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Vitória Santos Fraulob – T4A MAUÁ TUBERCULOSE EM CRIANÇAS OBJETIVOS - Reconhecer a tuberculose na infância como um diagnóstico importante e que deve ser lembrado. - Identificar os principais sinais e sintomas para suspeição diagnóstica. - Saber como conduzir uma criança com suspeita de tuberculose ou com história de contato com paciente bacilífero. - Saber tratar e acompanhar uma criança doente ou com infecção latente por tuberculose. INTRODUÇÃO - A tuberculose é causada pelas espécies pertencentes ao complexo Mycobacterium tuberculosis: ▪ M. tuberculosis ▪ M. bovis ▪ M. africanum ▪ M. canetti ▪ M. microti ▪ M. pinnipedi ▪ M. caprae - Mais importante → M. tuberculosis ou Bacilo de Koch (BK). - É um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR), aeróbio, com parede rica em lipídios. - Pode ocorrer em diversos sítios do organismo, sendo os mais comuns na infância a tuberculose pulmonar seguida da ganglionar e da meníngea. Transmissão → Ocorre pela eliminação de aerossóis, provenientes da tosse, fala ou espirro de um doente com tuberculose pulmonar ativa pulmonar ou laríngea. - A TB primária, aquela que ocorre logo após a infecção, é comum em crianças e nos pacientes com condições imunossupressoras. - Habitualmente, é uma forma grave, mas com baixo poder de transmissibilidade. - O adoecimento não confere imunidade, podendo ocorrer reinfecção durante a vida. QUADRO CLÍNICO * - Como a tuberculose pode afetar praticamente todos os órgãos, os sintomas variam de acordo com o sítio da doença. - Em geral, os sinais e sintomas na criança são inespecíficos e se confundem com infecções próprias da infância, o que dificulta a suspeição diagnóstica. - Frequentemente, crianças entre 5 – 10 anos apresentam quadros assintomáticos ou com poucos sintomas, enquanto as crianças de faixa etária menor apresentam sobretudo sintomas respiratórios. - Nos adolescentes, a apresentação clínica é similar à da tuberculose no adulto. - Para investigação da tuberculose pulmonar, o pediatra deve pesquisar a presença dos sintomas característicos: redução do apetite, perda de peso, febre e tosse. - A tosse é caracterizada por ser persistente, com mais de 2 semanas de duração e com piora progressiva, diferentemente de outras etiologias de tosse crônica nessa fase de vida, que pode ser de longa duração, mas que apresenta melhora do padrão ou é intercalada com períodos de melhora. - As crianças geralmente não apresentam outros sintomas respiratórios. - Ausculta pulmonar pode ser normal ou apresentar ruídos adventícios diversos. - É mandatório considerar a possibilidade diagnóstica de tuberculose em uma criança com pneumonia (com ou sem sibilância) que não melhora com tratamento habitual, como antibioticoterapia e broncodilatadores, devendo- se proceder investigação adequada. - Muitas vezes, também é necessária terapia de prova com esses fármacos (antibióticos e broncodilatadores) para afastar diagnósticos diferenciais. - A febre quando persistente é geralmente acima de 38ºC e costuma ocorrer no fim da tarde. - Além da perda de peso, pode-se observar retificação das curvas de peso e estatura. - Outros sinais e sintomas gerais como: anorexia, sudorese noturna, hepatoesplenomegalia e linfonodomegalia, podem estar presentes e ajudar na suspeição diagnóstica. - Normalmente, a presença de sinais e/ou Vitória Santos Fraulob – T4A MAUÁ sintomas é baixa. - Crianças infectadas por HIV, os sinais e sintomas geralmente não são clássicos, o que pode retardar ainda mais o diagnóstico. FISIOPATOLOGIA - Complexo primário (necrose caseosa – fica com material líquido no interior – acontece isso porque o organismo não consegue destruir 100% o bacilo, então ele vai lá e começa a isolar esse bacilo) → curva espontânea, lesões latentes ou tuberculose progresso. - Tuberculose progressiva → disseminação hematogênica e TB “miliar”. - Tuberculose secundária → reinfecção, com lesões destrutivas em qualquer órgão. EXERCÍCIOS 1.Criança de 2 anos de idade é internada para tratamento de uma pneumonia lobar. Iniciado ceftriaxona, mas após 72 horas a febre persistia alta e a tosse havia piorado. Qual a conduta inicial mais adequada? a) Aumentar o espectro antibiótico para cefepima. b) Pesquisar complicações da pneumonia, como derrame pleural. c) Aumentar o espectro antibiótico para vancomicina e Meropenem. d) Iniciar a pesquisa para tuberculose, como diagnóstico diferencial. 2. Feita avaliação complementar sem alterações, sendo aumentado o espectro antibiótico para oxacilina e ceftriaxona. Dez dias após, o quadro permanecia inalterado. Feita análise microscópica do suco gástrico da criança. Qual dos germes abaixo deve ter sido observado? a) Cocos gram-positivos. b) Bacilos gram-negativos. c) Bacilos álcool-ácido-resistentes. d) Leveduras em brotamento. TUBERCULOSE MILIAR - Neurotuberculose: - Tuberculose renal: - Reação de hipersensibilidade do tipo IV. - Tuberculose ganglionar: - Tuberculose intestinal: Diagnóstico: - Não existe um método fácil aplicação e acurado para diagnóstico de tuberculose pulmonar na infância, principalmente pelo fato de as crianças não saberem expectorar e por apresentarem uma baixa quantidade de bacilos Vitória Santos Fraulob – T4A MAUÁ no escarro (Doença paucibacilar). - Na maioria das vezes, o diagnóstico da tuberculose pulmonar em crianças é baseado em uma combinação de critérios clínicos e epidemiológicos, associados à prova tuberculínica (PT) e à radiografia de tórax, não existindo padrão-ouro para esse diagnóstico ou algoritmo diagnóstico universal. HISTÓRIA DE CONTATO - Como mais de 90% dos casos de tuberculose na criança ocorrem dentro dos primeiros anos após a primo-infecção, é mandatória a procura do caso índice que infectou a criança. Da mesma forma, toda vez que se descobre um adulto com tuberculose, deve-se investigar, dentre os contatos, a presença de crianças doentes e/ou infectadas. EXAMES COMPLEMETARES Prova tuberculínica: - Teste in vivo, no qual se mede a Enduração formada na pele por uma intradermoreação, em resposta à injeção de uma tuberculina, como PPD – Rt 23, adotado no BR. - Essa reação pode ocorrer em indivíduos infectados pelo M. tuberculosis, sem necessariamente indicar doença. Esse teste é válido para o diagnóstico de tuberculose quando associado a outros critérios diagnósticos. - A dificuldade na sua interpretação se deve à possibilidade de ocorrerem falsos-negativos e falsos-positivos. - Os falsos-negativos podem ocorrer por erros na técnica de aplicação, má qualidade no PPD – Rt 23 ou fatores referentes à imunidade do indivíduo, como imunossupressão, quadros virais, febre e aplicação prévia de vacinas de vírus vivo atenuado. - Os falsos-positivos se devem à reação cruzada com outras micobactérias, como M. bovis (vacina BCG) ou micobactérias não tuberculosas (MNTB). - A PT é um teste de baixo custo, que apresenta sensibilidade entre 70 e 80% em imunocompetentes. Radiografia de tórax: - Deve ser sempre realizada em posição póstero anterior e perfil. Pode demonstrar alterações estruturais antes do aparecimento dos sintomas clínicos, apesar da sua normalidade não excluir o diagnóstico, principalmente em crianças imunossuprimidas. É útil também no seguimento terapêutico e na avaliação de complicações. Entretanto, a interpretação dos seus achados depende da habilidade do examinador. - A imagem mais típica é a doença do complexo primário: condensação, similar a quadros de pneumonias causadas por bactérias comuns; porém, associada a linfonodomegalias hilares ou Vitória Santos Fraulob – T4A MAUÁ subcarinais.- Pode ainda estar presente compressão da via aérea ou redução do lobo médio (síndrome do lobo médio), e a escavação é um achado pouco comum. - Na tuberculose miliar, é característico o infiltrado Micronodular difuso. Nos adolescentes, os achados são mais parecidos com a tuberculose pós- primária dos adultos, podendo apresentar lesões mais nos terços superiores, escavadas e associadas a derrame pleural. EXAMES SUBSIDIÁRIOS - Atualmente, está disponível o teste de ensaio de liberação de interferon- gama (interferon gamma release assay – Igra). - Trata-se de um teste diagnóstico realizado in vitro que avalia também a presença de ILTB, sendo mais específico que a PT. - Contudo, além dos IGRA serem exames de alto custo, necessitam de técnica de realização adequada, com laboratório capacitado para evitar erros de resultados, são pouco validados em locais de alta incidência de tuberculose e em crianças (sobretudo as menores de 2 anos). - Os exames microbiológicos, apesar da baixa positividade, devem ser realizados sempre que disponíveis. A probabilidade de se alcançar uma confirmação bacteriológica depende da extensão da doença, do tipo de espécime coletado e da idade do paciente. Além da baciloscopia, a cultura e/ou testes moleculares devem ser solicitados sempre que disponíveis e aplicáveis. - Atualmente, o método que vem ganhando destaque, pelo aumento na detecção dos casos, é o teste GeneXpert-MTB/RIF, que é uma reação em cadeia de polimerase em tempo real (PCR- RT). É um método automatizado que, além de detectar a presença do DNA do M. tuberculosis, serve como um bom rastreamento para resistência à rifampicina, com resultados em até 2 horas. DIAGNÓSTICO - Sistema de pontos do MS: ▪ ≥ 40 pontos: diagnóstico muito provável, recomenda-se iniciar o tratamento ▪ 0-35 pontos: diagnóstico possível, iniciar o tratamento fica ao critério médico ▪ < 25 pontos: diagnóstico pouco provável, deve-se prosseguir investigando outras possibilidades *Saber quais sinais e sintomas pontuam mais* ACOMPANHAMENTO - Retorno mensal no início. - Na presença de baciloscopia positiva, esta deve ser realizada mensalmente, desde que o paciente tenha escarro. - O Rx de tórax pode ser repetida no 1º ou 2º mês e ao final do tratamento. - Pode ser realizada função hepática no 1º mês de tratamento. - Pacientes que usam etambutol devem ser avaliados em relação a queixas visuais mensalmente (ardor, prurido, diminuição do campo visual, alteração de cor, etc.). - Sintomas clínicos costumam desaparecer dentro do 1º mês de tratamento. Prevenção – Bacilo de Calmette-Guérin (BCG): - Intradérmica, na maternidade. - Protege para as formas graves da doença, principalmente TB miliar e Neurotuberculose. - A vacina BCG está indicada em crianças até 5 anos de idade e é contraindicada em imunossuprimidos ou RN com menos de 2.000g. Esquema de quimioprofilaxia primária: - Droga de escolha → ISONIAZIDA Vitória Santos Fraulob – T4A MAUÁ Investigação de contato de pacientes com TB > 10 anos de idade: EXERCÍCIOS 3.A aplicação da vacina BCG, preconizada de modo geral em todos os recém-nascidos, tem como objetivo: a) Evitar a tuberculose pulmonar primária. b) Proteger contra as formas graves de tuberculose. c) Aplicar anticorpos contra o bacilo da tuberculose. d) Garantir a imunidade vitalícia pela síntese de anticorpos. 4. Adolescente de 11 anos, assintomático, primo de uma criança com 9 anos com tuberculose pulmonar confirmada e habitante da mesma casa, comparece à UBS para investigação diagnóstica, que deve começar com: a) Radiografia de tórax PA + Perfil. b) Teste tuberculínico. c) Baciloscopia de escarro. d) PCR para genes do M. tuberculosis. 5. Adolescente de 11 anos apresenta quadro de febre vespertina há 4 semanas, tosse inicialmente seca e há 3 semanas produtiva, perda de peso e dispneia aos longos esforços. Já fez três tratamentos para pneumonia no mês, com uso irregular de amoxicilina 2 vezes e amoxicilina + clavulanato 1 vez. Qual dos achados abaixo é MAIS PROVÁVEL de ser encontrado no paciente? a) Consolidação lobar em terço médio esquerdo no RX tórax. b) Hemocultura positiva para bacilos gram- negativos. c) Teste tuberculínico > 12 mm. d) Derrame pleural volumoso. 6.Ainda sobre o caso acima, o tratamento a ser preconizado, se confirmada a hipótese diagnóstica mais provável, é: a) Esquema quádruplo de antibióticos (RIPE) nos primeiros 2 meses. b) Esquema tríplice de antibióticos (RIP) nos primeiros 2 meses. c) Claritromicina por 10 dias. d) Internação e tratamento com ceftriaxona e oxacilina. Gabarito das questões: 1. B 2. C 3. B 4. B 5. C 6. A
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