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Seção 2 SUA PETIÇÃO DIREITO TRABALHISTA 2 Estudante, vamos à segunda seção? Para melhor compreensão da peça processual a ser desenvolvida, é fundamental rememorarmos o caso em pauta. Na seção 1 você foi advogado de Raíssa Pinheiro, elaborando a petição inicial de sua reclamação trabalhista ajuizada contra a empresa Pão de Ló Ltda. A alegação autoral é de que sua dispensa por justa causa não poderia ter ocorrido em virtude da ausência de vacinação contra a COVID-19, haja vista que respaldada em laudo médico. Além disso, sustenta que não foi observado o caráter pedagógico na aplicação das penalidades, pois a obreira sequer foi advertida anteriormente. Requer,portanto, a reversão da justa causa, com o consequente recebimento das verbas rescisórias que lhe foram sonegadas. A Reclamação Trabalhista foi distribuída para a 100ª Vara do Trabalho de Salvador/BA, sob o número (nº do 0000001-00.2021.5.05.0100) Caro aluno, para fins didáticos e objetivando o melhor aprendizado vamos inverter os papéis? Nesta seção você será o advogado da Pão de Ló Ltda e irá elaborar a peça processual adequada à defesa dos interesses da reclamada. O representante legal da empresa é Ernesto Paiva, que lhe procura em seu escritório e lhe entrega a notificação judicia emitida pela 100ª Vara do Trabalho. Nela consta que a audiência UNA irá ocorrer no dia 05/10/2021. Seção 2 DIREITO TRABALHISTA Sua causa! 3 Ele lhe afirma que a reclamante jamais lhe entregou qualquer laudo médico que fosse suficiente para amparar a negativa de sua vacinação. No ato da dispensa era a segunda vez que ela se recusava a vacinar ou apresentar justificativa juridicamente válida, limitando-se a afirmar que não se vacinaria por convicções próprias. Ernesto lhe entrega dezenas de documentos que comprovam que desde o surgimento da vacina a empresa faz campanhas internas de conscientização acerca de sua importância e obrigatoriedade. Apresenta-lhe advertência que foi aplicada à Raíssa, quando ela se recusou a vacinar. Ele não sabe se o documento tem valor jurídico, pois a trabalhadora não quis assiná-lo, o que foi feito somente por duas pessoas que testemunharam a mencionada recusa, datada de 08/07/2021. Por fim, entrega-lhe o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) e o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) da empresa constando o risco COVID-19. No que diz respeito à suspensão do contrato de Trabalho, conforme previsão da MP n. 1.045, afirma que foram observados todos os requisitos para sua implementação e que não foi exigida prestação de serviços durante tal período. Vamos lá? Diante de tais informações elabore a peça processual apta aos interesses da reclamada. O passo inicial é analisar as questões de Direito Processual de Trabalho que são fundamentais para a elaboração da peça processual. 1) DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO 1.1. Resposta da reclamada (ré) no Direito Processual do Trabalho O réu, no Direito Processual do Trabalho, é chamado de reclamado(a). A ele(a) incumbe o direito de responder à petição inicial. Trata-se da resposta do réu, que é um dos pilares do Estado Democrático de Direito e está consagrada no art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal de 1988. Fundamentando! 4 Neste momento processual, ou seja, de elaboração da resposta à petição inicial, a reclamada deve utilizar todos os fundamentos fáticos e jurídicos possíveis. Portanto, deve lançar mão de eventuais questões de ordem processual que podem macular a peça de ingresso formulada pela trabalhadora. A peça processual deve ser feita na presente seção de forma escrita. Todavia, a CLT autoriza sua apresentação oral em audiência, no prazo de 20 (vinte) minutos, que são concedidos após a frustração da tentativa de conciliação entre as partes, conforme preconiza o art. 847, da CLT. Cumpre ressaltar que pelo fato de o processo trabalhista ser eletrônico (PJe), a peça processual deve ser inserida no sistema antes do início da audiência. Assim como no Direito Processual Civil, no Direito Processual do Trabalho não pode a reclamada apenas negar os fatos e/ou o direito aduzido na petição inicial. É imperioso que cada um deles seja, pontual e expressamente, rechaçados na peça a ser elaborada, sob pena de serem considerados verdadeiros os fatos narrados na petição inicial, conforme disciplina o art. 341, do Código de Processo Civil (CPC) de 2015, aplicado subsidiariamente, nos termos do art. 769, da CLT. Você deve estar se perguntando por onde deve começar a elaborar a peça processual. Diante de previsão legislativa acerca de sua organização, utilize o critério lógico, ou seja, o que se for analisado primeiro prejudica a análise dos demais pontos de sua petição. Por exemplo, se houvesse uma preliminar de incompetência em razão da matéria a ser suscitada, isto é, que a Justiça do Trabalho não poderia processar e julgar aquele conflito, ela deveria vir antes ou depois do mérito? Por óbvio que antes, haja vista que se fosse acolhida, o julgamento sequer adentraria ao mérito da demanda. Enquanto as preliminares são questões de ordem processual, que visam a extinção do processo ou ao menos do pedido sem julgamento do meritório, no tópico relativo ao mérito em discussão, o objetivo é a improcedente total dos pedidos. Assim, devem ser utilizados todos os fundamentos fáticos e jurídicos suficientes para acarretar tal consequência. A organização da petição trabalhista é um pouco distinta do que se vê nos processos cíveis. Na seara trabalhista é praxe separar cada pleito (tema) num tópico específico, em que os fundamentos fáticos e jurídicos são abordados. Se a peça tiver um tópico sobre horas extras, nele serão deduzidos o fatos e fundamentos que acarretarão a improcedência do pedido. Caso haja, também, pedido de indenização por danos morais, ele será objeto de tópico próprio, e assim por diante. Para melhor visualização do trâmite processual, apresento o fluxograma abaixo com os principais atos processuais praticados na primeira instância: 5 Figura 1: Principais atos processuais praticados na 1ª instância trabalhista. Fonte: elaborado pelo autor. No Direito Processual do Trabalho, quando a petição inicial é distribuída, é designada audiência, com dia e horário já informados no ato citatório. As consequências em caso de ausência à audiência são distintos para reclamante e reclamada. A ausência do reclamante acarretará o arquivamento da reclamação trabalhista, ou seja, a extinção do feito sem resolução do mérito. Já o não comparecimento da reclamada implicará em revelia e confissão. Para melhor compreensão do tema, sugiro a leitura do art. 844, da CLT. Estas são as conclusões que se extraem do art. 844, da CLT, cuja leitura é fundamental. Como já disse anteriormente, a leitura atenta da CLT é importantíssima, ainda mais diante das recentes alterações legislativa, com ênfase para a Lei n. 13.467/17, que promoveu a mudança de redação do art. 844, inserindo o seu parágrafo 5º, com a previsão de que mesmo na hipótese de a reclamada ou seu representante legal não comparecer na audiência, a contestação e documentos eventualmente apresentados devem ser aceitos, desde que seu advogado esteja presente na audiência. Diante do exposto, elabore a peça processual adequada, observando todos os ditames processuais, não se olvidando das alterações que foram promovidas na CLT pela Lei n. 13.467/17. Verifique o prazo legal que existe para a apresentação da resposta adequada a ser dada pela Reclamada, assim como os corretos pedidos a serem formulados. Eventual prova documental pode ser acostada com a petição endereçada ao juízo. 2) DIREITO DO TRABALHO 6 Uma vez analisadas as questões processuais, vamos nos debruçarnos principais aspectos do Direito do Trabalho para a elaboração da peça processual adequada. 2.1. VACINAÇÃO Questão absolutamente atual e polêmica diz respeito à vacinação de trabalhadores contra a COVID- 19. Este ponto é essencial para você, aluno, elaborar a peça processual com os fundamentos mais adequados para a defesa do seu cliente. Inicie pela leitura da decisão judicial do STF, no ARE 1267879, que teve tese de repercussão geral fixada. Ela e seu resumo podem ser acessados pelo seguinte endereço eletrônico: • https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=457462&ori=1 A decisão do STF é a base inicial para você desenvolver o raciocínio na peça processual, mas não é só. Uma leitura atenta da CLT, especialmente dos arts. 157 e 158, que versam sobre as obrigações de empresas e trabalhadores no que diz respeito à saúde no meio ambiente de trabalho. • O Ministério Público do Trabalho, a fim de orientar a população acerca das questões que envolvem a COVID-19, editou a “GUIA TÉCNICO INTERNO DO MPT SOBRE VACINAÇÃO DA COVID – 19” cuja leitura é recomendável e pode ser feita pelo seguinte link: • https://mpt.mp.br/pgt/noticias/estudo_tecnico_de_vacinacao_gt_covid_19_versao_final_28_ de_janeiro-sem-marca-dagua-2.pdf Embora os Tribunais do Trabalho ainda pouco tenham enfrentado situação de rompimento do pacto laboral pela ausência de vacinação, sugiro a leitura do acórdão proferido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, nos autos do processo n. 0010091-68.2021.5.15.0068, que pode ser acessado pelo link abaixo: • https://trt-15.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1252163243/rorsum-100916820215150068- 0010091-6820215150068/inteiro-teor-1252163252 Por fim, o art. 225, da CRFB/88, garante a todos um “meio ambiente ecologicamente equilibrado”, o que abrange o meio ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=457462&ori=1 https://mpt.mp.br/pgt/noticias/estudo_tecnico_de_vacinacao_gt_covid_19_versao_final_28_de_janeiro-sem-marca-dagua-2.pdf https://mpt.mp.br/pgt/noticias/estudo_tecnico_de_vacinacao_gt_covid_19_versao_final_28_de_janeiro-sem-marca-dagua-2.pdf https://trt-15.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1252163243/rorsum-100916820215150068-0010091-6820215150068/inteiro-teor-1252163252 https://trt-15.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1252163243/rorsum-100916820215150068-0010091-6820215150068/inteiro-teor-1252163252 7 Você, então, deve analisar todos os argumentos que podem e devem ser utilizados para combater a pretensão obreira. Não se esqueça de que os documentos e informações que lhe foram passadas por Ernesto são de grande valia para a fundamentação a ser usada na peça processual. Ato contínuo, a improcedência do pagamento de verbas rescisórias será decorrência lógica. 2.2. REVERSÃO DA JUSTA CAUSA A justa causa é uma penalidade que pode ser aplicada ao trabalhador em razão de um conjunto de equívocos, desde que cada um seja devidamente apenado anteriormente com advertência ou suspensão. Estas penalidades inferiores à rescisão do contrato de trabalho por justa causa objetivam cumprir o caráter pedagógico que é inerente ao poder empregatícios, isto é, o empregador tem a obrigatoriedade de mostrar o equívoco do empregado e lhe permitir que seja possível, no futuro, agir corretamente. A rescisão do contrato de trabalho também tem lugar diante de um fato isolado, que seja grave o suficiente para ensejar esta medida extrema. No caso da vacinação, você deve analisar quais são os direitos e obrigações, tanto do empregador, quanto da trabalhadora. Além disso, observe que o empregador emitiu advertência para a trabalhadora, a fim de que tivesse ciência de necessidade de se vacinar. Não se esqueça de ler, novamente, o “GUIA TÉCNICO INTERNO DO MPT SOBRE VACINAÇÃO DA COVID – 19”: • https://mpt.mp.br/pgt/noticias/estudo_tecnico_de_vacinacao_gt_covid_19_versao_final_28_ de_janeiro-sem-marca-dagua-2.pdf 2.3. SUSPENSÃO DO CONTRATO DE TRABALHO No que diz respeito à alegação de prestação de serviços durante o período de suspensão do contrato de trabalho pela pandemia da COVID-19, você, aluno, deve analisar os argumentos que lhe foram repassados pelo representante legal da empresa e analisar se eles são suficientes para afastar a pretensão obreira. https://mpt.mp.br/pgt/noticias/estudo_tecnico_de_vacinacao_gt_covid_19_versao_final_28_de_janeiro-sem-marca-dagua-2.pdf https://mpt.mp.br/pgt/noticias/estudo_tecnico_de_vacinacao_gt_covid_19_versao_final_28_de_janeiro-sem-marca-dagua-2.pdf 8 2.4. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E JUSTIÇA GRATUITA A trabalhadora pugna pela condenação empresarial ao pagamento de honorários advocatícios, com fundamento no disposto no art. 791-A, da CLT. O argumento inicial a ser utilizado é que a improcedência total dos pedidos não enseja a condenação ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais. Fundamento sucessivo é a Ação Direta de Inconstitucionalidade, que tramita no Supremo Tribunal Federal (ADI n. 5766), pois nela é questionada a constitucionalidade do disposto no art. 791-A, da CLT. Ainda em sede de argumento sucessivo, sugere-se que seja invocada a Lei n. 5.584/70. Na hipótese de o disposto no art. 791-A, da CLT ser considerada inconstitucional, as regras dispostas na referida lei devem ser aplicadas ao Direito Processual do Trabalho. Assim, os honorários advocatícios somente seriam devidos em caso de o advogado do trabalhador ser do sindicato da categoria ou ter sido por ele habilitado, o que não é o caso dos autos. No tocante à justiça gratuita sugere-se que seja avaliada a disposição do §3º, do art. 790, da CLT, isto é, se o valor auferido mensalmente por Antônio se enquadra ou não nos limites estabelecidos para a gratuidade judiciária. Caso se enquadre, não é necessário refutar o pedido. QUADRO SINÓTICO DA LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA APLICÁVEL (Referidos e não referidos nas explicações anteriores) Assunto CRFB/88 CLT CPC/2015 TST Outros Peça Processual - Art. 844; Art. 846; Art. 847 Art. 336 (princípio da eventualidade ou concentração; especificação/ provas); art. 341 - - Vacinação Art. 225. Art. 157; Art. 158 - - ARE 1267879, no STF; GUIA TÉCNICO INTERNO DO MPT 9 SOBRE VACINAÇÃO DA COVID – 19; Acórdão do TRT da 15ª Região, no processo n. 0010091- 68.2021.5.15.0068. Suspensão do Contrato de Trabalho - - - - MP n. 1.045 Gratuidade Judiciária - Art. 790; Art. 790-A; Art. 99, caput; - - Honorários Advocatícios - Art. 791-A; - - - Chegou a hora! Agora você irá elaborar a peça processual adequada à defesa dos interesses da empresa Pão de Ló Ltda. Ela começa pelo correto endereçamento, isto é, da indicação da Vara do Trabalho competente para analisar o litígio. A reclamação trabalhista já está em curso, razão pela qual já foi atribuído um número, que deve ser inserido na peça processual. Os pedidos formulados por Raíssa na peça de ingresso devem ser expressamente refutados, sob pena de confissão. A peça processual deve ser elaborada de forma clara e objetiva, utilizando linguagem impessoal. Sugere-se que seja organizada por tópicos relativos a cada um dos temas. Neles você irá desenvolver os aspectos fáticos e jurídicos que devem conduzir à decisão judicial à improcedência. Mãos à obra! Vamos peticionar!
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