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1 Eduarda Felsky XL - Semiologia SISTEMA CARDIOVASCULAR A área cardiovascular avançou muito devido ao diagnóstico precoce de doenças - redução de 70% da mortalidade em 50 anos – e ao aumento da sobrevida. Paradoxalmente ocorreu um aumento no número total de casos - novos diagnósticos que antes não eram percebidos. Brasil tem perfil cardiopata de país ocidental: dispilidemia, hipertensão arterial e diminuição de doenças infecciosas. O APARELHO CARDIOVASCULAR O coração é uma bomba muscular dividida em duas metades (direita e esquerda) por um septo longitudinal orientado obliquamente. É um sincício de m. liso que se contrai o tempo inteiro e não se cansa, a não ser que supere sua capacidade - mesmo em um coração normal. Há então uma limitação: para demanda excessiva. Contrai da ponta para base a fim de que o sangue não seja retido (efeito circular). A parte esquerda é mais espessa, já que trabalha com intuito de circulação sistêmica (alta pressão) e a parte direita trabalha para circulação pulmonar. Os átrios e ventrículos não se contraem juntos, sendo que possuem funções diferentes. Átrios recebem sangue das veias cavas e pulmonares. Já os ventrículos impulsionam para as artérias aorta e pulmonar. A única artéria que leva sangue venoso é a veia pulmonar, e a única veia que leva sangue arterial é a pulmonar. 2/3 do coração estão a esquerda da linha mediana. A pequena circulação e a grande circulação transitam em seus vasos a mesma quantidade de sangue, portanto a complacência dos vasos da pequena circulação é maior. Quanto maior a área de secção transversa menor a pressão (pressão na aorta maior que nos capilares). O coração é constituído de três camadas: epicárdio, miocárdio e endocárdio. O epicárdio é o pericárdio visceral, e possui uma superfície mesotelial e uma camada serosa de tecido conjuntivo. As artérias coronárias passam pelo pericárdio antes de atingir o miocárdio. Se juntando ao epicárdio, há o pericárdio parietal que é uma formação fibrosa e resistente, que formará junto com o visceral uma cavidade pericárdica preenchida com 10- 20mL de líquido, suficiente para lubrificar as superfícies de ambos os folhetos. O miocárdio é formado pelas fibras musculares cardíacas, sendo que sua espessura é proporcional ao trabalho executado pela câmara – ventrículos são mais espessos que os átrios, e ventrículo esquerdo é mais espesso que o ventrículo direito. O endocárdio é constituído por uma camada endotelial que confere ao coração no interior um aspecto liso e brilhante. A base do coração é formada pelos átrios, que ficam mais atrás e acima dos ventrículos. O átrio esquerdo é a estrutura mais posterior do coração, localizando-se à esquerda e atrás do átrio direito. O ápice corresponde a ponta do coração e é constituído pelo ventrículo esquerdo que mantem contato direto com o gradil costal ao nível do 5ºEIC. A face esternocostal é formada principalmente pelo ventrículo direito, constituindo a parte mais anterior do coração – crescimento do VD causa abaulamento da face anterior do tórax. A face esquerda é formada pelo 2 Eduarda Felsky XL - Semiologia ventrículo esquerdo, realizando uma impressão na face medial do pulmão esquerdo. A face diafragmática é formada por ambos os ventrículos, repousando sobre o centro tendíneo do diafragma. O tamanho, a forma e a posição do coração variam de indivíduo para indivíduo, dependendo da idade, respiração, biótipo e posição. Idade: coração das crianças é menor que de uma pessoa adulta, sua posição é mais transversal, fazendo com que a ponta fique um espaço intercostal acima. Respiração: na inspiração profunda o coração desce e gira a direita, ficando mais vertical e mais estreito – isso faz com que o batimento da ponta desloque-se para baixo e para dentro. Biótipo: em longilíneos o coração assume uma posição vertical, semelhante da inspiração profunda. Em brevelíneos o coração se horizontaliza e em normolíneos há uma posição intermediária. Posição do paciente: Deitado, o coração desloca-se para cima e para trás, ficando horizontalizado – elevação do diafragma. Em decúbito lateral direito o íctus desloca-se para trás. Aparelhos valvares: o coração possui quatro, sendo que no lado esquerdo há um atrioventricular (o mitral), e um ventrículo aórtico (o aórtico), e no lado direito há um atrioventricular (tricúspide), e um ventrículo pulmonar (bicúspide). As valvas atrioventriculares consistem em um anel fibroso que circunscreve o óstio AV, as válvulas, as cordas tendíneas e os músculos papilares – contraem e tensionam a válvula – evitam a eversão. Irrigação do coração: é irrigado pelas artérias coronárias direita e esquerda, originadas na aorta. Coronária direita nasce no seio aórtico direito dando o ramo marginal e interventricular posterior. A coronária esquerda nasce no seio aórtico esquerdo e divide-se em ramo circunflexo e no ramo interventricular anterior. Já a drenagem é feita por veias que desembocam diretamente nas câmaras cardíacas através das veias perfurantes, ou se unem para formar o seio coronário – tributário do átrio direito. Inervação do coração: é inervado por fibras nervosas autônomas que incluem fibras sensitivas oriundas dos nervos vagos e dos troncos simpáticos. Células ganglionares do parassimpático localizam-se nos átrios, próximas aos nós sinusal e atrioventricular. As fibras musculares destes nós são ricamente inervadas, mas as fibras musculares são desprovidas de terminações parassimpáticas já que são ativadas pelo sistema específico de condução. O sistema simpático atinge os nós e as fibras musculares. A inervação simpática ativa o sistema de comando, aumentando a frequência cardíaca e a contratilidade miocárdica. Formada do primeiro ao quarto segmento medular torácico, agindo sobre influência de adrenalina e noradrenalina. O sistema parassimpático é conduzido por ramos dos nervos vagos e agem na diminuição da frequência cardíaca, inibindo o comando de ativação. Age sobre a influência da acetilcolina. Sistema de condução: o estímulo se origina no nó sinusal – nó sinoatrial/Keith-Flack, e progride na direção do nó atrioventricular através dos feixes intermodais anterior, médio e posterior e na direção do átrio esquerdo através do feixe de Bachmann. O estímulo atinge então o nó atrioventricular/Ashoff-Tawara, onde sofre um atraso na transmissão atrial para que a contração atrial se complete antes da ventricular. Então percorre o feixe de Hiss em seus ramos direito e esquerdo para chegar as fibras de Purkinje. O coração possui propriedades fundamentais que são a: automaticidade/cronotropismo, excitabilidade/batmotropismo, condutibilidade/dromotropismo e contratilidade/inotropismo. 3 Eduarda Felsky XL - Semiologia Automaticidade: capacidade das células P gerarem estímulos espontaneamente sem necessidade de inervação extrínseca. O nó sinusal forma cerca de 60-100 bpm, mas caso haja lesão no sistema, a estação imediatamente abaixo assume, mas com comando menor. A junção atrioventricular gera frequências de 40 a 50, e na porção Hiss-Purkinje cerca de 40 bpm. Excitabilidade: propriedade das fibras iniciarem um potencial de ação em resposta a estímulo adequado. Condutibilidade: propriedade das fibras conduzirem e transmitem às células vizinhas o estímulo recebido. Contratilidade: capacidade do órgão responder ao estímulo elétrico com uma atividade mecânica – contração. A diástole compreende o relaxamento durante o qual o coração se enche de sangue (enchimento rápido, lento e contração atrial) enquanto a sístole é período de contração quando o coração envia sangue para o restante do corpo (ejeção rápida, e lenta). A duração total do ciclo cardíaco é compatível com a frequência cardíaca. A curva de Frank-Starling compara o tamanho do sarcômero com a capacidade de contração do miocárdio. Pode-seser que o sarcômero alcança potencial de contração máximo com comprimento de 2.2µm. Essa curva está relacionada com a pré-carga cardíaca, a qual diz respeito a tensão do músculo cardíaco quando o mesmo começa a contrair. A pós-carga corresponde à dificuldade enfrentada pelo ventrículo para ejetar o sangue para a aorta. Ela é aumentada em casos de arteriosclerose aórtica, o que geraria diminuição do débito cardíaco. Bulhas cardíacas 1ª bulha: é o fechamento das valvas mitral e tricúspide. No fim da diástole, os folhetos da valva mitral estão semi abertos, onde há sangue passando dos átrios para os ventrículos no período de enchimento ventricular lento. O nó sinusal irá emitir um estímulo que causará a contração atrial, impulsionando o restante do sangue para o ventrículo esquerdo – há uma redução do volume atrial e então aumento da pressão e as valvas se encontram bem abertas. Ocorre o enchimento do ventrículo, e o estímulo chega ao nó atrioventricular, contraindo (sístole começa aqui) a musculatura ventricular fazendo a pressão se elevar até que feche as valvas atrioventriculares – contração isovolumétrica. O fechamento da valva mitral precede o fechamento da valva tricúspide - a despolarização é um pouco antes. Coincide com o ictus córdis e o pulso carotídeo. O timbre é mais grave (tum) e tem maior intensidade no foco de ausculta mitral. 2ª bulha: ocorre pelo fechamento da valva aórtica e pulmonar, no final da sístole (fase de enchimento lento), quando tranca a válvula. Após o fechamento das valvas atrioventriculares na sístole, a pressão ventricular continua se aumentando até que supere a pressão intra aórtica e abra a valva aórtica. Há ejeção de sangue. Quando a 4 Eduarda Felsky XL - Semiologia pressão intra ventricular diminuir para menos do que a da aorta há um fechamento da valva aórtica e pulmonar, provocando a segunda bulha. Tem um timbre mais agudo (TÁ). O componente aórtico é audível em todo o precórdio. O componente pulmonar é mais audível no foco pulmonar e borda esternal esquerda alta. O componente aórtico precede o pulmonar. Ventrículo esquerdo despolariza antes do ventrículo direito, porém a valva pulmonar abre antes que a aórtica, já que tem que alcançar uma menor pressão para abrir – ejeção do ventrículo direito começa antes. Só que o componente aórtico alcança uma alta pressão de fechamento antes da pulmonar por ser mais calibrosa – ventrículo esquerdo completa a ejeção antes; Fechando as válvulas aórticas antes das pulmonares. Aí o componente aórtico vem antes do pulmonar. Isso é perceptível apenas na inspiração (desdobramento fisiológico da segunda bulha) – inspiração aumenta a negatividade da pressão torácica, determinando maior afluxo de sangue ao ventrículo direito e retardando a sístole do ventrículo direito, separando muito os componentes aórtico e pulmonar. SÃO FENOMENOS SISTÓLICOS 3ª bulha: É um ruído protodiastólico de baixa frequência que se origina das vibrações da parede ventricular subitamente distendida pela corrente sanguínea que penetra na capacidade durante o enchimento ventricular rápido. Ausculta-se normalmente em crianças, mas é auscultada de maneira patológica geralmente em casos de cardiomegalia. TUM TÁ TUM; 4ª bulha: Ocorre no fim da diástole ou pré-sistole, ouvido raramente em condições normais. Originada pela brusca desaceleração do fluxo sanguíneo pela contração atrial no final da diástole – comum em idosos. É um pouco antes de B1, TUM TUM TÁ SÃO FENOMENOS DIASTÓLICOS. ANAMNESE DO APARELHO CARDIOVASCULAR Terá importância todos os elementos de identificação, antecedentes pessoais e familiares, os hábitos de vida, condições socioeconômicas e culturais. Em relação a idade, nas crianças predominam as anomalias congênitas, dos 20 aos 50 a hipertensão arterial e acima dos 50 anos, doença arterial coronariana – infarto agudo do miocárdio. Profissões que exigem esforço físico intenso em alto índice de relação com a insuficiência cardíaca, e atividades que envolvem estresse emocional são fatores importantes no aparecimento de HAS e cardiopatia isquêmica. Nos antecedentes pessoais, as relações entre alimentação rica em lipídios e aterosclerose é importante, também tabagismo e álcool contribuindo em quadros de hipertensão. Observar o uso de drogas ilícitas, doenças prévias, medicamentos - alguns remédios agravam a condição, retém líquido (piora da IC), tratamentos recentes - tratamento dentário por exemplo pode causar uma bacteremia, endocardite bacteriana. Há alta influência dos fatores genéticos, principalmente na hipertensão arterial e cardiopatia isquêmica. Aterosclerose prematura, doença familiar. É muito importante, observar pai e mãe com infarto precoce por exemplo. Além do componente multifatorial para doenças coronarianas, o componente hereditário é muito importante e influente. Sinais e sintomas: se manifestam no funcionamento cardíaco mas podem ser originados em vários lugares além do coração. 5 Eduarda Felsky XL - Semiologia 1. Dor precordial: é um desconforto retroesternal ou dor, geralmente um sintoma de dor isquêmica, pericárdica e aórtica. Nem sempre é sinônimo de dor cardíaca, pois pode ter origem em outros órgãos. É uma dor nova, aguda e progressiva. Deve ser abordada de maneira adequada, nem sempre é um infarto e o manejo terapêutico pode prejudicar a condição – um anti coagulante utilizado em um IAM é fatal em casos de dissecção aórtica. Tem relação direta com o batimento do coração, podendo aliviar com determinadas posições. a. Dor na isquemia miocárdica: Tem origem isquêmica devido a hipóxia celular. A causa mais comum é aterosclerose coronária. Possui localização retroesternal, podendo ser restrita a uma pequena área ou ocupar todo o precórdio. A irradiação está relacionada com sua intensidade. A dor anginosa é quase sempre constritiva, como um aperto, peso, ou sufocação. A dor da angina de peito dura pouco tempo, na angina instável a dor é prolongada e no IAM há alterações necróticas que podem levar a dor por mais tempo. o IAM: dor localizada que pode sofrer irradiação característica para o pescoço e principalmente membro superior esquerdo. o Angina - dor de caráter humoral (angústia). A dor da angina é indistinguível do IAM porém apresenta relação com esforço físico e ou outra atividade e em geral alivia com nitrato. b. Dor de origem pericárdica: mais aguda do que a da angina de peito, localizada na região retroesternal junto da reborda esternal esquerda com irradiação para o pescoço e costas. Pode ser constritiva, peso, opressão ou queimação e ter grande intensidade. Costuma ser contínua, não ter relação com exercícios e se agravar com a respiração, decúbito dorsal ou movimentos como a deglutição e movimentação do tronco. Geralmente causada por atrito entre as membranas e rápida distensão do saco pericárdico. c. Dor de origem aórtica: A dissecção aórtica causa uma dor intensa com início súbito, localizada na região retroesternal ou face anterior do tórax com irradiação para o dorso - aorta ascendente, para o abdome médio (aorta descendente). d. Dor de origem psicogênica: Aparece em indivíduos com ansiedade ou depressão. Não está relacionada a exercícios e pode ser acompanhada de hipersensibilidade do precórdio, dispneia, palpitações, astenias. Geralmente aliviada com repouso, analgésicos, tranquilizantes e placebos. e. Outras localizações: Nos pulmões pode ser causada por TEP, irritação pleural, neoplasias... No músculo esquelético pode ocorrer traumas a parede torácica, tírax ou ombro, gerando dor reflexa no mediastino. No aparelho gastrointestinal, há a esofagite de refluxo, espasmo de esôfago, úlcera péptica e colecistite. 2. Dispneia: é uma sensação de respiração desconfortável. É um dos sintomas mais importantes dos portadores de cardiopatia, e pode ser subjetiva – quandosentida pelo paciente – ou objetiva quando é evidenciada pela taquipneia e pelo uso de musculatura acessória. É classificada em aguda e crônica, e pode ter diferentes causas. a. Aguda o Coração: isquemia miocárdica, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial grave, tamponamento pericárdico. Há tipicamente dispneia paroxística noturna: o paciente tem que sentar para conseguir respirar. o Pulmão: embolia pulmonar, pneumotórax, obstrução aguda de vias aéreas superiores, bronquite aguda e pneumonia. 6 Eduarda Felsky XL - Semiologia o Vias aéreas: obstrução, aumento do trabalho respiratório. Broncoespasmo, congestão (sensação de aperto ou constrição). b. Subaguda ou crônica o Doenças pulmonares o Doenças sistêmicas ou neurológicas: fadigas que podem ser confundidas com dispneia ou anemias que causam um déficit no funcionamento do miocárdica. o ICC: grau grave de insuficiência cardíaca, pode gerar edema agudo. Além disso, a dispneia pode ser classificada em tipos, como esforço, decúbito, paroxística noturna, periódica. A dispneia de esforço é a mais relacionada com insuficiência ventricular, quando o paciente executa exercício físico. Poderá ser então de pequenos, médios e grandes esforços. Os pacientes que apresentam falência ventricular esquerda, como no IAM, são os mais propensos a desenvolver um quadro de edema agudo do pulmão – aumenta pressão no átrio esquerdo, transmitindo as veias pulmonares, aumentando a pressão nos capilares pulmonares e provocando a transudação do líquido para o interstício. Além da dispneia do esforço na insuficiência ventricular esquerda, a dispneia periódica também é notadamente vista nas enfermidades cardiovasculares – causam quadros de hiperpneia, devido a diminuição da expansibilidade pulmonar, gerando fases de apneia que super estimulam o centro respiratório. A dispneia é um fator tão importante nos cardiopatas que é a principal referência da avaliação da capacidade funcional de acordo com os critérios da New York Heart Association. Classe I: Com doença cardíaca, mas sem limitação da atividade física. A atividade física ordinária não provoca dispneia, fadiga exagerada, palpitação nem angina do peito. Classe II: paciente com doença cardíaca com limitação leve da atividade física. Confortável ao repouso, mas em atividade física ocorre fadiga, ou dor torácica, ou dispneia, palpitação ou dor anginosa. Classe III: pacientes com doença cardíaca mas com marcada limitação da atividade física. Esforços de atividade física menores que o normal já causam fadiga, palpitações, dispneia ou angina. Classe IV: incapacidade a qualquer tipo de esforço, que leva ao desconforto. Pode estar presente até no repouso. 3. Palpitações: sensação de batimento cardíaco irregular ou anormal, batimento extra, fora do compasso. Pode ser decorrente de uma arritmia com ou sem doença cardíaca estrutural. São na verdade contrações cardíacas mais fortes e mais intensas, que podem ser lentas ou rápidas, rítmicas ou arrítmicas. Inclui toas as formas de taquicardia, pausas compensadoras, aumento do débito cardíaco, estados hipercinéticos... Podem ser normais, devido a exercício físico ou emoções. A avaliação das palpitações deve ser feita com base na frequência, ritmo, aparecimento e desaparecimento e relacionar com uso de substâncias como café, tabaco e drogas. Movimentos extra-sistólicos são confundidos com palpitações, são descritos geralmente como falhas, arrancos ou tremor, quando há sensação de que o coração deixa de bater – pausa compensadora. Devem ser observados se há sintomas associados: dor torácica, dispneia, tontura, síncope ou sudorese. 4. Outros sintomas a. Tosse não produtiva: tosse seca pode ser sintoma de congestão/insuficiência cardíaca, sendo seca e mais intensa à noite. Está frequentemente associada à dispneia. Nos aneurismas de aorta, pericardite e grande dilatação do átrio esquerdo podem gerar episódios de tosse por compressão brônquica, irritação do vago ou do ramo recorrente. 7 Eduarda Felsky XL - Semiologia b. Tosse expectorante: edema pulmonar agudo, acompanha expectoração espumosa de cor rósea. i. Hemoptise: Pode ocorrer no edema pulmonar agudo pois o líquido que inunda os alvéolos pode conter hemácias. Também pode ocorrer devido a ruptura de vasos endobronquiais dilatados na estenose mitral ou devido a necrose hemorrágica dos alvéolos nos infartos pulmonares. c. Fadiga, fraqueza... EXAME FÍSICO DO APARELHO CARDIOVASCULAR 1. Inspeção e palpação: Devem ser feitas juntas porque os achados são mais significativos quando analisados em conjunto. No exame físico serão analisados: Análise do íctus cordis (ponta do ventrículo esquerdo entrando em contato com a parede, em parte da sístole tem impulsão que pode ser vista, observada ou sentida). Análise dos batimentos ou movimentos visíveis ou palpáveis no precórdio. Precórdio é uma area quadrangular 2 cm a esquerda no terceiro espaço intercostal (linha hemiclavicular) - área subjacente ao coração. Palpação das bulhas, geralmente não percebidas, só quando há batimentos vigorosos. O choque da bulha é mais curto, diferente do íctus. Podem ser encontradas alterações em relação aos aspectos descritos acima: a. Abaulamento do precórdio: Pode indicar a presença de aneurisma da aorta (quando o abaulamento fica acima do 3ºEIC), cardiomegalia, derrame pericárdico ou alterações da própria caixa torácica. Em crianças, cuja parede é mais flexível, a dilatação e a hipertrofia do ventrículo direito deformam com facilidade o precórdio. Isso faz cm que cardiopatias congênitas e lesões valvares reumáticas sejam doenças que frequentemente causam abaulamento. b. Íctus córdis: A localização do íctus varia de acordo com o biótipo do paciente. Nos normolíneos fica no cruzamento da linha hemiclavicular esquerda com o 5ºEIC E. Em brevelíneos se desloca 2 cm para fora e para cima, e em longilíneos costuma estar no 6ºEIC. Mais facilmente visualizado em pessoas magras, e em pessoas obesas pode desaparecer à palpação. Em pacientes com DPOC onde há aumento do diâmetro a-p, a visualização também fica comprometida. O deslocamento do íctus irá indicar dilatação ou hipertrofia do ventrículo esquerdo: estenose aórtica, insuficiência mitral, HAS... Determina-se a extensão do íctus córdis a partir da palpação com polpas digitais – geralmente 1 a 2 polpas digitais. c. Intensidade: sensação de leve toque na parede. Quando está hipertrofiado, sentimos que ocupa uma maior parte da sístole e pode até bater com mais força, levantando a mão. A palpação do precórdio é feita com a mão espalmada para perceber essas impulsões, e depois com a ponta dos dedos. Caso haja dificuldade pede-se para o paciente deitar em decúbito lateral esquerdo, facilitando o achado do íctus - vai estar mais perto da parede. O ritmo já pode ser notado aqui, mas é melhor analisado na ausculta. 8 Eduarda Felsky XL - Semiologia d. Batimentos ou movimentos: além do íctus córdis, podem ser encontrados no precórdio batimentos visíveis ou palpáveis. Retração sistólica apical - em caso de hipertrofia do ventrículo direito, roda e vem para dentro. AO invés de impulso, ocorre uma retração da ponta. Levantamento do precórdio: ocorre também em hipertrofia do ventrículo direito, percebido na palpação, os dedos percebem uma impulsão devido a sobrecargas ventriculares direitas. Comum de algumas cardiomegalias. Choque valvar: em caso de bulhas hiperfonéticas - estão mais intensas. Hiperfonese de B1 - componente mitral da 1 bulha está fechando de mais intensa. Pulsações epigástricas: pode ser causado por aneurisma de aorta ou transmissão do batimento cardíaco através do diafragma. Quando é do VD percebe no apêndice xifóide. A palpação da aorta já é no epigastro. Pulso hepático; hepatomegalia pulsátil. É sinal de insuficiência tricúspide.Ventriculo D contrai, perfui sangue pra dentro do átrio, veias hepáticas, aumenta o fígado. Pulsação supra-esternal ou fúrcula esternal: pulsações nessa região estão na dependência do arco da aorta, quando muito intensas levam a suspeita da HAS, aneurisma da aorta, síndrome hipercinética. Frêmito: Vibrações produzidas no coração ou nos vasos. Ao encontrar um, devem ser descritas três características: localização, situação no ciclo e intensidade de uma a quatro cruzes. e. Pressão venosa jugular: o paciente deitado a 45º não deve apresentar turgência de jugular. Se há congestão ou insuficiência cardíaca começa a represar o sangue. Se for vísivel, até aproximadamente o ângulo da mandibula, está alterada. Pulso venoso julgar informa sobre a diástole: possui duas ondas, a onda a (depressão x), onda v (depressão y). Onda a é contração atrial - aumento súbito na pressão, repercurtindo nas veias jugulares. Depressão x, relaxamento atrial (contração isovolumétrica). Onda v na diástole é o enchimento do átrio que aumenta a pressão, e o y é o esvaziamento rápido quando abre a bicúspide e tricúspide. 2. Ausculta cardíaca a. Focos de ausculta: a demarcação de focos serve como pontos de referência para ter informações pertinentes sobre as valvas. Foco mitral: 5ºEIC esquerdo na linha hemiclavicular, corresponde ao íctus cordis. Se desloca em cardiomegalia. Foco pulmonar: 2ºEIC esquerdo, junto ao esterno. Local de análise de desdobramento da 2ª bulha. Foco aórtico: 2ºEIC direito, justaesternal. No 3º a 4º EIC direito é o melhor local para detecção de fenômenos de origem aórtica – foco aórtico acessório. Foco tricúspide: base do apêndice xifoide, ligeiramente a esquerda, antes do foco mitral. Os sopros gerados na área tricúspide são melhor percebidos na proximidade da área mitral. Há outras áreas de ausculta no precórdio além dos focos: 9 Eduarda Felsky XL - Semiologia Borda esternal esquerda: região entre área pulmonar e tricúspide. Borda external direita: vai do foco aórtico ao 5º EICD justaesternal. Mesocárdio: situado entre o foco tricúspide, mitral e aórtico acessório. Regiões infra e supra claviculares, direita e esquerda. Regiões laterais do pescoço: importantes para caracterização do sopro de estenose aórtica cuja irradiação segue a direção do fluxo ejetado pelo ventrículo esquerdo. Regiões interescápulovertebrais: na esquerda, há melhor ausculta do sopro de persistência do canal arterial. b. Semiotécnica: A ausculta deve ser feita em um ambiente adequado com o paciente e examinador bem posicionados. Diafragma é melhor para perceber sons de alta frequência. A campânula serve para sons de baixa frequência como as bulhas e o sopro da estenose mitral por exemplo. A ausculta deve ser feita nas posições deitada, sentada e em decúbito lateral esquerdo. A posição padrão é o decúbito dorsal esquerdo com a cabeça apoiada em um pequeno travesseiro ou sentado na beira do leito. Quando há hipofonese das bulhas ou se quer exacerbar os sons da base pede-se para o paciente que fique de pé e se debruce sobre a mesa do exame. Há manobras especiais utilizadas para melhor a ausculta cardíaca e tornar os sons mais nítidos, como a inspiração ou expiração forçada. c. Bulhas cardíacas 1ª bulha: fechamento das valvas mitral e tricúspide, sendo que o componente mitral antecede o tricúspide. Coincide com o íctus cordis e com o pulso carotídeo, possui timbre mais grave e tempo de duração maior que o da segunda bulha. É o TUM. 2ª bulha: constituída pelo fechamento das valvas aórtica e pulmonar, sendo que o componente aórtico é audível em toda a região precordial, e o pulmonar na área pulmonar. Por isso, no foco aórtico a 2ªbulha é sempre a única. Em condições normais o componente aórtico precede o pulmonar. Durante a expiração ambas se fecham sincronicamente, na inspiração devido ao prolongamento da sístole há um retardo do componente pulmonar – desdobramento fisiológico da segunda bulha. Timbre mais agudo, soa de maneira mais seca, é o TA. 3ª bulha: ruído protodiastólico de baixa frequência que se origina das vibrações da parede ventricular subitamente distendida pela corrente sanguínea que penetra na cavidade durante o enchimento ventricular rápido. Auscultada normalmente em crianças, bem audível no foco mitral. 4ª bulha: ruído débil no fim da diástole. Sistematização da ausculta 1. Reconhecer o ritmo e a frequência cardíaca – se houver arritmia, identifica-la 2. Se houver 3º ruído, distinguir ritmo de galope 3. Analisar características das bulhas 4. Identificar cliques, estalidos, sopros e atritos 5. Relacionar os achados da ausculta com afecções cardíacas 10 Eduarda Felsky XL - Semiologia d. Ritmo e frequência: havendo apenas duas bulhas, o ritmo possui dois tempos, ou seja é binário. Quando um terceiro som se torna audível, passa a ser um ritmo de três tempos – tríplice. TUM-TA-TU—TUM-TA- TU—TUM-TA-TU. A frequência é avaliada contando-se os batimentos durante um minuto – devem ser comparados com o pulso radial. A frequência normal é de 60 a 100 bpm, aumentando em exercícios físicos e diminuindo em estímulos vagais. Há algumas arritmias cardíacas mais comuns, reconhecidas pelo exame de pulso radial e ausculta. Taquicardia sinusal: FC >100. Há um ritmo organizado. Pode ocorrer por exacerbação do tono simpático ou redução do tono vagal. Patologicamente pode ser por causa da febre- um grau aumenta 10 bpm, hipertireodismo, anemia, insuficiência cardíaca. Bradicardia sinusal : FC >60. Pode ser exacerbação do tono vagal ou redução do simpático. Fisiologicamente ocorre no sono, ou treinamento físico intenso. Patologicamente, hipotireoidismo, hipertensão craniana. Parada sinusal: para de bater mais volta. Há falha em alguns batimentos. A frequência pode variar de acordo com a respiração, na fase inspiratória aumenta os batimentos e na expiratória diminui – variação da influência vagal. Ritmo juncional: ativado o ritmo pelo nó AV, a frequência fica em torno de 40 a 50 bpm. Ocorre em casos de isquemia, miocardite ou uso de drogas. Extrassístole: sístoles extras, resultam de estímulos em focos ectópicos. São prematuras, ocorrendo antes da sístole normal. Quanto mais precoce, mais hiperfonética fica a primeira bulha. Paciente sente a palpitação na pausa compensadora. Há diferenças morfológicas no ECG e também de malignicidade. Podem ser isoladas ou agrupadas - agrupadas são piores. Quando a cada batimento normal existe uma extrasístole - bigeminismo. Uma Extrassístole a cada duas sístoles denomina-se trigeminismo. Quando há três sístoles sucessivas denomina-se extrassístole em salva. Acima de três é taquicardia não sustentada. Podem ser ainda monomórficas ou polimórficas. Tem causas cardíacas, extracardíacas ou medicamentosas. I. Supraventriculares: foco surgiu dos átrios ou na junção atrioventricular. São geralmente mais benignas que as ventriculares II. Ventriculares: São mais malignas, pois podem degenerar em arritmia maligina. Nos átrios há o nó AV que segura, nos ventrículos não - há perda de controle. Taquicardia paroxística: Ao surgir um foco ectópico ativo de localização supraventricular ou ventricular com estímulos de 150 a 200 bpm o coração é comandado por ele. Tem um início e término súbitos. Pode ocorrer palpitação, baixo débito cardíaco e restrição diastólica. Bloqueios átrio-ventriculares: dificuldade ou impossibilidade do estímulo iniciado no nó sinusal chegar aos ventrículos (junção AV/sistema Hiss Purkinje). O estímulo que provocará a despolarização ventricular é oriundo das proximidades do nó atrioventricular ou mais abaixo, mantendo uma frequência lenta – cerca de 30-40 bpm. É uma bradicardia, com ruído em canhão, ondas “a” gigantes (a tricúspide não está aberta por completo, fazendo com que hajaretorno venoso) Stoke Adams: hipofluxo cerebral por bradicardia. Elevação da pressão arterial Isquemia, cardiomiopatias, miocardite, drogas. I. Bloqueio AV 1º grau: atraso AV (freqüência normal) assintomático. Primeira bulha hipofonética, intervalo PR prolongado. II. Bloqueio AV 2º grau: há problemas na condução dos átrios para os ventrículos. Mobitz tipo I (wenckebach), ,mobitz tipo II : avançado. III. Bloqueio AV 3º grau (completo) nenhum estímulo passa. Bloqueio de ramo: caracterizam-se pela ocorrência de retardo ou impossibilidade de condução do estímulo ao nível dos ramos direito ou esquerdo do Feixe de His. Quando ocorre apenas retardo, 11 Eduarda Felsky XL - Semiologia o bloqueio é chamado de incompleto, mas quando há impossibilidade de passagem denomina-se bloqueio completo do ramo – nesse caso o estímulo é conduzido pela própria musculatura, gerando um atraso na despolarização do ventrículo correspondente ao ramo bloqueado. As causas mais comuns desse bloqueio são a doença de Chagas e a cardiopatia isquêmica. Fibrilação atrial: a atividade do nó sinoatrial é substituída por estímulos nascidos na musculatura atrial em uma frequência de 400 a 600 bpm. Não existem contrações atriais, somente movimentos irregulares. Há uma barreira ao nível da junção que impede a chegada desses estímulos aos ventrículos, caso contrário seria incompatível com a vida. Há completa irregularidade também no pulso radial, gerando um déficit de pulso onde o número de pulsações radiais é menor do que a frequência cardíaca pois não há tempo para enchimento dos ventrículos. As causas mais comuns são estenose mitral, cardiopatia isquêmica. Flutter atrial: arritmia mais organizada. Etapa intermediária antes de aparecer a fibrilação. Flutter ventricular: possui foco ventricular, semelhante a uma parada cardíaca. e. Ritmos tríplices: a adição de uma terceira bulha às duas bulhas normais transforma o ritmo binário em um ritmo de três tempos. Esse 3º ruído ocorre na diástole, protodiastólico (enchimento rápido do coração) Pode ser patológica em casos de dilatação do coração. E a 4ª bulha ocorre em período de pré-sistole (telediastólico) – pode ser insuficiência cardíaca sistólica, coração hipertrofiado e isquêmico com menos complacência. Ritmo de galope: aplicável ao ritmo tríplice por 3ª bulha patológica: PA-TA-TA—PA-TA-TA—PA-TA- TA. Melhor audível quando apoia-se a campânula sobre a parede torácica, na ponta do coração ou junto à borda esternal com o paciente em decúbito lateral esquerdo – área tricúspide. O galope ventricular é o ritmo por 3ª bulha patológica associado a taquicardia. Já o ritmo de galope de soma corresponde há uma elevação da frequência que funde a terceira e a quarta bulha por encurtamento do período diastólico. Pode ser um galope atrial é a transformação do ritmo tríplice pela presença de uma 4ª bulha em ritmo de galope. O ritmo da 3ª bulha fisiológica pode ser reproduzido por: TUM-TA-TU—TUM-TA-TU—TUM-TA-TU. f. Alterações da primeira bulha cardíaca: modificações de intensidade, timbre, tonalidade, desdobramentos e mascaramento. Intensidade da 1ª bulha: avalia-se sua intensidade no foco mitral e tricúspide pois essas valvas são os principais componentes de sua formação. A posição das valvas, os níveis de pressão, a velocidade de subida da pressão intraventricular e a condição anatômica das valvas influi na intensidade – quanto mais baixos estiverem os folhetos, maior o caminho a percorrer para fechar e mais intenso o ruído: hiperfonese. Hiperfonese: espaço PR é curto. Condições que levam à diminuição do enchimento ventricular como taquicardia, contrações prematuras fazem com que a contração se inicie quando as valvas se encontram baixas. Casos de pressão intra-atrial elevada como na estenose, fazem com que as valvas se afastem mais gerando um ruído mais intenso. Quando a valva mitral está lesada com fibrose no aparelho orovalvar, há aumento da intensidade e também tonalidade aguda e timbre metálico. Após exercício físico, ocorre hiperfonese devido ao fechamento mais rápido das valvas. As bulhas são mais audíveis em pessoas magras ou crianças. Hipofonese: espaço PR longo, a contração ocorre com as valvas em posição semifechadas. Em casos de velocidade diminuída de aumento da pressão ventricular como na insuficiência ou IAM, há hipofonese. Caso haja diminuição da força de contração como em um choque o fechamento é mais lento gerando também hipofonese. As bulhas são de difícil audição em pessoas obesas. Quando a valva está calcificada na estenose, pode haver diminuição da intensidade; 12 Eduarda Felsky XL - Semiologia Fibrilação atrial: ora a intensidade é hiperfonética ora hipofonética, pois há um variável enchimento dos ventrículos – delirium cordis. Timbre e tonalidade: na estenose as valvas se tornam rígidas devido a fibrose, causando um ruído de tonalidade aguda e timbre metálico em seu fechamento. Desdobramento: principalmente em crianças e jovens há desdobramento da primeira bulha na área mitral devido a um discreto assincronismo na contração dos ventrículos. Mascaramento da primeira bulha: pode ocorrer quando há um sopro sistólico com regurgitação que tem início junto com a primeira bulha. g. Alterações da segunda bulha: Intensidade da 2ª bulha cardíaca: deve ser analisada nas áreas aórtica e pulmonar. Vai influenciar aqui a posição das valvas no início do seu fechamento, suas condições anatômicas, os níveis tensionais na circulação sistêmica e pulmonar e as condições relacionadas à transmissão. Quanto maior a distância percorrida, maior o ruído. Condições anatômicas das valvas: valvas calcificadas por fibrose produzem ruídos de pequena intensidade por se movimentarem muito pouco (hipofonese). Níveis tensionais aumentados: as cúspides fecham-se com mais força gerando hiperfonese da área correspondente. Ocorre na HAS e hipertensão pulmonar. Desdobramento da 2ª bulha: o patológico pode ser de origem mecânica ou elétrica. Ao invés de TUM-TA, escutá- se algo como TUM-TLA. Bloqueio do ramo direito do feixe de his: desdobramento constante e variável faz com que o estímulo chegue atrasado ao lado direito, provocando um assincronismo eletromecânico na contração dos ventrículos. Em consequência o fechamento se retarda, traduzido pelo desdobramento constante se acentuando na inspiração profunda. Aumento de fluxo de sangue para o ventrículo: como em uma comunicação interatrial, demora mais tempo para o ventrículo esvaziar. Como consequência as valvas pulmonares se fecham após as aórticas atrasando o componente pulmonar. Há uma duração fixa entre os dois componentes, independente da respiração, causando um componente fixo. Bloqueio do ramo esquerdo do feixe de his: causa um desdobramento invertido/paradoxal. Aparece durante a expiração – fisiológico aparece na inspiração. Em condições normais o componente aórtico precede o pulmonar, e quando há bloqueio do ramo esquerdo do feixe o estímulo alcança o miocárdio ventricular esquerdo depois da ativação ventricular – contração direita se faz antes da esquerda, fazendo o componente aórtico aparecer depois do pulmonar. Na inspiração, como a mais aporte de sangue ao ventrículo direito, retarda a sístole e portanto os componentes se fecham juntos. h. Estalidos: são ruídos curtos de alta frequência, melhor auscultados com a campânula. Podem ser sistólicos ou diastólicos. Diastólicos: podem ocorrer na estenose das valvas mitral e tricúspide e mais raramente na insuficiência mitral. É sempre patológico, mais precoce, tem um timbre metálico e seco. I. Estalido de abertura mitral: ocorre no início da diástole e não possui ruído quando a valva está normal. Na estenose mitrla, devido a modificações anatômicas, pode ocorrer um ruído seco, agudo e de curta duração. É mais audível com o paciente em decúbito lateral esquerdo. Não deve serconfundido com a segunda bulha desdobrada ou com a 3ª bulha. Há algumas diferenças: o desdobramento é mais percebido na área pulmonar, enquanto o estalido na área mitral. O timbre do estalido é mais agudo e seco que a 2ª bulha. A 3ª bulha possui tonalidade baixa, o estalido tonalidade aguda. A 3ª bulha é mais audível na ponta do coração e o estalido em outras regiões. O estalido fica depois da 2ª bulha e antes da 3ª. Sistólicos: ocorrem depois de B1 e antes de B2. 13 Eduarda Felsky XL - Semiologia I. Protosistólico: ruídos de ejeção nos vasos da base, são ruídos de alta frequência, agudos e intensos produzidos na artéria pulmonar e a aorta. Podem ser encontrados em hipertensão pulmonar severa, estenose aórtica, insuficiência aórtica, dilatação. Ocorre logo depois de B1. II. Mesossistólicos e telessistólicos: Ocorre entre B1 e B2, é um ruído de alta frequência, seco, agudo, situado no meio ou fim da sístole, audível nas áreas motral ou tricúspide. Chamado de clique mesossistólico - PVM : prolapso da valva mitral. TUM CLIQUE TÁ. i. Sopros: vibrações produzidas por alteração (turbulência) no fluxo sanguíneo. É auscultado, quando é palpável chamamos de frêmito. Pode ser causado pelo aumento da velocidade da corrente sanguínea, diminuição da viscosidade sanguínea, passagem de sangue por uma área estreitada ou dilatada, passagem de sangue por membrana de bordo livre. Mais de um desses mecanismos influencia na formação do sopro e de sua intensificação. Aumento da velocidade da corrente sanguínea: causa aumento da turbulência, gerando sopros. Típico da anemia, exercício e síndrome febril Diminuição da viscosidade sanguínea: a viscosidade exerce efeito amortecedor sobre a turbulência. Os sopros anêmicos se devem principalmente a diminuição da viscosidade e consequente aumento da turbulência. Passagem de sangue por uma área estreita: o fluxo fica turbilhonar, produzindo sopros. Típico de defeitos valvares e anomalias congênitas. Passagem de sangue por zona dilatada: ocorre em aneurismas, o fluxo sofre alterações, hiperfluxo. Passagem de sangue por membrana de borda livre: originam-se vibrações que se traduzem com sopros. Na maioria dos sopros há mais de um mecanismo que está gerando a vibração, ou está intensificando. Os sopros devem ser caracterizados de acordo com alguns itens. Classificação de acordo com a situação no ciclo cardíaco Sistólicos: ocorrem entre B1 e B2, e podem ser classificados em ainda dois tipos: o Sistólico de ejeção: São causados por estenose da valva aórtica ou pulmonar, e se originam durante o período de ejeção ventricular. Ocorre após a B1, crescendo e decrescendo, temrina antes d B2 pois não há mais passagem de sangue. O sangue está indo para uma área, sofrendo resistência. TUM SHHH TÁ. o Sistólico de regurgitação: sangue vai de lugar de alta pressão para de baixa pressão - o sangue está voltando, fica regurgitando durante toda a sístole, só para quando acaba a contração ventricular. Ocorre na insuficiência mitral, tricúspide ou na CIV (comunicação interventricular). É audível desde o início (holossistólico), envolve a primeira bulha. TUF TÁ. 1. Qual o foco onde o sopro é mais audível? 2. Qual sua irradiação? 3. Em que momento do ciclo ele ocorre? 4. Qual sua intensidade? Resolução: o que a válvula em questão devia estar fazendo no momento do sopro? O que ela está fazendo? 14 Eduarda Felsky XL - Semiologia Diastólico: entre a B2 e a B1. Sempre são patológicos. Aparecem durante a diástole e podem ser classificados também quanto ao período da diástole. Ocorrem em dois grupos de afecções: estenoses mitral e tricúspide ou insuficiência da valva aórtica e pulmonar. o Mesodiastólico : estenose atrioventricular (mitral e tricúspide). É um sopro rude, que ocupa o momento do enchimento rápido dos ventrículos. Pode sofrer prolongamento e ser reforçado no fim da diástole ou pré-sistole. Há um intervalo entre a 2ª bulha e esse sopro o Protodiastólico: ocorrem logo no começo da diástole. Insuficiência aórtica ou insuficiência pulmonar. No momento em que a valva aórtica fecha, ela não veda, deixado passar sangue, fazendo com que o sangue retorne ao ventrículo. TUM TAFF. Logo depois da segunda bulha, semelhante a um eco. Começa intenso e então diminui quando as valvas AV se abrem e aumentam a pressão do ventrículo. o Sisto-diastólico ou contínuos: é o mesmo sopro. Ocorre quando há comunicação entre aorta e artéria pulmonar. Como a pressão na aorta é maior que na artéria pulmonar, a passagem de sangue continua na sístole e na diástole. (PCA). Rumor venoso: sopro sisto diastólico normal em adolescentes, some quando as pessoas deitam. Sua característica é baixa intensidade. Classificação de acordo com a localização: onde é mais audível - focos de ausculta. Classificação de acordo com a irradiação: locais de diminuição de intensidade. Em que direção ele persiste. Há dois fatores que influenciam na irradiação de um sopro: sua intensidade e a direção da corrente sanguínea. O sopro da estenose aórtica se irradia para os vasos do pescoço porque o sangue que flui pela valva aórtica se dirige naquela direção. O sopro da insuficiência mitral se propaga para a xila pois o átrio esquerdo situa-se acima e atrás do ventrículo esquerdo. Classificação de acordo com a intensidade: é subjetivo e depende de vários fatores como em relação à transmissão das vibrações, velocidade do fluxo e volume de sangue que passa pelo local. + baixa intensidade ++ intensidade moderada. Sopro nítido +++ sopro intenso sem fremito ++++ intenso com fremito +++++ muito intenso com fremito +++++ 6 cruzes: ausculta-se sem o esteto Classificação de acordo com o timbre e tonalidade: estão relacionadas com a velocidade do fluxo e o tipo de defeito causador do turbilhonamento sanguíneo. Usam-se várias denominações: suave, rude, musical, aspirativo, em jato de vapor, granuloso, piante e ruflar. O ruflar é típico da estenose mitral, que lembra o bater das asas de um pássaro. O da insuficiência cardíaca recebeu o nome de aspirativo por lembrar o ruído obtido ao fazer-se aspiração com a boca. Classificação em relação com a respiração (resumo da Tati) : com a manobra de Rivero-Carvallo diferencia-se o sopro da insuficiência tricúspide ao da insuficiência mitral = com o paciente em decúbito dorsal coloca-se o receptor do estetoscópio na área tricúspide, em seguida, solicita-se ao paciente fazer uma inspiração profunda, se não houver alterações ou se o sopro diminuir de intensidade, diz-se que a manobra é negativa, então o sopro audível naquela área é apenas propagação de um sopro originado na valva mitral; na inspiração profunda, há aumento da negatividade intratorácica, propiciando maior afluxo de sangue ao coração direito, então haverá 15 Eduarda Felsky XL - Semiologia maior refluxo de sangue para o átrio direito durante a sístole, intensificando o sopro; nas lesões aórticas o sopro se torna mais audível se o paciente fizer uma expiração forçada. Relação com a posição (resumo da Tati): os sopros da base do coração tornam-se mais audíveis estando o paciente sentado com o tórax fletido para frente; o ruflar diastólico da estenose mitral fica mais intenso no decúbito lateral esquerdo; o rumor venoso aumenta de intensidade na posição sentada ou de pé, diminuindo ou desaparecendo quando o paciente se deita. Relação com exercício (Resumo da Tati): determina intensificação do sopro. Sopros inocentes: existe um sopro, porém ele não traduz alteração estrutural do coração; mais comum em crianças; Atrito Pericárdico (Resumo da Tati): é um ruído provocado pelo roçar de folhetos pericárdicos que perderam suas características normais; a causa mais frequente é a pericardite; não mantém relação fixa com o ciclo cardíaco, podendo ser ouvido na sístole e nadiástole; ausculta-se mais frequentemente entre a ponta do coração e aborda esternal esquerda; não ocorre irradiação; mudança de posição pode alterar a intensidade; timbre e tonalidade variáveis; mutabilidade.
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