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1. Sistema Único de Saúde: avanços, desafios e impasses. O Sistema Único de Saúde (SUS) prevê uma nova atenção à saúde a partir da concepção que não compreende a saúde apenas como a ausência de doença, mas parte do entendimento e qualidade de vida. A Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988) é marco inicial para criação deste SUS em que um de seus artigos preceitua que a saúde é um direito de todos e dever do Estado (ALMEIDA, ND, 2013). É fundamental que o enfermeiro conheça a política atual da saúde no Brasil e sua evolução e reflexos na saúde, assim como os impasses e desafios enfrentados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no percurso pela sua implementação. A Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988) é marco inicial para criação deste SUS em que um de seus artigos preceitua que a saúde é um direito de todos e dever do Estado. No SUS, as ações de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada segundo a complexidade de atenção, baseada nos princípios da universalidade, integridade e equidade. O SUS, propõe uma mudança profunda no modelo de planejar, organizar e gerir as ações e serviços de saúde. No processo de construção do SUS como política universal e que busca assegurar a integralidade das ações, o equacionamento da atenção à demanda não agendada na rede básica é essencial e constitui um desafio ainda não superado: não-resposta a essa demanda, a rigidez dos programas não-incorporação de forma ágil de novas necessidades em saúde. Esse problema, leva a desnecessária procura da população por unidades de urgência- emergência ou de ambulatórios de especialidades e as unidades básicas perdem sua condição de local onde se privilegiam o vínculo, a coordenação e continuidade dos cuidados e a credibilidade para realizar ações de promoção e prevenção (ALMEIDA, ND, 2013). Atualmente, embora o SUS sofra problemas financeiros, políticos e administrativos, prevalece a ideia de que, 25 anos depois de sua criação, é um ganho considerável para a população brasileira, visto que estima-se que a maioria, ou seja, 85% dessa população seja SUS dependente. Antes do SUS, apenas pessoas com vínculo formal de trabalho (carteira assinada) ou que estavam vinculadas à previdência social poderiam dispor dos serviços públicos de saúde. A opção para as demais pessoas era pagar pelos serviços privados. O SUS é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Básica, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Com a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção da saúde (BRASIL, 2018). O Sistema Único de Saúde (SUS) é composto pelo Ministério da Saúde, Estados e Municípios, conforme determina a Constituição Federal. Cada ente tem suas co-responsabilidades: 1-Ministério da Saúde: Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura: Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hospitais federais. 2-Secretaria Estadual de Saúde (SES):Participa da formulação das políticas e ações de saúde, presta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e implementar o plano estadual de saúde. 3-Secretaria Municipal de Saúde (SMS): Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera estadual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde. Conselhos de Saúde O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, Estadual ou Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros, que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movimentos representativos de usuários; 25% de entidades representativas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins lucrativos. Comissões Intergestores: 1-Comissão Intergestores Tripartite (CIT): Foro de negociação e pactuação entre gestores federal, estadual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS 2-Comissão Intergestores Bipartite (CIB): Foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e municipais, quanto aos aspectos operacionais do SUS Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass):Entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Federal na CIT para tratar de matérias referentes à saúde Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems):Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tratar de matérias referentes à saúde Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems):São reconhecidos como entidades que representam os entes municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que dispuserem seus estatutos. Princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) Universalização: a saúde é um direito de cidadania de todas as pessoas e cabe ao Estado assegurar este direito, sendo que o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, ocupação ou outras características sociais ou pessoais. Equidade: o objetivo desse princípio é diminuir desigualdades. Apesar de todas as pessoas possuírem direito aos serviços, as pessoas não são iguais e, por isso, têm necessidades distintas. Em outras palavras, equidade significa tratar desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior. Integralidade: este princípio considera as pessoas como um todo, atendendo a todas as suas necessidades. Para isso, é importante a integração de ações, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. Juntamente, o princípio de integralidade pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, para assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão na saúde e qualidade de vida dos indivíduos. Princípios Organizativos: Regionalização e Hierarquização: os serviços devem ser organizados em níveis crescentes de complexidade, circunscritos a uma determinada área geográfica, planejados a partir de critérios epidemiológicos e com definição e conhecimento da população a ser atendida. Para implantação integral do SUS, é necessário ter pessoal capacitado em número suficiente, recursos para a produção das ações de saúde e financiamento que permita realizar as ações de controle dessas ações, regulação para orientar os fluxos de cidadãos saudáveis e de pacientes em relação ao consumo de bens e serviços de saúde (PAIM, 2008). Para conseguir atender toda a população e suas demandas de saúde, sejam preventivas, de promoção ou curativas, são realizados convênios e contratos com a iniciativa privada. No entanto, há situações diferentes. Algumas iniciativas são oferecidas pelos serviços públicos integralmente, porém o serviço privada também oferta e tem sua demanda, como o caso das clínicas de imunização oferecendo as mesmas vacinas que o serviço público. Por outro lado, não há leitos públicos em número suficiente; portanto,convênios com hospitais privados, com ou sem finalidade lucrativa, são firmados para dar resposta a elas (MALIK, 1995). Pouco mais de uma década após a criação da Constituição Federal, o sanitarista Sergio Arouca já lembrava que era preciso retomar os princípios básicos da reforma sanitária, que não se resumiam à criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Propões discutir a saúde não como política do Ministério da Saúde, mas como um dever permanente do Estado e direito do cidadão. Para tanto, identificar conquistas e desafios do sistema de saúde brasileiro é uma tarefa contínua (LINS, 2016). Em 2000, a ONU convocou todas as nações do mundo para uma reunião de Cúpula do Milênio (Millenium Summit), onde se estabeleceram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), propostas de ações concretas em direção à universalização de cobertura, tomando como base o ano de 1990 e prazo até o ano 2015: redução da mortalidade infantil (a dois terços do valor de 1990), redução da mortalidade materna (a três quartos do valor de 1990), combate a doenças transmissíveis como o HIV-AIDS, malária e outras e acesso da população a medicamentos essenciais. O informe final dos ODM de saúde feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) revelou importante progresso na saúde até 2015, mas em geral as metas não foram plenamente atingidas. A mortalidade infantil (menores de 5 anos), ao nível mundial, se reduziu a menos da metade mas não em dois terços, e a mortalidade materna se reduziu em média a 45%, e não em três quartos (MEDICI, 2011). A Fundação Oswaldo Cruz fez uma avaliação do SUS em decorrência das comemorações dos 25 anos de implantação, em 2013, quando profissionais da saúde produziram balanços em diversas áreas de atuação no campo da saúde coletiva. Entre as conquistas destacadas estão: o controle e a eliminação de doenças por meio da vacinação, socorro para 110 milhões de pessoas na rede pública, assistência farmacêutica, financiamento de transplantes e uma vigilância sanitária atuante. Os desafios são mais visíveis no dia a dia do SUS, como a força de trabalho, a gestão do sistema e a administração, apontadas por especialistas e autoridades como pontos a serem melhorados. Com relação à atenção básica os desafios persistem na necessidade de priorização política do investimento, viabilizando os instrumentos de gestão, a ampliação da estratégia Saúde da Família e do Programa de Agentes Comunitários. Entre 25 e 27 de setembro de 2015, uma nova assembleia da ONU, com a presença de mais de 150 nações, lançou o compromisso mundial com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de 17 objetivos com várias metas a ser alcançado até o ano 2030, dentre os quais o terceiro é dedicado ao tema da saúde. Esses objetivos começaram a ser implementados em janeiro de 2016 e a distância que separa a aspiração e a garantia do direito ainda é grande. Leitura recomendada: Almeida ND. A saúde no Brasil, impasses e desafios enfrentados pelo Sistema Único de Saúde – SUS. Revista Psicologia e Saúde, v. 5, n. 1, jan./jun. 2013, p. 01-09 Disponível em: http://pensesus.fiocruz.br/node/124 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-093X2013000100002 Referências Bibliográficas: ALMEIDA-FILHO, N., PAIM, J.S. Conceitos de saúde: atualização do debate teóricometodológico. In: Paim, J.S., Almeida-Filho, N. (orgs.). Saúde Coletiva: teoria e prática. Rio de Janeiro: MedBook, 2014, p. 13-27. AQUINO, R., MEDINA, M.G., NUNES, C.A., SOUSA, M.F. Estratégia de Saúde da Família e reordenamento do sistema de serviços de saúde. In: Paim, J.S., ALMEIDA-FILHO, N. (orgs.). Saúde Coletiva: teoria e prática. Rio de Janeiro: MedBook, 2014, p. 353- 71. BRASIL. Portaria no. 1886 GM de 18 de dezembro de 1997. Brasília, 1997a. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da Família - uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial. Secretaria de Assistência à Saúde/Coordenação de saúde da Comunidade. Brasília, 1997b. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Avaliação para melhoria da qualidade da estratégia saúde da família. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Vigilânciaem Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde.Portaria n° 687 MS/GM, de 30 de março de 2006. Brasília:MS; 2006. (Série B. Textos Básicos em Saúde). BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Seminário de apresentação dos resultados iniciais da implantação do projeto de Avaliação para a Melhoria da Qualidade (AMQ) da estratégia Saúde da Família. Revista Brasileira Saúde da Família, 8(13). Brasília: Ministério da Saúde, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 154, de 24 de janeiro de 2008. Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família - NASF. Brasília-DF, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Diretrizes do NASF: Núcleo de Apoio a Saúde da Família. Caderno de Atenção Básica, n. 27. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Vigilância em Saúde. Plano de ações estratégicas para enfrentamento as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília: MS; 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ): Manual Instrutivo. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. BRASIL. Fundação Oswaldo Cruz. Conquistas e Desafios. https://pensesus.fiocruz.br/conquistas-e-desafios, 2018. https://pensesus.fiocruz.br/conquistas-e-desafios