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GESTÃO DA AVALIAÇÃO EXTERNA E CONSELHOS ESCOLARES Nice Pastor Delacalle Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer o plano de ação como um instrumento fundamental para garantir a melhoria do ensino e da aprendizagem. Identificar a formação dos professores como uma importante ferra- menta do plano de ação. Definir as características da organização de um plano de ação dos resultados apontados pelos indicadores externos. Introdução A qualidade da educação é medida de forma institucional por meio das avaliações externas, que são compostas pela aplicação de testes padro- nizados pelos sistemas de ensino e do fluxo escolar. A elaboração de indicadores que contemplam a proficiência, que basicamente representa o quanto a escola conseguiu ensinar aos estudantes, e o fluxo escolar, que indica em quanto tempo a escola conseguiu ensinar, são emitidos boletins para a sociedade e escolas, para que, diante dos resultados, possam ser tomadas medidas sistêmicas ou locais para a melhoria da qualidade da educação. Neste capítulo, você vai entender a importância de utilização dos resultados das avaliações externas como indicadores de referência para alavancar o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem que são praticados na escola, tendo como base o desenvolvimento e a implementação de um plano de ação factível e viável. 1 Planejamento e qualidade O planejamento é um dos fatores do sucesso de qualquer organização. Sem a organização de um bom plano de execução e monitoramento contínuo, a ação dos profi ssionais se torna inócua, voltada somente para as situações urgentes do cotidiano, para os efeitos, e não as causas, gerando um descompasso entre o que se pretende e o que se faz. Na educação, não é diferente. Temos como referência primária o artigo 205 da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualifi cação para o trabalho” (BRASIL, 1988, documento on-line). A partir disso, em diferentes instâncias, está estabelecido o compromisso com a educação de qualidade e, para tanto, são elaborados planos e regras complementares para garantir os direitos de cada pessoa, que são igualitários, ou seja, todo cidadão, independentemente de etnia ou classe social, tem os mesmos direitos. No entanto, garantir os direitos de cada cidadão depende de suas condições originais e do contexto social em que ele está inserido. Assim, podemos afirmar que, para prover a garantia de um direito individual, é preciso identificar as peculiaridades desses indivíduos e supri-las; caso contrário, não se efetiva a justiça da garantia dos direitos. Considerando que todas as pessoas precisam ter a garantia de seu pleno desenvolvimento, em uma visão simplista ou simplificada, em situação de “acesso à educação”, bastaria ao poder público fazer a correlação de capa- cidade de atendimento das escolas à população compreendida na faixa de escolarização. Em tese, cada pessoa em idade escolar teria seu direito garantido, mas as condições sociais, geográficas, climáticas e densidade demográfica, por exemplo, são variáveis que interferem diretamente no acesso à educação. Os estudantes de um centro urbano se deslocam caminhando para a escola ou, em alguns casos, necessitam de transporte terrestre. Já os estudantes de regiões ribeirinhas somente terão efetivo acesso à escola se lhes for garantido o transporte pluvial, ou seja, para que a garantia de acesso seja efetivada, é preciso identificar as condições reais de cada contexto, o que denominamos equidade. Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos2 As políticas públicas de educação são consubstanciadas em planos que direcionam recursos e outras formas de incentivo e fomento para os pontos em que o desenvolvimento é prioritário, tendo, como premissa a equidade. O contexto social brasileiro é bastante desigual. Quando pensamos em políticas públicas, especialmente em educação, precisamos entender que o ponto de chegada de cada pessoa é comum, ou seja, pretende-se que cada indivíduo atinja o previsto no artigo 205 da Constituição federal (BRASIL, 1988). Entretanto, as oportunidades são diferentes; nesse sentido, o direcionamento de programas, projetos, planos e recursos precisa considerar as peculiaridades e os indicadores regionais, visando criar mais oportunidades e condições para quem mais precisa. Diante desse quadro, a avaliação da educação é essencial para identificação de sua evolução, assim como para o direcionamento de políticas públicas como instâncias reguladoras para a consecução dos objetivos educacionais em nível de sistema. A avaliação externa é um dos principais meios de obtenção de indicadores para tal e é realizada, geralmente, por meio de testes padronizados, funda- mentados em uma matriz de referência e uma escala de proficiência na qual a indicação da proficiência da turma avaliada remeterá aos processos de ensino pelos quais ela trilhou. Nesse sentido, as avaliações de sistema são voltadas para identificar as habilidades desenvolvidas pelos estudantes, medindo, assim, a eficácia do trabalho pedagógico escolar, refletido no desenvolvimento da aprendizagem do estudante, para que esse garanta sua formação cidadã, plena, integral além de estar preparado para viver o mundo do trabalho. Avaliar a proficiência dos estudantes e apresentar o resultado para a ins- tituição de ensino é algo muito simplista e que acaba não correspondendo efetivamente à qualidade educação desenvolvida por cada escola. A qualidade da educação de cada escola tem como referência a garantia de acesso, de permanência e o sucesso, ou seja, não basta matricularmos os estudantes, é preciso que eles frequentem a escola e aprendam o que foi previamente programado no tempo que foi estimado. 3Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos Assim, além da proficiência, os testes também avaliam o fluxo escolar: uma escola em que o estudante não conclui o ciclo de ensino por abandono ou retenção não está efetivamente cumprindo sua missão junto à sociedade. O desafio posto é inclusivo e agregador, ou seja, a escola tem o desafio de ensinar a todos e a cada um, independentemente de condições econômicas, sociais ou de saúde, o que demanda ações inovadoras, estudo, pesquisa e formação continuada de todos os profissionais da educação. Os indicadores de qualidade da educação são de interesse não somente dos sistemas de ensino, mas também de toda a sociedade civil. Muito mais do que saber o resultado apresentado em forma de indicador de qualidade, é urgente e necessário desdobrá-lo e transformá-lo em alavanca para a melhoria necessária. Quando a equipe escolar define seu projeto pedagógico, define a identidade da instituição, sua missão, valores, objetivos e traça caminhos pelos quais os objetivos serão atingidos. Para que a missão seja efetivada, é necessário um plano que contemple os caminhos e as estratégias que serão utilizadas para a formação dos estudantes que dali fazem parte. Assim, os indicadores construídos a partir das avaliações externas estão se tornando cada vem mais relevantes para que as equipes escolares se debrucem na sua interpretação, buscando corrigir os rumos das atividades pedagógicas escolares. Os resultados das avaliações externas se tornaram importante recurso para que a gestão da escola incentive e engaje professores, estudantes e comunidade escolar para reflexão, diálogo e organização de percursos que alcancem de forma efetiva dos objetivos educacionais. O Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da Universi- dade Federal de Minas Gerais oferece em sua páginaum glossário com termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Para que fazer planos de ação? Planejar é estabelecer objetivos, pontos de chegada, prever intercorrências internas e externas ao contexto, ou seja, estabelecer o caminho que será trilhado; exige refl exão e tempo, mas não se trata de tempo perdido, pois enveredamos nossos esforços para o que realmente é necessário, otimizando Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos4 a utilização de recursos em diferentes níveis, inclusive os recursos humanos. Segundo o educador Paulo Freire (2012, p. 12), “A melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa que não é possível de ser feita hoje é fazendo hoje aquilo que hoje pode ser feito. Mas se eu não fi zer hoje aquilo que hoje pode ser feito e tentar fazer hoje aquilo que hoje não pode ser feito, difi cilmente eu faço amanhã aquilo que hoje não pude fazer”. É importante destacar, nesse sentido, que um bom plano educacional não é o documento perfeito aprovado pelas secretarias de educação e arquivado na sala do diretor, mas aquele que possibilita que todos os envolvidos no processo educativo realizem suas atribuições conforme planejado e dentro do tempo previsto. Periodicamente, o plano precisa ser revisto para que se identifique se o que está sendo realizado caminha dentro das perspectivas de consecução e o que precisa ser revisto, ajustado, alinhado. Os tempos escolares são organizados com a previsibilidade de “espaços mínimos” para as retomadas e reflexões, destinados ao planejamento e replanejamento e às reuniões de conselho de classe, de série e/ou de ano, tendo como enfoque principal os processos de ensino e de aprendizagem. As situações de fracasso escolar não ocorrem ao final de um período letivo, como uma situação surpresa para docentes, estudantes e responsáveis. O fracasso escolar ocorre diariamente, quando os estudantes têm suas trajetórias escolares negligenciadas ou quando a avaliação se reduz a aplicação de uma média aritmética, e não a apreensão efetiva do que foi ensinado; assim, vai ocorrendo diariamente e pode ser ampliado em progressão geométrica ou corrigido, quando a equipe é comprometida com a aprendizagem dos estudantes e busca corrigir os rumos ao longo do processo. Nesse contexto, com o desafio de ensinar bem a todos, a escola precisa reorganizar seu plano de trabalho considerando os indicadores internos ou externos, que dão pistas de que as ações planejadas estão ou não sendo sufi- cientes e satisfatórias para o cumprimento do expresso no projeto pedagógico e no plano de gestão. O planejamento estratégico, que expressa uma visão de futuro sustentada em uma avaliação, é a referência para a elaboração do plano de ação, ou seja, é preciso ter clareza quanto à missão, visão, objetivos e metas da unidade escolar. Um dos principais elementos de sucesso de um plano de ação está relacionado à forma pela qual é elaborado; assim, é altamente recomendável que o plano de ação seja construído de forma participativa, pois, além de tornar a discussão mais aprofundada e ampla, ainda confere legitimidade ao processo, pois envolve e mobiliza os vários segmentos. 5Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos Nesse sentido, foco é a palavra-chave de um bom plano de ação e per- mite a superação das causas dos problemas, assim como a identificação de prioridades ou pontos de melhoria elencadas pela equipe. Para tanto, faz-se necessária análise completa do que é interno e do que é externo à ação da equipe, identificando, dentro do contexto escolar, as forças e oportunidades, assim como as ameaças e desafios. Considerando o panorama educacional, é necessário estruturar o plano de ação com foco no contexto interno, ou seja, delimitar ações factíveis e plausíveis que possam ser executadas pelas pessoas da escola e na escola, pois não será frutífero planejar ações cuja capacidade de execução extrapola os sujeitos do contexto escolar. Um plano de ação precisa contemplar o que de fato precisa ser feito, por quem precisa ser realizado, em quanto tempo, com quais recursos, quais estratégias, qual o resultado esperado, quais indicadores e registros serão utilizados como evidência, como será realizado o monitoramento ao longo da realização, como será feita a avaliação da eficácia e sua retroalimentação; ou seja, considerando os resultados obtidos, como a equipe escolar irá proceder, quais novos desafios irá focar, considerando que a melhoria da qualidade é ação contínua da equipe escolar. As ações planejadas precisam ser consistentes, coerentes, pontuais e iden- tificar nominalmente os responsáveis e suas atribuições no desenvolvimento das ações e um cronograma de execução e de avaliação. O monitoramento e o acompanhamento precisam ser sistemáticos, sistematizados e periódicos, e os registros são essenciais, pois é a partir deles que são produzidas as informações necessárias para avaliar sua eficácia. Longe de ser um documento burocrático, o plano de ação é um instru- mento vivo e dinâmico, direcionador de boas e efetivas ações no combate do fracasso escolar. 2 O desafio da formação continuada do docente Segundo Murici e Chaves (2016, p. 35), com base na pesquisa desenvolvida pela equipe do movimento Todos pela Educação e o Instituto Ayrton Senna, as características de um professor bem preparado são: “domínio de conte- údo, compreensão do processo de aprendizagem dos alunos; habilidade no gerenciamento da sua rotina profi ssional, exemplifi cando: saber administrar o tempo, defi nir claramente os objetivos, elaborar e executar os planos de aula e avaliar e intervir sobre os resultados”. Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos6 Há, entre as notas técnicas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), indicadores relativos ao trabalho docente que evidenciam como está a formação docente em cada sistema de ensino, ou seja, se a formação inicial do professor corresponde minimamente à graduação em cursos de licenciatura dedicados à área que lecionam. Os indicadores obtidos por meio dessas informações precisam direcionar as políticas públicas nacionais e regionais de formação docente. A formação do professor é tão relevante para o desenvolvimento da qua- lidade e da educação que, no Plano Nacional de Educação (PNE), há quatro metas específicas (15, 16, 17 e 18) de formação docente. Saiba mais sobre as metas do PDE relacionadas à formação do professor acessando a página do PNE no site do Ministério da Educação. A formação docente consta entre os pilares normativos da área da educação e é uma preocupação em função de diferentes fatores, como a existência de professores leigos em diferentes áreas do país, a formação de professores da educação infantil e do ensino fundamental nos anos iniciais por meio de for- mação em nível médio, a precária formação inicial em cursos de licenciatura ofertados, a dificuldade de acesso e ingresso nos cursos do ensino superior, o reduzido número de profissionais com especializações, pós-graduações, mestrado e doutorado atuando na educação, entre outros. Além disso, a formação docente está estritamente ligada ao desenvolvimento da educação, pois o desenvolvimento da educação escolar se baseia no princípio de que os processos de aprendizagem e de ensino são interdependentes. É importante destacar que o conceito de ensino que está presente nessa afirma- ção não é o processo passivo e tradicional, mas, muito pelo contrário, é um conceito dinâmico, desafiador e estimulante com o qual o professor planeja situações de aprendizagem desafiadoras e estimulantes para os estudantes. Assim, o conhecimento vai sendo construído por meio da interação do “sujeito estudante” com o “objeto do conhecimento”, o que requer do professor muito mais conhecimento sobre a disciplina de sua formação, vasto conhecimento sobre o currículo, as demais disciplinas, suas articulações e interdependência,7Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos além de conhecimento sobre as teorias de conhecimento, didática, metodologias e estratégias de ensino, que devem ser centradas em metodologias ativas. Assim, fica evidente que, para melhorar a qualidade da educação, a forma- ção do professor é prioritária no contexto educacional e não pode ocorrer de forma estanque ou episódica, mas deve ser um processo contínuo, considerando a importância do exercício da docência para a formação dos estudantes em uma sociedade. Lück (2012, p. 82), nesse sentido, afirma: A complexidade do processo de ensino depende, para seu desenvolvimento e aperfeiçoamento, de ações coletivas, de espírito de equipe, devendo ser este o grande desafio da gestão educacional. E é nesse sentido que se caracteriza essa gestão: na mobilização do talento humano, coletivamente organizado para a promoção de experiências significativas de aprendizagem. Assim, podemos entender que o trabalho individualista precisa ser superado e ampliar o espaço para a ação colaborativa, coletiva. Essa forma de pensar no coletivo amplia a formação e personaliza o atendimento aos estudantes, pois o sucesso ou fracasso é compartilhado por todos. Se houver melhoria no processo de aprendizagem, todos são responsáveis, mas, ao mesmo tempo, se um aluno abandonar a escola ou não aprender o que foi planejado para seu desenvolvimento, a responsabilidade pelo “fracasso” também é de todos. Enfatizando que a escola precisa desenvolver-se como organização, a ins- tituição precisa trazer para si a responsabilidade de identificar seus problemas, entendê-los e superá-los em um movimento dialógico horizontal que não busca heróis ou culpados, mas que se constitua e se construa tendo como premissa os quatro pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a ser. Assim, a própria formação docente pode ser desenvolvida dentro do universo escolar, em um movimento de autoformação, de reflexão e diálogo, tendo como ponto de partida a realidade escolar, o ponto de chegada e os objetivos definidos na proposta pedagógica. Sem nenhuma pretensão de isentar a formação profissional inicial obtida os cursos de licenciatura, tampouco os sistemas de ensino na oferta de pro- gramas de formação em serviço e a motivação individual dos profissionais que buscam pessoalmente sua formação continuada, é urgente que a equipe escolar introduza em seu plano de ação percursos de formação docente, que podem ser realizados nos tempos previstos em calendário escolar, e outros que serão criados e estimulados pela própria equipe. É relevante, assim, que os profissionais que atuam na equipe gestora participem desses processos Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos8 formativos, evidenciando sua relevância, modelizando o envolvimento e o engajamento com o sucesso da equipe. O objeto de conhecimento da formação dos professores está relacionado ao desafio de desenvolver o currículo escolar, motivando e estimulando o protagonismo dos estudantes, fomentando o uso da tecnologia, agregando o pensamento crítico e solidário e mobilizando-o para corresponsabilização de sua própria formação acadêmica. Um programa de formação organizado pela e para a equipe escolar pode vir a transformar a escola de reprodutora do conhecimento para polo de construção de conhecimento e cultura. A forma como o cotidiano escolar é organizado pode fortalecer o ambiente pedagógico, de modo que os professores são os profissionais que dão o tom do comprometimento com cada estudante e com a equipe de trabalho. Nesse sentido, a viabilidade da execução de um plano de ação está pautada em sua aderência junto ao corpo docente e, para tal, o melhor enfoque é a construção conjunta, desde a análise dos indicadores até a sua execução, monitoramento e avaliação. 3 Como elaborar um bom plano de ação a partir de indicadores externos As ações planejadas na e para a escola devem estar de acordo com as normas e defi nições prévias do sistema de ensino ao qual faz parte. Um cuidado muito especial que se deve ter é com a relevância e o uso dos planos, pois há certa tendência em se burocratizar demais por meio da busca pelo perfeccionismo do registro, que acaba por se tornar impraticável. Assim, podemos afi rmar que o melhor plano é aquele que de fato apresenta ações factíveis que combatam a situação inadequada ou indesejada para o estágio de alcance dos objetivos e das metas propostas. Nesse sentido, os gestores escolares precisam fazer uso de ferramentas ou métodos de gestão. No processo de gestão escolar, o Ciclo PDCA, conhecido como Ciclo de Deming, é um dos mais utilizados, pois estimula a organização e a retroalimentação, de fácil implementação. Segundo Murici e Chaves (2016, p. 95), “Plano de ação é o conjunto de ações organizadas no tempo e atribuídas aos responsáveis por fazê-las acon- tecer conforma previsto. Sua efetividade depende da qualidade da análise e de uma liderança forte na execução e no monitoramento das ações”. Nesse sentido, um bom plano de ação é iniciado pela equipe gestora da escola, quando 9Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos essa se debruça sobre os resultados das avaliações, realiza análise criteriosa, estabelecendo, inclusive, a análise comparativa com resultados anteriores. É importante a estratificação desses resultados, ou seja, descortinar o véu que os indicadores trazem. A composição do IDEB, por exemplo, traz o desempenho dos estudantes nos testes de língua portuguesa, de matemática e o fluxo escolar, que corresponde a uma média entre as taxas de aprovação, abandono e reprovação do estudante. Partindo desse conhecimento, a equipe escolar identificará qual foco prio- rizar, considerando a realidade do projeto pedagógico e das efetivas condições de melhoria por meio da ação engajada dos profissionais, estudantes e da comunidade escolar. É importante que os resultados do trabalho escolar sejam conhecidos por todos, assim como os desafios de melhoria, que são postos pelos sistemas de ensino ou pela própria equipe escolar. Caso a meta seja estabelecida pela equipe, lembre-se de que ela deve ser alcançável e realista e, por isso, é essencial o estudo de um conjunto de resultados por um determinado período. Esse conhecimento construído, ao ser compartilhado com os demais mem- bros da equipe escolar, traz inúmeros benefícios à gestão, como a visibilidade, a transparência, a divulgação de resultados e metas, a análise das metas e resultados, a mobilização da equipe docente e o estímulo ao engajamento de todos na busca da melhoria contínua da escola. Concluída a fase inicial do estudo e o desdobramento dos indicadores, é preciso identificar qual é o problema a ser enfrentado, ou seja, o que está se afastando dos objetivos, o que não foi exitoso o suficiente ou até mesmo o que está ruim. Nesse processo, é relevante a priorização, caso sejam identificados muitos problemas, com a realização de análise estatística dos dados, evitando focar em discursos sem fundamentação, oriundos do senso comum, ou seja, é preciso basear-se em fatos e dados. O trabalho da equipe gestora nos processos anteriormente indicados (ana- lisar e desdobrar os resultados, divulgar, compartilhar com a comunidade e identificar o problema) precisa ser realizado de forma rápida, principalmente a partir da próxima fase, pois será imprescindível a participação e o engajamento da comunidade escolar. Identificado o problema, a equipe gestora precisa organizar uma reunião de trabalho com representantes de todos os segmentos da equipe, um grupo misto que contenha, no mínimo, professores, estudantes, funcionários, pais. Essa reunião é a constituição de um grupo de trabalho para o qual a equipe gestora apresentará detalhadamente os resultados dos indicadores, a análise da equipe gestora, a identificação do problema, de modo que, juntos, realizem as Elaboraçãode plano de ação a partir de indicadores externos10 etapas de identificação da causa primária ou raiz do problema, para, depois, partirem para a elaboração do plano de ação. A multiplicidade de olhares dos diferentes atores que participam da vida escolar é essencial para que a identificação das causas seja mais abrangente e completa. É importante que a equipe possa contar com uma estratégia que de fato identifique a causa e a vincule ao efeito (problema). Nesse sentido, o brainstorming não verbal é uma estratégia que pode viabilizar a participação dos representantes de diferentes segmentos, pois, por meio da expressão escrita, é possível diminuir a incidência de influência de uns sobre os outros. Nessa forma de trabalho, as pessoas registram seus pontos de vista em um papel e entregam para o gestor, que os organiza por semelhança. É uma estratégia de gestão que permite que o grupo se expresse, de forma a respeitar a ideia do outro, além de trazer à tona as causas dos problemas sob diferentes olhares. Após a identificação das causas, é necessária a mediação dos gestores para que o grupo dialogue, tire dúvidas, busque pontos de convergência, identifique e esclareça divergências até definir quais são as causas primárias dos problemas. É importante que a equipe gestora, ao conduzir o diálogo, coloque-se em postura aberta e dialógica. Quando a causa raiz for identificada, o grupo poderá partir para a elaboração do plano de ação propriamente dito. Na organização desse plano de ação, é importante que a equipe seja criativa e que as ações sejam realizáveis, inovadoras, pois ao serem repetidas as mesmas experiências, os resultados provavelmente se repetirão; assim, o engajamento do grupo, o capital humano, é essencial para que o plano ultrapasse as fronteiras do registro e ganhe vida no cotidiano escolar. Um bom plano de ação precisa ser registrado e tornar-se visível a todos, sendo um compromisso que toda a equipe assume. Para ser inteligível, um plano de ação deve conter, no mínimo: a causa raiz que será bloqueada; a descrição da ação que será realizada e sua justificativa; a identificação do responsável pela ação; os procedimentos que serão adotados; os prazos de realização (início, monitoramento e conclusão), onde será feito e o custo da ação. O plano de ação, quando em execução, precisa ser periodicamente moni- torado; assim, é importante que a equipe defina alguns pontos: primeiro, a periodicidade de atualização do plano de ação, para identificar seu andamento (tanto para os membros do grupo de trabalha quanto para toda a comunidade escolar); segundo, da execução do plano em si, para verificar se as ações estão produzindo ou não o efeito planejado — se sim, as ações seguem sendo realizadas, se não, as ações precisam ser revistas, alteradas ou substituídas. Veja, a seguir, as fases do ciclo do plano de ação. 11Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos 1. O resultado da avaliação externa precisa ser estudado pela equipe gestora e desdobrado para que se entenda sua composição e se identifique o problema. 2. Identificar o problema — a análise dos dados é essencial para sua identificação. O problema é um resultado insatisfatório ou inadequado. 3. Identificar a(s) causa(s) do problema, pois o plano de ação precisa com- bater a causa para que o efeito (resultado inadequado) seja transformado. 4. Organizar o plano de ação — as soluções devem estar centradas no que é de âmbito da governabilidade da instituição (o que é possível ser feito em nível de escola, ou seja, pela equipe escolar). 5. Implementar o plano de ação seguindo métodos, prazos, registros e ações planejadas. 6. Monitorar o plano, checar seu andamento, identificar as ações que estão ocorrendo dentro do esperado, alinhar ou refazer as ações que não estão tendo o resultado parcial esperado (reiniciar o ciclo). Esse ciclo de trabalho é contínuo, pois a qualidade em educação é algo que está em constante evolução. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 19 fev. 2020. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. LÜCK, H. Perspectivas da avaliação institucional da escola. Petrópolis: Vozes, 2012. (Série Ca- dernos de Gestão, v. 6). MURICI, I. L.; CHAVES, N. M. D. Gestão para resultados na educação. 2. ed. Nova Lima: Falconi, 2016. Leituras recomendadas ALMEIDA, F. J. Avaliação externa: vilã ou salvadora? Nova Escola, 01 nov. 2009. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/609/avaliacao-externa-vila-ou-salvadora. Acesso em: 11 mar. 2020. BONAMINO, A. Matriz de Referência. Glossário Ceale, 2014. Disponível em: http://www.ceale.fae. ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/matriz-de-referencia. Acesso em: 11 mar. 2020. Elaboração de plano de ação a partir de indicadores externos12 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. CAVALCANTI, F. A. Planejamento estratégico participativo: concepção, implantação e controle de estratégias. 2. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2019. COMUNIDADE EDUCATIVA CEDAC. Avaliação Externa: como compreender e utilizar os resultados. Nova Escola, 2020. Disponível em: https://novaescola.org.br/avaliacao-externa- compreender-e-utilizar-resultados/. Acesso em: 11 mar. 2020. GONÇALVES, M. 5 etapas do Planejamento estratégico. Kindle Edition, 2019. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Indica- dores Educacionais. INEP MEC, 2020. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/indicadores- -educacionais. Acesso em: 11 mar. 2020. KLEIN, R. Escala de Proficiência. Glossário Ceale, 2008. Disponível em: http://www.ceale.fae.ufmg. br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/escala-de-proficiencia. Acesso em: 11 mar. 2020. LÜCK, H. Avaliação e monitoramento do trabalho educacional. Petrópolis: Vozes, 2013. (Série Cadernos de Gestão, v. 7). LÜCK, H. Metodologia de projetos: uma ferramenta de planejamento e gestão. 9. ed. Petró- polis: Vozes, 2013. ROCHA, G. Avaliação Externa. Glossário Ceale, 2014. Disponível em: http://www.ceale.fae. ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/avaliacao-externa. Acesso em: 11 mar. 2020. SILVA, V. G. et al. 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