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1 Gabrielle Nunes | P3 | 2020.2 [SEMIOLOGIA.CARDIOVASCULAR] INSPEÇÃO CARDIOVASCULAR Quais os parâmetros que devem ser analisados? Pesquisa de abaulamento, análise do ictus cordis ou choque da ponta, análise de batimentos ou movimentos visíveis ou palpáveis e pesquisa de frêmito cardiovascular. ABAULAMENTOS Realizar a observação do precórdio em duas incidências: tangencial e frontal. Abaulamentos na área precordial podem indicar a ocorrência de aneurismas da aorta, cardiomegalia, derrame pericárdico e alterações da própria caixa torácica. • Em crianças, abaulamentos são mais comuns pelas características da parede torácica (+ flexível): Cardiopatias congênitas. Abaulamento osteomuscular X cardiovascular: Abaulamentos de cardiovascular são pulsáteis, enquanto que alterações na caixa torácica não. EXAME DO ICTUS CORDIS CONCEITO: choque da ponta (maior do VE) ou impulso apical é o local da parede torácica onde se pode palpar o pulsar do coração. Pode ou não estar palpável e visível. LOCALIZAÇÃO: 4º ou 5º espaço intercostal esquerdo em decúbito dorsal ou lateral, na linha médio-clavicular (LMC) • Mediolíneos: Cruzamento da linha hemiclavicular com o 5º espaço intercostal • Brevilíneo: Fica no 4º espaço intercostal • Longilíneos: 6º espaço, 1 ou 2 cm para dentro da linha hemiclavicular.; o caração fica um pouco mais verticalizado. INVISÍVEL E IMPALPÁVEL Portadores de enfisema (tórax em tonel); obesidade; musculatura muito desenvolvida; grandes mamas; Quando não for possível palpar colocar o paciente em decúbito lateral e pedir para o paciente expirar. DESLOCADO Dilatação e/ou hipertrofia do VE; Estenose aórtica; insuficiência aórtica, insuficiência mitral, HAS, miocardiosclerose, miocardiopatia e cardiopatias congênitas. EXTENSÃO: Avalia-se a extensão procurando determinar a quantidade de polpas digitais necessárias para cobri-lo. • Normalmente tem 1 ou 2 polpas digitais • Hipertrofia ventricular excêntrica: 3 polpas ou mais • Grandes dilatações: Palma da mão; dilatações sem hipertrofia. Hipertrofias cardíacas: Concêntrica (aumento do volume das fibras p/ dentro da câmara cardíaca, redução de cavidade) e excêntrica (o aumento do volume de massa e aumento das câmaras cardíacas); MOBILIDADE: Avalia-se as mudanças de posição o ictus com o paciente em decúbito dorsal e decúbito lateral. Em condições normais, o choque se descola de 1 a 2 cm com a mudança de posição. • Na presença de sínfise pericárdica (calcificação dos folhetos do pericárdio, impede o bombeamento ideal) o ictus não se desloca. INTENSIDADE: impulsivo ou pouco impulsivo. Melhor avaliado pela palpação, para realiza-la deve-se repousar a palma da mão sobre a região dos batimentos. • Mais forte em pessoas mais magras e após atividades físicas ou qualquer situação que provoque aumento na atividade cardíaca. ANÁLISE DOS BATIMENTOS PÁLPAVEIS Além do ictus cordis, podem ser encontrados no precórdio e outras áreas vizinhas outros batimentos visíveis ou palpáveis como: Retração sistólica: hipertrofia direita. É uma retração, em vez do impulso, durante a sístole. Levantamento da massa do precórdio ou impulsão sistólica: hipertrofia de VD; Choque valvar: quando as bulhas se tornam hiperfonéticas e podem ser sentidas pela mão. Pulsação epigástrica: Pode ser fisiológico, indicar uma hipertrofia de VD (Pulsações no ângulo xifoesternal) ou pulso hepático (problemas na tricúspide) Pulsação supraesternal: Fisiológico ou podendo indicar HAS, esclerose senil da aorta, aneurisma da aorta; FRÊMITO CARDIOVASCULAR Sensação tátil determinada por vibrações produzidas no coração ou nos vasos. Importante avaliar três características: • Localização: usar como referência as áreas de ausculta ICTUS CORDIS DIFUSO: Sua área corresponde a três ou mais polpas digitais; dilatações; ICTUS CORDIS PROPULSIVO: Quando a mão que o palpa é levantada a cada contração; hipertrofia; 2 Gabrielle Nunes | P3 | 2020.2 • Situação do ciclo cardíaco: comparação com o ictus cordis ou o pulso carotídeo, diferenciando em frêmitos sistólicos, diastólicos e sistodiastólicos • Intensidade: avaliada em cruzes (+ a ++++) Frêmitos correspondem aos sopros. AUSCULTA CARDÍACA REVISÃO OBJETIVA DO CICLO CARDÍACO CICLO CARDÍACO Contração atrial > Sístole ventricular > Diástole ventricular A duração do ciclo é recíproca da frequência cardíaca: se a FC é 72bpm, a duração corresponde à 1/72 ou 0,8333 segundos. SÍSTOLE (FASE SISTÓLICA) Período de contração isovolumétrica: - Ejeção ventricular rápida - Ejeção ventricular lenta - Protodiástole de Wiggers: prenuncio da diástole. DIÁSTOLE (FASE DIASTÓLICA) Período de relaxamento isovolumétrica Enchimento ventricular rápido Enchimento ventricular reduzido Período de contração atrial A artéria coronária é a única artéria que é suprida durante a diástole ventricular, na fase de relaxamento isovolumétrico. Ritmo sinusal: Quando o potencial ação é iniciado no nodo sinoatrial, manifestação na onda P do ECG. > Nodo atrioventricular (atraso na transmissão)> feixes AV e fibras de Purkinje (contração ventricular) > esvaziamento dos ventrículos FOCOS DE AUSCULTA CARDÍACA Em uma ausculta cardíaca correta, todo o precórdio e as áreas circunvizinhas, incluindo a região axilar esquerda, o dorso e o pescoço, precisam ser auscultados. FOCOS: São pontos de referência porque são regiões em que se encontram informações mais pertinentes às respectivas valvas. Mas isso não quer dizer que os focos correspondam a localização das valvas que lhes dão os nomes. FOCOS DESCRIÇÃO FOCO MITRAL - 5º espaço intercostal esquerdo na linha hemiclavicular (Ictus Cordis) Percepção de fenômenos esteatoacústicos- alterações de bulhas, estalidos, sopros- originados em uma valva mitral esteanótica e/ou insuficiente. FOCO PULMONAR - 2º espaço intercostal esquerdo, junto ao esterno Percepção da 2º bulha pulmonar (características fisiológicas e patológicas) ÚNICO FOCO P/ AUSCULTAR FÊNOMENOS ACÚSTICOS NAS VALVAS PULMONARES FOCO AÓRTICO 2º espaço intercostal direito, justaesternal; FOCO AÓRTICO ACESSÓRIO Algumas manifestações aórticas podem ser melhores analisadas no FOCO AÓRTICO ACESSÓRIO, no 3º e 4º EIE próximo ao esterno. FOCO TRICÚSPIDE Base do apêndice xifoide, ligeiramente p/ a esquerda. Percepção de fenômenos acústicos na valva tricúspide são mais percebidos nas proximidades da área mitral. Demais áreas que também fazem parte da ausculta cardíaca: bordas esternais esquerda e direita, mesocárdio, regiões infra e supraclaviculares, regiões laterais do pescoço e regiões interescapulovertebrais. OBJETIVOS DA AUSCULTA DO CORAÇÃO PONTOS A SEREM CONSIDERADOS: bulhas cardíacas, ritmo e frequência cardíaca, ritmos tríplices, alterações das bulhas cardíacas, cliques ou estalidos, sopros, ruído da pericardite constritiva, atrito pericárdico e rumor venoso. BULHAS CARDÍACAS Não é possível auscultar a abertura das válvulas pois é um processo que se desenvolve com relativa lentidão e não produz sons. No entanto, auscultamos o fechamento dessas Valvas atrioventriculares: → Tricúspide (D) → Mitral (E) Valva da aorta Valva do tronco pulmonar 3 Gabrielle Nunes | P3 | 2020.2 valvas pela vibração dos folhetos e líquidos circundantes nesse momento. PRIMEIRA BULHA Fechamento das valvas mitral (M) e tricúspide(T) → Componente M antes do T. Podem ser observados separadamente sem significado patológico. Porque? A lado esquerdo tem uma maior quantidade de fibras elétricas, então recebe a informação um pouco antes; Coincide com o ictus cordis e com o pulso carotídeo. “TUM”: Duração um pouco maior Em condições normais, tem mais intensidade no foco mitral,sendo mais forte que a segunda bulha. SEGUNDA BULHA É constituída de quatro grupos de vibrações, mas só são audíveis as vibrações originadas pelo fechamento das valvas aórticas e pulmonar. → Componente aórtico sendo auscultado em toda área precordial e o componente pulmonar apenas no foco pulmonar e na borda esternal esquerda. → Quando o paciente faz uma inspiração profunda você consegue separar os componentes da segunda bulha. → Componente aórtico vem antes do pulmonar Vem depois de um pequeno silêncio, seu timbre é mais agudo, soa de maneira mais seca, de modo que é designada a expressão “TA” É mais intensa nos focos da base (aórtico e pulmonar). RITMO E FREQUÊNCIA CARDÍACA Frequência cardíaca: Número de batimentos por minuto. Para determinar a FC, conta-se 1 minuto inteiro. • FC normal: 60-100 bpm • Bradicardia < 60bpm • Taquicardia > 100 bpm Ritmo: binário (havendo apenas duas bulhas, B1 e B2) ou ritmo tríplice (quando se torna audível um 3º ruído, B3 ou B4). Ritmo de galope: Geralmente associado à patologia ▪ Ventricular- presença de B3 ▪ Atrial- presença de B4 ▪ De soma- presença de B3 e B4 OBS: ritmo cardíaco pode apresentar arritmias, sendo a principal encontrada na ausculta o ritmo de galope (PA-TA- TA), em que o ritmo cardíaco imita o som semelhante ao galopar de um cavalo devido a B3 patológica. https://www.youtube.com/watch?v=d8jJerXTS38 DESCRIÇÃO da AUSCULTA: Ritmo cardíaco regular em dois tempos, bulhas audíveis sem sopros e atritos. DESDOBRAMENTO FISIOLÓGICO DA SEGUNDA BULHA IMAGEM ABAIXO: Criança e na inspiração. Valvas da artéria aorta se fecham antes da artéria pulmonar. https://www.youtube.com/watch?v=d8jJerXTS38 4 Gabrielle Nunes | P3 | 2020.2 RITMOS TRÍPLICES É caracterizado pela adição de uma 3º bulha, passando a ser um ciclo em 3 tempos. “TUM-TA-TUM” Os ritmos tríplices dividem-se em protodiastólicos (no 1/3 inicial da diástole) e pré-sistólicos. ▪ PROTODIASTÓLICOS: Essa 3ª bulha ocorre na diástole, na fase de enchimento rápido ventricular, geralmente relacionada com a sobrecarga de volume (insuficiência do VE, insuficiência mitral); melhor audível com campânula no foco mitral; - Ocorre após a 2ª bulha, no 1/3 inicial da diástole: TUM-TA- TA. Sangue entra com muita velocidade em uma parede de maior complacência (+dilatado); em casos de B3 patológico o paciente estará em um quadro de descompensação aguda; - Trabalhar com a ideia de um B3 patológico, diferenciar pelo estado geral; ▪ PRÉ-SISTÓLICO ou TELEDIASTÓLICO: Presença da 4ª bulha; ocorre na fase de contração atrial (ou seja, 1/3 final da diástole); é mais frequente quando há alteração da complacência ou distensibilidade ventricular; geralmente associada com sobrecarga de pressão; som grave e de baixa intensidade; - Ocorre milissegundos antes da sístole/ 1º bulha; pode ser confundida com o desdobramento de B1. Pode se diferenciar pois a B4 é melhor audível com a campânula; TUM-TUM-TA; - Hipertrofia do ventrículo (excêntrica), o ventrículo está mais duro e ao receber sangue não há mais espaço para receber, maior pressão; - Pode ser fisiológico em crianças e adultos jovens, mas é mais patológico (100%). Exemplo: Coronariopatia, miocardiopatia, HAS e estenose aórtica; !! Atenção na diferenciação de ritmos tríplices protodiastólicos por 3ª bulha fisiológica e aqueles por 3ª bulha patológica: O exame clínico completo irá direcionar à uma 3ª bulha patológica, geralmente indicativos de cardiopatias (insuficiência mitral, miocardite, comunicação interatrial); !! RITMO DE GALOPE É aplicável à 3ª bulha patológica. Corresponde ao ritmo PA-TA-TA-PA-TA-TA. RITMO DE GALOPE VENTRICULAR *mais comum Ritmo tríplice por 3ª bulha patológica. Quase sempre associado à taquicardia; Sempre indicativo de sofrimento miocárdico; RITMO DE GALOPE ATRIAL Corresponde à transformação do ritmo tríplice pela existência de uma 4ª bulha em ritmo de galope; Ocorre com ou sem descompensação cardíaca, mas é considerada uma indicação de insuficiência eminente; O ventrículo doente solicita e recebe um volume diastólico final maior. Acontece principalmente em HAS grave, insuficiência coronariana crônica, hipertrofia ventricular, etc; RITMO DE GALOPE DE SOMA Aparece quando há elevação da frequência cardíaca, havendo fusão de 3ª e 4ª bulhas por encurtamento do período diastólico ventricular. ALTERAÇÕES DAS BULHAS CARDÍACAS ALTERAÇÕES DA 1º BULHA CARDÍACA É melhor avaliada nos focos mitral e tricúspide. A intensidade dessa bulha depende de inúmeros fatores, porém o principal determinante é a posição dos folhetos das valvas mitral e tricúspide, no instante da contração ventricular. Quanto mais baixos estiverem os folhetos, maior será o trajeto a percorrer ao se fecharem e mais intenso será o ruído por eles originado. HIPERFONESE DA 1º BULHA: Condições que levam à diminuição do enchimento ventricular, tais como taquicardia, hipertireoidismo e contrações prematuras (extrassístoles), em virtude de a contração ventricular ter início no momento em que as valvas se encontram baixas. Em casos de fibrilação atrial, a intensidade da bulha varia entre as sístoles devido à variação do enchimento dos ventrículos. Podendo ser hiperfonética, média ou hipofonética. O NÍVEL DE PRESSÃO INTRA-ATRIAL também influencia na INTENSIDADE DA PRIMEIRA BULHA: É um fator que influencia principalmente em portadores de lesões orovalvares. Maior pressão intra-atrial, como em casos de estenose mitral, 5 Gabrielle Nunes | P3 | 2020.2 maior afastamento das valvas, ao fechar produz um som mais intenso. VELOCIDADE DE SUBIDA DA PRESSÃO INTRAVENTRICULAR: A ascensão da pressão no ventrículo quando mais lenta, a valva fecha mais acima pela menor velocidade, leva a 1ª BULHA HIPOFONÉTICA. Casos de IC, miocardite, miocardiopatia, obesidade, enfisema pulmonar, etc. VARIAÇÕES ANATÔMICAS ATRIOVENTRICULARES PODEM INFLUENCIAR: ▪ Lesão de valva mitral, com estenose orovalvar e fusão das comissuras: 1ª bulha hiperfonética, tonalidade aguda e timbre metálico; ▪ Estenose mitral com intensa calcificação da valva: Imobilização dos folhetos, com a não produção dos sons; ▪ A capacidade contrátil do miocárdio também influencia: condições de maior contratilidade maior velocidade de fechamento, maior intensidade da primeira bulha; ▪ Condições de choque cardiogênico: menor contratilidade, hipofonética DESDOBRAMENTO DA 1ª BULHA CARDÍACA: Fisiológico em crianças e jovens; desdobramento da primeira bulha na área mitral e/ou tricúspide; isso é devido a um discreto assincronismo na contração dos ventrículos; Desdobramento amplo: Bloqueio de ramo direito, há um retardo na contração do VD, com atraso no fechamento da tricúspide; TLUM-TA-TLUM-TA-TLUM-TA ALTERAÇÕES DA 2ª BULHA CARDÍACA INTENSIDADE: 1º) Deve ser avaliado nas áreas de base (aórtica e pulmonar), por ser de origem no fechamento das valvas sigmoides aórtica e pulmonar. Influem na intensidade desta bulha a posição das valvas no início de seu fechamento, suas condições anatômicas, os níveis tensionais na circulação sistêmica e na circulação pulmonar e as condições relacionadas com a transmissão do ruído. Menor débito ventricular > Valvas mais próximas umas das outras> ruído de menor intensidade- HIPOFONESE (ex. extrassístoles, estenose aórtica, estenose pulmonar e nas miocardiopatias); Ao contrário, nas condições em que há aumento do débito cardíaco- persistência do canal arterial e comunicação interatrial- pode ocorrer HIPERFONESE da 2ª bulha na área pulmonar; Valvas aórticas calcificadas > menor movimentação > 2º bulha inaudível; Quando ocorre aumento da pressão na aorta ou na pulmonar, as cúspides correspondentes se fecham com mais força,provocando HIPERFONESE DE 2ª BULHA NA ÁREA CORRESPONDENTE; Ex. Crianças foco pulmonar maior pela resistência maior da artérias pulmonares que no adulto. DESDOBRAMENTO DA 2ª BULHA: desdobramento constante da 2ª bulha pode ser de origem mecânica ou elétrica. Em vez do TUM-TA-TUM-TATUM-TA, o que se ouve é algo que se pode imitar dizendo TUM-TLA-TUM-TLA-TUM-TLA. Quando patológico é um quadro constante e varável na dinâmica respiratória; ▪ Bloqueio do ramo direito do feixe de His: atraso na condução do impulso para o VD!! ▪ Comunicação interatrial: mais sangue para VD (comunicação do átrio E p/ o D), mais tempo para esvaziar, fechamento tardio das válvulas pulmonares.!!! DESDOBRAMENTO CONSTANTE E VARIÁVEL Bloqueio de ramo direito do feixe de His. O distúrbio na condução faz com que o estímulo chegue atrasado ao lado direito em comparação ao esquerdo, provocando um assincronismo eletromecânico na contração dos ventrículos. Em consequência, o fechamento da valva pulmonar se retarda, fenômeno que é traduzido estetoacusticamente pelo desdobramento constante da 2ª bulha, o qual se acentua na inspiração profunda. DESDOBRAMENTO FIXO Comunicação interatrial. Quando ocorre aumento de fluxo do sangue para o ventrículo direito, como acontece na comunicação interatrial, esta câmara vai despender mais tempo para se esvaziar. Como consequência, as sigmoides pulmonares se fecham após as sigmoides aórticas e o componente pulmonar 6 Gabrielle Nunes | P3 | 2020.2 se atrasa. Constitui característica de valor clínico a duração “fixa” das distâncias entre os dois componentes, independentemente da fase da respiração; DESDOBRAMENTO INVERTIDO Bloqueio de ramo esquerdo de HIS. Aparece durante a expiração, enquanto o desdobramento fisiológico ocorre na inspiração profunda. Em condições normais, o componente aórtico precede o pulmonar porque o estímulo despolariza o ventrículo esquerdo alguns centésimos de segundo antes de despolarizar o direito. No bloqueio do ramo esquerdo, o estímulo alcança o miocárdio ventricular esquerdo depois de já ter havido a ativação ventricular. Como resultado, a contração do ventrículo direito é feita antes da do ventrículo esquerdo, e o componente aórtico da 2a bulha passa a situar-se depois do componente pulmonar. O inverso, portanto, da situação normal. A influência da respiração se faz do seguinte modo: na inspiração profunda, ocorre maior aporte de sangue ao ventrículo direito, retardando sua sístole e determinando o fechamento da valva aórtica. Dessa maneira, o ruído correspondente à 2a bulha é único. Na expiração, diminuindo-se o retorno venoso, o componente pulmonar se adianta e a 2ª bulha torna-se desdobrada “paradoxalmente” Diferenciar B3 de desdobramento da 2ª bulha: Mudar a posição do paciente, em caso de B3. SOPROS Os sopros são produzidos por vibrações decorrentes de alterações do fluxo sanguíneo. MECANISMOS DE FORMAÇÃO DOS SOPROS Os sopros aparecem na dependência de alterações do próprio sangue, da parede do vaso ou das câmaras cardíacas, principalmente nos aparelhos valvares, incluindo os seguintes mecanismos: 1) Aumento da velocidade da corrente sanguínea: formação de turbulência 2) Diminuição da viscosidade sanguínea: menor amortecimento do sangue 3) Passagem de sangue através de uma zona estreitada: deixa de ser uma passagem laminar e passa a ser uma passagem turbulenta; - Defeitos valvares (estenose e insuficiência); comunicação interventricular, persistência do canal arterial; 4) Passagem do sangue para uma zona dilatada 5) Passagem de sangue para uma membrana de borda livre: ocorrem vibrações traduzidas em sopros. CARACTERÍSTICAS SEMIOLÓGICAS DOS SOPROS: Deve-se investigar a situação no ciclo cardíaco, localização, intensidade, timbre e tonalidade, modificação com a fase da respiração, com a posição do paciente e com exercício físico. SITUAÇÃO NO CICLO CARDÍACO Os sopros podem ser sistólicos, diastólicos e sistodiastólicos ou contínuos SOPROS SISTÓLICOS Principais etiologias: estenose aórtica, insuficiência mitral ou tricúspide, estenose pulmonar, cardiomiopatia hipertrófica, CIV; SOPROS SISTÓLICO DE EJEÇÃO: Causados por estenose da valva aórtica ou pulmonar e se originam durante o período de ejeção ventricular; começa alguns centésimos de segundo após a 1ª bulha, na fase de contração isovolumétrica; O sopro termina antes da 2ª bulha porque, na última fase da sístole, as pressões dentro dos ventrículos praticamente se igualam às pressões na aorta e na pulmonar, não havendo quase nenhuma ejeção de sangue neste momento. SOPRO DE REGURGITAÇÃO: Audível desde o início da sístole. Ocupa todo o período sistólico com intensidade mais ou menos igual e termina imediatamente antes da 2ª bulha ou pode recobri-la. São causados pela regurgitação de sangue dos ventrículos para os átrios, quando há insuficiência mitral ou tricúspide, ou de um ventrículo para o outro, quando existe comunicação entre eles; SOPROS DIASTÓLICOS Ocorrem em 2 grupos de afecções - estenoses atrioventriculares (mitral e tricúspide) e insuficiência das valvas aórtica e pulmonar- que apresentam comportamento hemodinâmico que lhes dão características semiológicas próprias. SOPROS PROTODIASTÓLICOS, MESODIASTÓLICOS E TELEDIASTÓLICO OU PRÉ-SISTÓLICO Insuficiência aórtica: sopro diastólico de dispersão Estenoses atrioventriculares: sopro mesodiastólico, fase de enchimento rápido dos ventrículos; Sopro mesodiastólico: Na estenose mitral; são sopros de baixa frequência e tonalidade grave, o que lhes confere o caráter de “ruflar” SOPROS SISTODIASTÓLICOS OU CONTÍNUOS: São ouvidos durante toda a sístole e a diástole, sem interrupção, recobrindo e mascarando a 1ª e a 2ªbulha; LOCALIZAÇÃO: Localiza-se um sopro na área em que é mais audível e, como pontos de referência, empregam-se as áreas de ausculta. IRRADIAÇÃO: Dois fatores influenciam na irradiação de um sopro: O mais importante é a sua intensidade, vale dizer, quanto mais intenso, maior a área em que será audível; Direção da corrente sanguínea ▪ Estenose aórtica: irradia para os vasos do pescoço; ▪ Insuficiência mitral: irradia para a axila INTENSIDADE 7 Gabrielle Nunes | P3 | 2020.2 Utiliza-se do sistema de cruzes (+/4+) ▪ + corresponde aos sopros débeis, audíveis somente quando se ausculta com atenção e em ambiente silencioso ▪ ++ indica sopros de intensidade moderada ▪ +++ traduz sopros intensos ▪ ++++ corresponde aos sopros muito intensos, audíveis mesmo quando se afasta o estetoscópio da parede torácica ou quando se interpõe entre esta e o receptor a mão do examinador. Varia de acordo com inúmeros fatores como a velocidade do fluxo e o volume de sangue que passa pelo local que ele se origina; Exemplo: Comunicação IV de grandes dimensões (+ fraco) x pequenas dimensões (+velocidade +forte); quando o volume sanguíneo é pequeno, o sopro tem fraca intensidade; quando é grande, torna-se mais intenso TIMBRE E TONALIDADE Usam-se várias denominações, quase todas procurando caracterizar de modo comparativo a qualidade de um sopro. As mais comuns são: suave, rude, musical, aspirativo, em jato de vapor, granuloso, piante e ruflar; MODIFICAÇÃO DO SOPRO COM A FASE DA RESPIRAÇÃO Manobra de RIVERO-CARVALLO: com a qual se diferencia o sopro da insuficiência tricúspide do da insuficiência mitral. Analisar a influência da respiração no sopro: não houver alteração ou se o sopro diminuir de intensidade, diz-se que a manobra de Rivero-Carvallo é negativa. Neste caso, o sopro audível naquela área é apenas propagação de um sopro originado na valva mitral. Se, ao contrário, o sopro aumenta de intensidade, pode-se concluir que sua origem é no aparelho valvar tricúspide. Outra influência da respiração pode ser observada naslesões aórticas, cujos sopros tornam-se mais audíveis se o paciente fizer uma expiração forçada; 8 Gabrielle Nunes | P3 | 2020.2 9 Gabrielle Nunes | P3 | 2020.2 ARRITMIAS CARDÍACAS As manifestações clínicas fariam de acordo com a capacidade da arritmia provocar distúrbios hemodinâmicos. ▪ Nas taquiarritmias extrassinusais e nas badiarritmias podem ocorrer importantes distúrbios hemodinâmicos, em função da diminuição do débito cardíaco. Débito cardíaco: Volume sistólico x frequência cardíaca. Nas bradicardias e taquicardias sutis o corpo possui um mecanismo compensatório que impede que o débito cardíaco seja afetado, sendo eles: ▪ Bradicardia, bradiarritmias: O DC mantém-se pelo aumento do volume sistólico em virtude de um maior enchimento diastólico devido à maior duração da diástole. ▪ Taquicardia: Há uma redução do volume sistólico como consequência do encurtamento da diástole e menor enchimento ventricular. Quando a FC está abaixo de 40 ou acima de 160 bpm, rompem-se os mecanismos de compensação para manter o débito cardíaco, com redução do fluxo sanguíneo para diferentes órgãos. Ex. Isquemia miocárdica. CLASSIFICAÇÃO DAS ARRITMIAS Por perturbação na formação do estímulo Arritmias sinusais: Taquicardia sinusal, bradicardia sinusal e parada sinusal. Arritmias extrassinusais: Ritmos juncionais, extrassistolia supraventricular e ventricular, taquicardia paroxística supraventricular e ventricular. Por perturbação na condução do estímulo Bloqueio atrioventricular: de 1º grau, de 2º grau (tipo Mobitz I e II, tipo 2.1 e de grau avançado (3:1, 4:1) e de 3º grau (total) Bloqueio de ramo direito e esquerdo Síndrome de Wolf-Parkinson-White Por perturbação na formação e na condução do estímulo Dissociação atrioventricular Flutter atrial Fibrilação atrial Flutter ventricular Fibrilação ventricular A intensidade da sintomatologia é diretamente relacionada com a frequência cardíaca, com o tempo de duração da taquicardia e com o estado do miocárdio. TAQUICARDIA SINUAL Aumento do número de batimentos cardíacos. FC > 100 bpm, podendo chegar a 150 em adultos e 180 em crianças. Aumento do tônus simpático e/ou redução do tônus vagal. Condições fisiológicas e patológicas (IC, Insuficiência circulatória periférica) como mecanismo compensatório. BRADICARDIA SINUSAL Redução no número de batimentos cardíacos. FC < 60 bpm, geralmente entre 40 e 50 bpm. Ocorre alongamento do ciclo cardíaco a expensas da fase diastólica. Exacerbação do tônus vagal e/ou redução do tônus simpático. Condições fisiológicas (sono, vagotomia, treinamento físico intenso), patológica (hipotireoidismo, hipertensão intracraniana), e por ação medicamentosa; Na doença de CHAGAS há uma disfunção no nó sinusal. ARRITMIA SINUSAL Variação na frequência cardíaca, geralmente associada a respiração: na fase inspiratória há aumento do número de batimentos e, na expiratória, diminuição. A frequência é normal ou diminuída (bradiarritmia sinusal) 10 Gabrielle Nunes | P3 | 2020.2 DISCUSSÃO DOS CASOS CLÍNICOS: INSUFICIÊNCIA CARDÍACA É a incapacidade de o coração prover débito suficiente para manter a perfusão e oxigenação adequada para os tecidos enquanto mantém pressões de enchimento normais. INCIDÊNCIA: o risco de desenvolver IC > 40 anos é de 1 em 5 (Europa, América do Norte) ▪ Há uma maior pressão de enchimento é necessária para gerar o mesmo débito cardíaco ▪ Quanto mais grave a IC, a curva é mais achatada, de modo que o aumento na pressão de enchimento gera um menor aumento do débito cardíaco às custas de um possível edema pulmonar; desvio da curva p/ direita; QUADRO CLÍNICO IC • Dispneia • Dispneia aos esforços • Ortopneia: Redistribuição de volume da circulação esplâncnica e dos membros inferiores para a circulação central quando o paciente permanece deitado, com consequente aumento da PCP. • Tosse seca noturna, dispneia paroxística noturna, asma cardíaca; • Fadiga • Respiração de Cheyne-stokes • Edema pulmonar • Anorexia, náuseas, saciedade precoce, dor abdominal, plenitude (edema na parede intestina e/ou congestão hepática) • Confusão, desorientação, disfunção de sono e humor; • IC grave: Redução PA e PP • Nictúria • Taqui sinusal, pulso fino, alternante • Cianose por vasoconstricção periférica, baqueamento, má perfusão periférica; OBSERVAÇÕES CASO CLÍNICO Paciente do sexo masculino, 53 anos, previamente hígido. Há cerca de 2 meses vem apresentando dispneia de esforço com piora progressiva, tosse seca, dispneia paroxística noturna e ortopneia. Procedente de União do Palmares/AL. Refere epidemiologia positiva para Chagas. Qual a hipótese diagnóstica? Quais os principais achados ao exame físico desse paciente? • Inspeção e palpação: Ictus cordis deslocado para esquerda e para baixo, mais intenso devido as dimensões que o coração adquire; extensão muito maior; • Ausculta pulmonar: Achados relacionados à edema pulmonar, estertores finos e sibilos por asma cardíaca (broncoespasmos associados por hiper-reatividade dos brônquios ao transudato presente no interstício); • FC elevada, arritmias levando a um ritmo irregular • Ausculta cardíaca: Bulhas hipofonética por maior aproximação das valvas; sopros sistólicos de regurgitação (as cúspides das valvas mitral e tricúspide se afastam por conta do crescimento das câmaras cardíacas); A DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA é uma condição comum em pacientes portadores de insuficiência cardíaca esquerda. Nesse contexto, admite-se que, durante o sono, a reabsorção do edema periférico leve à hipervolemia sistêmica e pulmonar e, por conseguinte, ao agravamento da congestão pulmonar.
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