Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Copyright © 2020, Editora Cristã Evangélica Todos os direitos nacionais e internacionais desta edição reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida – em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação, etc. – nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da Editora Cristã Evangélica (lei nº 9.610 de 19/02/1998), salvo em breves citações, com indicação da fontes As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), 2ª edição (Sociedade Bíblica do Brasil), exceto indicações de outras versões. Editora filiada à Associação de Editores Cristãos Diretor Abimael de Souza Consultor John D. Barnett Editor-Chefe André de Souza Lima Editor da Série Vinícius Musselman Pimentel Autor das lições Vinícius Musselman Pimentel Assistente Editorial Isabel Cristina D. Costa Capa | Projeto Gráfico e Diagramação Henrique Martins Carvalho Programação André de Sousa Borovina Rua Goiânia, 294 – Parque Industrial 12235-625 São José dos Campos-SP comercial@editoracristaevangelica.com.br www.editoracristaevangelica.com.br Telefax: (12) 3202-1700 mailto:comercial@editoracristaevangelica.com.br http://www.editoracristaevangelica.com.br/ Ainda me lembro do impacto que o Intensivo de 9Marcas causou em minha vida pessoal e na minha visão de igreja. Cheguei com a expectativa de aprender alguma coisa a mais sobre crescimento de igreja e entendi que deveria começar de um ponto mais básico: revendo o que é igreja. Naqueles dias, fui edificado por pregações expositivas; ouvi crentes falando de teologia bíblica nos grupos de estudo bíblico; percebi uma forte convicção do evangelho no testemunho de cada batizando; nas discussões dos presbíteros sobre os novos membros, compreendi o entendimento bíblico que eles têm da conversão, da evangelização e da membresia na igreja. Ainda me lembro do seminário sobre disciplina. Quão intrigantes foram as perguntas, e como Dever respondeu que antes de aplicar esse entendimento na igreja, você deveria pregar sobre o tema por quatro ou cinco anos! Nos corredores, nas conversas, nos testemunhos, vi também que a ideia de discipulado está presente e que desenvolvimento de liderança é algo que faz parte do dia a dia, e não é um evento. Uma inquietação paira na mente de todos os que participam, e a pergunta é inevitável: o que fazer quando voltar para casa? O que mudar? Como viver a vida cristã de maneira a demonstrar essa visão mais simples de uma igreja cuja estrutura é submetida às convicções bíblicas? Enviado pela Editora Cristã Evangélica, nossa resposta não podia ser outra: produzir algo que aumente o compartilhamento dessas verdades fundamentais para a vida de uma igreja frutífera. Oramos para que estas lições sejam instrumento de Deus a fim de ajudar você a desenvolver uma visão bíblica de igreja, uma experiência bíblica do evangelho de Cristo e o que ele faz na vida do pecador. Leia as lições, promova estudos em grupos, aprofunde-se nos livros indicados, discuta, aplique e promova saúde na sua igreja local por meio de meditar nessas verdades bíblicas fundamentais. André de Souza Lima 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 – Sumário – O que é uma igreja saudável? A igreja do Deus trino Marca 1: Pregação expositiva Marca 2: Teologia bíblica Marca 3: Evangelho Marca 4: Conversão Marca 5: Evangelização Marca 6: Membresia Marca 7: Disciplina Marca 8: Discipulado Marca 9: Liderança A igreja é o evangelho visível Cristo planejou que Seus discípulos vivessem em uma comunidade de outros discípulos que iriam lhes ensinar a obedecer a tudo quanto Ele ordenara. INTRODUÇÃO Vivemos hoje em uma sociedade que trocou a definição bíblica de amor por uma visão marcada de individualismo e consumismo, com fobia a comprometimentos e instituições. Jonathan Leeman, em seu livro A Regra do Amor (2019), aponta que o imaginário amoroso propagado no Romantismo do séc. XVIII era de casais perdidamente apaixonados que se colocavam contra todas as estruturas, hierarquias e tradições do passado em prol do que queriam e sentiam. Assim, a autorrealização e a autoexpressão foram exaltadas como as marcas fundamentais do amor. Em vez de autonegação, as pessoas buscam alguém que as aceite como elas são. Em vez de altruísmo, desejam alguém que as complete, que as faça felizes e realizadas. Quando, porém, valorizamos o “eu” acima dos outros, passamos de uma troca relacional para o consumismo, no qual usamos coisas e pessoas para nosso próprio proveito. Dentro dessa visão, comprometer-se com algo é restringir possibilidades de felicidade. Discuta 1. Como homens e mulheres influenciados pelo individualismo e pelo consumismo veem a igreja? 2. Como pessoas influenciadas pela fobia por comprometimentos e instituições veem a igreja? 3. Você já percebeu algo assim em seu comportamento? E em sua igreja, vê algum sinal disso? 1. IGREJA: O PLANO DE JESUS “A igreja não é um acessório; é a forma de seguir a Jesus.” (Dever, 2018, p.16) Mateus é o único que registra a palavra “igreja” nos lábios de Jesus (Mt 16.18; 18.17). É claro que, para o evangelista, a vida cristã deve ser vivida em comunidade. Na Grande Comissão, Jesus orientou os apóstolos sobre o que fazer após Sua partida. Eles deviam fazer discípulos. Deviam proclamar o evangelho e batizar aqueles que recebessem a Palavra, submetendo-se à suprema autoridade do Rei Jesus. Entretanto, a comissão não para por aí. O Senhor orientou os novos discípulos a não viverem desraigados, e sim debaixo do ensino apostólico, aprendendo a obedecer a tudo quanto o Mestre ordenara. Discípulos que fazem novos discípulos, que vivem na comunidade dos santos, aprendendo a viver seu discipulado e a fazer novos discípulos. E é justamente isso que os apóstolos fizeram. Quando lemos Atos, vemos que, de forma geral, os apóstolos não foram evangelizando pessoas e deixando-as dispersas, mas plantando igrejas e reunindo os novos discípulos nessas comunidades. Discuta 1. Diante do padrão do Novo Testamento, é normal um cristão não se unir a uma igreja local? 2. O que Hebreus 10.24-25 nos ensina sobre a vida comunitária do cristão? 3. Observe o contexto de Hebreus 10.19-27. Por que o mandamento de não deixar de congregar é importante? 2. O QUE É UMA IGREJA SAUDÁVEL? Se é importante que o cristão viva unido a uma igreja, precisamos então entender o que ela é e o que ela não é. Hoje, diversas rejeições à igreja se devem por auditórios que podem até ter placa com a inscrição “igreja”, porém, como Jesus mesmo disse, são sinagogas de Satanás (Ap 3.9). Quando sondamos o Novo Testamento, percebemos que há momentos em que o termo “igreja” é usado no singular e outras vezes, no plural. Hebreus 12.22-23 trata sobre a “assembleia universal e igreja dos primogênitos arrolados nos céus”. É isso que os teólogos costumam chamar de “igreja universal”. O texto nos diz de uma única igreja, que é universal e cujo rol de membros está nos céus. A igreja universal é composta de todos os eleitos, de todos os tempos e de todos os lugares. Só Deus sabe quem está arrolado nessa bendita assembleia. No entanto, o uso da palavra no Novo Testamento parece ser não no sentido universal, mas sim no sentido local — uma assembleia que se reúne em determinado local e tempo, cujos membros estão arrolados na terra (as sete igrejas em Apocalipse 1-3; as igrejas da região da Galácia e da Judeia, em Gálatas 1.2,22). Os usos, porém, nem sempre são tão nítidos e distintos quanto gostaríamos. Um dos assuntos que a Epístola aos Efésios trabalha é a unidade entre judeus e gentios na igreja local, porém, Paulo constantemente fundamenta isso na unidade de um só corpo (Ef 4.4), porque a “união universal [de um crente com Cristo e com todos os crentes] precisa ter uma existência viva e atuante em uma igreja local”. (Dever, 2018, p.34) Além de universal e local, a Reforma Protestante trouxe outra distinção importante: verdadeira e falsa. Nem tudo aquilo que se diz igreja é, de fato, umacongregação de Cristo. Então, como diferenciar? Na teologia católica romana, a estrutura hierárquica visível é o fator diferenciador, porém, a Reforma colocou o evangelho como critério de identificação. Onde o evangelho é puramente pregado, e a ceia e o batismo são corretamente administrados (sem macular o evangelho), aí se tem uma igreja verdadeira. Os herdeiros da Reforma perceberam que além da distinção entre verdadeira e falsa, outra era útil: distinguir entre igrejas mais ou menos puras — o que hoje chamamos de saudável. Há igrejas mais puras ou saudáveis e igrejas menos puras ou menos saudáveis, ou mais doentes. Infelizmente, algumas igrejas se degeneraram tanto que são igrejas mortas ou sinagogas de Satanás. Um lugar onde a Palavra não é exposta e o evangelho de Cristo não é pregado não é uma igreja verdadeira, mesmo que repita milhares de vezes o nome de Jesus. Discuta 1. Por que é importante fazer essas distinções entre igreja universal e local, falsa e verdadeira, doente e saudável? 2. O que é uma igreja saudável para você? Liste marcas importantes que uma igreja ideal deveria ter. 3. Em qual ordem você colocaria essas marcas? 3. O QUE É UMA IGREJA SAUDÁVEL PARA DEUS? Por mais que as perguntas anteriores sejam importantes, a mais importante que devemos fazer é: o que é uma igreja saudável para Deus? Como Mark Dever coloca: “Deus criou a igreja, e isso implica que ele possui toda a autoridade na igreja. Deus nos diz o que a igreja é e como ela deve funcionar.” (Dever, 2015, p.30) Nossa lista demonstra o que é mais importante para nós, porém, ela precisa se conformar às prioridades do Rei. Cristo fundou a igreja e a comprou com Seu sangue, para apresentá-la perfeita (Mt 16.18; At 20.28; Ef 5.25-27). Seria pretensão nossa, que nem mesmo conseguimos respirar sem Cristo, achar que podemos definir como a assembleia de Jesus deve se organizar e se comportar, ou pensar que nossos métodos são melhores que os planos Daquele que sabe todas as coisas, o princípio e o fim, e que enviou Seu Espírito para operar poderosamente na igreja com os meios que Ele prescreveu. Nas últimas décadas, muitos experts em igreja, prometendo crescimento numérico, ano após ano, trouxeram novas modas que iriam “revolucionar” a igreja. Isso sem contar aqueles que pretensa e arrogantemente afirmavam ter achado o segredo para o sucesso da igreja — insinuando que Jesus deixou Sua amada igreja dois mil anos sem informação tão importante. Se há um expert em igreja, alguém que a conhece nos mínimos detalhes, que sabe com perfeição o que lhe fará bem ou mal, esse é Quem é mais sábio que Salomão. Jonathan Edwards expressou de forma belíssima: “Quaisquer que sejam as maneiras de se constituir a igreja que nos pareçam oportunas, adequadas e razoáveis, a questão é, não qual constituição da igreja de Cristo parece conveniente para a sabedoria humana, mas qual constituição foi realmente estabelecida pela infinita sabedoria de Cristo.” (Edwards citado por Dever, 2001, p.305) Não importa o que parece certo para nós, importa o que Jesus ordenou. Ele governa Sua igreja por meio do cetro da Escritura. Essa verdade traz imensa liberdade a pastores e igrejas. Isso porque não mais precisam se exaurir tentando surfar a última tendência. Eles podem ser ativamente fiéis, plantando e regando, confiando que é Deus que dá o crescimento (1Co 3.6-7), podem focar mais em ser fiéis do que bem-sucedidos ao olhos do mundo (1Co 4.1-5). Discuta 1. Você já ouviu alguma proposta de crescimento de igreja? Qual a última tendência na sua região? 2. Qual seria a lista de Deus para uma igreja saudável? 3. Qual você imagina que seria a ordem de prioridade de Deus? CONCLUSÃO Conforme avançamos para refletir sobre as nove marcas de uma igreja saudável, como propostas pelo Pr. Mark Dever, é importante fazer algumas observações que o próprio autor destaca no prefácio de seu livro. Estas não são todas as marcas possíveis de uma igreja saudável, nem é um inventário completo de todos os sinais de saúde da igreja. Talvez você sinta falta de alguma que considera crucial. Dever e o ministério 9Marks, porém, entenderam que é estratégico, fiel e correto continuar focalizando a atenção dos cristãos nestes assuntos específicos. As nove marcas são: Marca 1: Pregação Expositiva Marca 2: Teologia Bíblica Marca 3: O Evangelho Marca 4: Um Entendimento Bíblico da Conversão Marca 5: Um Entendimento Bíblico da Evangelização Marca 6: Um Entendimento Bíblico da Membresia na Igreja Marca 7: Disciplina Bíblica na Igreja Marca 8: Interesse pelo Discipulado e Crescimento Marca 9: Liderança Bíblica na Igreja Cabe ressaltar também que há uma sequência lógica entre elas. Conforme a Palavra é exposta, a igreja desenvolve uma teologia que é saturada pela Bíblia e aprende com maior clareza o evangelho. Isso fará com que saiba diferenciar as evidências do arrependimento e da fé que seguem um entendimento bíblico da conversão, e assim poderá evangelizar de forma mais bíblica. À medida que as pessoas se convertem, elas devem unir-se a uma igreja local, a qual precisa ter seu cercado bem delimitado pela membresia e pela disciplina bíblica. Dentro desse cercado, um pasto verdejante de vida cristã e discipulado vai levar a igreja a crescer e formar líderes que vão pregar fielmente a Palavra — e voltamos ao princípio. Por fim, se essas marcas não são uma nova tendência, mas resumos dos ensinos bíblicos sobre a igreja, então elas não são opcionais. Se expressam aquilo que Jesus quer em todos os tempos para Seu povo, então não podemos escolher qual marca preferimos, mas precisamos buscar ter todas em nossas igrejas. Não podemos achar que eram para outros tempos, mas precisamos compreender que são também para o nosso século. Certamente, o tempo e o modo como serão implantadas vão depender da prudência pastoral e de caso a caso; bem como a forma e o tempero de como cada marca se mostrará. Entretanto, uma coisa é certa: quanto mais significativas e intencionais essas marcas forem, mais encontraremos uma igreja saudável. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Jonathan Leeman, Regra do Amor: Como a Igreja Local Deve Refletir o Amor e a Autoridade de Deus (São José dos Campos, SP: Fiel, 2019). Mark Dever (ed.), Polity: Biblical Arguments on How to Conduct Church Life (Washington D.C.: Center for Church Reform, 2001). Mark Dever, Nove Marcas de uma Igreja Saudável (São José dos Campos, SP: Fiel, 2018). Mark Dever, Igreja: O Evangelho Visível (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015). MAIS RECURSOS Mark Dever, O que é uma Igreja Saudável?, 2ª ed. (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015). Thabiti Anyabwile, O que É um Membro de Igreja Saudável?, 2ª ed. (São José dos Campos, SP: Fiel, 2016). O evangelho salva um povo, a igreja, dando--lhe um novo relacionamento com o Deus Trino. INTRODUÇÃO “A igreja é um povo, não um lugar, nem uma estatística. É um corpo, unido a Cristo, que é a cabeça. É uma família, unida por adoção por meio de Cristo.” (Dever, 2015. p.47) Muitos tratam a igreja como se ela fosse algo optativo, pensando que, se não é necessária para a salvação, então não é importante. Certamente a salvação é somente por meio da fé em Cristo, porém, separar a igreja do evangelho, do Deus Trino e dos planos de Deus é grande erro. Em Gálatas 1.1-9, Paulo abre a epístola falando do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, “o qual entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos livrar deste mundo perverso...” (v.4). Esse evangelho gerou igrejas (v.2). Agora em contrapartida, as igrejas devem proteger o evangelho das falsificações, mesmo que alguém chegue com uma carteirinha de apóstolo ou seja um “anjo vindo do céu” (v. 8-9), se pregar um evangelho falso, a igreja deve rejeitá-lo. Assim, o evangelho gera a igreja, e a igreja deve promover e proteger o evangelho. Há uma relação íntima entre o evangelho e a igreja. Ao desprezar a igreja, menosprezamos aquilo que a obra de Cristo realizou e como o Senhor planejou que Seu evangelho fosse protegido e promovido, afinal a igreja do Deus vivoé coluna e fundamento da verdade (1Tm 3.15). Mas isso não é tudo. O evangelho concede à cada cristão e à igreja um novo relacionamento com o Deus Trino. Em Efésios 2.11-22, Paulo mostra como, “por meio da cruz”, Jesus destruiu a inimizade entre Deus e os homens, e entre os povos distintos (em Efésios, Paulo ressalta a parede da separação que havia entre judeus e gentios). Na cruz, Jesus uniu Seus remidos a Si mesmo, ao Seu corpo. Agora, todos os salvos são corpo do Filho; e, se estão unidos com o Filho, são da família do Pai e templo do Espírito, assim como o Ungido o é. Esse relacionamento não é temporário, é eterno. A igreja sempre será família do Pai, corpo do Filho e templo do Espírito. Se a igreja está tão intimamente relacionada com o Deus Trino e Seu plano de salvação, não é de estranhar que ela esteja no centro dos planos de Deus. O Pai eternamente planejou glorificar Seu Filho, e parte desse propósito envolve colocar “todas as coisas debaixo dos pés de Cristo e, para [Jesus] ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja” (Ef 1.22). Cristo é exaltado, e a igreja exaltada juntamente a Ele. Em contrapartida, o Filho glorifica o Pai, e se a igreja está unida ao Filho, ela também glorifica o Pai. Veja como Paulo coloca essa realidade em Efésios 3.21: “a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” Uma das formas pelas quais o Pai é glorificado por meio da igreja é quando a “multiforme sabedoria de Deus se torna conhecida dos principados e das potestades nas regiões celestiais” (Ef 3.10), por causa do mistério revelado de que “os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” (Ef 3.6). Assim, o propósito de Deus é que a igreja O glorifique pelo que ela é e pelo que ela faz. O ministro do século XIX, Charles Bridges, expressa isso de forma magnífica: “A igreja é o espelho que reflete a completa fulgência do caráter divino. É o grande cenário, no qual as perfeições de Jeová são exibidas para o universo.” (Bridges, 1967) Assim vemos que a igreja está ligada intimamente com as três verdades preciosas da fé cristã: o evangelho da nossa salvação; o Deus Trino, que nos salva; e o propósito de Deus em glorificar a Si mesmo. Ela não é trivial, nem opcional. Ela é amada pelo Deus Altíssimo, que a comprou com o Seu próprio sangue (At 20.28). Discuta 1. Normalmente, pensamos em nosso relacionamento pessoal com Deus. Você já havia pensado sobre a relação comunitária da igreja com o Deus Trino? 2. De que formas a igreja traz glória a Deus, pelo que ela é e pelo que ela faz? 3. Diante do que foi discutido, você acha que a igreja é importante aos olhos de Deus? Quais são alguns problemas de menosprezarmos a igreja? 1. FAMÍLIA DO PAI Um dos maiores privilégios da vida cristã é ser adotado por Deus, poder chamar o Pai de Cristo de “Pai nosso, que estás nos céus”. Se estamos unidos com o Filho, compartilhamos das bênçãos da união e do relacionamento que Ele tem com o Pai. O Filho é eternamente gerado pelo Pai; e nós, por crermos em Cristo, somos nascidos de Deus (1Jo 5.1). Por estarmos no Verbo, fomos gerados pela palavra da verdade de Deus e regenerados mediante a Sua palavra viva e permanente para uma viva esperança (Tg 1.18; 1Pe 1.3,23). Assim como o Pai ama o Filho, somos amados em Deus Pai (Jd 1; 2Ts 2.16). De forma maravilhosa, Jesus nos diz que o Pai nos ama com o mesmo amor que tem pelo Filho (Jo 17.22). Assim como o Filho é um com o Pai e desfruta de plena comunhão com Ele, nós também (Jo 17.20-22; 1Jo 1.3). Nós estávamos longe, mas fomos aproximados (Ef 2.13). E se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo de uma herança que não pode ser destruída, que não fica manchada, que não murcha, que está reservada nos céus para nós (Rm 8.17; Tt 3.7; 1Pe 1.4). De fato, sermos chamados filhos de Deus é demonstração maravilhosa do grande amor que o Pai nos tem concedido (1Jo 3.1). Assim, como o Pai “nos predestinou para ele, para sermos adotados como seus filhos”, Ele nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis (Ef 1.4-5). Tal Pai, tal Filho, tais filhos. Pois nosso Pai é santo, somos chamados a ser santos em todo o nosso procedimento, lembrando que nosso Pai julga as obras de cada um sem acepção de pessoas (1Pe 1.14-17). Deus Se importa tanto com Sua família que disciplina, em amor, Seus filhos para serem participantes da Sua santidade (Hb 12.10). Somos chamados a amar o Pai e o Filho (1Jo 5.1); e somos chamados ao amor fraternal não fingido — a amar de coração e ardentemente nossos irmãos, pois fomos regenerados pela semente do Deus, que é amor (1Pe 1.22-23). A marca dos filhos de Deus é o amor; e isso é tão crucial que, se alguém afirma amar o Pai, mas não ama seus irmãos, é considerado mentiroso, pois “quem não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4.20). Não há como falar que ama a Deus sem amar a igreja. A família do Pai deve ser um lar de amor. Discuta 1. Quais são as implicações práticas de sermos família do Pai para nossa vida de igreja? 2. Faz sentido alguém dizer que ama o Pai, mas se recusa a amar a família Dele? 2. CORPO DO FILHO Uma das mais importantes e negligenciadas doutrinas da salvação é a união com Cristo. Como vimos, desfrutamos de um novo relacionamento filial com Deus por estarmos no Filho. Millard Erickson aponta, em sua Introdução à Teologia Sistemática, diversas implicações de sermos corpo de Cristo. (Erickson, 1997, p. 441-442) Primeiro, se somos corpo, Ele é a cabeça. O Pai O exaltou e pôs todas as coisas debaixo de Seus pés, para que em todas as coisas o Filho tivesse a primazia (Ef 1.22-23; Cl 1.18). Além disso, como corpo, estamos unidos à cabeça. A igreja, como noiva de Cristo, está unida espiritualmente ao Senhor e, assim como o marido é o cabeça da mulher, “Cristo é o cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo”, provendo tudo o que a sua amada precisa para ser apresentada “gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.22-33). Cristo supre, alimenta e cuida do Seu corpo como cuidamos do nosso (Ef 5.29- 30; Cl 2.19). Como esposa de Cristo, a igreja é submissa e sujeita à piedosa liderança de seu Senhor (Ef 5.24). Em segundo lugar, se somos corpo de Cristo, somos, individualmente, membros desse corpo e estamos interligados uns aos outros (1Co 12.27). Não há como afirmar estar unido com Cristo, mas não se unir aos outros membros do corpo de Cristo. Paulo ensina que, quando partimos o pão na ceia simbolizando nossa comunhão com Cristo, isso invariavelmente também fala sobre nossa comunhão, porque “nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão” (1Co 10.17). As implicações dessa realidade são maravilhosas. Aqui estão quatro. a. União: nossa união em Cristo é maior que nossas diferenças étnicas ou sociais (1Co 12.12-13; Ef 2.11-16; Cl 3.11), por isso devemos preservar e crescer em unidade de fé (Ef 4.1-4,11-16). Porque Cristo não está dividido, não deve haver divisões entre nós (1Co 1.10-13). b. Interligação: dependemos uns dos outros a ponto de um membro do corpo não poder dizer que não precisa do outro (1Co 12.15-25). Os dons e o serviço amoroso de cada membro são necessários para a edificação do corpo (Rm 12.3-8; 1Co 12; Ef 4.15-16; Cl 2.19). c. Sintonia: sermos um só corpo significa que “se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, todos os outros se alegram com ele” (1Co 12.26). Choramos com os que choram e nos alegramos com os que se alegram (Rm 12.15). d. Extensão: quando vivemos esse amor em união, interligação e sintonia, refletimos o caráter de Cristo em nosso mundo, tornamos o evangelho visível (Jo 13.35). Como Seu corpo, somos a extensão de Seu ministério na terra, sendo chamados a continuar a proclamação do evangelho do Verbo de Deus e a extensão da compaixão do Supremo Pastor (Mt 28.10-20; Jo 14.12). Quandobatemos nosso dedinho do pé em um móvel, percebemos como cada membro do nosso corpo está unido ao todo, como todos sofremos se o menor de nós sofre, e como cada parte do nosso corpo é importante para caminharmos em serviço neste mundo. Discuta 1. Quais são as implicações práticas de sermos corpo do Filho para a nossa vida de igreja? Liste pelo menos três. 2. Faz sentido alguém dizer que tem comunhão com Cristo, mas se recusa a unir-se ao corpo Dele? Por quê? 3. TEMPLO DO ESPÍRITO No Antigo Testamento, podemos ver que o templo era o foco, o locus, da glória de Deus na terra, o lugar onde Deus Se encontrava com Seu povo. No Novo Testamento, porém, Cristo ensina que Seu corpo era o templo que seria destruído, mas em três dias seria reconstruído (Jo 2.19-22). Jesus é o templo verdadeiro, onde a glória de Deus habita e onde nos encontramos com Deus. Como a igreja está unida com Cristo, ela também é “casa espiritual” (1Pe 2.4-8), edifício e santuário de Deus (1Co 3.9,16- 17), “... para serem morada de Deus no Espírito” (Ef 2.21-22). Ou seja, a igreja é o templo onde a glória de Deus habita e onde nos encontramos com Deus neste mundo. Quando a igreja se reúne para proclamar “as virtudes daquele que [nos] chamou das trevas para a sua maravilhosa luz...” (1Pe 2.9-10), Deus está presente de forma mais profunda do que quando adoramos sozinhos. Por ser habitada pelo Espírito (que é) Santo e Deus andar entre nós, a igreja é chamada a ser santuário dedicado ao Senhor (Ef 2.21-22) e andar em pureza (2Co 6.14-7.1). Cada crente é uma pedra viva desse santuário e chamado para ser sacerdócio santo, a fim de oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo (1Pe 2.4-8). Como pedra viva, nenhum crente é dispensável. Estarmos juntos, exercendo nosso papel, é crucial para o edifício crescer. Precisamos todos desempenhar o papel de sacerdotes reais. O fato de sermos sacerdotes não significa que vamos a Deus diretamente e não precisamos de mediadores, assim não precisamos da igreja. De fato, Cristo é o único mediador, e não precisamos de outros mediadores humanos. Contudo, não somos sacerdotes para nós mesmos, mas uns para os outros. Nós ministramos e intercedemos uns pelos outros para que, por meio do nosso serviço, nossos irmãos possam se achegar mais perto de Deus. Discuta 1. Quais são as implicações práticas de sermos templo do Espírito para nossa vida de igreja? 2. Faz sentido alguém afirmar ser habitado pelo Espírito, mas achar que não tem problema ter um buraco com uma pedra a menos no edifício de Deus? CONCLUSÃO [...] cada um de nós que somos discípulos do Senhor Jesus Cristo prestará contas de haver ou não congregado regularmente na igreja, estimulado a igreja ao amor e às boas obras e lutado para manter o ensino correto da esperança do evangelho (Hb 10.23-25). (Dever, 2015, p.23) Essas três imagens da igreja demonstram a importância de nos envolvermos com ela. Antes de listar as nove marcas de saúde propostas pelo Pr. Mark Dever, é importante compreendermos que todos somos responsáveis para que a igreja seja edificada. Em Efésios 4, Paulo alerta contra erros doutrinários que podem minar a unidade que temos em Deus e no evangelho, a qual precisamos preservar. E para que possamos fugir da imaturidade e crescer conforme a estatura de Cristo, ao subir aos céus, nosso Senhor deu dons a todos os santos. Os ministros da Palavra foram dados a fim de treinarem e aperfeiçoarem os santos para o desempenho do serviço e ministério dos santos (v.12) — não para realizar todo o trabalho. E “todo o corpo, bem-ajustado e consolidado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio crescimento para a edificação de si mesmo em amor” (v.16). Faremos bem se nos atentarmos ao aviso de Paulo de não menosprezarmos “a igreja de Deus” (1Co 11.22). Discuta 1. Por que pensamos que só os pastores são responsáveis pela saúde da igreja? 2. Você sente que tem feito sua parte para a edificação da igreja? 3. Que atitudes práticas você poderia tomar a fim de cooperar para a saúde da igreja? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Charles Bridges, The Christian Ministry (Carlisle, PA: The Banner of Truth Trust, 1967). Mark Dever, O que É uma Igreja Saudável?, 2ª ed. (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015). Millard Erickson, Introdução à Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 1997). MAIS RECURSOS Mark Dever, Igreja: O Evangelho Visível (São José dos Campos, SP: Fiel, 2011). Mez McConnell e Mike McKinley, Igreja em Lugares Difíceis: Como a Igreja Local Traz Vida ao Pobre e Necessitado (São José dos Campos, SP: Fiel, 2016). A pregação expositiva apresenta a palavra de Deus, explicando uma passagem da Escritura e aplicando o seu significado à vida da congregação. INTRODUÇÃO “A primeira marca de uma igreja saudável é a pregação expositiva. Não é somente a primeira marca; é a mais importante de todas as marcas, porque, se você desenvolvê-la corretamente, todas as outras a seguirão. Esta é a marca essencial.” (Dever, 2007, p.40) Se, conforme vimos na primeira lição, a pergunta central é “como é uma igreja saudável para Deus?”, então precisamos saber o que Ele deseja para a Sua igreja. E como saberemos isso? Pela Sua Palavra. A palavra de Deus deve ser absolutamente central em nossas igrejas. Em sua primeira carta, Pedro (1Pe 1.23-2.2) ensina que fomos regenerados “... não de semente corruptível, mas de semente incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente...”. Em Tiago 1.18, lemos que Deus “nos gerou pela palavra da verdade”, e em Romanos 10.17 aprendemos que nossa fé vem pelo ouvir a pregação da palavra de Cristo. Ou seja, é pela palavra de Deus que começamos a vida cristã. Sem a Palavra no poder do Espírito, não há novo nascimento. Assim, o princípio da vida cristã e o princípio da igreja estão na palavra de Deus. O apóstolo Pedro continua e instrui seus leitores: “Como crianças recém-nascidas, desejem o genuíno leite espiritual, para que, por ele, lhes seja dado crescimento para a salvação” (1Pe 2.2). Ou seja, a palavra de Deus é crucial em nosso novo nascimento e também no desenvolvimento da nossa vida cristã. Afinal, Jesus orou para que fôssemos santificados na verdade da palavra de Deus (Jo 17.17), recebendo consolação e esperança das Escrituras (Rm 15.4). Sem a Palavra no poder do Espírito, sem santificação. Assim, o crescimento da vida cristã e da igreja estão na palavra de Deus. Que isso significa para a igreja? Significa apenas que a pregação da Palavra tem de ser absolutamente central. Não deve causar surpresa ouvir que pregação correta e expositiva da Palavra é a fonte de crescimento da igreja. Estabeleça um bom ministério de pregação expositiva e veja o que acontece. Esqueça o que dizem os profissionais de crescimento de igreja. Observe pessoas famintas terem sua vida transformada, à medida que o Deus vivo fala com elas, por meio do poder de sua Palavra.” (Dever, 2007, p.56-57) Infelizmente, muitas vezes confiamos mais em métodos criados por homens para ver nossas igrejas crescerem do que no poder da palavra de Deus, no poder do Espírito, que é capaz de dar vida ao vale de ossos secos (Ez 37). Discuta 1. O que o Salmo 19.7-14 diz sobre a ação e a importância da palavra de Deus? 2. De que maneira confiamos mais em métodos do que na palavra de Deus? 1. A NECESSIDADE DA EXPOSIÇÃO Se a Escritura é central e vital à vida da igreja, se é ela que faz a igreja crescer, então é ela que deve ser exposta à igreja em todas as atividades no culto. Os louvores devem ser baseados na Palavra; as orações devem ser imersas da Bíblia; as pregações devem ser exposições da Escritura. A igreja é edificada com a palavra de Deus, e não com opiniões de homens. Aliás, o Senhor alerta Seu povo a não dar ouvidos àqueles que trazem mensagens de próprio coração e “não o que vem da boca do S�����” (Jr 23.16). Assim, os púlpitos devem transbordar da verdade bíblica, devem expor o que Deus revelou nas Sagradas Letras, que podemtornar as pessoas sábias para a salvação pela fé em Cristo Jesus (2Tm 3.15). Mas então, que é uma pregação expositiva? Certamente, muitas definições já foram dadas, porém, Mark Dever nos oferece uma definição simples, abrangente e útil: “A pregação expositiva é o tipo de pregação que, em termos bem simples, expõe a Palavra de Deus. Ela toma determinada passagem da Escritura, explica-a e, em seguida, aplica o significado da passagem à vida da congregação.” (Dever, 2015, p.81) Normalmente, a pregação expositiva é contrastada com a pregação temática. Na mensagem temática, o pregador escolhe o que vai falar, depois pensa no texto que se encaixa nesse objetivo. O perigo desse tipo de abordagem é que pode impor uma ideia ao texto, em vez de deixar o texto bíblico, com toda a sua riqueza e beleza, ditar a mensagem do sermão. Não que, se o sermão não for expositivo, a mensagem não será bíblica. É possível pregar um conteúdo verdadeiro em um sermão temático, porém o teor do sermão estará sempre limitado por aquilo que o mensageiro já sabe. Como o pregador já vem com uma ideia preconcebida ao texto, ele nunca vai aprofundar-se no rico terreno da Escritura a fim de encontrar verdadeiras pepitas de glória. Outro perigo — e este mais grave — é que o texto bíblico funcione só como um trampolim para que o mensageiro fale o que bem entender, muitas vezes até alegorizando o texto, em vez de explicar seu sentido claro. Sendo assim, é essencial para a saúde e segurança da igreja que a dieta normal do púlpito seja de mensagens expositivas. Agora, mensagens expositivas podem variar de estilo. Certa mensagem pode ter falado muito com você e até ter seu conteúdo baseado na Bíblia, mas ainda não ser expositiva. Por outro lado, é necessário esclarecer que a mensagem expositiva não é um comentário acadêmico frio e maçante. Afinal, para ser expositiva, a pregação deve buscar aplicar a mensagem do texto bíblico ao coração da congregação. Exposições também não significam necessariamente sermões longos ou que seguem certa metodologia. Não são essas coisas que conferem piedade à igreja, mas ser impactada e conformar-se com a palavra de Deus. Uma mensagem devocional de 15 minutos pode ser expositiva se transmitir e aplicar o que o texto bíblico ensina. O tempo e o método de um sermão variaram grandemente durante a história da igreja e dependem de inúmeros fatores culturais, eclesiásticos e pessoais. Por fim, cabe ressaltar que um sermão expositivo também não é uma explicação verso a verso percorrendo um livro inteiro da Escritura. A escolha do trecho a ser pregado pode variar. É possível pregar um sermão expositivo usando um verso, um parágrafo, um capítulo e até mesmo um livro inteiro da Bíblia. Afinal, o princípio não é o tamanho do texto, mas se a mensagem central daquele trecho está sendo corretamente exposta. No final das contas, a pregação expositiva é mais uma postura do coração do que um método. “Um compromisso com a pregação expositiva é um compromisso em ouvir a Palavra de Deus — é não somente uma afirmação de que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas também uma submissão de si mesmo à Palavra.” (Dever, 2007, p.42) Esse é um compromisso que toda igreja, todo membro e todo pastor devem ter. Discuta 1. Qual é a sua opinião sobre a pregação expositiva? 2. Leia 2Timóteo 3.16-4.4 e responda: a. De onde procede a Escritura? b. Para que a Escritura é útil? c. Qual o clamor que Paulo dá a Timóteo? d. Com que base Paulo faz esse clamor? e. Qual a urgência da pregação? 3. Leia Marcos 4.35-41. Qual o ponto principal da passagem bíblica? Para onde ela está apontando e o que ela quer nos ensinar? Quais mensagens com base nesse texto você já ouviu que não foram expositivas? 3. IMPLICAÇÕES PARA A VIDA DA IGREJA 3.1 Bons ouvintes da Palavra Precisamos de um coração que se comprometa a ouvir e a submeter-se à palavra de Deus. Afinal, é para este que o Senhor olha:“Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o S�����. ‘Mas eis para quem olharei: para o aflito e abatido de espírito e que treme diante da minha palavra’” (Is 66.2). Sendo assim, se, por um lado, pastores precisam aprender a ser bons expositores; por outro, membros precisam aprender a ser bons ouvintes de sermões expositivos. Isso significa que precisamos valorizar o culto dominical. É lá que recebemos a principal refeição que vai nos suster pelo restante da semana. No livro O que é um membro de igreja saudável?, Thabiti Anyabwile sugere seis ideias práticas para que nos tornemos melhores ouvintes da palavra de Deus: • medite na passagem bíblica do sermão durante seu tempo de devoção pessoal; • compre um boa coleção de comentários bíblicos (peça recomendações ao seu pastor); • depois do culto, converse e ore com irmãos sobre o sermão; • ouça e viva o sermão durante toda a semana; • desenvolva o hábito de lidar com qualquer problema sobre o texto bíblico; • cultive a humildade e não se torne um “ouvinte profissional de sermões” — que está sempre ouvindo, mas nunca aprendendo. 3.2 Bons comunicadores da Palavra Precisamos ser bons ouvintes; ir além, ser mais do que ouvintes. Precisamos nos tornar “praticantes da palavra e não somente ouvintes”(Tg 1.22), e “guardar todas as coisas” que Jesus nos ordenou (Mt 28.20). Parte de obedecer a Jesus significa não deixar a Palavra estancada em nós. Em Colossenses 3.16, Paulo instrui a igreja afirmando que a palavra de Cristo deveria habitar ricamente em todos eles. Contudo, a forma de acumular o tesouro da Palavra não é por meio de uma poupança individualista que leva à soberba (1Co 8.1), mas em investimentos de amor edificante, instruindo e aconselhando outros membros em toda a sabedoria. É papel de cada um na igreja falar a verdade em amor para que a igreja seja edificada (Ef 4.15). Jonathan Leeman, em seu livro A Igreja Centrada na Palavra (Leeman, 2019), usa uma ilustração muito útil sobre o ministério da Palavra na igreja. A ideia é que a voz de Deus deve reverberar na congregação. O pastor ouve e proclama a Escritura do púlpito; os membros ecoam a Palavra dentro da igreja (em seus grupos pequenos, discipulados, relacionamentos e família), testificando do Evangelho fora da igreja (evangelização e missões). Discuta 1. Você tem sido bom ouvinte da Palavra? Quais formas você pode melhorar? 2. Você tem sido bom propagador da Palavra? Quais formas você pode melhorar? 3. Devemos valorizar o ministério da Palavra em nossa igreja. Quais são formas práticas que você pode auxiliar e encorajar os pregadores de sua igreja? CONCLUSÃO Todos os grandes avivamentos e as reformas da igreja tiveram a palavra de Deus, regada de oração e no poder do Espírito, como fundamento. A Escritura reforma a igreja e a conforma cada vez mais com o desejo do Senhor. A Escritura aviva a igreja e a vivifica, pelo poder do Espírito, a refletir melhor a glória de Deus. Sendo assim, devemos ansiar por aquilo que procede da boca de Deus mais do que o ouro depurado e mais que o destilar dos favos (Sl 19.10). Afinal, “qualquer coisa que não esteja arraigada e estritamente ligada à Palavra de Deus não é pregação, de modo algum. É apenas um discurso.” (Mark Dever & Greg Gilbert, 2016, p.56) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E MAIS RECURSOS David Helm, Pregação Expositiva: Proclamando a Palavra de Deus Hoje (São Paulo: Vida Nova, 2016). Jonathan Leeman, A Igreja Centrada na Palavra: Como as Escrituras Dão Vida e Crescimento ao Povo de Deus (São Paulo: Vida Nova, 2019). Mark Dever, Nove Marcas de uma Igreja Saudável (São José dos Campos, SP: Fiel, 2007). Mark Dever, O que É uma Igreja Saudável? (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015).Mark Dever & Greg Gilbert, Pregue: Quando a Teologia Encontra-se com a Prática (São José dos Campos, SP: Fiel, 2016). A teologia bíblica é uma teologia fiel ao ensino de toda a Bíblia. INTRODUÇÃO Membros de igrejas cristãs continuam a nutrir pensamentos insignificantes a respeito de Deus e pensamentos elevados sobre o homem. Esse estado de coisas revela que muitos cristãos têmnegligenciado sua principal vocação: conhecer o seu Deus. Todo cristão deve ser um teólogo no melhor e mais íntimo sentido da palavra. Se as igrejas devem ter boa saúde, os seus membros precisam comprometer-se em ser teólogos de acordo com sua capacidade. Essa é a segunda marca de um membro de igreja saudável. (Anyabwile, 2016, p.34) Mais e mais sociólogos e jornalistas têm apontado para a crescente superficialidade da sociedade. A internet proporciona acesso rápido à informação, mas estimula a pouca retenção e reflexão. As redes sociais estão viciando-nos em manchetes bombásticas e conteúdo curto e raso. Infelizmente, isso traz impactos sobre nossa vida de igreja. Desde o princípio, porém, a igreja tem sido marcada por perseverar devotadamente na doutrina dos apóstolos (At 2.42). Isso significa que todo cristão é teólogo. Como o pastor e teólogo R. C. Sproul bem nos lembra: Nenhum cristão pode evitar a teologia. Todo cristão é um teólogo. Talvez não um teólogo no sentido técnico ou profissional, mas, ainda assim, um teólogo. A questão para os cristãos não é se seremos teólogos, mas se seremos bons ou maus teólogos. Um bom teólogo é aquele que é instruído por Deus. (Sproul, 1977, p.22) Mas o que é teologia bíblica? Mark Dever afirma que “a teologia bíblica exata é uma teologia fiel ao ensino de toda a Bíblia. É confiável e interpreta com exatidão as partes em relação ao todo.” (Dever, 2015, p.90) Isso significa que precisamos ter entendimento tanto correto quanto completo da Escritura. Quando o termo “teologia bíblica” é usado, ele pode ter dois aspectos. O primeiro seria de uma teologia que é bíblica, que é fiel à Escritura, que considera o que toda a Bíblia diz sobre determinado tópico. Isso, dentro do estudo teológico, está normalmente dentro da matéria de Teologia Sistemática. O segundo aspecto é de uma teologia que considera a Bíblia como uma grande história divina da redenção. Sem esses dois aspectos, acabaremos caindo num grande perigo: impor nossos próprios significados ao texto bíblico. Discuta 1. Você se considera um teólogo? Por quê? 2. Que formas cultivamos “pensamentos insignificantes a respeito de Deus e pensamentos elevados sobre o homem”? 1. TEOLOGIA SISTEMÁTICA: Sà DOUTRINA “[...] a sã doutrina é um resumo dos ensinos bíblicos que são tanto fiéis à Bíblia quanto úteis à vida.” (Jamieson, 2016, p.21) Se a Bíblia interpreta a si mesma, então precisamos considerar o que toda a Escritura diz sobre determinado assunto. Paulo trata sobre sã doutrina em todas as suas cartas pastorais endereçadas a Timóteo e a Tito. Sã doutrina significa ter uma teologia confiável, exata, fiel, íntegra, saudável. A primeira atitude para sermos fiéis nessa área é mudar a nossa postura. Não raro, em vez de buscarmos a “sã doutrina”, afirmamos “somos doutrina”. Ou seja, em vez de buscarmos compreender o que a Escritura diz, tremendo em humildade diante da santa palavra de Deus (1Sm 3.10; Is 66.2), inapropriadamente emitimos a nossa opinião sobre assuntos importantes. Podemos até dizer “em minha opinião…”, como se fosse uma capa de modéstia, porém, ela esconde um coração orgulhoso que considera mais sua própria opinião do que a do Senhor. Uma área comum em que isso acontece é quando se trata do conceito que temos de Deus. Talvez você já tenha dito ou ouvido as seguintes palavras: “Para mim, Deus é assim”. Contudo, não ganhamos um deus individual. Existe só um Deus que Se revelou na Palavra encarnada e registrou essa revelação na Palavra escrita. Então, nossa pergunta deve ser: como o Altíssimo Se revelou nas Sagradas Letras? Exemplo comum desse tipo de atitude ruim é quando alguns negam a ira de Deus, afirmando que “o Deus que Se revelou em Cristo Jesus é amor, então há algo de errado com o Antigo Testamento”. Deus, porém, não muda! Os mandamentos de amarmos a Deus e o próximo estão ambos no Antigo Testamento (Dt 6.5; Lv 19.18). Muitos ficam chocados com a demonstração do justo juízo de Deus contra os cananeus, mas se esquecem de que Apocalipse aponta para um juízo de escala global. Entendermos o que a Bíblia ensina sobre a natureza trina de nosso Deus e sobre Seu perfeito caráter, sobre a dupla natureza de Cristo e Sua obra redentora — ou seja, termos pensamentos grandes sobre Deus — é crucial para a vida cristã, pois somos transformados à medida que contemplamos a glória do Senhor (2Co 3.18). Discuta 1. Você já se pegou afirmando “sou doutrina” em vez de buscar a “sã doutrina”? 2. Liste algumas implicações em abandonarmos: a. a sã doutrina; b. a inspiração e a autoridade da Escritura; c. o caráter glorioso de Deus; d. a condição pecaminosa do homem; e. a salvação somente pela graça de Deus, por meio da fé em Cristo somente. 2. TEOLOGIA BÍBLICA: HISTÓRIA DA REDENÇÃO “A teologia bíblica nos ajuda a entender a Bíblia como um grande livro constituído de vários livros menores que contam uma única grande história. O herói e ponto central dessa história, de capa a capa, é Jesus Cristo.” (Roark e Cline, 2018, p.30) É importante considerarmos o que toda a Escritura diz sobre determinado tópico, mas podemos cair no perigo de tirar o texto do seu contexto. Além disso, Deus não nos deu uma enciclopédia teológica, mas uma Santa Biblioteca que nos conta progressivamente uma história, do Éden à Nova Jerusalém. Esse é o papel da teologia bíblica. Nick Roark e Robert Cline definem a teologia bíblica como: “[...] um modo de ler a Bíblia como uma única história de um único autor divino, que culmina em quem Jesus Cristo é e o que ele fez; então, cada parte da Escritura é entendida em relação a ele.” (Roark e Cline, 2018, p.30) Infelizmente, muitos cristãos enxergam a Bíblia como um cordão de pérolas — uma joia aqui, outra ali, ligadas por textos menos relevantes. Toda a Escritura, porém, é inspirada e útil. Precisamos considerar todo texto que lemos, especialmente os do Antigo Testamento, dentro da história progressiva da Bíblia que culmina em Cristo. A teologia bíblica nos ajuda a ver Jesus a partir de toda a Escritura. Ela nos ajuda a sermos cristocêntricos, afinal Jesus mesmo disse que toda a Escritura aponta para Ele (Lc 24.25-27; Jo 5.39). Considere, por exemplo, a história de Deuteronômio 11 e 30, quando o Senhor coloca o povo entre dois montes e pronuncia as bênçãos para aqueles que obedecem à aliança e as maldições para quem a quebra. Deus propõe “a vida e a morte, a bênção e a maldição” e recomenda que escolhamos a vida (Dt 30.19). Infelizmente, é comum ouvirmos pregações moralistas que dizem que se obedecermos ao Senhor seremos abençoados. Essa interpretação legalista, porém, ignora o que o próprio contexto diz em Deuteronômio 31.16, quando o Senhor diz a Moisés que sabe que o povo se prostituirá com ídolos e abandonará a aliança. A pintura se torna ainda mais rica quando enxergamos toda a história da redenção. Gênesis 1 relata que Deus criou o mundo, e tudo era perfeita bênção. Entretanto, com a rebelião de Adão e Eva, a humanidade foi amaldiçoada. “Por um só ser humano entrou o pecado no mundo, e pelo pecado veio a morte” (Rm 5.12). Deus, então, promete abençoar novamente todas as famílias da terra por meio da família de Abraão. Mas Israel e Judá acabam exilados por causa de desobediência, por quebrarem a aliança. Será que a maldição seria revertida? Será que a promessa de Deus se cumpriria? É aí que chegamos em Mateus 1 e lemos que Jesus é filho de Abraão. A obra de Cristo é dupla: Ele tanto nos livra da maldição como nos traz a bênção de Deus. Por Sua morte, “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” (Gl 3.13) e “já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). E por Sua vida de obediência, Nele, somos abençoados por Deus “com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais” (Ef 1.3). Até que o dia chegará, em que Cristo voltará e trará com Ele a cidade celestial na qual nunca mais haverá qualquer maldição (Ap 22.3). Discuta 1. Você tem dificuldade de ver a Bíblia como uma grande história?Por quê? 2. Considere o texto de Davi e Golias em 1Samuel 17 (Roark e Cline, 2018, p.30): a. Qual normalmente é a mensagem que ouvimos deste texto? Devemos ser como quem? b. Quem normalmente é apresentado como o gigante? c. Você já ouviu alguma interpretação sobre as cinco pedrinhas de Davi? d. Se formos sinceros, será que somos mais como Davi ou como o povo acovardado? e. Como essa história nos aponta para o Cristo, o filho de Davi? 3. IMPLICAÇÕES PARA A VIDA DA IGREJA O que isso significa para a vida igreja? Primeiro, significa que, como “igreja do Deus vivo”, a igreja é “coluna e fundamento da verdade”(1Tm 3.15). Ela deve sustentar e exibir em unidade a verdade da palavra de Deus a todos. Para isso precisamos nos unir na verdade. Muitos dizem que doutrina divide, porém, a ênfase de todo o Novo Testamento é que o erro traz divisão (2Pe 3.17). Quando lemos 1João 4.1-6, fica bem claro que a verdade vai tornar nítida a separação entre o espírito da verdade e o espírito do erro. Assim, como há uma só fé, precisamos preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.1-6). Isso significa evitar entrar em disputas desnecessárias com nossos irmãos de igreja. O mote da igreja primitiva continua verdadeiro: “nas coisas essenciais, unidade; nas coisas não essenciais, diversidade; em todas as coisas, amor”. Além de sustentar, a igreja precisa professar também a fé. Uma das formas que a igreja pode crescer em união doutrinária e exibi-la é por meio da confissão de fé. Confissões são recursos pedagógicos úteis que ajudam a igreja a concordar sobre questões importantes da fé. A igreja também professa a fé todo culto público, ao ler a Palavra, pregar a Palavra, orar a Palavra, cantar a Palavra, ver a Palavra (nas ordenanças), (Dever e Alexander, 2015, p.105) ao ensinar um ao outro mutuamente e ao proclamar o evangelho aos perdidos. A segunda implicação da teologia bíblica para a vida da igreja é que doutrina e vida não devem ser divorciadas. O apóstolo Paulo entende que o pleno conhecimento da verdade é segundo a piedade (Tt 1.1). Pedro vai além e diz que o “pleno conhecimento daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” é a forma pela qual nos foram doadas “todas as coisas que conduzem à vida e à piedade”(2Pe 1.3). Por fim, a terceira implicação é que toda a igreja é chamada para rejeitar falsos ensinos. O apóstolo João claramente instrui a igreja dizendo que “muitos enganadores têm saído pelo mundo afora” e que a igreja deve se acautelar e não receber “todo aquele que vai além da doutrina de Cristo” (2Jo 7-10). Não só pastores são chamados a vigiar contra lobos infiltrados, mas todos nós somos chamados para batalhar, diligentemente, “pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3-4). Todo membro é responsável por garantir, com seus irmãos, que o púlpito de sua igreja se mantenha fiel à Escritura, para o benefício de sua vida, da congregação, e a evangelização do perdido e da próxima geração. Discuta 1. Você já se considerava responsável por manter a sã doutrina em sua igreja? Quais são passos concretos que você pode dar a fim de melhorar nesse ministério? 2. O que acontece se uma igreja abandona a sã doutrina? CONCLUSÃO Talvez você esteja se sentindo sobrecarregado diante da difícil tarefa de entender a Escritura e ser bom teólogo bíblico. A boa notícia é que Cristo capacitou Seu corpo com dons diferentes, para que irmãos possam ajudar uns aos outros nessa tarefa. No fim das contas, uma igreja saudável é aquela em que os pastores e os membros possuem uma visão correta e completa sobre Deus, sobre o ser humano, sobre a salvação e sobre a Bíblia. Se isso não fosse importante para a igreja, Deus não teria nos deixado a Escritura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E MAIS RECURSOS Bobby Jamieson, Sã Doutrina: Como uma Igreja Cresce no Amor e na Santidade de Deus (São Paulo: Vida Nova, 2016). Duncan III (eds.), Give Praise to God: a Vision for Reforming Worship (Phillipsburg, N.J.: Prebyterian & Reformed, 2003). Greg Gilbert, Por que Confiar na Bíblia? (São José dos Campos, SP: Fiel, 2016). Mark Dever, O que É uma Igreja Saudável?, 2ª ed. (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015). Mark Dever e Paul Alexander, Igreja Intencional: Edificando Seu Ministério sobre o Evangelho, 2ª ed. (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015). Apud. Philip Ryken, Derek Thomas e J. Ligon Nick Roark e Robert Cline, Teologia Bíblica: Como a Igreja Ensina o Evangelho Com Fidelidade (São Paulo: Vida Nova, 2018). R. C. Sproul, Knowing Scripture (Downers Grove: IVP, 1977). Thabiti Anyabwile, O que É um Membro de Igreja Saudável? (São José dos Campos, SP: Fiel, 2016). O evangelho são as boas-novas de que Jesus morreu na cruz como sacri�cio vicário, em favor dos pecadores, e ressuscitou, estabelecendo o meio de sermos reconciliados com Deus. INTRODUÇÃO Uma igreja saudável é uma igreja em que cada membro, novo ou velho, maduro ou imaturo, une-se ao redor das maravilhosas boas-novas de salvação por meio de Jesus Cristo. (Dever, 2015, p.97) O que você responderia se lhe perguntassem: você pode falar para mim, em um minuto, o que é o evangelho? E aí, o que você diria? Certamente não daria para transmitir toda a profundidade das boas- novas, então quais elementos vitais você incluiria? Cristo é o centro da mensagem bíblica, e o evangelho é o centro da mensagem cristã, então, espera-se que todo cristão saiba compartilhar rapidamente a principal mensagem que carregamos. Mas infelizmente isso nem sempre é verdade. Imagine um cardiologista que não sabe o que é um coração, assim é o cristão que não conhece o cerne da fé. Imagine um carteiro sem a encomenda, assim é o crente que não carrega as boas-novas. O problema é que, durante anos, muitos pastores e membros consideraram conhecer o evangelho, afinal foram evangelizados um dia. Contudo, não se ouvia mais as boas-novas nos púlpitos, nas músicas, nas orações e nas conversas dos santos. E o evangelho que foi presumido logo foi esquecido. E para piorar, quando o evangelho não preenche a igreja, outras mensagens começam a se espalhar, e meias verdades começam a ser declaradas como fato completo. Por exemplo, muitos professam que o evangelho é que “Deus ajuda quem ajuda a si mesmo”, que na salvação “Jesus fez a parte dele e precisamos fazer a nossa”. E isso é uma heresia plena. A mensagem cristã não é mero moralismo. Outros mutilam o evangelho e distorcem suas verdades. Alguns, como Judas, tentam vender a Cristo dizendo “siga Jesus, dê o dízimo e tudo na sua vida irá bem”, como se o Salvador fosse um amuleto mágico de saúde e prosperidade. Outros querem transformar o homem no centro das boas-novas, dizendo que a mensagem é somente que “Deus nos ama” ou que “Deus tem um plano para nossa vida” ou que “Jesus quer ser nosso amigo”, porém deixam de fora qualquer menção sobre o pecado do homem e o juízo de Deus. Então, que é o evangelho? Discuta 1. Que é o evangelho? Compartilhe em 60 segundos ou menos. 2. Que falsos evangelhos você já ouviu? 1. O EVANGELHO E VOCÊ Conforme investigamos a Bíblia, embora o evangelho seja de infinita profundidade, alguns elementos fundamentais se repetem. Mark Dever os resumiu em: (1) Deus, (2) homem, (3) Cristo e (4) resposta. (Dever, 2015, p.98) Começamos com Deus. E devemos tomar cuidado em presumir que pessoas entendem o mesmo significado quando dizemos a palavra “Deus”. Alguns pensam que Deus é uma força impessoal, outros que é o primeiro motor imóvel, ainda outros podem até afirmar o monoteísmo, mas o concebem como um ser monopessoal (não trinitário). Na eternidade, existia um único Deus Trino, três pessoas e uma só natureza. O Pai, o Filho e o Espírito Santo comungavam em perfeito relacionamento de amor, alegria e bênção. Deus é espírito imortal, imutável, eterno, puríssimo, justo, santo, poderoso, sábio, soberano. Do transbordar de Seu amor, Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança para partilhar de Sua comunhão e bênção. O ser humano, porém, se rebelou contra Deus e caiu de seu estado original. O problemafundamental da humanidade é que todos somos pecadores por natureza e por escolha e, portanto, estamos sujeitos à ira de Deus, quando Ele julgar vivos e mortos. Somos culpados e corruptos. Contudo, “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Jesus Cristo encarnou, viveu perfeitamente entre nós, “foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou para a nossa justificação” (Rm 4.25), subiu aos céus, sentando à destra do Pai, e voltará para “julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu Reino” (2Tm 4.1). O Pai lidou com nossa culpa, perdoando todos os nossos delitos na cruz de Cristo (Cl 2.13-14), e com nossa corrupção, “mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5). Esse é o evangelho da nossa salvação (Ef 1.13). Só ouvir, porém, essa mensagem não é suficiente. Nem é suficiente que concordemos com ela. Uma resposta é necessária. Jesus, quando iniciou Seu ministério, pregou o evangelho de Deus, dizendo que o reino de Deus estava próximo e nos instruiu a nos arrependermos e crermos no evangelho (Mc 1.14-15). É importante ressaltar que não somos salvos por nossas obras. Nada que possamos fazer pode pagar o imensurável preço da nossa rebeldia contra o Deus, que é infinitamente digno. Merecíamos morrer. Somos salvos somente pela graça (não por nenhuma capacidade em nós), mediante a fé somente (não por obras), em Cristo somente (e não por qualquer outro mérito ou mediador), como nos ensina Efésios 2.7-8. Na cruz, Cristo morreu em nosso lugar. A culpa do nosso pecado foi colocada sobre Ele (expiação substitutiva: Gl 1.4; Ef 5.2; 1Pe 3.18). Assim, Jesus aplacou a ira de Deus, derrubou a inimizade e Se tornou propiciação (Rm 3.25-26; Hb 2.17; 1Jo 2.1-3; 4.10). Mais do que somente perdoados, fomos justificados. Sem qualquer justiça em nós mesmos, ainda pecadores, fomos cobertos pela justiça perfeita de Cristo (justificação: Rm 3.24; 5.9; 1Co 1.30; 6.9-11; 2Co 5.21; Fp 3.8-9). Assim, Deus não nos vê como se estivéssemos na estaca zero, Ele nos vê perfeitos em Cristo. Nosso glorioso Salvador obteve perdão e reconciliação, vivificação e adoção, justificação e propiciação para todo aquele que crê. Assim Paulo resume o evangelho que recebeu: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1Co 15.3-4). Discuta 1. Leia Romanos 3.23-28 e responda: a. Por que é importante entendermos que “todos pecaram” para compreendermos as boas-novas? b. O que significa dizer que fomos “justificados”? c. Por que Paulo é redundante dizendo “gratuitamente, por Sua graça”? d. Somos salvos por nossas obras ou mediante a fé? O que isso significa? e. O que Jesus fez pela nossa salvação? f. É a nossa fé que salva ou a obra de Cristo? 2. O EVANGELHO E A IGREJA “Deus, Homem, Cristo, Resposta” resume bem o evangelho em seu aspecto pessoal, como podemos ser salvos. Seria, porém, errado assumir que o evangelho é individualista. Afinal, o nome do nosso Salvador é Jesus, porque Ele salvaria “o seu povo dos pecados deles”. Cristo não deu Sua vida por crentes isolados, mas por Sua igreja (Ef 5.25b-27). Assim, precisamos considerar o evangelho em seu aspecto comunitário, em seu aspecto macro. Para isso, podemos resumir a apresentação em outros quatro termos: (1) Criação, (2) Queda, (3) Redenção, (4) Consumação. Começamos em Deus, o Criador, assim como anteriormente, afirmando que o Deus Trino criou um mundo bom e abençoado, umacriação em plena submissão e comunhão consigo mesmo. Deus criou o homem e a mulher à Sua imagem, e os colocou como subgerentes da terra. Satanás, porém, investiu contra a boa ordem de Deus e levou Adão e Eva — e a humanidade — à rebelião. Pensávamos que seríamos livres, mas a queda trouxe escravidão ao pecado, ao mundo e ao diabo (Jo 8.34; At 26.28; Ef 2.2; 2Co 4.4; 1Jo 5.19). Até a própria criação foi sujeita por Deus ao cativeiro da corrupção (Rm 8.20-21). Enquanto a ênfase anterior do problema estava em questões internas (culpa e corrupção — que, de fato, são a raiz de todos os problemas), aqui nos deparamos com inimigos externos. A boa notícia, porém, é que, se o Filho nos libertar, verdadeiramente seremos livres (Jo 8.36); que Deus amou tanto o mundo, essa criação caída, que proveu em Cristo redenção. O paralelo bíblico da redenção é a libertação do Êxodo, das garras de faraó, do cativeiro no Egito, rumo à terra prometida. Todo aquele que creu no Senhor, sacrificando o cordeiro, saiu vitorioso da terra da servidão. Da mesma forma, Cristo humilhou o “faraó” deste mundo, despojou “os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando sobre eles na cruz” (Cl 2.15) e Deus “nos libertou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado” (Cl 1.13-14). Não só o povo de Deus é libertado, mas “a própria criação será libertada do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8.20-21). Isso ocorrerá quando a consumação chegar e Cristo vencer o mundo (a grande Babilônia, Ap 18), o diabo (Ap 20), destruir a morte, o último inimigo (1Co 15.26), julgar vivos e mortos (Ap 20.11-15) e fazer “novas todas as coisas” (Ap 21.5). Discuta 1. Por que precisamos das duas ênfases (macro e micro) no entendimento do evngelho? 2. Como fazemos para participar da nova criação? É suficiente dizer que Jesus fará tudo novo e não explicarmos como podemos fazer parte? 3. IMPLICAÇÕES PARA A VIDA DA IGREJA Se o evangelho é tão central à nossa vida como cristãos e como igreja, não é de se assustar em pensar nas gloriosas implicações que ele tem para nós. 3.1 Preservem o evangelho A primeira responsabilidade que temos como igreja é de preservar o evangelho. Sem o evangelho, não mais temos pessoas remidas pelo Cordeiro, unidas por Cristo em uma igreja, mas religiosos moralistas que se reúnem regularmente. “Sem o evangelho, a igreja não tem nada a dizer – ou seja, nada a dizer que não possa ser dito por qualquer outro instrumento humano.” (Anyabwile, 2016, p.50) Pastores devem se atentar para os lobos vorazes que buscam penetrar no meio do aprisco de Cristo (At 20.29-31). E membros também! Paulo, ao escrever a carta às igrejas na região da Galácia, repreende todos por estarem passando tão depressa daquele que os chamou “na graça de Cristo para outro evangelho” (Gl 1.6-8). Ele responsabiliza todos os membros daquelas igrejas por preservarem o evangelho. Mesmo que alguém com carteirinha de apóstolo ou até mesmo um ser reluzente com asas chegasse com outro evangelho, eles deveriam dizer: “anátema”. 3.2 Saturarem-se do evangelho O evangelho distingue a igreja do mundo, define a mensagem e a missão da igreja no mundo e protege o povo de Deus contra os dardos inflamados do Maligno e dos falsos encantos do pecado. O evangelho é absolutamente vital para uma igreja cristã e um cristão saudável, vibrante, alegre, perseverante e esperançoso. O evangelho é tão essencial à vida cristã que precisamos saturar-nos com ele para sermos membros de igreja saudáveis. (Anyabwile, 2016, p.50) Para preservarmos o evangelho, precisamos estar saturados dele, pois o evangelho que é presumido, logo é esquecido! Se um judeu entrasse em sua igreja, ele se sentiria à vontade com o que é cantado ou seria confrontado com a gloriosa verdade do Deus encarnado? Se um fariseu legalista chegasse ao culto em sua igreja, ele se sentiria à vontade com o que é pregado ou ficaria incomodado por ouvir sobre a graça de Deus? Será que nossas orações, canções e pregações estão transbordando do evangelho? Será que nossos grupos pequenos, nossos discipulados, nossos ministérios estão centrados nas boas- novas? Ou será que imaginamos que o evangelho é algo só para o começo da vida cristã? Ou que podemos crescer em santidade por meio de mensagens moralistas e de nossos próprios esforços? Se removermos a cruz do centro do evangelho, se a movermos para o canto ou a substituirmoscom qualquer outra verdade “como o centro, o âmago e a fonte das boas-novas”, então vamos “apresentar ao mundo algo que não salva e, portanto, não é, realmente, boas-novas” (Greg, 2011, p.149). Discuta 1. Você entende sua responsabilidade de preservar o evangelho em sua igreja? 2. Como você e sua igreja podem se saturar do evangelho? CONCLUSÃO Como vimos na primeira lição, sem o evangelho não temos uma igreja verdadeira. Podemos ter um clube religioso, mas não a igreja de Cristo. Sendo assim, precisamos conhecer, preservar e proclamar o evangelho. E aí, o que você vai responder se alguém lhe perguntar: que é o evangelho, em um minuto? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Greg Gilbert, O que É o Evangelho? (São José dos Campos, SP: Fiel, 2011). Mark Dever, O que É uma Igreja Saudável?, 2ª ed. (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015). Thabiti Anyabwile, O que É um Membro de Igreja Saudável?, 2ª ed. (São José dos Campos, SP: Fiel, 2016). MAIS RECURSOS Greg Gilbert, Quem É Jesus Cristo? (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015). Ray Ortlund, O Evangelho: Como a Igreja Reflete a Beleza de Cristo (São Paulo: Vida Nova, 2016). Pela obra regeneradora do Espírito, o pecador nasce de novo e responde em arrependimento e fé, convertendo-se, com toda a sua vida, da autojustificação para a justificação de Cristo, do domínio do “ego” para o governo de Deus, da adoração de ídolos para a adoração a Deus. stevanovicigor / iStockPhoto INTRODUÇÃO Não foi por acidente que a natureza da verdadeira conversão começou a ser esclarecida ao mesmo tempo que o evangelho da justificação somente pela fé iniciou a sua restauração. Antes da Reforma, muitos se declaravam cristãos apenas para afirmar o nome da família, da paróquia, da cidade e até da nação à qual pertenciam. A Reforma levou a uma reapreciação da natureza radical da conversão cristã. A conversão não resultava de um rito de infância ou de membresia numa entidade política específica. Resultava de uma profissão de fé autoconsciente na obra justificadora de Deus em Cristo. (Dever, 2011, p.152) Qual é a diferença entre o cristão e o incrédulo? Infelizmente, às vezes, parece que muitos que professam a fé cristã vivem nos mesmos pecados que as pessoas do mundo. Grande parte do problema é que há pastores e igrejas que se esqueceram da importância da conversão. Buscando crescer em números e desejando não parecer desamoroso, muitas igrejas receberam pessoas que afirmavam crer em Cristo sem considerarem o que isso realmente significava. Os padrões bíblicos da conversão foram substituídos por rituais externos, como: repetir uma oração, ir à frente ou levantar uma das mãos para aceitar Jesus. O problema em si não são essas ações externas, mas entender que elas representam a mudança interna que a Bíblia ensina sobre conversão. Mas, então, o que é conversão? Será que é afirmar crer em Deus? Tiago afirma que não, que até os demônios fazem isso — e vão além: tremem (Tg 2.19). Será que é só concordar mentalmente com a mensagem cristã e afirmar que Cristo é o Senhor? Jesus diz que não, que muitos naquele dia hão de dizer “Senhor, Senhor”, mas que Ele nunca os conheceu (Mt 7.21-23). Será que é ser membro de uma igreja? Não, pois Paulo fala sobre falsos irmãos (2Co 11.26). Então, quais são as marcas de um cristão? Que acontece na conversão? Discuta 1. Quais diferenças você acredita que deveriam haver entre o cristão e o incrédulo? 2. Que seria um falso convertido? 1. CONVERSÃO: NOVO NASCIMENTO A conversão é uma mudança tão dramática que exige a intervenção de Deus, o Espírito Santo. Na conversão, o Espírito de Deus outorga as duas graças gêmeas – o arrependimento e a fé – a pecadores que se voltam do pecado para Deus por meio da fé em Jesus Cristo. (Anyabwile, 2016, p.65) Para compreendermos corretamente a conversão, precisamos entender primeiro o que a Escritura diz sobre o homem caído. Por causa da queda de Adão, os homens “se tornaram pecadores” e “veio o juízo sobre todos os seres humanos para condenação” (Rm 5.18-19) — corrompido e culpado. Fomos concebidos em iniquidade e nascidos em pecado (Sl 51.5). Estamos mortos em delitos e pecados, andando segundo o curso deste mundo, o diabo, a inclinação da carne e dos pensamentos caídos (Ef 2.1-3). Nosso coração é duro, resistente a Deus, extremamente enganoso e desesperadamente corrupto (Ef 4.18; Jr 17.9). Nossa mente está obscurecida de entendimento e insensível (Ef 4.18-19), cegada pelo diabo (2Co 4.4) e incapaz de aceitar as coisas do Espírito de Deus (1Co 2.14). Amamos as trevas porque nossas obras são más (Jo 3.19). Somos escravos voluntários do pecado (Jo 8.34). Romanos 8.7 inclusive diz que a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeita “à lei de Deus, nem mesmo pode estar”. “Nem mesmo pode estar.” Que palavras duras! Não há condição daqueles que estão na carne saírem por si mesmos dessa inclinação de inimizade contra Deus. Isso mostra que, se algo vai mudar, então a iniciativa não poderá vir do ser humano. A mente do homem caído rejeita a Cristo, seu coração ama o pecado e despreza a Deus. Não é uma simples decisão ou um esforço da carne que vai mudar essa situação. Deus precisa agir poderosamente! Se o que nasce da carne é carne, então precisamos nascer do alto, nascer do Espírito, nascer de novo (Jo 3.1-15). Enquanto estávamos “mortos em nossas transgressões, [Deus] nos deu vida juntamente com Cristo” (Ef 2.5). Esse novo nascimento não vem de nós, mas é pela graça que somos salvos, pelo movimento soberano do vento do Espírito. “... não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia. Ele [Deus] nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 3.5-6). Nessa obra de salvação da nova aliança, Deus concede novo coração sensível e não mais resistente (Ez 36.26), com a lei gravada dentro dele (Jr 31.33), e resplandece sobre ele a Sua luz, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo (2Co 4.6). Deus nos dá coração para entender, olhos para ver e ouvidos para ouvir as maravilhas da salvação (Dt 29.4). Deus nos faz de novo, nos cria em Cristo Jesus, para andarmos agora não segundo a carne, o mundo e o diabo, mas no caminho das boas obras que Ele nos preparou de antemão (Ef 2.10). É com o entendimento dessa gloriosa obra divina que Jeremias clama: “Converte-nos a ti, S�����, e seremos convertidos” (Lm 5.21). Jeremias reconhece que a verdadeira conversão é obra sobrenatural de Deus, que, apesar de sermos nós que nos convertemos, é Deus quem nos concede a conversão. É o Senhor que concede arrependimento para a vida (At 11.18) e a fé em Cristo (Fp 1.29; Ef 2.8). De fato, nascemos da vontade de Deus e não da vontade do homem (Jo 1.13). Discuta 1. É possível o homem ir a Cristo pelos próprios esforços? 2. Pedro diz que somos regenerados mediante a palavra de Deus, como semente que gera vida (1Pe 1.23-24). Se é Deus que nos concede a conversão e se Ele faz isso por meio da palavra que é evangelizada, devemos ter mais ou menos confiança ao anunciarmos as boas-novas? 2. CONVERSÃO: ARREPENDIMENTO E FÉ Quando Deus realiza sua maravilhosa obra de regeneração em uma pessoa espiritualmente morta, isso sempre gera resultados. [...] A Bíblia chama esse resultado de “conversão.” (McKinley, 2012, p.43) Enquanto Jeremias apontou para a obra de Deus na conversão, Paulo ressalta que também fazemos algo. Ele diz que os crentes de Tessalônica, quando ouviram a Palavra, deixaram os ídolos e se converteram a Deus, para servirem ao Deus vivo e verdadeiro (1Ts 1.8-9). É Deus que concede o arrependimento e a fé, mas Deus não se converte por nós. Somos nós que nos arrependemos para com Deus e exercemos a fé no Senhor Jesus (At 20.21). Somos nós que rejeitamos o senhorio dos ídolos e passamos a servir ao Deus vivo e verdadeiro. Nossas ações, porém, são o fruto (e não a razão) da ação de Deus. O que acontece de nossa parte na conversão? Como devemos responderao ouvir as boas-novas? Jesus deixa isso bem claro: devemos nos arrepender e crer no evangelho (Mc 1.14-15). Esse é o resumo que Marcos dá a respeito da pregação de Cristo. Em Atos e nas epístolas, vemos a presença: arrependimento de obras mortas e fé em Deus (Hb 6.1). Assim, que são arrependimento e fé? O verdadeiro arrependimento consiste em reconhecer, com tristeza, o horror e a culpa de suas transgressões, e voltar-se do pecado para Deus. A fé salvífica envolve conhecer, concordar e, principalmente, confiar em Cristo e Sua obra redentora. É bom lembrar que arrependimento e fé são graças inseparáveis. Ninguém pode virar as costas para o pecado sem voltar-se para Deus em fé, e não pode voltar-se para Deus em fé sem virar as costas para o pecado. Se alguém rejeita o pecado, mas não recebe a Cristo, cai em outro pecado. Se alguém recebe a Cristo e não se arrepende do pecado, não recebeu o Senhor. É bom também lembrar que arrependimento e fé são posturas do coração. Sendo assim, é problemático igualarmos essas mudanças internas a ritos externos, como repetir uma oração, levantar uma das mãos ou ir até à frente. Essas coisas podem ou não acompanhar a conversão, mas elas não são sinônimos de arrependimento e fé genuínos. Além disso, a verdadeira conversão pode ou não envolver uma experiência emocionalmente intensa. Contudo, ela se evidenciará em seus frutos. O arrependimento do coração vai se externar na busca visível da santidade; e a fé do coração vai se externar em confissão pública (batismo), de Jesus como Senhor (At 2.38; 18.8; 26.19-20; Rm 10.9; Ap 2.16). A evidência da genuína conversão é a perseverança em guardar “os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14.12; Mt 24.13). Discuta 1. É possível alguém afirmar que crê em Cristo como Salvador, mas não estar disposto a recebê-Lo como Senhor e arrepender-se dos seus pecados? 2. Qual o perigo de associarmos certos ritos externos à conversão do coração? 3. IMPLICAÇÕES PARA A VIDA DA IGREJA “Um entendimento correto da conversão se expressará nas expectativas da igreja quanto aos novos membros.” (Dever, 2015, p.111) Diante de tudo isso, a conclusão é que, sem conversão, sem igreja. Sem um povo convertido, que nasceu de novo pelo poder do Espírito e respondeu em arrependimento e fé, não há uma congregação do Messias, mas uma assembleia religiosa. Sendo assim, devemos esperar como algo normal que aqueles que se dizem cristãos pelo menos se arrependam do pecado e creiam em Cristo. Conversão não significa perfeição, mas significa uma vida de arrependimento e fé. Como bem colocou o reformador Martinho Lutero na primeira de suas 95 teses: “Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos..., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.” É certo que cristãos podem ficar endurecidos por um tempo, sendo necessário admoestá-los (Gl 6.1). Contudo, alguém que prolongadamente não dá evidência de fé e arrependimento não deve ser considerado integrante do povo de Cristo — e, portanto, não deve ser recebido ou mantido na membresia de nossas igrejas. Devemos resistir ao impulso do crescimento numérico vazio. Nosso alvo é ver mais pessoas na glória; e receber em membresia pessoas não convertidas não vai aumentar esse número, só vai inchar nossa igreja com bodes que não amam a Deus e Seus filhos, não estimam a Cristo e Seu evangelho e não desejam a santificação e a obra do Espírito. É impossível pastorear lobos. Discuta 1. Ouça a pregação e discuta: Mark Dever chama falsas conversões de “o suicídio da igreja”. Você concorda com essa afirmação? Por quê? Acesse www.ensinodinamico.com e veja séries especiais: Marcas de uma Igreja Saudável; o sermão Falsas Conversões: o Suicídio da Igreja. 2. Qual será a consequência de um entendimento errado do evangelho e da conversão em nossa evangelização? CONCLUSÃO Compreender corretamente a doutrina da conversão é essencial para o entendimento da natureza da igreja e também de sua missão. É só quando as primeiras quatro marcas estão em seu devido lugar que podemos seguir para as próximas. É só pela exposição da Escritura e de sua sã doutrina, tendo entendimento correto do evangelho e da conversão, que podemos proclamar com fidelidade a mensagem cristã para o mundo. E é sobre isso que veremos na próxima aula. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E MAIS RECURSOS Mark Dever, Igreja: O Evangelho Visível (São José dos Campos, SP: Fiel, 2011). Mark Dever, O que É uma Igreja Saudável?, 2ª ed. (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015). Mark Dever, Falsas Conversões: O Suicídio da Igreja – Mark Dever (Pregação Completa), Voltemos ao Evangelho, 20 nov 2015. Michael Lawrence, Conversão: Como Deus Cria um Povo (São Paulo: Vida Nova, 2017). Mike McKinley, Eu Sou mesmo um Cristão? (São José dos Campos, SP: Fiel, 2012). Thabiti Anyabwile, O que É um Membro de Igreja Saudável?, 2ª ed. (São José http://www.ensinodinamico.com/ dos Campos, SP: Fiel, 2016). Evangelização é o ensino do evangelho com o objetivo de persuadir.INTRODUÇÃO Sem um entendimento bíblico da conversão e da evangelização, um membro de igreja será inútil em completar a missão da igreja em fazer discípulos. (Anyabwile, 2016, p.74) Antes de subir aos céus, Cristo deixou uma comissão a Seus apóstolos. Assim como o Pai O enviou, Ele os enviaria no poder do Espírito (Jo 20.21-23) para pregarem o evangelho a toda criatura (Mc 16.15) e serem testemunhas até os confins da terra (At 1.8). Debaixo da autoridade do nome do Messias ressurreto, deveriam ir, pregar arrependimento para remissão de pecados (Lc 24.47), fazer discípulos, batizando no nome Trino e ensinando a guardar todas as coisas que Cristo tinha ordenado (Mt 28.18-20). Essa comissão de proclamar o evangelho é passada dos apóstolos a toda a igreja, já que a presença de Cristo acompanha a comissão“todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28.20). Apóstolos, evangelistas e pastores possuem encargo especial em proclamar as boas-novas (At 4.29; 2Tm 4.1-5), porém, seria errado pensar que a ordem evangelística foi dada somente a eles. Em Atos 8.1-4 e 11.19-21, podemos ler que, após grande perseguição, todos, exceto os apóstolos, foram dispersos, e que os que foram dispersos iam por toda parte proclamando as boas-novas da Palavra, o evangelho do Senhor Jesus. Eles ativamente evangelizavam, mesmo diante do perigo da perseguição, bem como estavam sempre prontos para santificar “a Cristo, como Senhor, no seu coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança” que neles havia (1Pe 3.15- 16). Discuta 1. Você acha que é possível ser obediente a Cristo e afirmar que não precisa anunciar o evangelho? 2. Liste alguns motivos por que devemos evangelizar. 1. POR QUE DEVEMOS EVANGELIZAR? E POR QUE NÃO O FAZEMOS? Primeiro, por amor a Deus, desejamos ser obedientes à Grande Comissão que Cristo nos deixou. Ao guardarmos os mandamentos de Cristo e darmos muito fruto, o Pai é glorificado (Jo 15.8-11). É a alegria do cristão e sua oração que o nome de Deus seja santificado neste mundo (Lc 11.2). Em segundo lugar, é amor ao próximo. Será que podemos realmente dizer que amamos o próximo como a nós mesmos se nos recusamos a dizer a mensagem que pode livrá-los da perdição eterna? Jesus Se compadeceu da multidão aflita, exausta e perdida (Mt 9.36). Paulo desejava e suplicava pela salvação dos perdidos (Rm 10.1; cf. 9.1-5). Ele procurava não o seu próprio interesse, mas o de muitos, para que fossem salvos — e ele nos exorta a ser seus imitadores, como também ele é de Cristo (1Co 10.32-11.1). Contudo, muitas vezes, somos omissos em nosso papel. É normal ouvir as seguintes desculpas: a. Vai causar problemas: Racionalizamos dizendo que, se proclamarmos o evangelho aos nossos familiares, amigos ou colegas de trabalho, causaremos algum problema ou desentendimento. No fim, tentamos preservar nossa reputação à custa do destino eterno do nosso próximo. Precisamos entender que o sofrimento pelo nome de Cristo é algo normal na vida cristã
Compartilhar