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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 5 – mod X – Edema generalizado Glomerulopatias + corticoides Glomerulopatias - Os glomérulos representam cerca de 5% do peso dos rins e é um emaranhado de arteríolas que promovem a função de filtração do rim. - A membrana basal será uma barreira seletiva para macromoléculas (tanto em relação ao tamanho quanto a carga elétrica). - As glomerulopatias são classificadas de acordo com a presença ou ausência de doença sistêmica, com a apresentação clínica e quanto ao seu modo de instalação e progressão. - Quando as glomerulopatias aparecem isoladamente: Glomerulopatias primárias. Quando elas vêm seguida de doença sistêmica (Lúpus, diabetes etc): Glomerulopatias Secundárias. - Quando acomete um/alguns glomérulos, chamamos de glomerulopatia focal. - Quando se considera um glomérulo individual com o sistema de tufo totalmente afetado: glomerulopatia global. Quando a lesão for em apenas parte do glomérulo: glomerulopatia segmentar. - Nas glomerulopatias há agregação glomerular por: proteinúria, hematúria, queda da TFG e retenção de Na. EPIDEMIOLOGIA - Nos EUA, atualmente, cerca de 17% da população apresenta proteinúria ou disfunção renal, e na maioria, devido a doenças glomerulares. - As manifestações dessas doenças vão desde hematúria microscópica assintomática até albuminúria e aparecimento abrupto de insuficiência renal. - São doenças silenciosas e diagnosticadas tardiamente, sendo que o diagnóstico depende quase sempre da biopsia renal. Corresponde a 30 a 40 % de todas as biopsias renais feitas no mundo. - No Brasil, mas especificamente em São Paulo, os números de biopsia para casos de Síndrome Nefrótica são de 41%, seguido de hematúria e/ou proteinúria, DRC, síndrome nefrítica etc. - 50% das biopsias renais são feitas nas glomerulopatias primárias e 34% nas secundarias e doenças sistêmicas. - Na glomerulopatia primária as mais comuns são: glomeruloesclerose focal, glomerunefrite membranosa e nefropatia por IgA. - Já quanto à secundária, as nefropatias diabéticas e hipertensiva são as causas mais comuns da doença. FISIOPATOLOGIA Quebras na parede capilar glomerular e perda da barreira seletiva de partículas promovem a base para a geração de proteinúria e hematúria, sendo essas as principais características da doença. 1. Proteinúria prof tinha pedido como obj separado - A membrana basal glomerular é um gel de carga elétrica negativa que apresenta grande quantidade de poros grandes e pequenos. Isso faz uma alta permeabilidade para água e pequenas moléculas (ureia, creatinina, glicose) e uma alta impermeabilidade a macromoléculas (imunoglobulinas). - Moléculas com tamanho intermediário são definidas se entram ou não através da carga elétrica. Um exemplo disso é a albumina que apresenta tamanho suficiente para passar pela membrana, mas apresenta carga negativa. - Na glomerulopatia há perda de carga aniônicas e aumento da densidade de poros não discriminantes na membrana basal do glomérulo -> proteinúria. - Em lesões onde só ocorre perda de carga (Doença da Lesão Mínima) as proteínas encontradas serão a albumina e a transferrina. Enquanto que nas que há aumento na densidade dos poros (glomeruloesclerose focal e segmentar, glomerulonefrite membranoproliferativa) há albumina, transferrina e proteínas de maior peso molecular (imunoglobulinas). - A maior parte das glomerulonefrites são medidas pelo sistema imune, seja pela deposição de imunocomplexos circulantes ou pela reação de antígenos-anticorpos. Isso provoca ativação do sistema complemento -> aumento da permeabilidade basal -> proteinúria. 2. Queda de filtração glomerular - A filtração depende de: pressão intraglomerular e coeficiente de permeabilidade da membrana glomerular. - Nessa doença há queda do coeficiente de ultrafiltração, e alguns dos motivos são: retração dos podócitos, infiltração de neutrófilos ocluindo as fenestras do endotélio, diminuição da área filtrante da membrana basal em casos de esclerose glomerular. 3. Hematúria - A agressão renal gera soluções de continuidade da membrana basal glomerular -> passagem de hemácias para a cápsula de Bowman por diapedese -> hemácias dismórficas na urina. 4. Retenção de sódio - Manifesta-se clinicamente por edema e HAS. - Em pctes com nefropatia sem hipoalbuminemia: retenção primária de sódio pelo rim lesado -> aumento EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 da volemia -> aumento da pressão hidrostática intravascular -> extravasamento de líquidos para interstício -> edema. - Em pctes com nefropatia e hipoalbuminemia: Hipoalbuminemia -> diminuição da pressão oncótica do plasma -> extravasamento de líquido para o interstício - > hipovolemia -> ativação de sistemas de retenção de sódio -> edema. 5. Alterações metabólicas - O nível de albumina sérica do pcte com Síndrome Nefrótica é resultado de um balanço da intensidade e duração da perda urinária e síntese hepática aumentada. - Além disso há o aumento do catabolismo proteico, ou seja, quando há aumento na filtração de albumina, ela é reabsorvida nos túbulos proximais sendo que ela será catabolizada e contribuindo ainda mais para a hipoalbuminemia. - Alterações lipídicas: relaciona-se diretamente aos níveis de albumina plasmática. A hipoalbuminemia é um estímulo para a síntese proteica no fígado -> maior síntese de lipoproteínas de baixa densidade e de muita baixa densidade -> como uma carrega colesterol e a outra TGL -> hipercolesterolemia e hipertriglicidemia. - Hipocalcemia: o Ca+ plasmático está ligado a albumina. - Tromboses ou infecções repetidas: decorre em partes pela perda urinária de fatores antitrombóticos e de imunoglobulinas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Presença de cilindros hemáticos e hemácias dismórficas (devido a passagem através das paredes e tufos capilares glomerulares) no sedimento urinário. - Grau significativo de albuminúria. - Proteinúria urinária que pode variar de miligramas até mais de 30g ao dia. - Na lesão mínima, a albumina é a proteína predominante na urina. Em outras doenças glomerulares, principalmente secundárias, a proteinúria não é seletiva, causando o aparecimento de proteínas de peso molecular maior embora a maior parte também seja composta por albumina. DIAGNÓSTICO - Avaliações de rotina em pctes com microhematúria e assintomáticos. (EQU): detecção de proteinúria - Exame físico (Edema acompanhado ou não de HAS). - Testes sorológicos - Biopsia renal: necessária apenas em pctes com proteinúria de aumento progressivo ou evidências de uma TFG decrescente. TRATAMENTO INESPECÍFICO - AINEs: inibem a síntese de prostaglandinas que são vasodilatadores da arteríola eferente e promovem vasoconstrição dessas arteríolas -> diminuição da pressão intraglomerular e proteinúria. - IECA: Angiotensina II promove vasoconstrição de arteríola eferente. - Porém, ambos os medicamentos promovem diminuição da TFG, que devem voltar ao normal após a retirada do medicamento. - Dietas hipoproteícas - Tratamento do Edema: diuréticos de alça. - Controle da HAS e uso de drogas antilipêmicas. - Apesar do tratamento, uma boa parte dos pctes com glomerulonefrite evoluem para IRC, e nesses casos a terapia torna-se o Transplante Renal. - Mesmo transplantado pode ocorrer recorrência da glomerulopatia em 1 a 2% dos pctes. Síndrome nefrótica - Definida pela ocorrência de albuminúria > 3 a 3,5 g/dia, acompanhada de hipoalbuminemia, edema generalizado e hiperlipidemia. - Definida classicamente como proteinúria maciça. - Também podem apresentam manifestações como: HAS, hematúria microscópica e raramente macroscópica. EPIDEMIOLOGIA - Muitos casos são idiopáticos, porém outros são causados por condições conhecidas. - A Doença porLesão Mínima é a mais comum de síndrome nefrótica em crianças. Em adultos as causas mais comuns são: glomeruloesclerose segmentar e focal (20 a 25% dos casos), seguida da Nefropatia Membranosa. FISIOPATOLOGIA - A Hipoalbuminemia é consequência da perda de proteína urinária. Mas também pode ser devido ao catabolismo da albumina filtrada no túbulo proximal, à redistribuição da albumina dentro do corpo e a síntese reduzida de albumina pelo fígado. - Há também retenção de sal e volume líquido. Isso ocorre porque a hipoalbuminemia reduz a pressão oncótica do plasma -> redução volêmica -> ativação eixo renina/angiotensina/aldosterona -> retenção de Na e líquido. - Causas idiopáticas (primárias): Doença por Lesão Mínima, Glomeruloesclerose segmentar focal, Nefropatia membranosa, Glomerulonefrite membranoproliferativa e outras glomerulonefrites proliferativas e esclerosantes. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 - Ganho de peso (edema), edema periférico e edema periorbital. - HAS é comum. - Pctes nefróticos apresentam estado de hipercoagulabilidade e estão predispostos à trombose venosa profunda, embolia pulmonar e trombose da veia renal. - Além de possuírem risco aumentado de aterosclerose, esses pctes apresentam níveis elevados de colesterol total e de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e valores baixos de HDL. DIAGNÓSTICO - EQU: 3+ de proteinúria e níveis variáveis de hematúria, sendo que uma urina de 24h geralmente mostra de 3 a 5 mg/kg/dia. - Labs para definir se é uma Síndrome Nefrótica Idiopática Primária ou uma causa secundária relacionada a doença sistêmica. - Nível de Glicemia em jejum - Hb glicosilada - Teste do anticorpo antinuclear para doença do colágeno - Complemento Sérico (Lúpus, Endocardite, Poliartrite nodosa, Lesão Mínima etc). - Sorologia para hepatite B e C - Teste de HIV - Pesquisa de crioglobulinas - ANCA - Em casos de exclusão das causas secundárias, pode ser necessário uma Biopsia Renal. TRATAMENTO - Varia conforme causa específica. - Tratar níveis de lipídeos. - Anticoagulação (se estritamente necessário) - Edema: Diuréticos (combinação de Furosemida + Albumina). Doença por lesão mínima ou nefrose lipoídica - É o padrão mais comum da síndrome nefrótica em crianças (80%) e corresponde cerca de 5 a 10% dos casos de síndrome idiopática em adultos. - Ocorre principalmente entre 4 e 6 anos, mas pode ser descrita em todas as idades. - 70% são pctes masculinos. - Pode ocorrer em associação a medicamentos (AINEs e lítio) ou a tumores (Doença de Hodgkin). - Apresentação clássica: Síndrome Nefrótica sem HAS ou hematúria, com função renal conservada, podendo ser precedida por infecção inespecífica das vias aéreas superiores ou infecção viral. - É uma nefropatia decorrente de alterações do sistema imune (devido ao desaparecimento de proteinúria associada ao uso de corticoide, associação de recidivas com infecções virais etc). - É resultante da produção de substância circulante que lesa as células viscerais e causa proteinúria. Ocorre após infecção ou imunização (vacina). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Edema periorbitário e periférico - Proteinúria (que geralmente se encontra dentro da faixa nefrótica). - A proteinúria é decorrente apenas da perda de carga elétrica na membrana basal, não havendo aumento da permeabilidade glomerular. - Hematúria microscópica (de 30% dos pctes). - HAS diastólica pode estar presente em 10% das crianças e 30% dos adultos. - NÃO há sedimentos urinário com cilindros hemáticos. - Azotemia discreta a moderada, que geralmente é associada a hipoalbuminemia e à depleção do volume intravascular. - Níveis de proteínas do sistema complemento são normais. DIAGNÓSTICO - O diagnóstico é feito por exclusão, ou seja, pela ausência de outras lesões glomerulares. - A existência de hematúria macroscópica exclui diagnóstico por lesão mínima. - A histopatologia NÃO revela anormalidades glomerular na microscopia óptica. Mas os túbulos podem apresentar acúmulo de gotículas de lipídios devido as lipoproteínas absorvidas. - A imunofluorescência e a microscopia NÃO revelam qualquer depósito imune. Pode apenas mostrar discreta hipercelularidade mesangial e hipertrofia de podócitos. - Na microscopia eletrônica só aparece fusão/retração dos filamentos podocitários por quase toda a alça capilar. TRATAMENTO - A cura pode ser espontânea, mas geralmente é obtida com o uso de corticoide e drogas citotóxicas. - A remissão completa dessa síndrome ocorre em aproximadamente 80% dos pctes com uso de corticoides. - A evolução da doença é caracterizada pelas remissões e recidivas em respostas a um tratamento adicional. - Os índices de reicidiva, mesmo com o uso de corticoides são muito altos (40 a 50% das vezes). EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 - Em adultos: prednisona diária. (1 a 2 mg/kg/dia durante 8 semanas com retirada progressiva). - Após a remissão da doença, faz-se retirada do corticoide gradualmente por 1 a 2 meses. Porém, a maioria irá apresentar reincidência. - Em pctes que não respondem ao uso de corticoesteroides ou quando as recidivas são muito grandes: associação do corticoide com Ciclofosfamida. - 50% dos pctes terão remissão em no mínimo 5 anos. PROGNÓSTICO - Excelente em termos de função renal. - Raramente gera insuficiência renal aguda. Quando ocorre é devido a consequência da obstrução intratubular por cilindros proteicos ou devido a presença de edema intra-renal e é facilmente revertida com diuréticos. - Porém, mais de 50% dos pctes sofrem recaídas e de 10 a 20% podem se tornar dependentes de esteroides. Glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) - Representa de 20 a 25% dos casos de biopsia em adultos. - Quando se analisa a população pediátrica esse número é de 10 a 15% e ocorre em pctes com idade inferior a 5 anos. Em adultos ocorre em idade até os 40 anos. - Predominância do sexo masculino. - Incidência vem aumentando em todas as raças, mas com ênfase na raça afro-americana. - A GESF pode ser idiopática ou secundária (ex: abuso de heroína, HIV, anemia falciforme, obesidade, refluxo vesicoureteral e rim único). - A GESF tem relação genética devido a defeitos genéticos em componentes da célula visceral (mutações na poocina da proteína estrutural). - A apresentação mais comum é a de Síndrome Nefrótica, mas também pode ser assintomática. - Inicialmente a maior parte dos glomérulos será normal ou com discreta hipercelularidade mesangial -> em alguns glomérulos haverá aumento da matriz mesangial de forma focal, com colapso de alça capilar -> em casos avançados observa-se o glomérulo totalmente hialinizado. - Membrana basal apresenta aspecto normal. - Em glomérulos lesados há aumento da matriz mesangial e colapso capilar. - A rápida recorrência dessas nefropatias após o transplante renal, mostra que há algum fator circulante responsável pela lesão. - Em experimentos realizados mostra que geralmente há lesão tubular antes da lesão glomerular. - Sugestão de outros fatores etiológicos: hiperplasia de célula epitelial, hiperfluxo glomerular, lesão endotelial do capilar glomerular com adesão plaquetária e formação de microtrombos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Proteinúria assintomática e edema. - HAS é frequente em pctes adultos, principalmente em pctes com queda de filtração glomerular. - 2/3 dos pctes apresentam os critérios de síndrome nefrótica para proteinúria (mais de 3), mas alguns podem apresentam variação de menos de 1 até 30g/dia. - A TGF está diminuída em 20 a 30% dos pctes. - Níveis de proteína do sistema complemento encontram-se normais. - Pode ser visto com mais frequência do que em outras doenças da Síndrome Nefrótica: glicosúria,aminoacidúria. Indicam lesões tubulares. DIAGNÓSTICO - Microscopia de luz: alguns glomérulos exibem áreas de fibrose segmentar. - Com o declínio da função renal, as repetidas biopsias vão indicando mais glomérulos de forma esclerosante segmentares e um aumento do número de glomérulos com esclerose global. - A esclerose glomerular pode ser a evolução de praticamente todas as glomerulopatias. Sendo assim, o achado de glomeruloesclerose focal e segmentar por si só não é suficiente na determinação de diagnóstico. - Imunofluorescência: Depósitos de IgM e C3, principalmente em áreas de esclerose (por isso não se pode afirmar se é imune). - Microscopia eletrônica: apagamento dos processos podocitários das células epiteliais viscerais, podócitos hipertrofiados com grandes vacúolos no interior. TRATAMENTO - GESF primária: corticoides como terapia inicial (prednisona). - Pode haver recidiva da doença. Ocorre em até 40 a 60% dos casos. Nesses pctes que possuem recaídas, utiliza-se Ciclofosfamida oral ou Ciclosporina. - A remissão espôntanea pode ocorrer (10-20%). Há mais sobrevida com remissão do que quando há persistência. - Alta taxa de recorrência, mesmo após o transplante renal: 20 a 40%. Geralmente essas recorrências ocorrem no primeiro mês após o transplante com apresentação clínica de Síndrome Nefrótica. Os fatores de risco para tal fato incluem: idade inferior a 15 anos, rápida evolução para IRC e presença de proliferação mesangial nos rins primitivos. PROGNÓSTICO EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 - A evolução da GESF não tratada gera proteinúria progressiva e declínio da TFG. - Em pctes com proteinúria muito intensa há um quadro progressivo de evolução para insuficiência renal em 1 a 2 anos. - Geralmente, pctes que são acometidos devidos a sua genética, são resistentes aos esteroides e costumam apresentam um curso progressivo da doença a ponto de ter que fazer transplante renal. Glomerulonefrite membranosa - Causa mais comum em pctes brancos, masculinos e com idade entre 45 e 50 anos. - Pode ocorrer em associação a infecções - 15% - (Sífilis, Hepatite B e C, Lúpus eritematoso sistêmico), medicações (AINEs, sais de ouro) e tumores (tumores sólidos e linfoma). 85% dos casos são idiopáticos. - A função renal geralmente permanece estável, sendo que um pequeno grupo (25 a 30%) evolui para insuficiência renal após 10 a 20 anos. Progressão mais rápida pode acontecer, mas é bem mais rara. - É basicamente uma lesão na membrana basal glomerular que atinge todos os glomérulos igualmente. Há um espessamento difuso e uniforme da parede dos capilares glomerulares. - NÃO se observa hipercelularidade. - Sua etiologia se deve a reação antígeno-anticorpo realizada in situ. - Pode ser feita a partir de certos anticorpos que afetam determinados antígenos presentes nos podócitos promovendo a doença. - Pode ser feita proteínas estranhas catiônicas que o organismo não consegue reconhecer e produz anticorpos contra ela, dando origem a uma reação antígeno-anticorpo e consequente lesão. - Sendo assim, há teorias que dizem que esses pctes podem produzir anticorpos contra determinados antígenos nos podócitos ou contra proteínas estranhas ligadas a membrana basal glomerular. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Síndrome nefrótica com proteinúria variando entre 5 a 10g nas 24h. - Proteinúria e Edema. - HAS em 70% dos pctes e a hematúria microscópica que pode estar presente. - Função renal e TGF geralmente são normais. - É a doença glomerular mais associada a estados de hipercoagulabilidade e à trombose de veia renal. - Aparecimento súbito de dor no flanco + deterioração da função renal + sintomas pulmonares= trombose da veia renal ou embolia pulmonar. DIAGNÓSTICO - Microscopia óptica: Alças capilares glomerulares frequentemente espessadas, mas sem proliferação celular. - Incialmente os glomérulos podem estar normais (estágio I de Churg). -> coloração pelos sais de prata na presença de espículas da membrana basal glomerular dando a membrana um aspecto de pente (estágio II de Churg) -> presença de espessamento global da membrana basal glomerular. - Essas lesões podem coexistir no mesmo glomérulo. - O estágio III de Churg: membrana basal glomerular apresenta-se normal em torno desses depósitos. - Estágio IV de Churg: apresenta halos elétron-lucentes em torno desses depósitos. - Imunofluorescência e Microscopia eletrônica: depósitos imunes (IgG e complemento) subepiteliais densos ao longo de toda a extensão das alças capilares glomerulares, além de fusão dos processos podais. - Níveis séricos de creatina costumam ser normais - Presença de anticorpos circulares do receptor de fosfolipase A2 do tipo M são 75% sensíveis a 100% específicos para nefropatia membranosa idiopática. TRATAMENTO - Como é uma doença de remissão espontânea (40-50% dos pctes) e de função renal estável é difícil analisar o resultado do tratamento. - Ainda NÃO há beneficios do uso de corticoides. - Combinação de corticoide (prednisona) + terapia citotóxica oral (clorambucil). Ou combinação de corticoide + ciclosporina - A recidiva varia em torno de 3 a 7% após o transplante e ocorre a aproximadamente 10 meses após o transplante. Sua manifestação clínica mais frequente é a proteinúria (70% cursa com Síndrome Nefrótica). PROGNÓSTICO - Taxa de sobrevida é superior a 75% em 10 anos. - Taxa de remissão varia de 20 a 30% dos casos. - Pctes mais velhos, homens e que apresentam proteinúria persistente grave são mais suscetíveis a desenvolverem uma insuficiência renal (40%). - Dados que se associam a pior prognóstico: síndrome nefrótica persistente, HAS, queda de filtração glomerular na primeira consulta e lesão túbulo-intersticial à biopsia renal. Glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP) - Doença predominantemente de jovens, mas pode ocorrer em qualquer faixa etária. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 - 70% dos pctes apresentam idade inferior a 30 anos com discreta predominancia do sexo feminino. - Segundo relatos, há 40% de casos associados a presença de infecções de vias aéreas superiores antecedendo o aparecimento do GNMP. - Pode se apresentar tanto como Síndrome Nefrótica quanto nefrítica. Mas é mais comum como síndrome nefrótica - 40 a 70% dos pctes. - Presença de HAS: varia entre 40 a 75% dos casos, porém a HAS nessa patologia é geralmente leve. - GNMP tipo I (ou mensangiocapilar): Doença glomerular primária incomum observada em pequena percentagem de biopsias renais. Na microscopia eletrónica observa-se padrões similares ao dano glomerular se associados a hepatite C, LES, gamopatias monoclonais etc. Esses agentes estimulam a proliferação de células mesangiais glomerulares fazendo com que elas cresçam na parede capilar e causem fragmentação da membrana de base glomerular. - Caracterizado pela presença de hipercelularidade glomerular (devido expansão mesangial), expansão da matriz mesangial e duplicação da membrana basal glomerular. - Deposição de imunoglobulinas, principalmente IgG e IgM, além de deposição de C3. - GNMP tipo II (ou doença do depósito denso): distúrbio ainda menos comum associado a uma ativação sistêmica descontrolada da via alternativa do sistema complemento. As suas causas podem ser o fator nefrítico C3, deficiências do fator H ou I ou outros inibidores da cascata de complemento e via alternativa. - Duplicação da membrana basal glomerular é muito mais rara. - Aspecto característico: deposição linear de uma substância com elétron-densidade muito grande. - A biopsia renal que mostra o C3 em padrão característico de laço ao redor da alça capilar na microscopia. - A maioria dos pctes apresentam queda progressiva da função renal. - Alterações que na primeiraconsulta já apresentam mau prognóstico: insuficiência renal, HAS, síndrome nefrótica, presença de lesões túbulo-intersticial. FISIOPATOLOGIA - Ainda é obscura, principalmente a do GNMP tipo II. - Porém, a GNMP tipo I, por todas as suas características (depósitos de imunoglobulinas e complemento e relação com infecções prévias) sugerem que ela é mediada pelo sistema imune, principalmente pela deposição renal de imunocomplexos circulantes. - Na GNMP tipo II a participação do sistema imune é bastante controversa, pois a deposição linear não é de imunoglobulinas, nem complemento. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Proteinúria - Hipocomplementemia: níveis séricos de proteínas do complemento são observados na GNMP tipo I, e na GNMP tipo II está com C3 diminuído. - Queda de C3 sérico em 40 a 60%, sendo que na GNMP tipo II esse valor sobe para 70 a 90% dos casos. TRATAMENTO - GNMP tipo I: corticoides e outras medicações imunossupressoras (anticoagulantes e antiplaquetários). - Porém a corticoterapia ainda não há comprovação de que realmente promova efeito. - A recidiva da GNMP varia de 20 a 30% no tipo I e 70% no tipo II. Comparação das glomerulonefrites que são síndromes nefróticas Idade M/F Hematúria macro Função renal C3 sérico IgA séri ca LM Criança 2.5:1 ---------- ↔ ↔ ↔ GNM >50a 2:1 ---------- ↔ ↓ ↔ ↔ GNM P 25-40a 1:1,2 ++ ↓ ou ↓↓ ↑↑ ↔ ↔ IgA 25-40a 3:1 ++++ ↔ ↔ ↑ GEF S <40a 1.2:1 + ↓ ou ↓↓ ↔ ↔ BIÓPSIA RENAL - É fundamental para a maioria das Glomerulopatias. - Indicações: Síndrome nefrótica em adultos Síndrome nefrítica, com exceção das associadas a infecções Proteinúria assintomática, com ou sem alteração de função renal Glomerulonefrite rapidamente progressiva Disfunção renal com proteinúria em pcte não diabético Proteinúria nefrótica em pcte diabético sem retinopatia diabética Proteinúria significativa em pcte lúpico Hematúria dismórfica associada a proteinúria, hipertensão ou disfunção renal Insuficiência renal aguda sem causa definida com duração maior que 30 dias ou evidência de doença sistêmica associada. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 - É um procedimento simples, por USG. Riscos de sangramentos locais e regionais, devendo suspender antiagregantes e anticoagulantes e realizar coagulograma antes do procedimento. - Esse diagnóstico ajuda a guiar a terapêutica. Antes do diagnóstico não se indica iniciar imunossupressão, priorizando tratamento inespecífico. Tratamento inespecífico: controlar pressão intraglomerular, edema, retenção de sódio, hiperlipidemia e outras alterações metabólicas que podem lesar o glomérulo. Corticoides - Há corticoides endógenos (hormônios esteróides liberados pelo córtex da suprarrenal) e os corticoides exógenos (fármacos). - Corticoides endógenos: Hipófise -> libera hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) -> estimula o córtex da suprarrenal a secretar glicocorticoide, mineralocorticoide e DHEA. - O glicocorticoide será responsável pelo cortisol, o mineralocorticoide pela aldosterona e o DHEA pelo sulfato. - Usados em distúrbios inflamatórios, imunológicos, hematológicos entre outros. Atividade inflamatória e imunossupressora. Farmacocinética - Os fármacos são hormônios que mimetizam a ação do cortisol endógeno. - São sintetizados a partir do ácido cólico que é obtido de bovino ou sapogeninas esteroides encontrados em plantas. - Quando administrados de forma oral, os corticoides sintéticos são, em sua maioria, absorvidos rapidamente e de modo completo. São transportados e metabolizados de forma semelhante a esteroides endógenos, porém com diferenças importantes: possui alterações na afinidade de ligação com proteínas, alterações na taxa de eliminação etc. - Quando usados em terapia sintomática usa-se quantidades mais baixas. Quando se usa em quantidades altas é devido a sua ação imunossupresiva. - Seus efeitos NÃO são imediatos, por isso geralmente são indicados em casos mais longos e não agudos. - Objetivo da terapia: melhora sintomática, não a completa remissão da doença. - Descontinuação lenta e gradual para reestabelecer o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. Farmacodinâmica - Possuem basicamente as mesmas funções do cortisol, que é o glicocorticoide endógeno do corpo. - Funções: regulação do metabolismo intermediário, função cardiovascular, crescimento e imunidade. Preservação da função normal de rins, músculos, coração, sistema nervoso e endócrino. - O cortisol é sintetizado a partir do colesterol e é extremamente regulado pelo SNC. Seu nível em um adulto normal é de 10 a 20 mg de cortisol por dia, sendo que atinge seus picos nas primeiras horas da manhã e após refeições. - No plasma o cortisol irá se ligar a proteínas circulantes (90%) e os 10% restantes se ligam frouxamente na albumina para ser depositado em órgãos alvo. - Se ligam a proteínas receptoras intracelulares específicas e produzem os mesmos efeitos, porém com diferença de potência glicocorticoide e mineralocorticoide. - Metabolizados no fígado e excretados pelo rim. - Estimulam a gliconeogênese: mobilização de AA dos tecidos periféricos. Por isso diz-se que os corticoides afetam o metabolismo glicídico, lipídico, proteico e hidroelétrico. - Promovem aumento da glicemia por incentivar a gliconeogênese e menor utilização periférica de glicose. - Inibem síntese e induzem o catabolismo de proteínas - > diminuem o balanço nitrogenado -> diminuem massa muscular e matriz óssea. - Inibem absorção intestinal de Ca -> hipocalemia -> ativação do PTH -> osteoporose. Farmacologia Clínica - A utilidade dos corticoesteroides depende de sua capacidade de suprir respostas inflamatórias e imunes e alterar a função de leucócitos. - Esses agentes se mostram úteis em distúrbios onde a resposta do hospedeiro é a causa principal da manifestação da doença. - Vale lembrar que os corticoides não possuem ação curativa, podendo progredir a doença apesar da supressão de manifestações clínicas. - Em geral deve usar glicocorticoides de ação média a intermediária (prednisona e prednisolona) e tentar manter a terapia em doses baixas. O tratamento deve ser interrompido, quando necessário, gradualmente. - Inibem metabolismo do Ácido Aracdônico (precursor de prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos). - Inibem atividade de macrófagos e expansão clonal de linfócitos. Toxicidade - Os principais efeitos indesejados dos corticoides resultam em ações hormonais que podem levar a um quadro clínico da Síndrome de Crushing. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8 - Quando usados por um curto espaço de tempo (menos de 2 semanas) não é comum observar ocorrência de efeitos. - Efeitos metabólicos: - Síndrome de Crushing Iatrogênica: contorno arrendondado do rosto, ocorrência de tumefação, depósito de gordura e pletora. - Ganho de peso, depósito de gordura visceral, miopatia e consumpção muscular, osteoporose, diabetes, necrose asséptica do quadril. - Cicatrização de feridas comprometidas. - Outros efeitos: - Úlceras pépticas: náuseas, tontura e perda de peso - Psicose aguda - Glaucoma - Atraso de crescimento em crianças. - Entre outras *Obs: A síndrome de Addison ocorre quando é retirado rapidamente a droga em um curto espaço de tempo. Isso gera uma insuficiência da suprarrenal. Contraindicações - Pctes com tratamento de corticoides devem ser cuidadosamente monitorados para analisar possível desenvolvimento de hiperglicemia, glicosúria, retenção de sódio com edema ou HAS, hipopotassemia, úlcera péptica, osteoporose e infecções oculares. - A dose deve ser mantida o mais baixa possível. - Devem ser usados com muita cautela em pctes com úlcera péptica, doença cardíaca, hipertensão com ICC, doenças infecciosas(varicela ou tuberculose), psicose, diabetes, osteoporose ou glaucoma.
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