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Conservação, Dinâmica de sistemas naturais e Aspectos Econômicos

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ATIVIDADE INDIVIDUAL
Matriz de atividade individual
Disciplina: Conservação, dinâmica de sistemas naturais e aspectos econômicos
Aluno: Isabella Franco de Bastos Cirello Turma: 0721-1_4
Tarefa: Atividade Individual final da disciplina
Uma terceira via para a conservação da biodiversidade: Amazônia 4.0
Segundo dados divulgados pelo Governo Federal, o Brasil abriga mais de
116.000 espécies de animais, e mais de 46.000 espécies vegetais. Isso confere ao
país o título de maior detentor de biodiversidade do mundo, com especial destaque
às florestas tropicais, que, apesar de representarem apenas 7% da superfície
terrestre, concentram cerca de 50% de todas as espécies já catalogadas no planeta
(CASAGRANDE; DA SILVA, 2018). Tamanha riqueza natural deveria ser estudada
para que seu potencial tecnológico pudesse ser aproveitado pela população, mas,
devido às dinâmicas social e econômica constituídas a partir de raízes colonizadoras
europeias, nunca houve o estímulo necessário para esse desenvolvimento.
Herdando modelos de supressão de biomas naturais aplicados anteriormente a
regiões com uma biodiversidade pouco expressiva, o desenvolvimento no Brasil se
deu em cima da exploração intensiva de recursos naturais, agricultura e pecuária,
com a grande promessa dos anos 1970 de que esse seria o caminho para a
prosperidade a nível global.
Essa estratégia de fato colocou o Brasil como uma das principais potências
mundiais de produção de commodities agrícolas, sendo que em 2018, a soma de
apenas sete das principais commodities produzidas representaram uma entrada de
US$120 bilhões na economia, metade do valor das exportações brasileiras no
período, de acordo com pesquisa realizada pelo NuBank em agosto deste ano. No
entanto, ter a economia baseada em commodities é um fator de risco, devido à
oscilação do mercado e momentos de crise, além de que concentrar investimentos
em produção de bens de consumo afasta os investimentos em tecnologia, colocando
o Brasil atrás das superpotências que lideram o ranking econômico no mundo.
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Fica evidente que essa estrutura econômica, que prioriza a exploração da
natureza, teve grande impacto no meio ambiente, principalmente quando se fala em
desmatamento para aumento de fronteiras agrícolas. Os biomas brasileiros estão
sofrendo mudanças constantes devido às ações humanas, estimando-se que 17% da
Floresta Amazônica já foram completamente devastados (INPE, 2021) como
consequência dessa expansão, e que outros tipos de ações antrópicas resultaram na
perda de 87,6% da Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica, 2021). A degradação desses
habitats gera um desequilíbrio desastroso na biodiversidade, colocando em risco a
manutenção da vida de diversas espécies, animais e vegetais. Esses dados são
alarmantes, e fizeram com que o Brasil se colocasse nos holofotes mundiais como
um grande problema para o mundo, com o perigo de sofrer sanções econômicas e
quebra de acordos comerciais caso não adote medidas de conservação eficientes
imediatamente, o que geraria resultados catastróficos, uma vez que tais bloqueios
afetariam diretamente na exportação de commodities, podendo desencadear uma
grave crise econômica.
Apesar de observar que essa estrutura de exploração é bastante enraizada no
Brasil, novas pesquisas sugerem que ainda há tempo de implementar novos
caminhos, direcionados à sustentabilidade e manutenção do meio ambiente e da
sociedade, para o bem estar das presentes e futuras gerações. Carlos Nobre,
climatologista que desenvolveu sua carreira científica como pesquisador do Instituto
Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) e do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), propõe um novo modelo de desenvolvimento sustentável da
Amazônia, que promete colocar o Brasil à frente dos debates sobre bioeconomia. Na
última década, o mundo observou a quarta revolução industrial, ou Indústria 4.0, que
é marcada fortemente pela inovação e pela integração de diversas tecnologias,
visando a melhoria e otimização de processos produtivos (Distrito, 2021). Daí, surge
o conceito da Amazônia 4.0, proposto em 2018, que tem como base o uso da
tecnologia para construir cadeias de valor de base local, unindo o conhecimento
científico aos conhecimentos de povos tradicionais, de forma a desenvolver ativos
biológicos de alto valor agregado. Nobre sintetiza a missão do projeto como "Manter
a floresta em pé, ter ciência e tecnologia e capacitar as populações para participarem
desse novo ciclo econômico".
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Se o Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, isso deve ser posto como
a maior vantagem competitiva em relação a outros países, pois há uma imensa
oportunidade de mercado na área de inovação e pesquisa para a bioeconomia. Além
disso, a exploração sustentável da biodiversidade da Amazônia empodera as
populações da região ao incluí-las no processo de desenvolvimento desses novos
conhecimentos e produtos. Segundo o Governo Federal, a região amazônica abriga
cerca de 30 milhões de pessoas, que se beneficiarão diretamente desses sistemas
produtivos. Hoje, a maior atividade econômica da região ainda é a pecuária
(FONSECA, 2019), que concentra a renda em uma parcela muito pequena da
população, além de gerar um prejuízo ambiental já amplamente conhecido. Já o
projeto Amazônia 4.0, visa gerar uma melhor distribuição de renda, ao implementar
os Laboratórios Criativos da Amazônia, laboratórios extremamente modernizados e
inclusivos, que vão impulsionar o desenvolvimento científico na região, democratizar
o conhecimento e capacitar a população. Alguns laboratórios já estão ativos, e cada
um deles trata de um bioproduto ou metodologia específicos, como estudo de
culturas de açaí e cacau ou mapeamento de genomas de espécies vegetais.
Um grande destaque das pesquisas da Amazônia 4.0 vai para a produção e
estudos sobre o açaí, que é a segunda maior fonte de renda da Amazônia, atrás
apenas da pecuária. Segundo o relatório Futuribles de 2019, a produção do fruto é
estimada em mais de 250 mil toneladas por ano, e beneficia mais de 300 mil
produtores da região, agregando ao menos US$1 bilhão à economia anualmente,
com a comercialização de não somente sua polpa, mas diversos subprodutos. O
grande benefício desse cultivo é que ele não requer muita área para ser produzido, e
há a possibilidade de implementação de sistemas agroflorestais, ou seja, que fazem
o manejo da terra com cultivos agrícolas combinados a espécies vegetais nativas, de
forma que não é necessário desmatar a floresta para se obter lucro. Enquanto o valor
anual da produção de carne e de soja combinados é estimado em R$604 por
hectare, o do açaí, combinado ao cacau e castanha, pode atingir um valor de
R$12.300 quando adotado o sistema agroflorestal, segundo dados apresentados
pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)
em 2019.
Se esse potencial pode ser observado em apenas uma única espécie como o
açaí, o que se pode esperar para a vasta biodiversidade amazônica? Ainda segundo
o CEBDS, o Brasil possui mais de 245 espécies da flora como base de cosméticos, e
cerca de 40 espécies botânicas registradas como fitoterapêuticas, considerando que
há mais de 46.000 espécies vegetais, ainda há muito potencial para ser estudado
para promover esse mercado. Trazer a tecnologia para o centro da floresta, estudar o
ecossistema e desenvolver novos ativos biológicos é a solução que colocará o Brasil
à frente da bioeconomia e da proteção ao meio ambiente. Um exemplo interessante
de como a região pode ser impactada por esse projeto aconteceu por meio de um
estudo da Natura sobre o fruto Ucuúba. As comunidades da região amazônica
utilizavam a sua árvore (ameaçada de extinção) para produzir vassouras, gerando
desequilíbrio ambiental por causa de sua exploração intensiva. A pesquisa da marca
de cosméticos identificou que a Ucuúba pode ser processada para produzir uma
manteiga de alto valor agregado para a indústria de cosméticos, de forma queé
possível gerar três vezes mais valor com a árvore viva, a partir do fruto, do que com
a árvore derrubada (Futuribles, 2019), mudando a cultura da população, que deixou
de desmatar. Isso prova que ao agregar valor à cadeia produtiva de base local,
implementando novas tecnologias, a população se beneficia e busca a conservação
ambiental para manter a sua renda.
Carlos Nobre ainda ressalta a importância de compreender como as espécies
evoluíram na Amazônia, e quais as interações entre elas, para utilizar esse
conhecimento para o benefício humano. Essa questão não trata apenas do que já foi
citado sobre a produção e cultivo de espécies, mas sim, de como é possível, através
da observação da natureza, reproduzir seus sistemas no desenvolvimento de novas
soluções tecnológicas. Este conceito é chamado de biomimética, que é a ciência que
estuda as estruturas naturais para otimizar estruturas criadas pela humanidade,
sejam elas nos campos da arquitetura, engenharia, design ou ciência de materiais.
Duas autoras de grande relevância para a área são Janine Benyus e Neri Oxman.
Benyus, escritora e bióloga norte-americana, tem um importante trabalho que traz as
estruturas naturais biológicas para o centro de soluções de design, com maneiras
inovadoras de se pensar os produtos e espaços para serem mais sustentáveis e
otimizados. Já a israelense Neri Oxman, arquiteta e professora do Massachusetts
Institute of Technology (MIT), coordena pesquisas sobre ecologia de materiais,
explorando as estruturas biológicas naturais para desenvolver e sintetizar novos
materiais, capazes de gerar novas possibilidades para o design e construção civil, de
forma mais sustentável e durável. Aplicando a ciência biomimética ao
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desenvolvimento sustentável da Amazônia, explorando todo o potencial de
biodiversidade, não haverá limites para o que poderá ser desenvolvido em benefício
da civilização humana.
Nas últimas décadas, nações do mundo todo vivem um intenso debate sobre
como as ações antrópicas estão desencadeando mudanças climáticas
potencialmente irreversíveis. Os países estão se unindo em conferências globais
sobre o clima, e assinando acordos climáticos como a Agenda 2030 e o Acordo de
Paris como uma tentativa de frear o impacto que o desenvolvimento tecnológico da
humanidade tem causado na natureza. No entanto, o grande desafio para que ações
sejam realizadas está no custo de desenvolver tecnologias capazes de regenerar
ecossistemas ou ainda de impedir sua degradação. Por isso, um novo modelo
tecnológico cujo lucro se baseia fundamentalmente na conservação de sistemas
ecológicos e sua biodiversidade, se mostra como uma alternativa viável para
solucionar os problemas climáticos. O conceito da Amazônia 4.0 comprova o
potencial que o Brasil tem para construir uma forte bioeconomia e despontar como
primeira potência global no assunto, com ganhos locais inestimáveis. Portanto, é
preciso viabilizar cada vez mais o investimento no bioma amazônico, explorando de
forma sustentável os recursos da floresta, trazendo maior valor agregado aos seus
ativos biológicos e potencializando os ganhos dos povos tradicionais, de forma que
esse modelo seja cada vez mais favorecido, e uma nova via possa ser traçada para
alcançar um futuro mais próspero, justo e que promova a conservação ambiental.
Referências bibliográficas
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de sistemas naturais e aspectos econômicos: apostila de pós-graduação FGV.
2018.
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