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1 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS síndrome problema 6 – por favor me ajude Paulo, um senhor de 75 anos, tabagista há 30 anos, cerca de 2 maços ao dia, apresenta diagnostico há 5 anos de DPOC devido ao quadro de enfisema pulmonar. Paciente no início, respondia bem as medicações orais e inalatórias, com manutenção da sua autonomia e independência, mas nos últimos meses devido a uma pneumonia extensa com internação hospitalar prolongada, o quadro clinico agravou muito. No hospital, devido a dispneia ficou muito tempo em repouso, evoluiu para quadro de desnutrição, fraqueza muscular importante, fadiga extrema e mesmo com vários medicamentos mantinha desconforto respiratório, recebendo alta hospitalar em uso de oxigênio. Em casa, o paciente permanecia muito tempo restrito ao leito devido a hipoxemia severa e isso gerou uma limitação grave de imobilidade sendo que não se deslocava mais sem ajuda, não mudava de decúbito sozinho e infelizmente evoluiu para síndrome de imobilidade piorando ainda mais o frágil quadro de saúde. O Sr. Paulo começou a apresentar sofrimento cutâneo em região sacral que evoluiu para uma ulcera de pressão extensa com dor desagradável e bastante secretiva, isso gerava um quadro doloroso causando muito sofrimento além do risco de outras complicações. A família estava tendo muita dificuldade em cuidar do paciente, e os tratamento pareciam não resolver e muitas vezes a solicitações excessiva de exames e troca de medicamentos até pioravam o quadro clinico. A equipe que cuidava dele era muito competente, mas infelizmente a situação só agravava. Diante disso, a família solicitou a todos os profissionais envolvidos que fossem realizadas apenas medidas paliativas para que Sr. Paulo não sofresse, já que não havia possibilidade de melhora ou compensação adequada das comorbidade. O paciente não foi mais deslocado para realização de exames e todo suporte de conforto foi feito em casa para evitar nova internação e proporcionar qualidade de morte. A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma condição pulmonar comum caracterizada por obstrução persistente ao fluxo de ar que não é completamente reversível com broncodilatadores. A DPOC representa um imenso desafio para a saúde pública, uma vez que é, em grande parte, evitável e tratável, sendo ainda a única doença crônica comum na qual a morbidade e mortalidade continuam aumentando. É uma importante causa de internação hospitalar, especialmente na população idosa. A DPOC é definida como uma doença inflamatória respiratória envolvendo a limitação persistente do fluxo aéreo, que não é completamente revertida com broncodilatadores. A obstrução ao fluxo aéreo costuma ser progressiva e associada a uma resposta inflamatória crônica anormal dos pulmões a partículas nocivas ou gases, primariamente associada com o tabagismo. As definições atuais da DPOC já não incluem mais os termos “enfisema” e “bronquite crônica”, embora tais termos ainda sejam usados clinicamente. O enfisema é definido patologicamente e refere-se à obstrução dos alvéolos, as superfícies pulmonares responsáveis pela troca gasosa, resultando no aumento de tamanho dos espaços aéreos distais até os bronquíolos terminais. Bronquite crônica é o termo clínico usado para descrever a presença de tosse e produção de catarro por, no mínimo, três meses durante cada um dos dois anos consecutivos. A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é definida pelo Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease – GOLD, um projeto do National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI) e da Organização Mundial da Saúde (WHO), como uma “doença evitável e tratável, caracterizada por limitação crônica e progressiva ao fluxo aéreo, associada a uma resposta inflamatória crônica e exacerbada nas vias respiratórias a partículas e gases” (Gold, 2015). Geralmente é diagnosticada em indivíduos de meia-idade ou idosos com história de tabagismo prévio, cuja sintomatologia não pode ser atribuída a outras patologias, como bronquiectasias ou asma brônquica. A DPOC representa um problema crescente de saúde pública, cuja prevalência varia conforme a definição utilizada e pelos hábitos relacionados ao consumo do tabaco. O principal fator de risco é o tabagismo, tornando-a uma enfermidade prevenível e D A I M O B I L I D A D E E D P O C síndrome 2 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS tratável, com tempo de latência de 20 a 30 anos. Embora o hábito do tabagismo tenha diminuído especialmente em alguns segmentos da América do Norte e da Europa, a prevalência persiste aumentando com o envelhecimento da população outrora exposta e com o aumento do consumo do tabaco observado na Ásia e outras regiões do mundo. O consumo de cigarros leva a declínio da função pulmonar maior que aquele esperado pelo envelhecimento, sendo a magnitude do declínio proporcional à duração e à intensidade da exposição ao tabagismo, observada pelo valor do volume expirado forçado no 1 o segundo (VEF1) obtido pela espirometria. Há uma perda média de 40 mℓ no valor do VEF1 nos pacientes com DPOC, ao contraponto ao valor normal esperado após os 30 anos de idade, de 25 mℓ/ano. A identificação dos fatores de risco representa ponto importante para o desenvolvimento de estratégias para a prevenção a tratamento da DPOC. Tabagismo Fumantes de cigarros apresentam maior prevalência de sintomas respiratórios e anormalidades funcionais pulmonares do que indivíduos que nunca fumaram. O risco de desenvolvimento de DPOC em fumantes é relacionado à dose, idade do início do hábito e total de maços consumidos, fatores que também estão relacionados à mortalidade pela doença. Outros tipos de tabagismo como charutos e cachimbo também estão relacionados a uma maior morbidade e mortalidade em DPOC quando comparado aos não-fumantes. Exposição passiva a fumaça do cigarro também pode contribuir para o aparecimento de sintomas respiratórios e de DPOC, por aumentar a carga de partículas e gases inalados. O reconhecimento do tabagismo como o fator de risco mais freqüente resultou no desenvolvimento de programas de interrupção do hábito de fumar como elemento chave na prevenção e tratamento da doença. Apesar do exposto, a DPOC é “sub-diagnosticada” visto que apenas 15 a 20% dos fumantes têm diagnóstico de DPOC, ainda que a maioria deles desenvolva obstrução ao fluxo aéreo. Genética DPOC é uma doença poligênica e um exemplo clássico de interação gens-ambiente. O fator de risco melhor documentado é a deficiência acentuada de alfa-1-antitripsina, o principal inibidor das proteases séricas. Trata-se de um traço recessivo raro, caracterizado pelo desenvolvimento precoce de enfisema pan-lobular, podendo estar presente em pacientes não- fumantes, porém sendo mais comum em tabagistas, evidenciando a interação entre a predisposição genética e a exposição a fatores externos – tabagismo principalmente. Várias regiões do genoma têm sido identificadas como contendo genes que configuram susceptibilidade para o desenvolvimento da DPOC, como o cromossomo 2q7. Exposição por via inalatória Destacam-se neste grupo de fatores de risco as poeiras e substâncias químicas apresentadas por exposição ocupacional (como vapores, partículas e fumaças), que podem, comprovadamente, causar ou aumentar o risco de desenvolvimento de DPOC, quando o contato se faz de forma prolongada com estes elementos. Estima-se que a exposição ocupacional represente 10 a 20% dos sintomas ou alterações funcionais consistentes com DPOC. Poluição em ambiente fechado Aproximadamente 3 bilhões de pessoas no mundo utilizam a queima de carvão ou de outros elementos de origem biológica com fonte de energia para cozimento de alimentos ou aquecimento, provocando níveis elevados de poluição doméstica. As evidências deque a exposição a estas substâncias, como carvão, madeira, resíduos de colheita e esterco de animais, em áreas pouco ventiladas está relacionada ao desenvolvimento de DPOC continuam a aumentar, podendo atingir até 2 milhões de pessoas, principalmente mulheres e crianças em países em desenvolvimento. Poluição atmosférica A poluição aérea pela queima de combustíveis fósseis, principalmente pela emissão de veículos a motor, está associada a queda da função respiratória, podendo agravar a condição de indivíduos portadores de doenças pulmonares ou cardíacas pré-existentes. No entanto, o papel da poluição atmosférica como causa de DPOC ainda não está comprovada. 3 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Crescimento e desenvolvimento pulmonar Qualquer fator que possa interferir com o desenvolvimento dos pulmões em qualquer etapa da gestação ou da infância pode aumentar o risco de desenvolvimento de DPOC por reduzir a função pulmonar do indivíduo. Estresse Oxidativo Os pulmões estão continuamente expostos a oxidantes endógenos (proveniente de fagócitos) ou exógenos (poluentes ou fumaças). As células pulmonares estão protegidas contra estes elementos por um sistema enzimático. Quanto observamos desequilíbrio entre os oxidantes e o sistema de defesa, pendendo para predomínio do agressor, ocorre o estresse oxidativo, que provoca lesão direta celular, assim como ativa mecanismos moleculares que provocam inflamação pulmonar Gênero Alguns estudos sugerem uma maior susceptibilidade do sexo feminino aos efeitos do tabaco quando comparado ao sexo masculino. No entanto, o papel do gênero como fator de risco para a DPOC ainda permanece incerto. Infecções A presença de colonização bacteriana, assim como de infecções virais e bacterianas, pode contribuir para a patogênese e progressão da DPOC. História de infecções respiratórias de repetição na infância tem sido associada a sintomas respiratórios e redução na função pulmonar na idade adulta. Condição sócio-econômica Há evidências de que o risco para o desenvolvimento de DPOC está inversamente relacionado às condições sócio-econômicas. No entanto, esta associação pode ser decorrente da desnutrição ou outras exposições ambientais observadas em países ou locais pouco desenvolvidos economicamente. Nutrição A desnutrição pode reduzir a força da musculatura respiratória. No entanto, o papel da nutrição como fator independente de risco para o desenvolvimento da DPOC ainda permanece incerto. No passado, a terminologia “bronquite crônica” e “enfisema” era aplicada. Embora esta divisão didática seja utilizada, ambos os aspectos clínicos e patológicos são encontrados nos pacientes com DPOC. As alterações patológicas da DPOC predominam nas vias respiratórias, porém alterações também são vistas no parênquima e na vasculatura pulmonares. Enfisema é caracterizado pela destruição das paredes dos alvéolos, levando ao aumento anormal dos espaços aéreos distais ao bronquíolo terminal (bronquíolo respiratório, ductos e sacos alveolares e alvéolos) e perda da elasticidade pulmonar. Existem 3 subtipos de enfisema, o centrolobular, o panacinar e parasseptal. O enfisema centrolobular acomete o bronquíolo respiratório distal ao bronquíolo terminal, a porção central do ácino. Geralmente é mais proeminente nos lobos superiores. No enfisema pan-acinar, há alargamento e destruição de todas as porções do ácino, sendo o subtipo característico da deficiência de α-1-antitripsina, mas observado também na DPOC por exposição ao tabaco. No enfisema parasseptal, os ductos alveolares são predominantemente afetados, estando difusamente alargados. A bronquite crônica é definida pela presença de tosse produtiva persistente, por 3 meses em 2 anos consecutivos, em que outras causas de tosse crônica, como, por exemplo, bronquiectasias, foram excluídas. É caracterizada por inflamação crônica (presença de linfócitos T CD8+, neutrófilos e macrófagos-monócitos CD68+ nas vias respiratórias), hiperplasia das glândulas produtoras de muco localizadas entre a membrana basal e a placa cartilaginosa das vias respiratórias centrais e aumento do número de células caliciformes presentes no epitélio das vias respiratórias. Alterações vasculares também estão presentes nos pacientes com DPOC, observando-se hiperplasia da íntima e hipertrofia e hiperplasia da musculatura lisa das artérias pulmonares de pequeno calibre, secundárias à vasoconstrição hipóxica crônica. A destruição dos alvéolos observada no enfisema leva a perda do leito capilar relacionado a estas áreas. Estas alterações resultam em aumento da resistência vascular pulmonar, remodelamento vascular e hipertensão arterial pulmonar irreversível 4 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Anamnese e exame físico A DPOC deve ser suspeitada nos pacientes que se queixam de sintomas respiratórios crônicos, que limitam as atividades diárias, particularmente a dispneia. Os achados clínicos que levam à suspeição de DPOC são idade avançada, hábito do tabagismo atual ou passado, início insidioso de dispneia com progressão lenta, sibilância, tosse crônica, produção de expectoração. A tosse com expectoração mucoide pode preceder a dispneia na DPOC em vários anos, sendo geralmente matinal nas fases iniciais da doença. O principal fator de risco para DPOC é o tabagismo, e a quantidade e a duração do hábito do tabagismo contribuem para a gravidade da doença. Na avaliação do paciente com suspeita de DPOC, deve- se determinar o número de maços-ano, um índice obtido pela multiplicação do número de maços de cigarro fumados por dia pelo número de anos sob o hábito. Embora exista variação individual, na ausência de fatores genéticos, ambientais e ocupacionais, um índice menor que 10 a 15 maços-ano geralmente não leva ao desenvolvimento de DPOC, enquanto valores maiores que 40 maçosano resultam em limitação ao fluxo aéreo na espirometria na maioria dos pacientes. A história ocupacional e ambiental também pode detectar outros fatores de risco para DPOC, como a exposição a vapores, poeiras orgânicas ou inorgânicas, o que pode explicar um pequeno percentual de pacientes com diagnóstico de DPOC que não apresentam história prévia de tabagismo. O exame físico nos estágios iniciais da doença pode ser normal ou pode apenas revelar um tempo expiratório prolongado ou sibilância às manobras de expiração forçada. Os achados na doença avançada são aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em tonel), rebaixamento do diafragma e hipersonoridade, manifestados pela percussão, evidenciando hiperinsuflação dinâmica, aumento do tempo expiratório e uso da musculatura acessória da respiração. As bulhas cardíacas podem estar hipofonéticas e a ausculta do tórax pode revelar diminuição do murmúrio vesicular, roncos, sibilos e estertores. A cianose pode aparecer na presença de hipoxemia. Edema dos membros inferiores, turgência jugular patológica e congestão hepática podem surgir no cor pulmonale. Os pacientes com doença avançada podem adotar posturas que aliviam a dispneia, como a posição sentada levemente inclinada para frente, com braços apoiados e semiflexionados sobre a coxa. Pode-se verificar ainda a respiração por lábios cerrados, o uso de musculatura acessória da respiração, retração paradoxal dos espaços intercostais inferiores durante a inspiração (sinal de Hoover) e asterixe secundário a hipercapnia acentuada. Os principais sintomas dos pacientes na fase inicial da doença são tosse crônica acompanhada de expectoração.5,6 A tosse é caracterizada pelo início insidioso da produção de secreção, que ocorre inicialmente pela manhã, mas pode progredir ao longo de todo o dia. O volume raramente excede 60 mL. Estes sintomas podem estar presentes por muitos anos antesdo desenvolvimento de limitação ao fluxo aéreo e são geralmente ignorados pelos pacientes ou relacionados à idade. À medida que a obstrução aérea evolui, pode surgir dispnéia, podendo interferir com as atividades diárias do paciente. A dispnéia pode ser observada inicialmente apenas durante os esforços físicos. Contudo, torna-se mais aparente com a piora do quadro obstrutivo, ocorrendo aos esforços menores e mesmo ao repouso. Pacientes que são extremamente sedentários necessitam de uma anamnese cuidadosa, à procura de dispnéia aos esforços (o sintoma precoce mais comum da doença), visto que estes pacientes habitualmente modificam suas expectativas e limitam sua atividade física, dificultando a identificação deste sintoma. Geralmente os pacientes procuram atendimento médico apenas após o surgimento da dispnéia, recebendo o diagnóstico de DPOC. Outras vezes os pacientes procuram atendimento apenas quando observam importante comprometimento da função pulmonar, de forma aguda, como nas exacerbações da doença, frequentemente relacionadas a infecções respiratórias. Com a progressão da DPOC, o paciente geralmente observa piora dos sintomas descritos (tosse, expectoração – que se torna purulenta - e dispnéia) podendo surgir complicações, como insuficiência respiratória, insuficiência cardíaca direita, perda de peso e hipoxemia arterial. A DPOC apresenta uma história natural variável e nem todos os pacientes seguem o mesmo curso clínico. Contudo, a DPOC se apresenta geralmente de forma progressiva, especialmente se a exposição aos fatores de risco persiste. Uma vez instalada a doença e suas co-morbidades, ela 5 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS não apresenta reversão completa e deve ser tratada de forma contínua. Interromper a exposição aos fatores de risco, mesmo quando significativa limitação ao fluxo aéreo está presente pode resultar em alguma melhora na função pulmonar e na progressão do quadro clínico. Precocemente no curso da doença, o exame físico pode ser normal ou revelar apenas prolongamento da expiração ou sibilos à expiração forçada. À medida que a obstrução ao fluxo aéreo se agrava, pode surgir hiperinsuflação pulmonar, redução do murmúrio vesicular, sibilos, estertores nas bases pulmonares e/ou redução da ausculta das bulhas cardíacas. Pacientes com doença muito avançada podem adotar posições de alívio para a dispnéia, como sentado, com inclinação do tórax para a frente, com o braços esticados e apoiando o peso sobre as palmas. As alterações do exame físico são observadas mais claramente nas formas mais avançadas da doença e com predomínio do componente enfisematoso. São elas: à inspeção, tórax hiperinsuflado, tempo expiratório prolongado, respiração com lábios semicerrados, utilização de musculatura acessória do pescoço; à ausculta, diminuição dos sons respiratórios, sibilos e raramente estertores crepitantes. Outros achados ao exame físico são: expiração com os lábios semicerrados, retração paradoxal dos espaços intercostais inferiores durante a inspiração, cianose, asterixis devido à hipercapnia, aumento da hepatimetria (fígado aumentado e sensível por congestão hepática em função de insuficiência cardíaca direita) e turgência jugular por aumento da pressão intra-torácica, especialmente durante a expiração. Os dados de história e exame físico podem distinguir entre doença compensada (estável) e doença exacerbada (agudizada). Na forma agudizada, a dispnéia é geralmente acentuada, com início bem definido, associada à tosse produtiva, com aumento do volume da expectoração, mudança recente no seu aspecto, passando de mucóide à purulenta; estes dados indicam uma provável infecção brônquica, que é a causa mais freqüente de exacerbação da DPOC. Exames complementares Radiografia de tórax A radiografia de tórax pode ser normal nos estágios iniciais da DPOC, sendo particularmente útil no diagnóstico diferencial com outras patologias pulmonares (carcinoma de pulmão, doenças pleurais, bronquiectasias, doença intersticial pulmonar, insuficiência ventricular esquerda), ou quando há intensificação dos sintomas, sugerindo uma complicação da DPOC, como pneumotórax ou pneumonia. Os achados da radiografia de tórax na DPOC são hiperinsuflação pulmonar, achatamento do diafragma, aumento do espaço retroesternal, verticalização do coração e redução das marcas vasculares. Em pacientes com doença mais avançada, a parede das bolhas enfisematosas pode ser visualizada como finas linhas curvas. O enfisema acentuado pode ser visualizado como áreas de hipertransparência marcante. Tomografia computadorizada A tomografia computadorizada de tórax não é rotineiramente indicada para diagnóstico de DPOC, embora seja superior em detectar a magnitude e a distribuição do enfisema nestes pacientes. Ela é particularmente útil no rastreamento de carcinoma broncopulmonar ou durante as exacerbações, para avaliar a presença de complicações, na suspeita de tromboembolismo pulmonar ou na avaliação do paciente à cirurgia de redução de volume pulmonar. Avaliação da função pulmonar Os testes de função pulmonar, particularmente a espirometria, são a peça-chave na avaliação do paciente com suspeita de DPOC. A espirometria é realizada antes e após a administração de um broncodilatador, determinando-se a presença de obstrução ao fluxo expiratório, e se esta é total ou parcialmente reversível. A limitação ao fluxo aéreo parcialmente reversível ou irreversível é o marco da DPOC. A medida mais simples e mais útil da obstrução das vias respiratórias é obtida solicitando-se ao paciente que realize uma expiração forçada a partir da capacidade pulmonar total (CPT) e registrando-se uma curva fluxo-volume ou volume-tempo. A relação entre o volume expirado forçado no 1 o segundo (VEF1) e a capacidade vital forçada (VEF1 /CVF) menor que 0,70 após a administração de uma medicação broncodilatadora por via inalatória (400 mcg de salbutamol ou equivalente) determina a presença de obstrução ao fluxo aéreo. O valor do VEF1 pós-broncodilatador obtido em relação ao previsto classifica então a gravidade da doença (Quadro 58.2). A capacidade vital forçada (CVF) a princípio está normal, mas diminui à medida que a doença progride, por aumento do volume residual (VR). A espirometria pode ainda 6 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS determinar a gravidade da obstrução ao fluxo aéreo, a resposta ao tratamento e avaliar a evolução da doença. A avaliação dos volumes pulmonares por pletismografia não é necessária em todos os pacientes com DPOC, entretanto, quando se observa redução da CVF na espirometria após o uso de broncodilatadores, a determinação dos volumes pulmonares pode esclarecer se esta é secundária a aprisionamento aéreo, hiperinsuflação ou doença restritiva concomitante. A avaliação da difusão ao monóxido de carbono (DLCO) reflete a perda da superfície alveolar disponível para a troca gasosa, correspondendo à gravidade do enfisema, devendo ser solicitada nos pacientes com hipoxemia ou na avaliação para ressecção pulmonar, transplante ou cirurgia de redução de volume pulmonar. Uma suspeita de DPOC deve ser confirmada por meio de espirometria. A espirometria é um teste de função pulmonar que mede a presença e gravidade de uma obstrução ao fluxo aéreo. O diagnóstico de DPOC é plausível quando a espirometria demonstra uma obstrução de fluxo aéreo que não seja completamente reversível com broncodilatadores. As medidas- chave da espirometria relacionadas à DPOC são VEF1 e a capacidade vital forçada (CVF). VEF1 é o volume de ar que um paciente é capaz de exalar em 1 segundo após uma expiração completa. Uma razão VEF1 para CVF após uso de broncodilatador inferior a 0,7 com uma reversibilidade menor de 12% é diagnóstica de uma limitaçãodo fluxo aéreo e confirma o diagnóstico de DPOC. Foram publicadas diretrizes com recomendações para a classificação da gravidade da DPOC baseadas na espirometria (Tabela 34-1). A U.S. Preventive Services Task Force (USPSTF) atualmente não recomenda o rastreamento de adultos assintomáticos para DPOC por meio de espirometria, pois não existem evidências de benefício nessa população independentemente da idade do paciente, do status de fumante ou da história familiar de DPOC. Além disso, o uso não seletivo da espirometria pode levar a um excesso substancial de diagnóstico de DPOC em “nunca fumantes” com mais de 70 anos de idade. O emprego da espirometria periódica também não é recomendado após o início do tratamento para monitoração de rotina do estado da doença ou para modificar o tratamento. Entretanto, a espirometria pode ser útil para verificar se houve uma mudança substancial nos sintomas ou na capacidade funcional. Oximetria A hipoxemia pode estar presente nos pacientes com DPOC, sendo detectada e quantificada com oximetria de pulso ou realização de gasometria no sangue arterial. A primeira geralmente é preferida, por ser simples, não invasiva e não impor desconforto ou dor. Pacientes com DPOC devem ter a saturação de oxigênio (SpO2) avaliada periodicamente, preferencialmente com oximetria de pulso, uma vez que a oxigenoterapia para pacientes com comprovada hipoxemia (SatO2 ≤ 88%) melhora a mortalidade. A pulsoximetria não avalia a ventilação alveolar ou a hipercapnia, quando então a medida dos gases no sangue arterial pode ser necessária. A hipercapnia pode surgir com a progressão da doença, nas formas mais graves, especialmente quando o VEF1 encontra-se abaixo de 1 ℓ. A gasometria arterial está indicada para pacientes com VEF1 baixo (menor que 50% do previsto), saturação arterial de oxigênio menor que 92% à pulsoximetria, redução do nível de consciência, com exacerbação da DPOC ou para avaliação da pressão parcial de gás carbônico arterial (PaCO2) após 30 a 60 min após o início da oxigenoterapia. O diagnóstico clínico de DPOC deve ser considerado em todos os pacientes com dispnéia, tosse crônica e expectoração e história de exposição aos fatores de Loivos LP . DPOC - definições e conceitos Pulmão RJ - Atualizações Temáticas 2009;1(1):34-37 37 risco para a doença. O diagnóstico deve ser confirmado pela espirometria. A presença de VEF1/CVF < 0.70 e VEF1 < 80% do predito após broncodilatação confirma o diagnóstico e a 7 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS presença de limitação ao fluxo aérea que não é completamente reversível.1 A gravidade da DPOC baseia-se no nível dos sintomas, na intensidade das anormalidades espirométricas e na presença de complicações. A DPOC é uma doença progressiva e apresenta curva de piora ao longo do tempo. Os sintomas e a função pulmonar devem ser monitorados para determinar quando modificar a terapia e identificar as complicações. Pacientes que se apresentam com exacerbação aguda referem piora da tosse, expectoração purulenta, sibilância e dispnéia que ocorrem intermitentemente, com ou sem a presença de febre. O diagnóstico diferencial deve ser feito com asma (dispnéia, tosse e sibilos) ou outras condições que podem se assemelhar à DPOC descompensada como bronquiectasias, bronquiolites ou insuficiência cardíaca. O intervalo entre as exacerbações da doença diminui a medida em que a severidade da DPOC aumenta. A exacerbação na DPOC representa um importante fator prognóstico (Sethi e Murphy, 2008). O risco de desenvolvimento de exacerbação correlaciona-se com idade avançada, presença de tosse produtiva, tempo de doença, história de antibioticoterapia prévia, hospitalizações no último ano relacionadas à doença, hipersecreção de muco, uso de teofilina, pior função pulmonar, presença de marcadores inflamatórios séricos em níveis elevados, presença de refluxo gastresofágico e comorbidades (Bach et al., 2001). É definida como piora aguda dos sintomas respiratórios, como dispneia, tosse ou aumento do volume da expectoração, em maior proporção que o habitualmente observado (Snow et al., 2001). As exacerbações podem ser acompanhadas de rinorreia, odinalgia, febre e opressão torácica. Pacientes com DPOC apresentam, em média, 1 exacerbação importante por ano, que pode levar a deterioração permanente da função pulmonar, e algumas exacerbações de menor magnitude, que não requerem intervenção terapêutica. As hospitalizações pelas exacerbações consomem mais de metade dos recursos dispensados com a DPOC. As infecções respiratórias são consideradas as principais causas de exacerbações (aproximadamente 70%), embora os microrganismos comumente implicados possam ser identificados no escarro mesmo durante os períodos de estabilidade clínica. Os vírus rinovirus, influenza, parainfluenza e vírus sincicial respiratório, e bactérias como Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrhalis são comumente implicados nas exacerbações. Poluição atmosférica por partículas de diesel, dióxido de enxofre, ozônio e dióxido de nitrogênio, embolia pulmonar, isquemia miocárdica, insuficiência cardíaca e broncoaspiração estão associados com maior incidência de hospitalizações. A avaliação e o manuseio das exacerbações dependem da gravidade. Uma telerradiografia de tórax deve ser realizada em pacientes com exacerbações mais importantes, para afastar a possibilidade de pneumonia, pneumotórax ou insuficiência ventricular esquerda. Se existir suspeição de embolia pulmonar, a angiotomografia de tórax torna-se necessária. A gasometria do sangue arterial deve ser realizada na suspeita de hipercapnia. Durante os surtos de influenza A e B, testes rápidos estão disponíveis para o diagnóstico. Culturas de escarro não são rotineiramente recomendadas, uma vez que não direcionam o tratamento antimicrobiano. O ecocardiograma e a dosagem sérica do peptídio natriurético do tipo B (BNP) ou pró-BNP podem ser úteis para distinguir a exacerbação da DPOC da insuficiência ventricular esquerda, patologias que dividem sinais e sintomas comuns. A indicação de hospitalização deve considerar a intensidade da dispneia, o uso de musculatura acessória da respiração, a estabilidade hemodinâmica, a gasometria do sangue arterial e o nível de consciência. Antibioticoterapia é geralmente iniciada nas exacerbações moderada a graves, em pacientes que necessitam hospitalização. A corticoterapia sistêmica pode melhorar a função pulmonar, reduzir a permanência hospitalar e prevenir a recaída. Prednisona em dose de 40 mg/dia durante 5 dias geralmente é utilizada. O uso de broncodilatadores de curta ação (beta- agonistas ou anticolinérgicos) é recomendado a estes pacientes durante a exacerbação. A oxigenoterapia, geralmente por cânula nasal em fluxo de 2 a 3 ℓ por minuto, visa manter a saturação arterial de oxigênio entre 90 e 92%. Pacientes com hipercapnia crônica devem ser monitorados, uma vez que mesmo doses modestas de oxigênio podem elevar a PaCO2 em 5 a 10 mmHg. A aplicação da ventilação não invasiva através de máscara nasal ou facial em pacientes com insuficiência respiratória aguda está associada a menor taxa de intubação, menor tempo de hospitalização e menor taxa de mortalidade nestes pacientes. A 8 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS ventilação mecânica está indicada nos pacientes que não respondem adequadamente, apresentam contraindicação ou não toleram a VNI. Mucolíticos (Poole et al., 2012), técnicas mecânicas para toilette brônquica, sulfato de magnésio inalatório (Edwards et al., 2013) ou intravenoso, ou metilxantinas e N-acetilcisteína não apresentam comprovada eficácia no manuseio das exacerbações da DPOC Pacientes com DPOC podem necessitar de suporte ventilatório não invasivoou invasivo com a evolução da doença. As questões relacionadas aos cuidados no fim de vida devem envolver o paciente e seus familiares ou responsáveis. Nos pacientes em que esta modalidade não é aceita, estratégias farmacológicas para diminuir a sensação de dispneia podem ser utilizadas: opiáceos, como a morfina (Rocker et al., 2009), e benzodiazepínicos de curta ação (p. ex., lorazepam) podem ser utilizados para proporcionar conforto até o momento da morte (Qaseem et al., 2008). Para reduzir o volume da secreção brônquica, anticolinérgicos, como o glicopirrolato, podem ser prescritos. Imobilidade é definida como a supressão de todos os movimentos de uma ou mais articulações devido à diminuição das funções motoras, impedindo a mudança de posição corporal. Síndrome da imobilidade (SI) é definida como o conjunto de sinais e sintomas resultantes da supressão de todos os movimentos articulares, que prejudica a mudança postural, compromete a independência e, por fim, leva a incapacidade, fragilidade e morte. É de grande importância o reconhecimento de fatores de risco para o surgimento de SI, a fim de preveni-la, já que, uma vez instalada, é irreversível. A SI, apesar de muito usada entre os geriatras, é, na realidade, pouco conhecida e entendida por médicos de outras especialidades. Até mesmo na literatura especializada, nacional ou estrangeira, essa denominação não é encontrada, havendo referência específica apenas no livro de Pietro de Nicola. Trabalhos científicos publicados também não adotam essa terminologia, sendo encontradas referências tais como imobilidade, repouso prolongado no leito (bed rest) e síndrome do desuso – definida como deterioração dos sistemas corporais secundários à inatividade musculoesquelética. O pouco que se sabe da SI é proveniente do conhecimento da medicina espacial, na qual se estuda o efeito da falta de gravidade sobre o corpo humano e a influência dessa ausência em várias funções orgânicas. Na posição supina prolongada, a força da gravidade sobre nosso corpo é menor e daí surgem a perda óssea, muscular etc. Percebe-se que a SI, apesar de muito citada e estar presente em muitos idosos, parece não estar definida com clareza na literatura ou no meio médico em geral, o que torna difícil avaliar sua prevalência em asilos, hospitais ou na comunidade, assim como caracterizar o paciente que a apresenta. Em face dessas dificuldades, tornam-se necessárias algumas definições para estabelecimento da síndrome especificando seus critérios para depois apontar suas causas e características: Síndrome: conjunto ou complexo de sinais e sintomas que ocorrem ao mesmo tempo, que individualizam uma entidade mórbida e podem ter mais de uma etiologia Imobilidade: ato ou efeito resultante da supressão de todos os movimentos de uma ou mais articulações em decorrência da diminuição das funções motoras, impedindo a mudança de posição ou translocação corporal Síndrome de imobilização: complexo de sinais e sintomas resultantes da supressão de todos os movimentos articulares, que, por conseguinte, prejudica a mudança postural, compromete a independência, leva à incapacidade, à fragilidade e à morte. Não podemos dizer que todo paciente confinado no leito tenha SI. Existe uma classificação temporal que denomina de “repouso” a permanência no leito de 7 a 10 dias; “imobilização de 10 a 15 dias” e “decúbito de longa duração – mais de 15 dias”. Para caracterizar a SI, devemos usar critérios que nos orientem para fazer um diagnóstico específico da síndrome e que tenham características próprias. O critério maior seria déficit cognitivo médio a grave e múltiplas contraturas. No critério menor consideramos sinais de sofrimento cutâneo ou úlcera de decúbito, disfagia leve a grave, dupla incontinência e afasia. Define-se um paciente com SI quando ele tem as características do critério maior e pelo menos duas do critério menor 9 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Os indivíduos que chegam à SI, são, em geral, idosos fragilizados que, por necessidade, internam-se em hospitais ou vivem em instituição onde o ambiente não familiar, o repouso prolongado e forçado, a desnutrição, a iatrogenia e a comorbidade transformam o ancião em um ser dependente. Por vezes, curase a doença de base, mas sua independência e mobilidade estão irremediavelmente comprometidas. Uma variedade de “síndromes geriátricas” (complexos de problemas médicos com causas múltiplas) está associada a declínio funcional, sendo que 25 a 50% dos idosos perdem sua independência física, ficando confinados ao leito após tratamento hospitalar prolongado (Carla et al., 2011). Não há dados específicos da prevalência da SI, mas, baseando-se no número de idosos que se tornam incapacitados e perdem sua independência, conclui-se que a prevalência seja alta. Esses idosos necessitam de dieta especial por sonda, usam antibióticos de última geração para tratamento de infecção do trato urinário (ITU), pneumonias e úlceras e requerem curativos especiais, o que eleva sobremaneira os custos de manutenção. Estudos controlados mostram alta taxa de mortalidade entre os idosos imobilizados no leito – em torno de 50% (Carla et al., 2011). A causa mortis é quase sempre devido à falência múltipla de órgãos, mas, por vezes, uma causa específica pode ser encontrada, sendo a pneumonia, a embolia pulmonar e a septcemia as mais comuns. Diversas são as patologias que levam o idoso à imobilidade, as quais podem evoluir para a SI (Laksmi et al., 2008). É necessário conhecê-las para estabelecer o tratamento adequado e prevenção de suas complicações (Figura 96.1). O resultado de todos esses problemas seria, em última instância, equilíbrio precário, quedas, limitação da marcha, perda da independência, imobilidade no leito e, finalmente, suas complicações – a SI. Independentemente da causa da imobilidade, mesmo por curtos períodos de tempo, a imobilização resulta em modificações para pior dos sistemas cardiovascular, osteomuscular, respiratório e do metabolismo. O estado psíquico também pode se ressentir do imobilismo, sendo frequentes depressão, apatia, déficit cognitivo e ansiedade. Na prática, não se observa uma linha divisória nítida entre imobilidade e SI, mas sim um largo espectro que iria de casos leves até os mais graves. Os principais fatores de risco são: idade avançada, iatrogenia, síndrome da fragilidade, várias internações, diversas comorbidades, institucionalização e repouso prolongado no leito. Por ser um quadro irreversível que acarreta profundo sofrimento para o paciente e seus familiares, é fundamental priorizar medidas que promovam conforto físico, psíquico, 10 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS espiritual e social, objetivando-se melhorar o máximo possível a qualidade de vida desses pacientes. Devem-se priorizar qualidade e dignidade da vida, não o prolongamento dela. O repouso no leito foi reconhecido como modalidade terapêutica a partir do século 19 a fim de poupar os “humores ou energia” para restabelecimento da doença, a qual esgotaria a energia corporal (com base na teoria hipocrática dos humores e calor intrínseco). A partir disso, esse procedimento passou a ser adotado de modo abusivo para todos os processos mórbidos. Após a Segunda Guerra Mundial, tal conduta tem sofrido mudanças, tais como mobilização precoce no pós-operatório, reabilitação para doenças cardiorrespiratórias etc. Não ter atividade física, seja por falta de iniciativa ou desejo, por imposição dos cuidadores, por monotonia do ambiente ou por doenças físicas ou psiquiátricas, induz o indivíduo a um descondicionamento global, levando ao agravo de sua condição física, cognitiva e emocional. Ao contrário, priorizar e valorizar atividades regulares e orientadasproduziria ganho de força e resistência, melhor condicionamento cardiorrespiratório e bem- estar psíquico. Como o envelhecimento, infelizmente para os idosos, é uma fase de maior fragilidade e dependência, o repouso ou confinamento no leito passou a ser, de maneira errônea, uma prática ou conduta universal que prevalece ainda hoje, seja na comunidade ou na instituição. O que se vê, então, são idosos capazes e fisicamente estáveis passarem dias sem sair do leito. Isso acontece porque os cuidadores impedem que o paciente permaneça útil e ativo, induzindo-o ao repouso prolongado, sendo esse o ponto de partida para a mudança de comportamento e má qualidade de vida, com rápido e grave desgaste. Após essa fase, tirálos do leito torna-se difícil, pois eles choram, gritam e agridem diante de qualquer tentativa. Foi descrita recentemente a síndrome de desadaptação psicomotora (PDS), a qual se caracteriza por desequilíbrio para trás (backward), seja na posição sentada ou de pé, hipertonia reacional, alterações na reação postural, modificação na marcha e medo de cair. Na realidade, essa síndrome assemelha- se à que Barnard Isaacs, geriatra inglês, chamou, na década de 1980, de síndrome post-fall. A PDS pode ser resultado da perda de mecanismo de reserva postural, atingindo um limiar que impede o indivíduo de manter um nível funcional adequado. Sabe-se que a PDS pode ser desencadeada por vários fatores, tais como demências, quedas e imobilidade prolongada no leito. Os critérios para o diagnóstico de SI dividem-se em maiores e menores. A presença de dois critérios maiores e dois menores confirmam o diagnóstico (Tabela 24.1). A imobilidade prolongada leva à deterioração funcional progressiva dos vários sistemas, muito além da senescência normal, chegando-se mais tarde à síndrome de imobilização. Na Figura 96.2 estão os sistemas atingidos pela síndrome e quais as modificações por eles sofridas. Serão descritas a seguir algumas dessas alterações. 11 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Sistema tegumentar Micoses São facilitadas pela umidade constante na superfície corporal, fato comum em acamados, pois suor, urina e restos de alimentos acumulam-se, principalmente se o colchão for revestido de material não poroso e a higiene for precária. Eritrasma, micose causada pela Nocardia minutissima, atinge regiões úmidas e intertriginosas (axila, mamária e inguinal). Infecção por cândida é problema também em áreas de dobras ou pregas. As micoses são porta de entrada para importantes infecções bacterianas e estão presentes, com frequência, em diabéticos. Higiene, bom estado nutricional, exposição ao sol, uso de roupa de material poroso (evitar tecidos sintéticos e fraldas), temperatura ambiente agradável, controle glicêmico e o não uso de colchão com superfície plástica são medidas preventivas de micoses. Xerose Nome dado ao ressecamento da pele, causado pela diminuição das glândulas sudoríparas, que causa prurido e descamação. O uso de sabões, banhos de imersão, banhos quentes e demorados pioram o problema. Deve-se, por isso, evitar esses fatores precipitantes, usar hidratante para pele e induzir a ingestão de líquidos. Laceração O constante atrito sobre o leito associado à pouca elasticidade da pele, à falta de tecido de sustentação e à xerose acabam produzindo lacerações na pele, principalmente braços e pernas. Jamais mobilizar o paciente pelo antebraço ou contê-lo com faixas de crepe diretamente nos punhos. Dermatite amoniacal Lesão muito frequente devido ao contato da pele com a urina. O uso de fraldas geriátricas pode até agravar o problema, pois, por serem revestidas de plástico, criam um meio próprio (umidade e calor) para a proliferação de bactérias que desdobram a ureia em amônia. Por essa razão, para homens, dá-se preferência ao uso de coletor. Nas mulheres que usam fraldas, deve-se dar banho ao trocá-las, não permitindo que fiquem molhadas de urina. Úlcera de decúbito O fator desencadeante da UD é, em última instância, a compressão por mais de duas horas de uma área tecidual restrita, que, por sua vez, produz pressão e colabamento (isquemia) dos vasos sanguíneos. Uma úlcera surge em poucas horas, mas necessita de meses para cicatrizar, sendo que o paciente tem 50% de chances de morrer em 4 meses. As úlceras surgem de dentro para fora, ou seja, dos tecidos adjacentes às proeminências ósseas, estendendo-se para a superfície até exteriorizarem-se na epiderme, recebendo graduação I, quando existe apenas hiperemia, a qual não empalidece ao ser comprimida, até o grau IV, em caso de necrose de músculos, ligamentos, tendões e pele. A isquemia produz anoxia, morte celular e reação inflamatória em cadeia, resultando em necrose tecidual. Desnutrição, desidratação, má higiene, anemia, obesidade, sedação excessiva, doença cardiorrespiratória, hipoalbuminemia, predisposição individual, doenças crônicas, colchão inadequado, perda de sensibilidade dolorosa, falta de mobilidade e diminuída captação de oxigênio pelos tecidos são elementos que contribuem para sua formação. A melhor prevenção é a correção de todos os fatores citados, além de proteção para as proeminências ósseas, posicionamento no leito, mobilização de 2 em 2 h (mesmo à noite) e assentar o paciente o maior tempo possível. Em termos de colchão, o mais adequado é o “pneumático”, com insuflação intermitente, sendo o colchão tipo “caixa de ovo” pouco eficaz. Equimoses São frequentes nesses pacientes e representam a grande fragilidade capilar associada à falta de tecido de sustentação para os vasos sanguíneos. O uso de anticoagulante e traumas contribuem para o seu aparecimento. Deve-se manipular esses pacientes com cautela, usando-se bandagens para proteção dos membros. Sistema Osteoarticular Alterações articulares Na imobilidade, uma série de alterações mecânicas e físico- químicas ocorre nas articulações, levando à contratura. Com a falta de mobilidade, o líquido sinovial e seus nutrientes deixam de fluir na cartilagem intra-articular por ausência do efeito de 12 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS bomba, responsável por sua difusão. Devido aos processos neuromusculares primários que levam à flexão das articulações, principalmente de quadril, joelhos, punhos e cotovelo, surgem, com o passar do tempo, as contraturas, que podem ser definidas como a “limitação da amplitude do movimento articular a ponto de impedir um desempenho normal de sua função”. Uma articulação contraturada é caracterizada por ter menor fluidez e nutrientes no líquido sinovial com proliferação do tecido conectivo fibroso e gorduroso (fibroblastos, adipócitos e matriz extracelular). Esse conjunto de modificações é chamado pannus, o qual é responsável pela aderência intra-articular. O tecido conectivo frouxo torna-se denso e fibroso, com elasticidade diminuída. A sinóvia torna-se fibrosa, retrátil, espessada e hiperemiada. A cartilagem sofre degeneração, pois os condrócitos apresentam sistema de retículo endoplasmático degenerado, edema das mitocôndrias, aumento de lisossomos, perda das organelas, modificação da forma celular e invasão de gotículas gordurosas que ocupam o citoplasma. Com apenas 2 semanas de imobilização, surgem reabsorção óssea e cartilaginosa com cistos ósseos subcondrais (artrofibrose), principalmente pela falta de sobrecarga articular. O tecido conectivo periarticular hipertrofia-se, produzindo uma fibrose que, associada às modificações musculares, leva a contraturas e anquilose. Flexão de joelhos, quadril e cotovelos é característica comum a todos os pacientes com SI. Contraturas devem ser prevenidas com movimento ativo e passivo da articulação (cinesioterapia) e posicionamento no leito com coxins, almofadas, pranchas ou órtesespara alongamento. Osteoporose A imobilidade produz intensa e rápida perda de massa óssea (em torno de 0,9% da massa óssea total/semana, com pico máximo entre o quarto e o sexto mês, quando se estabiliza), podendo ser medida pelo aumento da calciúria e hidroxiprolina urinária, a qual é um marcador de reabsorção óssea (atividade osteoclástica). A perda de cálcio é de 0,4 a 0,7% de cálcio orgânico total/mês de imobilidade no leito. A perda de massa óssea relaciona-se com aumento de reabsorção do osso trabecular e diminuição em sua formação, sugerindo-se que 30% da perda óssea sejam resultantes de absorção aumentada e 70% resultantes da formação diminuída. Essa perda é proporcionada pela falta de atividade muscular e pela falta de sustentação de peso corporal do paciente acamado, pouca ingestão de cálcio e falta de exposição solar. A hipercalciúria pode ser diminuída se o paciente ficar em ortostatismo pelo menos três horas/dia. Essa posição desencadeia o estresse ósseo, elemento essencial para o turnover desse tecido. Para isso, coloca-se o paciente em uma mesa de ortostatismo (prancha que se inclina até a posição vertical com o paciente contido) ou, se possível, em barras peralelas. A posição assentada não causa esse efeito. Além da osteoporose, osteomalacia pode ser também encontrada, já que esse paciente, sendo raramente exposto ao sol, tem síntese diminuída de vitamina D. Outras causas seriam má absorção e baixa ingestão de vitamina D e disfunções renal e hepática. Vale lembrar que a perda óssea, segundo alguns estudos, é da faixa de 1% do seu total por semana, percentual esse bem menor que a perda muscular. Sistema muscular A restrição de pacientes idosos saudáveis ao seu leito leva a atrofia muscular importante já nos primeiros 10 dias (Kortebein et al., 2008). Na imobilidade, esse processo é mais intenso e acelerado, pois alteram-se a estrutura e a função do sistema neuromuscular, a transmissão do potencial de ação, as fibras musculares e os elementos do tecido conjuntivo. Tais mudanças resultam em atrofia muscular, perda de força, encurtamento de fibras e perda de sarcômeros. O aumento de tecido conjuntivo forma uma barreira para os capilares, que deveriam suprir as fibras musculares, prejudicando assim o aporte de nutrientes e de oxigênio. Observa-se na imobilidade perda mais acentuada de massa muscular na coxa do que nos membros superiores (MMSS). Com 6 semanas de inatividade, a força muscular dos membros inferiores (MMII) declina 20% e a dos MMSS 10%, havendo estudos mostrando perda diária de 1 a 1,5% da força total, ou seja, quase 10% por semana. Esse declínio acentuado na força muscular resulta em perda de torque (força utilizada para sair da imobilidade) e prejuízo da coordenação motora. Acredita-se que a atrofia e a perda de força sejam decorrentes da ausência das unidades motoras excitáveis, já que o potencial de ação dessas unidades libera substâncias tróficas para o 13 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS músculo. A perda do estímulo nervoso causa também alteração da disposição de actina e miosina, o que desencadeia a indesejável contratura muscular. Uma série de funções metabólicas das fibras musculares estão alteradas, entre elas redução da síntese proteica e aumento de sua degradação, menor respiração celular e menor consumo de oxigênio, diminuída produção de energia e menor síntese de glicogênio. O aumento da atividade da creatinoquinase (CK) plasmática é sinal de dano muscular. Assim, é a incapacidade dos aminoácidos usados na dieta em sintetizar proteínas o principal mecanismo do catabolismo proteico do repouso. Isso sugere que um aporte muito maior de proteínas e aminoácidos deve ser dado a uma pessoa em repouso prolongado para que ela possa ter um mesmo nível de anabolismo de uma pessoa em atividade. Sistema cardiovascular Trombose venosa profunda Na SI, a posição supina, a contratura dos MMII (quadril e joelho) e a ausência do efeito de bomba da musculatura da panturrilha predispõem à estase venosa profunda. Associadas a isso, comorbidades, como o acidente vascular encefálico (AVE), neoplasias, insuficiência cardíaca congestiva (ICC), infarto agudo do miocárdio (IAM), fraturas e infecções, são coadjuvantes nessa complicação. A somatória de todos esses fatores faz com que a TVP tenha uma incidência de 15% em idosos internados A consequência mais temida de TVP é a embolia pulmonar, sendo ela responsável por 20% de todas as causas de morte do paciente acamado. A fonte de origem dos êmbolos seriam as veias ilíacas, femorais e da panturrilha. A manifestação clínica é variável, podendo ser assintomática e inespecífica ou apresentar-se com dispneia e taquipneia, tosse, além de taquicardia, cianose, broncospasmo, hipotensão, sudorese, febre, choque, escarro hematoptoico etc. Isquemia arterial aguda dos membros inferiores A isquemia arterial na imobilização é causada por obstrução ateromatosa da artéria, a qual pode estar comprometida pela idade avançada, diabetes melito, dislipidemia, hipertensão arterial, tabagismo etc. Frequentemente também a isquemia pode ser por embolia proveniente de fibrilação atrial, IAM, aneurismas de aorta etc. Como visto anteriormente, na SI ocorre, com frequência, contratura do quadril (a face anterior da coxa encosta no abdome e no tronco) e do joelho (a panturrilha apoia-se na face posterior da coxa), o que causa estrangulamento do lúmen arterial nesses locais e formação de trombo, levando finalmente à isquemia do membro. Médicos devem alertar o cuidador ou a enfermagem para não permitir que o paciente fique no leito com o quadril e joelho fletido em ângulo menor do que 20°, pois isso impede quase que completamente a circulação arterial. Deve-se tentar posicionar essas articulações em ângulo mais aberto. Hipotensão postural Considera-se hipotensão postural quando existe uma queda da pressão arterial sistólica (PAS) > 20 mmHg e pressão arterial diastólica (PAD) > 10 mmHg em posição ortostática, podendo ocorrer em períodos curtos de imobilidade, como 72 h (Saltin et al., 1968; Convertino, 1997). Observa-se a hipotensão postural (HP) em 20 a 30% dos idosos, sendo que essa frequência é mais elevada em pacientes fragilizados. Na SI, a posição supina prolongada faz com que os barorreceptores percam sensibilidade, além das modificações naturais do envelhecimento (rigidez das paredes arteriais, baixa resposta dos receptores adrenérgicos). Assim, respostas como aumento da frequência cardíaca, vasoconstrição arterial e constrição dos vasos de capacitância para elevar o débito cardíaco não ocorrem, causando má perfusão cerebral e síncope. Sistema urinário Incontinencia urinária Na SI, podemos observar que praticamente todos os pacientes são incontinentes, já que são portadores de quadro demencial avançado, têm dificuldade de comunicação, não deambulam, são portadores de infecção urinária crônica, usam diversos fármacos e são fragilizados. Isso está de acordo com trabalhos que correlacionam a incontinência urinária (IU) com a condição clínica do paciente e as doenças de base (Alzheimer, Parkinson, demência etc.) e suas incapacidades. 14 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Além disso, esses pacientes, antes de desenvolverem a SI, passaram um longo período confinados em cadeiras ou mesmo no leito, adquirindo, então, a IU. Essa complicação é grave, pois facilita o aparecimento de lesões dermatológicas (dermatite amoniacal, úlceras, micoses, infecções da pele etc.), além de dificultar as condições higiênicas do paciente e do seu ambiente. Além da IU, retenção urinária (bexigoma) é observada com frequência na SI, sendo causada por hipertrofia prostática, fecaloma, uso de diuréticos e fármacos com ação anticolinérgica. A apresentaçãoclínica de um bexigoma pode ser um quadro súbito de delirium, já que dor suprapúbica pode não ser expressa pelo paciente. Associado a isso, eliminação ou extravasamento involuntário de urina faz com que esse diagnóstico passe despercebido ITUs A infecção do trato urinário (ITU) tem prevalência de 20% entre os idosos, e no paciente imobilizado, incidência de 40%, sendo essa infecção mais comum nos idosos institucionalizados. A pielonefrite tem prevalência de 10 a 30% nas necropsias desses pacientes. Tanto a ITU alta com comprometimento renal quanto a baixa podem ter graves consequências. A ITU é causada por via ascendente, mas quando há outros focos, como úlceras, pode ser hematogênica. Os fatores predisponentes à ITU na SI são incontinência urinária, uso de fraldas geriátricas, obstrução uretral, pouca ingestão de líquidos, internação hospitalar, diminuição da IgA na parede vesical, hipoestrogenismo, diminuída capacidade renal para acidificar urina e manter a osmolaridade. O uso de sonda vesical de demora tem prevalência de cerca de 8% nos idosos imobilizados, sendo um importante fator para ITU. Sistema digestório Desnutrição Um dos critérios usados para identificar a SI é a desnutrição, o que demonstra sua alta incidência nesses pacientes. Enquanto 14% dos idosos normais maiores de 80 anos são desnutridos na comunidade, naqueles com SI essa condição está presente em 90% deles. A desnutrição proteico-calórica associada à deficiência de oligoelementos, minerais (Ca, Fe, Zn) e vitaminas leva a um estado de caquexia, resultando em alto índice de morbidade e mortalidade. Juntando-se a isso, temos pouca oferta e aceitação de líquidos (o idoso tem menor sensação de sede), causando desidratação crônica. Na imobilidade, há aumento na eliminação urinária e fecal de Ca, P, Zn, N etc. O que se percebe na SI é que os cuidadores não se dão conta do quão pouco esses indivíduos se alimentam e, quando procuram orientação, já se instalou a caquexia. Existe resistência por parte dos cuidadores, talvez por motivo sentimental e/ou técnico, ao uso de sonda para alimentação. Até mesmo os médicos responsáveis por esses pacientes, em geral, avaliam mal o problema e não se preocupam muito com a questão alimentar. Constipação intestinal Por definição, constipação intestinal é a eliminação de fezes endurecidas, em uma frequência menor do que três vezes na semana e com volume abaixo do habitual. Frequentemente encontrada na SI, acarreta grande sofrimento ao idoso acamado devido às formações de fezes endurecidas e impactadas no sigmoide e no reto, evoluindo para o que chamamos de “fecaloma”. Disfagia Característica presente em quase todos os pacientes de SI, a disfagia antecede a síndrome, sendo o resultado de déficits neurológicos importantes. Aos poucos, o paciente vai perdendo sua capacidade de trabalhar o alimento dentro da cavidade oral, impulsioná-lo com a língua para a orofaringe e produzir o reflexo voluntário para deglutição. Recusa voluntária de alimentos também é frequente. Com isso, o paciente ingere cada vez menos nutrientes e líquidos, atingindo, finalmente, o estado de caquexia. Outra complicação que pode ser letal é a pneumonia aspirativa, caracterizada por aspiração de alimento e secreção para o pulmão. A disfagia pode ser trabalhada pelo fonoaudiólogo, mas, devido aos graves déficits neurológicos e cognitivos, costuma não haver boa resposta, sendo necessário sonda nasoentérica (SNE) ou gastrostomia. Sistema respiratório Na posição supina prolongada, uma série de modificações ocorre na dinâmica respiratória (MartinDupan e Benoit, 2004). A amplitude de movimento do diafragma está diminuída assim como a expansibilidade torácica. Isso ocorre pela fraqueza das musculaturas intercostal e abdominal, além das modificações nas articulações costocondrais. O acúmulo de gazes e fezes nas 15 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS alças intestinais empurra o diafragma para cima e comprime as bases pulmonares. A pneumonia é a principal causa de morte em idosos acamados, sendo que estudos em hospitais mostram taxa de mortalidade de até 25% para maiores de 70 anos. Cerca de 50% dos mortos, por outros motivos, mostram à necropsia algum grau de acometimento pulmonar. As causas de pneumonia são várias e referem-se à modificação senescente do AR, assim como alterações resultantes de processos patológicos crônicos. O reflexo de tosse é seis vezes menor do que no adulto. A capacidade elástica do pulmão está diminuída devido à degeneração do colágeno e da elastina, que se transforma em pseudoelastina. Os alvéolos tornam-se rasos e com superfície menor. Assim a área total dos alvéolos e a expansibilidade destes estão diminuídas. Observa-se também redução dos capilares e dos macrófagos alveolares. O volume corrente (tital volume) que, em ortostatismo, é mantido pelos arcos intercostais, passa a ser exercido pela musculatura abdominal, mas com pouca eficácia. Essas modificações causam fechamento das unidades respiratórias, que serão alagadas pelo filme mucoso, causando atelectasia, resultando em diminuída capacidade residual e funcional. Metabolismo A eliminação urinária de nitrogênio (N) aumenta rapidamente, podendo-se chegar a 2,0 mg/dia. Esse fato contribui para a hipoalbuminemia. Na posição supina, a secreção de hormônio antidiurético (HAD) está diminuída e, assim, elimina-se maior volume urinário, contribuindo para a desidratação e para a perda de peso. O cortisol plasmático pode estar aumentado, ao contrário dos andrógenos que estão diminuídos, sendo ambas as situações facilitadoras do catabolismo. O metabolismo, em geral, é 20% menor que o normal. A resistência à insulina está aumentada, o que provoca intolerância ao carboidrato e piora nos níveis glicêmicos (Weber-Carstens et al., 2013). Esse fato ocorre pela queda da concentração intramuscular do transportador de glicose do tipo GLUT 4 (Tabata et al., 1999). Elementos como Na + , Ca + , Mg + , K+ , S + são menos aproveitados e, por isso, mais eliminados nas fezes e na urina. O sistema de classificação das úlceras por pressão é utilizado para ajudar a descrever a extensão dos danos na pele e nos tecidos que se apresentam sob a forma de úlcera por pressão. Categoria I Pele intacta com eritema não branqueável de uma área localizada (Figura 120.2), normalmente sobre uma proeminência óssea; descoloração da pele, calor, edema, tumefação ou dor podem também estar presentes. Em pele escura pigmentada pode não ser visível o branqueamento. A área pode ser dolorosa, firme, suave, mais quente ou mais fria comparativamente com o tecido adjacente. A categoria I pode ser difícil de identificar em indivíduos com tons de pele escuros. Pode ser indicativo de pessoas “em risco” Categoria II Perda parcial da espessura da derme que se apresenta como uma ferida superficial (rasa) com leito vermelho-rosado sem crosta. Pode também apresentar-se como flictema fechado ou aberto preenchido por líquido seroso ou sero-hemático (Figura 120.3). Apresenta-se como uma úlcera brilhante (Figura 120.4) ou seca, sem crosta ou equimose. Esta categoria não deve ser usada para descrever fissuras da pele, queimaduras por fita adesiva, dermatite associada a incontinência, maceração ou escoriação Categoria III Perda total da espessura tecidual (Figura 120.5). Pode ser visível o tecido adiposo subcutâneo, mas não estão expostos os ossos, tendões ou músculos. Pode estar presente algum tecido desvitalizado (esfacelo). Pode incluir descolamento e túneis. A profundidade de uma úlcera de categoria III varia com a localização anatômica. A asa do nariz, as orelhas, a região occipital e os maléolos não têm tecido subcutâneo (adiposo), e uma úlcera de categoria III pode ser superficial. Em contrapartida,em zonas com tecido adiposo abundante podem se desenvolver úlceras de pressão de categoria III extremamente profundas. Os ossos/tendões não são visíveis ou diretamente palpáveis 16 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Categoria IV Perda total da espessura dos tecidos com exposição óssea dos tendões ou músculos (Figura 120.6). Pode estar presente tecido desvitalizado (esfacelo) e/ou necrótico. Frequentemente inclui descolamento e túneis. A profundidade de uma úlcera de pressão de categoria IV varia com a localização anatômica. A asa do nariz, as orelhas, a região occipital e os maléolos não têm tecido subcutâneo (adiposo), e estas úlceras podem ser rasas (superficiais). Uma úlcera de categoria IV pode atingir as estruturas de suporte (p. ex., fáscia, tendão ou cápsula articular) tornando a osteomielite e a osteíte prováveis de acontecer. Existe osso/músculo exposto visível ou diretamente palpável Não graduáveis Perda total da espessura dos tecidos na qual a profundidade base da úlcera está coberta por tecido necrótico (amarelo, acastanhado, cinza, esverdeado ou castanho) e/ou escara (acastanhado, castanho ou preto) no leito da ferida (Figura 120.7), até que seja removido tecido necrótico suficiente para expor a base da ferida, a verdadeira profundidade não pode ser determinada, mas é, no entanto, uma úlcera de categoria III ou IV. Nos calcâneos, uma escara estável (seca, aderente, intacta e sem eritema ou flutuação) serve como cobertura natural (biológica) corporal e não deve ser removida. As úlceras por pressão podem ser ocasionadas por fatores extrínsecos e intrínsecos Fatores extrínsecos Pressão A pressão do fechamento capilar é de aproximadamente 32 mmHg para as arteríolas e 12 mmHg para as vênulas. Quando a pressão aplicada externamente excede 32 mmHg prejudica o fluxo sanguíneo para área e, com a pressão não aliviada, a isquemia tecidual ocorre e resíduos metabólicos acumulam-se no tecido intersticial, levando à anoxia tissular e à morte celular. É importante correlacionar a intensidade da pressão com a duração da pressão. Existe um relacionamento inverso entre a duração e a intensidade da pressão para aparecimento da isquemia tecidual. Os danos podem ocorrer com: pressão de baixa intensidade durante longo período de tempo e pressão de intensidade elevada durante curto período de tempo Ficção Originada pela força de duas superfícies, esfregando-se uma na outra. Sua capacidade de danos está restrita à epiderme e à derme, resultando em abrasão e aparecimento de bolhas. A fricção geralmente ocorre em pacientes agitados ou em transferências mal executadas. A umidade piora o efeito da fricção Cisalhamento Resultante da combinação da gravidade e fricção. Exerce uma força paralela à pele; a gravidade empurra o corpo para baixo, mas a pele resiste ao movimento devido à fricção entre o paciente e a superfície de suporte, provocando danos aos tecidos mais profundos. A força gerada é suficiente para obstruir, lacerar ou estirar os vasos sanguíneos. Isto ocorre em consequência da movimentação ou posicionamento incorreto, quando a cabeceira da cama é elevada acima de 30° ou na posição sentada. Pesquisas indicam que as forças de cisalhamento são responsáveis pela alta incidência de úlcera por pressão Umidade A umidade altera a resistência da epiderme para forças externas, tornando os efeitos da fricção mais significativos. É o resultado da incontinência urinária e/ou fecal, sudorese, banho e drenagem de feridas Fatores intrínsecos Idade avançada Muitas alterações ocorrem com o envelhecimento, como: achatamento da junção entre derme e epiderme, menor troca de nutrientes, menor resistência à força de cisalhamento, diminuição da capacidade de redistribuir a carga mecânica da pressão hipotensão/perfusão sanguínea Está associada a isquemia tecidual; com baixa pressão arterial o corpo desvia o sangue do sistema vascular periférico em direção aos órgãos vitais. Nível de pressão diastólica abaixo ou igual a 60 mmHg indica um paciente em alto risco para desenvolver úlcera por pressão 17 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS Imobilidade A mobilidade diminuída compromete a capacidade do paciente de se mover em resposta à pressão, predispondo ao cisalhamento e à fricção no momento da transferência. Outro fator importante são as cirurgias prolongadas nas quais o paciente permanece um grande período imóvel em superfície rígida e no pós-operatório imediato, em que a mobilidade fica reduzida pelos efeitos da anestesia, da dor, da analgesia Peso A diminuição da massa corporal expõe as proeminências ósseas, deixando-as vulneráveis à pressão. Por outro lado, os pacientes obesos são mais difíceis de mobilizar, o que aumenta os riscos das forças de cisalhamento e de fricção. Outro fator importante é que o tecido adiposo é pouco vascularizado e não é elástico, tornando-se mais frágil à pressão e propenso a romper Farmacos Sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, antidepressivos, analgésicos opiáceos e antihistamínicos podem causar sonolência excessiva, diminuindo a mobilidade e a percepção sensorial. Alguns medicamentos, como esteroides e quimioterápicos, reduzem a capacidade do organismo de promover a resposta inflamatória adequada. Substâncias vasoativas inotrópicas diminuem a perfusão periférica e aumentam o risco de lesão tissular em áreas predispostas Nutrição A deficiência nutricional está intimamente ligada ao desenvolvimento de úlcera por pressão. As vitaminas A, C e E têm papel importante, pois atuam na síntese do colágeno, na imunidade e na integridade epitelial. O zinco, o cobre e o selênio são benéficos no processo cicatricial por apresentarem propriedades antioxidantes. A hipoalbuminemia altera a pressão oncótica, desencadeando formação de edema, comprometendo a difusão tissular de oxigênio e de nutrientes, o que predispõe à hipoxia e à morte celular. A anemia também afeta o transporte de oxigênio para os fibroblastos, diminuindo a formação do colágeno. A deficiência de proteínas interfere no processo cicatricial, por ser responsável pela revascularização, formação de tecidos e síntese de colágeno Temperatura Ainda não está bem esclarecido, mas pode estar relacionada com o aumento da demanda de oxigênio. A pele pode ficar exposta à maceração devido à sudorese A origem primária das úlceras por pressão parece ser o hospital para cuidados agudos. Entre os pacientes que apresentam úlceras por pressão, 57 a 60% o fazem no hospital para cuidados agudos. A incidência em pacientes hospitalizados varia de 3 a 30%; estimativas comuns variam de 9 a 13%. Uma amostra nacional randomizada de beneficiários do Medicare estimou uma incidência de 4,5% de novas úlceras por pressão adquiridas em hospitais de 2006 a 2007. A incidência é diferente conforme a localização no hospital; pacientes de UTI e de ortopedia estão sob maior risco. Em pacientes com fratura de quadril, 15% desenvolvem úlceras por pressão durante a internação hospitalar e um terço deles desenvolve úlcera por pressão dentro de um mês. As úlceras por pressão se desenvolvem precocemente no curso da hospitalização, em geral na primeira semana. A incidência de úlceras por pressão em clínicas geriátricas é difícil de ser estimada. Após a alta hospitalar, as úlceras por pressão permanecem sendo um problema importante na comunidade. Características associadas com úlceras por pressão incluem saída recente de ambiente de instituição, déficit funcional, incontinência e histórico de úlcera prévia A colonização de feridas crônicas com bactérias é comum e inevitável. Todas as feridas crônicas se tornam colonizadas, geralmente com microrganismos da pele seguidos, após 48 horas, por bactérias gram-negativas. A presença isoladade microrganismos (colonização) não indica infecção nas úlceras por pressão. A fonte primária de infecções bacterianas em feridas crônicas parece ser resultado de superinfecção resultante de contaminação. Assim, a proteção da ferida contra contaminação secundária é um objetivo importante do tratamento. As evidências sugerem que curativos oclusivos protegem contra a infecção clínica, embora a ferida possa estar colonizada por bactérias. É muito raro que curativos oclusivos causem uma infecção clínica. Costuma ser difícil determinar a presença de infecção em úlceras por pressão crônicas. O diagnóstico de infecção em feridas crônicas deve se basear em 18 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS sinais clínicos: aumento de eritema, edema, odor, febre ou exsudato purulento. Quando houver evidência de infecção clínica, há necessidade de antibióticos tópicos ou sistêmicos. O tratamento tópico pode ser útil quando a ferida não evolui bem em direção à cicatrização. Antibióticos sistêmicos estão indicados quando a condição clínica sugere disseminação da infecção para a corrente sanguínea ou ossos. Feridas com perda tecidual extensa criam cavidades que podem ser infectadas com uma probabilidade aumentada de infecção por microrganismos anaeróbios. A obliteração do espaço morto reduz a probabilidade de infecção. Curativos tópicos Os curativos oclusivos podem ser divididos em amplas categorias de filmes de polímeros, espumas de polímeros, hidrogéis, hidrocoloides, alginatos e biomembranas. Cada um deles tem várias vantagens e desvantagens. A escolha de um determinado agente depende das circunstâncias clínicas. Os agentes diferem na facilidade de aplicação. Essa diferença é importante em úlceras por pressão de localizações incomuns ou quando se considera seu uso para cuidados domiciliares. Os curativos devem permanecer no local até que o líquido da ferida esteja vazando pelos lados, um período que varia desde dias a até três semanas. Fatores de crescimento Foi demonstrado que vários fatores de crescimento fazem a mediação do processo de cicatrização, incluindo os fatores α e β de crescimento e transformação, o fator de crescimento epidérmico, o fator de crescimento derivado de plaquetas, o fator de crescimento de fibroblastos, a interleucina 1 e 2 e o fator de necrose tumoral α. A aceleração da cicatrização em feridas crônicas com o uso desses fatores de feridas agudas é atraente. Vários deles tiveram desempenho favorável em estudos com animais; porém, não obtiveram tanto sucesso nos estudos em humanos. Terapias adjuntas As terapias alternativas ou adjuntas incluem terapia elétrica, terapia eletromagnética, terapia com ultrassom, terapia com luz em baixo nível/terapia com laser e fechamento assistido por vácuo. Nenhuma dessas intervenções se mostrou claramente efetiva apesar do uso clínico disseminado Desbridamento Debris necróticos aumentam a possibilidade de infecção bacteriana e retardam a cicatrização da ferida. O método preferido para o desbridamento de úlceras por pressão permanece controverso. As opções incluem o desbridamento mecânico com gazes secas, o desbridamento autolítico com curativos oclusivos, a aplicação de enzimas exógenas ou desbridamento cirúrgico. O desbridamento cirúrgico produz a remoção mais rápida do material necrótico, sendo necessário na presença de infecção. O desbridamento mecânico pode ser facilmente realizado 19 GERIATRIA | TUTORIA | MED UNIT P3 | RAYSSA OLIVEIRA SANTOS permitindo-se que um curativo com gaze embebida em solução salina seque antes de sua remoção. A reumidificação das gazes para tentar reduzir a dor pode causar perda do efeito do desbridamento. O desbridamento enzimático pode dissolver debris necróticos, mas há um debate sobre se ele causa dano aos tecidos sadios. A penetração de agentes enzimáticos é limitada em escaras, exigindo o amolecimento por autólise ou a realização de incisões cruzadas por lâmina antes da aplicação. Terapia cirúrgica O fechamento cirúrgico de úlceras por pressão resulta em resolução mais rápida da ferida. Os principais problemas são a frequente recorrência das úlceras e a incapacidade dos pacientes fragilizados tolerarem o procedimento. A proporção de úlceras por pressão que são adequadas para a cirurgia depende da população de pacientes, mas normalmente apenas uma pequena porcentagem deles são candidatos à cirurgia. Porém, entre grupos selecionados de pacientes, como aqueles com lesão de medula espinal e úlceras por pressão profundas em estágios III ou IV, a cirurgia pode estar indicada na maioria dos casos. Se os fatores que contribuíram para o desenvolvimento da úlcera por pressão não puderem ser corrigidos, a chance de recorrência após a cirurgia é muito alta. Qualidade de cuidados As úlceras por pressão são cada vez mais usadas como indicadores da qualidade dos cuidados. A possibilidade de prevenção de úlcera por pressão permanece algo controverso. Quando medidas preventivas agressivas são aplicadas para se evitar úlceras por pressão, nota-se um “efeito de chão” para a incidência. As úlceras por pressão costumam ocorrer em pacientes com doença terminal, nos quais os objetivos dos cuidados podem não incluir a prevenção de úlceras por pressão. As úlceras por pressão também ocorrem em pacientes gravemente enfermos, como os pacientes de ortopedia ou de UTI, para os quais a necessidade de imobilização pode impedir a mudança de decúbito ou o uso de dispositivos de alívio da pressão. Esforços sistemáticos na educação, aumento da preocupação e intervenções específicas de equipes interdisciplinares de cuidados com feridas sugerem que uma incidência elevada de úlceras por pressão pode ser reduzida. Ao longo do tempo, foram relatadas reduções de 25 a 30%. As reduções podem ser transitórias, instáveis ao longo do tempo, variar conforme mudanças na equipe ou ocorrerem como resultado de variações aleatórias. O desenvolvimento de úlceras por pressão pode ser, mas nem sempre é, uma medida da qualidade de cuidados. Alívio da pressão Os primeiros esforços para a prevenção devem ser a melhora da mobilidade e a redução dos efeitos da pressão, fricção e forças de cisalhamento. O objetivo teórico é reduzir a pressão tecidual abaixo da pressão de fechamento capilar de 32 mmHg. Se o alvo de redução da pressão não for passível de ser obtido, a pressão deve ser aliviada de forma intermitente para permitir tempo para a recuperação tecidual. O método mais usado para reduzir a pressão é a mudança de decúbito e posicionamento frequente. Devido a limitações e custos da mudança de decúbito frequente, foram desenvolvidos vários dispositivos para evitar a lesão por pressão. Os dispositivos podem ser definidos como de alívio da pressão (reduzindo de maneira consistente a pressão para < 32 mmHg) ou de redução da pressão (superfícies de apoio com pressão menor do que o padrão, mas não < 32 mmHg). Devido a limitações e custos da mudança de decúbito frequente, foram desenvolvidos vários dispositivos para evitar a lesão por pressão. Os dispositivos podem ser definidos como de alívio da pressão (reduzindo de maneira consistente a pressão para < 32 mmHg) ou de redução da pressão (superfícies de apoio com pressão menor do que o padrão, mas não < 32 mmHg). Intervenções nutricionais Um dos mais importantes fatores de risco reversíveis para a cicatrização de feridas é o estado nutricional. Entre os pacientes recentemente hospitalizados com úlceras por pressão em estágios III ou IV, a maioria estava abaixo de seu peso corporal habitual, tinha nível baixo de pré-albumina e não estava inerindo nutrição suficiente para suas necessidades. A deficiência de várias vitaminas tem efeitos significativos sobre a cicatrização de feridas. Porém, a suplementação de vitaminas
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