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Fonte: Rotinas em Obstetrícia, FEBRASGO Introdução A interrupção da gravidez antes de sua viabilidade, com o feto pesando menos de 500 gramas, é a complicação mais comum da primeira metade de gestação. O abortamento é síndrome hemorrágica da primeira metade da gravidez, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) define como a interrupção da gravidez antes de 22 semanas, ou com um feto até 50 0g, ou de 16,5 cm, quer dizer, antes de atingida a viabilidade. Estima-se que seu diagnóstico clínico ocorra em 12 a 15% das gestações. É provável, entretanto, que a proporção de óvulos fertilizados que evolui para abortamento seja muito maior, já que a maioria não chega a apresentar-se como gravidez clínica. A incidência de abortamento é decrescente conforme a idade gestacional (IG), situando-se ao redor de 1% após as 16 semanas. A idade materna é o principal fator de risco para a ocorrência de abortamento, devido à maior incidência de cromossomopatias com o avançar da idade da gestante. As taxas de abortamento crescem conforme a idade, podendo atingir 50 a 80% das implantações a partir dos 40 anos. Além disso, a história prévia de abortamento é um fator de risco importante, sendo maior o risco conforme o número de abortos prévios. Consumo de tabaco, álcool, cocaína e anti- inflamatórios não esteroides, extremos de peso e tireoideopatias também estão relacionados ao abortamento. Etiologia As causas dos abortamentos podem dividir-se em fetais e maternas. As causas fetais são, principalmente, alterações cromossômicas incompatíveis com a vida. As cromossomopatias mais comumente encontradas são as trissomias autossômicas, sendo estas aneuploidias defeitos na gametogênese, nem sempre sendo os pais portadores de algum rearranjo cromossômico Entre as causas maternas destacam-se especialmente doenças clínicas. → Endocrinopatias como hipotireoidismo e diabetes associam-se com o abortamento de primeiro trimestre, sobretudo quando descompensadas. → Infecções agudas secundárias aos mais diversos microrganismos como rubéola, sífilis, citomegalovirose e toxoplasmose são causas já reconhecidas de abortamento, apesar de, em grande número de vezes, não serem diagnosticadas. → Defeitos anatômicos uterinos podem ser causa de abortos de repetição, destacando-se, entre eles, a incompetência istmocervical. → Nesse âmbito, também se apresentam as trombofilias, como síndrome do anticorpo antifosfolipídeo e diversos distúrbios genéticos da coagulação, e os fatores imunológicos. Quadro clínico O sangramento via vaginal é o sintoma mais associado ao abortamento. O abortamento deve ser suspeitado em toda mulher em idade fértil que se apresente com sangramento via vaginal anormal. Nas pacientes em idade fértil que se apresentam para avaliação com sangramento via vaginal, se ainda não há diagnóstico de gestação, esta deve ser pesquisada por meio de teste da fração beta da gonadotrofina coriônica humana (β-hCG, do inglês human chorionic gonadotropin) Dor abdominal de intensidade variável, mais destacadamente no abdome inferior, é o sintoma mais associado ao sangramento vaginal nos casos de abortamento. Dor lombar, náuseas, vômitos e mal estar podem apresentar-se em conjunto. Não raro, algumas pacientes com quadro de abortamento completo podem apresentar-se pouco sintomáticas, apenas com relato de sangramento, o qual pode já estar escasso ou até ausente ao exame físico À palpação abdominal, a paciente poderá apresentar dor de intensidade variável, mas não são esperados sinais de irritação peritoneal. O exame especular sempre deve ser executado, já que irá descartar outras possíveis fontes de sangramento além do útero e confirmar a história relatada. Deve ser avaliado o volume de sangramento e a possível presença de material ovular misturado ao sangue ou sendo eliminado pelo colo uterino, o que já pode confirmar o diagnóstico de abortamento em curso. A presença de secreção purulenta, ou muito fétida, sendo eliminada pelo colo uterino levanta também a hipótese de um abortamento infectado. É interessante atentar para a presença de lesões no colo uterino, como lacerações ou perfurações, que possam sugerir tentativa de instrumentalização do útero com o objetivo de abortar uma gestação em curso. Por meio do toque vaginal bimanual, determina-se o tamanho do útero e se o colo do útero está dilatado ou não. A presença de dor excessiva ao mobilizar o colo uterino também pode sugerir quadro infeccioso associado. A associação do exame físico com a avaliação ultrassonográfica e a dosagem sérica da β-hCG, permite definir o diagnóstico e, posteriormente, classificar o quadro clínico. Diagnóstico Abortamento espontâneo pela USG → Presença de saco gestacional com 25 mm ou mais de diâmetro médio sem embrião em seu interior; → Presença de saco gestacional contendo embrião com 7 mm ou mais de comprimento cabeçanádega (CCN) sem batimentos cardíacos fetais (BCFs) detectáveis; → Ausência de embrião 14 dias ou mais após US que demonstrou saco gestacional contendo vesícula vitelínica; → Ausência de embrião 11 dias ou mais após US que demonstrou saco gestacional sem vesícula vitelínica. Abortamento espontâneo é aquele que ocorre sem nenhuma intervenção externa e pode ser causado por doenças da mãe ou por anormalidades do embrião ou feto. Conforme as características ao exame físico, definindo se o colo se encontra aberto ou não e o tamanho do útero, aliado aos dados da US, o quadro clínico pode ser classificado em diferentes tipos, que irão definir o manejo clínico e/ou cirúrgico. Ameaça de abortamento É o abortamento em que há chances de reversão do quadro, isto é, existem perspectivas no que diz respeito à evolução da prenhez. É definida como todo sangramento via vaginal que ocorra até as 20 semanas, independentemente da intensidade, associado a colo uterino fechado e sem critérios ultrassonográficos para definir abortamento. Na maioria das situações, a etiologia exata não pode ser determinada. Dois grandes sintomas caracterizam-no: o sangramento e a dor. O primeiro é de pequena monta; já o segundo traduz a contratilidade do útero, que promove cólicas leves e é incapaz de induzir modificações cervicais. Ao exame físico especular, pode-se encontrar: sangue coletado ou sangramento ativo de leve intensidade e colo uterino impérvio. Ao toque vaginal combinado, constata-se útero com tamanho compatível com o atraso menstrual, colo impérvio e sangramento de pequena monta. Ao exame ecográfico transvaginal, observa-se saco gestacional regular, batimento cardíaco fetal regular e superior a 100 bpm e área de descolamento ovular inferior a 40% do diâmetro do saco gestacional. Além de aumentar a chance de abortamento espontâneo, o sangramento também está associado a diversas complicações obstétricas, como hemorragias de terceiro trimestre, ruptura prematura de membranas antes do termo, parto pré-termo e restrição de crescimento fetal. Cerca de metade das gestantes com quadro de sangramento via vaginal e colo fechado evoluirá para abortamento. Essa probabilidade torna-se significativamente menor quando os BCFs em gestação de primeiro trimestre são confirmados. Abortamento retido O conceito clássico é aquele concepto que permanece na cavidade uterina sem vitalidade. É a retenção do conteúdo do abortamento de uma gestação interrompida por 8 semanas ou mais. Esse quadro geralmente vem associado à diminuição ou até ao desaparecimento completo dos sintomas habituais do início da gestação. Porém, com a introdução do uso rotineiro da US no acompanhamento pré-natal, esse termo está caindo em desuso, já que o diagnósticode uma gestação interrompida ocorre mais precocemente. Gestação anembrionada É definida como a presença de um saco gestacional com diâmetro médio de 25 mm ou mais e que não contém embrião. Pode ser diagnosticada durante avaliação ultrassonográfica ou apresentar-se já como um abortamento em curso. Abortamento inevitável É o abortamento não mais compatível com o prosseguimento da gestação. É a ocorrência de sangramento vaginal e dor abdominal associada à dilatação cervical, podendo também ocorrer exteriorização de líquido amniótico, indicando ruptura da bolsa amniótica. Geralmente, a evolução para um abortamento, completo ou incompleto, ocorre algumas horas após o início dos sintomas. Abortamento incompleto É a forma clínica mais frequente. Ocorre eliminação espontânea parcial do material intrauterino, e a paciente apresenta-se com sangramento via vaginal e dor abdominal significativos, podendo haver repercussão hemodinâmica devido à perda sanguínea. Ao exame ginecológico, pode ser visualizada a saída de tecido ovular pelo colo uterino, e este encontra- se geralmente aberto. O exame ultrassonográfico tem papel importante na definição desse tipo de quadro. A descrição de material ecogênico na cavidade endometrial mostrou-se com adequadas sensibilidade (78%) e especificidade (100%) na detecção de retenção de restos ovulares. Abortamento completo Todo o conteúdo gestacional é eliminado, com o útero apresentando-se involuído ao exame físico e o colo uterino podendo estar já fechado. A avaliação por meio de US pode confirmar a ausência de restos ovulares intrauterinos. O diagnóstico de aborto completo é inequívoco quando a gestante que possui US prévia com diagnóstico de gestação intrauterina se apresenta com história de sangramento vaginal com eliminação de material característico de restos ovulares com ou sem feto identificado, evoluindo para quadro de redução do sangramento e da dor pélvica, presença de colo fechado com sangramento residual pequeno ao exame físico e sem achado de gestação à US. Se não houver achado de gestação intrauterina à avaliação ultrassonográfica no atendimento de emergência, as hipóteses diagnósticas serão, além de aborto completo, gestação inicial (< 5 semanas) com ameaça de aborto, gestação ectópica e gestação de localização indefinida. Nesses casos, é necessária a dosagem quantitativa de β-hCG para seguimento comparativo em 48 horas. Se ocorrer decréscimo, confirma-se o diagnóstico de aborto completo. Abortamento séptico É o aborto mais comumente provocado, associado à infecção uterina. A etiologia quase sempre resulta da tentativa de esvaziar o útero através do uso de técnicas inadequadas e inseguras (introdução de sondas, agulhas, laminárias e soluções variadas). A apresentação clínica é bastante heterogênea, sendo algumas vezes detectada somente por meio de exames laboratoriais, variando de quadro febril e doloroso até casos de choque séptico e morte devidos à infecção intra abdominal grave. Febre, dor abdominal intensa, sangramento vaginal com odor fétido e eliminação de secreção piossanguinolenta pelo colo uterino podem estar presentes ao exame físico. O colo uterino apresenta-se dilatado e amolecido ao exame físico, com dor importante durante o exame. Nesses casos, é essencial a atenção aos sinais vitais para a detecção precoce de sinais de sepse, como taquicardia, taquipneia, febre e hipotensão Essa infecção costuma ter origem polimicrobiana, envolvendo germes da flora vaginal, como Staphylococcus aureus, gram-negativos e anaeróbios, assim como também se relaciona a patógenos transmissíveis sexualmente, como Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae. Diagnósticos diferenciais Hematoma subcoriônico Imagem hipoecoica ou anecoica adjacente ao saco gestacional, no primeiro trimestre, ou das membranas fetais, no segundo trimestre, provavelmente devido ao descolamento parcial das membranas da parede uterina. Essas pacientes apresentam maior risco de abortamento espontâneo e de natimortalidade, sendo que 1 em cada 11 apresentarão essa evolução. Outros Gestação ectópica Doença trofoblástica gestacional. Tratamento Ameaça de abortamento Apesar de frequente na prática obstétrica, a orientação de repouso domiciliar ou mesmo hospitalar em casos de ameaça de aborto não encontra embasamento científico. Além disso, a suplementação com β-hCG também não mostrou redução do risco de abortamento em metanálise. Em uma metanálise foi observado o benefício do uso da didrogesterona. A didrogesterona é uma progesterona sintética com estrutura similar à progesterona natural, com boa biodisponibilidade oral, alta afinidade pelo receptor progestogênico, poucos efeitos adversos maternos, sem efeito androgênico no feto e sem inibição da produção placentária de progesterona. A dose usada na maioria dos estudos avaliados nessa metanálise foi de 40 mg em dose de ataque, seguida de doses subsequentes de 10 mg de 12/12 horas, com manutenção até cessação do sangramento. FEBRASGO o A conduta é expectante, não existindo indicação de internação hospitalar, mesmo na presença de hematoma retroplacentário. o Não há conduta médica a ser tomada para alterar a evolução ou não de um quadro de abortamento espontâneo, nem mesmo uso de progesteronas, relaxante muscular ou vitaminas. o Recomenda-se que seja utilizado analgésico se apresentar dor, evitar relações sexuais durante a perda sanguínea e retornar em caso de aumento do sangramento. Abortamento completo Considerando-se que ocorreu eliminação espontânea completa dos produtos da concepção, não há necessidade de procedimentos para esvaziamento uterino. Entretanto, quando a gestação é apenas suspeitada ou com diagnóstico exclusivamente laboratorial por β-hCG, o quadro de sangramento vaginal com colo fechado pressupõe a realização de US para avaliação complementar. O achado de gestação intrauterina viável (embrião com BCF+) indica ameaça de aborto, enquanto a presença de saco gestacional com embrião sem BCF diagnostica gestação interrompida. Abortamento incompleto, abortamento inevitável, gestação interrompida de primeiro trimestre e gestação anembrionada Nas situações em que ocorreu eliminação parcial dos produtos da concepção ou em que há diagnóstico de gestação interrompida intrauterina de primeiro trimestre, independentemente da existência de dilatação do colo uterino, deve-se decidir entre proceder ao esvaziamento uterino de forma medicamentosa ou cirúrgica ou entre manter manejo expectante. Conforme estudo de revisão comparando os manejos expectante, medicamentoso e cirúrgico do abortamento, não houve diferença significativa entre eles, devendo ser indicada intervenção mais por aspectos clínicos – como sangramento excessivo – do que por achados ultrassonográficos – como volume de material retido. Opta-se pelo abortamento farmacológico ou mecânico através da vacuoaspiração com menos de 12 semanas, pelo tamanho uterino. (FEBRASGO) Abortamento incompleto, abortamento inevitável e gestação interrompida de segundo trimestre Quando ocorre a eliminação parcial dos produtos da concepção ou há diagnóstico de morte fetal intrauterina no segundo trimestre da gestação, a decisão quanto ao manejo dependerá da existência de dilatação do colo uterino e da presença de partes fetais intrauterinas Nas situações em que o feto já foi expulso e o sangramento vaginal não for excessivo, o manejo pode ser semelhante ao do primeiro trimestre com conduta expectante, medicamentosa ou cirúrgica. Quando há feto com IG ≥ 12 semanas retido intrauterino, há necessidade de induzir a expulsão do feto inicialmente e, após, fazera reavaliação quanto à indicação do esvaziamento uterino cirúrgico. Para indução da expulsão fetal, é necessário produzir contrações uterinas efetivas para promover a dilatação cervical. Utiliza-se habitualmente misoprostol em doses repetidas até a eliminação. O uso de mifepristona 200 mg – um antiprogestogênio indisponível no Brasil – 24 horas antes do início da administração do misoprostol reduz o tempo de indução em até 50%. O uso de misoprostol com ou sem mifepristona no segundo trimestre produz baixas taxas de retenção placentária (< 10%). Dessa forma, preconiza-se que a AMIU ou a curetagem uterina não seja realizada como rotina subsequentemente, sendo estas reservadas às pacientes que apresentam sangramento significativo, febre ou retenção de placenta por pelo menos 3 a 4 horas. Segundo as diretrizes da Society of Family Planning, entre os diversos regimes de uso do misoprostol, a dose de 400 µ g via vaginal de 3/3 horas, até 5 doses, parece ser a dose ótima (grau de recomendação A). A taxa de sucesso de abortamento em 48 horas com esse regime chega a 90%. 50 Alternativamente, pode- se utilizar dose inicial mais alta entre 600 e 800 µ g seguida por dose de 200 µ g via vaginal de 3/3 horas. Alternativamente, a ocitocina em infusão com altas doses pode ser utilizada para indução da expulsão fetal no segundo trimestre com eficácia similar ao misoprostol. Em caso de falha na indução do aborto de segundo trimestre após 24 horas de manejo, não há boa evidência científica quanto à melhor conduta. Pode- se proceder à realização de um intervalo de pausa na indução com retomada do mesmo regime, alteração da dose e do aprazamento do mesmo agente, troca de agente de indução ou dilatação mecânica com velas de Hegar e evacuação uterina. Abortamento infectado O manejo inicial deve ser com início precoce de antibioticoterapia IV, investigação de falência renal e respiratória, conforme sintomas, reposição volêmica e eletrolítica e transfusão sanguínea, quando indicadas, e esvaziamento uterino assim que tiver sido iniciada infusão de antibiótico. Em caso de aborto de segundo trimestre com feto intrauterino, inicia-se a indução de esvaziamento uterino com misoprostol, independentemente da vitalidade fetal, uma vez que não há possibilidade de manutenção de gestação com infecção intra- amniótica. Entre as complicações do aborto séptico, estão coagulação intravascular disseminada, insuficiência renal aguda, síndrome da angústia respiratória aguda, fascite necrosante com necessidade de desbridamento cirúrgico, formação de abscesso tubo-ovariano e necessidade de laparotomia para drenagem de abscesso, salpingectomia, ooforectomia e/ou histerectomia. Esses casos de sepse foram estratificados por gravidade da infecção: I Infecção restrita ao útero II Infecção restrita à pelve e ao abdome, sem sinais de generalização III Sepse com febre, hipotermia, taquicardia, taquipneia e inadequada perfusão de órgãos IV Choque séptico, caracterizado por sepse com pressão arterial (PA) sistólica < 90 mmHg As complicações do aborto séptico ocorreram em um terço das pacientes (14 casos) e, entre estas, as mais frequentes foram peritonite (50%), abscesso pélvico (42,85%), insuficiência renal (42,85%), choque séptico (28,57%), perfuração uterina (21,42%), lesão vesical (7,14%) e fístula enterovaginal (7,14%). O esquema antibiótico IV de amplo espectro com cobertura para bactérias aeróbias e anaeróbias é fundamental para a redução da morbimortalidade do aborto séptico. O esquema utilizado no HCPA, considerando a necessidade de cobertura de amplo espectro, é gentamicina 240 mg a cada 24 horas (3-5 mg/kg/dia) e clindamicina 900 mg de 8/8 horas. Associa-se penicilina 5 milhões UI ou ampicilina 1 g de 6/6 horas em caso de infecção grave, para cobertura de bactérias gram-positivas (Streptococcus). O critério de cura da infecção corresponde à evolução de 48 horas de melhora clínica caracterizada por ausência de febre, redução da dor e do sangramento vaginal e melhora dos parâmetros laboratoriais. Nesse caso, a terapia com antibióticos deve ser suspensa e não há indicação de uso de antibiótico VO após a alta hospitalar. A infecção após aborto pode provocar sequelas em longo prazo, como infertilidade, dor pélvica crônica e dispareunia, que são resolvidas com a pronta identificação e instituição de tratamento precoce. Aspiração manual intrauterina (AMIU) A AMIU para aborto de primeiro trimestre ou de segundo trimestre após expulsão fetal foi desenvolvida para ser realizada sob analgesia de bloqueio paracervical, mas pode ser realizada sob sedação IV assistida por anestesista. Após bloqueio paracervical com ou sem sedação, procede-se à histerometria e avalia-se a dilatação do colo uterino. É importante certificar-se da posição uterina (anteversofletido ou retroverso) para reduzir o risco de perfuração. Caso não haja dilatação suficiente para a menor cânula disponível, realiza-se dilatação com dilatadores específicos de AMIU, com calibre progressivamente maior, mantendo tração suave do colo com pinça de Pozzi. Escolhe-se uma cânula de aspiração de 4 a 14 mm, conforme a dilatação do colo e o volume uterino. A cânula ideal deve ser a maior que puder ser inserida no orifício cervical interno sem forçar e que fique ajustada, permitindo a formação do vácuo e evitando o esvaziamento incompleto por perda da sucção. Após a inserção da cânula escolhida até o meio da cavidade endometrial, realiza-se o vácuo na seringa de AMIU com as válvulas laterais travadas até a fixação do êmbolo, e, segurando a pinça de Pozzi e a cânula com uma mão e a seringa com a outra, conecta-se a cânula à seringa. Estabelecida a conexão, as válvulas são liberadas e o vácuo é transmitido para a cavidade endometrial, aspirando os produtos da concepção para o interior da seringa e promovendo a contração uterina em torno da cânula. Então, deve-se girar suavemente a cânula 180° para cada lado e movimentá-la em direção ao fundo uterino e em direção ao colo. Quando a seringa estiver cheia ou ocorrer perda do vácuo, desconecta-se a seringa da cânula; mantendo esta no útero, esvazia-se a seringa em uma cuba e refaz-se o vácuo. Repete-se a aspiração até o esvaziamento completo, que é percebido pela parada de saída de material placentário, redução do sangramento, que se torna bolhoso, percepção de superfície áspera endometrial sendo raspada pela cânula e dificuldade para girar a cânula que está sendo comprimida pelo útero contraído. Antes de encerrar o procedimento, deve-se certificar de que a quantidade e o aspecto do material aspirado são compatíveis com a IG. Também é importante avaliar a presença de vesículas (vilos hidrópicos) características de gestação molar. Após a inspeção do material, retira-se a cânula e a pinça de Pozzi do colo do útero, realiza-se a limpeza deste com gaze para avaliar sangramento residual – que deve ser mínimo–, e retira-se o espéculo. A paciente deve permanecer em sala de recuperação se tiver sido submetida à sedação até completa recuperação anestésica antes de receber alta. Em caso de bloqueio paracervical, a paciente pode ser liberada imediatamente. Curetagem uterina Procede-se à antissepsia perineal e, após sedação, à embrocação vaginal com clorexidina aquosa. Insere-se o espéculo para expor o colo, que deve ser apreendido com pinça de Pozzi na posição 12 horas. Verificam-se a histerometria e a dilatação cervical. Escolhe-se a cureta de maior calibre que passe pelo orifício cervical interno, a fim de reduzir o risco de perfuração. A cureta deve ser segurada apenas entre os dedos indicador e polegar para evitar movimentos com força excessiva. Realizam-se movimentos lineares do fundo uterino em direção ao orifício cervical interno primeiramente em parede anterior, prosseguindo para paredes laterais e parede posterior. Similarmente ao que ocorre com a AMIU, o procedimento encerra quando não há mais saída de material, o sangue torna-se bolhoso e percebe-se a superfície áspera do endométrio sendo raspada. Sendo a quantidade de material compatível com o esvaziamento completo e o sangramento residual mínimo, retiram-se a pinça de Pozzi e o espéculo. Após a curetagem, a paciente permanece em sala de recuperação pós-anestésica até completa recuperação antes da alta. Abortamento farmacológico o A forma mais efetiva da promoção do abortamento farmacológico e com menos efeitos colaterais é a combinação de mifepristona seguida de misoprostol. o No Brasil, infelizmente, não há ainda mifepristona, apenas o misoprostol em comprimidos para uso vaginal de 25, 100 e 200 µg para uso apenas hospitalar. o Como principais vantagens do uso do misoprostol, pode-se elencar: ausência da possibilidade de perfuração uterina e formação de sinequias, redução dos riscos de sequelas inerentes à dilatação do colo uterino e eliminação do risco anestésico. o Como desvantagens, tem-se o tempo de resolução, algumas vezes até 7 dias, os efeitos colaterais até a expulsão do conteúdo da cavidade uterina, como cólica, sangramento, náusea, calafrios, a necessidade eventual de complementação cirúrgica e, principalmente, a ansiedade pela espera. o Para o abortamento no 1º trimestre recomendam- se duas a três doses de 4 comprimidos de 200 µg (800 µg), via vaginal, no intervalo mínimo de 3 ou 12 horas. o No abortamento do 2º trimestre, a presença de ossos fetais no abortamento retido torna o tratamento farmacológico seguido da curetagem altamente preferencial em relação ao cirúrgico puro. A dose preconizada de misoprostol é de 200 µg via vaginal a cada 4-6 horas(21) ou 400 µg via vaginal, repetida cada três horas com um máximo de cinco doses. Complicações Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as complicações do aborto constituem a quarta maior causa de mortalidade materna no mundo, correspondendo por 7,9% dos casos de morte materna. A retenção de produtos da concepção após o manejo inicial de aborto de forma expectante, medicamentosa ou cirúrgica deve ser suspeitada na presença de sangramento persistente associado à dor abdominal e no transoperatório quando o material aspirado não tem quantidade compatível com a IG. A ocorrência de hemorragia após aborto pode ser decorrente de laceração de colo, retenção de produtos da concepção, coagulopatia e perfuração uterina, e o manejo corresponderá à gravidade do sangramento, com reposição volêmica, transfusão sanguínea, reposição de fatores de coagulação, sutura de laceração, reesvaziamento uterino, uso de uterotônicos (misoprostol, metilergometrina e ocitocina) e possibilidade de laparotomia exploradora. Abortamento inseguro é definido como procedimento para interrupção de gestação indesejada executado por pessoa inabilitada e/ou em ambiente sem as condições adequadas de assepsia e é responsável por 13% da mortalidade materna e cerca de 5 milhões de internações hospitalares por complicações, mundialmente. A incidência de infecção após abortamento cirúrgico é de 0,5% e, após abortamento com misoprostol vaginal, de 0,45%, conforme metanálises. A perfuração uterina ocorre por meio da passagem de instrumento cirúrgico (histerômetro, pinça de apreensão, cânula de AMIU, cureta) da cavidade endometrial para a cavidade peritoneal por transfixação do miométrio e é mais comum em úteros em situação retrovertida. Essa complicação pode ser percebida durante o procedimento pela perda da resistência do fundo uterino à introdução do instrumento que progride mais do que o esperado para o tamanho uterino correspondente à IG e identificada previamente pelo toque bimanual. A ocorrência de sinequias uterinas, podendo levar à amenorreia (síndrome de Asherman) e à infertilidade, é uma complicação tardia rara relacionada à curetagem uterina. Uso de imunoglobulina anti-RhO Conquanto não existam evidências de boa qualidade, as mulheres Rh-negativas e teste de Coombs indireto negativo com abortamento espontâneo (incluindo ameaça de abortamento) ou induzido devem receber a imunoglobulina anti-Rh- D. A administração de imunoglobulina anti-RhO para profilaxia de aloimunização Rh em gestantes Rh negativas é bem estabelecida para o término de gestação no terceiro trimestre, quando há maior volume de sangue fetal que pode ser exposto à circulação materna. Entretanto, há controvérsias quanto às recomendações de uso em abortamento de primeiro e segundo trimestres. No primeiro trimestre, a dose de 50 µg é efetiva, embora não haja contraindicação de fazer uso da dose padrão de 300 mcgb. Após 12 semanas, geralmente, recomenda-se a dose de 300 µg. (FEBRASGO) Introdução A doença trofoblástica gestacional (DTG) define um grupo heterogêneo de lesões que surgem do epitélio trofoblástico da placenta. É uma das neoplasias mais curáveis, inclusive na sua forma avançada. O prognóstico para a cura de pacientes com DTG é bom, mesmo quando a doença está disseminada em órgãos à distância, sobretudo quando apenas o pulmão está envolvido. Segundo o National Cancer Institute (NCI), a probabilidade de cura depende do tipo histológico, da extensão da doença, do nível de gonadotrofina coriônica humana (hCG, do inglês human chorionic gonadotropin), da duração da doença, do sítio das metástases e da natureza do antecedente gravídico. O diagnóstico precoce e o manejo adequado permitem, via de regra, levar à sua cura, com morbidez e mortalidade baixas. A doença trofoblástica gestacional pode ser dividida histologicamente em: → Mola hidatiforme completa ou parcial → Neoplasia trofoblástica gestacional (NTG) persistente ou invasiva: mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico de sítio placentário (TTSP). As molas hidatiformes completas e parciais são tumores localizados, não invasivos, que se desenvolvem como resultado de um evento de fertilização aberrante que leva a um processo proliferativo. Elas compõem 80% dos casos de DTG. As outras três categorias de DTG representam a doença maligna devido ao seu potencial de invasão local e metastática. A DTG maligna pode desenvolver-se de uma gravidez molar ou pode surgir depois de qualquer tipo de gestação. A DTG tem sido associada a diversos fatores, como extremos da idade reprodutiva, gestação molar prévia (aumento de risco em torno de 1-2%), tipo de grupo sanguíneo (no sistema ABO) e baixo nível socioeconômico, assim como carências nutricionais. As manifestações clínicas da DTG incluem: → Sangramento vaginal; → Útero aumentado em relação à idade gestacional (IG); → Pressão ou dor pélvica; → Cistos ovarianos tecal uteínicos; → Anemia; → Hiperêmese gravídica; → Hipertireoidismo; → Pré-eclâmpsia antes de 20 semanas de gestação; → Eliminação vaginal de vesículas hidrópicas. Em mulheres que apresentam sangramento vaginal, útero aumentado de volume, desconforto pélvico e teste de gravidez positivo, os médicos, com frequência, em vez de DTG, suspeitam inicialmente de outras complicações mais comuns da gravidez, como ameaça de aborto e gravidez ectópica, podendo, com isso, retardar o diagnóstico correto. Mola hidatiforme Do ponto de vista genético, a mola divide-se em mola parcial ou incompleta, com diferentes características clínicas e histopatológicas, e mola completa. Característica Completa Parcial Tecido fetal ou embrionário Ausente Presente Edema hidatiforme das vilosidades Difuso Focal Hiperplasiatrofoblastica Difusa Focal Invaginação das vilosidades Ausente Presente Inclusões do estroma trofoblastico Ausentes Presentes Cariótipo 46 XX (90%), 46 XY 669 XXY (90%) 1. Completa Origina-se da fertilização de um óvulo com núcleo ausente ou inativo com a carga gênica somente do pai: um espermatozoide haploide 23X, que se duplica posteriormente, completando a diploidia cromossômica (46,XX). Mais raramente, o óvulo pode ser fertilizado por dois espermatozoides, originando molas com cariótipos 46,XX ou 46,XY. A mola hidatiforme completa (MHC) não possui tecidos embrionários ou fetais identificáveis, e as vilosidades apresentam edema hidatiforme generalizado (vilos hidrópicos), ausência de vasos sanguíneos e hiperplasia trofoblástica difusa. Possui potencial de invasão local (15%) e disseminação (4%). A carga genética da MHC é totalmente de origem paterna. 2. Parcial Em geral, origina-se da fertilização de um óvulo por dois espermatozoides, resultando em uma triploidia (69,XXX, 69,XXY ou 69,XYY). O tecido fetal ou embrionário que se apresenta com uma mola parcial pode ter um cariótipo diploide normal ou um triploide. As mudanças hidrópicas são focais e menos proeminentes com pouca hiperplasia e sem atipia do trofoblasto envolvente. A mola hidatiforme parcial é o único tipo de DTG que está associado à presença de líquido amniótico e de um feto cuja atividade cardíaca pode ser detectada. O abortamento espontâneo é a evolução natural de 99% das molas parciais. Assim, uma mola hidatiforme parcial é muitas vezes diagnosticada de forma equivocada como um aborto incompleto ou inevitável, e o diagnóstico correto de DTG é feito somente após a análise histológica do espécime cirúrgico. Na mola parcial, há sempre vilosidades normais e focos de degeneração com necrose e hemorragia. Não existem as vesículas típicas da mola completa. Em cerca de 4% dos casos, a mola parcial evolui para os tumores não metastáticos, sendo necessária quimioterapia para a remissão da doença. Neoplasia trofoblástica gestacional O grupo das NTGs verdadeiras inclui o coriocarcinoma, o TTSP e o tumor trofoblástico epitelioide (TTE). Os dados de estudos da expressão da proteína têm sugerido a possível presença de uma célula-tronco de trofoblasto comum, que, posteriormente, diferencia-se em três subtipos distintos de NTG. Todos podem desenvolver-se após uma gravidez molar, mas coriocarcinoma e TTSP também podem ocorrer após aborto espontâneo ou induzido, gravidez ectópica ou pré-termo/gestação a termo. O coriocarcinoma é a DTG francamente maligna. Segundo Bagshawe, 5 ocorre em 3 a 4% das pacientes com mola hidatiforme. A sintomatologia pode variar de acordo com o local de implantação das metástases. Pode haver sangramento vaginal quando houver metástase nesse nível; dispneia, tosse e hemoptise se os pulmões estiverem acometidos; sangramento retal quando houver comprometimento gastrintestinal (raro); e cefaleia e outros sintomas neurológicos conforme a localização da metástase no cérebro. Os locais mais acometidos pelas metástases são, pela ordem, pulmões, vagina, pelve, cérebro e fígado. No exame físico, as alterações são comuns a várias doenças. Pode haver aumento do volume uterino, sangramento procedente do orifício cervical ou massa endurecida na parede vaginal. Pode haver, ainda, sinais de comprometimento do sistema nervoso central (SNC). Muitas vezes, não se suspeita de coriocarcinoma quando não há história de gestação molar. A ultrassonografia (US) transabdominal ou transvaginal pode revelar lesão expansiva uterina (áreas de tumor, necrose e hemorragia, com ausência de vesículas). 1. Mola invasora Uma mola invasora é uma mola hidatiforme caracterizada pela presença de vilosidades hidrópicas alargadas com a proliferação do trofoblasto. As vilosidades anormais penetram profundamente no miométrio. Do ponto de vista histopatológico, essas lesões podem imitar o coriocarcinoma com invasão da vasculatura uterina e com produção secundária de lesões metastáticas, especialmente envolvendo a vagina e os pulmões. Clinicamente, as vilosidades invasoras são muitas vezes consideradas uma NTG. No entanto, ao contrário do coriocarcinoma, uma vilosidade invasora pode regredir de maneira espontânea. A mola invasora normalmente aparece como uma ou mais massas maldefinidas no útero, com áreas hidrópicas (anecoicas à US). A US com Doppler colorido das áreas anecoicas revela fluxo vascular elevado. A invasão no miométrio pode ser visualizada 2. Coriocarcinoma É caracterizado por uma histologia única, macroscopicamente granular e com extensas áreas de necrose e hemorragia. Ocorre desarranjo dos elementos do sinciciotrofoblasto e do citotrofoblasto com frequentes figuras de mitose e grandes células multinucleadas Cerca de 50% dos casos de coriocarcinoma surgem de MHC, 25% surgem de gravidez normal, e 25% seguem aborto espontâneo ou gravidez ectópica. O sangramento vaginal irregular é o sintoma mais frequente. A apresentação clínica típica é a hemorragia pós- parto tardia que persiste além do período habitual de 6 a 8 semanas. As hemorragias primárias ou secundárias pós-parto são outras apresentações comuns. No entanto, o sangramento vaginal anormal pode desenvolver-se 1 ano ou mais depois de uma gravidez antecedente. A hemorragia pode ser grave se o tumor evoluir para o interior do miométrio ou dos vasos uterinos. Ao exame ultrassonográfico, o coriocarcinoma apresenta-se como massa ecogênica semissólida (áreas de necrose e hemorragia). Os locais mais comuns de implantação são pulmão (80%), a vagina (30%), a pelve (20%), o fígado (10%) e o cérebro (10%). 3. Tumor trofoblástico de sítio placentário Os TTSPs são raros, mas têm alto potencial de malignidade, como o coriocarcinoma. São derivados de células citotrofoblásticas intermediárias que estão presentes na placenta. Diferentemente do coriocarcinoma, o padrão dismórfico típico de citotrofoblastos e sinciciotrofoblastos anaplásico está ausente. Em vez disso, há um padrão característico, constituído de células mononucleares infiltrando o miométrio com a proliferação de células citotrofoblásticas intermediárias. A degeneração caracteriza-se por necrose e hemorragia, não havendo presença de vesículas. Geralmente, aparecem meses ou anos após uma gestação a termo. São comuns sangramento vaginal irregular e útero aumentado, podem ocorrer amenorreia ou virilização, e tem sido relatada síndrome nefrótica. Comparada às outras DTGs, a concentração sérica de hCG nos TTSPs é relativamente baixa em relação ao volume do tumor. Os TTSPs têm potencial de desenvolver doença metastática, aparecendo, à US, como cistos pequenos, localizados, semelhantes à mola invasora dentro do útero. 4. Tumor trofoblástico epitelioide O TTE apresenta-se como uma forma rara de doença trofoblástica. Histologicamente, é composto por trofoblastos intermediários com características celulares entre um citotrofoblasto primitivo e as células sinciciotrofoblásticas diferenciadas. Pode ser confundido com carcinoma de células escamosas, devido à sua participação frequente no segmento inferior do útero ou da endocérvice, ao seu aspecto histológico epitelioide e à expressão de p63 e citoqueratinas. O exame geral dos TTEs mostra uma massa sólida a cística bem definida na parede uterina, no segmento inferior do útero ou na endocérvice. Clinicamente, o TTE ocorre principalmente em mulheres em idade reprodutiva com até 18 anos e após uma gestação anterior. A maioria dos TTEs ocorre após uma gravidez a termo, mas cerca de um terço surge na sequência de umaborto espontâneo ou mola hidatiforme. O sangramento vaginal é o sintoma de apresentação em dois terços das pacientes, sendo que cerca de um terço das pacientes apresenta doença metastática. Os níveis séricos de β-hCG são elevados, mas geralmente não ultrapassam 2.500 mUI/mL. Quadro clínico Na mola completa, o quadro clínico apresenta-se com sangramento vaginal abundante ou irregular no primeiro trimestre ou precocemente no segundo trimestre, podendo haver eliminação de vesículas. Nos casos em que há nível elevado de hCG, podem surgir hiperêmese gravídica, sintomas de pré eclâmpsia antes de 24 semanas, embolização trofoblástica com desenvolvimento de sofrimento respiratório, sintomas de hiperfunção tireoidiana e cistos tecaluteínicos ovarianos com diâmetro > 6 cm (50% dos casos). Os cistos tecaluteínicos geralmente se resolvem em 8 a 12 semanas após o esvaziamento uterino, e, em alguns casos, pode ocorrer sua ruptura ou torção. Pacientes que apresentam taquipneia e taquicardia após a evacuação uterina podem apresentar infiltrado pulmonar bilateral na radiografia de tórax, não havendo etiologia definida da insuficiência pulmonar. É provável que a embolização de tecido molar nos vasos pulmonares e o comprometimento cardíaco, associados à hipertensão, ao hipertireoidismo e à retenção hídrica, possam estar envolvidos na fisiopatologia da doença. O quadro clínico da mola parcial não é tão característico como o da mola completa e, geralmente, apresenta sinais e sintomas de abortamento incompleto com altura uterina menor ou compatível com a IG. Diagnóstico No exame físico, o volume uterino costuma estar aumentado e maior do que o esperado para a IG; isso ocorre em pelo menos 50% das vezes. A ausência de batimentos cardiofetais é outro achado importante. O diagnóstico de DTG pode ser estabelecido com segurança pela US. O aumento do uso dessa técnica diagnóstica no primeiro trimestre da gravidez tem levado ao diagnóstico mais precoce da mola hidatiforme, muitas vezes ainda antes de qualquer manifestação clínica. Mola completa: a US mostra ausência de embrião, nenhum líquido amniótico e massa heterogênea central com vários espaços anecoicos – “padrão tempestade de neve” –, podendo também identificar cistos tecaluteínicos. Mola parcial: o achado de múltiplos cistos na placenta, coexistindo com imagem do feto, na US é um achado sugestivo. A US com Doppler colorido das áreas anecoicas, revelando fluxo vascular elevado, pode auxiliar na identificação de invasão no miométrio, inclusive com extensão para o paramétrio. Em geral, a descrição ultrassonográfica costuma ser segura após 10 semanas de gestação. Antes desse prazo, pode ser muito difícil obter uma confirmação pela imagem, e o exame deve ser repetido. Qualquer suspeita deve ser confirmada posteriormente pelo exame anatomopatológico do conteúdo uterino. Estadiamento É feito pela localização anatômica I Doença confinada ao útero II DTG estende-se para fora do útero, porém, é limitada às estruturas genitais (anexos, vagina e ligamento largo) III DTG estende-se para pulmões, com ou sem envolvimento do trato genital IV Todos os outros sítios metastáticos Tratamento O tratamento da DTG é principalmente cirúrgico. Para as DTGs malignas, o tratamento depende de tipo celular, estádio, nível de β-hCG, duração da doença, sítios de metástases e de se houve tratamento prévio e sua extensão. Cada paciente deve ser manejada individualmente e de forma multidisciplinar. Gestação molar Pacientes que desejam manter sua capacidade reprodutiva devem ser aconselhadas sobre o risco de outra gestação molar e sobre a possibilidade de transformação maligna. Optando-se pela manutenção do útero, o tratamento-padrão é o esvaziamento da cavidade uterina por curetagem aspirativa ou aspiração manual intrauterina (AMIU). Uma infusão de ocitocina poderá ser realizada durante o procedimento de evacuação uterina para diminuir a quantidade de perda sanguínea. Todo o material cirúrgico retirado deve ser enviado para análise anatomopatológica. Pacientes Rh-negativos devem receber imunoglobulina anti-Rh. Se a paciente tem prole completa e não deseja manter sua capacidade reprodutiva, a escolha do tratamento recai em uma histerectomia total com preservação dos ovários e mola in situ. Cerca de 78% das pacientes não necessitam de tratamento adicional além do esvaziamento uterino; as 22% restantes desenvolverão NTG. Neoplasia trofoblástica gestacional não metastática O tratamento da NTG é feito com base na classificação das pacientes em grupos de baixo e alto risco. A doença é classificada como de baixo risco se escore menor ou igual a 6, e de alto risco se maior ou igual a 7. Para as pacientes que não desejam preservar sua fertilidade, histerectomia total é o tratamento de escolha para pacientes com NTG não metastática. Um curso de quimioterapia com fármaco único é prescrito em algumas situações pós-cirurgia, principalmente para pacientes com MHC de alto risco; porém, essa conduta não é um tratamento de rotina. A intenção da quimioterapia profilática é eliminar algum possível foco oculto de metástase e diminuir a chance de disseminação de células tumorais durante a cirurgia e no período pós-operatório. Para pacientes que desejam manter a fertilidade, a quimioterapia é oferecida como tratamento de primeira linha para doença de baixo risco. A primeira escolha é a combinação de metotrexato e ácido fólico ou actinomicina D. Se os níveis de β-hCG permanecem estáveis ou em ascensão após o término da quimioterapia, um novo estadiamento tumoral é realizado. Se o tumor ainda está limitado ao útero e a paciente tem mais de 40 anos e/ou não deseja manter sua fertilidade, a histerectomia total é a opção. Pacientes que preferem manter seu potencial fértil e que se encontram na categoria de baixo risco podem ser tratadas com outras combinações de quimioterapia. Neoplasia trofoblástica gestacional metastática Os sítios mais comuns de metástases são pulmões (80%), vagina (30%), cérebro (10%) e fígado (10%). Devido ao fato de as NTGs serem perfundidas por vasos frágeis e as metástases serem frequentemente hemorrágicas, as biópsias não são necessárias nem aconselhadas pelo risco de hemorragia. Doença de baixo risco → Pacientes com doença metastática de baixo risco têm alto potencial de cura com quimioterapia. → A primeira escolha de tratamento é a combinação de metotrexato e ácido fólico ou actinomicina D. → Nos raros casos em que não se atinge a remissão sorológica ou os níveis de β-hCG se elevam após chegar ao nível normal, a doença da paciente é reestadiada e seu nível de risco é reavaliado. Neste momento, é sempre importante discutir com o laboratório se não é um caso de resultado falso-positivo. → Pacientes com doença de baixo risco que desenvolvem resistência à quimioterapia de fármaco único podem ser tratadas com esquemas combinados como: MAC (metotrexato, actinomicina D e ciclofosfamida) ou EMACO (etoposídeo, metotrexato, dactinomicina, ciclofosfamida e vincristina). Doença de alto risco → O esquema EMACO geralmente é bem tolerado e tem baixa incidência de efeitos adversos graves. → Anemia, neutropenia e estomatite são leves; entretanto, alopecia sempre ocorre. A função reprodutiva é mantida em 75% das pacientes. → Deve-se ter atenção especial com o uso do etoposídeo, pois esse fármaco está associado ao aumento de risco de um segundo tumor, como leucemia, melanoma, câncer de cólon e mama, sendo dose-dependente (mais do que 2 g/m2). → Pacientes resistentes ao esquema EMACO podem ser tratadas com o esquema EMAEP, trocando a ciclofosfamida e a vincristinapor etoposídeo e cisplatina. Seguimento após remissão tumoral Após o tratamento primário para gestação molar e quimioterapia primária para pacientes com DTG maligna, todas as pacientes são monitorizadas semanalmente com dosagens séricas de β-hCG até os valores atingirem o normal por três medidas consecutivas. Após, os níveis de β-hCG deveriam ser monitorizados 1 vez ao mês por 12 meses, a cada 4 meses no segundo ano e, após, anualmente. Em geral, os níveis de β-hCG normalizam em um período de 8 semanas; porém, existem casos em que esse tempo pode ser de 14 a 16 semanas. Em pacientes com NTG após um curso de quimioterapia, especialmente naquelas em torno dos 40 anos, pode ocorrer hipofunção ovariana com elevação do hormônio luteinizante e reação cruzada, resultando em dosagem falso-positiva de β-hCG. Nesse grupo de pacientes, o uso de anticoncepção hormonal oral irá suprimir o LH e evitar esse problema. Após a remissão tumoral completa de mulheres com alto risco de recidiva, deve-se monitorizar a dosagem de β-hCG e realizar exames radiológicos. Tratamento de resgate A estratégia essencial é definir um esquema de quimioterapia e identificar sítios de doença resistentes à quimioterapia, nos quais é possível considerar ressecção cirúrgica. A cisplatina é um fármaco que não é utilizado nos esquemas iniciais devido à sua nefrotoxicidade. Entretanto, como tratamento de resgate, a cisplatina é um fármaco muito efetivo em esquemas combinados. Outros esquemas de quimioterapia têm sido avaliados com bons resultados, como ifosfamida e paclitaxel, e paclitaxel, etoposídeo e cisplatina, porém, são necessários mais estudos para comprovar seus papéis no tratamento da DTG avançada. Gestações futuras Após o tratamento com sucesso de uma gestação molar, o risco de uma futura gestação molar é de 1 a 2%. Esquemas de quimioterapia rotineiramente utilizados parecem ter mínimo impacto no potencial reprodutivo dessas pacientes. Entretanto, durante o período de tratamento e 1 ano após atingir a remissão sorológica, as pacientes são aconselhadas a não engravidar e devem usar métodos contraceptivos hormonais (de preferência) ou de barreira. Introdução Gestação ectópica (GE) é uma gestação extrauterina, isto é, ocorre quando o desenvolvimento do blastocisto e este se implanta em outro sítio que não o endométrio da cavidade uterina. A maioria das GEs ocorre na tuba uterina (95-96%), mas também podem acontecer em outros locais, como colo uterino, cornos uterinos (intersticial ou cornual), cicatriz de histerotomia, ovário e abdome. A hemorragia por GE causa 4 a 10% de todas as mortes na gestação; isso justifica a importância da detecção precoce e do tratamento. Existem fatores de risco que aumentam a chance de incidência de GE, mas aproximadamente 50% das mulheres são assintomáticas antes da ruptura tubária, sem identificação prévia de qualquer fator de risco. Fatores de risco mais comuns: DIP e DST prévias, cirurgia tubária prévia, cirurgia abdominal e pélvica prévia, técnica de fertilização assistida, idade avançada (>35 anos), tabagismo, múltiplos parceiros sexuais, GE prévia, falha de métodos anticoncepcionais, endometriose e exposição ao dietilestibestrol. História de GE prévia – Principalmente se o tratamento anterior foi conservador (aumenta em 15%); É importante ressaltar que, após a ocorrência do primeiro quadro de gravidez ectópica, a recorrência é de cerca de 15%, já nas mulheres com dois ou mais episódios prévios de gestação ectópica esta taxa é de, pelo menos, 25%. Doença tubária ou cirurgia prévia de tubas – Esse fator de risco justifica-se por alterar a anatomia e a fisiologia (motilidade) normal da tuba devido a danos na atividade ciliar da mucosa; Infecções pélvicas – DIPs inespecíficas ou por gonococo e clamídia constituem a maior causa de patologia e dano tubário, principalmente se a infecção for recorrente. A infecção pélvica altera a função da tuba por obstrução e por aderências pélvicas; Dispositivos intrauterinos (DIUs) – Embora a incidência de GE seja menor nas usuárias de DIU do que naquelas que não fazem anticoncepção alguma, e apesar de o DIU ter a função de prevenir a fertilização e a implantação ovular, as usuárias de DIU têm maior risco de GE se a gestação ocorrer; Infertilidade – Ocorre por aumento das alterações tubárias nestas pacientes; Múltiplos parceiros sexuais – Este item é fator de risco provavelmente pelo aumento da incidência de DIPs; Fumo – Tabagistas pesadas no período pré- concepcional podem ter aumento da incidência de GEs por alteração de imunidade e/ou motilidade tubária; Fertilização in vitro – Esta situação pode aumentar o risco de gestação heterotópica por implantação de dois ou mais embriões que migram para sítios diferentes da cavidade uterina; Idade – Mulheres acima de 35 anos têm oito vezes mais chances de desenvolver GE do que as mais jovens, provavelmente pelos riscos acumulados ao longo da vida ou pela perda da atividade mioelétrica ao longo da tuba. Atividade mioelétrica o A atividade mioelétrica é responsável pela atividade propulsiva da tuba uterina. o Essa atividade facilita o movimento do espermatozoide e do óvulo, um em direção ao outro, e propele o zigoto na direção da cavidade uterina. o O estrogênio e a progesterona têm efeito sobre essa atividade, sendo que o primeiro aumenta a atividade do músculo liso e o segundo diminui o tônus muscular. o O envelhecimento resulta em perda progressiva da atividade mioelétrica ao longo da tuba, o que também pode explicar a maior incidência de GE em mulheres na perimenopausa e de falhas associadas à pílula do dia seguinte, a DIUs medicados e à indução da ovulação. Quadro clínico Os sintomas clínicos geralmente aparecem em 6 a 8 semanas de atraso menstrual, porém, podem ser relatados antes da suspeita de gestação, do atraso ou da irregularidade menstrual. Os sintomas mais comuns são a presença de sangramento vaginal e dor pélvica, que podem ou não estar associados a sinais de instabilidade hemodinâmica devidos ao sangramento oculto intra-abdominal, podendo até ser assintomático antes da ruptura. Deve-se suspeitar fortemente de GE em mulheres com história de gestação, sem confirmação de gravidez intrauterina por exame de imagem, gestação em localização incerta – particularmente se a gestação for mais avançada do que 4 semanas –, com instabilidade hemodinâmica e/ou abdome agudo sem diagnóstico Sangramento via vaginal: pode ser escasso em borra de café ou com características de hemorragia, pode ser intermitente ou contínuo, ou até mesmo ocorrer apenas um episódio. Dor abdominal: geralmente é localizada na região pélvica, podendo haver predominância de um lado da pelve, ser discreta ou intensa, de início abrupto ou silente, ou ser contínua ou intermitente. Pode haver dor referida no ombro, por presença de líquido livre no abdome superior com irritação do diafragma. No exame físico devem ser avaliados os sinais vitais com atenção para palidez, sudorese e hipotensão postural, que indicam instabilidade hemodinâmica, sugerindo sangramento oculto intra-abdominal. No abdome, pode haver desconforto à palpação no abdome inferior, distensão abdominal, defesa importante em um dos quadrantes do abdome ou sinais de irritação peritoneal. O exame vaginal especular pode confirmar a origem do sangramento via vaginal, se proveniente ou não da cavidade uterina e sua intensidade. Podem ser identificadas lesões vaginais, vulvares, uretrais e de colo do útero como causas do sangramento que não a GE. No exame dos genitais internos, há intensa dor, principalmente na palpação do fundo do saco de Douglas– grito de Douglas (sinal de Proust). O toque vaginal bimanual, com achados sugestivos de gestação (amolecimento do colo uterino e discreto aumento uterino), dor uterina, dor anexial e/ou palpação de massa anexial, também auxilia no esclarecimento diagnóstico. Exames complementares Em geral, a combinação da dosagem sérica quantitativa da fração β do hormônio gonadotrofina coriônica humana com os achados na ultrassonografia (US) transvaginal determina o diagnóstico de GE. A USG transvaginal (USTV) é o exame de imagem mais útil para detectar a localização da gestação. Ela deve ser utilizada na avaliação inicial e, muitas vezes, necessita ser repetida, dependendo dos achados e dos níveis séricos de β-hCG. Em algumas situações, a USTV não detecta qualquer imagem e somente a correlação com a β-hCG pode ajudar a elucidar o diagnóstico. Nessa situação e em pacientes hemodinamicamente estáveis, a US deve ser repetida quando a β-hCG alcançar a zona discriminatória (> 1.500 mUI) para os achados endometriais ou em 3 a 4 dias, já que o saco gestacional cresce 1 mm por dia e é visível por US quando alcança o diâmetro de 3 mm ou mais. Denomina-se zona discriminatória da β-hCG o nível sérico no qual deve aparecer saco gestacional na cavidade uterina por USTV. Muitas gestações podem ser identificadas por exame de imagem com níveis muito baixos de βhCG (< 1.000 mUI), mas 99% serão identificadas com níveis de 3.510 mUI/mL ou mais. Padrão da β-hCG Elevando-se normalmente (pelo menos 53% nas ultimas 48 horas): acompanhamento da β-hCG até níveis discriminatórios e realização de nova US para diagnóstico de gestação ectópica ou tópica. Elevando-se, mas não normalmente: a falta de elevação da β-hCG inicial em mais de duas medidas seriadas é rpeditiva de gestação anormal, a US deve ser repetida. Em decréscimo: quando o decréscimo é importante (maior que 50% em 48 horas), geralmente é observada gestação frustrada. Diagnósticos diferenciais Fisiológico: acredita-se ser da descamação endometrial por implantação. Aborto espontâneo Patologia uterina, vaginal e/ou cervical. Hematoma subcoriônico. Tratamento Manejo cirúrgico Em alguns hospitais, dá-se preferência para o tratamento cirúrgico por videolaparoscopia para a maioria dos casos de GE. Há duas possibilidades de cirurgia: a salpingectomia e a salpingostomia. Salpingostomia: é a remoção do saco gestacional e de seus produtos, realizando-se uma incisão linear no bordo antimesentérico da tuba com sucção delicada do material e hemostasia do tecido remanescente. → É a técnica preferencial nas mulheres jovens, com menos de 35 anos; nas que não têm a tuba contralateral ou quando esta está muito danificada; se existe lesão mínima na tuba com massas anexiais inferiores a 2 cm; ou se já existe protrusão do tecido trofoblástico através das fímbrias com separação completa da gestação da mucosa tubária (aborto tubário). Salpingectomia: é a retirada da tuba afetada com o conteúdo gestacional em seu interior. → É o tratamento preferido em pacientes acima dos 35 anos ou a partir da segunda ocorrência na mesma tuba. → Alguns autores preconizam sua realização sempre que se opta pelo tratamento cirúrgico da GE, pois acreditam que a tuba afetada pela gestação já apresenta lesões de forma intrínseca e/ou extrínseca e a permanência dela aumentaria o risco de nova GE ou de persistência de tecido trofoblástico. Laparotomia: deve ser reservada para pacientes com instabilidade hemodinâmica grave e em casos de hemoperitônio muito volumoso, pela dificuldade técnica. Segundo revisão da Cochrane de 2007, não houve diferença estatística quanto à fertilidade entre a salpingostomia e a salpingectomia. A morbidade pós-operatória na realização de salpingectomia ou salpingostomia é a mesma. Nas pacientes clinicamente estáveis que são submetidas à videolaparoscopia cirúrgica, o seu tempo de permanência de internação no pós-operatório não ultrapassa 24 horas. Manejo expectante: pode ser realizado quando não se localiza o sítio da gestação, nas situações em que o declínio dos níveis de β-hCG a cada 48 horas é acentuado, quando a paciente está assintomática ou apresenta sintomas leves, ou quando é possível realizar acompanhamento frequente. Manejo medicamentoso: com metotrexato é uma opção de tratamento não invasivo, que tem eficácia comparável ao manejo cirúrgico e mesmos índices de fertilidade. A dose única preconizada é de 50 mg/m² intramuscular. Uma segunda dose é aplicada quando não existe queda da β-hCG sérica. Indicações o Pacientes hemodinamicamente estáveis, com possibilidade de acompanhamento; o Níveis de β-hCG < 5.000 mUI/mL, sem atividade cardíaca fetal detectada; o Massa anexial menor do que 3,5 cm e sem líquido livre na pelve; o Tratamento de GE persistente; e profilaxia de GE persistente após tratamento cirúrgico conservador. Contraindicações o Doença renal, hematológica e/ou hepática; o Imunodeficiência; o Doença pulmonar; o Úlcera péptica; o Hipersensibilidade ao metotrexato; o Gestação heterotópica; o Lactantes Após a administração do metotrexato, a paciente deve manter acompanhamento periódico para avaliar a resposta ao tratamento. Nos primeiros dias, pode haver piora da dor pélvica. O acompanhamento do tratamento com MTX faz-se através de dosagens do beta-hCG no 4º e 7º dias após a injeção de MTX: queda no beta-hCG> 15% entre o 4º e 7º dias, sugerem bom prognóstico, devendo ser seguido com dosagem semanal de beta-hCG. Caso isso não ocorra, a paciente deve ser reavaliada para decidir entre outra dose de MTX ou cirurgia Qualquer alteração no quadro clínico exige reavaliação da paciente, já que o risco de ruptura ainda existe nos primeiros dias após o tratamento.
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