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OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 Sangramentos da Primeira Metade da Gestação • 10 a 15% das gestações apresentam hemorragias, que representam complicações gestacionais com risco fetal/materno ou agravos ginecológicos → principais causas no 1º tri são o abortamento, gravidez ectópica e a doença trofoblástica gestacional. Abortamento • Definida pela OMS como interrupção da gravidez antes de 22 semanas ou com feto até 500g ou 16,5 cm → antes da viabilidade • É a complicação mais frequente da gravidez → 1 em 4 mulheres terá um abortamento espontâneo durante sua vida reprodutiva. • A real incidência é desconhecida, mas 15 a 20% das gestações clinicamente diagnosticadas terminarão em abortamento. o Utilizando testes de alta sensibilidade que detectam gestações ainda não manifestadas clinicamente (gestações bioquímicas), essas taxas podem atingir até 60% • 4ª causa de mortalidade materna no Brasil, diferentemente de países desenvolvidos, onde essas taxas são reduzidas. o As complicações do abortamento representam a 3ª causa de ocupação dos leitos obstétricos no Brasil • Mulheres jovens e em plena idade produtiva e reprodutiva são as mais sujeitas às complicações, como hemorragias, infecções, perfurações de órgãos e infertilidade, levando-as desnecessariamente à morte ou acarretando sequelas à sua saúde CLASSIFICAÇÃO Precoce Ou Tardio • Conforme a idade gestacional, pode ser precoce ou tardio → até a 12ª semana e entre a 13ª e a 20ª semana • Os abortamentos precoces respondem por 80%, tendo uma multiplicidade maior de causas • Além da etiologia, os abortamentos precoces e tardios também apresentam condutas terapêuticas diferentes. Espontâneo Ou Provocado • O abortamento espontâneo ocorre sem nenhuma intervenção externa, sendo causado por doenças da mãe ou anormalidades do embrião ou feto → a incidência do AE clinicamente reconhecido na população em geral, é de 10% a 15% o Com testes altamente sensíveis da hCG, evidenciou-se que a magnitude da perda gestacional após a implantação é aprox. 62% → sem tais métodos, os abortamentos acontecem sem diagnóstico ▪ O fenômeno é encarado como atraso menstrual seguido de menstruação profusa • Por isso, o abortamento espontâneo é a complicação mais frequente da gravidez, e a grande maioria ocorre no 1º tri • A idade materna e o número de abortamento anteriores são os FR mais importantes para um novo abortamento o Com o avançar da idade (35+), há declínio no número e qualidade dos ovócitos → anormalidades cromossômicas são as causas mais frequentes • O abortamento provocado refere-se à interrupção da gravidez causada por intervenção externa e intencional • Estima-se 1 milhão de abortamentos provocados no Brasil por ano, sendo a grande maioria de forma insegura, gerando custo de mais de 30 milhões de reais ao SUS em consequência de suas complicações • Conforme pesquisa de 2010, 22% das mulheres brasileiras de 35-39 anos residentes em áreas urbanas, já provocaram aborto. o Se mostrou mais frequente entre mulheres com menor nível de escolaridade, independentemente de religião Seguro e Inseguro • Termos frequentemente usados em documentos internacionais da OMS • O aborto seguro é realizado por médico bem treinado, com os meios necessários e em ambiente adequado o Implica risco extremamente baixo para mulher. • O aborto inseguro é procedimento de risco para interromper uma gravidez indesejada, realizado por pessoas que não têm as habilidades necessárias ou em ambiente que não tem os padrões médicos mínimos, ou ambos ❖ O elevado número de abortos inseguros realizados anualmente e suas consequências para a saúde reprodutiva das mulheres demonstram que a criminalização desse ato é suficiente para diminuir sua incidência • A atual legislação está levando as mulheres a um itinerário de maior risco social em busca de medicamentos proibidos ou práticas rudimentares → introdução de objetos na vagina e chás e preparados orgânicos aplicados no fundo do útero o Em países com leis flexibilizadas para serem mais adequadas aos direitos sexuais e reprodutivos, evitando a clandestinidade, constatou-se redução da mortalidade materna pela melhora da qualidade e presteza do atendimento ETIOLOGIA Alterações Cromossômicas • São as causas mais comuns, responsáveis por 50 a 80% dos abortamentos espontâneos clínicos ou subclínicos • As trissomias autossômicas são as mais encontradas (50%), sendo as mais comuns do cromossomo 16, 22, 21, 15, 13, 2 e 14 o Decorrem de fertilização por gametas anormais, fertilização anômala ou irregularidades na divisão embrionária o São mais comuns em mulheres com a idade avançada, possivelmente pela ausência de regulação dos fatores que governam a meiose → aumento de oócitos aneuploides • A 2ª alteração cromossômica mais relacionada é a monossomia do cromossomo X, em 7 a 10% dos abortamentos de 1º tri o Essa alteração geralmente ocorre pela falta de um cromossomo sexual paterno, sem correlação com a idade materna OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 Desordens Anatômicas • Incompetência istmocervical → causa de abortamento tardio onde o feto não é retido ate o fim (o colo não se mantém fechado) o Nas etiologias destacam-se causas traumáticas, como dilatação e curetagem, laceração cervical pós-parto traumático ou pós-abortamento, amputação ou conização do colo uterino → ou origem congênita, alteração do colágeno • Miomas → especialmente os do tipo submucoso → podem ocorrer deciduação deficiente na região de implantação e rápido crescimento tumoral, resultado dos hormônios produzidos na gestação o O mioma pode ter seu suprimento sanguíneo comprometido e sofrer necrose tumoral com liberação de citocinas → consequentemente provocando contratilidade uterina e abortamento • Malformações uterinas → útero unicorno, bicorno, didelfo ou septado o O útero bicorno tem taxa de insucesso gestacional maior que o didelfo e nos dois casos há incidência maior de incompetência istmocervical. • Sinéquias uterinas → (cicatrizes) síndrome de Asherman, normalmente decorre de agressões às camadas mais profundas do endométrio, como por curetagens vigorosas e repetidas → interferem na implantação ovular o 15 a 30% das pctes com aderências intrauterinas tem abortamento de repetição Doenças Endócrinas • Defeitos da Fase Lútea → definida por uma produção insuficiente de progesterona pelo corpo lúteo e, consequente inadequado desenvolvimento do endométrio • Foi aventada no passado como causa de abortamento espontâneo e habitual → mas são considerados causa pouco provável de abortamento e sua pesquisa não faz mais parte da rotina diagnóstica do abortamento habitual o O diagnóstico é baseado, sobretudo, na biópsia endometrial e dosagem sérica de progesterona, e ambos os métodos apresentam deficiências → nada que apoie o uso de progesterona na prevenção • Doenças da tireoide → incidência de abortamento maior em pctes com evidente tireopatia • Hipotireoidismo e presença de anticorpos antitireoperoxidase são considerados FR → estudos recentes n confirmam associação. • Diabetes mellitus insulinodependente → taxa de abortamento aumentada em mulheres com DM1 não controladas • Síndrome de ovários policísticos → incidência de abortamento em pacientes com SOP é de 20 a 40% o Parece haver relação com os altos níveis de LH, testosterona e androstenediona presentes na síndrome, e também com a resistência insulínica geralmente associada a estes casos Distúrbios Imunológicos • Neste grupo, se destaca a Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo (SAF) → trombofilia autoimune associada a tromboses arteriais e venosas, diagnosticada pela presença de pelo menos um critério laboratorial e um clínico • É uma causa autoimune de abortamento de repetição,presente em 15 a 20% das mulheres com abortamento habitual → se caracteriza pela presença no plasma materno de 3 variedades de autoanticorpos que conferem maior risco de trombose o Anticoagulante lúpico, a anticardiolipina e o anti-beta-2-glicoproteína-1 o VDRL falso-positivo, trombocitopenia e prolongamento do tempo de tromboplastina parcial (PTT) são outros achados que podem estar presentes • As manifestações clínicas incluem tromboses venosas (2/3 dos casos) e arteriais (1/3 dos casos) e uma variedade de manifestações neuropsiquiátricas → o mecanismo de perda fetal parece envolver trombose e infarto placentário. • Os episódios de abortamento habitual ocorrem com maior frequência no 1º tri ❖ Outras desordens imunológicas incluem causas aloimunes, que podem estar relacionadas à resposta materna imune anormal aos antígenos presentes nos tecidos placentários/fetais, como os antígenos de histocompatibilidade humana (HLA) paternos • A não produção de anticorpos maternos contra tais antígenos como mecanismo de proteção pode resultar em abortamento espontâneo, pré-eclâmpsia ou crescimento intrauterino restrito Infecções • As infecções são causas infrequentes de abortamento precoce, por lesões da decídua, placenta membranas ovulares e concepto o Rubéola → quando adquirida no período próximo à implantação ovular o Parvovirose → quando adquirida no período de diferenciação ovular inicial o Citomegalovirose, listeriose, herpes-simples, hepatite B, HIV, ITU, toxoplasmose, malária o Infecções ascendentes, principalmente vaginoses, clamídia e gonorreia o Sífilis → a doença não tratada pode levar ao abortamento entre 9 e 12 semanas, em especial pela infecção placentária Drogas e Agentes Nocivos • Tabagismo → associação tem sido admitida por muitos estudos, contudo, maioria não depura adequadamente algumas variáveis • Mulheres que fumam > 10 cigarros/dia apresentam maior risco de abortamento o Vasoconstrição e danos placentários podem estar implicados na gênese • Álcool → estudos observacionais têm relatado que o consumo moderado ou excessivo de álcool na gestação se relaciona com maior risco de abortamento • Cafeína → alguns estudos relatam que mulheres que consomem pelo menos 500 mg/dia apresentam maior risco o Em revisão de 15 artigos a respeito da relação, os autores concluíram que não se pode estabelecer a relação causal OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 Trauma • Queda ou trauma abdominal direto → parece não ter evidências para se atribuir o abortamento a traumas de menor gravidade • No início da gestação o produto conceptual se encontra bem protegido dos traumas abdominais o No trauma grave, o produto conceptual pode sofrer trauma direto ou, ainda, sofrer consequências danosas em função do estado hemodinâmico materno Formas Clínicas E Condutas • O abortamento não se apresenta com roupagem clínica única, podendo diagnosticá-lo por sinais e sintomas diversos que caracterizam várias formas clínicas → ameaça de abortamento, abortamento inevitável, completo, incompleto, retido, infectado, habitual e previsto em lei. Ameaça De Abortamento • Complicação frequente e ocorre em 15 a 20% das gestações clinicamente diagnosticadas. • Abortamento no qual há chances de reversão do quadro, sendo que 2 grandes sintomas o caracterizam → sangramento e dor o O primeiro é de pequena monta e o segundo traduz a contratilidade do útero, que promove cólicas leves e é incapaz de induzir modificações cervicais → importante exame para descartar ddx, como aborto inevitável e gravidez ectópica ▪ Em alguns casos não há dor • Toque vaginal combinado → útero c tamanho compatível com atraso menstrual, colo fechado e sangramento de pequena monta • Ecografia transvaginal → saco gestacional regular, batimento cardíaco fetal regular e > 100 bpm, e hematoma subcorionico pode aparecer entre 4 a 40% o Estudos evidenciam que hematomas subcorionicos, principalmente se > 50% do saco gestacional, se relacionam com maior risco de perda fetal ❖ A conduta é expectante, sem indicação de internação hospitalar, mesmo na presença de hematoma retroplacentário • Não há conduta médica a ser tomada para alterar a evolução ou não de um quadro de abortamento • Analgésico para dor, evitar relações sexuais durante a perda sanguínea, retornar em caso de aumento do sangramento • A progesterona é importante na manutenção da gravidez, por induzir alterações secretoras do endométrio na 2ª fase do ciclo menstrual, propiciar a implantação e desenvolvimento do zigoto, regular resposta imunológica e agir na musculatura miometrial o Recentemente, estudos têm evidenciado diminuição da taxa de abortamento em gestantes com ameaça que fizeram uso de progesterona/progestágenos → metanálises, com 47% de redução do risco no grupo tratado ▪ Os resultados parecem promissores, contudo, em função do pequeno número de casos analisados e baixa qualidade metodológica → atualmente ainda não se apoia o uso rotineiramente ❖ Aproximadamente 40 a 50% das mulheres que apresentam sangramento vaginal no início da gestação irão abortar o A taxa cai consideravelmente, para 4 a 10%, se a ameaça ocorrer após a visualização de atividade cardíaca na USG Abortamento Inevitável • É o abortamento não mais compatível com o prosseguimento da gestação. • No quadro clinico há dilatação da cérvice, podendo-se permear com o dedo, que detecta, na maioria, as membranas ovulares ou o próprio embrião → tambem sangramento ativo que compromete a hemodinâmica (mesmo se cérvice impermeável) • Há proporcionalidade entre as dimensões do útero e a idade gestacional estimada pela DUM o Em gestações com > 12 semanas, pelo tamanho uterino, a conduta é o uso do misoprostol para promover o esvaziamento uterino → em seguida se complementa com curetagem uterina na maioria o Abaixo de 12 semanas, indica-se esvaziamento uterino mecânico por vácuoaspiração ou aspiração manual intrauterina → quando não for possível, faz-se a curetagem uterina. • Como complemento, administram-se solutos fisiológicos/glicosados, ou sangue caso a dinâmica circulatória esteja comprometida Abortamento Completo • Quando há eliminação integral do ovo, quando o processo ocorre principalmente nas 10 semanas iniciais o Forma clínica que segue a anterior, que não experimenta intervenção • Rapidamente o útero se contrai e o sangramento, juntamente às cólicas, diminui de intensidade após a expulsão de ovo íntegro o O orifício do colo se fecha em poucas horas • Se não se presencia o fenômeno e o diagnóstico é apenas pela anamnese, se realiza ecografia pélvica para confirmar ou não o diagnóstico → pode não haver evidência de conteúdo uterino, mas as vezes observa-se qtd de conteúdo heterogêneo e líquido • A conduta é apenas expectante com monitoramento da hemorragia Abortamento Incompleto • Aqui se expulsa o concepto e permanece a placenta ou restos placentários, sendo o ovo eliminado parcialmente • Sintomatologia evidenciada por sangramento persistente, que é o sintoma maior → o útero se reduz e fica menor que o esperado para a idade gestacional, e as dores assumem as características de cólicas para expulsar o conteúdo refratário o A cérvice é dilatada, e o comprometimento do estado geral da paciente está na dependência do grau da hemorragia ▪ Algumas vezes o orifício do colo se encontra fechado OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 • Bem mais frequente após a 8 semana gestacional → forma clínica mais frequente • O diagnóstico é clínico, geralmente caracterizado por meio da sintomatologia esboçada o No USG, observa-se conteúdo intrauterino de aspecto amorfo e heterogêneo, com presença ou não de líquido • Opta-se pelo abortamento farmacológico ou mecânico, ou pela curagemdigital complementada pela curetagem o No abortamento incompleto com < 12 semanas, pelo tamanho uterino, indica-se a Aspiração Manual Intrauterina → quando não for possível realiza-se a curetagem uterina. o Nos casos com volume uterino > 12 semanas, a curetagem uterina deve ser utilizada após a eliminação do feto Abortamento Retido • É aquele concepto (antes de 20 semanas) que permanece por dias ou semanas na cavidade uterina sem vitalidade • A ecografia mostra o coração inerte, diminui a altura do fundo uterino e a circunferência abdominal o A turgescência mamária desaparece, bem como os sintomas ligados à presunção de gravidez o Pode haver sangramento vaginal de pequena quantidade o Volume uterino menor que o esperado para a IG e colo fechado ao exame de toque • Diagnóstico sugerido pela sintomatologia e confirmado pela ecografia, que não falha o Ausência de atividade cardíaca em embriões com CCN > ou = 7 mm o Em alguns casos há reabsorção do embrião antes da confirmação ou o desenvolvimento dele não ocorre → gestação anembrionária → não visualização de embrião com diâmetro interno médio do saco gestacional >= a 25 mm • Tto expectante → nas 3 semanas que se seguem ao decesso do ovo, a grande maioria redunda em trabalho de abortamento com expulsão do produto da concepção → mas a intervenção com misoprostol, curetagem ou vácuo-aspiração é mais adotada • Nos casos de intervenção imediata os índices de uma segunda curetagem aumentam o Precedendo qualquer método terapêutico, o coagulograma se impõe quando a retenção é > 4 semanas ❖ Para o abortamento retido em gestação no 1º tri (precoce), poderemos aguardar naturalmente o início do trabalho de abortamento com controle clínico, ou proceder ao esvaziamento uterino mecânica ou farmacologicamente o Deve-se explicar à paciente detalhadamente as vantagens e desvantagens de cada método, seus efeitos colaterais, complicações, custos e implicações futuras ▪ Se decidido pelo esvaziamento mecânico, a utilização prévia (3-6h) de 400 µg misoprostol via vaginal promove amolecimento do colo e facilita o procedimento. • Quando o abortamento retido é tardio (2º tri ou > 12 semanas), a melhor conduta é a promoção da expulsão com uso de misoprostol, para em seguida completar o esvaziamento uterino pela curetagem uterina Aborto Infectado • Casos diminuíram, mas continua a responder por parte da morbidade e mortalidade materna nos países em desenvolvimento • A etiologia quase sempre resulta da tentativa de esvaziar o útero com uso de técnicas inadequadas e inseguras → introdução de sondas, agulhas, laminárias e soluções variadas o Cerca de 13% das mortes maternas no mundo decorrem do abortamento induzido clandestino → 67 mil mortes anuais • As bactérias envolvidas são aeróbias e anaeróbias, principalmente → estreptococos beta-hemolíticos, Enterococcus spp., Escherichia coli, Peptostreptococcus spp., Bacteroides fragilis e Clostridium spp • A infecção se inicia no útero (endomiometrite), e pode se propagar para os anexos (anexite), peritônio pélvico (pelviperitonite), cavidade peritoneal (peritonite generalizada) e, ainda, disseminar-se por via hematogênica (sepse) ❖ A anamnese tem valor muito grande na definição diagnóstica ao identificar na história o episódio provocador • O contexto clínico é multifacetário e a sintomatologia depende do grau de comprometimento • Sangramento em geral não profuso → se manifestar por sangue aguado, escuro, tipo “lavado de carne”, podendo ter odor fétido • Nas formas iniciais, onde apenas o endométrio e miométrio estão comprometidos, detectam-se tambem sintomas que traduzem a infecção → febre 38 ºC, dor média tipo cólicas intermitentes e bom estado geral o Exame físico possível, com dor moderada à mobilização do colo uterino e à palpação abdominal • Se o processo progrediu para estágios mais avançados, injuriando o peritônio, a dor é mais intensa e o estado geral é comprometido com taquicardia, de desidratação com pele e mucosas descoradas... o É difícil a palpação uterina devido à contratura dos retos abdominais resultante da dor e/ou reação peritoneal o No toque vaginal combinado de realização dolorida → colo uterino aberto, com saída ou não de conteúdo purulento • Se sepse → gravidade aumenta e estado geral é muito deteriorado, com sinais tóxicos evidentes, altas temperaturas refratárias, calafrios, cianose, desidratação, hipotensão, taquicardia, pulso filiforme com distensão abdominal e vômitos o Na sequência, pode evoluir para IRA e formação de abcesso intraperitoneal ❖ O diagnóstico embasa-se no quadro clínico, ajudado pelo leucograma infeccioso e ecografia pélvica → pode evidenciar coleções purulentas acumuladas no fundo de saco de Douglas, ou mesmo no restante do abdome. • Tratamento resume-se em administrar o antibiótico adequado e remover o foco infeccioso • Nas formas iniciais, opta-se pela clindamicina + gentamicina ou amicacina → associa penicilina G ou ampicilina se grave o Deve-se equilibrar o estado geral da paciente com a administração de solutos e até sangue, se necessário OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 • O tratamento definitivo é cirúrgico, após as providências já sugeridas → curetagem uterina com remoção do foco infeccioso, quase sempre traduzido nos restos placentários infectados • Na presença de sangramento vaginal moderado ou intenso decorrente de hipotonia ou atonia uterina, realizar e infusão de Ringer lactato ou solução salina a 0,9% o Administra-se ocitocina em altas doses (50 U) em 500 mL de solução salina (125 mL/h • Se medidas mobilizadas melhorarem o QC ou houver suspeita de perfuração uterina, lesão de alça e abscesso pélvico, procedimentos radicais são exigidos → laparotomia com extirpação do foco, inclusive histerectomia, se for o caso Abortamento Habitual • Também denominado recorrente, é definido como a ocorrência consecutiva de 3 ou mais abortamentos espontâneos • Incide cerca de 1 a 2% das mulheres → superior à esperada caso fosse um fenômeno que sucedesse ao acaso, visto que cerca de 15 a 20% das gestações reconhecidas terminam em abortamento o Assim, teoricamente, o risco de recorrência espontâneo e aleatório de 3 abortamentos consecutivos em uma mesma mulher, quando hígida, é em tomo de 0,3 a 0,4% • As causas podem ser divididas em genéticas, anatômicas, endócrinas, infecciosas e imunológicas • Cerca de 75% dos casais com abortamento habitual apresentam pelo menos um fator etiológico o O ACOG sugere que somente as pesquisas de alteração cromossômica no casal e a presença de anticorpos antifosfolipídicos apresentam forte evidência de relação com abortamento habitual. Técnicas De Esvaziamento Uterino • O esvaziamento intrauterino é a remoção do conteúdo uterino → indicado no abortamento incompleto, inevitável, retido ou infectado, gestação anembrionada, mola hidatiforme e interrupção legal da gestação • No 2º tri, o abortamento farmacológico é escolha, complementado, na maioria, com curetagem após a expulsão do feto o Em condições excepcionais, nas quais os demais procedimentos falhem, é possível a realização de uma microcesariana, como último recurso Farmacologia • A técnica farmacológica para tratamento do abortamento retido e incompleto, desponta como opção ao método cirúrgico a partir do uso do misoprostol em obstetrícia → análogo sintético de prostaglandina El, • A forma mais efetiva e com menos efeitos colaterais é a combinação de mifepristona seguida de misoprostol o No Brasil não temos ainda mifepristona, apenas o misoprostol em comprimidos para uso vaginal de 25, 100 e 200 µg para uso hospitalar ▪ Portaria 2010, além da via vaginal, o misoprostol pode ser utilizado sublingual, VO e bucal (entre a bochecha) Misoprostol Vaginal • Principais vantagens do uso do misoprostol → custo acessível, ausência dapossibilidade de perfuração uterina e formação sinequial, redução dos riscos de sequelas inerentes à dilatação do colo uterino e eliminação do risco anestésico • Desvantagens → tempo de resolução (até 7 dias), efeitos colaterais até a expulsão do conteúdo da cavidade uterina (cólica, sangramento, náusea, calafrios), necessidade eventual de complementação cirúrgica e a ansiedade pela espera OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 ❖ Abortamento Retido No 1º Tri → para mulheres internadas, recomendam-se 2 a 3 doses de 4 cp de 200 µg (800 µg) via vaginal no intervalo mínimo de 3 ou 12h • Até a 9ª sem, não se faz necessária internação para o uso de misoprostol → no Brasil, como o uso é exclusivo hospitalar, recomenda-se para mulheres que não desejam ficar internadas e com < 9 sem de gestação, inserção na triagem o Dose de 4 cp de 200 µg (800 µg) via vaginal, com intervalo entre as doses de acordo com a disponibilidade da mulher para retornar à maternidade, variando de 3 horas até 24 horas • Os serviços médicos devem estabelecer critérios para cada caso, levando em conta o estado físico e psicológico da paciente e a facilidade de comunicação com a paciente e seus familiares ❖ Abortamento Retido E Inevitável No 2º Tri → presença de ossos fetais no abortamento retido de 2º tri torna o tratamento farmacológico seguido da curetagem altamente preferencial em relação ao tratamento cirúrgico puro • Dose preconizada de 200 µg via vaginal a cada 4 a 6h ou 400 µg via vaginal, repetida a cada 3h com um máximo de 5 doses o Nos casos de aborto incompleto e inevitável, a mulher deve receber a dose de misoprostol de acordo com o tamanho uterino, e não com a idade gestacional determinada pela DUM • As pacientes deverão ser internadas em unidade hospitalar para evolução → aguardar o início do trabalho de abortamento em domicílio é exceção, somente quando a pcte tiver extrema facilidade de comunicação e locomoção para a assistência hospitalar • Em caso de cicatriz uterina anterior (cesárea ou miomectomia), a dose não deve ser > 200 µg vaginal a cada 6h → têm risco de 0,28% de rotura uterina durante o abortamento farmacológico no 2º tri ❖ Abortamento Incompleto → em abril de 2009, a OMS incluiu o misoprostol na lista de medicamentos essenciais para o tratamento do abortamento incompleto • Devemos estabelecer algumas diretrizes para selecionar as pacientes que poderiam utilizar misoprostol para tto → a primeira é informar claramente a paciente sobre as opções terapêuticas o Caso de escolha do tratamento farmacológico com misoprostol, orientar sobre o tempo da possível resposta e efeitos colaterais do uso da droga • Somente às pacientes com úteros de dimensões iguais ou < 12 semanas, colo pérvio e sem sinais de infecção ou alterações hemodinâmicas pode ser oferecido o tratamento com misoprostol o Se a pcte está em uso de DIU, este deverá ser retirado • Misoprostol via oral ou sublingual na dose de 400 a 600 µg → por via vaginal adotam-se 400 a 800 µg, em dose única • Se necessário, deverá ser fornecidos medicamentos para aliviar os efeitos colaterais → anti-inflamatórios se dor, antieméticos para náuseas e vômitos, e hidratação no caso de diarreia o Em caso de suspeita de infecção ou hemorragia, procurar imediatamente o serviço hospitalar para tto cirúrgico ❖ Para Preparação Cervical Para O Aborto Mecânico (Cirúrgico) → usar 400 µg via vaginal 3h antes do procedimento Mecânica • Os dois métodos mais utilizados para a remoção do conteúdo uterino são aspiração intrauterina e curetagem • De acordo com a OMS, a AMIU é o método preferido no 1º tri e uma das estratégias para diminuir a morte materna → a OMS e a Federação Internacional de GO recomendam que a curetagem seja usada apenas se a AMIU não for disponível o Estabelecimentos no Brasil ainda a usam para esvaziamento uterino no 1º tri como primeira escolha → nos EUA a AMIU é o método mais utilizado até idade gestacional ≤ 13 sem e 80% a 90% desses são realizados em ambulatórios • Para realização do esvaziamento mecânico com colo uterino fechado no 1º tri, se recomenda a utilização de 400 µg de misoprostol via vaginal em média 3h antes do esvaziamento mecânico → promove amolecimento e dilatação do colo uterino ❖ Procedimentos iniciais • Antes do esvaziamento intrauterino, todas as condições presentes que ameacem a vida da mulher devem ser tratadas • Investigar sinais de choque, hemorragia, infecção pélvica ou cervical, sepse, perfuração ou injúria abdominal, que ocorrem comumente no aborto clandestino ou incompleto o O procedimento não deve ser realizado até que o tamanho e a posição do útero e cérvix tenham sido determinadas o Para diminuir o risco de danos, o colo uterino deve ser previamente dilatado • Quando for necessária a dilatação mecânica em um procedimento, é recomendado que o profissional faça um bloqueio paracervical → se o orifício já estiver aberto, o bloqueio pode não ser necessário • No entanto, a mulher ainda pode sentir dor quando a cânula passar pelo orifício, causando fricção ao longo dos nervos do canal cervical, e quando o orifício se contrair após o esvaziamento intrauterino • O bloqueio paracervical dificilmente causa algum dano, sendo geralmente recomendado para manejo da dor OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 Aspiração Manual Intrauterina • O esvaziamento uterino por aspiração é uma opção mais segura e tão efetiva quanto a curetagem uterina no 1º tri • Apresenta as vantagens da substituição da anestesia geral por analgésicos ou por bloqueio paracervical o Além de encurtamento da permanência hospitalar pela maior agilidade no atendimento e precocidade da alta, que contribuiria para a redução dos custos hospitalares e custo social o Esse procedimento utiliza instrumento de fácil manuseio e sua técnica é simples, destinando-se também a serviços de menor complexidade ou com menores recursos, como forma de melhorar os resultados e diminuir os riscos • Pode ser realizada tanto com uma bomba elétrica (aspiração a vácuo elétrica ou AVE) ou com um vácuo manual produzido por uma seringa (AMIU) → ambos utilizam o mesmo nível de sucção, equivalentes em termos de eficácia e segurança. ❖ A primeira etapa é o uso de antibiótico profilático via oral até 12h antes em dose única • Opções de esquemas → 500 mg ou 1g de azitromicina, 500 mg ou 1g de metronidazol. • Preparar os instrumentos • Preparar a pcte → a percepção da mulher de sua dor é afetada pela ansiedade e quantidade de informação que ela tem sobre a condição e o procedimento o Deve ser informada sobre o que acontecerá durante, o tempo de demora e quando é possível que ela sinta dor. • Realizar a preparação antisséptica do colo uterino e o bloqueio paracervical. o Controle da dor com diazepam VO 10mg 1h antes • Dilatar a cérvix, se necessário, realizar histerometria para confirmar o tamanho e a posição do útero. • Inserir a cânula delicadamente através da cérvix para o interior da cavidade uterina até atingir o fundo do útero • Aspirar o conteúdo uterino o A válvula de ajuste da seringa deve ser aberta para transferir o vácuo para o útero e para aspirar seu conteúdo por movimentos de “vai e vem” firmes e cuidadosos da cânula ▪ Sangue de aspecto espumoso/cor rosa, sem tecido, sensação granulosa quando a cânula passa na superfície do útero e contração uterina em torno da cânula, agarrando-a, são indícios de que o útero está vazio. Curetagem • Curetagem envolve a dilatação da cérvix por meio das velas de Hegar e uso curetas metálicas para raspar as paredes do útero • Por ter diâmetro variável e ser de material rígido (aço), pode provocar acidentes, tal como perfuração do útero • No 1º tri, a curetagem não deve ser utilizada, a nãoser quando não seja possível a utilização da AMIU • A indicação encontra-se nos casos de abortamentos incompletos do 2º tri o Nas gestações com feto intrauterino após 12 sem, deve-se promover a indução farmacológica com misoprostol e, após a expulsão fetal, faz-se a curetagem uterina • Antes de se iniciar, devem ser tomados alguns cuidados → esvaziamento vesical, antissepsia rigorosa da genitália, anestesia ou sedação, adm de ocitocina ou misoprostol para maior retração do útero • Etapas → inserção de espéculo, exposição e tracionamento do colo uterino, dilatação instrumental do colo caso necessário, histerometria para confirmar tamanho e posição do útero o Remoção com pinça de Winter do conteúdo uterino, retirando-se a maior quantidade de tecido possível o Raspagem do útero com cureta selecionada ▪ A pinça de Winter e a cureta devem ser introduzidas suavemente até o fundo do útero e devem ser removidas completamente após cada movimento ▪ Raspar até que se perceba a cavidade uterina limpa, com a sensação de aspereza ao passar a cureta. ❖ Os efeitos colaterais mais comumente observados após procedimentos de esvaziamento intrauterino são cólicas abdominais, náuseas leves a moderadas, vômitos, dor e sangramento semelhante à menstruação • Reação vagal em função da dor e do medo, esvaziamento incompleto, lesão cervical, perfuração uterina, embolia gasosa, infecção pélvica, sepse e hemorragia OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 Gravidez Ectópica • Denomina-se gravidez ectópica a gestação cuja implantação e desenvolvimento do ovo ocorrem fora da cavidade corporal do útero → termo inclui a gravidez cervical, intersticial e a gravidez em cicatriz de cesárea • Em virtude de sua crescente incidência e índices de morbidade e mortalidade, a gravidez ectópica é considerada, especialmente em países desenvolvidos, uma questão de saúde pública → crescimento exponencial desta enfermidade. • A maior incidência pode ser explicada por → aumento da prevalência dos fatores de risco e melhora dos métodos diagnósticos, em especial a USTV e a dosagem sérica da fração beta-hCG, que identificam casos em regressão espontânea o Apesar do aumento na incidência, a mortalidade tem diminuído consideravelmente → mas continua constituindo a principal causa de morte materna no 1º tri da gravidez nos EUA, sendo 90% em decorrência de choque hemorrágico o Após a ocorrência de um primeiro quadro, a recorrência é de cerca de 15% → nas mulheres com 2+ episódios prévios, essa taxa é de pelo menos 25% ❖ A tuba uterina representa o local mais frequente de ocorrência de gravidez ectópica → 95-98% dos casos o Nessas, a implantação ocorre na região ampular entre 70 e 80% das vezes → no istmo, em 12%, na região infundibular 6-11%, e na porção intersticial da tuba, em 2-3% • Gravidez ectópica de localização extratubária é rara → 1-3% é ovariana, e outros locais (abdome e cérvix uterina) < 1% • A gravidez em cicatriz de cesárea representa > 1% de todas • Na gravidez após fertilização assistida, algumas formas raras de gravidez ectópica têm maior prevalência → gravidez intersticial (7,3%), a cervical (1,5%) e a heterotópica (tópica e ectópica) ou combinada (11,7%) Etiologia • Geralmente associada a fatores de risco que causam lesão tubária ou alteração no transporte ovular. ❖ Doença inflamatória pélvica → infecções genitais causadas principalmente por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae acarretam alterações significativas nas tubas → causam obstrução tubária, diminuem nm e movimento ciliar o Aglutinação das dobras da mucosa, que diminui a luz tubular o Formação de microdivertículos e destruição das fímbrias • Antecedente de DIP confirmada por laparoscopia aumenta o risco em 2-7,5x ❖ Uso de dispositivo intrauterino (DIU) → alguns estudos consideram um dos principais FR para o desenvolvimento • Usuárias de DIU apresentam uma razão de chances de 6,4 quando comparadas a grupo controle → o DIU é eficaz na prevenção da gestação tópica, elevando a probabilidade da gravidez ectópica, se comparado a mulheres que não fazem anticoncepção o Na falha do DIU, o risco de gravidez ectópica é de 1:2 gestações para DIU de levonogestrel, 1:16 para DIU de cobre e 1:50 gestações para aquelas mulheres que não fazem uso de anticoncepção. ❖ Cirurgia tubária prévia → vários autores reportam maior incidência de gravidez ectópica em pacientes submetidas a cirurgias tubárias, como salpingostomia, reanastomose, fimbrioplastia e lise de aderências → probabilidade 4-5x maior o Não está estabelecido se é consequência da cirurgia ou se deve a alterações prévias ❖ Falha na esterilização tubária → decorre principalmente da recanalização / formação de fístula uteroperitoneal. ❖ Antecedente de gravidez ectópica → risco 6-8x maior de nova gravidez ectópica → 50 a 80% dessas mulheres terão uma futura gravidez, e 10 a 25% experimentarão outra gravidez ectópica. ❖ Procedimentos relacionados à reprodução assistida → gravidezes por reprodução assistida tem risco de ser ectópica em 2 a 8% o O aumento do estrógeno sérico, produto do efeito das drogas indutoras de ovulação, pode interferir no mecanismo de transporte tubário por alterar a motilidade nas tubas, facilitando a retenção do ovo em sua extensão ❖ Anticoncepção de emergência → estudos relacionam a anticoncepção de emergência com levonorgestrel a aumento da probabilidade de GE → por alteração da motilidade tubária, que causa retardo na chegada do ovo à cavidade endometrial • Outros fatores de risco, de menor relevância, estão ligados ao estilo de vida → início precoce da atividade sexual, antecedente de múltiplos parceiros sexuais e o tabagismo, pelos efeitos da nicotina na atividade ciliar e na motilidade tubária Quadro Clínico • Dor abdominal, sangramento vaginal e atraso ou irregularidade menstrual são a tríade clássica do quadro clínico da gravidez ectópica → simultâneos em apenas 50 a 60%, mas pelo menos um está em praticamente todas as ocorrências • A queixa de dor abdominal é presente em quase todas, porém suas características variam → quadro vago de dor em cólica até a presença de dor sincopal e lancinante (devido a irritação do hemoperitônio) o 50% relatam dor no lado da tuba acometida, 25% apresentam dor difusa por todo o abdome e 25% no lado oposto. ▪ Principalmente em baixo ventre, fossas ilíacas, epigastro e hipocôndrio • Outros locais de dor incluem abdome superior, região lobar, cervical e escapula (sinal de Laffont) OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 • O sangramento vaginal ocorre em 60 a 90% em virtude da descamação endometrial, pela produção irregular da hCG o Na maioria o sangramento é discreto e acompanhado de dor abdominal → vermelho escuro ou acastanhado ▪ Cerca de 15% apresentam sangramento vaginal abundante • A incidência de atraso menstrual varia de 75 a 95% → 5 a 25% não relatam atraso, mas apresentam irregularidade menstrual. • Outros sintomas → aumento do volume e da sensibilidade nas mamas, náuseas, vômitos, alterações intestinais e síncope Exame Físico • Os achados variam de acordo com o estado hemodinâmico • Nos casos de rotura tubária, identifica-se palidez progressiva incompatível com o sangramento vaginal o Quando não ocorre choque hemorrágico, variações de PA e pulso com a posição da paciente são sinais de sangramento ❖ Ao exame do abdome, raramente se observa equimose periumbilical (sinal de Cullen) → proveniente de volumosa hemorragia intra-abdominal, mas encontra-se ausente na grande maioria dos casos. • Comumente, à palpação verifica-se dor localizada em um dos quadrantes em caso de gravidez ectópica íntegra → ou generalizada após a rotura tubária • Outros achados também dependemda integridade da gravidez e são indicadores de irritação peritoneal → distensão abdominal, descompressão brusca dolorosa (sinal de Blumberg) e diminuição ou parada de ruídos hidroaéreos. ❖ O exame tocoginecológico pode revelar a presença de sangramento → geralmente pequena quantidade, escuro, acompanhado de coágulos e restos de decídua → o colo uterino em geral se encontra amolecido o Pelo acúmulo de sangue e coágulos na pelve, o exame do fundo de saco posterior pode ser extremamente doloroso → sinal de Proust, também denominado grito de Douglas • Na maioria, o útero apresenta-se de tamanho normal → mas pela ação hormonal pode-se verificar amolecimento e discreto aumento do volume uterino, inferior ao esperado para o atraso menstrual. • Em cerca de 50% dos casos, pode-se palpar uma massa anexial dolorosa, de consistência e tamanho variados Diagnóstico • O diagnóstico precoce é importante para reduzir o risco de ruptura tubária e melhorar o sucesso das condutas conservadoras. • Na paciente de risco para gravidez ectópica, hemodinamicamente estável, a patologia deve ser diagnosticada de forma não invasiva pela ultrassonografia → sem a necessidade da laparoscopia e antes de ocorrer a ruptura tubária ❖ A detecção de hCG urinária ou sanguínea, constitui o exame primordial para se avaliar a atividade do trofoblasto • O uso de técnicas imunoenzimáticas com anticorpos monoclonais aumenta a sensibilidade e especificidade das dosagens → possibilita a detecção em concentrações cada vez mais baixas, tomando o exame efetivo o A positividade da beta-hCG sérica coincide com o estabelecimento da circulação uteroplacentária e pode ser detectada 10d após a ovulação • A concentração sérica da beta-hCG na gestação ectópica tende a ser menor que a da gestação tópica de mesma idade ❖ A USG deve ser realizado de preferência TV → primeiro analisar a cavidade uterina, para descartar gravidez tópica (visibilização do saco gestacional ou de restos ovulares) • Visualiza o saco gestacional com 5 sem de atraso menstrual (estrutura em anel, com centro anecoico (líquido) e contorno hiperecoico) → e visualiza características endometriais distintas na gravidez ectópica e tópica (espessura menor na ectópica) o Posteriormente avaliar ovários, procurando o corpo lúteo o Por fim, analisar a presença de massa anexial • É frequente líquido livre na cavidade peritoneal ❖ Em casos em que a β-hCG é + e a USTV não consegue identificar a localização da gestação → dosar os valores quantitativos da β-hCG • Com valores > 2.000 mUI/mL, a gestação intrauterina deveria ser confirmada à USTV → indicativo de gestação anormal o Se os valores iniciais da forem < aos da zona discriminatória e a USTV não visualizar gravidez tópica ou ectópica, é necessária a dosagem seriada da β-hCG → valores tendem a aumentar 35%+ a cada 48h na gravidez tópica viável • Quando ultrapassarem o valor, a USTV deve ser realizada para documentar a presença ou ausência de gravidez intrauterina o A ausência de saco gestacional tópico com β-hCG acima da zona, com curva de evolução anormal ou títulos em declínio, sugere gravidez inviável. OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 ❖ A dosagem sérica da progesterona é importante especialmente quando existem dúvidas diagnósticas após o bHCG e USG → a concentração reflete sua produção pelo corpo lúteo e pouco se modifica durante o 1º tri de gravidez. • Valores < 10 ng/mL estão associados a gestação não evolutiva o Concentrações > 20 ng/mL são consistentes com gestações viáveis ▪ PgS < 5 ng/mL apresenta 99,8% de especificidade na confirmação de uma gravidez anormal. ❖ A culdocentese avalia o conteúdo líquido na pelve → obtenção de sangue escuro com microcoágulos significa certeza de hemoperitônio e ocorre em 80 a 96% • A obtenção de material da cavidade uterina por curetagem ou aspiração é usada em casos de gestação inviável quando a ecografia não foi capaz de diferenciar a gravidez ectópica do abortamento • Laparoscopia é a mais empregada hoje → permite excelente exploração da pelve, possibilitando certeza no diagnóstico e a averiguação das condições da tuba contralateral, presença de aderências pélvicas e lesões de endometriose. Tratamento Tratamento Cirúrgico • Cirurgia é a conduta-padrão → laparotomia é imperativa se abdome agudo hemorrágico com instabilidade hemodinâmica, localização não tubaria, massas anexiais grandes e múltiplas aderências o A operação clássica é a salpingectomia total • Nas demais situações, a via preferencial é a laparoscópica, por menor perda sanguínea, melhor estética, menos infecções, melhor pós operatório e custos, recuperação mais rápida... ❖ Salpingectomia indicada nas pctes com prole constituída, casos de lesão tubária irreparável, salpingostomia com sangramento persistente, quando ocorre recidiva na mesma tuba e quando os títulos da β-hCG são muito elevados o Consiste na ligadura vascular no nível do istmo proximal e borda distal da mesossalpinge → arco vascular formado pela artéria mesotubária é ligado nas extremidades, acrescentando-se a ligadura outros vasos ❖ Salpingostomia indicada nos casos em que se pretende preservar a fertilidade → procura manter a integridade da tuba e a capacidade reprodutiva. o Incisão na porção mais distendida da borda, introduzindo o aspirador/irrigador por essa incisão e, fazendo-se sucessivas sucções e irrigações, o tecido trofoblástico é removido o Um dos riscos é a persistência de tecido trofoblástico (3% a 20%) → importante no pós-op acompanhar a evolução dos títulos de β-hCG Tratamento Clínico • Conduta Expectante → principais critérios preditores de sucesso da conduta expectante são valores iniciais baixos da β-hCG, declínio dos títulos da β-hCG em 48h, ausência de saco gestacional na USG e período prolongado desde a DUM • Tratamento Medicamentoso → Metotrexato IM é um antagonista do ácido fólico que inativa a diidrofolato redutase e a síntese de novo das purinas e pirimidinas e, portanto, do DNA celular → age nas células trofoblásticas e impede sua multiplicação • Os principais critérios são estabilidade hemodinâmica, diâmetro da massa anexial < 3,5 cm, β-hCG inicial ≤ 5.000 mUI/mL, ausência de dor abdominal, desejo de gravidez futura e termo de consentimento • Contraindicações → gravidez intrauterina, imunodeficiência, anemia, leucopenia ou trombocitopenia, vigência de doença pulmonar, disfunção importante hepática e renal, amamentação, embrião com BC... • Antes de iniciar o tratamento, devem ser realizados → hemograma, enzimas hepáticas, creatinina e tipagem sanguínea GRAVIDEZ ECTÓPICA NÃO TUBÁRIA Gravidez Ovariana • É a forma mais comum de gravidez ectópica localizada fora do oviduto e corresponde a 0,5 a 3% das gestações ectópica • A maioria tem rompimento precoce, uma vez que o ovário apresenta pouca capacidade de distensão o As causas não estão totalmente esclarecidas, contudo alguns estudos relatam uma forte associação com o uso de DIU • Em geral, o diagnóstico é feito apenas durante a cirurgia, muitas vezes confundido com o de corpo lúteo roto → somente possível ter certeza do diagnóstico com o exame anatomopatológico o Recentemente, a USG tem possibilitado o diagnóstico antes da rotura • A conduta é a ooforectomia ou cistectomia por laparotomia → nos dias atuais, muitos casos têm sido tratados com laparoscopia ou tratamento medicamentoso Gravidez Intersticial • Ocorre em 2 a 4,7% das gestações ectópicas, sendo responsável por 2,5% das mortes maternas nos EUA • A maioria apresenta dor, atraso menstrual, sangramento vaginal e, por vezes, choque hemorrágico por rotura uterina OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 o Pela capacidade de distensão miometrial,a rotura uterina em geral ocorre entre a 9ª e a 12ª semanas de gravidez, porém algumas vezes ultrapassa a 16ª semana. • O único fator de risco é a salpingectomia anterior, presente em 25% dos casos → ressecção cuneiforme após a salpingectomia não protege de futura gestação intersticial • O diagnóstico muitas vezes é difícil, sendo necessário laparoscopia → a USG tridimensional e a ressonância nuclear magnética têm auxiliado no diagnóstico não invasivo • Em casos de gestação intersticial íntegra em pacientes com desejo reprodutivo, pode-se optar por condutas conservadoras o A administração local ou sistêmica de metotrexato parece ser alternativa interessante, com taxa de sucesso de 83% Gravidez Cervical • A gravidez cervical é aquela cuja implantação ocorre no canal endocervical → menos de 1% das gestações ectópicas e tem sido associada a alta morbidade e resultados adversos para o futuro reprodutivo da paciente o O principal fator predisponente é a curetagem uterina, sobretudo a realizada para interrupção da gestação. • A manifestação clínica mais frequente é sangramento indolor no 1º tri da gravidez o Orifício externo do colo entreaberto, orifício interno fechado e alargamento desproporcional da cérvix o À ultrassonografia, evidenciam-se a cavidade corporal do útero vazia, saco gestacional no canal endocervical, a invasão trofoblástica no tecido endocervical e a presença de fluxo peritrofoblástico. • Atualmente, o tratamento conservador é o mais empregado → metotrexato sistêmico ou local, acompanhado de cloreto de potássio quando há atividade cardíaca do produto conceptual, apresenta taxa de sucesso > 80% o Outras opções → dilatação e curetagem com tamponamento por sonda de Foley e embolização das artérias uterinas. ▪ Eventualmente pode ocorrer hemorragia, impondo a realização de histerectomia Gravidez Abdominal • Ocorre na proporção de um caso para cada 10 mil nascidos vivos e representa 0,15 a l,4% das gestações ectópicas • Ela pode ser classificada em primária, se a implantação acontece diretamente sobre o peritônio o Ou secundária, se a nidação abdominal ocorre após abortamento tubário ou extensão intraligamentar • A mortalidade materna é alta, 7,7x maior que a da gravidez tubária • Se a placenta for retirada no momento da extração fetal, pode ocorrer sangramento excessivo → se deixada in situ, pode advir hemorragia, sepse, abscesso, obstrução intestinal e formação de fístulas intestinais • Os sintomas mais comuns são amenorreia, dor abdominal agravada pelos movimentos fetais nos casos de gestação avançada, sangramento vaginal e alterações do trânsito intestinal o A palpação, evidenciam-se feto disposto em situação transversa ou oblíqua e ausência de contratilidade uterina ▪ Diagnóstico confirmado pelos exames de imagem • Frequentemente, observam-se malformações fetais, como assimetria facial e/ou craniana, hipoplasia de membros, alterações articulares e malformações do sistema nervoso central ❖ O tratamento depende fundamentalmente da vitalidade e da viabilidade do produto conceptual • Classicamente, uma vez estabelecido o diagnóstico, procede-se à interrupção da gravidez por laparotomia • Quando o diagnóstico é tardio, diante de feto vivo e viável, pode-se aguardar com a paciente hospitalizada, até que o produto conceptual se ressinta com menor gravidade das possíveis consequências da prematuridade. • A princípio, deve-se remover a placenta, exceto se implantada em região com estruturas vitais ou vasos de grande calibre o Algumas vezes pode ser deixada in situ e sua reabsorção pode ser acompanhada por ultrassonografia e dosagem seriada de beta-hCG. • Administração de metotrexato com o intuito de acelerar a reabsorção placentária, em casos de gravidez abdominal avançada, pode produzir grande quantidade de material necrótico e favorecer a instalação de infecção materna grave Gravidez Heterotópica • Em clínicas de reprodução assistida, a incidência desse tipo de gravidez pode atingir taxas altíssimas, chegando até a 1:100 gestações após fertilização in vitro o Esse fato decorre da associação entre fator tubário como causa de esterilidade, uso de drogas indutoras de ovulação e transferência de vários embriões. • Os sintomas não diferem daqueles observados na gravidez tubária → muitos são diagnosticados por ecografia de rotina • O tratamento cirúrgico é o preferível, entretanto há casos tratados com sucesso com a aplicação de injeção de glicose hipertônica ou cloreto de potássio no saco gestacional ectópico • Havendo morte do produto conceptual localizado fora da cavidade uterina, a conduta expectante pode ser uma alternativa Gravidez Em Cicatriz De Cesárea • Forma rara de gravidez ectópica e tem sido considerada uma das complicações da implantação placentária decorrente do aumento considerável na incidência de operações cesarianas • Consiste na implantação e desenvolvimento dos produtos da concepção na intimidade do miométrio de uma cicatriz de cesárea o Representa entre 1 e 2% de todas as gestações ectópicas. OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 • Representa condição de risco iminente e, caso não diagnosticado e rapidamente solucionado, pode resultar em rotura uterina, hemorragia e morte materna • O diagnóstico pode ser feito por meio de USGTV, USG 3D, USG com Doppler colorido e ressonância nuclear magnética • Tto deve ser individualizado e depende do desejo de gravidez futura, do tamanho da massa ectópica, idade gestacional, e da estabilidade hemodinâmica da paciente → a interrupção da gravidez no 1º tri é melhor p prevenir as complicações • Algumas podem estar implantadas parcialmente na cavidade uterina e podem progredir e resultar no nascimento de recém- nascido vivo → outras estão implantadas profundamente na cicatriz uterina e podem ocasionar rotura ainda no 1º ou 2º tri Doença Trofoblástica Gestacional • Doença trofoblástica gestacional é um termo que engloba um conjunto de alterações que surgem a partir do trofoblasto humano e apresentam como característica comum o antecedente gestacional o Essas alterações se caracterizam pela proliferação anormal dos diferentes tipos de epitélio trofoblástico (citotrofoblasto, sinciciotrofoblasto e trofoblasto intermediário) • A OMS classifica a DTG em diferentes entidades anatomoclínicas o As malformações das vilosidades coriônicas que predispõem neoplasias malignas → mola hidatiforme ▪ E neoplasias trofoblásticas gestacionais → coriocarcinoma gestacional, tumor trofoblástico do sítio placentário e tumor trofoblástico epitelioide • O termo refere-se às doenças com potencial para invasão local e emissão de metástases • Descreve ainda duas entidades benignas (sítio placentário exagerado) que não configuram DTGs, pois não apresentam associação com comportamento maligno. ❖ Todas as formas de apresentação da DTG são caracterizadas pela presença sérica de um marcador tumoral biológico e específico do fragmento beta da gonadotro na coriônica humana (beta-hCG) • A análise histológica minuciosa permite distinguir os diferentes estágios da doença o Mola hidatiforme completa (MHC) o Mola hidatiforme parcial (MHP) o Mola hidatiforme invasora (MHI) o Coriocarcinoma (CCA) o Tumor trofoblástico do sítio placentário (TTSP) o Tumor trofoblástico epitelioide (TTE) ❖ DTG apresenta variação ampla em diferentes regiões do mundo • A prevalência da MH varia de 23 a 1.300/100.000 gravidezes → as formas malignas são mais raras (2,5 a 7/100.000 gestações) o No Brasil, estima-se um caso de gravidez molar em cada 200-400 gestações • FATORES DE RISCO → idade materna > 35 anos e história prévia de DTG Aspectos Clínicos E Citogenéticos MHC → Mola Hidatiforme Completa • Resultado da fecundação de um óvulo vazio por um espermatozoide que se duplica ou por dois espermatozoides, resultandoem um ovo com cariótipo 46, XX ou 46, XY (partenogenoma) • Devido às características inteiramente de origem paterna, uma MHC deve ser considerada um aloenxerto paterno • A aneuploidia pode também ocorrer e raramente MHs tetraploides têm sido descritas MHP → Mola Hidatiforme Parcial • Resultado da fecundação de um óvulo haploide por 2 espermatozoides ou duplicação de um espermatozoide, resultando em um cariótipo triploide (69, XXX, 69,XXY ou 69,XYY) • Único tipo associado à presença de um feto, com atividade cardíaca fetal identificada por detector dos BCF ou por US • MHP pode estar associada a alta taxa de óbitos intrauterinos, quase sempre relacionados a triploidia, característica desse tipo o Apresenta-se erroneamente diagnosticada como gestação interrompida/anembrionada • Diagnóstico correto só será firmado com o estudo anatomopatológico do material obtido com o esvaziamento uterino o Por isso são muito menos propensas à progressão para NTG NTG → Neoplasias Trofoblásticas Gestacionais • Pode ocorrer após uma gravidez molar ou não molar → taxas de 15 a 20% após MHC e 3 a 5% após MHP • Sintoma mais comum é o sangramento vaginal → perfuração uterina com hemoperitônio é rara • A maioria dos casos de NTG localizada tem origem em uma MHI, ainda que alguns espécimes possam originar-se de um CCA o Doença metastática, por sua vez, tem origem frequente de casos de CCA • NTG após uma gravidez não molar é diagnosticada pela anatomopatologia, pela curva de eliminação ascendente ou em platô do beta-hCG → diagnóstico relaciona-se, quase sempre, ao CCA e, raramente, ao TTSP OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 CCA → Coriocarcinoma • Ocorre em aproximadamente 1/150.000 gestações normais, 1/15.000 abortos e 1/40 gravidezes molares completas o Cerca de 50% surgem após uma MHC, 25% após gravidez normal e 25% após aborto espontâneo/gravidez ectópica • Forma de NTG mais agressiva e caracteriza-se pela invasão vascular precoce e metástases generalizadas o Frequentemente cursa com sangramento transvaginal irregular • Apresentação clínica típica é a hemorragia pós-parto tardia, que persiste além das habituais 6-8 semanas o Sangramento vaginal anormal pode desenvolver-se 1 ano ou mais após gravidez de evolução normal • Sintomas respiratórios (tosse, dor torácica e hemoptise), de hemorragia intracerebral, gastrintestinais e urológicos são indicativos de doença metastática → envolvimento hepático na doença avançada pode causar dor epigástrica ou no QSD • EF, em geral, revela útero aumentado de volume e cistos ovarianos bilaterais TTST → Tumores Trofobásticos Do Sítio Placentário • Tumores raros, de crescimento lento, derivados das células intermediárias do citotrofoblasto → menos de 0,2% dos casos de dtg o Costumam apresentar-se meses a anos após uma gestação de termo • Sangramento vaginal irregular, amenorreia e útero pouco aumentado são achados comuns • Em comparação com os outros estágios histológicos da DTG, a concentração do beta-hCG no plasma é relativamente baixa em relação ao volume tumoral → mais de 30% das pacientes já apresentam metástases quando do diagnóstico TTE → Tumor Trofoblástico Epitelioide • Também raro e cursa com sangramento genital irregular, geralmente após algum processo gestacional o Tambem com níveis baixos de beta-hCG → ddx com TTSP E CCA • Metástases pulmonares ocorrem em cerca de 25%, e óbito em 10% Manifestações Clínicas • USG e dosagem de b-hCG tem diagnosticado mais antes de aparecer as manifestações • Manifestações incluem sangramento transvaginal de repetição e intensidade variável, pela separação do tecido molar da decídua subjacente → inicialmente pode mimetizar quadro de aborto incompleto • Útero aumentado de volume para a idade gestacional em cerca de 20% a 50%, devido à presença do tecido molar e/ou pela retenção de coágulos • Cistos tecaluteínicos em 20% → refletem hiperestimulação ovariana resultante de níveis circulantes elevados do beta-hCG sobre a teca dos ovário → frequentemente bilaterais, multiloculados e regridem semanas a meses a após a negativação do HCG o Podem representar sequelas trofoblásticas • Náuseas e vômitos → comuns, podendo haver hiperêmese em gestações molares evoluídas, associadas a úteros volumosos e grande quantidade de material intracavitário • Hipertireoidismo → costuma apresentar normalização espontânea com a regressão do hCG e cura da doença molar o Certas pacientes exigirão terapia antitireoidiana e bloqueio de sintomas periféricos até a remissão definitiva • Sinais de pré-eclâmpsia antes da 20ª sem → a pré-eclampsia leve é observada em ate 25% → de modo geral, não necessita tratamento específico, ainda que alguns autores associem a gestação molar a quadros graves e síndrome HELLP • Eliminação de vesículas hidrópicas pela vagina, de entremeio com o sangue → em 25% a pcte informa a eliminação de vesículas, vilosidades hidrópicas entremeadas aos coágulos eliminados pela vagina Diagnóstico • O atraso menstrual geralmente está presente, e a pcte com MH queixa-se principalmente de sangramento vaginal o Habitualmente indolor, iniciado entre a 4ª e a 16ª semana de amenorreia → 75% e 95% das pacientes • Entre um e outro episódio hemorrágico, pode-se haver eliminação de secreção serosa clara, de odor desagradável, decorrente da liquefação dos coágulos intrauterinos o A eliminação de vesículas é excepcional, mas, quando ocorre, pode-se firmar o diagnóstico • Há intensas alterações endócrinas, sendo comum náuseas e vômitos incoercíveis → hiperêmese gravídica, suscetível de levar 36% das pacientes a emagrecimento e desidratação • Manifestações da gravidez são exacerbadas Exames físico e ginecológico • No EF → útero aumentado para a IG (quando sua altura excede em 4 cm ao tamanho esperado) o É fator de risco para NTG pós-molar, além de maior risco de embolização trofoblástica maciça para os pulmões • Exame pélvico revela cistos teca-luteínicos dos ovários, uni ou bilaterais, pela estimulação da teca dos ovários pelo b-hCG • Incidência é mais baixa nos casos de MHP, encontrando com maior frequência quando a propedêutica incorpora a USG o A benignidade e a regressão espontânea desses cistos determinam conduta expectante • A avaliação da PA pode diagnosticar pré-eclâmpsia precoce, antes da 20ª semana de gravidez (10% dos pctes com MH) • Manifestação de hipertireoidismo ocorre em aproximadamente 2% e consiste em taquicardia, hipertensão arterial, tremores nos, intolerância ao calor, fraqueza muscular, sudorese, reflexos hiperativos, perda de peso e ansiedade o Função tireoidiana é avaliada com a dosagem de TSH e T4 livre em pacientes com MH OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 Dosagem de HCG • A HCG é marcador biológico da MH → dosagem quantitativa do b-hCG é importante, pois seus níveis estarão mais elevados do que o esperado para a IG normal o US de 1º trimestre nesses casos, por vezes vai sugerir mais frequentemente a interrupção prematura da gravidez • É valor ter um resultado de β-hCG quantitativo no tempo da US para o ddx entre aborto hidrópico e MH. o São frequentes os produtos de aborto desprezados nas maternidades, sem análise histopatológica ▪ Dosagem de beta-hCG será capaz de detectar se existe tecido trofoblástico persistente, 4 semanas depois do esvaziamento uterino • Miomas uterinos submucosos degenerados apresentam à US imagem semelhante à da MH → dosagem de beta-hCG é importante, uma vez que miomas não produzem HCG USG • US na rotina pré-natal de 1º trimestre permitiu a diminuição das complicações clínicas da MH, tais como anemia, hiperêmese, pré-eclâmpsia e hipertiroidismo • Permite o planejamento cirúrgico com vistas ao esvaziamento uterino, preferencialmente por vácuo-aspiraçãouterina ❖ MHC → se observa eco endometrial hiperecoico, preenchido por imagens hipoanecogênicas, irregulares, centrais ou margeando o miométrio, na ausência de embrião-feto • É frequente a identificação de útero aumentado para a IG e policistose de ovários o 25% a 50% das gravidezes molares não são diagnosticadas à US devido à idade gestacional precoce ❖ MHP → sem dificuldade de diagnostico após a 12ª semana de gravidez, estando integro o feto • Imagens císticas da placenta e feto com malformações grosseiras sinalizam triploidia, compatível com MHP • Mais vistos no 2º tri, mas não é o cenário mais frequente → o concepto triploide evolui com óbito precoce o A degeneração da placenta e a reabsorção embrionária se confundem com aborto hidrópico ▪ O saco gestacional apresenta-se aumentado e com limite interno pouco definido ▪ O útero apresenta dimensões compatíveis com a idade gestacional • Cenário tão inespecífico faz com que somente 30% das MHP de 1º tri ou início do 2º sejam diagnosticados pela US • As técnicas da biopsia do vilo corial e da amniocentese são utilizadas para amostras de células fetais e exame do cariótipo Exame histopatológico • Forma mais comum de confirmação do diagnóstico de MH ❖ MHC apresenta-se à macroscopia com vesículas na totalidade placentária e ausência de tecido fetal e membranas ovulares • Vesículas entremeadas em coágulos sanguíneos e possuem aparência translúcida → cheias de líquido claro com diâmetro de 1 a 1,5 mm no 1º e de 1,5 a 3 cm no 2º, podendo pesar até 2.000g e ocupar até 3 litros o Cada vesícula é uma vilosidade corial que se tornou macroscópica pela degeneração hidrópica do estroma vilositario • Os aspectos histológicos são bem definidos no 2º tri pela presença de vilosidades aumentadas, avasculares, com edema do estroma e formação de cisterna central o Há marcada proliferação trofoblástica circunferencial, em toda a volta da superfície vilositária ❖ MHP caracteriza-se pela presença focal de vesículas na placenta, associada à presença de concepto e/ou membranas ovulares • As vesículas são menores e entremeiam área de vilosidades normais • O feto é pequeno e apresenta múltiplas más-formações características da triploidia, raramente ultrapassando o 2º tri vivo • Apresenta vilosidades hidrópicas com cisternas centrais, entremeada por vilosidades normais o A proliferação trofoblástica é focal na superfície vilositária, com discreta anaplasia • Há vasos contendo hemácias nucleadas, fetais, a indicar existência de concepto, ainda que seus remanescentes não possam ser evidenciados pela degeneração do embrião • Interrupção da gravidez molar no 1º tri torna difícil o diferencial entre MHC, MHP e aborto hidrópico Genética • Aproximadamente 75% a 80% dos casos de triploidia são decorrentes de MHP e os restantes 20% a 25% dos conceptos triploides têm origem materna e constituem estado de diginia • A citometria de fluxo permite distinguir entre diploidia (no caso de MHC) e triploidia (MHP ou aborto) no material placentário, o que nem sempre resolve o diagnóstico, uma vez que 20% a 25% das triploidias decorrem de aborto hidrópico por diginia • Análise de microssatélites determina a origem parental dos cromossomos, útil no diferencial entre MHC, MHP e aborto hidrópico • Hibridização fluorescente in situ (FISH) evidencia o cariótipo e detecta alterações cromossômicas Imunoistoquímica • O gene que codifica a proteína p57KIP2 se expressa por seu alelo materno, por isso sua presença na imunoistoquímica só é detectada nos casos em que genes maternos estão presentes o Na MHC, ambos os complementos cromossômicos são de origem paterna (androgenética) o Na MHP e no aborto hidrópico, genes maternos estão presentes → a positividade para expressão do p57KIP2 encontra- se acima de 50% das células OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 Tratamento Da Mola Hidatiforme Aspiração intrauterina • Técnica de escolha p esvaziamento molar → menor risco de perfuração, infecção e permanência de restos molares no útero • Faz-se dilatação do colo uterino em 8 mm, podendo usar ocitocina para promover contratilidade uterina no procedimento • Pacientes Rh- necessitam receber a imunoglobulina anti-Rh após a curetagem, porque o trofoblasto expressa o antígeno RhD • Em mulheres > 40 anos e número de filhos definido, a histerectomia pode ser uma alternativa viável o Elimina o risco de invasão local, mas não previne a disseminação de metástases Preparo do colo uterino • Prostaglandina (misoprostol) ou laminária podem ser utilizadas para auxiliar o amadurecimento do colo em pacientes selecionadas, especialmente quando do diagnóstico precoce da MH • O intervalo de tempo entre o preparo cervical e o esvaziamento uterino não deverá ser > 6 horas • Pacientes com idade avançada, antecedente de dilatação do colo e/ou partos vaginais prévios podem beneciar-se com o preparo do colo uterino pré-esvaziamento Seguimento pós-molar com remissão espontânea da MH • Na maioria das pacientes ocorre diminuição progressiva dos valores do beta-hCG e nenhum tratamento adicional é necessário, mas seguimento pós-molar é importante para garantir que evolução clínica da MH foi para a remissão espontânea • O principal é a dosagem do beta-hCG plasmático quantitativo mensurado semanal ou quinzenalmente, até a normalização por 3 dosagens consecutivas, seguida de avaliação mensal durante 6 meses • O início da contracepção deve ser proposto imediatamente após o esvaziamento e permanece no tempo de seguimento • Na alta do seguimento, deve haver orientação adequada às pacientes com desejo de nova gravidez. o Uso de ácido fólico (400 mcg dia) na preconcepção, 60 a 90 dias antes, mantendo-o até a 12ª semana de gravidez o Realização de US obstétrica entre a 8ª e a 10ª semana de gravidez para que possa ser descartada a repetição da MH o Exame do beta-hCG quantitativo 6 semanas depois do término de qualquer tipo de gravidez, para identificar NTG Seguimento pós-molar com evolução para NTG • NTG é diagnosticada pela curva de regressão anormal do beta-hCG, pelos valores estacionários (curva em platô) ou em elevação (curva em ascensão) (15-40% de incidência) o Platô → definido por quatro valores ou mais do beta-hCG, por pelo menos 3 semanas consecutivas (1º, 7º, 14º e 21ºd o Elevação → aumento do beta-hCG em 10% ou mais, por pelo menos 2 semanas consecutivas (1º, 7º e 14º dia) • Nos casos de platô ou ascensão do beta-hCG, é necessário exame clínico e ginecológico, USTV com Doppler e rx de tórax o Exame ginecológico pode, às vezes, surpreender nódulo violáceo ou escurecido, sangrante à manipulação o USTV com Doppler fluxometria é importante para descartar gravidez e avaliar doença na pelve o Raio-X de tórax é essencial, uma vez que os pulmões mais acometido por metástases ▪ Metástases pulmonares são primárias e decorrem da disseminação via venosa, enquanto as cerebrais e hepáticas são secundárias e arteriais. • Diagnóstico é químico-hormonal e não necessita de exame histopatológico ou identificação de lesões nos exames de imagem Tratamento Da Neoplasia Trofoblástica Gestacional • Sistema de estadiamento FIGO 2000 → determinará os grupos prognósticos de NTG, baixo e alto risco, para resistência ao tratamento com quimioterapia por agente único • O estadiamento associa a distribuição anatômica da NTG (estádios I, II, III e IV) com o escore de risco da OMS • Um valor de 0, 1, 2 ou 4 é dado para cada fator de risco e o somatório desses valores classifica a paciente o Escore de 6 ou menos → baixo risco, tratada com agente único de QT o Escore de 7 ou mais → alto risco e necessita de QT por múltiplos agentes • O estádio IV é considerado NTG de alto risco e independe do valor do escore Tratamento Da NTG De Baixo Risco • As pacientes são tratadas inicialmente com agenteúnico, metotrexato (MTX) ou actinomicina D (ACTD) • MTX e ácido folínico → MTX/FA – 8 dias, MTX 1 mg/kg nos dias 1, 3, 5 e 7 seguido por FA 0,1 mg/kg nos dias 2, 4, 6 e 8 • MTX sem ácido folínico em regime de cinco dias → 0,4 mg/kg – máximo de 25 mg/dia durante cinco dias • ACTD → 0,5 mg/dia em regime de cinco dias ou 1,25 mg/dia a cada 15 dias o Em geral esses protocolos são mais efetivos que outros protocolos de agente único o MTX de primeira linha pela eficácia, menor toxicidade e baixo custo • Outros fatores associados à falha do tratamento inicial incluem idade avançada, valor elevado de beta-hCG, pré-tratamento quimioterápico, antecedente de gravidez não molar, doença metastática e escore de risco FIGO 5-6 • A maioria dos especialistas recomenda consolidação do tratamento da NTG de baixo risco com 3 ciclos adicionais, depois de alcançado o primeiro valor normal do beta-hCG (QT de consolidação) • HTA é uma alternativa em pacientes de idade avançada (superior a 40 anos) e prole definida OBSTETRÍCIA Kamila Maragno Peruch UNESC – Turma 192 Tratamento Da NTG De Alto Risco • Protocolo EMA/CO → etoposídeo, MTX, ACTD na fase 1 e ciclofosfamida e vincristina na fase 2 • Alguns preferem o protocolo EP/EMA modificado → etoposídeo e cisplatina na fase 1 e etoposídeo, MTX e ACTD na fase 2 o QT deve ser mantida por pelo menos 3 ciclos após a negativação do beta-hCG, caracterizando o tratamento de consolidação, minimizando-se a NTG recidivante • A cirurgia é útil para remoção de doença residual localizada e resistente ao tratamento quimioterápico em pacientes com NTG de alto risco, especialmente HTA e ressecção pulmonar o Antes do procedimento cirúrgico, deve-se propor o rastreamento da NTG por exames de imagem • Radioterapia em combinação com a QT por múltiplos agentes é indicada para tto de metástases cerebrais e hepáticas, dependendo da extensão das lesões, pelo seu efeito hemostático e antitumoral • Portadoras de NTG resistente são frequentemente expostas a muitos agentes e protocolos → pode ser necessário uso de fator estimulante de colônias granulocíticas GSF para evitar descontinuidade do tto por neutropenia e possibilidade de resistência à QT FUTURO REPRODUTIVO APÓS A DTG • Prevenção primária de qualquer DTG é não engravidar • Diante de nova gravidez, pacientes devem ser orientadas a ter atenção à realização de US no 1º tri para detectar precocemente a evolução normal da gestação o Ao término de qualquer gravidez, a paciente deve ser submetida a dosagem de hCG após 42 dias, com o intuito de afastar a rara possibilidade de NTG pós-parto LITERATURA:+ - Tratado de Obstetrícia da FEBRASGO - Obstetrícia – Zugaib (3ª edição)
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