Prévia do material em texto
Ana Paula Barbosa Martins 5º período Medicina QUEIMADURAS FISIOPATOLOGIA DA QUEIMADURA O primeiro conceito que devemos ter para entendermos as queimaduras é lembrar que o paciente vítima de queimadura nada mais é do que um paciente vítima de trauma. No entanto, a diferença mais significativa é que além das lesões decorrentes do trauma, a queimadura leva a uma intensa resposta inflamatória. Quanto maior e mais profunda a queimadura, mais intensa será esta inflamação. O evento mais marcante da resposta corporal a uma queimadura é uma disfunção da microvasculatura desencadeada por mediadores inflamatórios liberados durante a fase inicial deste trauma. Esta disfunção leva a um importante aumento da permeabilidade vascular. Os mediadores são liberados não só localmente como também por outros tecidos (REMIT – Resposta endócrina, metabólica e imunológico ao trauma). As substâncias mais importantes são a histamina e a bradicinina. Alguns efeitos sistêmicos da queimadura: Efeitos cardiovasculares: o débito cardíaco diminui em decorrência de queda no volume sanguíneo e aumento da viscosidade (hemoconcentração). Ocorre uma disfunção ventricular mediada por fatores depressores do miocárdio; Efeitos pulmonares: a serotonina, liberada por plaquetas agregadas, aumentará a resistência vascular pulmonar; Efeitos gastrointestinais: ocorrerá atrofia da mucosa intestinal que será mais intensa por volta de 18h pós queimadura. A permeabilidade intestinal às macromoléculas aumentará favorecendo a translocação bacteriana; Efeitos renais: dependendo da gravidade da queimadura, podemos observar necrose tubular e insuficiência renal. A diminuição do débito, associada à presença de mediadores como a angiotensina, ADH e aldosterona, leva a uma importante diminuição do fluxo sanguíneo renal e também da taxa de filtração glomerular; Efeitos metabólicos: por conta da REMIT, a taxa metabólica basal pode aumentar 200% acima do normal, elevando a demanda por nutrientes. Embora haja um hipermetabolismo em todos os tipos de trauma, nas queimaduras é que ele se revela de forma mais intensa. Este fenômeno pode se manter por meses; Efeitos hemostáticos: dependendo da gravidade, o tromboxano A2 promove agregação plaquetária. PROFUNDIDADE DA QUEIMADURA • 1º Grau – Limitadas à epiderme. A pele se apresenta eritematosa e dolorosa, ficando pálida à compressão; • 2º Grau superficial – Lesão da epiderme e derme superficial. Eritematosas, dolorosas e geralmente com bolhas, empalidecem também com a compressão; • 2º Grau profundo – Lesão através da epiderme e profundamente na derme. Maior palidez e eventualmente torna-se mosqueada. São dolorosas ao toque, mas não empalidecem à compressão; Ana Paula Barbosa Martins 5º período Medicina • 3º Grau – Lesão de espessura total através da epiderme e da derme, chegando até o subcutâneo. Pele endurecida com aspecto de couro. Pode apresentar-se translúcida ou mosqueada com aspecto de cera. Não empalidece à compressão. A superfície é indolor e geralmente seca; • 4º Grau – Envolvem estruturas abaixo da pele como ossos, músculos e tendões. TIPOS DE QUEIMADURA Queimaduras térmicas: são provocadas por fontes de calor como o fogo, líquidos ferventes, vapores, objetos quentes e excesso de exposição ao sol; Queimaduras químicas: são provocadas por substância química em contato com a pele ou mesmo através das roupas; A lesão química pode resultar da exposição a ácidos, álcalis ou derivados do petróleo. Queimaduras elétricas: resultam do contato de uma fonte de energia elétrica com o corpo do doente. O corpo pode servir como condutor da energia elétrica e o calor gerado resulta em lesão térmica dos tecidos. Diferentes velocidades de perda de calor por parte de tecidos superficiais e profundos são responsáveis pela coexistência de pele aparentemente normal com necrose muscular profunda. Portanto, as queimaduras elétricas frequentemente são mais graves do que parece à inspeção externa, Ana Paula Barbosa Martins 5º período Medicina e as extremidades, especialmente os dedos, estão particularmente propensos à lesão. Além disso, a corrente passa por vasos sanguíneos e nervos e pode causar tromboses locais e lesões nervosas. Doentes com queimaduras elétricas frequentemente necessitam de fasciotomias e devem ser transferidos para um centro de queimados no início de seu tratamento. Queimaduras por frio: Três tipos de lesão por frio são vistos no doente traumatizado: crestadura ou "frostnip", congelamento e lesão não congelantes. o Crestadura ou "frostnip": A forma mais leve de lesão pelo frio e é caracterizada por dor, palidez e diminuição da sensibilidade da parte afetada. É reversível com o aquecimento e não resulta em perdas teciduais, a não ser que a agressão seja repetida ao longo dos anos, o que causa perda do panículo adiposo ou atrofia. o Congelamento: é devido à lesão dos tecidos por formação de cristais de gelo dentro das células e por oclusão microvascular que resulta em anóxia tecidual. O comprometimento tecidual pode resultar, em parte, da lesão de reperfusão que ocorre com o reaquecimento. O congelamento é classificado em graus, primeiro, segundo, terceiro e quarto, de acordo com a profundidade do envolvimento. o Lesão não congelante: é devida a comprometimento do endotélio micro vascular, a estase e a oclusão vascular. O termo pé (ou mão) de trincheira ou pé (ou mão) de imersão descreve um tipo de lesão não congelante que pode acometer as mãos ou os pés, que afeta tipicamente soldados, marinheiros ou pescadores, e que resulta da exposição crônica a ambiente úmido e a temperaturas pouco acima do ponto de congelamento, ou seja, 1,6°C a 10°C. Embora o pé inteiro possa parecer preto, pode não haver destruição de tecidos profundos. AVALIAÇÃO DA ÁREA DE SUPERFÍCIE QUEIMADA Regra dos nove: MMSS, 9% cada; MMII, 18% cada; faces anterior e posterior do tronco, 18%; cabeça e o pescoço, 9%; genitália e períneo, 1%. Regra da palma da mão: mão aberta com os dedos estendidos equivale a aproximadamente 1% da SCQ. Fórmula de Berkow: melhor método em crianças. ABORDAGEM AO PACIENTE QUEIMADO CUIDADOS PRÉ-HOSPITALARES: Mesma abordagem do paciente politraumatizado: XABCDE ✓ A e B – Procurar obstrução por edema após tubar, se houver comprometimento iminente. Observar se há ventilação adequada a despeito da patência das vias respiratórias. ✓ C – Reposição com Ringer lactato EV — taxa de infusão em ml/h é dada pela fórmula SCQ x peso do paciente / 8. ✓ D e E – Mesmo enfoque do politraumatizado. Atentar para prevenção da hipotermia. CUIDADOS HOSPITALARES: → Reposição volêmica - Fórmula de Parkland – 4 x SCQ x peso do paciente = volume a ser infundido nas 1 as 24h em ml. Metade deve ser feito nas 1 as 8h. - ATLS 10 a edição: 2 x SCQ (%) x peso (kg). → Cuidados com a queimadura: o 1º Grau – AINE. Ana Paula Barbosa Martins 5º período Medicina o 2º Grau superficial – Desbridamento + curativo (com antibiótico tópico, biológico ou sintético). o 2º Grau profunda ou 3º Grau – Desbridamento + excisão de áreas necróticas. Necessitam de enxertia. o Escarotomias: Podem ser indicadas naquelas queimaduras mais profundas e circunferenciais, em que a pele se trasnforma em uma escara. Os locais mais comuns são a região do tórax e as extremidades. o Fasciotomias: são realizadas quando o edema muscular inicia uma síndrome compartimental. Mais comum nas queimaduras elétricas. Fasciotomia Escarotomia