Buscar

Sentença_II

Prévia do material em texto

1
SENTENÇA II – Oportunidades em que pode ser proferida – São variados os momentos em que pode ser proferida a sentença. A ocasião propícia deveram levar em conta sua natureza terminativa ou definitiva e a necessidade ou não de produção de provas. As sentenças terminativas podem ser proferidas a qualquer momento no curso do processo, desde a propositura da demanda. Quando o juiz constata o vício insanável, que impede o prosseguimento e o exame do mérito, deve reconhecê-lo desde logo, pondo fim ao processo. Se puder detectá-lo de plano, indeferirá a petição inicial. Se não, declarará a extinção quando o vício se evidenciar. Como as matérias preliminares são de ordem pública e podem ser conhecidas de ofício, e a qualquer tempo, não estão sujeitas à preclusão, podendo ser examinadas ou reexaminadas a qualquer tempo. A prolação das sentenças definitivas (exceto as do art. 332) possui uma oportunidade adequada, estabelecida no CPC, art. 366: ”Encerrado o debate ou oferecida as razões finais, o juiz proferirá a sentença em audiência ou no prazo de 30 dias”. Mas isso só ocorrerá se tiver sido necessária a designação de audiência de instrução e julgamento. Em alguns casos ela não se realiza, havendo julgamento antecipado do mérito. Se não houver provas a produzir em audiência, ou se a questão de mérito foi exclusivamente de direito, o juiz sentenciará na forma do art. 355. Também se admite que o juiz sentencie logo após a conclusão da perícia, se não houver necessidade de provas em audiência, apesar de ter sido ultrapassada a fase do art. 355. A sentença homologará o acordo assim que ele for celebrado, independentemente da fase em que esteja o processo, mesmo que em execução. A extinção, por prescrição e decadência, pode ocorrer a qualquer tempo, assim que o juiz as reconheça. Ainda depois da sentença, em grau de recurso, elas poderão ser invocadas, e apreciadas pela superior instância, na forma do art. 193, do CC. Nos termos do art. 356 do CPC, pode ainda haver o julgamento parcial do mérito por decisão interlocutória. Quando o juiz verificar que um ou mais dos pedidos ou parcela deles mostrar-se incontroverso ou estiver em condições de imediato julgamento, proferirá decisão de mérito julgando-o, e determinará o prosseguimento do processo, em relação aos demais pedidos, que ainda não estavam prontos para serem decididos. Nesse caso, não haverá sentença, mas decisão interlocutória de mérito, suscetível de agravo de instrumento. Portanto, o exame do mérito pode ser desmembrado. É possível que o juiz julgue um ou mais pedidos antecipadamente, por decisão interlocutória, e mande o processo prosseguir em relação aos demais, que serão julgados ao final, por sentença. Caberá ação rescisória não apenas contra a sentença e o acórdão, mas contra a decisão interlocutória de mérito. Mas o prazo de 2 anos só correrá da última decisão proferida no processo.
DEFEITOS DA SENTENÇA – A sentença é um ato processual, que deve preencher requisitos de forma e substância. A inobservância de uns e outros resultará em vícios de diversas naturezas, não particulares à sentença, mas que podem atingir todos os atos processuais. No processo civil se reconhece a existência de 2 tipos de nulidade: a absoluta e a relativa. Somente a primeira torna a coisa rescindível, pois a segunda é sanada no próprio processo. A sentença nula reveste-se de autoridade da coisa julgada, mas pode ser rescindida. A nulidade absoluta pode decorrer de vícios intrínsecos da própria sentença, ou de vícios processuais anteriores, não sanados, que nela repercutem. Há, porém, alguns que a comprometem de forma mais profunda, e que são insuperáveis. Quando ocorrem, diz-se que a sentença é ineficaz. Ela existe fisicamente, e eventualmente produz efeitos, já que tem uma realidade, e pode produzir todos os efeitos naturais de um julgamento. Mas a ineficácia distingue-se da nulidade porque persiste mesmo depois de ultrapassado o prazo da ação rescisória. Hoje se reconhece que a melhor forma de obter seu reconhecimento é a ação declaratória de ineficácia, não a rescisória. As causas da ineficácia da sentença podem ser classificadas em três grupos, segundo Teresa Arruda Alvim Wambier: “As sentenças podem ser inexistentes: a) ou por provirem de processos que não se constituíram e que são, ipso facto, inexistentes (leia-se ineficaz pelo CPC); b) ou por se originarem de ações que foram propostas sem que tenha estado presente uma (ou mais) das condições da ação; c) ou por padecerem de defeitos intrínsecos tão graves a ponto de lhes tolher a identidade jurídica ( = tipicidade)”. Tratar-se-á a seguir dos vícios intrínsecos, próprios da sentença.
VÍCIOS INTRÍNSECOS – Como já dito, a sentença compõe-se de 3 partes (relatório, fundamentação e o dispositivo). A falta ou deficiência de alguma delas ensejará sua nulidade. Mas a ausência completa de dispositivo será causa de ineficácia. Haverá nulidade por falta ou defeito de correlação entre o objeto da ação e a decisão. O juiz deve decidir a lide nos limites em que foi proposta, atendo-se ao que e quanto foi pedido. E nem poderia ser de outra forma, pois o réu se defende dos pedidos e fundamentos que foram formulados. A ausência de estrita correspondência entre a decisão e o pedido, com seus fundamentos, ofende o princípio da ampla defesa, do contraditório e do dispositivo. São raras, e devem ser expressamente previstas no ordenamento jurídico, as hipóteses em que se admite a falta dessa correlação. Uma delas é a das ações possessórias, que a lei considerou fungíveis entre si (art. 544, CPC), e outra é a das tutelas provisórias, em que o juiz deferirá a medida mais adequada, ainda que não corresponda à postulada. Não basta que o juiz se atenha àquilo que foi pedido, nos limites em que foi pedido, mas também aos fatos em que o pedido foi embasado, e que constituem um dos elementos identificadores da ação. O réu se defende do pedido e dos fundamentos expostos na petição inicial. Por isso, o juiz, ao sentenciar, deve ater-se aos fundamentos expostos, sob pena de decidir ação distinta daquela que foi proposta. A sentença é extra petita, e nula, sempre que o juiz aprecia pedido ou causa de pedir distintos daqueles apresentados pelo autor na inicial, isto é, quando há pronunciamento judicial sobre algo que não foi pedido, ou embasado em fundamentos de fato que não foram trazidos pelas partes. Os fundamentos jurídicos e os legais não vinculam o juiz, por força do princípio do jura novit curia. Por isso, se ele decidir com fundamento jurídico ou legal diferente daquele exposto pelas partes, a sentença não terá qualquer vício. Mas, se ela estiver embasada em fundamento fático distinto daqueles apresentados, o vício se evidenciará. A sentença extra petita é nula. Se houver recurso de apelação, o tribunal o declarará, devolvendo os autos para que o juiz profira outra sentença, nos limites da lide proposta. Se não houver recurso, e ela transitar em julgado, restará o ajuizamento da ação rescisória. Com a sentença extra petita não se confunde a ultra petita, na qual o juiz aprecia o pedido e os fundamentos apresentados, mas concede quantidade superior à postulada. Ela concede mais do que foi pedido, ao passo que a extra petita concede coisa diferente, ou com fundamento diverso. Se houver apelação de sentença ultra petita, basta ao tribunal que a reduza aos limites do pedido. Depois do trânsito em julgado, caberá ação rescisória, que não rescindirá integralmente a sentença, mas afastará aquilo que ultrapassar os limites do pedido. Há ainda as sentenças infra (ou citra) petita. São aquelas em que o juiz não apreciou um dos pedidos formulados. Ocorrem com freqüência nos processos em que eles são cumulados, e nos quais o juiz se esqueceu de apreciar um ou mais. Parece-nos acertada a posição de Teresa Arruda Alvim Wambier, para quem “a sentença que aprecia mais de um pedido, seja caso de cumulação, de reconvenção, de oposição, etc., é formalmente uma, mas materialmente dúplice e cindível. Portanto, se se decidiu ´um´ dos pedidos, e se ´não seconsiderou o outro´(ou os outros), parece que estaremos, na verdade, em face de duas sentenças: uma delas não eivada de vício e a outra inexistente, fática e juridicamente”. Sendo assim, com o trânsito em julgado da sentença infra petita, a melhor solução não será a ação rescisória, já que, naquilo que foi decido, a sentença é válida. O autor deverá propor outra ação, formulando novamente o pedido que, na anterior, não foi apreciado. É possível considerar a sentença decomponível em capítulos, o que terá grande repercussão sobre as nulidades. Se ela for considerada um todo único, um vício que a macule comprometerá o todo. Mas se for possível decompô-la em capítulos, eventual vício que afete um deles não prejudicará os demais. Será possível recorrer daquele capítulo determinado; ou em caso de trânsito em julgado, postular a rescisão parcial da sentença. É teoria dos capítulos que permite preservar uma sentença, transitada em julgado, na qual o juiz tenha de apreciar uma das pretensões. Aquilo que ele apreciou é válido e será preservado; a omissão quanto ao restante não contamina o que foi validamente apreciado, cabendo ao interessado ajuizar nova demanda, reiterando o pedido a respeito do qual não houve pronunciamento. O mais importante nessa teoria não é que a sentença contenha numerosos capítulos, mas que eles possam ser considerados autônomos, estanques, para fins de recurso, ação rescisória, nulidades etc. Se a sentença for omissa, o autor oporá embargos de declaração. Se não o fizer, poderá apelar, reclamando do pedido não julgado. Se o tribunal já tiver elementos para apreciá-lo, o fará na forma do art. 1013, par. 3º, do CPC. Do contrário, declarará a nulidade da sentença e a devolverá para que, em 1ª. instância, sejam produzidas as provas necessárias e se realize o julgamento completo. Se transitar em julgado sem que um dos pedidos seja apreciado, a solução será a mencionada no parágrafo anterior. A sentença que deixa de apreciar um dos pedidos é viciosa. Mas aquela que concede menos do que foi pedido é hígida. Trata-se, na verdade, de hipótese de parcial procedência, em que o juiz concede apenas uma parcela daquilo que foi postulado. 
CORREÇÃO DA SENTENÇA – Ao publicar a sentença, o juiz só poderá alterá-la nas hipóteses do art. 494. Não é necessária a intimação das partes para que ela se torne inalterável, bastando que seja publicada em cartório, o que não se confunde com a divulgação pela imprensa oficial. Quando ela é proferida em audiência, a publicação ocorre na medida em que o juiz a vai ditando ao escrevente. Se não é proferida em audiência, a publicação ocorre quando a sentença é entregue em cartório. Depois de publicada, é necessário que as partes sejam intimadas de seu conteúdo. Elas saem cientes, se o ato foi praticado em audiência. Do contrário, haverá a intimação quando a sentença for publicada no diário oficial. Com a publicação em cartório, a sentença torna-se inalterável, não podendo o juiz modificá-la. A lei, porém, prevê 2 situações em que ela poderá ser corrigida (art. 494). O inciso I trata da sentença que contém inexatidões materiais ou erros de cálculo, permitindo ao juiz corrigi-la de ofício ou a requerimento da parte. A retificação não pode alterar a decisão, nem modificar as conclusões, mas apenas corrigir defeitos de expressão ou erros de conta. Ex: indicação incorreta do nome das partes, ou de um dispositivo legal, erros de datilografia, etc. A correção não suspende nem interrompe o prazo para a interposição de recursos, e pode ser feita a qualquer tempo, mesmo depois do trânsito em julgado da sentença. Pode ocorrer que a parte, porém, prefira valer-se dos embargos de declaração, para postular ao juiz a correção das inexatidões materiais da sentença. A 2ª. forma de alteração (art. 494, II) são através dos embargos declaratórios. Eles tem natureza recursal, e se prestam a sanar eventuais obscuridades, contradições, omissões ou corrigir erros materiais da sentença. Ao contrário da hipótese do inciso I, os embargos de declaração dependem de iniciativa das partes, e têm prazo de interposição de 5 dias. Além disso, interrompem o prazo para a interposição de outros recursos. Por seu intermédio, admitem-se correções muito maiores na sentença dos que as do inciso I. Permite-se até que, em determinadas circunstâncias, seu acolhimento resulte na modificação do resultado, ou em acréscimos substanciais a seu conteúdo. Essas as duas formas essenciais de correção da sentença publicada com vícios. No entanto, há mais abrangentes. Uma delas é a interposição de recurso de apelação, que permitirá ao órgão ad quem reexaminar todas as matérias impugnadas. Pode o órgão ad quem sanar eventuais vícios não apenas formais, mas de julgamento. A sentença também pode ser alterada em remessa necessária, figura que não tem natureza recursal, mas se erige em condição de eficácia do decisório, nas hipóteses do art. 496. Também a ação rescisória pode ser utilizada para correção da sentença que tenha transitada em julgado e contenha vícios, na forma do art. 966 do CPC.

Continue navegando