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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 1 MBA GERENCIAMENTO DE PROJETOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS PROFESSOR: GUILHERME SANDOVAL GÓES DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 2 ÍNDICE AULA 5: ANÁLISE DA EFICÁCIA DOS DIREITOS SOCIAIS EM TEMPOS DE PÓS-POSITIVISMO JURÍDICO 3 INTRODUÇÃO 3 CONTEÚDO 4 INTRODUÇÃO 4 O CONCEITO DE RESERVA DO POSSÍVEL FÁTICA 6 OS IMPACTOS DOGMÁTICOS DA RESERVA DO POSSÍVEL FÁTICA NO PLANO DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS 9 O CONCEITO DE RESERVA DO POSSÍVEL JURÍDICA 16 OS IMPACTOS DOGMÁTICOS DA RESERVA DO POSSÍVEL JURÍDICA NO PLANO DA EFETIVIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS 18 A DIFICULDADE CONTRAMAJORITÁRIA DO PODER JUDICIÁRIO E A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 23 ATIVIDADE PROPOSTA 28 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 29 REFERÊNCIAS 33 CHAVES DE RESPOSTA 35 AULA 5 35 ATIVIDADE PROPOSTA 35 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 35 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 3 Direitos e Garantias Fundamentais – Apostila Aula 5: Análise da eficácia dos direitos sociais em tempos de pós- positivismo jurídico Introdução Nesta aula, será examinada a jusfundamentalidade material dos direitos sociais, bem como os principais óbices que se apresentam para a sua plena efetividade. Para tanto, será necessário examinar, em um primeiro momento, o conceito de reserva do possível fática, que se relaciona com a falta de recursos financeiros do Estado para atender a todas as demandas sociais. Em seguida, será estudado o conceito de reserva do possível jurídica, que se relaciona com a falta de previsão constitucional de participação do poder judiciário na elaboração das leis orçamentárias. Finalmente, será analisada a ideia de dificuldade contramajoritária do poder judiciário e sua influência na formulação de políticas públicas. Objetivo 1. Analisar os principais óbices que dificultam a efetividade dos direitos sociais, notadamente os conceitos de reserva do possível e dificuldade contramajoritária do poder judiciário. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 4 Conteúdo Introdução Conforme já amplamente examinado ao longo da nossa disciplina, a dogmática dos direitos fundamentais vivenciou – e continua vivenciando ainda – grandes transformações, mormente no que tange à efetividade dos direitos de segunda dimensão. Sem embargo do grande avanço já realizado, o fato é que a normatividade dos direitos fundamentais ainda não se acha totalmente consolidada nos dias de hoje, em especial os direitos sociais vislumbrados como direitos estatais prestacionais. Nesse sentido, parece inexorável afirmar que a efetividade dos direitos sociais flutua em função da vontade política do legislador ordinário em regulamentar as normas constitucionais de direito social, bem como de juízes e tribunais progressistas/pós-positivistas que, na omissão do legislador democrático, concretizam os efeitos pretendidos pela norma constitucional, fazendo o direito avançar na direção da plena efetividade dos direitos sociais no Brasil. Outro grande desafio da normatividade dos direitos sociais é a implantação do Estado neoliberal de Direito, cujo objetivo é exatamente a desconstrução do Estado Democrático Social de Direito (Estado do Bem-Estar Social ou Welfare State), mas, esta temática, como já dito alhures, será enfrentada na aula 8. Portanto, nosso objetivo nesta aula é examinar os obstáculos que se antepõem à plena efetividade dos direitos sociais no âmbito de um país de modernidade tardia, como é o caso do Brasil. Com efeito, é razoável afirmar, nesse contexto de estatalidade periférica, que a efetividade dos princípios constitucionais sociais – densificadores da justiça social – é mais grave ainda porque se trata de Estado pobre com alto grau de exclusão social. Não resta nenhuma dúvida de que a efetividade dos direitos DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 5 sociais é dependente dos recursos financeiros do Estado, tendo em vista sua natureza de prestações estatais positivas. É claro que o caráter aberto do texto das normas constitucionais garantidoras de direitos sociais também dificulta ou compromete a sua efetividade, mormente quando se tem em conta que são comandos cuja normatividade fica na dependência da postura ativa do magistrado diante da omissão do legislador ordinário. É necessário superar a ideia-força de que os direitos sociais são direitos de eficácia mediata, portanto direitos carentes de legislação superveniente (normas programáticas de eficácia limitada). Nesse sentido, é comum afirmar-se que, por implicarem custos que devem ser arcados pelo Estado para a sua satisfação, dentro de um panorama de escassez de recursos, o poder judiciário não poderia interferir no âmbito das escolhas relacionadas à alocação dos recursos públicos. Desta maneira, os direitos sociais não teriam jusfundamentalidade material exatamente porque não estariam aptos a gerar verdadeiros direitos subjetivos à prestação material relacionada àqueles direitos. É nesse sentido que surge a visão de muitos autores focada na desconsideração dos direitos sociais como verdadeiros direitos fundamentais, uma vez que incapazes de superar tais óbices. Em linhas gerais, há que se reconhecer que tais óbices enfraquecem a plena efetividade dos direitos sociais, especialmente nestes tempos de globalização neoliberal, no entanto, impende destacar, desde logo, que tais obstáculos não podem retirar de modo absoluto a efetividade dos direitos sociais. É por isso que, ao longo desta, vamos estudar três grandes desafios que se colocam para a nova dogmática dos direitos fundamentais, quais sejam o conceito de “reserva do possível fática”, o conceito de “reserva do possível jurídica” e o conceito de “dificuldade contramajoritária do poder judiciário”. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 6 O conceito de reserva do possível fática O estudioso dos direitos fundamentais tem a obrigação de compreender bem a diferença entre a efetividade dos direitos negativos de defesa de primeira dimensão e os direitos estatais prestacionais de segunda dimensão. Na primeira dimensão, o epicentro jurídico-constitucional do Estado liberal era o binômio autonomia privada – igualdade formal, cujo consectário mais nocivo foi o agravamento de assimetrias sociais e econômicas, sem precedentes na História. Ora, a engenharia constitucional liberal, calcada na garantia dos direitos negativos de defesa – não logrou atenuar a exclusão social e o quadro de miserabilidade humana. Em consequência, uma segunda dimensão de direitos foi concebida, não como um mero instrumento capaz de oferecer liberdade perante o Estado, mas, principalmente, como um meio de garantir condições de vida digna para todos. Agora, no epicentro jurídico-constitucional do Estado social de Direito, o binômio justiça social – igualdade material, cujo consectário mais nobre é a tentativa de dar plena efetividade ao princípio da dignidade da pessoa humana e todo o amplo conjunto de direitos incorporados ao patrimônio da humanidade. Como bem destaca Luís Roberto Barroso, 1 o núcleo material elementar do princípio da dignidade da pessoa humana é “composto do mínimo existencial, locução que identifica o conjunto de bens e utilidades básicas para a subsistência física e indispensável ao desfrute da própria liberdade. Aquém daquele patamar, ainda quando haja sobrevivência, não há dignidade”. Dessarte, a realização da dignidade da pessoa humana – elemento densificador da justiça social – só se viabiliza a partir de estatalidade positiva 1 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 335. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 7 garantidora de direitossociais mínimos e necessários para o exercício da verdadeira liberdade, tal qual vislumbrada pelo professor Barroso. Com isso, ganha novo impulso a normatividade dos direitos sociais, já que, paulatinamente, doutrina e jurisprudência vão criando massa crítica de plena efetividade dos direitos sociais a partir da sua intrínseca jusfundamentalidade material. No núcleo normativo-político do Estado Democrático Social de Direito, há a formulação de políticas públicas que deem conta da realização do princípio da dignidade da pessoa humana. Portanto, parece razoável afirmar que a dignidade da pessoa humana, a distribuição de justiça, a igualdade material e a proteção de hipossuficientes formam a base sólida do Estado Social de Direito, cuja caracterização mais dominante é a garantia da liberdade por intermédio do Estado. A figura abaixo sintetiza tal ideia. Elementos do Estado Social de Direito Liberdade por intermédio do Estado e não mais liberdade perante o Estado Estatalidade positiva para possibilitar ações prestacionais positivas Justiça Social Vida Digna Igualdade Material Proteção hipossuficientes Com efeito, devidamente imbricadas, a promoção da dignidade da pessoa humana, a proteção dos hipossuficientes, a justiça social e a igualdade DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 8 material demandam interpretação pós-positivista superadora das estruturas e realidades estatais negativo-absenteístas da democracia liberal. Trata-se, sem nenhuma dúvida, de uma nova fase na teoria da eficácia dos direitos fundamentais, na medida em que a segunda dimensão de direitos nasce com a tarefa de suprir o déficit econômico-social das classes menos favorecidas (hipossuficientes) com base no princípio da dignidade humana, refazendo, pois, o princípio da igualdade a partir de sua dimensão material ou real, com o intuito de realizar a justiça social. A ordem jurídico-constitucional do Estado Democrático Social de Direito é dirigente e compromissória que estabelece o dever do Estado de garantir o exercício da liberdade para todos os cidadãos, com tolerância zero para a exclusão social. Logicamente que a realização desse desiderato ainda não se transformou em realidade, mas continua a desempenhar seu papel hermenêutico como novo eixo axiológico da dogmática dos direitos fundamentais de cunho pós-positivista. Neste novo contexto dito pós-moderno, a força emancipatória da Constituição começa a reestruturar a interpretação constitucional que se depara com um óbice de grande magnitude, qual seja: o Estado hodierno não tem recursos financeiros para realizar todos as suas obrigações constitucionais no campo dos direitos sociais. Surge para o legislador democrático o dilema da escolha dramática. Ora, há que se reconhecer que até mesmo os Estados Unidos da América – a maior potência geopolítica do mundo – vivem e continuarão a viver o dilema da falta de recursos orçamentários para financiar todos os direitos sociais do cidadão comum. Trata-se, pois, da “reserva do possível fática”, também denominada de “reserva do possível propriamente dita” e aqui sendo interpretada como a DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 9 falta de recursos financeiros do Estado para atender a todas as demandas sociais. No sentido hermenêutico, a efetividade ou eficácia social dos direitos sociais perde impulso, na medida em que o Estado vai alegar o princípio constitucional da reserva do possível fática para se eximir de possíveis obrigações sociais demandas em juízo. Aliás, esta é a grande argumentação do paradigma neoliberal de corte pré- weimariano que defende a neutralização axiológica da Constituição e a mitigação dos direitos sociais, econômicos e trabalhistas. Os impactos dogmáticos da reserva do possível fática no plano da efetividade dos direitos sociais Com efeito, em virtude de sua própria natureza de prestações estatais positivas que reclamam do Estado ações afirmativas de proteção socioeconômica, a efetividade dos direitos sociais fica à mercê da reserva do possível fática, caracterizada pela dependência real dos recursos disponíveis no orçamento público. Os defensores da teoria neoliberal professam o retorno da estatalidade mínima pré-weimariana exatamente para possibilitar que os parcos recursos estatais sejam concentrados em áreas críticas como segurança pública e educação. O restante deve ser movido a talante do mercado. Portanto, a juridicidade para além do núcleo essencial dos direitos sociais, é remetida para a esfera programática, cuja concretização efetiva fica subordinada ao legislador ordinário, responsável pela formulação de políticas públicas em função da disponibilidade de recursos financeiros do Estado. De fato, a reserva do possível fática é um obstáculo dogmático que estará sempre a condicionar a concretização dos direitos sociais em sua DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 10 plenitude, atuando mesmo como verdadeira barreira financeira à sua eficácia social. É preciso, pois, reconhecer que o princípio da reserva do possível fática tem grande força retórico-argumentativa na defesa do Estado, o que, evidentemente, enfraquece a efetividade dos direitos sociais, principalmente quando se tem em conta que o orçamento estatal não tem condições de atender aos vultosos volumes de recursos necessários para atender a todas as demandas da sociedade. Como visto antes, esta é a razão pela qual parte da doutrina nega jusfundamentalidade material aos direitos sociais, na crença de que a realização efetiva desses direitos tem que enfrentar as limitações econômico- financeiras do Estado (reserva do possível fática). Nesse sentido, Ernst-Wolfgang Böckenförde, 2 por exemplo, afirma que a impossibilidade econômica do Estado se apresenta como um limite necessário aos direitos fundamentais.3 Na visão conceitual de Böckenförde, os direitos fundamentais – na qualidade de “cometidos constitucionales” (Verfassungaufträge) – vinculam os poderes legislativo e executivo apenas objetivamente, como normas de princípios, mas não garantem nenhuma pretensão jurídica reclamável diretamente perante os tribunais. Assim, os direitos fundamentais perfazem uma “ordem objetiva de valores”, na qual os princípios são meros mandados objetivos axiológicos, sem a aptidão de gerar posição jusfundamental individual diretamente sindicável perante o poder judiciário. Aliás, é o próprio autor que equipara sua ideia de “cometidos constitucionales” com o conceito de direitos fundamentais parâmetro de Peter 2 De observar-se neste ponto que, para Böckenförde, os princípios vinculam apenas objetivamente, sendo incapazes de garantir um direito subjetivo sindicável diretamente ante o Poder Judiciário. Em essência, Böckenförde não reconhece a força normativa dos princípios, aspecto fundamental do hodierno direito pós-positivo. 3 BÖCKENFÖRDE, Ernst-Wolfgang. Escritos sobre derechos fundamentales. Tradução de Juan Luis Requejo Pagés e Ignácio Villarverde Menéndez. Nomos Verlagsgesellschaft: Baden-Baden 1993. p. 65- 68. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 11 Häberle, cuja lógica coincide com relação à vinculação meramente objetiva, sem a garantia de posições jusfundamentais individuais de sindicabilidade direta.4 Há que se reconhecer a força argumentativa dessas importantes correntes doutrinárias, principalmente, no que tange ao correto entendimento de que os direitos sociais estão submetidos à disponibilidade de recursos orçamentários estatais. Entretanto, por outro lado, é preciso compreender também que existe uma solução pós-positivista e que é exatamente a ideia-força de ponderar o princípio da reserva do possível fática com o princípio da dignidade da pessoa humana. Em linhasgerais, o exegeta constitucional deve fazer a ponderação entre o direito fundamental social em tela e a reserva do possível fática para verificar qual deles tem maior dimensão de peso no caso decidendo. Daqui resultará, sem nenhuma dúvida, uma decisão democraticamente respaldada, não se podendo falar em mero decisionismo judicial. Feita a ponderação acima mencionada pelo juiz/exegeta constitucional, não há que falar em invasão do poder judiciário no espaço discricionário das decisões legislativas/administrativas, isto é, a decisão judicial estará democraticamente legitimada, notadamente quando em jogo as condições mínimas para a garantia de vida digna para todos. No dizer do Ministro Celso de Mello: 5 Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da "reserva do possível" – ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível – não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais, 4. Ainda no mesmo sentido e sob os influxos da teoria dos quatro status de Georg Jellinek, a posição de Ricardo Lobo Torres quando assevera in verbis: “O status positivus socialis, ao contrário, do status positivus libertatis, se afirma de acordo com a situação econômica conjuntural, isto é, sob a reserva do possível ou na contingência da autorização orçamentária”. In: TORRES, Ricardo Lobo. O orçamento na constituição. Rio de Janeiro: Renovar, 1995. p. 133-134. 5 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF n. 45 MC/DF Relator: Ministro Celso de Mello, 29 de abril de 2004. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 29 set. 2011. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 12 notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade. Portanto, muito embora a teoria da “reserva do possível fática” projete de modo coerente a ideia de que os direitos sociais – na qualidade de direitos estatais prestacionais – ficam sujeitos àquilo que a comunidade aberta de intérpretes da Constituição pode razoavelmente exigir, é induvidoso por outro lado que a escassez de recursos financeiros não pode ser considerada limite fático invencível no que tange à plena concretização dos direitos sociais. Parece razoável afirmar que as teses cunhadas na ideia de que a norma constitucional de direito social é mero comando objetivo axiológico (Böckenförde) ou simples direito-parâmetro (Häberle), e, até mesmo, mero direito social mínimo (Ricardo Lobo Torres) devem ser refutadas com veemência. Sufragar a tese jurídica de que os direitos fundamentais são meros mandados objetivos axiológicos ou simples direitos-parâmetro é aceitar passivamente o esvaziamento ético da Constituição; é consentir com a neutralização dos direitos fundamentais de segunda dimensão; é negar o caráter deôntico do Direito enquanto sistema de moral com plena capacidade de moldar a realidade fática e não apenas representá-la de alguma maneira; 6 é abandonar os hipossuficientes à sua própria sorte. No plano da efetividade ou eficácia social, a questão da "reserva do possível fática" não tem o condão de negar a jusfundamentalidade material dos direitos sociais, ou seja, a já reconhecida falta de recursos 6 Na feliz síntese de Gustavo Amaral: “O direito é deôntico por essência e, como tal, visa às transformações sociais. O homicídio é previsto como crime porque existe no mundo dos fatos e porque se pretende que não mais exista, numa indisfarçável tentativa de mudança da realidade social”. AMARAL, Gustavo. Interpretação dos direitos fundamentais e o conflito entre poderes. In: TORRES, Ricardo Lobo (Org.). Teoria dos direitos fundamentais, 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p.110. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 13 financeiros do Estado não pode inibir a percepção de que os direitos sociais são sim direitos subjetivos, capazes de gerar posição jusfundamental diretamente sindicável perante o poder judiciário. A reserva do possível fática, por si só, não é capaz de derrotar a jusfundamentalidade material dos direitos sociais, na medida em que cabe ao juiz constitucional acionar as fórmulas pós-positivistas para garantir a eficácia positiva ou simétrica de tais direitos sociais. Com efeito, o direito constitucional não pode condicionar a realização dos direitos sociais à existência de recursos financeiros do Estado brasileiro de modo absoluto. Em síntese, reconhecer o caráter absoluto da reserva do possível fática significa reduzir a eficácia dos direitos sociais à zero, desqualificando-os em sua jusfundamentalidade material assegurada pela nossa Carta Ápice. No âmbito do neoconstitucionalismo, não pode prevalecer a tese da insuficiência financeira do Estado como justificativa de impedir a criação jurisprudencial do direito. Não faria nenhum sentido hermenêutico negar ao poder judiciário a possibilidade de concretizar os direitos sociais em determinados casos concretos, sem o que correríamos o risco de transformar a Constituição brasileira em mera folha de papel, tal qual preconizado por Lassalle. Em consequência, não pode prosperar a tese da reserva do possível fática como obstáculo intransponível à efetividade dos direitos sociais, notadamente nesses tempos de interpretação moral da Constituição e da reconstrução principialista neoconstitucional que reaproxima o direito da ética. De outra banda, há que se reconhecer que a superação da tese da reserva do possível fática (impossibilidade financeira do Estado para atender a todas as demandas sociais de uma determinada comunidade DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 14 política) deve limitar-se à garantia do conteúdo jurídico mínimo dos direitos sociais, sem o que correríamos o risco de violar a separação de poderes e, na sua esteira, o Estado democrático de Direito. Esta temática será abordada com detalhes na próxima aula reservada ao estudo do núcleo essencial dos direitos fundamentais. Por ora, o que importa é espargir luzes sobre a ideia-força de que o cenário de escassez de recursos financeiros do Estado regido pela reserva do possível fática não tem latitude normativo-jurídica suficiente para impedir que o magistrado garanta um direito subjetivo relativo ao conteúdo mínimo de um direito social. De outra banda, convém não esquecer que a tarefa de formular políticas públicas concretizadoras de direitos sociais é da competência dos poderes legislativo e executivo, eleitos diretamente pelo povo. Logo, em regra, a efetividade dos direitos sociais deve estar atrelada a tais poderes e não à atividade criadora de direito por parte de juízes e tribunais. É preciso levar em consideração que, no atual contexto político brasileiro, a dimensão prestacional positiva dos direitos sociais exige ações afirmativas do poder legislativo, que, no entanto, na maioria das vezes, permanece omisso, obrigando e fomentando a criação jurisprudencial do direito (ativismo judicial), que, por sua vez, potencializa o conceito de um verdadeiro Estado Democrático de Direito. Em conclusão, pode-se afirmar que a argumentação fundada na reserva do possível fática visa a enfraquecer a efetividade dos direitos sociais, isto é, a falta de recursos financeiros acaba servindo como instrumento hermenêutico poderoso na escusa do Estado para descumprir os comandos constitucionais atrelados aos direitos sociais. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 15 Porém, há que se admitir, de outra banda, que, na concretização dos direitos sociais, a criação do direito feita pelo juiz a partir da solução do caso concreto encontra um grande óbice representado pela escassez derecursos orçamentários do Estado e que é o postulado da reserva do possível fática. Parte da doutrina, pátria e alienígena, entende que o caráter programático dos direitos sociais (direitos que ficam submetidos à regulamentação superveniente do legislador ordinário), bem como a dependência de recursos econômicos para a sua efetivação, retira-lhes o status de direitos fundamentais materiais. Diferentemente dos direitos negativos de primeira dimensão, os direitos sociais têm caráter positivo 7 que exige posturas de intervenção do Estado nas relações jurídicas privadas, daí o óbice ligado à falta de recursos financeiros estatais. Nessa linha de análise, refuta-se tal tipo de intelecção, muito embora se reconheça a dificuldade de o poder judiciário analisar as consequências globais de sua decisão no que tange à destinação de recursos públicos. Enfim, o conceito de reserva do possível fática não tem o condão de impedir a criação jurisprudencial do direito feita para garantir o conteúdo jurídico essencial dos direitos fundamentais sociais. Em que pese a ampla utilização pelo Estado da cláusula da reserva do possível fática, a nova teoria da eficácia dos direitos fundamentais tem latitude científica capaz de assegurar a fruição dos direitos estatais prestacionais em sua essencialidade mínima. 7 No dizer de Celso de Mello: “Essa eminente atribuição conferida ao Supremo Tribunal Federal põe em evidência, de modo particularmente expressivo, a dimensão política da jurisdição constitucional conferida a esta Corte, que não pode demitir-se do gravíssimo encargo de tornar efetivos os direitos econômicos, sociais e culturais – que se identificam, enquanto direitos de segunda geração, com as liberdades positivas, reais ou concretas” BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RTJ n. 164/158-161. Relator: Ministro Celso de Mello. Disponível em: <www.stf.jus.br>. Acesso em: 29 set. 2011. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 16 A nova teoria surge em boa hora, eis que a temática é complexa e perpassa pela análise da legitimidade democrática de o poder judiciário legislar positivamente, desbordando o campo limitado da separação rígida dos três poderes. Eleva-se o status epistemológico da teoria da eficácia dos direitos fundamentais, chegando-se a um patamar, no qual o poder judiciário pode “criar” normas infraconstitucionais em nome da plena efetividade dos direitos sociais, ou seja, na omissão inconstitucional do legislador democrático ordinário, os limites normativos da separação de poderes são transpostos, autorizando-se, democraticamente, a criação jurisprudencial do direito (ativismo judicial) feita em nome do núcleo jurídico mínimo dos direitos fundamentais sociais. É por tudo isso que vamos em seguida analisar o segundo grande empecilho que se coloca no caminho da plena efetividade dos direitos sociais e que é a chamada “reserva do possível jurídica”. O conceito de reserva do possível jurídica A chamada reserva do possível jurídica não se confunde com a reserva do possível fática, porém são conceitos de mesma natureza, isto é, representam obstáculos a serem ultrapassados pela dogmática dos direitos fundamentais no plano da efetividade ou eficácia social. Isto significa dizer que, no âmbito da dogmática dos direitos fundamentais, a chamada reserva do possível jurídica é mais uma limitação à plena efetividade dos direitos sociais e desta feita com base em prescrição constitucional. Antes de compreender a essência do conceito de reserva do possível jurídica, é preciso voltar-se para as normas constitucionais que regulam DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 17 o orçamento público (artigos 165, 166, 167, 168 e 169 da Constituição de 1988). Com efeito, nossa Carta Magna atribui ao poder legislativo a competência para aprovar as leis orçamentárias (plano plurianual, lei de diretrizes orçamentária e lei do orçamento anual), cuja iniciativa é privativa do Presidente da República. Fica claro, portanto, que o poder judiciário não tem legitimidade constitucional para participar da elaboração orçamentária, salvo naquilo que tange à sua autonomia financeira, administrativa e funcional. Em outros termos, a fixação de políticas públicas (escolha de prioridades dentro do orçamento público) se encontra no campo discricionário dos poderes legislativo e executivo, responsáveis pela elaboração das leis orçamentárias que regulam os gastos públicos. Não cabe, em regra, ao poder judiciário criar despesas no orçamento público relativas ao seu ativismo judicial garantidor de direitos a prestações positivas sem que haja expressa previsão legislativa para tanto. Portanto, o conceito de reserva do possível jurídica fica atrelado ao fato de que o poder judiciário não está autorizado constitucionalmente a participar do devido processo legislativo orçamentário. Ou seja, a feitura das leis orçamentárias não depende de atos volitivos do poder judiciário. Juízes e tribunais nem apresentam e nem aprovam projetos de planos plurianuais, leis de diretrizes orçamentárias e leis orçamentárias anuais. Em regra, nenhum gasto público pode ser realizado se não estiver previsto nas leis orçamentárias. Reza o artigo 167, inciso I, da Constituição de 1988, que é vedado o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual. Portanto, de clareza meridiana DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 18 a ideia de que as despesas da administração pública não contam com a participação de juízes e tribunais. Como pode então o magistrado determinar ação estatal prestacional relativa à violação de direito fundamental se tal despesa não estiver prevista no orçamento público? Quais são os reflexos jurídicos da reserva do possível jurídica no plano da efetividade dos direitos sociais? Este é o espectro temático a estudar na sequência. Os impactos dogmáticos da reserva do possível jurídica no plano da efetividade dos direitos sociais Com certeza, a destinação de recursos públicos a partir de políticas públicas sociais é missão do legislador democrático, que tem o encargo de realizar a escolha dramática de prioridades dentro do orçamento público. Primariamente, não faz parte do campo discricionário de juízes e tribunais a missão legislativa de universalizar direitos, porém, na omissão inconstitucional dos legítimos representantes do povo, é razoável afirmar que a atuação jurisdicional juscriadora faz avançar a dogmática dos direitos fundamentais. É exatamente no orçamento público (planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos anuais) que as chamadas “escolhas dramáticas” são feitas pelos representantes do povo. Isso significa dizer, por exemplo, a escolha fatal entre construir um hospital ou uma escola ou ainda uma estrada. Na periferia do sistema mundial, tais decisões são cruciformes em virtude da pobreza e dos graves problemas sociais destes países subdesenvolvidos. As eleições das prioridades são comoventes: implementar aguda política de saúde/saneamento básico ou eficaz política de educação/de ciência e tecnologia. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 19 Não há recursos financeiros para tudo, daí a ideia-força de decisões políticas dramáticas. Ricardo Lobo Torres 8 capta – com precisão – o significado democrático do orçamento público, quando o define como: O documento de quantificação dos valores éticos, a conta corrente da ponderação dos princípios constitucionais, o plano contábil da justiça social, o balanço das escolhas dramáticas por políticas públicas em um universo fechado de recursos financeiros escassos e limitados. É nesse diapasão que exsurge, pois, o conceito de reserva do possível jurídica, criação da doutrina liberal que reage à efetividadedos direitos estatais prestacionais. Lado a lado com a reserva do possível fática, a reserva do possível jurídica surge como óbice à plena efetividade dos direitos sociais, uma vez que, mesmo que não haja limitação orçamentária estatal para atender a um determinado direito prestacional, ainda assim juízes e tribunais não estariam autorizados, por via oblíqua, a realizar tal direito porque isso significaria reformulação inconstitucional do orçamento público. Nesse sentido, o pensamento de Cappeletti, 9 verbis: Atenta a isto, a doutrina refratária aos direitos estatais prestacionais aventou, em adição à reserva do possível fática, a reserva do possível jurídica. Mesmo que o Estado disponha, materialmente, dos recursos necessários a um determinado direito prestacional, e ainda que eventual dispêndio destes recursos não obstaculize o atendimento a outro interesse fundamental, não disporia o Judiciário de instrumentos jurídicos para, em última análise, determinar por via oblíqua, uma reformulação do orçamento, documento formalmente 8 TORRES, Ricardo Lobo. A cidadania multidimensional na era dos direitos. In: TORRES, Ricardo Lobo (Org.). Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 282-283. 9 CAPPELETTI, Mauro. O Controle Judicial de Constitucionalidade das Leis no Direito Comparado. 2. ed. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1999. p. 20. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 20 legislativo para cuja confecção devem se somar, por determinação constitucional, os esforços do Executivo e do Legislativo. Em linhas gerais, a essência dogmática do conceito de reserva do possível jurídica projeta o impedimento de juízes e tribunais invadirem a esfera discricionária orçamentária, reservada aos poderes legislativo e executivo, que haurem sua legitimidade de comando do equilíbrio orçamentário da própria Carta Magna. Dessarte, os limitados recursos financeiros do Estado (reserva do possível fática) não podem ser manipulados pelo poder judiciário, pois falta previsão constitucional de sua participação no processo orçamentário dramático e democrático de valores constitucionais conflitantes, cujo fórum de discussões deve ser efetivamente o congresso nacional e não os órgãos judiciários (reserva do possível jurídica). E mais: a não observância da cláusula da reserva do possível jurídica implica no deslocamento inconstitucional das competências orçamentárias do congresso nacional e do chefe do poder executivo para o poder judiciário. Com isso, a ideia-força da reserva do possível jurídica atua como freio hermenêutico à criação jurisprudencial do direito, haja vista a impossibilidade de o poder judiciário autorizar despesas sem a devida previsão nas leis orçamentárias. Ao julgador não lhe é dado decidir sobre objetivos e metas da administração pública, bem como de programas de duração continuada (formulação de políticas públicas de longo prazo). Sua habilidade é técnico-jurídica e não político-ideológica, não se lhe reservando, pois, poderes de manejo orçamentário. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 21 Em última instância, a reserva do possível jurídica pretende atuar como óbice ao positivismo jurisprudencial, expressão cunhada por Pedro de Vega García, segundo Gilberto Bercovici, e que significa o decisionismo judicial que cria direito com espeque na vontade dos tribunais, sem nenhum vínculo com a letra da lei ou com a democracia. Nas palavras do autor: Esta expressão [positivismo jurisprudencial], se eu não me engano, é do espanhol Pedro de Vega García, não sei se alguém falou antes dele. Pedro de Vega mostra o problema europeu, em que os tribunais constitucionais, de defensores da Constituição, tornaram-se os donos da Constituição: para eles só é constituição aquilo que o tribunal constitucional diz que é. Acaba havendo um processo de formalização excessiva, em que se discutem os acórdãos do tribunal, não se discute a democracia, não se discute a questão política e este é o problema fundamental. Afinal (...) o Direito Constitucional é o direito do político, é a ligação do político com o jurídico (...) não podemos achar que as soluções serão alcançadas pelo Judiciário, limitando o Direito Constitucional às decisões judiciais. Não será deixando que o tribunal resolva, já que o Executivo não quis, ou o Legislativo não quis, que eu acredito que nós vamos resolver ou refletir melhor sobre as questões constitucionais.10 Por isso, vale insistir na intelecção de que há limites impostos ao poder judiciário na tarefa de criar jurisdicionalmente norma outorgando determinado direito social sem que haja sua previsão em lei orçamentária prévia. Há que se considerar, nesse sentido, que a Constituição atribuiu ao legislador e/ou administrador democráticos a tarefa de decidir sobre a destinação de recursos públicos que desagua diretamente na questão orçamentária. 10 BERCOVICI, Gilberto. Videoconferência.1ª parte. In: COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (Org.) Canotilho e a constituição dirigente. Rio de janeiro: Renovar, 2003. p. 78. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 22 Eis o cerne da reserva do possível jurídica: impedir que magistrados – por intermédio da sua atividade jurisdicional normal – tenham o poder de formular políticas públicas, determinando despesas e agindo como se legisladores positivos fossem, sem levar em conta as limitações constitucionais impostas ao processo legislativo atinente ao orçamento público. Juízes e tribunais não têm autorização constitucional para participar da feitura do documento ético que contabiliza a justiça social e determina a distribuição dos recursos financeiros estatais. Sem embargo da coerência teórico-conceitual da reserva do possível jurídica, não se pode, de outra banda, abandonar os direitos sociais à própria sorte. Com efeito, como já examinado à exaustão, a plena sindicabilidade dos direitos sociais prestacionais perante o poder judiciário perpassa necessariamente pela postura ativa de juízes e tribunais na entrega da prestação jurisdicional. Na lição de Marcos Maselli Gouvêa: 11 “Sustentar o reconhecimento judicial dos direitos prestacionais exige, assim, legitimar a disposição dos limitados recursos orçamentários pelo Poder Judiciário”. Reconhecer a jusfundamentalidade material dos direitos sociais implica na aceitação da criação jurisprudencial do direito independentemente de previsão legislativa. Enfim, sem desprezar a coerência teórico-conceitual do princípio da reserva do possível jurídica, parece inexorável afirmar que o método exegético pós-positivista tem o condão de realizar a norma constitucional garantidora de um direito social através da ponderação de princípios realizadores de condições materiais mínimas indispensáveis para a fruição dos direitos de liberdade. 11 GOUVÊA, op. cit., p. 21. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 23 Após a análise dos conceitos de reserva do possível, fática e jurídica, é preciso agora examinar a terceira grande barreira dogmática que se impõe à sindicabilidade direta dos direitos sociais, qual seja a ideia de dificuldade contramajoritária de juízes e tribunais. A dificuldade contramajoritária do poder judiciário e a formulação de políticas públicas É importante começar esta segmentação temática com a visão de que a dogmática constitucional pós-positivista cria elo vinculante entre a decisão judicial e sua aceitabilidade pela comunidade aberta de intérpretes da Constituição (Häberle). Isto significa dizer que, em última instância, é a sociedade como um todo que legitima a decisão dos magistrados, uma vez que todos interpretam a Constituiçãoe, não, somente, a Corte Suprema do País. Quanto mais próxima da ética e da justiça, maior será o grau de legitimidade/aceitabilidade da sentença judicial. É por isso que o novo direito constitucional brasileiro se pauta em duas grandes mudanças de paradigma, a saber: a) Plena efetividade de toda e qualquer norma constitucional (força normativa da Constituição e doutrina da máxima efetividade); b) Adoção da nova dogmática pós-positivista calcada na reaproximação entre a ética e o direito a partir dos paradigmas de racionalidade argumentativa. Assim, sob os influxos da dogmática pós-positivista, não pode prevalecer a tese da insuficiência financeira do Estado como justificativa para impedir o ativismo judicial democrático (criação jurisprudencial do direito feita de forma proporcional). DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 24 Não faria nenhum sentido hermenêutico negar ao poder judiciário a possibilidade de concretizar os direitos sociais em nome da tão propalada dificuldade contramajoritária, aqui compreendida como a dificuldade que se impõe ao poder judiciário em virtude de seu déficit democrático, ou seja, juízes não são eleitos pelo voto popular, logo não podem impor sua vontade política sobre a vontade dos verdadeiros representantes do povo (congresso nacional e chefe do poder executivo). Não resta dúvida de que, na formulação de políticas públicas, a atuação juscriadora do poder judiciário fica limitada pela dificuldade contramajoritária, uma vez que os magistrados não são investidos nos seus cargos pela consagração popular. Ao revés, juízes são escolhidos através de concurso público ou então pelo Chefe do poder executivo. Nesse mister, a seleção dos magistrados leva em consideração o seu conhecimento técnico-jurídico e não suas posições político-ideológicas. Portanto, como bem destaca Marcos Maselli Gouvêa: Um juiz ativista, que se propusesse a invadir a órbita originariamente destinada aos demais ramos, estaria subvertendo o princípio democrático, pelo qual prevalecem as posições políticas da maioria da população. Diversos autores já tiveram ocasião de expor a objeção que Bickel, em seu famoso trabalho acerca do judicial review, caracterizou como “dificuldade contramajoritária”. O argumento clássico de Hamilton segundo o qual o magistrado, ao controlar a atuação dos demais poderes, está fazendo com que prevaleça não a sua vontade pessoal, mas sim a vontade do povo – corporificada na Constituição – esbarra na consideração de que, encerrados os trabalhos da Assembleia Constituinte, a vontade do Parlamento e do Executivo é a versão mais atualizada da vontade popular.12 12 GOUVÊA, op. cit., p. 21 -22. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 25 A temática é complexa e perpassa pela análise acerca da falta de legitimidade democrática do poder judiciário para fixar políticas públicas no lugar do legislador eleito pelo povo. Com efeito, como já examinado, a escolha de prioridades dentro do orçamento público se encontra dentro do campo discricionário dos poderes legislativo e executivo. Nesse sentido, Ernst-Wolfgang Böckenförde preleciona que a escolha dramática das opões políticas deve ser colocada nas mãos do legislador democrático, e, não, ser imposta pelo poder judiciário mediante uma prestação jurisdicional. Assim, o eminente autor mostra que o ativismo judicial cria o risco de transformar uma questão de discricionariedade política (debatida no parlamento) em questão hermenêutica de conflito de direitos fundamentais (debatida no tribunal superior). Tal deslocamento (questão política em questão de interpretação constitucional) gera também o deslocamento da competência (do parlamento para os tribunais), caracterizando-se aí o fenômeno da judicialização das disputas políticas envolvendo a escassez de recursos financeiros do Estado.13 A partir dessa visão de Böckenförde, é importante, pois, destacar bem os limites do ativismo judicial na formulação de políticas públicas. Com certeza, há grandes riscos de violação da separação de poderes e do Estado Democrático de Direito se a superação da dificuldade contramajoritária do poder judiciário ocorrer a partir de ativismo judicial desproporcional, vale dizer, fora dos limites impostos pelo núcleo essencial dos direitos fundamentais. 13 Las inevitables decisiones sobre prioridades, sobre el empleo y distribución de los medios financieros estatales disponibles, motivado por la escasez de recursos, pasan de ser una cuestión de discricionalidade política a una cuestión de observancia de los derechos fundamentales, más exactamente: de concurrencia y conflicto de derechos fundamentales; con ello se convierten, formalmente, en una cuestión de interpretación de los derechos fundamentales. Siendo consecuentes, la competencia para adoptarlas desplaza del Parlamento, o, en su caso, del Gobierno como detentador de la competencia presupuestaria, a los Tribunales y, em última instancia al TCF. La consecuencia seria un juridificación de las disputas politicas. BÖCKENFÖRDE, Ernst-Wolfgang. Escritos sobre derechos fundamentales. Tradução de Juan Luis Requejo Pagés e Ignácio Villarverde Menéndez. Nomos Verlagsgesellschaft: Baden-Baden, 1993. p. 65-68. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 26 Simplesmente transformar uma questão política em uma questão judicial de ponderação de valores é sair dos limites do Estado Democrático de Direito e entrar no antidemocrático Estado judicial de Direito. Certamente é razoável afirmar que o ativismo judicial é a base da efetividade dos direitos sociais, porém se houver ativismo desproporcional, haverá também violação do texto constitucional. Como bem destaca Luis Roberto Barroso, o ativismo serve para expandir o sentido e o alcance da Constituição e não para contradizê-la. O lugar-comum do ativismo ocorre nas situações de deslocamento entre a classe política e a sociedade civil, notadamente nos atos omissivos desta classe política. Nas palavras do grande constitucionalista, o ativismo: é uma atitude, a escolha de um modo específico e proativo de interpretar a Constituição, expandindo o seu sentido e alcance. Normalmente ele se instala em situações de retração do Poder Legislativo, de um certo descolamento entre a classe política e a sociedade civil, impedindo que as demandas sociais sejam atendidas de maneira efetiva. 14 Em conclusão, em virtude da dificuldade contramajoritária, o ativismo judicial, que, no nosso entender, deve ser vislumbrado de modo positivo quando feito com o fito de guardar a essencialidade mínima das normas constitucionais (ativismo judicial proporcional ou benigno), pode, também descambar para o mero decisionismo judicial, consectário nocivo da postura ativa, porém desnecessária e desproporcional de juízes e tribunais na concretização da Constituição. Nesse sentido, não se pode confundir ativismo judicial benigno com mero decisionismo judicial, deslocado do sentimento constitucional de justiça e da necessária cientificidade do direito. 14 BARROSO, Luis Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. Disponível em: <http://www.oab.org.br/oabeditora/users/revista/1235066670174218181901.pdf>. Acesso em: 30 jul. 2011. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 27 A decisão judicial calcada na mera pré-compreensão de magistrados é inconcebível dentro de um Estado Democrático de Direito. Decidir com base em convicções meramente pessoais e ideológicas é negar o caráter científico do direito. Se, por um lado, o ativismo judicial proporcional/benigno é necessário para a consolidação da força normativa da Constituição e é o instrumento número um da concretização dos direitossociais diante da escassez de recursos financeiros do Estado, por outro lado, o ativismo judicial feito sem parcimônia, sem observar os limites hermenêuticos impostos pelo sistema jurídico constitucional do Estado de Direito, viola a separação de poderes. A cláusula da dificuldade contramajoritária do poder judiciário é o termômetro axiológico do ativismo judicial, uma vez que as políticas públicas devem ser formuladas pelo congresso nacional e pelo poder executivo. Juízes e tribunais não estão livres para – a seu inteiro talante – proceder como bem entendem. Não se pode simplesmente substituir a vontade política dos representantes do povo (advinda de milhões de votos) pela vontade política de magistrados (escolhidos por concurso público e até mesmo por nomeações de caráter político), sem o grave risco de violação do Estado Democrático de Direito. É nesse sentido a crítica feita pelo jurista Ives Gandra: Sem entrar no mérito de ser ou não natural a relação diferente entre um homem e uma mulher daquela entre pessoas do mesmo sexo, quero realçar um ponto que me parece relevante e não tem sido destacado pela imprensa, preocupada em aplaudir a “coragem” do Poder Judiciário de legislar no lugar do “Congresso Nacional”, que se teria omitido em “aprovar” os projetos sobre a questão aqui tratada. (...) Ora, no caso em questão, a Suprema Corte incinerou o parágrafo 2º do artigo 103, ao colocar sob sua égide um tipo de união não previsto na Constituição, como se Poder legislativo fosse, deixando de ser “guardião” do Texto Supremo para se transformar DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 28 em “constituinte derivado”. Se o Congresso nacional tivesse coragem, poderia anular tal decisão, baseado no artigo 49, inciso IX, da Constituição Federal.15 Enfim, não se trata de negar o ativismo judicial, mas, sim, de defendê-lo em nome da proteção dos direitos fundamentais. Urge, pois, evitar a criação de uma verdadeira “República de Juízes”, na qual a manifestação volitiva de magistrados não eleitos pelo voto popular teria o condão de substituir leis elaboradas pelo poder legislativo. Em sede de formulação de políticas públicas, é o conceito de dificuldade contramajoritária do poder judiciário o farol a iluminar os limites do ativismo judicial proporcional, evitando que se navegue na direção de um antidemocrático Estado judicial de Direito. Atividade proposta Analise a efetividade e as diferenças entre as regras e os princípios. 15 Ibid., p. 274. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 29 Exercícios de fixação Questão 1 Analise cada item a seguir. I. A terceira dimensão dos direitos fundamentais se caracteriza pela titularidade de direitos que transcendem o homem-indivíduo; II. A chamada reserva do possível fática é aquela relacionada com a escassez de recursos econômicos e financeiros do Estado; III. A chamada reserva do possível jurídica é aquela relacionada com a competência constitucionalmente estabelecida para a proposição e aprovação das leis orçamentárias; IV. Os direitos de terceira dimensão são direitos de liberdade perante o Estado. Somente é CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I e III; b) ( ) II e III; c) ( ) III e IV; d) ( ) I, II e III. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 30 Questão 2 Leia a notícia abaixo: Decisão judicial pode assegurar direitos fundamentais que acarretem gastos orçamentários Em decisão unânime, a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a possibilidade de determinação judicial assegurar a efetivação de direitos fundamentais, mesmo que impliquem custos ao orçamento do Executivo. A questão teve origem em ação civil pública do Ministério Público de Santa Catarina, para que o município de Criciúma garantisse o direito constitucional de crianças de zero a seis anos de idade serem atendidas em creches e pré-escolas. O recurso ao STJ foi impetrado pelo município catarinense contra decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC). O TJSC entendeu que o referido direito, reproduzido no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é um dever do Estado, sendo o direito subjetivo garantido ao menor. Ele assegura a todas as crianças, nas condições previstas pela lei, a possibilidade de exigi-lo em juízo, o que respaldou a ação civil proposta pelo MP estadual, devido à homogeneidade e transindividualidade do direito em foco. Ainda de acordo com a decisão do TJSC, a determinação judicial do dever pelo Estado não caracteriza ingerência do Judiciário na esfera administrativa. A atividade desse dever é vinculada ao administrador, uma vez que se trata de direitos consagrados. Cabe ao Judiciário, por fim, torná-lo realidade, mesmo que para isso resulte obrigação de fazer, podendo repercutir na esfera orçamentária. No recurso, o município de Criciúma alegou violação a artigos de lei que estabelecem as diretrizes e bases da educação nacional, bem como o princípio da separação dos Poderes e a regra que veda o início de programas ou projetos não incluídos na Lei Orçamentária Anual (LOA). Sustentou DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 31 também que as políticas sociais e econômicas condicionam a forma com que o Estado deve garantir o direito à educação infantil. Em seu voto, o ministro relator, Humberto Martins, ressaltou que a insuficiência de recursos orçamentários não pode ser considerada uma mera falácia. Para o ministro, a tese da reserva do possível – a qual se assenta na ideia de que a obrigação do impossível não pode ser exigida – é questão intimamente vinculada ao problema da escassez de recurso, resultando em um processo de escolha para o administrador. Porém, a realização dos direitos fundamentais, entre os quais se encontra o direito à educação, não pode ser limitada em razão da escassez orçamentária. O ministro sustentou que os referidos direitos não resultam de um juízo discricionário, ou seja, independem de vontade política. O relator reconheceu que a real falta de recursos deve ser demonstrada pelo poder público, não se admitindo a utilização da tese como desculpa genérica para a omissão estatal na efetivação dos direitos fundamentais, tendo o pleito do MP base legal, portanto. No entanto, o ministro fez uma ressalva para os casos em que a alocação dos recursos no atendimento do mínimo existencial – o que não se resume no mínimo para a vida – é impossibilitada pela falta de orçamento, o que impossibilita o Poder Judiciário de se imiscuir nos planos governamentais. Nesses casos, a escassez não seria fruto da escolha de atividades prioritárias, mas sim da real insuficiência orçamentária. Agora leia as assertivas abaixo para, após, assinalar a opção que contém aquelas que podem ser consideradas corretas, observado o caso acima: I. No que se refere à classificação geracional dos direitos fundamentais consagrada na doutrina, podemos afirmar que os direitos fundamentais acima referenciados são direitos de segunda geração. II. No que se refere à classificação geracional dos direitos fundamentais consagrada na doutrina, podemos afirmar que os direitos fundamentais acima referenciados são direitos de terceira geração. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 32 III. É possível que magistrados utilizem o conceito de reserva do possível no processo de ponderação para análise de processos dessa natureza. IV. A doutrina brasileira não reconhece a normatividade dos direitos fundamentais prestacionais. a) ( ) I e II; b) ( ) I e III; c) ( ) II e IV; d) ( ) III e IV. Questão 3 Na concretização dos direitos sociais, a criação do direito pelo juiz a partir da solução do caso concreto encontra um grande óbicerepresentado pela escassez de recursos orçamentários do Estado e que a melhor doutrina denomina de: a) ( ) Reserva do possível fática; b) ( ) Reserva do possível jurídica; c) ( ) Dificuldade contramajoritária; d) ( ) Dificuldade legislativa. Questão 4 Apresenta-se como obstáculo na plena concretização dos direitos fundamentais a questão da falta de legitimidade democrática do poder judiciário para fixar políticas públicas no lugar do legislador e/ou administrador eleitos pelo povo. Trata-se no caso da chamada: a) ( ) Reserva do possível fática; b) ( ) Reserva do possível jurídica; c) ( ) Dificuldade contramajoritária; d) ( ) Dificuldade legislativa. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 33 Questão 5 Considere as seguintes assertivas: I. A Constituição de 1988 não reconhece jusfundamentalidade aos direitos sociais; II. A eficácia dos direitos fundamentais de segunda dimensão é meramente negativa; III. A primeira dimensão dos direitos fundamentais se vincula ao paradigma do Estado liberal; IV. As garantias fundamentais são direitos que garantem o exercício de direitos (direitos ao quadrado). Somente é CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I e III; b) ( ) II e III; c) ( ) III e IV; d) ( ) I, III e IV. Referências AMARAL, Gustavo. Interpretação dos direitos fundamentais e o conflito entre poderes. In: TORRES, Ricardo Lobo (Org.). Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. BERCOVICI, Gilberto. Videoconferência. 1ª parte. In: COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (Org.) Canotilho e a constituição dirigente. Rio de janeiro: Renovar, 2003. BÖCKENFÖRDE, Ernst-Wolfgang. Escritos sobre derechos fundamentales. Tradução de Juan Luis Requejo Pagés e Ignácio Villarverde Menéndez. Nomos Verlagsgesellschaft: Baden-Baden 1993. CAPPELETTI, Mauro. O Controle Judicial de Constitucionalidade das Leis no DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 34 Direito Comparado. 2. ed. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1999. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador: Contributo para a Compreensão das Normas Constitucionais Programáticas. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2001. FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2006. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 35 Chaves de Resposta Aula 5 Atividade proposta Na moderna hermenêutica constitucional, cabe ao intérprete captar o sentido e o alcance do enunciado normativo mediante a construção de conexões semânticas e fáticas diante do caso concreto. E assim é que, hoje em dia, tanto as regras como os princípios são considerados normas jurídicas, ou seja, as duas modalidades de norma jurídica têm capacidade de gerar um direito subjetivo diretamente sindicável perante o poder judiciário. Diferente era a situação no positivismo jurídico, onde os princípios constitucionais não eram percebidos como norma jurídica, mas, sim, como meros comandos de indicação moral, que fixavam valores axiológicos a serem perseguidos, mas que não podiam garantir uma posição jusfundamental individual do cidadão comum. Havia a necessidade que tal princípio fosse desdobrado em diferentes regras jurídicas que dariam então efetividade ao direito subjetivo individual positivado na forma principiológica. Exercícios de fixação Questão 1: D Justificativa: Somente a alternativa IV está errada, pois os direitos de liberdade perante o Estado são direitos de primeira dimensão e não de terceira dimensão, como dito na questão. Questão 2: B Justificativa: As alternativas II e IV estão erradas, pois no que se refere à classificação geracional dos direitos fundamentais consagrada na doutrina, podemos afirmar que os direitos fundamentais em tela são direitos de segunda e não de terceira geração, bem como é incorreto afirmar que a doutrina brasileira não reconhece a normatividade dos direitos fundamentais DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 5 36 prestacionais, sendo o melhor exemplo disso a doutrina brasileira da efetividade que professa a eficácia positiva ou simétrivca das normas constitucionais. Questão 3: A Justificativa: Somente a alternativa A está correta. Com efeito, a escassez de recursos orçamentários do Estado para atender a todas as demandas sociais denomina-se reserva do possível fática, ou, simplesmente, reserva do possível. Questão 4: C Justificativa: Somente a alternativa C está correta. Com efeito, o conceito de dificuldade contramajoritária de Bickel significa que, em regra, o poder judiciário não tem legitimidade democrática para formular políticas públicas no lugar do legislador e/ou administrador eleitos pelo povo. Questão 5: C Justificativa: As alternativas I e II estão erradas, porque a Constituição de 1988 reconhece jusfundamentalidade aos direitos sociais, bem como a eficácia dos direitos fundamentais de segunda dimensão não é meramente negativa, ao revés, pela doutrina da efetividade garante-se a eficácia positiva dos direitos fundamentais.
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