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Universidade Politécnica BETÃO ARMADO Apontamentos - Volume 1 Jorge Pindula, Engº Civil 2012 Documento em elaboração e revisão BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 2/118 ÍNDICE SIMBOLOGIA ..................................................................................................................................... VI 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 1 1.1. Definição .................................................................................................................................... 1 1.2. Vantagens e desvantagens ................................................................................................... 1 1.2.1. Vantagens ........................................................................................................................ 1 1.2.2. Desvantagens .................................................................................................................. 1 1.3. Aplicações do Betão Armado ............................................................................................... 3 1.4. Tipos estruturais e modos de solicitação .............................................................................. 3 1.4.1. Estruturas Lineares (reticuladas) ................................................................................... 3 1.4.2. Estruturas Laminares ........................................................................................................ 4 1.4.3. Estruturas maciças .......................................................................................................... 4 2. PROPRIEDADES DOS MATERIAIS .................................................................................................. 6 2.1. Betão .......................................................................................................................................... 6 2.1.1. Características do betão .............................................................................................. 6 2.1.1.1. Resistência à compressão ..................................................................................... 6 2.1.1.2. Resistência à tracção ............................................................................................ 9 2.1.1.3. Módulo de elasticidade ........................................................................................ 9 2.1.1.4. Fluência e retracção............................................................................................ 10 2.1.2. Características relativas a verificação da segurança e dimensionamento ...... 11 2.1.2.1. Resistência ............................................................................................................. 11 2.1.2.2. Diagramas tensões-extensões para análise estrutural ................................... 13 2.1.2.3. Diagramas tensões-extensões para análise estrutural ................................... 14 2.2. Armaduras ............................................................................................................................... 15 2.2.1. Armaduras para o betão armado ............................................................................. 15 2.2.2. Relações tensões-extensões de cálculo ................................................................... 16 2.3. Funcionamento conjunto dos dois materiais ..................................................................... 18 3. BASES DE PROJECTO E ACÇÕES ............................................................................................... 19 3.1. Métodos de análise e avaliação da segurança .............................................................. 19 3.1.1. Método das tensões de segurança .......................................................................... 19 3.1.2. Método de Rotura ........................................................................................................ 20 3.1.3. Método Probabilístico .................................................................................................. 20 3.2. Critérios Gerais de verificação da segurança .................................................................. 21 3.3. Estados Limites ......................................................................................................................... 22 3.3.1. Estados Limites Últimos (ELU) ........................................................................................ 22 3.3.2. Estados limites de serviço ou de utilização (ELS) ..................................................... 23 3.4. Acções ..................................................................................................................................... 23 3.4.1. Classificação e Tipos de Acções ............................................................................... 24 BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 3/118 3.4.1.1. Acções Permanente (g,G) .................................................................................. 24 3.4.1.2. Acções Variáveis (q,Q) ........................................................................................ 24 3.4.1.3. Acções de acidente ou excepcionais ............................................................. 24 3.4.2. Quantificação das acções ......................................................................................... 24 3.4.3. Combinações de Acções ........................................................................................... 25 3.4.4. Diagramas envolventes de esforços ......................................................................... 27 4. SECÇÕES SOLICITADAS A FLEXÃO E AO ESFORÇO AXIAL ..................................................... 28 4.1. Comportamento de secções em flexão (estados de deformação) ............................ 28 4.1.1. Estado I – Secção não fendilhada............................................................................. 28 4.1.2. Estado II – Secção Fendilhada ................................................................................... 30 4.1.3. Estado III – Calculo a rotura ........................................................................................ 31 4.2. Domínios de deformação das secções ............................................................................. 32 4.2.1. Rotura por Deformação Plástica Excessiva do Aço ............................................... 33 4.2.2. Rotura do Betão na Flexão ......................................................................................... 35 4.2.3. Rotura de Secção Inteiramente Comprimida ......................................................... 37 4.3. Hipóteses fundamentais da flexão ...................................................................................... 39 4.4. Secções solicitadas ao Esforço axial: Tirantes e Escoras ................................................. 40 4.4.1. Compressão simples ..................................................................................................... 40 4.4.1.1. Calculo aos Estados Limites Últimos (Rotura) ................................................... 404.4.1.2. Calculo aos Estados Limites de utilização (Elástico em serviço) .................. 41 4.4.1.3. Disposições do REBAP (arts. 120º a 122º) .......................................................... 42 4.4.2. Tracção simples ............................................................................................................. 43 4.4.2.1. Calculo aos Estados Limites Últimos (Rotura) ................................................... 43 4.4.2.2. Calculo aos Estados Limites de utilização (Elástico em serviço) .................. 43 4.5. Secções solicitadas à Flexão Simples – Calculo a Rotura ............................................... 44 4.5.1. Analise da secção ........................................................................................................ 44 4.5.1.1. Secções rectangulares simplesmente armadas ............................................. 44 4.5.1.2. Secções rectangulares duplamente armadas ............................................... 45 4.5.1.3. Vigas em Secção “T” ........................................................................................... 46 4.5.1.3.1. Largura efectiva do banzo comprimido ........................................................ 46 4.5.1.3.2. Hipóteses para o dimensionamento ............................................................... 47 4.5.1.4. Simplificação de secções para efeitos de dimensionamento ..................... 49 4.5.2. Procedimentos de Calculo a Rotura ......................................................................... 50 4.5.2.1. Calculo da Capacidade resistente ................................................................... 50 4.5.2.2. Dimensionamento de armaduras ...................................................................... 51 4.5.2.3. Formulas Simplificadas. Vigas Rectangulares. ................................................. 51 4.5.2.4. Uso de Tabelas ...................................................................................................... 53 4.5.3. Disposições do REBAP .................................................................................................. 53 4.6. Pré-dimensionamento de vigas rectangulares ................................................................. 57 BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 4/118 4.7. Secções solicitadas à Flexão Composta ............................................................................ 59 4.7.1. Considerações Gerais. ................................................................................................. 59 4.7.2. Princípios de Cálculo .................................................................................................... 59 4.7.3. Métodos de análise ...................................................................................................... 59 4.7.3.1. Dimensionamento pelo diagrama bloco-rectangular .................................. 59 4.7.3.1.1. Secção totalmente Traccionada. Armadura simétrica ............................... 60 4.7.3.1.2. Secção parcialmente comprimida. ................................................................ 60 4.7.3.1.3. Secção parcialmente comprimida. Rotura pelo betão .............................. 61 4.7.3.1.4. Secção totalmente comprimida e armadura simétrica .............................. 62 4.7.3.2. Pilares Rectangulares simetricamente armados. Formulas Simplificadas ... 62 4.7.3.3. Resolução recorrendo a ábacos e Tabelas..................................................... 64 4.7.4. Pré-dimensionamento de pilares ............................................................................... 65 4.8. Secções solicitadas à Flexão Desviada .............................................................................. 69 4.8.1. Princípios de Cálculo .................................................................................................... 69 4.8.2. Métodos de Analise e Dimensionamento ................................................................ 69 4.8.2.1. Fórmulas simplificadas – “Processo da excentricidade fictícia” .................. 69 4.8.2.2. Ábacos Elaborados .............................................................................................. 70 5. SECÇÕES SOLICITADAS AO ESFORÇO DE TRANSVERSO ......................................................... 73 5.1. Generalidades ........................................................................................................................ 73 5.2. Comportamento em fase não fendilhada ........................................................................ 73 5.3. Comportamento elástico em fase fendilhada ................................................................. 74 5.3.1. Clássica Analogia da treliça de Morsch ................................................................... 74 5.4. Possíveis modos de rotura ..................................................................................................... 75 5.5. Verificação da Segurança e dimensionamento (REBAP) ............................................... 76 5.5.1. O termo Vwd ................................................................................................................... 77 5.5.2. O termo Vcd quando existem armaduras especificas de esforço transverso .... 77 5.5.3. O termo Vcd quando não existem armaduras específicas de corte ................... 79 5.5.4. Valor máximo do esforço transverso resistente ....................................................... 80 5.5.5. Constituição das armaduras e espaçamento dos varões .................................... 80 5.5.6. Armadura mínima de estribos ..................................................................................... 81 5.6. Disposições construtivas ........................................................................................................ 82 5.7. Disposições regulamentares ................................................................................................. 82 6. SECÇÕES SOLICITADAS A TORÇÃO ......................................................................................... 85 6.1. Generalidades ........................................................................................................................ 85 6.2. Torção de compatibilidade ................................................................................................. 85 6.3. Torção de equilíbrio ............................................................................................................... 85 6.4. Verificação da segurança e dimensionamento (REBAP) ............................................... 86 6.4.1. Generalidades ............................................................................................................... 86 6.4.2. Secção oca eficaz ....................................................................................................... 88 BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 5/118 6.4.3. Valor máximo do momento torsor resistente ........................................................... 89 6.4.4. Constituição da armadura e espaçamento dos varões ....................................... 89 6.5. Esforço de torção associado a flexão ou a esforço transverso ..................................... 90 6.6.Disposições construtivas ........................................................................................................ 91 7. ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS DE ENCURVADURA ........................................................................ 92 7.1. Introdução ............................................................................................................................... 92 7.2. Parâmetros fundamentais para a verificação da segurança ....................................... 92 7.2.1. Mobilidade da Estrutura (tipos de estrutura) ............................................................ 92 7.2.2. Esbelteza ......................................................................................................................... 93 7.2.3. Comprimento efectivo de encurvadura e secção critica .................................... 95 7.2.4. Direcções de encurvadura ......................................................................................... 99 7.2.5. Momentos actuantes nas secções criticas ............................................................ 100 7.2.6. Excentricidades ........................................................................................................... 103 a) Excentricidade de 2.ª ordem ...................................................................................... 103 b) Excentricidade acidental ............................................................................................ 104 c) Excentricidade de fluência (ec) ................................................................................... 105 7.3. Verificação da segurança em relação ao estado limite último de encurvadura ... 105 7.3.1. Momentos actuantes na secção crítica ................................................................ 106 7.3.2. Dispensa de verificação em relação à encurvadura .......................................... 107 7.4. Pré-dimensionamento de pilares ....................................................................................... 109 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 112 BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 6/118 SIMBOLOGIA BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 1/118 1. INTRODUÇÃO 1.1. Definição O Betão armado é um material composto, constituído por betão simples e aço. Os dois materiais constituintes (betão e aço) devem agir solidariamente para resistir aos esforços a que forem submetidos e devem ser dispostos de maneira a utilizar económica e racionalmente as resistências próprias de cada um deles. O betão armado apresenta as seguintes propriedades: Elevada resistência à compressão por parte do betão e elevada resistência à tracção por parte do aço; Trabalho conjunto do betão e do aço, assegurado pela aderência entre os dois materiais; Coeficiente de dilatação térmica entre os dois materiais que o compõem quase iguais, 0.9≤αc≥1,4x10-5/°C e αa=1,2x10-5/°C. 1.2. Vantagens e desvantagens Como material estrutural, o betão apresenta várias vantagens em relação a outros materiais. Serão relacionadas também algumas de suas desvantagens e as providências que podem ser adoptadas para contorná-las. 1.2.1. Vantagens − Economia: mais económico que estruturas de aço. − É moldável, permitindo grande variabilidade de formas e de concepções arquitectónicas. − Apresenta boa resistência à maioria dos tipos de solicitação, desde que seja feito um dimensionamento correcto e uma pormenorização adequada das armaduras. − A estrutura é monolítica, fazendo com que a funcione quando solicitada. − Manutenção e conservação quase nulas e grande durabilidade. − Boa resistência à compressão. − Resistência a efeitos térmicos, atmosféricos e a desgastes mecânicos. − Possibilidade de trabalhar com Pré-fabricados. 1.2.2. Desvantagens − Peso próprio elevado: 2,5t/m3 = 25KN/m3. − Custo de cofragens para a moldagem. − Transmissão de calor e som. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 2/118 − Fragilidade. − Fissuração. − Retracção e fluência − Corrosão das armaduras − Baixa resistência à tracção. Para suprir as deficiências do betão, há várias alternativas, a saber: − Tanto a retracção quanto a fluência dependem da estrutura interna do betão. Portanto, para minimizar seus efeitos, adequada atenção deve ser dada a todas as fases de preparação, desde a escolha dos materiais e da dosagem até a compactação e a cura do betão colocado nos cimbramentos. − A fluência depende também das forças que actuam na estrutura. Portanto, um programa adequado das fases de carregamento, tanto na fase de projecto quanto durante a construção, pode atenuar os efeitos da fluência. − A baixa resistência à tracção pode ser contornada com o uso de adequada armadura, obtendo-se o betão armado. − Além de resistência à tracção, o aço garante ductilidade e aumenta a resistência à compressão, em relação ao betão simples. Em peças comprimidas, como nos pilares, os estribos, além de evitarem a flambagem localizada do aço, podem confinar o betão, o que também aumenta sua ductilidade. − A fissuração pode ser contornada ainda na fase de projecto, com armação adequada e limitação do diâmetro do aço e da tensão na armadura. Também é usual a associação do betão com pelo menos uma parte de armadura activa, ou seja, com tensões prévias, formando o betão pré-esforçado. A utilização de armadura activa tem como principal finalidade aumentar a resistência da peça, o que possibilita a execução de grandes vãos ou o uso de secções menores, diminuindo o peso próprio, sendo que também se obtém uma melhora do betão com relação à fissuração. − A corrosão da armadura pode ser prevenida com controle da fissuração e com o uso de adequado recobrimento da armadura, cujo valor depende do grau de agressividade do ambiente em que a estrutura for construída. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 3/118 1.3. Aplicações do Betão Armado É o material estrutural mais utilizado a nível mundial. Outros materiais como madeira, alvenaria e aço também são de uso comum e há situações em que são imbatíveis. Porém, suas aplicações são bem mais restritas. Algumas aplicações do betão são relacionadas a seguir: − Edifícios: mesmo que a estrutura principal não seja de betão, alguns elementos, pelo menos, o serão; − Armazéns e pisos industriais ou para fins diversos; − Obras hidráulicas e de saneamento: barragens, tubos, canais, reservatórios,estações de tratamento etc.; − Estradas: pavimentação de betão, pontes, viadutos, passarelas, túneis, galerias, obras de contenção etc.; − Estruturas diversas: elementos de cobertura, chaminés, torres, postes, muros de suporte, piscinas, silos, cais, fundações de máquinas etc. 1.4. Tipos estruturais e modos de solicitação Em função do tipo de esforços a que as estruturas estão submetidas e de acordo com o procedimento adoptado na sua determinação, as estruturas podem classificar-se em: 1.4.1. Estruturas Lineares (reticuladas) São estruturas constituídas por peças lineares em que uma das dimensões (o comprimento) é muito superior às outras duas (que definem a secção transversal). Exemplos: vigas, pilares, pórticos, treliças, arcos, tirantes, escoras. A secção transversal de uma estrutura linear pode estar sujeita aos seguintes esforços: − N Esforço axial (Fx) − Vy Comp. Esforço transverso (Fy) − Vz Comp. Esforço transverso (Fz) − Mz Comp. Momento flector (Mz) − My Comp. Momento flector (My) − T Momento torsor (Mx) BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 4/118 Esforços em peças lineares 1.4.2. Estruturas Laminares São estruturas em que duas das dimensões (comprimento e largura) são da mesma ordem de grandeza e de valor substancialmente superior à outra dimensão (espessura). Exemplos: Lajes, paredes, vigas-parede, cascas. A secção transversal de uma estrutura linear pode estar sujeita aos seguintes esforços: Elemento de laje, parede e casca 1.4.3. Estruturas maciças As estruturas maciças apresentam três dimensões (altura, comprimento e profundidade) da mesma ordem de grandeza, sendo em geral submetidas a um estado de tensão triaxial. Exemplos: Barragens e fundações maciças. A secção transversal de uma estrutura linear pode estar sujeita aos seguintes esforços: BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 5/118 Elemento de estrutura linear BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 6/118 2. PROPRIEDADES DOS MATERIAIS A associação do betão com aço deu origem ao material estrutural com maior sucesso na execução de obras de engenharia civil, o betão armado. Tratam-se dois materiais que apresentam características substancialmente diferentes. O aço é produzido sob condições bem controladas e as suas propriedades são caracterizadas em laboratório, sendo acompanhados por certificados de qualidade. Assim, a utilização deste material não constitui grande preocupação para os engenheiros. No que se refere ao betão, a situação é completamente diferente. Este material é obtido a partir da mistura de diversos componentes dos quais, em geral, apenas um é certificado: o cimento. Para além deste aspecto, o fabrico e a colocação do betão nas estruturas envolve, a diversos níveis, a utilização de uma elevada quantidade de mão-de-obra, cuja qualidade influencia de forma determinante a qualidade do material final: o betão armado. Este facto leva a que o betão constitua um material cujas propriedades apresentam uma elevada variabilidade que deve ser tida em conta no dimensionamento das estruturas. Por outro lado, por se tratar de um material constituído por componentes que vão reagindo ao longo do tempo, as suas propriedades também são dependentes do tempo. Acresce ainda que o comportamento do betão armado pode ser significativamente afectado pelas condições de exposições ambientais que envolvem as estruturas. Tudo isto implica a necessidade do engenheiro envolvido no projecto e execução de estruturas conhecer o melhor possível os materiais constituintes do betão armado e o efeito que esses materiais podem ter no comportamento mecânico e durabilidade das obras. 2.1. Betão O betão é um material formado pela mistura de cimento, de agregados grossos e finos e de água, resultante do endurecimento da pasta de cimento. Para além destes componentes básicos, pode também conter adjuvantes e adições. Caso a máxima dimensão do agregado seja igual ou inferior a 4mm, o material resultante é denominado argamassa. 2.1.1. Características do betão 2.1.1.1. Resistência à compressão A resistência à compressão é a característica mecânica mais importante do betão, pois nas estruturas a função deste material é essencialmente resistir às tensões de compressão enquanto as armaduras têm a função de resistir às tensões de tracção. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 7/118 A resistência à compressão é determinada em provetes submetidos a uma solicitação axial num ensaio de curta duração, isto é, com uma velocidade de carregamento elevada. Dado que a forma dos provetes, a velocidade de carregamento e outros factores tais como a idade do betão e as condições de cura têm uma influência significativa na resistência medida, os métodos de ensaio são normalizados. Os provetes geralmente utilizados para determinar a resistência à compressão do betão têm a forma cúbica ou prismática, sendo, entre estes últimos, os cilindros com altura dupla do diâmetro os mais usuais. A norma NP EN 206-1 estabelece que a resistência à compressão deve ser determinada em provetes cúbicos de 150mm ou provetes cilíndricos de 150/300mm. A resistência cilíndrica é da ordem de 0.80 da resistência cúbica. Esta diferença é originada pelo atrito entre as faces dos provetes e os pratos das prensas que impedem a deformação transversal do betão conduzindo a maiores valores da resistência. Este fenómeno é mais significativo nos provetes com menor esbelteza. Uma vez que o endurecimento do betão se processa ao longo do tempo, a resistência à compressão, tal como as outras características deste material, evolui também no tempo. Como para efeito de dimensionamento das estruturas se considera a resistência do betão aos 28 dias, estabeleceu-se esta idade para caracterizar esta propriedade. Assim, a resistência à compressão é determinada sobre moldes cilíndricos ou cúbicos, mantidos em condições saturadas, aos 28 dias de idade. A resistência do betão apresenta uma variabilidade significativa resultante quer da própria heterogeneidade do material, quer das condições de fabrico (controlo de qualidade). Desta forma, a resistência não pode ser caracterizada apenas pelo valor médio dos resultados obtidos de ensaios de um determinado número de provetes. É necessário também ter em conta a dispersão dos valores. Adoptou-se, assim, o conceito de resistência característica que é um valor estatístico que tem em conta a média aritmética das tensões de rotura (fcm) obtidas nos ensaios dos provetes e o coeficiente de variação (Δ) dos valores medidos. A resistênciacaracterística do betão (fck) é o valor que apresenta 95% de probabilidade de ser excedido, figura abaixo. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 8/118 Assim, esta resistência (fck) é obtida a partir da sua resistência média determinando-se primeiro o desvio padrão da mesma (amostra) pela fórmula: em que: e, pela Curva de Gauss, a resistência característica é dada pela fórmula: Δ 1,64 - cjf ckf = ou ) 1,64 -1 ( cjf ckf Δ= O coeficiente de variação é determinado essencialmente pela qualidade dos meios empregues para fabricar o betão que influenciam a precisão com que é efectuada a dosagem dos seus componentes, pela organização do estaleiro e ainda pelo controlo exercido sobre o fabrico. Como valores de referência podem considerar-se os seguintes: − condições de execução médias - Δ = 0.20 a 0.25 − condições de execução boas - Δ = 0.15 a 0.20 − condições de execução muito boas - Δ = 0.10 a 0.15. Um coeficiente de variação superior a 0.25 não é admissível na execução de estruturas de betão armado. 1-n n 1 2)cjf-ci(f ∑ =Δ n n 1 ci f cjf ∑ = BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 9/118 Quanto maior for o coeficiente de variação, maior é o afastamento entre o valor médio e o valor característico da resistência. Assim, existe toda a vantagem, sob o ponto de vista económico, em fabricar e controlar o betão de forma eficiente. 2.1.1.2. Resistência à tracção A resistência à tracção (fct) é uma característica importante do betão em fenómenos tais como a fendilhação e a aderência das armaduras. Tal como acontece com a resistência à compressão, a resistência à tracção depende do tipo de ensaio. Esta característica mecânica pode ser medida directamente em provetes prismáticos traccionados ou medida indirectamente por flexão de prismas ou compressão diametral de cilindros. Quando a resistência à tracção for determinada como a tensão de rotura à tracção por compressão diametral pode considerar-se para valor aproximado da tensão de rotura à tracção simples. 2.1.1.3. Módulo de elasticidade O Módulo de elasticidade (Ec) é a relação entre a tensão actuante e a deformação longitudinal resultante desta tensão. Os valores médios do módulo de elasticidade aos 28 dias de idade a considerar são os indicados no quadro 1.5. Aos j dias de idade, Ec,j , pode em geral ser estimado a partir do valor médio da tensão de rotura à mesma idade, fcm,j , pela expressão: 3 j,cmf5.9j,cE = . Quadro 1.5 – Valores médios do módulo de elasticidade do betão, Ec, 28 Classe de resistência B15 B20 B25 B30 B35 B45 B50 B55 B60 Ec,28 (GPa) 26.0 27.5 29.0 30.5 32.0 33.5 35.0 36.0 37.0 BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 10/118 Verifica-se que o módulo de elasticidade aumenta com a resistência do betão, todavia a relação entre estas duas propriedades apresenta uma dispersão elevada. Embora existam expressões que relacionam a tensão de rotura com o módulo de elasticidade, é necessário determinar experimentalmente o seu valor quando estão em causa cálculos rigorosos sobre o comportamento das estruturas. O coeficiente de Poisson (relação entre a deformação transversal e a deformação longitudinal) depende da resistência do betão, do nível de tensão aplicada e da própria composição do betão. O seu valor varia geralmente entre 0.15 e 0.25. O seu conhecimento rigoroso não é importante para a maioria dos cálculos de engenharia, pelo que se adopta geralmente um valor médio igual a 0.20. A partir do coeficiente de Poisson determina-se o módulo de distorção. 2.1.1.4. Fluência e retracção A fluência é um fenómeno que consiste no aumento progressivo no tempo da deformação instantânea de uma peça de betão quando sujeita a uma tensão com carácter de permanência. Este fenómeno ocorre devido à variação de volume de pasta de cimento que envolve os agregados. A retracção consiste na diminuição da dimensão de uma peça de betão na ausência de variações de temperatura e de tensões aplicadas. Este fenómeno é originado pela variação de volume da pasta de cimento devida essencialmente à evaporação da água de amassadura do betão e às reacções de hidratação das partículas de cimento. A carbonatação do betão origina também fenómenos de retracção. A fluência e retracção originam o que normalmente se designa por efeitos diferidos, i.e., efeitos devidos à deformação do betão ao longo do tempo. As principais desvantagens da fluência e retracção no comportamento das estruturas são as seguintes: − aumento das deformações dos elementos estruturais, principalmente em vigas e lajes − perdas da força de pré-esforço em elementos pré-tensionados e pós-tensionados nas estruturas pré-esforçadas − fendilhação de elementos com deformações impedidas, devido ao encurtamento originado pela retracção − aumento dos esforços em elementos comprimidos sujeitos a cargas excêntricas BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 11/118 A fluência apresenta ainda um efeito importante na tensão de rotura do betão. Verifica-se que existe uma relação entre a tensão aplicada no betão e a sua resistência, determinada num ensaio de curta duração, a partir da qual a fluência provoca a rotura. Essa relação é da ordem de 0.8 a 0.9, razão pela qual a regulamentação afecta, para efeitos de cálculo da resistência das peças, a tensão de rotura do betão de um coeficiente de redução. Todavia, este efeito é compensado pelo aumento da resistência do betão no tempo (recorde-se que nos cálculos da capacidade resistente dos elementos se considera a resistência do betão aos 28 dias de idade). Assim, na versão final do Eurocódigo 2, esse coeficiente de redução pode ser considerado igual a 1. Como principais vantagens da fluência referem-se a redução dos esforços nos elementos estruturais originados por deformações impostas e a eliminação das concentrações de tensões. A retracção é influenciada por um grande número de parâmetros associados à composição do betão, ao ambiente de exposição e à forma das peças de betão. Os principais factores que influenciam a fluência são o nível de tensão aplicado nas peças e a resistência do betão. Verifica-se que a fluência varia linearmente com a relação entre a tensão aplicada e a tensão de rotura do betão para um intervalo de valores desta relação da ordem de 0.4 a 0.7. 2.1.2. Características relativas a verificação da segurança e dimensionamento Definem-se aqui as características do betão que devem ser consideradas para efeitos da análise estrutural e dimensionamento de secções de betão armado e pré-esforçado. 2.1.2.1. Resistência O betão é classificadode acordo com a sua resistência à compressão, definindo-se as classes de resistência conforme indicado no quadro abaixo, em que: o índice (15, 20, 25, ...) representa o valor característico da resistência à compressão do betão em provetes cúbicos com 20 cm de aresta e, (12, 16, 20,…) representa o valor característico da resistência à compressão em provetes cilíndricos com 15 cm diâmetro e 30 cm altura. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 12/118 Quadro 1.3 – Valores médios e característicos da tensão de rotura do betão à tracção simples Classe de resistência B15 B20 B25 B30 B35 B45 B50 B55 B60 fcd (Mpa) 8.0 10.7 13.3 16.7 20.0 23.3 26.7 30.0 33.3 fctd (MPa) 0.80 0.93 1.07 1.20 1.33 1.47 1.60 1.73 1.87 O valor de cálculo da resistência do betão à compressão fcd obtém-se dividindo a resistência característica fck pelo coeficiente de segurança γc = 1.5. A resistência à tracção do betão (fct) é definida como a tensão máxima que o betão pode suportar quando submetido à tracção simples. A resistência à tracção pode ser determinada através do ensaio de tracção axial ou obtida a partir da resistência à tracção por ensaio de compressão diametral ou da resistência à tracção por ensaio de flexão. Os valores médios e característicos adoptados para a tensão de rotura do betão à tracção simples aos 28 dias, fctm e fctk, indicados no quadro 1.4, correspondentes às classes dos betões indicados no quadro a seguir. Quadro 1.4 – Valores médios e característicos da tensão de rotura do betão à tracção simples Classe de resistência B15 B20 B25 B30 B35 B45 B50 B55 B60 fctm (Mpa) 1.6 1.9 2.2 2.5 2.8 3.1 3.4 3.7 4.0 fctk (MPa) 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8 As classes de resistência mínima para betão pré-esforçado são C25/30 para elementos pós- tensionados e C30/37 para elementos pré-tensionados. O Eurocódigo 2 refere que os betões de classe de resistência inferior a C12/C15, ou superiores a C50/60, não devem ser utilizados em obras de betão armado e pré-esforçado, a menos de justificação fundamentada. Por vezes, em diversas situações práticas, tem interesse estimar a resistência do betão para idades diferentes dos 28 dias. Este processo não é simples dado que o desenvolvimento da resistência no tempo depende de muitos parâmetros tais como o tipo e a classe de resistência do cimento, o tipo e quantidade de adições e adjuvantes, a razão A/c e as condições ambientais. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 13/118 Para idades diferentes dos Betões apresentados no quadro 1.1, poderão tomar-se os valores indicados no quadro 1.2, extraídos do gráfico proposto pelo C.E.B. Quadro 1.2 - Coeficientes parciais de endurecimento Idade do betão (dias) 3 7 14 28 90 360 ∞ Coeficiente de endurecimento 0.40 0.65 0.85 1.00 1.20 1.35 1.45 2.1.2.2. Diagramas tensões-extensões para análise estrutural Para efeitos de projecto devem ser utilizados diagramas tensões-extensões convenientemente idealizados. Consideram-se diagramas a utilizar para efeitos de análise estrutural e diagramas a utilizar para efeitos do dimensionamento de secções. Relativamente à análise estrutural consideram-se diagramas tensão-extensão para análise linear e para análise não linear ou para o cálculo de efeitos de segunda ordem, figura abaixo. No Quadro 2.8 está indicada uma estimativa do valor médio do módulo secante Ecm para as diferentes classes de resistência do betão. Diagramas tensões-extensões para análise estrutural Refere-se que o módulo de elasticidade depende não só da classe de resistência do betão, mas também das propriedades dos agregados utilizados e outros parâmetros associados à composição do betão e às condições de cura. Deste modo, quando for necessário BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 14/118 efectuar cálculos mais rigorosos é necessário realizar ensaios sobre o betão fabricado com os agregados utilizados na obra. Para efeitos de cálculo, pode considerar-se que o coeficiente de Poisson relativo a extensões elásticas é igual a 0.2. Nos casos em que se aceita a fendilhação do betão em tracção, o coeficiente de Poisson pode ser considerado igual a zero. 2.1.2.3. Diagramas tensões-extensões para análise estrutural Visando estabelecer um critério comum ao dimensionamento, busca-se, para as diferentes resistências à compressão com que se trabalhe na prática, um diagrama ideal, matematicamente definido, diagrama parábola - rectângulo (gráfico 1.1). Estas relações são obtidas a partir dos resultados de ensaios rápidos de prismas ou de cilindros de betão submetidos à compressão simples, contando com factores como a segurança e a influência do factor tempo. São vários os factores que influenciam as relações tensões - extensões dum betão, mesmo em ensaios rápidos. Assim, quanto a tensão de rotura, ela é influenciada pela forma e dimensões dos provetes, pelo tipo de máquina de ensaios, pela idade e condições de conservação dos provetes, pela natureza dos inertes e pela dosagem do cimento e água. Quanto à inclinação da tangente na origem do diagrama (módulo de elasticidade inicial) verifica-se que ela aumenta com a idade do betão e com o teor de humidade dos provetes e que varia consideravelmente com a natureza dos inertes e com a dosagem do cimento. Em relação ao factor tempo, há que verificar a sua influência dado que, por um lado faz aumentar a resistência, por outro, sob acção de cargas constantes elevadas, faz diminuir, pois regista-se nos ensaios que provetes quando sujeitos a tensão constante da ordem de 85% da tensão de rotura, aos 28 dias, obtida em provetes idênticos, acabam por atingir a rotura ao fim de certo tempo. Finalmente, há que para atender à segurança, ter em conta fcd 0,85fcd εr=3,5‰ 2%0 ε ‰ Parábola: [ ] 3x102c250 -c cdf 0,85 c εεσ = BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 15/118 a grande dispersão que apresenta o betão nas suas propriedades e, consequentemente, tomar valores para o cálculo que tenham tal facto em consideração. 2.2. Armaduras O aço empregado nas peças de betão armado é uma liga constituída principalmente de ferro e carbono, à qual são incorporados outros elementos para melhoria das propriedades. O aço é usado em conjunto com o betão com a finalidade principal de resistir aos esforços de tracção, que não são suportados pelo betão. A introdução deste elemento no betão permite melhorar consideravelmente o comportamento deste material, dado que, após a fendilhação, as tensões de tracção passam a ser resistidas pela armadura. 2.2.1. Armaduras para o betão armado As armaduras para betão armado podemapresentar-se de diversas formas, sendo as mais correntes os varões, os fios e as redes. Os varões e fios têm a secção com forma aproximadamente circular, sendo fios quando o seu diâmetro é relativamente pequeno, permitindo o seu fornecimento em bobinas. As redes são constituídas por fios ou varões, ligados entre si, formando malhas rectangulares ou quadradas. As malhas em que as ligações são obtidas por soldadura designam-se por redes electrossoldadas. Os varões são o tipo de armaduras mais utilizado no betão armado em que as propriedades geométricas dos varões que têm maior interesse são o diâmetro, o comprimento e a configuração da superfície. Os diâmetros dos varões variam de país para país, apresentando a norma europeia prEN10080 os seguintes valores: Diâmetro [mm] Secção [cm2] Perímetro [cm] Massa por metro [Kg/m] 6 0,283 1,89 0,222 8 0,503 2,51 0,395 10 0,785 3,14 0,617 12 1,13 3,77 0,888 16 2,01 5,03 1,58 20 3,14 6,28 2,47 25 4,91 7,85 3,85 32 8,04 10,1 6,31 40 12,6 12,6 9,87 BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 16/118 Diâmetros superiores (50, 57 e 63 mm) são raramente produzidos, sendo utilizados essencialmente em estacas. Os diâmetros mais utilizados no nosso país apresentam-se a sublinhado. No que se refere ao comprimento dos varões, as dimensões mais usuais variam entre 6 e 12 m, podendo chegar aos 18 m quando os varões são transportados por caminho-de-ferro. A configuração da superfície pode ser lisa ou rugosa. As superfícies rugosas podem ser obtidas com saliências (superfícies nervuradas) ou reentrâncias (superfícies indentadas). Assim, os varões podem ser classificados em lisos ou rugosos e relativamente a estes em nervurados e indentados. Os varões nervurados são os que se utilizam mais frequentemente, pois são os que conferem maior aderência entre a armadura e o betão. As nervuras são utilizadas também para efectuar a marcação dos varões. Esta marcação é importante, pois a troca de varões em obra pode originar acidentes graves quando, por engano, se utilizem aços de menor resistência que a prevista no projecto. Quadro 1.6 – Características mecânicas dos aços para o betão armado Designação Processo de fabrico Configuração da superfície Característica de aderência Tracção Extensão após rotura εsyk (%) Tensão de Cedência fsyk (MPa) Rotura fsuk (MPa) A235NL Laminado a quente Lisa Normal 235 360 24 A235NR Rugosa Alta A400NR Laminado a quente Rugosa Alta 400 460 14 A400ER Endurecido a frio Rugosa Alta 400 460 12 A400EL Endurecido a frio Lisa Normal A500NR Laminado a quente Rugosa Alta 500 550 12 A500ER Endurecido a frio Rugosa Alta 500 550 10 A500EL Lisa Normal 2.2.2. Relações tensões-extensões de cálculo Pelo que se refere aos tipos correntes de aço para armaduras de betão armado, indicado na tabela 1.6 acima, as relações tensões-extensões a considerar, segundo o REBAP, são do tipo bilinear conforme o gráfico 1.2 abaixo, em que o primeiro segmento é definido pelo BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 17/118 valor do módulo de elasticidade e o segundo pelo valor de cálculo, fsyd, da tensão de cedência ou tensão limite convencional de proporcionalidade a 0.2%, em tracção. As características de resistência dos aços são definidas pelos valores característicos da tensão de cedência fsyk (ou tensão limite de propriedades a 0.2%, f0.2k) e da tensão de rotura ftk. A tensão de cedência e a tensão de rotura podem, para efeitos de cálculo, ser consideradas iguais em tracção e em compressão, a não ser que existam especificações em contrário para a armadura em causa. Diagrama tensão-deformação do aço É importante referenciar aqui que a distinção entre o comportamento dos aços, laminados e endurecidos, quando submetidos a ensaios, não tem grande influência nos resultados. É aceitável admitir que todos os diagramas apresentam patamares. Os valores de cálculo para a verificação da segurança em relação aos ELU e de encurvadura são obtidos dividindo os respectivos valores característicos, fsyk e fsycd, por um coeficiente de segurança γs tomado igual a 1,15. s sykf =sydf GPa 002 =sE syd sydf = sE = tg γε →→ Classe fsyk [MPa] fsyd [MPa] εsyd [×10 -3 ] A235 A400 A500 235 400 500 205 348 435 1.025 1.74 2.175 ϕ ϕ fsyd fsycd σs εyd 10%0 3,5%0 patamar limite de cedência alongamento de rotura Encurtamento de rotura εs BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 18/118 2.3. Funcionamento conjunto dos dois materiais A característica mais importante que se pode ressaltar em relação ao betão armado é que ele se constitui na combinação de um material que resiste muito bem à compressão, o betão, com um material que resiste muito bem à tracção, o aço. De maneira geral, pode- se dizer que, nas peças de betão armado, o betão é o responsável por resistir aos esforços de compressão e o aço aos de tracção. Nas peças essencialmente comprimidas, o aço aumenta a capacidade resistente do elemento. Separadamente, o aço resiste tanto à tracção como à compressão, porém o betão possui uma baixa resistência à tracção, da ordem de 10% da sua resistência à compressão, para os betões de baixa resistência. Para resistências à compressão mais altas, essa percentagem diminui. Praticamente não existem tensões internas entre o aço e o betão. O betão protege a armadura da corrosão, garantindo a durabilidade da estrutura (Protecção física através do recobrimento e química através do ambiente em que se encontra normalmente alcalino). Devido à aderência, as deformações do aço e as do betão que as envolve, são aproximadamente iguais. Portanto, o trabalho conjunto desses dois materiais diferentes, neste caso betão e aço, é possível graças à coincidência de duas de suas propriedades físicas essenciais: a aderência recíproca e a proximidade existente nos seus coeficientes de dilatação. A aderência impede a cedência entre as armaduras e o betão, e transmite esforços de um para o outro materiais, sendo a propriedade fundamental para o trabalho conjunto dos mesmos. Os coeficientes de dilatação aproximadamente iguais, implicam em deslocamentos semelhantes provocados por variações de temperatura, desse modo não destrói a aderência, tornando possível o trabalho conjunto desses materiais. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 19/118 3. BASES DE PROJECTO E ACÇÕES O cálculo de uma estrutura constituída por um dado material, nomeadamente por betão armado, compreende duas etapas:− A análise estrutural, que consiste em determinar a distribuição de esforços (axial, transversal, flector e torçor), ou de tensões, extensões e deformações na estrutura global ou em parte e, − O dimensionamento, com o qual se pretende determinar as dimensões dos elementos em betão, assim como as quantidades de armadura necessárias, ou, então, verificar se as dimensões e as armaduras definidas previamente são suficientes. 3.1. Métodos de análise e avaliação da segurança Os métodos de avaliação da segurança são os seguintes: − Método da tensão admissível ou de segurança; − Método da rotura; − Método probabilístico. 3.1.1. Método das tensões de segurança Este método baseava-se em: − Calcular as tensões instaladas na estrutura devidas a cargas reais não majoradas, recorrendo à teoria da elasticidade; − Comparar as tensões actuantes com as tensões admissíveis ou de segurança fixadas pelas normas. − As tensões admissíveis eram, em geral, obtidas dividindo a resistência do material (f) por um coeficiente de segurança γ (na ordem dos 2,25): γ σσ fadminstaladas =≤ Este método das tensões de segurança, apesar de constituir uma aplicação fácil, apresenta alguns defeitos importantes, em particular nas estruturas de betão armado e pré-esforçado: − O betão não tem um comportamento que se possa considerar perfeitamente elástico. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 20/118 − As tensões obtidas para cargas de serviço não facultam a indicação directa da segurança conjunta da estrutura. Neste contexto, o método das tensões de segurança deixou de ser utilizado nas normas recentes. Contudo, quando se pretende controlar as deformações em estado de serviço, recorre-se frequentemente à noção de comportamento elástico ou quase elástico de uma estrutura. 3.1.2. Método de Rotura Este método de análise e dimensionamento de estruturas, designado por cálculo das secções à rotura é um método híbrido, na medida em que a relação determinante; γ R S ≤ Baseia-se em: − Por um lado, na teoria da elasticidade para cálculo dos esforços actuantes S; − Por outro lado, na teoria da plasticidade para cálculo da resistência R das secções. Este método apresenta uma certa incoerência, pois, aumentando as solicitações até ao esgotamento (rotura) das secções críticas, os esforços na estrutura podem ser consideravelmente diferentes dos obtidos na análise elástica. Contudo, este método é frequentemente utilizado e aparece em numerosas normas. Além disso, ele fornece resultados sempre pelo lado da segurança. 3.1.3. Método Probabilístico Este e um método de análise e dimensionamento de estruturas baseado em estados limites e permite verificar a segurança das estruturas atendendo ao comportamento real não linear dos materiais e ao carácter incerto das acções e da resposta das estruturas. As normas actuais exigem duas verificações distintas: − Uma relativa à aptidão ao serviço, cuja verificação recorre à teoria da elasticidade, que permite igualmente ter em conta, de uma forma aproximada, os fenómenos não lineares como a fissuração e os efeitos diferidos (fluência e retracção do betão e relaxação do aço); − E a outra relativa à segurança da estrutura que não pode ser correctamente realizada com base em hipóteses de comportamento elástico, tornando-se BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 21/118 conveniente recorrer a um método que permita avaliar, de uma forma realista, o estado último da capacidade das estruturas. 3.2. Critérios Gerais de verificação da segurança A verificação da segurança aos estados limites está baseada em métodos semi- probabilísticos que adopta valores característicos para as acções (Sk) e para as resistências dos materiais (Rk), os quais são afectados por coeficientes parciais de segurança (γ), obtendo-se os valores de cálculo (Sd e Rd). Para garantir-se a segurança das estruturas aos estados limites é preciso identificar as acções actuantes, que causam as solicitações (S), e determinar a resistência (R) dos elementos estruturais, para que se possa analisar a desigualdade: S ≤ R. Portanto, o primeiro passo é identificar as acções actuantes na estrutura. Segundo o RSAEEP, “As acções são quantificadas por seus valores representativos, que podem ser valores característicos, valores característicos nominais, valores reduzidos de combinação, valores convencionais excepcionais, valores reduzidos de utilização e valores raros de utilização”. - Valores característicos: Os valores característicos (Fk) das acções são definidos em função da variabilidade de suas intensidades. Para as acções permanentes admite-se o valor que tenha 95% de chance de não ser ultrapassado em 50 anos, como mostra a Figura 2. Para as acções variáveis admite-se o valor que tenha de 65% a 75% de chance de não ser ultrapassado em 50 anos. - Valores reduzidos de combinação: são determinados a partir dos valores característicos multiplicados por um coeficiente de redução: ψ0 Fk. Eles são empregados quando existem acções variáveis de diferentes naturezas, para levar em conta a baixa probabilidade de ocorrência simultânea dos valores característicos dessas acções. Distribuição normal para as cargas permanentes. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 22/118 - Valores convencionais excepcionais: são valores arbitrados para as acções excepcionais. Eles devem, ser estabelecidos por consenso entre o proprietário da construção e as autoridades governamentais que nela tenham interesse. O carácter probabilístico da verificação da segurança, através dos estados limites e das boas condições de serviço é introduzido com a definição dos valores característicos tanto no que se refere às solicitações actuantes (Sk) como às resistências dos materiais (Rk). Como já definidos anteriormente, os valores encontrados na prática devem ter a probabilidade muito baixa de serem superiores (no caso das solicitações) ou inferiores (no caso das resistências) aos respectivos valores característicos. Os factores de incerteza quanto aos valores característicos são cobertos com a transformação destes em valores de cálculo obtidos pela sua multiplicação por coeficientes de segurança, que são determinados por considerações probabilísticas para cada tipo de estado limite. 3.3. Estados Limites Dizemos que uma estrutura atinge um estado limite quando ela apresenta desempenho inadequado às finalidades da construção, não mais preenchendo os requisitos necessários de estabilidade, conforto e durabilidade para o seu funcionamento. Assim sendo, pode-se dizer que a segurança de uma estrutura é a capacidade que ela apresenta de suportar as diversas acções que vierem a solicitá-la durante a sua vida útil1, sem atingir qualquer estado limite. Os estados limites podem ser classificados em duas categorias nomeadamente: últimos e de serviço (ou de utilização). 3.3.1. Estados Limites Últimos (ELU) Segundo REBAP, são aqueles que pelasua simples ocorrência, determinam a paralisação, no todo ou em parte, do uso da construção, e correspondem ao esgotamento da capacidade portante da estrutura, estando relacionado com o seu colapso, em parte ou no todo. 1 Por vida útil de projecto, entende-se o período de tempo durante o qual se mantêm as características das estruturas de betão, desde que atendidos os requisitos de uso e manutenção prescritos pelo projectista e pelo consumidor, bem como de execução dos reparos necessários decorrentes de danos acidentais. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 23/118 Deve-se haver uma probabilidade muito pequena de sua ocorrência, pois essa terá como consequência a perda de vidas humanas ou grandes prejuízos financeiros. Devido a estes factores, a sua verificação é obrigatória, mesmo que não explicitamente listada em normas. No projecto, usualmente devem ser considerados os estados limites últimos caracterizados por: a) Perda de equilíbrio, global ou parcial, admitida a estrutura como um corpo rígido; b) Rotura ou deformação plástica excessiva dos materiais; c) Instabilidade por deformação excessiva (pilares); d) Transformação da estrutura, no todo ou em parte, em sistema hipostático (mecanismo); e) Instabilidade dinâmica; f) Colapso por causas excepcionais (catástrofes), quando for o caso. 3.3.2. Estados limites de serviço ou de utilização (ELS) Segundo o REBAP, são estados que, por sua ocorrência, repetição ou duração, causam efeitos estruturais que não respeitam as condições especificadas para o uso normal da construção, ou que são indícios de comprometimento da durabilidade da estrutura. Quando não representar situação de risco a vidas humanas, como no caso dos estados limites últimos, uma maior probabilidade de ocorrência desses estados limites é tolerada. No período de vida da estrutura, usualmente são considerados estados limites de serviço caracterizados por: a) Danos ligeiros ou localizados, que comprometam o aspecto estético da construção ou a durabilidade da estrutura (fissuração); b) Deformações excessivas que afectem a utilização normal da construção ou seu aspecto estético (“barriga” em lajes); c) Vibração excessiva ou desconfortável (estado de futebol). No caso de verificação da segurança em relação aos estados limites de utilização, as combinações de acções a considerar dependem da duração do estado limite em causa. 3.4. Acções Acções são as causas que provocam aparecimento de esforços ou deformações nas estruturas, devendo ser consideradas no dimensionamento da mesma. Como resultado da aplicação destas cargas externas, surgem na estrutura, os esforços solicitantes, que são os BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 24/118 esforços causados pelas acções, como os esforços normais e cortantes, e os momentos flectores e torsores. 3.4.1. Classificação e Tipos de Acções As acções podem ser classificadas em função da sua variação no tempo, na sua origem (directas ou indirectas), em função da sua variação espacial (fixas ou moveis) ou em função da sua natureza (estáticas ou dinâmicas). As acções cuja classificação é dada pela sua variação no tempo poderão ser: 3.4.1.1. Acções Permanente (g,G) Aquelas que assumem valores constantes, ou actuam directa ou indirectamente sobre a estrutura durante todo período da sua vida útil. Consideram-se como acções permanentes, os pesos próprios da estrutura, o peso de elementos construtivos permanentes (como por exemplo as paredes), o peso de equipamentos fixos, os impulsos de terra não removível, os efeitos da retracção do betão e dos assentamentos. 3.4.1.2. Acções Variáveis (q,Q) Aquelas que assumem valores com variação significativa em torno do seu valor médio durante a vida da estrutura. Consideram-se como acções variáveis as sobrecargas (e efeitos dinâmicos dela dependentes), o efeito do vento, a variação da temperatura, as forças de impacto, as cargas móveis em pontes e a pressão hidrostática. As acções variáveis são geralmente caracterizadas por um valor característico, (valor com 95% de probabilidade de não ser excedido). Este valor pode ser afectado por coeficientes de combinação. 3.4.1.3. Acções de acidente ou excepcionais Aquelas que só com muito fraca probabilidade assumem valores significativos durante a vida da estrutura e cuja quantificação apenas pode em geral ser feita por meio de valores nominais estrategicamente escolhidos. Geralmente, consideram-se este tipo de acções as que resultam de causas tais como, certas acções actuantes durante a execução das obras, explosões, choques de veículos, terramotos, incêndios, cheias, entre outros. 3.4.2. Quantificação das acções De acordo com o Regulamento de Segurança e Acções em Estruturas de Edifícios e Pontes - (RSAEEP), as acções são quantificadas através de valores característicos e valores BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 25/118 reduzidos combinando-as de forma a estudar e/ou conhecer o seu estado mais desfavorável para a estrutura. As acções permanentes resultantes de factores não evitáveis, tais como a acção da força gravítica, vulgarmente designada de peso próprio. Estas, são quantificadas a partir do peso volúmico dos materiais. As acções variáveis apresentam valores variáveis em função do tipo de acção e da utilização dos espaços, ou seja, podem ser de vários tipos, nomeadamente: − Sobrecargas: acções verticais actuam ao nível dos pavimentos e das coberturas. − Vento: acções horizontais actuam ao nível das fachadas e das coberturas. − Sismos: acção horizontal que actua em toda a estrutura 3.4.3. Combinações de Acções Em cada caso de carregamento, o valor de cálculo do efeito das acções é obtido combinando as acções que podem ocorrer em simultâneo. Entretanto, na verificação de segurança em relação aos diferentes estados limites devem ser considerados os valores de cálculo, Sd, dos esforços actuantes ou tensões de cálculo resultantes dos mesmos esforços tendo em conta os coeficientes γf de afectação dos valores característicos das acções e dos coeficientes Ψi cuja actuação simultânea seja verosímil e que produzam na estrutura os efeitos mais desfavoráveis. No caso de verificação da segurança em relação aos ELU, devem ser considerados dois tipos de combinações: − Combinações fundamentais: em que intervêm as acções permanentes e variáveis. ⎥ ⎦ ⎤ ⎢ ⎣ ⎡ = + = += ∑∑ n 2j qjk S.j0qk1q S m 1i qgikSgdS ψγγγ No caso de a acção variável de base ser a acção sísmica: ∑ m 1i n 2j Qjk S j2Ek SgikSgdS = = ++= ∑ ψγ − Combinações acidentais: em que, além das acções permanentes e acidentais, intervêm acções de acidente. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº CivilApontamentos de Betao Armado 1.doc - 26/118 ⎥ ⎦ ⎤ ⎢ ⎣ ⎡ == ++= ∑∑ n 1j qjk S.j2 m 1i Fa SgikSgdS ψγ No caso de verificação da segurança em relação aos estados limites de utilização, as combinações de acções a considerar dependem da duração do estado limite em causa. Assim, há que ter em conta os seguintes tipos de combinações: - Combinações raras: que corresponde ao estado limite de muito curta duração ⎥ ⎦ ⎤ ⎢ ⎣ ⎡ = + = += ∑∑ n 1j qjk S.1k1qS m 1i gik SdS ψ - Combinações frequentes: que corresponde ao estado limite de curta duração ⎥ ⎦ ⎤ ⎢ ⎣ ⎡ = + = += ∑∑ n 1j qjk S.2k1qS1 m 1i gik SdS ψψ - Combinações quase permanentes: que corresponde ao estado limite de longa duração. ⎥ ⎦ ⎤ ⎢ ⎣ ⎡ == += ∑∑ n 1j qjk S.2 m 1i gik SdS ψ em que: Sg1k – esforço resultante de acção permanente, tomada com o seu valor característico Sq1k – esforço resultante da acção variável considerada como acção de base da combinação, tomada com o seu valor característico. Sqjk – esforço resultante de uma acção variável distinta da acção de base, tomada com o seu valor característico. SFa – esforço resultante de uma acção de acidente, tomada com o seu valor nominal. Nota: Existe a necessidade da utilização de coeficientes de segurança por factores tais como: incerteza dos valores das resistências dos materiais; erros na geometria da estrutura; incerteza da carga; simplificação dos métodos de cálculo, entre outros. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 27/118 As acções permanentes bem como as acções variáveis devidas às sobrecargas são aplicadas ao nível dos pavimentos, ou seja, nos elementos estruturais designados de lajes - cargas por unidade de superfície (kN/m2). As lajes podem estar armadas em várias direcções e em função dessa condicionante assim varia o modo como descarregam nos restantes elementos estruturais, nomeadamente nas vigas e pilares. Consola simplesmente armada duplamente armada As acções aplicadas nas VIGAS de uma dada estrutura, devidas às cargas actuantes nas lajes, são definidas mediante o cálculo da Largura de Influência de cada uma das vigas, em função do modo como as lajes estão armadas. VIGAS – Acção (kN/m) = q (kN/m2) x Largura de influência (m) Do mesmo modo, as acções aplicadas nos PILARES devidas às cargas actuantes nas lajes e vigas, são definidas mediante o cálculo da Área de Influência de cada pilar. PILARES – Acção (kN) = q (kN/m2) x Área de influência (m2) 3.4.4. Diagramas envolventes de esforços Os diagramas envolventes de esforços são diagramas que em cada secção nos dá o valor máximo de um dado esforço, dentre todas as combinações de acções possíveis: − Alternância de posições de sobrecarga (variáveis); − Diagramas parcelares correspondentes às acções permanentes e variáveis nas várias posições; − Combinação dos diagramas parcelares de acordo com as regras e coeficientes adequados aos estado limite em causa; − Em rigor deveria ser feito independente para o Msd e Vsd. Por simplificação, pode-se considerar que as combinações que dão origem à envolvente do Msd servem também para Vsd. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 28/118 4. SECÇÕES SOLICITADAS A FLEXÃO E AO ESFORÇO AXIAL 4.1. Comportamento de secções em flexão (estados de deformação) O procedimento para se caracterizar o desempenho de uma secção de betão consiste em aplicar um carregamento, que se inicia do zero e vai até a rotura. Às diversas fases pelas quais passa a secção de betão, ao longo desse carregamento, dá-se o nome de estado de deformação. Distinguem-se basicamente três fases distintas: Estado I, Estado II e Estado III. 4.1.1. Estado I – Secção não fendilhada Esta fase corresponde ao início do carregamento. As tensões normais que surgem são de baixa magnitude e dessa forma o betão consegue resistir às tensões de tracção. Tem-se um diagrama linear de tensões, ao longo da secção transversal da peça, sendo válida a lei de Hooke (Figura abaixo). Comportamento do betão na flexão pura (Estado I) Levando-se em consideração a baixa resistência do betão à tracção, se comparada com a resistência à compressão, percebe-se a inviabilidade de um possível dimensionamento neste estado. É no estado I que é feito o cálculo do momento de fissuração, que separa o estado I do estado II. Conhecido o momento de fissuração, é possível calcular a armadura mínima, de modo que esta seja capaz de absorver, com adequada segurança, as tensões causadas por um momento flector de mesma magnitude. Portanto, o estado I termina quando a secção fissura. BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 29/118 a) Resultante de tensões No betão: cici c W M y I M ==σ Nas armaduras: cs .σασ = b) Homogeneização da secção Coeficiente de homogeneização: c s E E =α Área de secção transversal homogeneizada: ( )scci A)1AA −+= α Posição do centro de gravidade da secção homogeneizada: ( ) ci s g A a.A1 2 h bh y −+ = α Momento de inércia da secção homogénea em relação ao eixo neutro: ( ) ( )2gs 2 g 3 ci ayA1y2 h bh 12 bh I −−+⎟ ⎠ ⎞ ⎜ ⎝ ⎛ −+= α c) Momento de fendilhação, Mcr Ocorre fendilhação quando: ctct f=σ ou seja: ctg ci cr ct fyI M ==σ Admitindo que a contribuição da armadura é desprezada (secção pouco armada) vem: 6 bh y I W 12 bh I 2 h y 3 g c c3 c g ==⇒ ⎪ ⎪ ⎩ ⎪⎪ ⎨ ⎧ = = dai: 6 bh .fW.f y I.f M 3 ctcct g cct cr === BETÃO ARMADO – VOLUME 1 Jorge Pindula, Engº Civil Apontamentos de Betao Armado 1.doc - 30/118 4.1.2. Estado II – Secção Fendilhada Neste nível de carregamento, o betão não mais resiste à tracção e a secção se encontra fissurada na região de tracção. A contribuição do betão traccionado deve ser desprezada. No entanto, a parte comprimida ainda mantém um diagrama linear de tensões, permanecendo válida a lei de Hooke (Figura abaixo). Comportamento do betão na flexão pura (Estado II) Basicamente, o estado II serve para a verificação da peça em serviço. Como exemplos, citam-se o estado limite de abertura de fendas e o estado limite de deformações. Com a evolução do carregamento, as fissuras caminham no sentido da borda comprimida, a linha neutra também e a tensão na armadura cresce, podendo atingir a cedência ou não. O estado II termina com o inicio da plastificação do betão comprimido. a) Tensões no betão e no aço: No betão: x I M ci c =σ Nas armaduras: ( )xd. I M . ci s −=ασ
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