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Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 Hemorragias da Primeira Metade da Gestação As condições clínicas associadas à ocorrência de sangramento na primeira metade da gestação, de maior importância, são: abortamento, gestação ectópica, doença trofoblástica gestacional e doença hemolítica perinatal. Conceitua-se clinicamente o abortamento como a interrupção, voluntária o não, da gravidez antes das 20 semanas, ou quando o peso fetal for inferior a 500g. Classificação: Cronologia: precoce (até 12 semanas - cromossomopatia) ou tardio (12 a 20 semanas – causa anatômica, incompetência istmo cervical) Intenção: espontâneo o provocado É a complicação mais frequente na gravidez e é muito subdiagnosticada. Quando recorrente, com a ocorrência consecutiva de 3 ou + abortamentos espontâneos, é definido como ABORTAMENTO HABITUAL. Etiologia Anomalias Cromossômicas São as causas mais comuns de abortamento no 1º Trimestre (cerca de 50 a 80% dos casos). Erros na meiose II são a principal explicação para a ocorrência das trissomias e relacionam-se com idade materna avançada e com a diminuição ou ausência de recombinação meiótica. As mais frequentes são: 14, 2, 13, 15, 21, 22, 16. Fatores Maternos - Infecção aguda grave: pode ocasionar abortamento devido a lesões na decídua, placenta, membranas ovulares e no próprio concepto. - SOP tem sido considerada fator de risco para abortamento habitual em mulheres em idade fértil. - Mulheres com DM1 que não estão metabolicamente controladas no início da gravidez apresentam maior risco de evoluir com abortamento espontâneo. - Aderências intrauterinas - Miomas submucosos que distorcem a cavidade endometrial, podem ser relação com o abortamento. Além disso, miomas induzem a produção de citocinas e estão relacionadas à contratilidade uterina. - Malformações uterinas - Uso excessivo de álcool e tabaco - Desnutrição acentuada - Trauma grave - Cirurgias abdominais Incompetência Istmo cervical Trata-se de um quadro de perda fetal tardia recorrente, em consequência de um colo uterino com oclusão insuficiente, seja por um defeito estrutural ou funcional, seja por origem traumática (curetagem, laceração cervical pós-parto ou aborto traumático) ou congênita, por alteração do colágeno ou, ainda, em consequência da exposição intrauterina ao dietilestibestrol. Quadro clínico: - Dilatação cervical indolor até 4-6cm - Ausência de sangramento - Protrusão das membranas ovulares na vagina e posterior rotura de membranas, seguida de expulsão fetal do feto morfologicamente normal e vivo O diagnóstico pode ser retrospectivo, com auxílio de anamnese fora do período gestacional e alguns exames: - Histerossalpingografia: largura do seg. istmo cervical na altura do orifício interno do colo superior a 8mm - Avaliação do orifício interno pelo uso de velas de Hegar: que comprova a incompetência quando permite a passagem de vela de 8mm. O tto clássico é a cerclagem, que previne o encurtamento e a abertura prematura do colo uterino, por meio de sutura circular no nível de seu orifício interno, e a técnica mais utilizada é a cirurgia de Mc Donald. A sutura deve ser retirada por volta das 37 semanas ou antes, caso a paciente apresente trabalho de parto, rotura prematura das membranas ovulares (RPMO), corioamnionite ou óbito fetal. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 Tipos de cerclagem Eletiva Terapêutica Urgência Indicação Histórico de 1 ou + perdas fetais no segundo trimestre, na ausência de trabalho de parto Ou antecedente de cerclagem por dilatação assintomática do colo uterino no segundo trimestre da gestação Histórico de parto prematuro <34 semanas E Colo uterino <25mm em USTV antes de 24 semanas Dilatação assintomática do colo uterino e membranas ovulares protrusas através do canal cervical Período Antes da cervicodilatação: entre 12 e 16 semanas de gestação Não deve ultrapassar 24 semanas de gravidez Não deve ultrapassar 24 semanas de gravidez As gestantes submetidas à cerclagem terapêutica ou de urgência devem usar progesterona via vaginal, na dose de 200mg, à noite, até 36 semanas de gestação. Causas Imunológicas São divididas em autoimunes e aloimunes - Autoimune – Síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAAF) Situação em que ocorre alteração na regulação da homeostasia da coagulação sanguínea, tendo como principal mecanismo a autoimunidade. É uma trombofilia (condição de hipercoagulabilidade – sangue + espesso) autoimune, no caso de gestantes, está associada a tromboses e infartos placentários. Causa de abortamento de repetição (cerca de 20%). O diagnóstico da síndrome é baseado em critérios clínicos e laboratoriais, sendo necessário preencher pelo menos um critério laboratorial e um clínico. Critérios Clínicos Critérios Laboratoriais Trombose vascular: 1 ou + ep de trombose arterial, venosa ou de pequenos vasos, confirmado por Doppler ou histopatologia, que exclua vasculite Anticoagulante lúpico pressente no plasma em 2 ou + ocasiões, com intervalo mínimo de 12 semanas Morbidade gestacional: - 1 ou + mortes de feto morfologicamente normal, com + de 10 semanas confirmado pelo USG - 1 ou + nascimentos prematuros de feto morfologicamente normal, com 34 semanas ou menos, em virtude de eclampsia, pré- eclâmpsia ou causas de insuficiência placentária - 3 ou + abortamentos espontâneos antes de 10 semanas de idade gestacional, sem anormalidades hormonais ou anatômicas maternas e causas cromossomiais paternas ou maternas excluídas. Anticardiolipinas IgG ou IgM em títulos mod (>40) a altos (>80), em duas ou mais ocasiões com intervalo de no mín 12 semanas, por teste ELISA padronizado Antibeta2GPI IgG ou IgM presente no plasma, em 2 ou mais ocasiões com intervalo de no mín 12 semanas, por teste ELISA padronizado O tto padrão para AAS pacientes que preenchem os critérios diagnósticos consiste em AAS (110mg/dia, VO) e heparina em doses profiláticas. - Heparina não fracionada (5.000 a 10.000 UI, a cada 12hrs por via SC) - Heparina de baixo peso molecular: Enoxaparina (CLEXANE), 40mg/dia ou, ainda, 1mg/kg/dia Dalteparina, 5.000 UI/dia, ou, ainda, 100UI/kg/dia Já para gestantes com história anterior de trombose, o tto será AAS e heparina em doses plenas. - Aloimunine A teoria aloimune baseia-se em resposta materna anormal para antígenos paternos ou trofoblasto. Nesse caso, haverá histocompatibilidade materno-fetal exagerada e resposta imunológica alterada e paradoxal (agressora), ocasionando rejeição materna aos tecidos fetais, semelhante ao que acontece nos transplantes. O diagnóstico se baseia no tipo do antígeno leucocitário humano do casal, na detecção in vitro do fator bloqueador da mulher e na atividade das células NK. Infelizmente não há tto disponível. Formas Clínicas e Condutas Exame abdominal + exame especular + toque vaginal. Realizar uma boa anamnese além da classificação do abortamento. Sinais e Sintoma s Ameaça de Abortamento (15 a 20%) Abortament o Completo Abortamento Retido Abortamento Incompleto Abortamento Infectado Abortamento Inevitável Sangra mento Discreto Discreto ou Ausente Ausente Variável Variável com odor fétido Presente e intenso – Pode comprometer hemodinamicame nte Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 Dor Discreta ou Ausente Ausente Ausente Cólicas Cólicas e pode haver sinais de peritonite Cólicas Febre Ausente Ausente Ausente Ausente Presente Ausente Útero Compatível com IG Menor do que o esperado para a IG – pq não tem mais nada dentro Menor do que o esperado paraa IG Menor do que o esperado para a IG Amolecido e doloroso à palpação Compatível ou não com a IG Orifício interno do colo uterino Fechado Fechado Fechado Fechado ou aberto – pode se observar a saída de restos ovulares Fechado ou aberto Aberto – detecção de membranas ovulares ou até o embrião USG Embrião e BCE presentes Útero vazio Embrião sem BCE (óbito embrionário) – Pode identificar saco gestacional, vesícula vitelina Restos ovulares Variável Presença ou ausência de BCE - 50% de probabilidade de evoluir para abortamento espontâneo - Há eliminação total do concepto, o que é comum quando o aborto ocorre no primeiro trimestre da gravidez (princ nas 10 semanas) - Queda do BhCG Retenção do produto conceptual sem vitalidade, em gestação de até 20 semanas. Na maioria das vezes não é possível saber com certeza o momento da morte do concepto. - Eliminação parcial dos produtos da concepção, com a permanência de restos ovulares na cavidade uterina. - Mais freq. Após 10 semanas - Importante observar a presença de disfunções orgânicas ou sepse pelo Escore SOFA (resp, sanguíneo, hep, CV, neurológico e renal) - Pode resultar da tentativa de esvaziar o útero com uso de instrumentos inadequados e técnicas inseguras no abortamento clandestino - Processo já se iniciou, mas ainda não concluiu - Não tem o que fazer para impedir o abortamento CONDU TA Expectante mesmo na presença de hematoma. Medidas gerais: repouso relativo, analgésicos, antiespasmódi cos e abstinência sexual. Manter vigilância e reavaliar se houver aumento do sangramento. Expectante com seguimento e acompanha mento ambulatorial para monitorar o sangrament o - 1º Trimestre: conduta pode ser expectante, pois aprox. 30 a 50% das pacientes evoluirão para abortamento completo em 2 semanas. É possível aguardar até 30 dias do momento do diagnóstico, se não houver eliminação espontânea, parte-se para conduta ativa, seja ela med ou cirúrgica por meio do esvaziamento uterino. - 2º trimestre ou > 12 semanas (ou tardio): a melhor conduta é a expulsão imediata do feto com uso de misoprostol e, em seguida, complementação com curetagem *Nos casos IG<7 semanas devemos repetir a USG em 15 dias para confirmar o diagnóstico - Esvaziamento cirúrgico doo conteúdo uterino, por curetagem ou aspiração manual intrauterina (AMIU). Se colo impérvio, a dilatação pode ser feita com velas de Hegar ou misoprostol. Se colo pérvio < 12 semanas = AMIU Se colo pérvio > 12 semanas = Curetagem *Acima de 12 semanas, uma USG deve ser realizada para avaliar a presença de espículas ósseas fetais. Nesses casos, a curetagem só deverá ser realizada após a expulsão do feto, devido o risco de perfuração uterina. TTO clínico e cirúrgico e consiste no uso de antib, tto da hipovolemia e no reparo das lesões e lacerações nos casos de abortamento inseguro. A cureta para remoção do foco infeccioso é feita logo após o início da administração de antibióticos. Se essas medidas não forem suficientes, ou se houver suspeita de perfuração uterina, abscessos pélvicos ou lesão de alça intestinal, deve-se realizar uma laparotomia, seguida da retirada do foco, inclusive histere, S/N. Esquema de tto: Ampicilina 500mg – 1g, 6/6hrs ou Penicilina 20- 40milhões UI/dia + Gentamicina 1,5mg/kg/dia, 8/8hrs + Metronidazol 500mg-1g de 6/6hrs - Internação e estabilização da paciente. Em seguida poderá ser realizada uma curetagem uterina, se o quadro evoluir para abortamento incompleto, ou se houver sangramento ativo com repercussão hemodinâmica Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 Métodos de esvaziamento uterino Medicamentoso - MISOPROSTOL: Age tanto nas contrações uterinas quanto no esvaecimento do colo uterino. Seu uso deve ser feito com base no tamanho uterino, e não com base na IG. Doses de Misoprostol de acordo com a FIGO Abortamento de 1º Tri Aborto retido: 2 a 3 doses de 800mcg, via vaginal, a cada 12hrs Aborto incompleto: 400mcg, dose única Abortamento de 2º Tri 200mcg, via vaginal, a cada 4- 6hrs, seguida por tto cirúrgico combinado - OCITOCINA: Apresenta melhor resultado acima de 16 semanas e com colo favorável (aumento do número de receptores). Em IG precoce é necessário o uso de altas doses para obter o efeito desejado. Cirúrgico Está indicada nos casos de sangramento mod ou intenso, na presença de infecção e, ainda, para aquelas mulheres que não desejam esperar a eliminação espontânea ou medicamentosa. AMIU É realizada por meio de um vácuo manual produzido por uma seringa, com um sistema de tecnologia simples, de baixo custo, que pode ser reutilizado após esterilização. A OMS recomenda que a AMIU seja o método de escolha em relação à curetagem para remoção do conteúdo intrauterino do 1 trimestre, por ser menos traumático, com menor risco de perfuração e de desenvolvimento de aderências futuras, além de reduzir a necessidade de internações e custos. Ao realizar a AMIU é possível substituir a anestesia geral por analgésicos. *Quando o colo se encontra fechado, recomenda-se o uso de MISO 400mcg, via vaginal, 3hrs antes do procedimento, como forma de facilitar sua realização. CURETAGEM UTERINA A curetagem consiste, inicialmente, na dilatação da cérvix e no uso de uma cureta metálica para raspar as paredes do útero. Complicações: infecções, esvaziamento incompleto (2%), laceração cervical, perfuração uterina, lesão de órgãos pélvicos e hemorragia. Legislação para interrupção voluntária da gravidez no Brasil O aborto legal só é permitido no Brasil, em casos de abortamento terapêutico, abortamento humanitário ou abortamento em casos de anencefalia, na idade gestacional máxima de 20 semanas. Nos casos em que há permissão, devem ser realizados os mesmos procedimentos indicados para um abortamento espontâneo. Em caso de risco de morte materna iminente, o abortamento pode ser efetuado sem o consentimento da mulher Abortamento terapêutico: quando a gestação pode colocar a vida da mãe em risco. Deve ser feita avaliação por 2 médicos, sendo um deles especialista na doença que está motivando a interrupção Abortamento humanitário: realizado em casos de violência sexual. O BO e a autorização judicial estão dispensados, assim como a condenação do estupro. Abortamento em casos de anencefalia: e necessário USG em período superior a 12 emanas, em que se identifique ausência de calota craniana e do parênquima cerebral. Definida como a gestação cuja implantação e desenvolvimento do ovo ocorrem fora da cavidade endometrial. A principal etiologia é a deficiência na motilidade tubária. Corresponde à primeira causa de morte materna no 1º trimestre. A tuba uterina representa o local mais frequente de acometimento, sendo a região ampular a mais frequente (70%). Fatores de Risco - AP de gestação ectópica - AP de cirurgia tubária - AP de DIP - Alteração anatômica da tuba uterina - Endometriose - Gravidez pela falha do DIU / anticoncepção de emergência - Gravidez pós reprodução assistida - Tabagismo Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 Diagnóstico TRÍADE CLÁSSICA: Dor abdominal + Sangramento vaginal + Atraso ou irregularidade menstrual Alguns sinais clínicos sugestivos de irritação peritoneal podem estar presentes: - Sinal de Cullen: equimoses em região periumbilical devido à hemorragia retroperitoneal - Sinal de Blumberg: dor à descompressão súbita na palpação abdominal - Sinal de Proust: Fundo de saco abaulado, devido ao acúmulo de sangue, e doloroso ao toque vaginal (Grito de Douglas) Exames Complementares - Dosagem de BhCG: não duplica normalmente, geralmente a dosagem é menor - USG: Constitui-se em um sinal ecográfico de certeza de gravidez ectópica a visualização de saco gestacional fora da cavidade uterina, contendo vesícula vitelínica e/ou embrião - LAPAROSCOPIA: Por vezes, torna-se necessário o emprego de métodos invasivos. Permite a excelente exploração da pelve, possibilitando certeza diagnóstica de gravidez ectópica, da integridade da tuba e de associação com outras doenças. Tratamento Vai depender do estado hemodinâmico, da integridade da tuba e do desejo reprodutivo. Conduta Expectante: Pode evoluir espontaneamente para um abortamento tubário. Só pode ser indicada se a paciente atender aos seguintes critérios: - Pouca dor ou sangramento - Confiabilidade na gestante para seguimento - Nenhuma evidência de rotura tubária - Nível de BHCG < 1.000 e em queda - Massa ectópica ou anexial <3 cm ou não detectada - Ausência de BCE - Estabilidade hemodinâmica Tratamento Medicamentoso A droga de escolha é o metotrexato (quimioterápico antimetabólico, antagonista do ácido fólico) e está indicado nas seguintes condições: - Gestação ectópica íntegra de até 3,5cm de maior diâmetro - Estabilidade hemodinâmica - Desejo reprodutivo - Embrião sem atividade cardíaca - BHCG< ou igual 5000 e decrescente em 2 dosagens seguidas - Líquido livre restrito à pelve - Normalidade hemograma, função renal e enzimas hepáticas Esquema de ADM: 1. Injeção IM em dose única: dose de 50mg/m2 2. Injeção IM em dias alternados: 1mg/kg de metotrexato no primeiro, terceiro e quinto dias e uma dose de ácido folínico de 0,1mg/kg no segundo, quarto e sexto dias. 3. Injeção direta no saco gestacional: dose única de MTX (1mg/kg). Mais prático. O seguimento é através de dosagens de BHCG no quarto e no sétimo dia após a adm. Havendo queda maior que 15%, o exame pode ser realizado semanalmente até a negativação. Complicações do medicamento: náuseas, vômitos, estomatites, neurotoxicidade, dermatite, alopecia. Contraindicações: aleitamento materno, imunodeficiência, recidiva da gestação ectópica, úlcera péptica ativa. Tratamento Cirúrgico Geralmente é indicada na presença de gravidez ectópica rota ou em casos de gravidez ectópica íntegra em que há contraindicação para o tto clínico. Pode ser radical (salpingectomia), ou conservador (salpingostomia), e isso não influencia no futuro reprodutivo da paciente. A salpingostomia por laparoscopia é considerada o padrão-ouro no tto de pacientes com gravidez tubária íntegra que desejam preservar o futuro reprodutivo. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 A DTG se refere a um conjunto de alterações de origem gestacional, que surgem a partir do trofoblasto e que se caracterizam pela proliferação anormal dos diferentes tipos de epitélio trofoblástico. Inclui a mola hidatiforme e a neoplasia trofoblástica gestacional caracterizada histologicamente em mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico epitelioide. Fatores de Risco: idade acima de 40 anos, intervalo curtos entre partos, SOP, abortamentos prévios, mola hidatiforme prévia, inseminação artificial, uso de ACO. Tipos: MOLA HIDATIFORME - Completa: óvulo vazio é fecundado por um espermatozoide (DIPLOIDE). Mostra-se como uma massa de vesículas transparentes de tamanhos variados. Histologicamente há ausência de vasos sanguíneos. Geneticamente tem seus cromossomos somente de origem paterna. A maior parte (75%) são 46XX. Nesse caso não há formação do embrião e cordão umbilical. Em 15 a 20% dos casos é possível que haja uma evolução para as formas malignas da DTG. Apresenta níveis mais elevados de BHCG (>100.000), levando a maior taxa de complicações. - Parcial ou Incompleta: Na mola parcial há algum elemento do tecido fetal e alterações hidatiformes e menos avançadas. Histologicamente são avasculares. São fetos usualmente triploides em sua origem (90%), com 2 conjuntos genéticos haploides paternos e um conjunto haploide materno. Pode ser observado presença de embrião ou feto com inúmeras malformações, associada à placenta aumentada em tamanho e com várias vilosidades. Pode progredir para a forma maligna em cerca de 5% dos casos. BHCG < 100.000, complicações clínicas são raras. - Quadro Clínico Útero se encontra aumentado de volume para a IG devido à presença de tecido molar e à retenção de coágulos. Pode haver sangramento vaginal de repetição e de intensidade variável. Pode existir dor em hipogástrio, provocada pela distensão da cápsula ovariana em razão de cistos tecaluteínicos de até 6cm, resultantes da hiperestimulação ovariana por altos níveis circulantes do beta-hCG. Náuseas e vômitos são comuns e podem evoluir para hiperêmese, e o hipertireoidismo pode ocorrer em torno de 5% dos casos, mas normaliza-se com a regressão do hCG e a cura da doença molar. Caso a paciente apresente sinais de pré-eclâmpsia antes de 20 semanas de gestação, deve-se pensar em gestação molar. - Diagnóstico O exame de USG + altos níveis de BHCG são utilizados para o diagnóstico, porém ele só é definitivo após a análise histopatológica do material. MHC: na macroscopia aparece como vesículas entremeadas em coágulos sanguíneos, descritos como cachos de uva, de aparência translúcida e cheia de líquido. Aparece com edema hidrópico difuso, sem feto ou saco amniótico MP: placenta hidrópica espessada com tecido fetal. Feto pequeno e com malformações. - Conduta Tratar complicações (anemia, hipertireoidismo, sangramento, pré-eclâmpsia) + realizar esvaziamento molar (AMIU ou elétrica) + seguimento Em TODAS as pacientes com DTG devem ser realizados: anamnese, exame físico, fundo de olho, dosagem quanti de BHCG, hemograma, ureia, creatinina, função hepática, TSH e T4 livre, RX de tórax, USG com doppler, ABO e Rh, sorologia para sífilis e HIV. Para evitar aloimunização, deve-se adm imunoglobulina anti-D a todas as gestantes com Rh negativo não sensibilizadas. Após o esvaziamento, acompanhar com dosagem seriada semanas de BHG e avaliação clínica. Devem ser avaliados até ficarem menores que 5mUI/mL. Depois disso continua sendo dosado mensalmente durante 6 meses. Elevação e/ou platô persistente indicam DTG persistente. *A histerectomia é uma opção terapêutica para mulheres que não desejam engravidar* NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL - Mola Invasora Caracterizada por crescimento trofoblástico, com extensa invasão tecidual pelas células trofoblásticas e pelas vilosidades. Há penetração do miométrio, podendo ainda alcançar o peritônio, paramétrio e cúpula vaginal. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 É sempre precedida de mola hidatiforme. As vilosidades que invadem o miométrio podem causar hemorragia, perfurações uterinas e infecções. Possui alto poder invasivo, mas com pouco potencial para metástases, que quando presentes são para os pulmões e estruturas pélvicas. TTO: quimioterapia, mas se tiver perfuração uterina, deve ser realizado histerectomia. Em alguns casos pode ressecar o tumor. - Coriocarcinoma Gestacional Tumor sólido, vermelho escuro que cresce em contato coma cavidade uterina e pode invadir profundamente o miométrio, estendendo-se para o peritônio. Pode se originar de qualquer tipo de gestação, mas em até 50% dos casos, ocorre após gestação não molar. É a forma mais agressiva ne neoplasia trofoblástica e invade profundamente o miométrio e vasos sanguíneos, causando necrose e hemorragia, disseminando rapidamente para os pulmões, vagina, fígado e SNC. TTO: quimioterapia com alta taxa de cura - Tumor trofoblástico do sítio placentário Tem pouca expressão imuno-histoquímicapara HCG e é uma forma rara de NTG, geralmente confinada ao útero e que pode cursar com hemorragias e necrose. Metástases á distância são infrequentes. Ocorre em um período de meses a anos, após gravidez normal, em 53 e 78% dos casos, mas o restante é originado de mola hidatiforme ou de abortamento. TTO: não responde bem à quimioterapia, nos casos restritos ao útero, a cirurgia de histerectomia é benéfica. - Tumor trofoblástico epitelioide Massa sólida, em parede uterina e cresce de forma nodular não infiltrativa. Raramente emite metástase e está relacionado à gestação anterior a termo e pouca produção de HCG (não ultrapassa 2.500mUI/mL). Ele pode coexistir com coriocarcinoma e tumor trofoblástico do sítio placentário TTO: não responde bem à quimioterapia, e a histerectomia é o principal método terapêutico. 25% das pacientes terão doença metastática. - Diagnóstico Se após um esvaziamento molar, houver estabilização ou aumento de HCG você deve pensar em neoplasia trofoblástica gestacional (segundo a FIGO, se houver qualquer um dos critérios abaixo): 1. Estabilização de 4 valores, dosados no período de 3 semanas 2. Aumento >10% pôr no mín 3 valores no período de 2 semanas 3. BHCG detectável 6 meses após o esvaziamento molar 4. Diagnóstico histológico de NTG 5. Evidencia de metástase em mulher com idade reprodutiva A paciente deve ser encaminhada para a oncologia. Após exposição materna primária aos antígenos eritrocitários desconhecidos, ocorre sensibilização por produção de IgM, que não atravessa a barreira placentária por ser grande. Caso haja segunda exposição a esse antígeno desconhecido, ocorre a produção de IgG, que ultrapassa a barreira placentária, aderindo-se à membrana dos eritrócitos e ativando o sistema retículo-endometrial, principalmente no baço, onde acontecem a hemólise e a fagocitose. A DHPN, também conhecida como eritroblastose fetal, é uma condição em que o tempo de vida das hemácias do feto está reduzido pela ação de anticorpos específicos, produzidos pela mãe, e que atravessam a placenta, causando anemia no concepto. Ocorre por uma incompatibilidade sanguínea materno-fetal, em que são produzidos anticorpos maternos específicos contra antígenos das hemácias fetais. Em 98% dos casos, essa incompatibilidade é atribuída aos sistemas ABO e Rh. *ALOIMUNIZAÇÃO: é a formação de anticorpos quando há a exposição do indivíduo a antígenos não próprios. ABO: mais comum e menor gravidade Rh: mais grave Irregulares: raros (2%) A principal causa é a hemorragia feto-materna, que ocorre em aproximadamente 75% das gestações. Todos os tipos de gestação podem causar aloimunização. Para que ocorra a DHPN é necessário que ocorra uma sequência de 4 eventos: 1. Incompatibilidade sanguínea materno-fetal 2. Aloimunização materna 3. Passagem de anticorpos da gestante para o feto 4. Ação dos anticorpos maternos no feto. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 Manifestações Clínicas: anemia fetal leve assintomática, hidropisia fetal com anemia grave e até óbito fetal. Pode ocorrer aumento de bilirrubina indireta e impregnação cerebral nos núcleos da base, causando Kernicterus. O sistema ABO é responsável pela maioria dos casos de incompatibilidade, no entanto, repercute em uma menor gravidade clínica, muitas vezes passando despercebidos. Sistema RHD Se estiver presente o antígeno D, o indivíduo é classificado como Rh positivo e, se estiver ausente, o indivíduo é classificado como Rh negativo. Profilaxia É preconizada a adm da imunoglobulina anti-D para todas as gestantes RhD negativo, a partir de 28 semanas IG. Todas as pacientes RhD não sensibilizadas (Combs indireto negativo) no pós-parto (de preferência até 72hrs) e/ou em qualquer caso de hemorragia durante a gestação (placenta prévia, interrupção precoce da gestação e procedimentos invasivos) devem tomar imunoglobulina anti-D. Utiliza-se dose única de 300mcg IM de imunoglobulina, que neutraliza 30ml de sangue total. Diagnóstico e seguimento É fundamental avaliar o número de gestações prévias da paciente e como cada uma evoluiu, quantos filhos foram normais, se houver RN com icterícia grave e persistente, e se há história de hidropisia e morte. A USG pode constatar alterações placentárias, de textura e espessura, derrame pericárdico, polidrâmnio, ascite fetal, edema subcutâneo, derrame pleural, entre outros. A hidropisia fetal é caracterizada pelo acúmulo anormal de líquido no espaço extravascular e em cavidades corporais fetais, como o peritônio, pleura e pericárdio, podendo ocasionar anasarca. No doppler o fluxo na artéria cerebral médica vai estar alterado, a velocidade máxima do fluxo da artéria cerebral média sugere anemia fetal quando >1,5. O teste de Combs indireto é usado como marcador de risco da doença em relação ao antígeno D, e alguns protocolos fazem o acompanhamento com esse exame, em vez de adm imunoglobulina anti-D, com 28 semanas, para todas as gestantes Rh negativas. Visto que a imunoglobulina é dispendiosa: - Quando o teste for negativo, deve ser repetido com 28, 32, 36 e 40 semanas de IG. Além disso, deve ser solicitado, no pós-parto imediato (em conjunto do teste de Combs direto e do fator Rh do RN) - Quando o teste for + e a titulação for menor ou igual a 1:8, deve ser repetido mensalmente até o parto. E se for maior deve investigar anemia. A cordocentese é o padrão-ouro de avaliação da anemia fetal, pois o hematócrito é medido diretamente e, se o valor estiver abaixo de 30%, está indicada a transfusão intravascular. Mas pode levar a piora do caso devido a hemorragia feto-materna. Tratamento Nos prematuros ou com doença grave, existe a opção pela transfusão intrauterina. O sangue é adm. através da veia umbilical, por meio de cordocentese, a partir de 20 semanas de gestação, período mais seguro, em que o cordão umbilical é mais espesso. O procedimento é feito após a medida do hematócrito fetal e, se o valor estiver abaixo de 30%, é realizada a transfusão intravascular de sangue Rh negativo, desde que seja compatível com o tipo sanguíneo ABO materno. Após a transfusão, os BCF são monitorizados por meio da cardiotocografia durante 2 a 4hrs. Em caso de feto a termo, indica-se a resolução do parto. Após o nascimento preconiza-se a realização de exsanguinotransfusão, além de fototerapia, para auxiliar na redução dos níveis de bilirrubina.
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