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ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Rodolfo Vieira Nunes Termos de crédito Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer as condições de comercialização utilizadas. Identificar os termos de desconto financeiro e bancário. Relacionar as técnicas de cobrança praticadas no mercado. Introdução O custo elevado do financiamento no Brasil é um dos fatores que limita o crescimento da economia e aumenta a desvantagem competitiva das empresas nacionais. Que também enfrentam grandes dificuldades para encontrar financiamentos com custo e prazo adequados. Neste capítulo, você vai estudar alguns conceitos relacionados à política de crédito das empresas, compreendendo os tipos de condições de crédito disponíveis, as formas de desconto utilizadas e a sua importância, além das ferramentas de cobrança aplicadas. Você também vai compreender as práticas e os motivos que levam uma empresa a valer-se de políticas de desconto com seus fornecedores e até com seus clientes. Por fim, você vai conferir a política de cobrança que as organizações costumam utilizar para tentar diminuir a inadimplência da sua carteira de crédito. 1 Condições de comercialização O custo de fi nanciamento apresenta forte impacto sobre o resultado fi nan- ceiro e operacional da empresa, além de aumentar o seu custo de capital. Assim, é importante a cautela no momento da escolha de um crédito. Deve ser considerada a adequação entre as fontes e as aplicações de recursos em termos de prazos e custos. A compra de um equipamento cujo valor investido somente será recuperado em alguns anos por meio das receitas de vendas deve ser fi nanciada com recursos permanentes. Se forem utilizados recursos provenientes de um empréstimo com prazo inferior ao da maturação fi nanceira desse investimento, a empresa poderá enfrentar difi culdades para liquidar a dívida no vencimento do contrato. Os juros e os demais encargos incidentes sobre os empréstimos e finan- ciamentos oneram o resultado econômico, reduzindo a parcela de lucro que restará aos acionistas. Além disso, os emprestadores de recursos podem exigir garantias reais e impor condições contratuais que reduzam a flexibilidade de gestão da empresa. Mesmo os créditos obtidos junto aos fornecedores envolvem custo financeiro, representado pelo desconto para pagamento a vista que deixou de ser desfrutado. Observa-se a existência de custos explícitos, perfeitamente mensuráveis em termos de valor e taxa. Poucas fontes de recursos de curto prazo não têm custos financeiros, como salários, impostos a pagar, contribuições a recolher etc. É importante destacar que o crédito pode ser obtido via terceiros por meio de duas fontes de financiamento: fontes operacionais e fontes financeiras. As fontes de financiamento atendem à necessidade de capital para o financiamento das operações das empresas, podendo ser suprida pela captação de recursos no mercado (fontes financeiras) ou pela utilização de recursos gerados inter- namente (fontes operacionais), conforme Padoveze (2005). Fontes operacionais As possibilidades de obter crédito via fontes operacionais (MATIAS, 2014), que serão abordadas na sequência, são: fornecedores; impostos e obrigações; salários; adiantamento de clientes. Fornecedores Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolve atividades de produção montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. As condições de compra e de matéria-prima são a principal fonte de fi nanciamento a curto prazo para a empresa (ASSAF NETO, 2014). O crédito é estabelecido de acordo com o nível de atividades da empresa (volume e Termos de crédito2 tamanho), havendo a possibilidade de consignação e/ou parcerias. Nesse sen- tido, é fundamental considerar três elementos dos termos de crédito: prazos, condições de pagamento e descontos. Impostos e obrigações sociais (governo) Segundo Braga (1988), o imposto é uma imposição de um encargo fi nanceiro ou outro tributo sobre o contribuinte (pessoa física ou jurídica) por um Estado ou o equivalente funcional de um Estado, a partir da ocorrência de um fato gerador. É estabelecido pela aplicação de uma alíquota a uma base de cálculo, de forma que o seu não pagamento acarreta sanções civis e penais, impostas à entidade ou ao indivíduo não pagador, segundo a lei. Os encargos sociais e trabalhistas são responsabilidades da empresa com seus contratados por meio da carteira de trabalho. Essas obrigações são conhe- cidas como custos indiretos (MEGLIORINI; VALLIM, 2009). Esses custos indiretos podem ser divididos em duas modalidades: aqueles que são pagos diretamente ao trabalhador, como os benefícios; aqueles que são pagos para fundos específicos, como o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Esses encargos são também conhecidos como financiamento público ou do governo, pois estão relacionados com a obrigatoriedade dos impostos e obrigações devidas. As organizações devem ficar atentas em relação a prazos para recolhimento, postergação (atrasos) e questões de inadimplência (possibilidade de parcelamento). Salários (funcionários) O salário é um conjunto de vantagens habitualmente atribuídas aos empre- gados, em contrapartida pelos serviços prestados ao empregador, em quantia sufi ciente para satisfazer as necessidades (GITMAN, 2010). Por outro lado, o salário, na visão da gestão de pessoas da empresa, pode ser considerado como custo de aquisição e manutenção de recursos humanos, sendo, assim, denominado de despesa de pessoal. Os encargos trabalhistas, porém, não podem ser considerados nem quitados como salário do colaborador. Quando a organização, por alguma razão, atrasa o pagamento de salários dos colaboradores, de forma intencional ou não intencional, acaba por realizar um financiamento de crédito operacional junto a seus funcionários. Essa 3Termos de crédito medida, porém, tem duas possíveis repercussões: desmotivação e queda de produtividade de parte dos colaboradores. Adiantamento de clientes O termo cliente faz alusão à pessoa que tem acesso a um produto ou serviço mediante pagamento. A noção tende a ser associada a quem recorrer ao pro- duto ou serviço em questão com assiduidade, ainda que também existam os clientes ocasionais (ou pontuais) (MATIAS, 2014). O recebimento antecipado de valores por uma entrega futura do produto, ou seja, uma antecipação de pagamento advinda de produtos sob encomenda ou de mercados compradores, em que é característica pagar antes por um produto, é enquadrado como um fi nanciamento operacional. Fontes financeiras Agora, vamos ver as possibilidades de fontes fi nanceiras de fi nanciamento. Podemos dividi-las entre as fontes advindas de bancos comerciais, múltiplos e de investimentos, e a factoring. Essas fontes fi nanceiras representam en- dividamento da empresa perante terceiros. A necessidade de empréstimos e fi nanciamentos pode ser para fi ns específi cos ou não. A função dos bancos comerciais, múltiplos e de investimentos é viabilizar transações. Em outras palavras, um banco capta recursos de quem os obtém de maneira abundante (agentes superavitários), pagando uma certa taxa de juros, e busca transferir esse capital para quem, naquele momento, necessita do mesmo por algum motivo (agentes deficitários), normalmente cobrando por isso uma taxa de juros acima daquela pela qual o dinheiro foi captado. Dessa forma, temos as seguintes opções de créditos financeiros, que serão abordadas na sequência: hot money, desconto de títulos, cheque pré-datado, conta garantida, crédito rotativo, empréstimo para capital de giro, financia- mento de tributos e obrigações sociais e crédito rural. Hot money Hot money é um empréstimo de dinheiro em curto prazo (ou curtíssimo), entre 1 e 29 dias(HOJI, 2014). Isso deixa claro que ele é uma alternativa para empresas que precisam realizar um pagamento e não têm capital de giro. Ou seja, serve como um ajuste do deslocamento de dinheiro do caixa de uma forma muito mais rápida, para cobrir despesas imediatas sem burocracia. Termos de crédito4 A taxa de juro que incide sobre a quantia emprestada é mais altas do que outros tipos de empréstimos, exatamente pela rapidez do acesso ao dinheiro. Elas são baseadas na taxa do certificado de depósito interbancário do dia da operação, somada ao valor dos impostos do Programa de Integração Social e da contribuição para o financiamento da Seguridade Social sobre o faturamento da transação. O objetivo do hot money nada mais é do que resolver problemas pontuais da tesouraria. Exatamente por essa razão ele é considerado como um crédito de curto prazo. Desconto de títulos Chama-se desconto a operação bancária de entrega do valor de um título ao seu detentor, antes do prazo do vencimento e mediante o pagamento de determinada quantia por parte deste. Assim, para Assaf Neto (2014), o des- conto de títulos ou duplicatas é um adiantamento de recursos, feito por uma instituição fi nanceira sobre os valores dos respectivos títulos (duplicatas ou notas promissórias). Nesse tipo de operação, o cliente recebe antecipadamente o valor correspondente às suas vendas a prazo. Ao apresentar um título de vencimento futuro para desconto no presente, entretanto, o cliente não recebe seu valor total, pois, sobre esse valor, as instituições deduzem a chamada taxa de desconto, além de impostos (como o imposto sobre operações fi nanceiras) e encargos administrativos. Cheque pré-datado Comumente chamado de "cheque pré" ou simplesmente "pré-datado", o cheque pré-datado é uma operação de crédito não regulamentada pela lei do direito econômico que permite que um comprador pague de forma parcelada por um bem adquirido (PADOVEZE, 2005). É muito utilizado em razão da praticidade, não exigindo elaboração de contratos ou nota promissória, carnês ou boleto de compensação para pagamento. É importante lembrar que um cheque é uma ordem de pagamento à vista (independentemente da data preenchida na folha de cheque). Assim, o comprador não tem garantia legal de que o vendedor honrará as datas acordadas para desconto de cada folha de cheque pré-datado. Assim, a data colocada no corpo do cheque deve ser respeitada pela pessoa que o recebe; do contrário haverá quebra de contrato entre as partes. O banco não tem responsabilidade sobre o depósito antecipado de um cheque. 5Termos de crédito Conta garantida A conta garantida é uma linha de crédito pré-aprovada, que se assemelha ao cheque especial. Com esse serviço, o banco disponibiliza à pessoa jurídica ou física uma outra conta, com um limite disponível para retirada. Dessa forma, em situações emergenciais, para cobrir o caixa da empresa, por exemplo, pode-se realizar o saque dos valores. Ou seja, o propósito é dar cobertura a eventuais saldos devedores registrados nas contas correntes, possibilitando às empresas atenderem às necessidades urgentes de caixa (MATIAS, 2014). Crédito rotativo O crédito rotativo é um tipo de crédito que funciona de forma semelhante a um empréstimo de emergência, sendo concedido tanto a pessoas físicas quanto jurídicas. Mediante o contrato de crédito rotativo, abre-se uma linha de crédito a uma pessoa física ou jurídica, com limite preestabelecido e que pode ser utilizado de forma automática pelo tomador, de acordo com suas necessidades (SILVA, 2012). O crédito disponível diminui à medida que o tomador o utiliza e aumenta à medida que é feito o pagamento do principal já utilizado. Geralmente, esse tipo de crédito é concedido pelos bancos a seus clientes, após análise de cré- dito. Outra característica desse tipo de crédito é que o cliente paga encargos e impostos somente pelos recursos usados e pelo tempo que os utilizou. Empréstimo para capital de giro O empréstimo para capital de giro é uma linha de crédito concedida pelos bancos para fi nanciar a operação do dia a dia da empresa (GITMAN, 2010). Geralmente, é oferecido em melhores condições pelo banco em que a empresa possui conta; em muitos casos, um bom relacionamento com o banco pode render melhores condições em sua contratação. Existem inúmeras opções de empréstimo de capital de giro, com formas de pagamento mensais, bimestrais, trimestrais e semestrais, ou até mesmo com a quitação sendo feita de uma só vez no final do contrato — tudo depende do fluxo da empresa. Além disso, algumas linhas de capital de giro oferecidas pelos bancos são destinadas a empresas com ramos de atividades específicos, o que faz com que tenham condições diferenciadas. O detalhe principal desse tipo de empréstimo é que ele só é feito para pessoas jurídicas. Então, a empresa precisa estar ativa e devidamente formalizada. Ao Termos de crédito6 solicitar esse empréstimo, você será orientado a apresentar alguns documentos, como o CPF e a carteira de identidade dos sócios, o CNPJ, o contrato social e os demonstrativos de resultados dos anos anteriores. Diferentemente de outras modalidades de empréstimos, você não será obrigado a dizer qual é a finalidade do dinheiro que está solicitando. Porém, é importante ter bom senso e usar esse capital de forma correta e eficiente. A análise de balanços surgiu por motivos eminentemente práticos e se mostrou, desde cedo, um instrumento de grande utilidade, pois fornece uma série de dados sobre a empresa, de acordo com as regras contábeis. Os demonstrativos financeiros de uma empresa são muito importantes na concessão de crédito, embora não sejam a única fonte utilizada na tomada de decisão. A análise de balanço deve ser entendida por suas possibilidades e limitações: por um lado, aponta problemas a serem investigados e, por outro, pode se transformar em uma poderosa ferramenta para controle. Financiamento de tributos e obrigações sociais O fi nanciamento de tributos e obrigações sociais é a operação de crédito em que o banco proporciona à empresa a possibilidade de recolher pontualmente os valores referentes a impostos e obrigações sociais. Para a obtenção desse tipo de crédito, é necessário apresentar certidões negativas de débito junto ao INSS, à Secretaria da Receita Estadual e Federal, ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e a outros órgãos (BRAGA, 1988). Crédito rural O crédito rural consiste na destinação de recursos para contratação de opera- ções de crédito por produtores rurais e agricultores familiares. Ele fi nancia o custeio da produção e da comercialização de produtos agropecuários e estimula os investimentos rurais, incluindo armazenamento, benefi ciamento e industrialização dos produtos agrícolas (MEGLIORINI; VALLIM, 2009). Além de fortalecer o setor rural, o crédito rural incentiva a introdução de métodos racionais no sistema de produção. As instituições fi nanceiras dispõem de várias modalidades de fi nanciamento para o atendimento das necessidades correntes na produção agropecuária. 7Termos de crédito Captar recursos externos por meio de modalidades de empréstimos e financiamentos é uma das formas de estados e municípios poderem executar obras de infraestru- tura nas cidades. Aliás, muitos projetos de saneamento, trânsito, oferta de água ou energia, entre outros, dependem de verbas advindas das diferentes modalidades de empréstimos internacionais. 2 Termos de desconto financeiro e bancário Nas operações comerciais e na prestação de serviços, é bastante comum as empresas se utilizarem do artifício do desconto, como um meio fl exível para resolver diversas situações em suas operações negociais, como: repor mercadoria faltante; fidelizar clientes; alavancar o volume de vendas; incentivar o pagamento em dia; premiar clientes que pagam pontualmente; entre outras situações. Os descontos podem ser divididos em duas espécies: descontos condicio- nais e descontosincondicionais. O desconto condicional, também chamado de desconto financeiro, é aquele concedido mediante uma condição futura específica acordada entre vendedor (credor) e comprador (devedor), quando da realização do negócio. Normalmente, ele visa a incentivar o pagamento do débito em dia, evitando, dessa forma, transtornos para o credor, tanto no aspecto de liquidez financeira quanto no burocrático (ASSAF NETO, 2014). Quando o direito ao desconto depender do exercício até a data convencio- nada, essa é a condição em que, se não exercida naquela data, corresponderá à renúncia ao benefício por decurso de prazo de seu exercício. O desconto financeiro não deve ter seu valor mencionado na nota fiscal, pois ele é oriundo de "recebimento", normalmente, no prazo ou em data antecipada, o que faz gerar contabilmente uma despesa financeira para a empresa concedente (des- pesa operacional). Termos de crédito8 Já o desconto incondicional, também conhecido como desconto comercial, é aquele que não depende de qualquer condição futura, sendo concedido por mera liberalidade do vendedor ao comprador. Ele incide diretamente no preço das mercadorias ou produtos vendidos e/ou nos serviços prestados. Por isso, nessa espécie, o desconto deve ser mencionado na nota fiscal de venda ou de prestação de serviço, ou documento similar (BRAGA, 1988). Portanto, temos que os descontos comerciais se diferenciam dos descontos financeiros pelo simples fato de a concessão desse último estar atrelada ao cumprimento de uma condição de pagamento do título (normalmente, uma duplicata) até determinada data pactuada entre as partes (credor e devedor). Veja a seguir uma síntese que explica onde a empresa terá um impacto se houver algum tipo de desconto comercial ou financeiro (SILVA, 2012). Desconto comercial ou incondicional: deduzido do valor da mercadoria. Desconto financeiro ou condicional: receita financeira. É importante conhecer detalhadamente as diferenças entre desconto fi- nanceiro e desconto comercial. Isso porque a primeira opção, embora fre- quentemente utilizada no mundo empresarial, é uma prática que não traz benefícios para o vendedor, muito menos para o comprador, pois é muito cara em termos tributários. Os descontos incondicionais são considerados parcelas redutoras do preço de vendas, quando constarem da nota fiscal de venda dos bens ou da fatura de serviços e não dependerem de evento posterior à emissão desses documentos. Esses descontos não se incluem na receita bruta da pessoa jurídica vendedora e, do ponto de vista da pessoa jurídica adquirente dos bens ou serviços, constituem redutor do custo de aquisição, não configurando receita. Veja um exemplo: Mercadorias R$ 100.000,00 ( – ) Descontos incondicionais R$ 20.000,00 ( = ) Valor de venda/nota fiscal R$ 80.000,00 Os R$ 80.000,00 constituirão a receita bruta da vendedora e, para o comprador, o custo das mercadorias. Já os descontos condicionais são aqueles que dependem de evento posterior à emissão da nota fiscal, usualmente, do pagamento da compra dentro de certo prazo, e configuram despesa financeira para o vendedor e receita financeira para o comprador. 9Termos de crédito Conforme visto anteriormente, o desconto financeiro está associado ao cumprimento de uma condição futura específica, como no caso da antecipação do pagamento do débito ou da fidelidade do cliente. Por outro lado, o desconto comercial é considerado uma operação incondicional, ou seja, não está atre- lada a uma condição futura e, por isso mesmo, acaba sendo uma bonificação concedida na nota fiscal de venda e/ou de prestação de serviço. O desconto é uma prática ou mecanismo de compensação recebida pelo tomador do empréstimo, relacionada ao pagamento adiantado de uma operação de crédito. O desconto chamado de comercial é um tipo de desconto aplicado em cima do valor nominal, ou seja, do valor futuro de um título financeiro. O desconto financeiro é o mesmo valor dos juros produzidos pelo valor inicial; logo, esse desconto é a diferença entre o valor dito nominal e o valor real que tal título possui. Suponha um pagamento de duplicata com desconto por pagamento pontual de R$ 1.000,00, oferecido pelo vendedor ao comprador. Teremos, então: para o vendedor: contabilização de R$ 1.000,00 a título de despesa financeira (desconto concedido); para o comprador: contabilização de R$ 1.000,00 a título de receita financeira (descontos obtidos). 3 Técnicas de cobrança praticadas no mercado A política de cobrança deve conter critérios e diretrizes que orientem as atitudes e condutas do cobrador; ou seja, deve levar em consideração que o cliente devedor ainda é um cliente, que este pode estar passando por uma difi culdade momentânea e que logo vai colocar sua dívida em dia e continuar comprando (HOJI, 2014). É importante destacar que a política deve ser faci- litadora, evitando critérios ou diretrizes rígidos demais, a fi m de recuperar os ativos da empresa. Em resumo, uma política de cobrança reflete os procedimentos adotados para receber uma dívida na data do vencimento e as ações a serem adotadas no caso de atraso no pagamento, com definições específicas das medidas a serem tomadas e o tempo necessário para sua implementação. Essa prática Termos de crédito10 tem por objetivo uma gestão de crédito e pressupõe uma eficiente recuperação de parcelas em atraso. Com esse instrumento, a organização pode aumen- tar a eficiência dos processos de cobrança, reduzindo riscos e perdas com inadimplência. O Quadro 1 traz um fluxo de cobranças, em que são especificadas as etapas e os prazos para cada tipo de cobrança da empresa. Trata-se de um exemplo ou parâmetro para que as organizações possam criar e implementar uma política de cobrança própria. Fonte: Adaptado de Hoji (2014). Cobrança Ações 1-30 dias Envio de carta de cobrança I Contato por telefone Ações de cobrança 31-60 dias Envio de carta de cobrança II Contato por telefone Negativação no programa de pendências financeiras do Serasa Acionamento da equipe de serviços 61-120 dias Envio de carta de cobrança III Cobrança terceirizada 121-999 dias Envio de carta de cobrança IV Contato por telefone Acionamento jurídico Quadro 1. Fluxo de cobrança Dentro da política de cobrança, devem ser definidos alguns processos de cobrança, para quando o cliente não vir a cumprir com os devidos pagamen- tos dentro do prazo acordado entre as partes. Para Hoji (2014), o intuito da cobrança é o de recuperar créditos em atraso de uma forma que não cause prejuízos financeiros aos credores nem comprometa a idoneidade dos clientes no mercado de crédito. Assim, para que se possa administrar uma carteira de crédito, deve-se ter o suporte de uma política de cobrança que, por meio do uso de alguns procedimentos, possa recuperar total ou parcialmente o crédito devido pelo cliente. A seguir são descritas algumas práticas de cobrança. 11Termos de crédito Cobrança por telefone De acordo com Braga (1988), o procedimento de cobrança por telefone é o mais indicado e deve ser o mais usado entre as empresas, por ser rápido e efi caz. Esse contato deve ser feito direto com o devedor, a fi m de evitar desentendimentos. Silva (2012) acrescenta que a cobrança temque ser feita de forma elegante, sem constrangimento, possibilitando um acordo verbal, com a promessa de pagamento dentro de um determinado prazo. Cobrança por meio de cartas Conforme Padoveze (2005), passados alguns dias do vencimento, o credor envia uma carta ao cliente para lembrá-lo de suas obrigações. Se, dentro de certo período estipulado, o cliente ainda não efetuar o pagamento, envia-se uma segunda carta, mais enfática. Esse procedimento não coloca o cobrador em contato direto com o cliente, o que pode redundar em baixa efi cácia. Dependendo das intenções do cliente, este talvez não dê importância a essa cobrança. Cobrança pessoal ou cobradores externos Silva (2012) explicaque esse procedimento é muito comum para encontrar o cliente e buscar a regularização do crédito. Porém, pode haver difi culdades em localizar o cliente. Nesse procedimento de cobrança pessoal ou por cobradores externos, também se deve ter muito cuidado para não expor o cliente a nenhum constrangimento. A cobrança deve ser feita com muita cautela. Cobrança por meio de agências de cobrança Para Megliorini e Vallim (2009), esse procedimento deve ser adotado quando o gestor de cobrança já tiver esgotado todos os demais meios de cobrança. Assim, um serviço qualifi cado pode vir a complementar o processo de negociação junto ao cliente. Esse procedimento de cobrança é prestado por uma empresa terceirizada, devidamente capacitada para realizar a recuperação de crédito. Porém, esse procedimento de cobrança terceirizado é bem oneroso para a empresa que vai contratá-lo. Termos de crédito12 Protesto É a apresentação pública do título do devedor, para que seja feita sua liquidação. O título deve ser apresentado para protesto contra o sacado ou contra o emi- tente da nota promissória (ASSAF NETO, 2014). Quando já foram efetuados todos os procedimentos de cobrança cabíveis e, mesmo assim, não houve êxito para recuperar o valor concedido ao cliente, a empresa pode optar por cobrar a divida em cartório, sob forma de protesto. De acordo com Matias (2014), o protesto de um título se dá em dois casos: pela falta ou recusa de aceite ou pela falta de pagamento. Cobrança judicial Se o título foi a cartório e ainda assim o pagamento não foi feito, ele é pro- testado. Se, mesmo com o título já protestado, ainda não há jeito de cobrar o cliente, a empresa pode acionar o departamento jurídico e entrar com uma cobrança judicial contra o devedor. Braga (1988) salienta que a empresa só deve entrar com uma cobrança judicial depois de ter esgotado todas as formas de cobrança possíveis. Além de se levar em consideração o custo-benefício, deve-se ter em mente que o processo de cobrança judicial poderá levar muito tempo. Tudo isso deve ser analisado antes de se entrar com a cobrança na justiça. ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014. BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1988. GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. HOJI, M. Administração financeira e orçamentária. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2014. MATIAS, A. B. Finanças corporativas de curto prazo: a gestão do valor do capital de giro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014. MEGLIORINI, E.; VALLIM, M. A. Administração financeira: uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. PADOVEZE, C. L. Introdução à administração financeira. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. SILVA, J. P. da. Análise financeira das empresas. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 13Termos de crédito Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Termos de crédito14
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