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GG Si ân M ox on A luz é uma das principais ferramentas para o designer de interiores e pode transformar a maneira pela qual um espaço é percebido. Com mais de 300 ilustrações e um texto direto e claro, este livro tem uma abordagem detalhada e prática sobre iluminação em design de interiores, dando aos estudantes todos os conhecimentos e informações essenciais para que possam ter sucesso em seus projetos. - Cobre tanto os princípios de iluminação técnicos como os de projeto; - Diagramas e sequências de fotografias especialmente criados para o livro explicam a física da luz; - Estudos de caso de obras de especialistas em luminotécnica mostram o que deve ser iluminado e de que modo; - Plantas e desenhos detalhados demonstram como representar esquemas de iluminação por meio do CAD e das maquetes eletrônicas. MALCOLM INNES é especialista em luminotécnica, artista da luz e professor de iluminação. Ministra aulas e palestras no mundo inteiro sobre luz, arte e arquitetura e leciona nos programas de Mestrado em Luminotécnica, Bacharelado em Design de Interiores e Bacharelado em Projeto e Artes Digitais da Universidade Napier de Edimburgo, na Escócia. O professor Innes também é membro ativo da Associação de Projetistas de Iluminação Profissionais. ILU M IN A CÃ O N O D ESIG N D E IN TER IO R ES M alcolm Innes GG® www.ggili.com.br ILUMINACÃO NO DESIGN DE INTERIORES Malcolm Innes Título original: Lighting for Interior Design. Publicado originalmente por Laurence King Publishing Ltd. em 2012 Desenho gráfico: John Round Design Tradução, revisão técnica e preparação de texto: Alexandre Salvaterra Revisão de texto: Felipe Grüne Ewald e Grace Mosquera Clemente Design da capa: Toni Cabré / Editorial Gustavo Gili, SL Fotografia da capa: Molo Design, Ltd. Qualquer forma de reprodução, distribuição, comunicação pública ou transformação desta obra só pode ser realizada com a autorização expressa de seus titulares, salvo exceção prevista pela lei. Caso seja necessário reproduzir algum trecho desta obra, entrar em contato com a Editora. A Editora não se pronuncia, expressa ou implicitamente, a respeito da acuidade das informações contidas neste livro e não assume qualquer responsabilidade legal em caso de erros ou omissões. © Laurence King Publishing Ltd., 2012 © Malcolm Innes, 2012 para a edição em português: © Editorial Gustavo Gili, SL, 2014 ISBN: 978-85-65985-73-4 (digital PDF) www.ggili.com.br Crédito das imagens: Folha de rosto: One Gyle Square, Edimburgo, projeto de luminotécnica de FOTO/MA À direita: Corte de um esquema de iluminação para o Musée de l’Orangerie, Paris, projeto de Anne Bureau Concepteur Lumière Editorial Gustavo Gili, SL Rosselló 87-89, 08029 Barcelona, Espanha. Tel. (+34) 93 322 81 61 Editora G. Gili, Ltda Av. José Maria de Faria, 470, Sala 103, Lapa de Baixo CEP. 05038-190, São Paulo-SP-Brasil. Tel. (+55) (11) 3611 2443 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Innes, Malcolm Iluminação no design de interiores / Malcolm Innes ; [tradução Alexandre Salvaterra]. -- 1. ed. -- São Paulo : Gustavo Gili, 2014. Título original: Lightning for interior design. ISBN 978-85-65985-73-4 1. Iluminação [Arquitetura e decoração] 2. Arquitetura - Decoraçao e ornamento I. Título. 13-13150 CDD-729.28 Índices para catálogo sistemático: 1. Design de iluminação : Arquitetura e decoração 729.28 ILUMINACÃO NO DESIGN DE INTERIORES Malcolm Innes GG® 6 INTRODUÇÃO 7 Sobre este livro 8 PARTE I TEORIA 10 1. A física da luz 11 O que é a luz? 12 As propriedades físicas da luz – o que os projetistas precisam saber 13 Reflexão 14 Espelhos 15 Transparência 16 Filtros e lentes 18 Refração 19 Sombras projetadas 20 O que é a cor? 24 Medição da luz 25 Luminância 25 Candela 25 Lúmen 25 Fluxo luminoso 25 Lux 25 Iluminância 25 Fotômetros 26 2. Fatores humanos 26 Percepção da luz 27 Adaptação 28 Como são percebidas as mudanças nos níveis de iluminação 29 Os olhos e o sentido da visão 30 Visão estereoscópica 32 Detecção do movimento 33 Baixa sensibilidade à luz 34 Luz e psicologia 34 Como vemos? 35 Preferências 36 3. Luz natural 36 Do que os seres humanos precisam? 38 Fontes de luz natural 40 Variação da intensidade 41 Direção da luz natural 42 Cor e luz natural 45 Controle da luz diurna 46 Estudo de caso: Galeria de Arquitetura, Victoria & Albert Museum, Londres, Reino Unido 48 4. Luz elétrica 49 Fontes de luz elétrica 49 Fontes de luz incandescentes 50 Fontes de luz de descarga 55 Fontes de luz eletroluminescentes 57 Luminárias 58 Luminárias dispersivas e direcionais 59 Luminárias ocultas 59 Dados da fabricante 60 Tipos genéricos de luminárias 62 Visualização dos padrões de luz 64 Visualização dos dados fotométricos de um spot 65 Diagramas isolux 66 Sistemas de controle da iluminação 68 Dimmers de uso doméstico 70 Dimmers eletrônicos Sumário 72 PARTE II PROCESSO E PRÁTICA 74 5. Princípios de luminotécnica 74 Hierarquia visual 76 Entendendo as propriedades da luz natural 77 Entendendo as camadas de luz 79 Dinâmica e variação 80 Como criar efeitos exuberantes por meio da iluminação 82 Transformação e controle da luz 86 Superfícies e texturas 88 6. Iluminação para as pessoas 88 Qual nível de iluminação é suficiente? 90 Iluminação para o conforto e a segurança 91 Iluminação sobre o plano de trabalho 92 Iluminação para orientação 94 Passo a passo: Iluminação de um corredor 96 Estudo de caso: Orientação: Terminal 2F, Aeroporto Charles de Gaulle, Paris, França 98 Evitando o ofuscamento 100 Estudo de caso: Galeria com baixa iluminação, Museu de Vida e Arte Religiosa de Saint Mungo, Glasgow, Reino Unido 102 7. Iluminação na arquitetura 102 Iluminação geral 106 Iluminação de destaque 110 Estudo de caso: Edifício One Gyle Square, Edimburgo, Reino Unido 114 Estudo de caso: Mesquita do Xeque Zayed bin Sultan Al-Nahyan (A Grande Mesquita), Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos 120 Iluminação de superfícies verticais 121 Tornando a luz parte integral da arquitetura 122 Estudo de caso: Restaurante Morimoto, Filadélfia, Estados Unidos 126 8. Processo de projeto 128 Estudos preliminares 128 Análise das necessidades 129 Etapa do anteprojeto 129 Etapa do projeto executivo 129 Etapa da execução 129 Ajustes finais e programação 129 Entrega ao cliente 130 Estudo de caso: Catedral de Saint Machar, Aberdeen, Reino Unido 140 9. Registro e visualização da iluminação 141 Desenhos e croquis 142 Representações abstratas 144 Representações esquemáticas 146 Fotografia 148 Representações gráficas feitas em computador como ferramenta de projeto 150 Maquetes convencionais 154 10. Apresentação e finalização do projeto 155 Qual é a quantidade de informações suficiente? 156 Cortes e elevações 158 Estudo de caso: Musée de l’Orangerie, Paris, França 162 Representação gráfica da luz 164 Passo a passo: Uso de maquetes eletrônicas 166 Desenho do leiaute dos circuitos e controles 168 Uso de croquis de detalhes 170 Protótipos e testes de iluminação 172 Especificações 172 Memória descritiva 172 Especificações detalhadas 174 Execução do projeto 175 Direcionamento e programação finais dos pontos de luz 178 Conclusão: o futuro 184 Glossário 186 Leitura recomendada 187 Índice 191 Crédito das ilustrações 192 Agradecimentos 6 Introdução “Um homem comum se maravilha com o excepcional; um sábio se maravilha com o lugar-comum.” CONFÚCIO A luz nos envolve todos os dias; ela é o epítome do “lugar-co- mum”, e esta familiaridade pode impedir que vejamos como ela é maravilhosa. A luz afeta nossos padrões de sono e horas de trabalho, nosso nível de atenção e nossa saúde. Ainda assim, as pessoas que configuram nosso ambiente construídofre- quentemente negligenciam o poder e a importância da luz. Es- peramos que este livro encoraje os leitores a se encantarem com o lugar-comum e lhes ajude a criar grandes obras de ar- quitetura. A palavra “visão” tem um significado mais amplo do que o de sua raiz latina (da palavra videre, que significa “ver”). “Visão” hoje inclui tudo aquilo que pode ser imaginado ou sonhado, mas também define o ato de ver — e é a luz que torna nosso mundo visível e que nos permite entender nosso entorno. Ape- sar disso, a importância da luz na arquitetura é frequentemente subestimada. As grandes obras da arquitetura de edificações e do design de interiores tocam nossos sentidos profundamente, mas é interessante considerar como raramente percebemos nossos ambientes construídos por um meio que não seja a vi- são. Sem a luz, o design de interiores simplesmente não tem como ser vivenciado: torna-se invisível. No entanto, a luz pode influenciar muito mais do que apenas nossa experiência visual da arquitetura. A luz revela as cores e as formas tridimensionais, enquanto os focos de luz direcionados revelam a textura das superfícies e dos materiais. Esses elementos são tão importantes para o modo como percebemos um espaço que, sem o uso cuidadoso e apropriado da luz, um projeto jamais consegue alcançar a excelência. A luz tem o poder de influenciar o tom e a atmosfera de um espaço. Alterar os padrões de luz, sombra e cor pode deixar os usuários relaxados ou alertas, acolhidos e confortáveis ou frios e desconfortáveis. A luz e a cor também podem ser utiliza- das para fazer com que as pessoas se sintam estimuladas ou desanimadas. O uso habilidoso da luz permite que os projetos de design de interiores estejam impregnados das sensações e emoções que queremos transmitir aos usuários. Diante da importância da luz e da cor no design de inte- riores, é surpreendente a frequência com a qual a iluminação parece acidental e irrelevante. A luz é intangível e imaterial, o que parece sugerir que ela também é incontrolável, mas o de- sign se ocupa principalmente com a manipulação do espaço — outra propriedade imaterial. Assim como a arquitetura de edificações e o design de in- teriores, o projeto de luminotécnica não é apenas uma arte ou uma ciência, mas sim a síntese de ambos. À esquerda Musée de l’Orangerie, Paris. Projeto de luminotécnica de Anne Bureau Concepteur Lumière. O cuidadoso projeto de luminotécnica foi funda- mental para o sucesso da renova- ção desta galeria de arte. Sobre este livro 7 Sobre este livro Esta obra é uma introdução ao tema do projeto de luminotéc- nica no design de interiores. Seu objetivo é explorar o potencial de uma iluminação bem projetada, sem obscurecer o assunto com o uso de conceitos científicos e fórmulas matemáticas. Embora esta obra não seja apenas um livro de imagens, ao lon- go de todo o texto serão apresentados projetos exuberantes e de grande impacto visual. As práticas de projeto de alguns dos maiores especialistas mundiais no projeto de luminotécnica também serão analisadas em detalhes, a fim de explorar alguns dos princípios fundamentais da disciplina. O livro está dividido em duas partes. A primeira, “Teoria”, explica as propriedades físicas da luz e seus efeitos tanto físicos como psicológicos nos seres humanos. Essa seção descreve em linhas gerais os elementos da luz natural e artificial, incluindo uma discussão dos tipos de luminárias e sistemas de controle. A segunda parte, “Processo e Prática”, primeiramente cobre os princípios de iluminação práticos, como projetar de modo ade- quado às necessidades humanas e como iluminar superfícies e espaços. A seguir são abordados os aspectos práticos da apresen- tação para os clientes e outros: como representar graficamente e com maquetes os sistemas de iluminação e a comunicação des- de os primeiros croquis e maquetes até o fornecimento de es- pecificações adequadas para os construtores e operários espe- cializados e a importantíssima execução da obra. Todos esses elementos são cruciais para que se obtenha um projeto de lu- minotécnica bem sucedido. Acima, à direita Interior da Ópera de Copenhague, projeto de luminotécnica de Speirs and Major Associates. Um bom pro- jeto de iluminação não somente melhora a forma como um usuário sente um espaço interno, mas tam- bém — como neste caso — ajuda os visitantes a circularem dentro do espaço. À direita Ópera de Copenhague. Um bom projetista também leva em conside- ração até que ponto a iluminação afetará o exterior de um prédio. PARTE I TEORIA 10 1. A FÍSICA DA LUZ 26 2. FATORES HUMANOS 36 3. LUZ NATURAL 48 4. LUZ ELÉTRICA 10 Teoria 1. A física da luz A luz provoca reações tanto físicas como emocionais nos se- res humanos. Todos temos uma resposta “humana” à luz. Mas usando termos objetivos e científicos, o que seria a luz? Até mesmo no mundo objetivo dos cientistas, a luz é um conceito frequentemente confuso e contraditório. Na ver- dade, a natureza da luz tem sido tema de investigações filo- sóficas e científicas há séculos. O homem já buscava enten- dê-la antes do surgimento da matemática e da física. Contudo, apesar dos milhares de anos de pesquisas, é incrível como, até o século XVIII, pouco se sabia sobre a luz além de suas características básicas e facilmente observáveis. Já havia sido notado que a luz se desloca em linha reta; que as superfícies polidas, como os espelhos, refletem a luz; e que os raios de luz que se cruzam não interferem uns com os outros. Foi apenas quando Sir Isaac Newton publicou sua obra Opticks: A Treatise on the Reflections, Refractions, Inflec- tions and Colours of Light [Um Tratado sobre as Reflexões, Re- frações, Inflexões e Cores da Luz], em 1704, que a verdadeira natureza da luz branca foi realmente entendida. Porém, o maior salto para a compreensão da luz foi dado no século XIX e se deve à contribuição do físico James Clerk Maxwell. Sua obra de 1864, intitulada A Dynamic The- ory of the Electro-Magnetic Field [Uma Teoria Dinâmica do À direita O laser industrial consegue concen- trar enormes quantidades de luz em uma área muito pequena, ge- rando energia suficiente para cortar uma chapa de aço. Campo Eletromagnético], estabeleceu a verdade fundamental sobre a luz: ela é uma forma de energia. Como Albert Einstein observou, “A obra de James Clerk Maxwell mudou o mundo para sempre”. Einstein não tinha dúvida sobre a influência da obra de Maxwell em sua pró- pria produção científica; ele descreveu a obra do físico como “a mais profunda e frutífera já vista desde a época de Newton”.¹ Apesar de ser um meio tão determinante em nos- sas vidas, duas perguntas incrivelmente simples podem de- monstrar como a maioria de nós sabe tão pouco sobre a na- tureza da luz: “O que é a luz?” e “O que é a cor?”. 1 ‘James Clerk Maxwell’ in Encyclopædia Britannica, 2010, Encyclopædia Bri- tannica Online, 4 de maio de 2010, http://www.britannica.com/EBchecked/ topic/370621/James-Clerk-Maxwell A física da luz 11 O que é a luz? A luz, como já dissemos, é uma forma de energia. Ela é parte do espectro eletromagnético que inclui as ondas de rádio, os raios X, infravermelhos e ultravioletas. Todas essas são for- mas de radiação eletromagnética diferenciadas por seu com- primento de onda (e, consequentemente, por seu nível de energia). Então podemos dizer que a luz é simplesmente isso: uma energia visível. Ela é uma forma de energia eletro- magnética cuja amplitude de onda sensibiliza nosso sistema visual e nos proporciona a sensação da visão. Já a radiação infravermelha, ainda que seja outra forma de radiação ele- tromagnética, não é perceptível aos nossos olhos. A radia- ção infravermelha não nos provoca a sensação da visão — nós a sentimos na forma de calor. Uma vez que a luz é uma forma de energia, ela segue as leis da física aplicáveis à energia, inclusive as leis da termo- dinâmica. A primeira lei da termodinâmica estabelece que a energia não pode ser criada ou destruída;ela apenas pode ser transformada de um tipo de energia em outro. A luz pode ser produzida pelo calor, quando um objeto se torna incandescente, ou seja, tão quente que irradia energia na forma luminosa. A luz pode ser gerada pela transformação da energia química. A luz também pode ser produzida pela transformação de outros tipos de energia eletromagnética, como a energia ultravioleta ou as micro-ondas. Ao nosso redor, são inúmeras as evidências da energia incorporada na luz. As células fotoelétricas transformam a energia da luz visível em energia elétrica; as células indus- triais a laser são utilizadas para fazer cortes complexos em todos os tipos de materiais, desde delicadas folhas de papel até as mais espessas e duras chapas de aço. Mas a transfor- mação mais onipresente da energia luminosa é encontrada nas plantas, que utilizam o poder da luz visível para conver- ter o dióxido de carbono e a água em alimento (um processo chamado fotossíntese). O sistema visual humano converte a energia luminosa que entra em nossos olhos na energia quí- mica que é utilizada para levar ao cérebro as informações recebidas pelos olhos. Raios gama Raios X Raios ultravioleta Luz visível Micro-ondas Luz infravermelha - 0,1 nm - 1 nm - 10 nm - 100 nm - 1.000 nm - 10 µm - 1 mm - 1 cm - 10 cm - 1 m - 10 m - 100 m - 1 km Comprimento de onda Ondas de televisão Ondas de rádio FM Ondas de rádio VHF Ondas de rádio AM Ondas de rádio longas - 100 µm Embaixo A luz visível é apenas uma pequena parte do espectro da radiação ele- tromagnética, que também inclui os raios X, as micro-ondas e as on- das de rádio. A radiação com comprimento de onda entre aproximadamente 380 e 750 nm é a única parte do espec- tro eletromagnético que percebe- mos como luz. A energia infraver- melha é sentida como calor. N ív el d e en er gi a cr es ce nt e C om pr im en to d e on da c re sc en te 12 Teoria lo igual, mas oposto ao ângulo de incidência. Quando dire- cionamos a luz de uma lanterna para um espelho, precisamos olhar para este a partir do ângulo correto a fim de ver a reflexão do feixe luminoso da lanterna. As superfícies muito foscas produzem reflexões difusas. Um refletor difuso perfeito refletirá a luz da mesma forma a partir de todos os ângulos. Uma folha de papel sulfite sim- ples de cor branca é um exemplo de difusor quase perfeito. O feixe luminoso é interrompido quando atinge a superfície de um refletor difuso, e a luz que atinge a superfície em ân- gulo tem sua direção desviada na reflexão. Seja qual for a direção da qual observamos a folha de papel, ela parece ter o mesmo nível de luminosidade. Um equívoco comum é pensar que as superfícies bri- lhantes refletem mais luz do que as foscas. Isso nem sempre ocorre; a diferença entre uma superfície fosca e uma bri- lhante está na direção na qual ela reflete a luz. Um espelho pareceria escuro se visto de uma posição a partir da qual a fonte de luz não é visível; já uma folha de papel branca que for iluminada por uma lanterna parecerá ter o mesmo nível de brilho, não importa de qual direção a observamos. A luz se propaga em linha reta, mas quando se move de um meio transparente a outro, sua direção pode ser afetada. Este processo é chamado refração e acontece quando a luz atravessa materiais com diferente densidade ótica (a qual é medida como índice de refração). Uma lente de vidro curva também desviará a luz que, vindo do ar, se desloca através do vidro, gerando um foco em um ponto qualquer além da lente. Apesar de o termo “opaco” frequente- mente ser mal empregado, ele possui apenas um significado. Os materiais opa- cos são aqueles que não são transparen- tes e através dos quais não conseguimos enxergar — isto é, eles não permitem a passagem da luz. Na maioria das vezes, quando as pessoas dizem “opaco”, elas na realidade querem dizer “translúcido”. Um material translúcido, como o vidro jateado ou o papel-manteiga, não permi- te uma visão clara, embora deixe que al- guma luz o atravesse — ele é semitrans- parente. Portanto, quando falamos sobre a luz, é fundamental que usemos essa terminologia de modo correto e questio- nemos os outros para que digam clara- mente o que querem dizer. DICA MATERIAIS OPACOS As propriedades físicas da luz – o que os projetistas precisam saber Embora este livro trate do projeto luminotécnico e não seja um livro didático sobre física, é necessário entender algu- mas propriedades fundamentais da luz antes que possamos utilizá-la de modo efetivo em um ambiente construído. Quanto melhor entendermos as propriedades físicas da luz, mais fácil será utilizá-la de maneira criativa. A propriedade mais básica da luz é que ela se propaga em linha reta, a não ser que incida em outro material. Além disso, um feixe luminoso é invisível aos nossos olhos, a me- nos que incida sobre um material como uma superfície sóli- da ou uma nuvem de poeira; o feixe luminoso se torna visí- vel apenas ao atingir algo que reflita parte dele para nossos olhos. Os materiais que descreveríamos como brancos ou de cor clara têm tal aparência por refletir mais luz do que os materiais escuros. (No entanto, não é simplesmente a quan- tidade de luz que colocamos em um espaço que faz com que ele pareça bem iluminado: o que realmente faz diferença são as propriedades refletivas das superfícies daquele espaço. Um bom exemplo é um cômodo pintado de preto: sempre parecerá escuro, não importa a quantidade de luz que colo- quemos nele.) As superfícies polidas produzem as chamadas imagens especulares. A palavra especular significa “como um espe- lho”, e uma boa imagem ou reflexão especular não irá dis- torcer o feixe de luz. É por isso que podemos usar os espe- lhos para ter a imagem de nós mesmos como os outros veem. Os refletores especulares mantêm a integridade de um feixe de luz, e uma luz que incide em determinado ân- gulo em uma superfície especular será rebatida em um ângu- REFLEXÃO espelho ou uma pintura esmaltada pode modificar de maneira radical o aspecto de um espaço iluminado. Portanto, compreen- der e levar em conta a reflexão é um componente essencial de qualquer sistema de iluminação. O que define nossa impressão visual dos materiais, objetos e es- paços é a interação entre a luz e as superfícies. Sem a luz, as superfícies permanecem invisíveis, e sem uma superfície que in- terrompa um feixe luminoso, a própria luz é invisível. Uma mera mudança no revestimento de uma parede ou a instalação de um O alumínio polido também pode produzir refle- xões especulares, como se fosse um espelho. Se o polimento não for perfeito ou a superfície não for totalmente plana, a imagem refletida fica- rá imperfeita. O papel branco apenas produz uma leve refle- xão. Embora a luz incida na superfície em ângulo, a reflexão não apresenta uma única direção; ela é refletida de forma praticamente idêntica em to- das as direções. Isto é chamado imagem ou re- flexão difusa. Um espelho comum é uma boa aproximação de um refletor perfeito. De acordo com as leis da reflexão, um feixe de luz que incide no espelho em um ângulo será refletido em um ângulo igual, mas na direção oposta. Isso é chamado imagem ou reflexão especular. 1 2 3 Uma superfície colorida, seja polida ou fosca, sempre emprestará parte de sua cor à luz refleti- da. O feixe luminoso que incide na parede laranja é branco, mas a luz refletida no plano-base (o piso) assume a cor da parede. Uma superfície não polida, como uma chapa de alumínio vinda de fábrica (sem polimento), é um meio-termo entre um refletor perfeito e um difu- sor. Mesmo assim, a reflexão resultante, suave e difusa, pode estar diretamente relacionada com a direção do feixe luminoso. Este tipo de refletor é chamado refletor semiespecular. A superfície de um azulejo cerâmico vitrificado produz uma reflexão difusa, devido a seus pig- mentos brancos, e uma reflexão especular, devi- do ao esmalte. Nesta imagem, a luz incidente sobreo azulejo cerâmico produziu um brilho sua- ve no plano-base, bem como uma linha refleti- da bastante clara à direita da fotografia. A linha brilhante e inclinada à esquerda do azulejo é uma reflexão do feixe luminoso que aparece no pla- no-base. 4 5 6 semi Os refletores de luminárias muitas vezes são fabricados com materiais que não são espelhos planos perfeitos. Esta amostra de alumínio tem acabamento es- pecular, mas também é extremamente texturizada. Ela produz uma reflexão especular, mas seu acabamento texturizado introduz certa variação, tornando a difusão mais ampla e criando um pouco de brilho quando a luz é refletida em direção ao observador. Os materiais texturizados como esse são bastante utili- zados em refletores de luminárias para “suavizar” a luz produzida por fontes muito intensas. Esta folha de papel vegetal curva tem acabamento especular. A curva faz com que os feixes luminosos paralelos incidam na superfície refletiva em diferentes ângulos, e isso gera o padrão de reflexão. Nesta fotografia, os feixes lumino- sos paralelos estão chegando pelo lado inferior esquerdo e sendo refletidos até se encontrar em um ponto à frente do refletor curvo — o foco da curva. É fácil ver que, com uma fonte de luz situada no ponto focal, um feixe luminoso paralelo seria gerado por esse formato de refletor. 1 2 disso, são empregadas combinações de espelhos curvos e su- perfícies texturizadas a fim de gerar uma difusão mais homogê- nea da luz. Refletores que não são perfeitos são preferíveis, pois permitem maior tolerância no posicionamento da fonte de luz e, consequentemente, produzem menos variações entre as várias luminárias que costumam ser utilizadas em um espaço. ESPELHOS Embora muitos tipos de equipamentos de iluminação utilizem lentes, a maioria das luminárias usa refletores para controlar a direção e difusão da luz oriunda de uma fonte. Em geral, os refle- tores são feitos de alumínio polido ou plástico com uma pintura ou um acabamento especular. Superfícies espelhadas planas e perfeitas raramente são utilizadas, uma vez que exigem uma pre- cisão muito alta no posicionamento da fonte de luz. Em vez TRANSPARÊNCIA ferências, apenas transmitindo uma parcela da luz que sobre ele incide e barrando completamente partes do espectro não visível. Mesmo assim, os materiais transparentes são uma característica essencial de nossos ambientes construídos; para fazer um proje- to de luminotécnica, você precisa entender como trabalhar com tais materiais. A luz pode atravessar vários materiais, que por este motivo são chamados transparentes. Costumamos pensar que, no caso da maioria desses materiais, toda a luz incidente os atravessa, pois, de fato, uma definição física da transparência é que o calor ou a radiação eletromagnética pode atravessá-los sem serem distor- cidos. No entanto, até mesmo o vidro das janelas provoca inter- A partir de determinado ponto, o ângulo de inci- dência da luz se torna tão agudo que nenhuma parcela da luz consegue atravessar diretamente o material transparente, ou seja, toda a luz é refleti- da. Quando a luz é direcionada a um ângulo mui- to agudo na borda de um material transparente como esta lâmina de vidro, ela é refletida pelas superfícies internas, sendo rebatida várias vezes ao longo da lâmina, até emergir na outra extremi- dade. Neste caso, a luz é distorcida pelas imper- feições da superfície do vidro. Além disso, ela adotou um tom esverdeado ao se deslocar atra- vés de uma camada de vidro equivalente a 15 cm. Quanto mais agudo for o ângulo da luz incidente, maior será a quantidade de luz refletida. Neste exemplo, uma lâmina de vidro foi colocada em um ângulo muito agudo em relação a um feixe de luz branca. A maior parte da luz é refletida pelo vidro, resultando em uma linha de luz trans- mitida significativamente mais escura. Mesmo um material transparente jamais permite que 100% da luz nele incidente o atravesse. A superfície polida desta fina lâmina de acrílico re- flete parte da luz. Um vidro de janela normal cos- tuma transmitir no máximo cerca de 80% da luz visível que chega a ele. 1 2 3 Esta vareta de acrílico interrompe o raio de luz verde e, por meio da reflexão interna, a luz é transportada ao longo de seu interior, emergindo na outra extremidade. 4 O cabos de fibra ótica são fabricados de modo a redirecionar a luz mediante o processo de refle- xão interna total. Contudo, em vez de utilizarem apenas um elemento (como no caso da vareta de acrílico da figura 4), os cabos de fibra ótica costumam ser compostos de vários fios mais fi- nos, conferindo maior flexibilidade e permitindo que sejam dobrados em curvas fechadas, sem perda da luz. Observe como este pequeno con- junto de cabos de fibra ótica de plástico captura 5 parte da luz dos feixes luminosos verde, azul e vermelho e os transporta ao longo de toda sua extensão, até sair na extremidade do outro lado. A fibra ótica para iluminação é muito boa para transmissão da luz visível, mas má condutora de ondas infravermelhas (calor). Essa propriedade permite que uma fonte de luz quente seja sepa- rada dos materiais sensíveis ao calor que de- vem ser iluminados. FILTROS E LENTES Os materiais translúcidos, como o vidro fosco, o pape-manteiga ou a folha de papel desta foto- grafia, muito utilizados na iluminação cênica, per- mitem que a luz os atravesse, mas difundem o raio luminoso. Cada material difundirá o feixe lu- minoso em grau distinto. O termo “opaco” é frequentemente mal emprega- do, tendo na verdade apenas um significado. Os materiais opacos são aqueles que impedem a passagem total da luz. Esta imagem mostra um cartão opaco interrompendo os feixes luminosos e gerando uma sombra na parede que está por trás. Os materiais transparentes e incolores permitem que a luz os atravesse sem afetar de maneira sig- nificativa sua cor ou difusão. 1 2 3 Este filtro de cor verde absorve todas as cores, exceto o verde. Neste caso, o feixe de luz ver- melha, que contém muito pouco verde, fica mui- to fraco em relação aos demais. Este filtro para iluminação cênica, chamado light frost, é bastante fino e, assim como uma lâmina de vidro levemente jateado, suaviza um pouco os feixes luminosos, mas ainda assim permite que permaneçam distintos. Tal nível de difusão não é adequado para criar uma caixa de luz ou um pai- nel iluminado por trás, pois as lâmpadas perma- neceriam claramente visíveis. Materiais transparentes coloridos permitem a passagem da luz de certas cores, mas blo- queiam outras. Este filtro cênico permite a pas- sagem da luz vermelha. Os feixes de luz verde, vermelho e branco possuem um pouco de luz vermelha em seus espectros, a qual, portanto, passa pelo filtro, sendo todas as demais cores absorvidas por ele. Já a luz azul não contém ver- melho, e é totalmente barrada pelo filtro. 4 5 6 ça, mais ela tingirá a luz de verde. Outros materiais geram cores fortes, difundem a luz ou alteram seus feixes de algum modo. Os projetistas podem tirar partido das propriedades desses mate- riais a fim de controlar a cor e a difusão da luz em seus projetos. Muitos materiais transmitem mais luz do que refletem. Costuma- mos nos referir a tais materiais como sendo “transparentes”, mas mesmo os materiais transparentes filtram parte da luz que trans- mitem. Os vidros que geralmente utilizamos em janelas tingem a luz de um tom verde muito sutil. Quanto mais espessa for a vidra- Esta lente convexa e transparente dobra a luz no mesmo grau em todas as direções, criando um feixe luminoso circular. Este pedaço de vidro jateado não difunde com- pletamente a luz, mas produz um feixe de luz com bordas muito suaves na parede ao fundo. Esse tipo de filtro difusor é empregado para sua- vizar o feixe luminoso de um spot estreito. Enquanto os feixes de luz verde, azul e branco contêm um pouco de luz azul, o feixe vermelho não tem nada de azul e fica muito escurecido pelo filtro desta cor. Uma quantidade de luz mui- topequena é visível no feixe vermelho, mas isso se deve, em grande parte, ao fato de o material do filtro não ser perfeitamente azul, nem bloquear bem a parte infravermelha do espectro luminoso. Isso permite que uma pequena quantidade de luz vermelha passe, misturando-se com o tom azul e gerando uma faixa levemente roxa em vez de vermelha. 7 8 9 Esta vareta cilíndrica de acrílico funciona como uma lente bidimensional que refrata a luz, mas apenas em um plano. A lente divide o feixe luminoso branco horizontalmente, mas não verticalmente. Este filtro de vidro é transparente, mas uma de suas faces é canelada. Ele funciona como um conjunto de lentes cilíndricas, difundindo a luz em um plano e criando um feixe lumi- noso elíptico. Esse tipo de lente costuma ser empregado para difundir a luz de um spot circular, a fim de iluminar adequadamente objetos altos em expositores de museus. Por isso, costuma ser chamado lente escultórica ou simplesmente lente difusora. 10 11 Projetor digital Filtro ou lente Tela branca À direita Diagrama que explica como as análises ilustradas nestas páginas foram feitas com o uso de um projetor digital. REFRAÇÃO Esse processo de refração permite a nossos olhos desviar a luz que passa através de nossas pupilas, de modo que seja focada na retina, no fundo do olho. A refração também nos permite criar lentes que dobram os raios luminosos e provocam sua deflexão em vários equipamentos, como tocadores de DVD, telescópios e projetores. A luz se propaga em linha reta, mas, quando atravessa de modo oblíquo materiais transparentes com diferentes densidades, ela pode ser defletida, ou seja, sua direção pode ser afetada. O grau de deflexão é determinado em função da densidade dos elemen- tos através dos quais a luz passa (como o vidro e o ar) e do ângu- lo no qual a luz incide na superfície do material transparente. Neste ângulo, o prisma de acrílico produz tanto imagens refletidas como refra- tadas. Parte da luz é refletida pela superfície polida e atinge o lado esquerdo da parede ao fundo. Outra parte da luz entra no prisma e sofre refração, o que faz com que saia em ângulo diferente e atinja o lado direito da parede ao fundo. As lentes funcionam como refratores — desviando a luz de modo a conferir nova direção ao foco luminoso. Este copo de água causa a refração do raio luminoso focalizado, difundindo-o em um padrão borrado nas superfícies ao fundo. O grau de refração é afetado pelo ângulo da luz ao incidir na superfície do objeto. As diferentes curvas do vidro dobram a luz em diferentes graus. 1 2 O processo de refração na verdade desvia os diferentes comprimentos de onda em diferentes graus. Nesta imagem, a linha de luz branca é borrada pelo prisma, mostrando as cores que compõem o feixe luminoso. 3 SOMBRAS PROJETADAS função da natureza das sombras projetadas: o número de fontes de luz, suas localizações, a direção na qual elas focam sua luz, suas intensidades relativas e suas distâncias em relação a um obje- to. As sombras projetadas são indicadores vitais utilizados por nos- so sistema visual para a interpretação de uma forma tridimensional e da textura dos objetos que estão em nosso campo de visão. Embora isso seja frequentemente desconsiderado, o projeto de um sistema de iluminação também envolve o planejamento da lo- calização e da profundidade das sombras projetadas. Em um pro- jeto de luminotécnica não se busca eliminar a projeção de som- bras, mas aproveitá-la da melhor maneira possível. Muitas informações sobre a luz de um espaço podem ser deduzidas em A fonte de luz difusa que está próxima a essas chapas perfuradas mal projeta uma sombra. A chapa com orifícios em forma de estrela está a uma distância intermediária entre a fonte de luz e a parede ao fundo. 1 2 Mesmo com uma fonte de luz bastante difusa, uma sombra nítida pode ser criada, desde que a distância entre a luz e o objeto seja bem maior que a distância entre o objeto e a superfície ao fundo. No caso, a relação entre a distância da fonte de luz até a chapa perfurada e da chapa até a parede é de aproximadamente 10:1. Se você afastar um pouco mais a fonte de luz, as sombras ficarão mais nítidas.3 4 As diferentes posições da fonte de luz retangular e difusa utilizada nos exemplos da geração de sombras projetadas. Se você deslocar um pouco a fonte de luz, as sombras projetadas começam a surgir. A nitidez de uma sombra projetada é proporcional à dis- tância; assim, as distâncias relativas entre as fon- tes de luz, o objeto iluminado e a superfície de fundo afetam a qualidade da sombra projetada. Observe que a chapa perfurada mais ao fundo projeta uma sombra mais nítida, pois a distância entre a fonte de luz e a chapa é muito maior do que a distância entre a chapa e a parede. 20 Teoria O que é a cor? A cor é uma propriedade incrivelmente importante de nosso mundo visual, ainda que seja muito difícil descrevê-la. Ela não somente é difícil de definir, como tampouco existe da maneira como costumamos acreditar que ela seja. Simplifi- cando ao máximo, podemos dizer que respondemos aos di- ferentes comprimentos de onda da luz por meio da sensação da cor. As famosas experiências de Isaac Newton com a luz do sol e os prismas — repetidos em todos os arco-íris — de- monstraram que a luz branca é uma mistura de cores. Costumamos pensar na cor como uma característica in- trínseca de um objeto ou material — “a casca de uma laranja Acima Um arco-íris produz o mesmo efeito que um prisma. As gotas d’água que estão no céu dispersam os vá- rios comprimentos de onda em di- ferentes graus, gerando os caracte- rísticos arcos coloridos que vemos no céu. À direita O espectro eletromagnético com- pleto é composto de radiações com diferentes comprimentos de onda, cada uma com suas propriedades específicas. A pequena faixa de ra- diação que percebemos como luz visível cobre os comprimentos de onda que variam aproximadamente entre 380 e 750 nm. Dentro dessa faixa, cada comprimento de onda provoca a sensação de uma cor dife- rente: as ondas da luz vermelha têm comprimento de mais ou menos 700 nm, as da verde, cerca de 530 nm e as da azul, cerca de 470 nm. Violeta Azul Verde Amarelo Laranja Vermelho Raios gama Raios X Raios ultravioleta Luz visível Micro-ondas Luz infravermelha - 0,1 nm - 1 nm - 10 nm - 100 nm - 1.000 nm - 10 µm - 1 mm - 1 cm - 10 cm - 1 m - 10 m - 100 m - 1 km Comprimento de onda Ondas de televisão Ondas de rádio FM Ondas de rádio VHF Ondas de rádio AM Ondas de rádio longas - 100 µm Luz visível 500 nm 400 nm 600 nm 700 nm é cor de laranja” e a cor de um carro vermelho é vermelha. Mas isso nem sempre é verdade: há situações nas quais a la- ranja e o carro vermelho não parecem ter as cores que espe- ramos. Quando dizemos que um carro é vermelho, na verda- de o que queremos dizer é que quando aquele carro está sob a luz branca, seu pigmento de tinta reflete principalmente a luz vermelha. Esta é uma maneira muito diferente daquela que geralmente usamos ao descrever cores e objetos. À direita Quando a luz branca passa atravessa um prisma de vidro, os diferentes comprimentos de onda da luz visí- vel sofrem tal difração que vemos as cores individuais que foram combi- nadas para formar a luz branca. A física da luz 21 Acima Este brinquedo foi fabricado com componentes de cores bastante vi- vas. A princípio, diríamos que suas diferentes partes são vermelhas, brancas, azuis, verdes e amarelas. A Contudo, essa descrição se ba- seia na aparência do brinquedo sob a luz branca. B Se o iluminamos somente com uma luz vermelha, as cores dos componentes parecem mudar: as partes azuis e verdes se tornam muito mais escuras, enquanto as amarelas assumem um matiz ala- ranjado. A B DC C Sob uma fonte de luz levemente verde, todas as cores originais ainda podem ser discernidas, mas elas pa- recem ter se tornado “anêmicas”, pois perderam toda sua vivacidade. D Sobuma forte luz azul, os com- ponentes perdem praticamente to- dos os tons que tinham sob a luz branca. O capô verde e a caçamba amarela parecem ter a mesma cor; a carroceria azul e a janela branca poderiam ser do mesmo material; e os pneus vermelhos ficaram total- mente irreconhecíveis. 22 Teoria No alto As maçãs somente mostram suas respectivas cores, verde e verme- lho, sob a luz branca. No centro Quando uma luz colorida é utiliza- da, a maçã verde se torna laranja. Embaixo Vista sob uma forte luz azul, a maçã vermelha se torna muito escura e mais parece uma ameixa que uma maçã. A física da luz 23 À esquerda A imagem superior mostra uma bola de malabarismo iluminada por uma única fonte de luz branca, en- quanto na imagem inferior a fonte de luz é filtrada, tornando-se azul à esquerda e vermelha à direita. Uma vez que a luz branca contém todas as cores da luz visível, na imagem superior a bola de malabarismo pode ser vista como um objeto composto de gomos de materiais com diferentes cores. O pigmento do gomo superior da bola reflete a luz vermelha com mais intensidade, enquanto o do gomo inferior refle- te melhor a luz azul. Assim, sob uma luz branca vemos estes gomos como sendo compostos de dois materiais, um de cor vermelha, o outro de cor azul. Todavia, quando a mesma bola é vista sob duas co- res, uma azul claro e outra verme- lho claro (imagem central), ocorre uma transformação incrível. Ao ser iluminada por uma luz azul clara, que não contém o componente vermelho, a parte esquerda do gomo superior da bola se torna es- cura. Sob uma luz vermelha, a parte direita do gomo superior reflete o vermelho e consegue preservar sua cor. Já a parte direita do gomo infe- rior da bola, ao ser iluminada por uma luz vermelha, que não tem componente azul para refletir, se torna escura. Neste exemplo, as co- res das duas luzes são tais que a parte esquerda do gomo superior, sob a luz azul, se torna muito pare- cida com o gomo inferior da bola sob a luz branca. Em outras pala- vras, a simples mudança da ilumi- nação alterou completamente nos- sa percepção destes materiais. Tendemos a acreditar que as cores que vemos neste brinquedo são uma propriedade inerente dos ma- teriais que compõem a bola; na ver- dade, as cores que vemos são uma propriedade da luz que ilumina o brinquedo. Projetor digital Bola azul e vermelha sob duas luzes coloridas Bola azul e vermelha sob uma luz branca Tela branca 24 Teoria Medição da luz Temos um sistema visual extraordinário que funciona de modo consistente sob uma grande variedade de condições de iluminação, mas há uma coisa que ele não consegue fa- zer: ele não é capaz de mensurar os níveis de iluminação apenas por meio da observação. Frequentemente falamos sobre a “luminosidade” como se ela fosse uma forma de medição, mas é melhor dizer que a luminosidade é uma percepção, não um valor absoluto. A chama de uma vela pode parecer muito luminosa em um cômodo escuro, mas é praticamente invisível sob a luz do sol. A sensação de luminosidade também é subjetiva. Uma pessoa que passou uma hora almoçando em um restaurante bastante escuro, talvez perceba algumas áreas daquele espa- ço como sendo bastante luminosas. Contudo, outra pessoa que vier da rua ensolarada e entrar no mesmo restaurante o considerará escuro. O que consideramos como uma escala de luminosidade intrínseca, na verdade, é uma medida de contraste, uma avaliação relativa baseada nas condições de iluminação do entorno e nas condições que percebemos previamente. O mais incrível disso tudo é que nossa avaliação intrínseca se ajusta constantemente ao nosso entorno. Isso permite que possamos nos deslocar entre espaços muito iluminados e muito escuros, mas impede que tenhamos uma ideia real das quantidades mensuráveis de luz. Felizmente, há unidades padronizadas de medição da luminosidade que não dependem de nossos julgamentos pessoais. Infelizmente, são unidades físicas padronizadas, e suas definições podem ser bastante complexas. As descri- ções que apresentaremos a seguir foram simplificadas, mas mantêm os detalhes técnicos necessários para este livro. To- das as unidades de iluminação estão relacionadas entre si, assim, apesar das simplificações, algumas definições podem ser difíceis de decifrar sem a leitura dos outros termos. Ape- sar de tudo, se você as ler duas ou três vezes, os conceitos fi- carão claros, e mais informações podem ser facilmente en- contradas em dicionários impressos ou na Internet. A física da luz 25 Luminância Quando descrevemos a “luminosidade” ou o “brilho” de uma superfície iluminada, estamos tentando descrever a quantidade de luz que emana dela. Luminância é o termo adotado para isso e é uma definição da intensidade da luz emitida por uma superfície. Ela se relaciona com a sensação que temos ao ver uma superfície iluminada e, dessa manei- ra, sua medição se relaciona com o ângulo de visão dos olhos que estão observando a superfície. A unidade do Siste- ma Internacional de Unidades para a luminância é candela por metro quadrado (Cd/m²). Candela A candela (Cd) uma unidade do Sistema Internacional de Unidades que mede a intensidade luminosa em determina- da direção. Mesmo antes da invenção da luz elétrica, já ha- viam sido feitas algumas tentativas de medição das fontes de luz, que usaram como referência a luz emitida por uma “vela padrão” (ainda hoje às vezes utilizada como sinônimo de candela). Esse antigo sistema de medição perdura na pa- lavra “candela”, uma vez que essa unidade equivale, grosso modo, à luz de uma vela padrão. A chama de uma vela irra- dia luz para todas as direções, assim a candela também se relaciona com o brilho esférico de uma fonte de luz. Assim, 1 candela = 1 lúmen por estereorradiano (um ângulo cônico da superfície de uma esfera). Uma esfera completa tem um ângulo sólido de 4 π estereorradianos. Para uma fonte de luz, como a vela padrão, que produz uma candela em todas as direções, essa luminosidade equivale a cerca de 12,57 lú- mens. Lúmen O lúmen (lm) é uma unidade de fluxo luminoso do Sistema Internacional de Unidades. Ele descreve a quantidade de luz produzida por uma fonte ou incidente em uma superfície. Um lúmen equivale à quantidade de fluxo luminoso dentro de um ângulo sólido deste tipo de estereorradiano emitido por uma fonte de luz que tem a intensidade luminosa de uma candela. Fluxo luminoso O fluxo luminoso é a medida da quantidade total de luz emitida por uma única fonte de luz ou recebida por uma superfície iluminada. Sua unidade no Sistema Internacional de Unidades é o lúmen. O fluxo luminoso não é uma mera medida da quantidade de energia eletromagnética: ele é ponderado de modo a adequar a sensibilidade do sistema visual humano aos diferentes comprimentos de onda da luz visível. Lux Lux (lx) é a unidade no Sistema Internacional de Unidades utilizada para medir a iluminância de uma superfície, ou seja, a quantidade de luz que nela incide. O lux não é uma medida da luminância de uma superfície, isto é, ele não re- presenta quanta luz que a superfície emite, e sim a medida da iluminância na superfície. O lux mede a intensidade do fluxo luminoso em uma área de um metro quadrado. Assim, 1 lux = 1 lúmen por metro quadrado. Iluminância Enquanto a luminância se relaciona com a luz produzida por uma fonte ou refletida por uma superfície, a iluminân- cia descreve a luz que incide em uma superfície. A iluminân- cia não é visível; o que vemos é a luminância — a luz refleti- da pela superfície. A luz refletida será uma proporção da iluminância. Uma superfície branca que recebe a mesma iluminância que uma superfície preta refletirá mais luz e terá uma luminância superior (ou, falando em termos visuais, pa- recerá mais brilhante). A unidade do Sistema Internacional de Unidades de Iluminância para a iluminância é o lux. Fotômetros Os fotômetros típicos medem a iluminância — a quantidade de luz incidente em uma superfície.Eles medem em lux (lú- mens por metro quadrado), a unidade do Sistema Interna- cional de Unidades. Os fotômetros também são chamados medidores de iluminância ou medidores de lux. Alguns fo- tômetros também mostram os resultados em pés-velas, a unidade mais utilizada nos Estados Unidos (1 pé-vela = 10,764 lux). Para que possam ser utilizados no projeto de luminotécnica, os fotômetros são calibrados para responder à luz visível de modo similar à sensibilidade espectral do sis- tema visual humano. Essa calibragem é padronizada e defi- nida pela curva de sensibilidade fotópica CIE (International Commission on Illumination ou Comitê Internacional de Iluminação). Como os fotômetros medem a quantidade de luz inci- dente em uma superfície, eles nos oferecem poucas informa- ções sobre a intensidade luminosa da superfície. Para tal me- dição, é necessário o uso de um medidor de luminância. Esse tipo de medidor é bem menos comum e muito mais caro do que um fotômetro e raramente é empregado em um projeto de luminotécnica. 26 Teoria À esquerda Para os especialistas em luminotéc- nica, a visão é o principal meio pelo qual os usuários finais irão interagir com sua obra. Consequentemente, é crucial que tais profissionais te- nham uma noção sobre como o olho humano funciona e como ele responde à luz. 2. Fatores humanos Em um projeto de luminotécnica (iluminação), é importante entender a física, fisiologia e psicologia envolvidas na forma como os seres humanos percebem, processam e vivenciam a luz. Este capítulo explora o modo pelo qual respondemos à luz, como nos adaptamos à intensidade e às mudanças nos níveis de luz e como nossa visão funciona. Outros fatores igualmente importantes são os aspectos psicológicos da ilu minação, como a atmosfera e as preferências culturais. Percepção da luz O corpo humano compreende seu entorno de muitas ma neiras. Para isso, ele conta com uma diversidade de sistemas especializados, adaptados para serem sensíveis tanto às mu danças internas quanto às externas. O som e a luz são dois exemplos de estímulos aos quais o corpo humano consegue responder. Eles são estímulos externos e são transmitidos através do entorno na forma de ondas. As ondas podem ser descritas com base em seu compri mento (a distância entre dois picos, ou seja, a distância na qual a forma da onda se repete) ou por sua frequência (o numero de picos de onda que passam em determinado pe río do de tempo). Então, na verdade, a frequência e o com primento de onda são apenas duas maneiras distintas de descrever a mesma informação sobre as ondas. A luz é uma onda (de energia eletromagnética) que pode ser descrita em termos de frequência. A luz azul apresenta uma frequência de aproximadamente 660 trilhões de hertz. No entanto, tra dicionalmente a luz tem sido descrita em termos de seu comprimento de onda, e não de sua frequência. Assim, cos tumase dizer que a luz azul tem comprimento de onda de cerca de 470 nanômetros (um nanômetro é um bilionésimo de metro). Fatores humanos 27 Adaptação Os receptores são células especializadas que enviam sinais ao sistema nervoso central sempre que há mudanças nas condições internas ou externas do corpo. Existem diferentes tipos de receptores para diferentes funções. Por exemplo, os receptores olfativos respondem aos padrões químicos de di ferentes odores e acionam nosso sistema olfativo, enquanto os receptores gustativos enviam sinais de sabores ao nosso cérebro. Todos os receptores agem como transdutores, conver tendo uma forma de energia (por exemplo, a energia quími ca, mecânica ou eletromagnética) em outra forma, que é uti lizada para estabelecer uma comunicação com o cérebro. Os receptores somente podem estar “ligados” ou “desligados”, ou seja, eles não têm amplitude ou escala de fator desenca deante. Para comunicar ao cérebro a intensidade do sinal de um estímulo recebido (como o volume de um som), os re ceptores enviam mais impulsos nervosos para um estímulo forte e menos impulsos para um estímulo fraco. Se um receptor for estimulado pelo mesmo estímulo por um período de tempo prolongado, ele passará a reduzir sua taxa de envio de estímulos nervosos e se tornará insensí vel a esse estímulo contínuo. Isso se chama adaptação. To dos os receptores apresentam a habilidade de se adaptar a um estímulo constante. Logo que uma pessoa entra em um jardim, o aroma da grama recémcortada pode ser muito for te, mas com o passar dos minutos ele parecerá esmaecer, ainda que o cheiro continue presente. Quando nos adapta mos a um estímulo particular, apenas voltamos a nos dar conta dele se houver uma mudança — talvez entremos para dentro de casa (e nos adaptemos ao ambiente interno), e en tão, quando retornamos ao jardim, voltamos a perceber ni tidamente o cheiro da grama cortada. Embora raramente nos demos conta disso, o mesmo processo de adaptação afe ta nosso sentido da visão. Nosso sistema visual se torna adaptado às cores de nosso entorno quando usamos óculos de sol com lentes coloridas e então, ao removêlos, nos sur preendemos como tudo parece diferente. O processo de adaptação também permite ao sistema visual se tornar muito mais sensível. Em um espaço escuro, com o passar do tempo nos ajustamos a níveis de ilumina ção mais baixos e o ambiente parece se tornar mais ilumina do. Durante este processo de adaptação à escuridão, o siste ma visual se torna muito mais sensível à luz, ajustando sua sensibilidade ao entorno. A Os receptores do nervo ótico são estimulados pela luz visível e produ- zem uma resposta que se relaciona com a intensidade do estímulo. Quando o estímulo é fraco, como uma fonte de luz pouco potente que liga e desliga, os receptores en- viam repetidos impulsos nervosos de acordo com a duração do estí- mulo. Já com um estímulo forte, como uma luz potente, os recepto- res enviam impulsos mais frequen- tes (mas não mais intensos). O sis- tema visual pode estimar a força relativa de qualquer estímulo por meio da frequência dos sinais envia- dos pelos receptores. B O sistema ótico constantemente tenta se adaptar às condições do entorno. Para o mesmo estímulo enviado após diferentes períodos de tempo em um local escuro, os receptores dos nervos óticos en- viam impulsos nervosos com uma frequência cada vez maior, à medi- da que o sistema se adapta à escuri- dão. O resultado é que uma fonte de luz que inicialmente parecia fra- ca após ficarmos apenas 30 segun- dos no escuro, parece se tornar mais forte à medida que passamos mais tempo no mesmo ambiente. Nossa percepção do brilho de um estímulo luminoso qualquer está re- lacionada com sua diferença em re- lação à iluminação de fundo e nos- so nível de adaptação à iluminação de fundo. (Fonte das ilustrações A e B: adaptadas de Gregory, Eye and Brain: The Psychology of Seeing.) Estímulo fraco Resposta Estímulo forte Ligado Desligado A 1 hora 20 minutos 5 minutos 30 segundos Tempo passado na escuridão B Ligado Desligado Resposta 0 Tempo 0,5 segundo 28 Teoria culdade para nos adaptarmos às diferentes mudanças. Afi nal, uma adaptação para uma mudança de 450 lux deve ser mais fácil que uma adaptação para uma mudança de 45.000 lux, não é mesmo? Todavia, a experiência nos diz que isso não é verdade. Este exemplo ilustra uma importante característica de nosso sistema visual: a velocidade pela qual nossos recepto res visuais entram em funcionamento é uma resposta mais ou menos logarítmica à intensidade da luz. Assim, se você quiser dobrar a iluminação aparente de um objeto atual mente iluminado com 100 lux, não deverá dobrar o nível de luz (passando para 200 lux), mas aumentálo 10 vezes (para 1.000 lux). É muito importante lembrar disso quando você estiver tentando regular a luz dos espaços internos, pois mu danças significativas na luminosidade visual exigem dife renças muito maiores na intensidade do que você a princí pio imaginaria. Uma única fonte de luz fraca que é agregada aum cô modo com boa iluminação solar talvez não faça diferença alguma no nível de iluminação total. No entanto, se a mes ma fonte de luz fraca for colocada em um cômodo sem jane las, onde há apenas outra fonte de luz também fraca, talvez faça uma diferença muito grande. À direita Os receptores do nervo ótico não têm uma simples relação de 1:1 en- tre a força do estímulo e a frequên- cia de impulsos nervosos que ele envia. Em vez disso, a taxa de envio de impulsos nervosos tem uma rela- ção mais ou menos logarítmica com o estímulo. Para que os sinais enviados ao cérebro sejam duplica- dos, é necessário um aumento de cerca de 10 vezes no estímulo da luminosidade. (Ilustração adaptada de Gregory, Eye and Brain: The Psychology of Seeing.) Intensidade relativa do estímulo 1 10 1.000 Como são percebidas as mudanças nos níveis de iluminação Em nosso ambiente construído, há muitas ocasiões nas quais encontramos rápidas mudanças no nível de ilumina ção geral. Se o dia está ensolarado e saímos do ar livre para entrar em um espaço interno, nossos olhos podem ter difi culdade para decifrar o interior devido à enorme diferença nos níveis de iluminação relativos. Quanto mais tempo pas sarmos nesse espaço interno, mais ajustados (adaptados) nos tornaremos aos seus níveis de iluminação. Porém, se deixamos, em uma noite escura, um espaço interno que, ao meiodia, quando nele entramos, nos pareceria escuro, no vamente nossos olhos teriam uma dificuldade inicial para se adaptar à mudança do nível de iluminação. Se analisarmos esses exemplos com atenção, veremos que há algo interessante acontecendo que pode nos ensinar muitas coisas sobre nosso sistema visual. A diferença na ilu minância entre o espaço externo ensolarado e o espaço in terno com iluminação artificial pode ser de 50.000 lux (na rua) para 500 lux (em um interior bem iluminado) — uma diferença de 45.000 lux. Sair desse espaço interno para um espaço externo noturno iluminado apenas pelos postes de luz talvez signifique deixar um espaço com 500 lux para ir a um com 5 lux — uma mudança de apenas 450 lux. Em tese, essa disparidade entre uma mudança de 45.000 lux e uma de 450 lux sugeriria que teríamos diferentes níveis de difi Fatores humanos 29 Os olhos e o sentido da visão As plantas criam seu próprio alimento com o uso da clorofi la, uma substância química fotossensível que muda de com posição ao ser exposta à luz. A clorofila absorve a luz e gera energia para o processo da fotossíntese. De modo similar, nossa visão, assim como a visão de todos os animais que têm olhos, se baseia em um fotopigmento. A rodopsina é um pigmento roxo avermelhado presente nas células recep toras da retina; ao longo do desenvolvimento natural, suas propriedades de reação à luz se tornaram imprescindíveis para o senso de visão, ao converter a luz em um sinal quími co que é enviado ao cérebro. Para que os mínimos detalhes possam ser percebidos, muita luz deve ser coletada, e isso exige olhos bastante gran des. Os seres humanos têm olhos maiores e mais sofistica dos que a maioria dos animais, e sua visão é um dos sentidos mais aguçados. O fator limitante na resolução de um olho é o número de receptores disponíveis para coletar a luz que nele incide. Os olhos humanos têm cerca de 200.000 recep tores por milímetro quadrado; já os olhos dos falcões che gam a ter cerca de um milhão de receptores na mesma área, o que confere a tais animais uma capacidade ímpar de iden tificar suas presas minúsculas a distâncias muito superiores àquelas que a visão humana poderia alcançar. ções: a área de visão colorida nítida é restrita à fóvea; a sensibilidade à luz fraca se concentra nas partes da retina que têm menores níveis de “alta resolução”; a abertura da íris é limitada (o que significa que a va- riedade de adaptação à luz forte também é restrita); as células re- ceptoras sensíveis à luz, os bastone- tes, se posicionam sob uma rede de vasos sanguíneos; e há um verda- deiro furo — um ponto cego — na zona de imagem visual onde o ner- vo ótico sai, no fundo do olho. Fe- lizmente, nosso sistema visual pode fazer compensações extraordinárias que ampliam seu nível de sensibili- dade, fazendo com que as limita- ções físicas da íris se tornem relati- vamente pequenas. Assim, ele é capaz de gerar uma imagem total- mente colorida por todo nosso campo de visão e inclusive conse- gue cobrir totalmente nosso ponto cego. O olho humano é um instru- mento ótico incrível, mas grande parte da mágica da visão ocorre depois que a luz atinge a retina. Íris Pupila Humor aquoso (Câmara anterior) Conjuntiva (Túnica conjuntiva) Cristalino Nervo ótico Ponto cego (Papila ótica) Humor vítreo Fóvea (Mancha amarela) Retina Músculo ciliar Córnea À esquerda O olho humano é um conjunto im- pressionante de elementos que co- letam a energia luminosa que nosso sistema visual utiliza para nos pro- porcionar o sentido da visão. A con- tração muscular da íris proporciona certo nível de controle sobre a quantidade de luz que pode entrar no olho, retraindo-se em condições de alta luminosidade e se dilatando para captar mais luz, quando a lu- minosidade não é tão boa. A curva na parte dianteira do olho e o for- mato do cristalino permitem que uma imagem focada possa ser cria- da na retina, no fundo do olho. Os músculos ao redor do cristalino podem alterar a forma desse, fo- calizando tanto objetos próximos como distantes. A luz que incide na retina estimula as células receptoras sensíveis à luz (chamadas bastone- tes) que produzem sinais elétricos, os quais são enviados ao córtex vi- sual do cérebro. Ainda assim, se considerarmos o olho humano como um projeto completo, pode- ríamos dizer que ele é bastante im- perfeito. Eis algumas de suas limita- No total, o olho humano contém cerca de 120 milhões de receptores, mas eles não estão distribuídos homogenea mente na retina. Há uma pequena região central do olho humano na qual os receptores estão extremamente concen trados. Essa área de grande concentração — a fóvea ou man cha amarela — corresponde a apenas uma minúscula área da superfície da retina e cobre somente 1,5 grau do nosso campo de visão, mas mesmo assim é responsável pela parte mais detalhada de nossa visão. Os animais cujo hábitat na tural é formado por planícies e campos abertos têm fóveas elípticas, que se estendem horizontalmente para abarcar o entorno. Os seres humanos, ao contrário, têm fóveas prati camente circulares que se parecem com as dos olhos dos animais que vivem em florestas. Nosso sistema ótico se de senvolveu para lidar com a complexidade visual de um am biente no qual era necessário localizar os alimentos e os pe rigos tanto horizontal como verticalmente. 30 Teoria imagens quando vistos em relação ao primeiro plano. O ní vel de deslocamento entre as duas imagens é proporcional à distância entre nossos olhos e o objeto visualizado. Nosso cérebro consegue processar e decifrar tais informações rapi damente, a fim de identificar com precisão o posicionamen to dos objetos no espaço tridimensional. A visão estereoscó pica nos permite pegar objetos com precisão ou subir em uma árvore e saltar de um galho a outro e nos dá a percep ção de profundidade. Outros estímulos óticos podem sugerir a profundidade, sem que sejam necessárias as duas visões geradas por cada um de nossos olhos. A sobreposição de objetos, a escala, o escorço e a perspectiva aérea são alguns dos recursos empre gados pelos pintores para criar uma ideia de tridimensionali dade em uma superfície bidimensional. Um projetista expe riente pode tirar partido desses recursos visuais e usar a luz para manipular e aprimorar nossa resposta visual ao espaço. Visão estereoscópica Os seres humanos, assim como outros predadores, têm olhos bastante próximos entre si na parte anterior da cabe ça, o que lhes confere uma visão focal e voltada para frente. Uma grande sobreposição de cerca de 120° em um campode visão total de cerca de 180° nos permite ter uma visão preci sa nessa zona de visão principal. O campo de visão sobre posto combinado com a distância entre nossos olhos signifi ca que nosso cérebro recebe duas vistas levemente diferentes de uma cena, cada uma compensada pela distância entre nossos olhos. Nosso cérebro combina as informações das duas imagens e nos dá uma visão estereoscópica — a capaci dade de estimar com precisão a localização tridimensional de um objeto simplesmente olhando para ele. Tente olhar para um objeto no primeiro plano e depois feche cada um de seus olhos, alternadamente. Os objetos distantes não parecerão se mover muito, mas aqueles que estão perto de nós parecerão saltar bastante entre as duas À direita Nossos olhos são móveis e têm um amplo campo de visão potencial, mas o modo como eles se inserem na cabeça limita a distância até a qual conseguimos ver em cada di- reção. A visão de cada olho é limita- da lateralmente pelo nariz e, verti- calmente, pela testa e pelo osso malar. Quando ocorre a combina- ção da visão dos dois olhos, temos o campo de visão representado neste diagrama. As áreas escuras nas partes superior e inferior corres- pondem aos locais onde a visão é obstruída pela testa e pelas boche- chas, respectivamente. A área clara, no centro, é onde se sobrepõe a vi- são de nossos dois olhos, gerando a visão estereoscópica. A zona hachu- rada é onde a visão é obtida por apenas um dos olhos, devido à obs- trução do nariz. Fatores humanos 31 À esquerda O arranjo de um modelo virtual que ilustra a visão estereoscópica. Se duas câmeras (ou olhos) estiverem a certa distância entre si e estiverem voltadas para a mesma direção, a vista de cada uma delas será leve- mente diferente. Embaixo, à esquerda A vista da câmera esquerda. Embaixo, à direita A vista da câmera direita. Observe que, em cada uma das imagens, as colunas coloridas se sobrepõem à régua localizada no pano de fundo em um lugar diferente. À esquerda Quando as imagens esquerda e di- reita são sobrepostas, é possível en- tender como a visão estereoscópica ou binocular pode proporcionar a sensação de profundidade. Nesta imagem composta fica claro que a compensação horizontal entre as vistas esquerda e direita de cada co- luna se relaciona diretamente com a distância do observador. Na ima- gem composta, a coluna amarela se torna mais próxima do observador, e há um grande espaço entre as duas posições relativas da coluna amarela; já a coluna verde, mais afastada do observador, não teve seus posicionamentos muito afeta- dos. Nosso cérebro consegue com- parar os sinais recebidos por cada um dos olhos, a fim de encontrar áreas que correspondam. Com base no deslocamento relativo de um objeto na imagem, o cérebro pode determinar a que distância o objeto se encontra. Visão do olho esquerdo Visão do olho direito Visão de olho esquerdoVisão de olho direito 200 mm 1.400 mm 32 Teoria Detecção do movimento “Todos os olhos são, antes de tudo, detectores de movimento.” RichaRd L. GReGoRy, EyE and Brain: ThE Psychology of sEEing, 2a ed., 1972, p. 94. Até mesmo nossa visão mais precisa usa receptores que são simples detectores de luz acesa ou apagada. Alguns desses receptores enviam impulsos nervosos ao cérebro somente se uma luz se encontra acesa; outros são acionados tanto pelo ligar ou desligar da luz. Nenhum deles envia impulsos em um estado estático. Todos os receptores registram mudan ças; sejam estas provocadas pelo movimento ou pelo ligar ou desligar de uma luz, o resultado continua sendo uma va riação na quantidade de luz recebida pelo receptor. Esta é a essência de nossa visão: ela percebe a mudança, não a estase. Se pudéssemos observar fixamente uma cena imóvel sem mover nossos olhos, a cena pouco a pouco iria esmaecer, até o ponto em que seríamos incapazes de “ver” aquilo que es tava em nossa frente. À esquerda Gráfico que ilustra a sensibilidade máxima dos bastonetes (receptores de luminosidade), de aproximada- mente 507 nm, e a sensibilidade má- xima dos cones (receptores de co- res), de aproximadamente 555 nm. 100 - 90 - 80 - 70 - 60 - 50 - 40 - 30 - 20 - 10 - 400 - 420 - 440 - 460 - 480 - 500 - 520 - 540 - 560 - 580 - 600 - 620 - 640 - 660 - 680 - 700 - Sensibilidade máxima dos cones (receptores de cores), de aproximadamente 555 nm Sensibilidade máxima dos bastonetes (receptores de luminosidade), de aproximadamente 507 nm Comprimento de onda (nm) Sensibilidade relativa (%) Mas se nossos receptores de luz são acionados pelo mo vimento, como podemos ver objetos imóveis, como as pare des e os pisos? Em um ambiente estático, nossos movimentos através do espaço (isto é, o giro de nossas cabeças ou dos nos sos olhos) resultam em uma vista que muda continuamente, o que, ao criar algum contraste na cena, produz as mudanças de “luz ligada” e “luz desligada” que provocam respostas de nossos receptores visuais. Nosso cérebro combina essas in formações com as sugestões físicas geradas por nossos movi mentos e para onde nossos olhos estão observando, com o objetivo de construir uma vista coerente da cena. Mesmo quando pensamos estar imóveis, nossos olhos continuam a produzir minúsculos movimentos involuntá rios. Esses movimentos, chamados “movimentos oculares sacádicos” e “movimentos oculares microssacádicos”, são totalmente inconscientes. O movimento ocular sacádico não apenas gera uma imagem mais detalhada, ao fazer com que o cone mais estreito de nossa visão aguda varra uma grande área, como cria um movimento aparente, permitin do que nossos receptores oculares continuem recebendo os estímulos de “luz ligada” e “luz desligada”. Fatores humanos 33 Baixa sensibilidade à luz Os sensores das câmaras digitais e os sensores visuais huma nos são instrumentos sensíveis: uma quantidade mínima de energia luminosa, mesmo um único fóton, é suficiente para fazer com que um receptor entre em ação. No entanto, por mais sensíveis que esses sistemas sejam, eles apenas conse guem detectar diferenças em sinais que estão acima do nível do pano de fundo. E, infelizmente, mesmo na escuridão ab soluta, ainda há uma pequena quantidade de acionamentos aleatórios e acidentais nos receptores. Isso é chamado “ruído”. O sinal da razão de ruído define o limiar de sensibilidade de qualquer sistema sensorial. O sistema visual humano pode ser sensível o suficiente para detectar até mesmo um único fóton de luz, mas um único acionamento de nossos sensores visuais pode ser facilmente provocado pelo ruído aleatório. Sob condições de luminosidade extremamente baixa, nosso sistema visual busca a comprovação do sinal, aguardando até que receba, em um período de tempo muito curto, mais acionamentos do mesmo receptor ou de seus vizinhos. Só então o sinal será classificado como válido e conseguiremos “vêlo”. Contudo, esse sistema não é perfeito. Se formos À direita, acima Esta imagem simulada mostra uma cena escura com baixíssimo con- traste, como seria percebida à noi- te. A imagem original é a mostrada bem à direita; na imagem do lado esquerdo, foi acrescentado um ruí- do. Os detalhes sutis foram perdi- dos com o ruído, permanecendo visíveis apenas os formatos maiores e mais luminosos. Nessa demons- tração fica evidente como o ruído provocado pela resposta de nossos receptores visuais pode prejudicar gravemente a capacidade que nos- sos olhos têm de discernir peque- nos detalhes. À direita, embaixo A mesma cena, durante o dia. O la- do esquerdo da fotografia tem exa- tamente o mesmo nível de ruído visual da cena noturna imediata- mente acima. No entanto, a maior luminosidade e o maior contraste da imagem diurna produzem um sinal mais forte do que o ruído, e os pequenos detalhes podem ser vis- tos mais claramente. O acionamen- to aleatório dos receptores pode ocorrer durante o dia, sem, no en- tanto, sobrecarregar os sinais reais,sendo mais fácil para nosso sistema visual filtrar o ruído. para um cômodo totalmente escuro, fecharmos nossos olhos e nos concentrarmos, após alguns momentos começa remos a “ver” pequenas centelhas e flashes em nosso campo de visão. Esse é o ruído que o cérebro está interpretando er roneamente como se fosse uma energia luminosa real sendo recebida. O sistema visual humano tem uma estratégia para lidar com os diferentes níveis de energia da luz diurna e noturna. A visão a cores exige muitos recursos em termos de recepto res e processamento, além de um grande nível de energia luminosa. Quando a luz é abundante e o sistema não está sobrecarregado pela necessidade de filtrar o ruído aleatório, a visão a cores é um luxo que vale a pena ter. À noite ou sob condições de baixa luminosidade, ela é abandonada em be nefício de uma visão monocromática muito sensível. As cé lulas receptoras de cores (os cones), ativadas em situações de altos níveis de iluminação para nos proporcionar a visão a cores, são abandonadas em detrimento das células recepto ras de luz (os bastonetes), que nos permitem apreciar os ní veis de luz e sombra. Um efeito similar é encontrado em al 34 Teoria gumas câmeras de vídeo digitais, nas quais, em situações de luminosidade muito baixa, é possível acionar o “modo no turno”, que produz uma imagem muito mais luminosa, des cartando as informações sobre as cores. Luz e psicologia A psicologia da luz e da cor é fascinante para qualquer pes soa interessada em iluminação, mas é um tema que por si só exigiria um livro inteiro. Embora não seja necessário um de talhamento excessivo sobre a psicologia da visão, vale a pena tentar entender um pouco sobre até que ponto a psico logia influencia nosso senso de visão. Isso pode transformar nossa percepção dos modos pelos quais podemos criar am bientes belamente iluminados que provocam respostas emocionais profundas nos observadores. A luz e a cor po dem produzir fortes sensações, e tal resposta não é algo que desejamos que aconteça aleatoriamente; queremos contro lar de modo ativo as características emocionais de nossos projetos de luminotécnica. Como vemos? É tentador acreditar que simplesmente vemos aquilo que está diante de nossos olhos. Mas a verdade é que vemos com nossos cérebros, não com nossos olhos. Ainda que os seres humanos tenham muitas maneiras de perceber seu entorno, como o tato, a audição, o olfato, o paladar e a temperatura, é o sentido da visão que domina tan to nossa compreensão do mundo como suas descrições. A vi são é um meio muito poderoso que pode se sobrepor a infor mações válidas oriundas dos outros sentidos. Um estudo conduzido na França em 2001 por Morrot, Brochet e Dubour dieu demonstrou o poder que a visão tem sobre as pessoas cuja atividade profissional se baseia no alto desempenho do seu sentido do olfato e do paladar. No estudo, sommeliers pro fissionais foram convencidos de que um vinho branco era tinto por meio da adição de um corante alimentício insípido. Isso aconteceu apesar de os sentidos muito apurados do olfa to e paladar dessas pessoas estarem lhes dizendo que aquele sem dúvida era um vinho branco. Assim, a imagem visual do líquido vermelho invalidou a evidência antagônica obtida pelos outros sentidos, convencendo os enólogos de que aqui lo que estavam vendo seria a interpretação correta. Este exemplo dos enólogos que foram enganados por uma sensação falsa nos mostra como os dados brutos que vêm de nossos receptores dos sentidos são filtrados e inter pretados pelo cérebro para provocar uma sensação final. Da mesma maneira, o que vemos é simplesmente nossa percep ção da cena à qual nossos olhos se voltam, e não necessaria mente a cena em si. São inúmeras as ilusões óticas que nos confundem e nos enganam, fazendo com que vejamos algo que não está lá. Mas quase nenhuma dessas ilusões é ótica, ou seja, elas não ocorrem dentro de nossos olhos. Na verdade, elas são criadas pelo cérebro quando ele faz uma falsa interpretação das informações visuais que recebe. Nosso entendimento do mundo é filtrado por nossas experiências passadas e nosso conhecimento sobre o mundo e seu funcionamento. Para qualquer cena que observamos pode haver uma miríade de interpretações possíveis das informações visuais recebidas por nossos olhos. Por exemplo, duas figuras hu manas com tamanhos muito diferentes poderiam ser um adulto e uma criança ou simplesmente uma pessoa muito grande e outra muito pequena. Ou uma das figuras poderia estar perto de nós e a outra longe; a figura maior poderia ser real e a outra, um brinquedo; ou a figura pequena poderia ser a real, e a grande, uma fotografia em um outdoor. Qual quer uma dessas interpretações poderia ser a correta. Em vez de nos apresentar todas essas possibilidades, o cérebro usa todas as informações disponíveis e faz uma filtragem, des cartando as interpretações impossíveis ou improváveis. O sistema visual tem de lidar muito rapidamente com uma grande quantidade de informações e interpretações, uma tarefa que pode ser muito acelerada se houver uma priorização das interpretações que fazemos com mais fre quência. Por exemplo, uma vista na qual uma pessoa parece ser transparente talvez não seja tão incomum quanto pare ce. Ela pode ocorrer se houver uma superfície refletiva trans parente entre o observador e a pessoa visualizada, o que pode sobrepor os reflexos de outros objetos à imagem da pessoa, criando uma imagem muito complexa. Ela também poderia ser a imagem de uma pessoa refletida por uma vitri ne, se as demais atividades visíveis ao fundo fazem com que a pessoa visualizada pareça ser transparente. Contudo, ape sar de todos os efeitos especiais que talvez já tenhamos visto no cinema e na televisão, nossos cérebros jamais percebe ram pessoas transparentes na vida real; assim, essa interpre tação é rapidamente filtrada e descartada, e buscamos expli cações baseadas em nossas experiências anteriores, como o fato de que as vidraças das janelas são parcialmente transpa rentes e parcialmente refletivas. Muitas ilusões dependem de que o cérebro aplique a uma imagem a intepretação mais provável baseada na expe riência anterior. No teatro, um ator pode se tornar transpa rente se sua imagem for refletida em uma lâmina de vidro muito grande, cujas arestas permaneçam ocultas. Sem ne nhuma pista visual que nos indique a presença de uma su perfície refletiva transparente no palco, a única interpreta ção supostamente lógica é de que o ator é transparente. O fantasma de Pepper, o nome dado a essa técnica, é uma ilusão de ótica teatral muito convincente. Fatores humanos 35 Preferências Uma vez que nossa visão é influenciada pelo filtro da expe riência de vida e pelas intepretações fornecidas pelo cérebro, ela é muito suscetível à parcialidade e ao preconceito. Nossa interpretação da cor também inclui uma enorme quantidade de associações culturais, pessoais e naturais. É importante entender essas relações culturalmente complexas e frequen temente contraditórias quando projetamos o uso da ilumi nação e das cores. A cor branca é associada ao inverno, à lua, à pureza e à alegria. Apesar de não ser nada prático, o branco do avental de um médico sugere limpeza. Inúmeras analogias entre a cor e os ambientes naturais cruzam as fronteiras culturais: o azul é a cor do céu e da frieza; o vermelho é a cor do pôr do sol, de muitas frutas silvestres e do sangue; o amarelo é a cor do ouro e da luz do sol, além de advertir perigo, como quan do é empregado pelas vespas no mundo natural. Apesar de tudo, nossa experiência cultural também tem forte influência nas associações que fazemos com a cor. Nas culturas ocidentais, o branco representa a inocência e é a cor dos trajes de batismo e dos vestidos de noiva. Já no Império Romano, era a cor do luto, como ainda é na República Popu lar da China. Para os hindus modernos, o branco representa a água, assim como acontecia na Grécia
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