ser considerada como de preservação permanente.
 Conforme a ação civil pública, a medida cautelar evita que danos irreversíveis ao meio ambiente sejam causados por possíveis obras no local durante da tramitação do processo. O pedido mostra que a Floram (Fundação do Meio Ambiente) e a PMA (Polícia Militar Ambiental) registraram em relatórios que parte do Condomínio Jardim Santinho está localizada em uma APP (Área de Preservação Permanente) e no interior do parque municipal. De acordo com relatório da PMA, o condomínio construiu duas edificações, uma estação de tratamento de esgoto, 81 metros de rua pavimentada e inseriu oito lotes na APP e dentro dos limites da unidade de conservação municipal. A Floram verificou em vistoria que, da área total de aproximadamente 19 mil metros quadrados do condomínio, cerca de 8,6 mil metros quadrados estariam sobre a APP e dentro do parque municipal.
 A ação civil pública pede, em caso de condenação, que os réus retirem os entulhos, desocupem a área e desfaçam edificações, piscinas, estação de tratamento de esgoto, ruas e outras intervenções do empreendimento que estejam na unidade de conservação e na APP, sob pena de multa diária em caso de descumprimento, que ainda deverá ser fixada na sentença, em favor do FRBL (Fundo de Reconstituição dos Bens Lesados do Estado de Santa Catarina).
 O Ministério Público também requer a reparação material do dano ambiental, o restabelecimento das áreas com o plantio de mudas de árvores nativas e a proteção e recuperação da área afetada pela construção ilegal, mediante a elaboração e execução de um PRAD (Plano de Recuperação Ambiental), em prazo a ser fixado na sentença, com multa diária para o caso de descumprimento, em favor do FRBL.
II - DA LEGITIMIDADE
 A legitimidade do Ministério Público para ingressar com ação civil pública é patente e tem com fundamento o art. 129, III, da Constituição Federal, com o seguinte teor:
“Art.129. São funções institucionais do Ministério Público: ...
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;” 
 Portanto, está o Ministério público legitimado para ingressar com ação civil pública visando evitar danos ao meio ambiente, bem como requerendo a reparação daqueles ocorridos.
III – DO DIREITO
 A Lei 7.347/85 que institui a Ação Civil Pública, dispõe o cabimento da presente para prevenir ou reprimir danos morais ou materiais causados ao meio ambiente, bem como a outros interesses difusos da coletividade.
 Conforme comprovado pelos documentos em anexos, em especial laudos periciais da PMA (Polícia Militar Ambiental), a atuação do Réu causou grave lesão ao meio ambiente.
 Apesar de inúmeras tentativas buscando a solução da referida lesão, o Ré persiste em continuar, razão pela qual é necessária a intervenção do Poder Judiciário para preservar esse bem jurídico tutelado pela Constituição.
IV –DOS PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E PREVENÇÃO AMBIENTAIS
 Como se sabe, o meio ambiente é tutelado constitucionalmente, sendo extraído da Carta Magna que o poder Público não pode medir esforços visando a sua proteção. É o que se compreende no art. 255, da Constituição Federal:
“Art. 255. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
 Com base neste artigo da Constituição Federal, percebe-se que a ocorrência de dano ambiental já demonstra de forma antecipada a falha do aparelho estatal em sua principal função em termos de meio ambiente: a função preventiva.
 
 Nesta matéria - mais do que em qualquer outra – deve-se evitar “correr atrás do prejuízo”, se é que é possível correr atrás do prejuízo, já que se deve, isto sim, buscar-se o lucro, que em termos ambientais é a preservação.
 Sabe-se que a reparação de um dano ao meio ambiente é extremamente difícil - quando não impossível - e por isto todos os esforços devem ser feitos para evitar que ele aconteça.
 
 Por tais razões, um dos pilares do Direito Ambiental é o princípio da prevenção, que visa evitar a ocorrência de prejuízo ao meio ambiente. O princípio nº 15 da Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992), dispõe: 
“Com a finalidade de proteger o meio ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério de precaução conforme suas capacidades. Quando houver perigo de dano grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão para que seja adiada a adoção de medidas eficazes em função dos custos para impedir a degradação ambiental.”
 Portanto, o princípio da prevenção está proximamente ligado à questão da certeza científica de que a atividade causa ou não dano ambiental.
 Importa ressaltar que o princípio da precaução é contrário a comportamentos apressados, precipitados, improvisados e à rapidez insensata e vontade de resultado imediato. Não se trata, por evidente, de tentativa de procrastinar o desenvolvimento ou prostar-se diante do medo, nem se elimina a audácia saudável. Busca-se, isto sim, a segurança do meio ambiente e a continuidade da vida (Machado, 2003, obra citada, p. 67).
 Note-se que o princípio da prevenção decorre diretamente da Carta Magna (art. 225), “haja vista a inserção de vários mecanismos preventivos de dano ambiental, como a) o dever de exigência do estudo prévio de impacto ambiental pelos órgãos públicos ambientais; b) a previsão de participação popular em audiência públicas, permitindo a discussão prévia à aprovação de atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente; c) o dever estatal de controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; d) o dever estatal relativo à preservação - que só se alcança com a prevenção - dos processos ecológicos essenciais; e) a preservação da diversidade e da integridade do patrimônio genético, bem como a fiscalização das entidades dedicadas à pesquisa a manipulação de material genético.
 Assim, tratando-se de princípio Constitucional, nem mesmo a legislação e muito menos a Administração Pública podem contrariá-lo, de sorte que, qualquer ato precipitado que possa causar dano ao meio ambiente é passível de ser obstado judicialmente por afrontar a Carta Magna.
V – DA NECESSIDADE DE EMBARGO DAS ATIVIDADES
Restou demonstrada a possibilidade de ocorrência dos danos ambientais e também a violação aos dispositivos que determinam o licenciamento ambiental para atividade do réu, o que enseja o embargo de suas atividades.
“Outro aspecto que deve ser mencionado é aquele referente às sanções aplicadas de formas, variando em sua intensidade em consonância com a gravidade da lesão produzida. As principais são:
Multa;
Interdição de atividade;
Fechamento do estabelecimento;
Demolição;
Embargo de obras;” (ob. Cit. P. 127)
VI – DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE LIMINAR
 Nas ações propostas sob o regime da Lei nº 7.347/85, é prevista de forma expressa a concessão de liminares, nos termos do art. 12, do referido diploma legal:
 “Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.”
 Observando que na ação tem por objeto o cumprimento de fazer e não fazer onde encontra-se no art. 11 da Lei nº 7.347/85,
“Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.”
 
 Na hipótese dos autos é imperiosa a concessão da liminar, pois o aguardo pelo deslinde do processo poderá ocasionar danos ambientais irreparáveis.
 Quanto aos requisitos para a concessão da liminar – fumus boni juris e periculum in mora - não há dúvida estarem os mesmos presentes, pois o primeiro decorre diretamente de danos ambientais incalculáveis.
 No que pertine ao perigo da demora, também está o mesmo patente, pois não resta dúvida que as atividades exercidas pelo requerido podem estar causando danos ambientais irreversíveis.
VII – DOS PEDIDOS PROCESSUAIS E DOS PEDIDOS FINAIS
Por todo o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:
a) a concessão de liminar, inaudita altera pars, para a interdição (suspensão)/ e ou demolição das obras realizadas pelo réu, sob pena de multa diária de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e crime de desobediência.
b) Após a concessão da liminar, requer-se a citação dos réus para a causa, bem como sua procedência para que se determine em definitivo a interdição da obra, até decisão judicial, sob pena de multa diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e crime de desobediência.
c) Ao Instituto de Meio Ambiente, que deixe de receber futuros pedidos de processamento de Licenciamento afeto aos artigos 9º, XIV, “a”, e “b” e 12 da Lei Complementar 140/2011, a partir do dia útil imediatamente posterior à data da decisão concessiva deste pedido;
d) ao Munícipio de Florianópolis a obrigação de fazer, consistente em protocolar pedidos de licenciamento ambiental que atendam ao conteúdo dos artigos 9º, XIV, “a” e “b” e 12 da Lei Complementar 140/2011, por meio da Secretaria competente, a partir do dia útil imediatamente posterior à data da decisão concessiva deste pedido;
e) a suspensão dos efeitos das certidões de “atividades não licenciável” ou de igual finalidade emitidas pela FATMA e pelo IMA, desde 2017 em diante, para todos os processos de licenciamento de competência prevista no artigo 9º, XIV, “a” e “b” e 12 da Lei Complementar 140/2011, considerando inclusive as atividades previstas na Resolução COMDEMA 01/2013;
f) suspensão dos efeitos das licenças ambientais já emitidas pela FATMA e pelo IMA a partir de 2017, atinentes à competência prevista nos artigos 9º, XIV, “a” e “b” e 12 da Lei Complementar 140/2011, nos termos da fundamentação supra;
g) suspensão dos processos de licenciamento ambiental, de competência prevista no art. 9º, XIV, “a” e “b” e 12 da Lei Complementar 140/2011,em trâmite no Instituto do Meio Ambiente.
h) a condenação dos réus aos ônus da sucumbência; 
i) protestando pela produção de todos os tipos de prova em direito admitidas, principalmente a pericial testemunhal, documental e os depoimentos pessoal dos requeridos.
 
Dá-se a causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), para efeitos legais, por se tratar de direito difuso e, pois, de valor inestimável. 
Jequié, Bahia 26 de maio de 2021
 34.982 OAB/BA
Promotora de Justiça
ANEXOS
1. Provas de Ocorrência;
2. Provas de tentativas de solução direto com o Réu;
3. Provas da negativa de solução;
4. Laudos periciais da PMA (polícia Militar Ambiental).

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