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na infância Febre Layane Silva Mecanismos da febre: pirogênios, produção de calor superando a perda e perda de calor defeituosa. A temperatura corporal é regulada por neurônios termossensíveis localizados no hipotálamo pré-óptico ou anterior que respondem a alterações na temperatura sanguínea e por receptores para frio e calor localizados na pele e músculos. Respostas termorreguladoras incluem redirecionar o sangue para leitos vasculares cutâneos, sudorese aumentada ou diminuída, regulação do volume líquido extracelular através da arginina vasopressina e respostas comportamentais. I. PIROGÊNIOS: elevam o ponto de ajuste da temperatura hipotalâmica, podem ser: - Endógenos: citocinas interleucina 1 e interleucina 6, o fator de necrose tumoral α e os interferons β e γ, podem ser produzidos por leucócitos ativados e células produtoras de lipídios (prostaglandina E2, que se fixa aos receptores para prostaglandinas no hipotálamo e produz o novo ponto de ajuste da temperatura). Assim, febre causada pela produção de pirogênios endógenos é comum nas doenças infecciosas e medicamentos, malignidades e doenças inflamatórias. patogênese Infecções bacterianas: resolução rápida da febre após a instituição de um tratamento antimicrobiano eficaz. Febre intermitente: ritmo circadiano exagerado que inclui período de temperatura normal em muitos dias. Febre séptica: flutuações extremamente amplas. Febre prolongada: persistente e não varia > 0,5oC/dia. Febre remitente: persistente e varia mais de 0,5oC/dia. Febre recidivante: períodos febris que são separados por intervalos de temperatura normal - deve ser distinguida de doenças infecciosas que têm tendência à recidiva. Febre bifásica: indica uma doença única com 2 períodos distintos (padrão de febre em dorso de camelo). Febre periódica: síndromes febris com periodicidade regular (neutropenia cíclica e febre periódica, estomatite aftosa, faringite e adenopatia) ou transtornos com episódios recorrentes de febre que não sigam um padrão periódico estrito (febre familiar do Mediterrâneo, síndrome periódica associada ao receptor para o fator de necrose tumoral [febre Hibernian], síndrome de hiperimunoglobulina D, síndrome de Muckle-Wells) Febre factícia/autoinduzida: causada pela manipulação intencional do termômetro ou pela injeção de material pirogênico. - Febre terçã: ocorre no 1o e no 3o dia (malária causada por Plasmodium vivax). - Febre quartã: ocorre no 1o e no 4o dia (malária causada por Plasmodium malariae). - Ex.: poliomielite, infecções causadas por enterovírus, leptospirose, dengue, febre amarela, febre do carrapato do Colorado, febre espiralar por mordida de rato (Spirillum minus) e febres hemorrágicas africanas (febre Marburg, Ebola e Lassa). A febre é definida como temperatura retal ≥38 oC e hiperpirexia são valores > 40 oC, tendo em vista que a temperatura corporal flutua numa faixa normal (36,6-37,9oC na região retal) - sendo mais alta no início da noite e mais baixa ao amanhecer - qualquer elevação anormal pode ser um sintoma de uma condição subjacente. temperatura corporal raramente excede 42oC (níveis potencialmente letais), exceto em condições ambientais hipertérmicas extremas ou circunstâncias extenuantes (hipertermia maligna ou tireotoxicose). Infecções virais: há declínio lento da febre em 1 semana. São divididas em 4 categorias: infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e diversas, sendo as mais comuns as infecções virais autolimitadas (resfriado comum, gastroenterites) e infecções bacterianas não complicadas (otite média, faringite, sinusite). PADRÃO DA FEBRE: pode indicar possíveis etiologias. etiologia Substâncias não pirogênicas podem induzir complexos antígeno-anticorpo na presença de complemento, componentes do complemento, produtos linfocitários, ácidos biliares e metabólitos de esteroides androgênicos. - Exógenos: (1) patógenos infecciosos, como micróbios, toxinas microbianas ou produtos microbianos, que estimulam macrófagos e outras células a produzir pirogênios endógenos - a endotoxina pode afetar a termorregulação no hipotálamo e estimular a liberação de pirogênios endógenos. (2) drogas como vancomicina, anfotericina B e alopurinol causam febre. II. PRODUÇÃO QUE SUPERA A PERDA DE CALOR: intoxicação por salicilatos e a hipertermia maligna. III. PERDA DE CALOR DEFEITUOSA: ocorre em crianças com displasia ectodérmica ou em vítimas de exposição grave ao calor. FEBRES COM TENDÊNCIA A RECIDIVAS I. CAUSAS INFECCIOSAS - Febre recidivante (Borrelia recurrentis) - Febre das trincheiras (Bartonella quintana) - Febre Q (Coxiella burnetti) - Febre tifoide (Salmonella typhi) - Sífilis (Treponema pallidum) - Tuberculose - Histoplasmose - Coccidioidomicose - Blastomicose / Paracoccidioidomicose - Melioidose (Pseudomonas pseudomallei) - Coriomeningite linfocitária (CML) - Febre da dengue - Febre amarela - Meningococemia crônica - Febre do carrapato do Colorado - Leptospirose - Brucelose - Febre Oroya (Bartonella bacilliformis) - Febre reumática aguda - Febre por mordedura de rato (Spirillum minus) - Leishmaniose visceral - Doença de Lyme (Borrelia burgdorferi) - Malária - Babesiose - Infecção viral respiratória não influenza - Infecção por vírus Epstein-Barr II. CAUSAS NÃO INFECCIOSAS Layane Silva Febre cotidiana dupla: febre que tem picos 2 vezes em 24h se associa classicamente à artrite inflamatória. Pico febril único: pode ser atribuído à infusão de derivados sanguíneos, algumas medicações, alguns procedimentos ou manipulação de um cateter sobre superfícies corporais colonizadas ou infectadas. - temperaturas > 41oC se associam a causas não infecciosas, que incluem febre de origem central (decorrente de disfunção do SNC envolvendo o hipotálamo), hipertermia maligna, síndrome neuroléptica maligna, febre por drogas ou insolação. - temperaturas < 36oC podem se associar a uma sepse avassaladora, exposição ao frio, hipotireoidismo ou uso excessivo de antipiréticos. Exame físico: avaliação completa dos sinais vitais, avaliar queixas localizadas, revisão sistemática "da cabeça aos pés" para encontrar indicações do diagnóstico. - Oximetria de pulso: essencial pois a hipóxia pode indicar uma infecção respiratória inferior. - Lesões na palma da mão e sola dos pés: indica uma infecção por vírus coxsackie. - Doença de Behçet - Doença de Crohn - Doença de Weber-Christian (paniculite) - Síndrome de angeíte leucoclástica - Síndrome de Sweet - Lúpus eritematoso sistêmico e outras doenças autoimunes III. SÍNDROMES FEBRIS PERIÓDICAS - Febre familiar do Mediterrâneo - Neutropenia cíclica - Febre periódica, estomatite aftosa, faringite, adenopatia - Síndrome de hiperimunoglobulina D - Febre Hibernian (síndrome associada à imunoglobulina A da superfamília do fator de necrose tumoral [TRAPS]) - Síndrome de Muckle-Wells - Outras Febre + petéquias + aparência doentia: indica condições que acarretam risco de vida para o paciente (meningococemia, febre maculosa das Montanhas Rochosas ou endocardite bacteriana aguda). Taquicardia: a FC eleva em 10 batimentos/min por cada 1oC de elevação na temperatura em crianças com > 2 meses. Bradicardia + febre: pode ser consequência de defeito da condução pelo envolvimento cardíaco por febre reumática aguda, doença de Lyme, endocardite viral ou endocardite infecciosa. Pode variar de assintomática a um mal-estar extremo, em geral, as crianças se queixam de se sentir quentes ou frias, rubor facial, calafrios, fadiga, irritabilidade, aparência de doente ou palidez, diminuição do apetite e taquicardia - além disso, a etiologia subjacente também produz sintomas associados. - Taquicardia relativa (frequência do pulso se eleva desproporcionalmente em relação à temperatura) é causada por doenças não infecciosas ou doenças infecciosas causadas por toxinas. - Bradicardia relativa (dissociação temperatura-pulso): FC permanece baixa na presença de febre, comum na febre tifoide, brucelose, leptospirose ou febre por medicamentos. características clínicas Anamnese: início, padrão da febre, sinaise sintomas associados, exposições a outras pessoas doentes, viagens recentes, medicação recente ou em uso contínuo, deficiências imunes ou outras doenças importantes, e calendário vacinal. A maioria dos episódios febris agudos num indivíduo normal pode ser diagnosticada por anamnese, exame físico e poucos testes laboratoriais - a avaliação inicial deve ser dirigida à descoberta de uma causa infecciosa subjacente. avaliação da febre aguda Se houver uma causa óbvia para a febre, o tratamento é dirigido à causa subjacente, com reavaliação posterior caso necessário. A história das manifestações clínicas iniciais e os achados anormais do exame físico orientam a avaliação. - Sintomas respiratórios + hipóxia: indicação de Rx de tórax ou teste rápido para antígenos do vírus sincicial respiratório ou influenza. - Faringite: testes para detecção rápida de antígenos de Streptococcus grupo A e cultura de orofaringe. - Disúria + dor lombar + história de refluxo vesicoureteral: exame de urina e urinocultura. - Diarreia sanguinolenta: cultura de fezes. - Aparência doentia: hemograma completo e hemocultura. - Rigidez de nuca: estudos do líquido cefalorraquiano pela possibilidade de meningite. - Grupos de alto risco: avaliação mais extensa com base na idade, doença associada ou presença de imunodeficiência e podem justificar terapia antimicrobiana empírica imediata, antes de se identificar um patógeno. Terapia antipirética: promove alívio sintomático, mas não modifica a evolução de doenças infecciosas, deve estar associada a boa hidratação a fim de repor líquidos que sejam perdidos pelas demandas metabólicas aumentadas da febre. Antitérmicos: usados em pacientes de alto risco com doenças cardiopulmonares crônicas, transtornos metabólicos, doenças neurológicas, ou em risco de convulsões febris, reduzem a febre por reduzir a produção de prostaglandinas - os mais comuns são Acetaminofen 10-15 mg/kg/dose a cada 4h e Ibuprofeno em crianças com > 6 meses, 5-10 mg/kg/dose a cada 8h. A febre é uma resposta adaptativa e deve ser tratada unicamente em algumas circunstâncias, assim, uma febre com temperaturas < 39oC em crianças sadias não requer tratamento, exceto se o paciente apresentar desconforto à medida que a temperatura se eleva. - Não há evidências científicas de que febre alta pode acarretar danos cerebrais ou prejuízos corporais, exceto em raros casos de status epilepticus febril e insolação. - Tratar a febre em doenças autolimitadas apenas para trazer a temperatura corporal de volta ao normal não é necessário em crianças sadias. - Temperaturas aumentadas se associam a replicação microbiana diminuída e resposta inflamatória aumentada. - A febre aumenta igualmente o consumo de O2, produção de CO2 e débito cardíaco e pode exacerbar a IC em pacientes portadores de cardiopatia ou anemia crônica, a insuficiência pulmonar em portadores de pneumopatia crônica e instabilidade metabólica em pacientes com DM ou erros inatos do metabolismo. - Crianças com idade entre 6 meses e 5 anos têm um risco aumentado de convulsões febris simples, bem como crianças portadoras de epilepsia. - Hiperpirexia (>41oC): indica probabilidade elevada de transtornos hipotalâmicos ou hemorragia do SNC e deve ser tratada com antipiréticos. tratamento Layane Silva - Efeitos adversos: danos hepáticos (Acetaminofen) e distúrbios gastrointestinais ou renais (Ibuprofeno). - Medidas físicas (banhos mornos e cobertores para resfriamento) não são eficazes na redução da febre. Infecções bacterianas graves: bacteremias, meningites, pneumonias, osteomielite, artrite séptica, enterites e infecções do trato urinário. Diretriz: um neonato que tenha tido uma febre registrada no domicílio por um pai confiável deve ser tratado como um neonato febril. todos os neonatos febris devem ser hospitalizados, obter exames complementares e receber antibióticos intravenosos empíricos. Exames complementares: culturas de sangue, urina e líquido cefalorraquiano (LCR), cultura de fezes e radiografia de tórax. Tratamento: combinações de antibióticos (ampicilina e cefotaxima ou ampicilina e gentamicina). Apresentam sinais limitados de infecção que dificultam a distinção entre viral grave (vírus herpes simplex - HSV) ou autolimitada, e bacteriana, deve-se avaliar respostas imunes imaturas. - Neonatos com infecção grave estão em risco de doenças bacterianas neonatais de aparecimento tardio (estreptococos do grupo B, E. coli e Listeria monocytogenes) e infecção por vírus herpes simplex (HSV) adquirida no período perinatal. - Pode-se suspeitar que excesso de roupas tenha elevado falsamente a temperatura corporal, deve-se remover cobertas excessivas e aferir a temperatura em 15-30 min. - Estudos do LCR: celularidade, níveis de glicose e de proteínas, coloração pelo Gram e cultura; a reação da cadeia de polimerase para HSV e enterovírus. - Incluir Aciclovir se suspeita de infecção por HSV devido a neonatos Febre sem foco É a temperatura retal > 38oC como única manifestação, que pode ser dividida em febre de origem indeterminada (FOI) e febre sem sinais localizatórios. Febre de aparecimento agudo, com duração de < 1 semana e sem sinais de localização é comum em crianças com < 36 meses, cuja etiologia e avaliação dependem da idade da criança (neonatos ou lactentes até 1 mês, lactentes entre 1-3 meses e crianças com > 3 meses a 3 anos). febre sem sinais de localização Pacientes febris com risco aumentado de infecções bacterianas e virais graves crises convulsivas, hipotensão, elevação das transaminases, pleocitose do LCR ou história materna de HSV genital. Doenças bacterianas potenciais: otite média, pneumonia, onfalite, mastite e outras infecções da pele e dos tecidos moles. Conduta: lactentes febris de aparência doentia (tóxica) com < 3 meses necessitam de hospitalização imediata e terapia antimicrobiana parenteral após serem obtidas culturas de sangue, urina e LCR. Tratamento: ampicilina (cobre L. monocytogenes e de Enterococcus) associada com ceftriaxona ou cefotaxima - eficaz contra patógenos bacterianos causadores de sepse, ITU e enterites, Classificação de risco: uso de testes diagnósticos virais (enterovírus, parechovírus, vírus respiratórios, rotavírus e vírus herpes) em combinação aos Critérios de Rochester ou semelhantes determinam risco de infecções bacterianas graves. Tem alta suspeita de síndrome viral com padrão sazonal típico: vírus sincicial respiratório e vírus influenza A no inverno, e enterovírus e parechovírus no verão e outono, mas pode haver uma doença bacteriana grave - E. coli, Streptococcus do grupo B, L. monocytogenes, Salmonella enteritidis, N. meningitidis, S. pneumoniae, H. influenzae tipo b e S. aureus. - pielonefrite é uma infecção bacteriana grave comum em lactentes do sexo masculino não circuncisados e em lactentes portadores de anomalias do trato urinário, causado pelo E. coli., Streptococcus do grupo B, e S. aureus. - se suspeita de meningite por anormalidade do LCR, incluir vancomicina para tratar S. pneumoniae resistente a penicilina. - lactentes febris com detecção de vírus tem risco baixo ou nulo de infecção bacteriana grave. - lactentes com 1-3 meses e fácies atípica são tratados segundo critérios laboratoriais e clínicos de baixo risco. - lactentes com 1-3 meses com febre, fácies atípica, anteriormente saudáveis, sem evidências de infecção de pele, tecidos moles, ossos, articulações ou ouvidos, com contagem de leucócitos periféricos (WBC) de 5.000-15.000 células/μL, contagem absoluta de neutrófilos segmentados < 1.500 células/μL e resultados normais do exame de urina e culturas (sangue e urina) negativas tem pouca probabilidade de ter infecção bacteriana grave. 1-3 meses Hemograma: <20.000 leucócitos/μL Urina: esterase leucocitária negativa LCR: contagem de leucócitos abaixo de 10 × 106/L Hemograma: <15.000 leucócitos/μL; segmentados: proporção de neutrófilos totais <0,2 Urina: <10 leucócitos/HPF; ausência de bactérias à coloração pelo Gram LCR: <8 leucócitos/μL; ausência de bactérias à coloraçãopelo Gram Radiografia de tórax: ausência de infiltrados Fezes: ausência de hemácias; leucócitos escassos a ausentes Hemograma: 5.000-15.000 leucócitos/μL; contagem absoluta de neutrófilos segmentados periféricos <1.500/μL CRITÉRIOS DE BOSTON - lactentes têm risco baixo se tiverem aparência de boa saúde, com exame físico normal e um cuidador passível de ser comunicado por telefone e com testes laboratoriais: PROTOCOLO FILADÉLFIA - lactentes têm risco baixo se tiverem aparência de boa saúde e um exame físico normal e com testes laboratoriais: DIRETRIZES DE PITTSBURGH - lactentes têm risco baixo se tiverem aparência de boa saúde e um exame físico normal e com testes laboratoriais: Layane Silva Exames complementares: procalcitonina, velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C-reativa, perfis de expressão de genes em microarranjos baseados no hospedeiro e contagem de leucócitos (detectam padrões de transcrição de RNA - bioassinaturas). - se houver deterioração clínica, realizar avaliação completa para sepse e administrar antibióticos intravenosos. - a avaliação do LCR deve ser realizada antes da administração dos antibióticos. Agentes causais: S. pneumoniae, N. meningitidis e Salmonella causam bacteremia oculta. Fatores de risco: temperatura ≥39 oC, contagem de leucócitos ≥15.000/μL e elevação da contagem absoluta de neutrófilos, neutrófilos segmentados, VHS ou PCR. Manifestações clínicas: estão relacionadas a fatores do hospedeiro e ao organismo nocivo, em geral, há sinais iniciais de infecção localizada grave. Principais infecções bacterianas: otite média, sinusite, pneumonia, enterite ITU, osteomielite e meningite. Tratamento: se não há sinais focais de infecção realizar a hospitalização e instituir terapia antimicrobiana após obter cultura de sangue, urina e LCR. Em geral, tem como causa infecções virais, mas podem haver infecções bacterianas graves causadas pelos mesmos patógenos para 1-3 meses, exceto infecções adquiridas no período perinatal. - a probabilidade de bacteremia e/ou pneumonia ou pielonefrite aumenta com o aumento da temperatura (>40oC) e da contagem de leucócitos (>25.000/μL). - se causada por penumococos pode remitir espontaneamente sem sequelas, persistir ou ocasionar infecção localizada como meningite, pneumonia, celulite, pericardite, osteomielite ou artrite supurativa. - bacteremia por Hib se associa com maior risco de infecção localizada grave, como meningite, epiglotite, celulite, pericardite ou infecção osteoarticular. - crianças entre 3-36 meses com temperatura <39oC e sem sinais de toxemia são observadas em regime ambulatorial, sem realização de testes diagnósticos ou administração de medicamentos antimicrobianos. - lactentes não toxêmicos com temperatura retal ≥39oC, deve-se obter hemocultura e administrar terapia antibiótica empírica (ceftriaxona, dose única de 50 mg/kg). - se contagem de leucócitos >15.000/μL, obter hemocultura e iniciar ceftriaxona empiricamente ou observar em regime ambulatorial sem terapia antibiótica empírica, com retorno para reavaliação dentro de 24h. - em crianças com aparência de boa saúde e < 36 meses que não tenham recebido as vacinas conjugadas para Hib e S. pneumoniae, com temperatura retal >39oC e contagem de leucócitos >15.000/μL, instituir terapia antibiótica empírica. - caso a criança pareça bem, afebril e exame físico normal, obter uma segunda hemocultura e tratar com 7-10 dias de terapia antimicrobiana oral. 3-36 meses - caso pareça doente e continue a ter febre sem nenhum foco de infecção identificável no acompanhamento ou se H. influenzae ou N. meningitidis estiver na hemocultura inicial, deve-se obter nova hemocultura, avaliar meningite (incluindo punção lombar) e receber tratamento antimicrobianos intravenosos no hospital. - caso a criança venha a apresentar uma infecção localizada, a terapia deve ser dirigida aos patógenos prováveis. LCR: 5 leucócitos/μL e ausência de coloração pelo Gram; no caso de punção com sangue, leucócitos: hemácias ≤1:500 Radiografia de tórax: ausência de infiltrados Fezes: 5 leucócitos/HPF com diarreia Hemograma: 5.000-15.000 leucócitos/μL; contagem absoluta de neutrófilos segmentados ≤1.500/μL Urina: <10 leucócitos/HPF a 40 × Fezes: <5 leucócitos/HPF em caso de diarreia CRITÉRIOS ROCHESTER - lactentes têm risco baixo se tiverem aparência de boa saúde e um exame físico normal e com achados laboratoriais: Crianças com febre documentada por profissional de saúde, cuja causa não foi identificada após 3 semanas de avaliação ambulatorial ou após 1 semana de avaliação no hospital. febre de origem indeterminada Abcessos: abdominais, cerebrais, dentários, hepáticos, pélvicos, perinefréticos, retais, subfrênicos, do psoas. Inclui infecções, doenças reumatológicas (do tecido conjuntivo ou autoimunes), doenças autoinflamatórias, doenças neoplásicas e febre por medicamento (considerar se o paciente estiver fazendo uso de medicação, é prolongada, não se associa a outros sintomas, é solucionada após 72 horas da suspensão do medicamento). etiologia Layane Silva Doenças bacterianas: actinomicose, Bartonella henselae (doença da arranhadura do gato), brucelose, Campylobacter, Francisella tularensis (tularemia), Listeria monocytogenes (listeriose), meningococemia (crônica), Mycoplasma pneumoniae, febre por mordedura do rato (Streptobacillus monilliformis, forma estreptobacilar da febre por mordedura do rato), Salmonela, tuberculose, doença de Whipple, yersiniose. Infecções localizadas: colangite, endocardite infecciosa, mastoidite, osteomielite, pneumonia, pielonefrite, sinusite. Espiroquetas: Borrelia burgdorferi (doença de Lyme), febre recidivante (Borrelia recurrentis), leptospirose, febre por mordedura do rato (Spirillum minus; forma espirilar da febre por mordida de rato), sífilis. Doenças por fungos: blastomicose (extrapulmonar), coccidioidomicose (disseminada), histoplasmose (disseminada), Chlamydia, linfogranuloma venéreo, psitacose. Riquétsias: Ehrlichia canis, febre Q, febre maculosa da Montanhas Rochosas, tifo transmitido por carrapatos. Vírus: citomegalovírus, vírus das hepatites, HIV, vírus Epstein-Barr. Doenças parasitárias: amebíase, babesiose, giardíase, malária, toxoplasmose, triquinose, tripanossomíase, Larva migrans visceral (Toxocara). Doenças reumatológicas: doença de Behçet, dermatomiosite juvenil, artrite idiopática juvenil, febre reumática, lúpus eritematoso sistêmico. Doenças de hiperssensibilidade: febre por medicamentos, pneumonite por hipersensibilidade, doença do soro, doença de Weber-Christian. Neoplasias: mixoma atrial, granuloma de colesterol, doença de Hodgkin, leucemia, linfoma, feocromocitoma, neuroblastoma, tumor de Wilms, pseudotumor inflamatório. Doenças granulomatosas: doença de Crohn, hepatite granulomatosa, sarcoidose, angeíte. Doenças familiares e hereditárias: displasia ectodérmica anidrótica, neuropatias autonômicas, doença de Fabry, disautonomia familiar, febre Hibernian familiar, febre mediterrânea familiar e doenças autoinflamatórias, hipertrigliceridemia, ictiose, crise falciforme, lesões da medula espinhal/cérebro. Diversas: doença de Addison, doença de Castleman, hepatite ativa crônica, neutropenia cíclica, diabetes insípido (nefrogênico ou não), febre factícia, síndromes hematofagocíticas, febre hipotalâmica-central, hiperostose cortical neonatal, doença inflamatória intestinal, doença de Kawasaki, doença de Kikuchi- Fujimoto, febre por vapores metálicos, pancreatite, síndromes de febre periódica, intoxicações, embolia pulmonar, tromboflebite, tireotoxicose, tireoidite. calafrios e picos febris repetidos são comuns em crianças com septicemia, principalmente se associada a doenças renais, hepáticas ou biliares, endocardite infecciosa, malária, brucelose, febre por mordedura de rato ou uma coleção localizada de pus. Crianças com > 6 anos: infecção respiratória ou ITU, infecção localizada (abscesso, osteomielite), AIJ ou, mais raramente, leucemia. Adolescentes: doença inflamatória intestinal, processos autoimunes, linfoma ou tuberculose.malária, histoplasmose e coccidioidomicose podem emergir anos após se visitar ou viver em área endêmica. artefatos de regiões geograficamente distantes que foram coletados e trazidos para o domicílio como lembranças podem servir como vetores de doenças. Origem genética: descendentes de escoceses de Ulster podem ter FOI por diabetes insípido nefrogênico, disautonomia familiar (síndrome de Riley-Day) comum em judeus, febre mediterrânea familiar, síndrome de hiperimunoglobulina D, síndrome periódica associada ao receptor para o fator de necrose tumoral e síndrome de Muckle-Wells. Detalhar a febre (início, frequência, duração, resposta à terapia, recorrência e sintomas associados), idade do paciente, exposição a animais selvagens ou domésticos, ingestão de carne de coelho ou esquilo (tularemia orofaríngea, glandular ou tifoide), histórico de picada de carrapato ou de viagem a áreas infestadas por carrapatos ou outros parasitas, ingestão de detritos (infecções por Toxocara canis ou Toxoplasma gondii), hábitos dietéticos fora do comum ou de viagem, imunizações profiláticas e precauções quanto à ingestão de água ou alimentos contaminados em viagens ao exterior, uso de medicações (preparações vendidas sem receita e medicamentos tópicos), origem genética. Anamnese detalhada Em geral, as febres de origem indeterminada resulta da manifestação atípica de doenças comuns, mas pode ser característica da doença, como na artrite idiopática juvenil. - Doenças infecciosas sistêmicas mais comuns: salmonelose, a tuberculose, doenças causadas por riquétsia, sífilis, doença de Lyme, doença da arranhadura do gato, manifestações clínicas atípicas prolongadas de doenças virais comuns, infecção pelo vírus Epstein-Barr, infecção por citomegalovírus (CMV), hepatite viral, coccidioidomicose, histoplasmose, malária e toxoplasmose. - Causas infecciosas mais raras: tularemia, brucelose, leptospirose e febre por mordedura de rato. - FOI com > 6 meses: doença granulomatosa, autoinflamatória ou autoimune. Requer anamnese, exame físico, testes laboratoriais iniciais e por outras avaliações laboratoriais e de imagens. diagnóstico Notar aparência geral da criança, sudorese durante a febre ou ausência contínua de suor se temperatura corporal elevada (desidratação devido a vômitos, diarreia ou diabetes insípido central ou nefrogênico, displasia ectodérmica anidrótica, disautonomia familiar ou exposição à atropina), atividade geral do paciente e a presença ou ausência de erupções cutâneas. Exame físico detalhado - Exame oftalmológico: olhos vermelhos e lacrimejantes (sinal de doença do tecido conjuntivo), conjuntivite palpebral (sarampo, infecção por coxsackievírus, tuberculose, mononucleose infecciosa, linfogranuloma venéreo ou doença da arranhadura do gato), conjuntivite bulbar (doença de Kawasaki ou leptospirose), hemorragias Layane Silva Oftalmoscópio: examinar anormalidades dos capilares ungueais que se associam a doenças do tecido conjuntivo (dermatomiosite juvenil e esclerodermia sistêmica). Disfunção hipotalâmica: indicada pela não ocorrência da constrição pupilar devido à ausência do músculo constritor do esfíncter do olho Disautonomia familiar: sugerida pela ausência de lágrimas, reflexo córneo-palpebral ausente ou língua lisa com ausência das papilas fungiformes. Sinusite: hipersensibilidade à percussão sobre os seios da face ou sobre os dentes superiores. candidose oral recorrente pode ocorrer em diversas desordens do sistema imune, envolvendo linfócitos T. reflexos tendinosos profundos exacerbados podem sugerir uma tireotoxicose. vesículas febris e síndromes febris periódicas ocorrem em infecções pneumocócicas, estreptocócicas, por malária e riquétsia - são comuns na meningite meningocócica, infecções por Salmonella ou por estafilococos. hiperemia da faringe, com ou sem exsudato, sugere infecção estreptocócica, infecção por vírus Epstein- Barr, infecção por CMV, toxoplasmose, salmonelose, tularemia, doença de Kawasaki ou leptospirose. hipersensibilidade pontual sobre um osso pode sugerir uma osteomielite oculta ou invasão da medula óssea por doença neoplásica. hipersensibilidade sobre o músculo trapézio pode indicar abscesso subdiafragmático. hipersensibilidade muscular generalizada sugere dermatomiosite, triquinose, poliarterite, doença de Kawasaki ou infecção por micoplasmas ou arbovírus. conjuntivais petequiais (endocardite infecciosa), uveíte (sarcoidose, AIJ, lúpus eritematoso sistêmico, doença de Kawasaki, doença de Behçet e vasculites), coriorrinite (CMV, toxoplasmose e sífilis), proptose (tumor orbital, tireotoxicose, metástases, infecção orbital, granulomatose de Wegener ou pseudotumor). - Alterações específicas: - Exame retal: pode revelar linfadenopatia ou hipersensibilidade perirretal, o que sugere abscesso pélvico profundo, adenite ilíaca ou osteomielite pélvica; perda sanguínea oculta pode sugerir colite granulomatosa ou colite ulcerativa. teste cutâneo para tuberculina deve ser efetuado pela introdução intradérmica de 5 unidades do derivado proteico purificado (PPD). estudos de imagens do tórax, seios paranasais, mastoides ou do trato GI podem ser indicados - o Rx do trato GI para doença inflamatória intestinal. exame da medula óssea pode revelar leucemia, neoplasia metastática, infecções por micobactérias, fungos ou parasitárias, histiocitose, hemofagocitose; ou doenças de depósito - deve acompanhar uma culturas para bactérias, micobactérias e fungos. testes sorológicos podem auxiliar no diagnóstico da infecção por vírus Epstein-Barr, CMV, toxoplasmose, salmonelose, tularemia, brucelose, leptospirose, doença da arranhadura do gato, doença de Lyme, doenças causadas por riquétsia e, em algumas ocasiões, AIJ. exames cintilográficos com radionuclídeos são úteis para detectar abscessos abdominais e osteomielites. ecocardiogramas podem demonstrar a presença de vegetação nos folhetos de valvas cardíacas, sugerindo uma endocardite infecciosa. ultrassonografia pode identificar abscessos intra- abdominais do fígado, espaço subfrênico, pelve ou baço. TC ou RM corporal total permitem a detecção de neoplasias e de coleções de material purulento, além de identificar lesões da cabeça, do pescoço, tórax, dos espaços retroperitoneais, fígado, baço, linfonodos intra- abdominais e intratorácicos, rins, pelve e mediastino. broncoscopia, laparoscopia, mediastinoscopia e endoscopia GI podem proporcionar a visualização direta e material de biópsia na presença de manifestações em órgãos específicos. contagem absoluta de neutrófilos <5.000/μL indica infecção bacteriana indolente que não a febre tifoide. contagem de leucócitos polimorfonucleares >10.000/ μL ou uma contagem de leucócitos polimorfonucleares não segmentados >500/μL indica infecção bacteriana grave. VHS >30 mm/h indica inflamação e necessidade de investigar doenças infecciosas, autoinflamatórias ou malignas, tuberculose, doença de Kawasaki ou doença autoimune. exame direto do esfregaço pela coloração de Giemsa ou de Wright pode revelar microrganismos causadores de malária, tripanossomíase, babesiose ou febre recidivante. hemoculturas são obtidas para microrganismos aeróbios. hemoculturas múltiplas ou repetidas podem detectar bacteremia associada a endocardite infecciosa, osteomielite ou abscessos profundos. bacteremia polimicrobiana sugere uma infecção factícia autoinduzida ou uma patologia gastrointestinal (GI). Avaliação inicial: hemograma completo com contagem diferencial de leucócitos e exame de urina. Avaliação complementar: Avaliação laboratorial medicamentos antimicrobianos não devem ser usados como antipiréticos e em geral se deve evitar ensaios empíricos de medicação. Deve ser ajustado ao diagnóstico subjacente, em geral, antipiréticos podem ser indicados após avaliação completa para controlar a febre associada a sintomas adversos. tratamento em muitos casos, a febre remite espontaneamente sem estabelecimento do diagnóstico. em até 25% das crianças em que a febre persiste, a causa não é esclarecida, mesmo após uma avaliação exaustiva.A evolução final numa criança depende do processo mórbido primário, que é geralmente a manifestação inicial atípica de uma doença comum da infância. prognóstico
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