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1 Conhecimentos Técnicos em Aeronaves Analisando essas quatro forças, podemos concluir que, quando: • A sustentação é maior que o peso, a aeronave sobe; • O peso é maior que a sustentação, a aeronave desce; • A sustentação é igual ao peso, a aeronave permanece em voo nivelado; • A tração é maior que o arrasto, a aeronave acelera; • O arrasto é maior que a tração, a aeronave desacelera; • A tração é igual ao arrasto, a aeronave mantém a mesma velocidade. Aeróstatos são aquelas aeronaves consideradas “mais leves que o ar” e que voam segundo o Princípio de Arquimedes, que afirma que todo corpo mergulhado em um fluido possui um empuxo para cima igual ao peso do fluido deslocado. 1.1 Aeronaves de asa fixa (aviões) Motores Tipo: convencional, turboélice, turbofan e turbojato; Quantidade: monomotor, bimotor, trimotor, quadrimotor, hexamotor. Asas Número: monoplano, biplano e triplano; Localização: asa baixa, asa média, asa alta e asa parassol; Fixação: cantiléver e semi-cantiléver; Forma: retangular, trapezoidal, elíptica, delta, enflechamento (leve, moderado ou alto) e geometria variável. Velocidade de deslocamento Subsônico: mais lento que a barreira do som; Supersônico: mais rápido que a barreira do som. Perfil de decolagem e pouso CTOL: Conventional Take-off and Landing (decolagem e pouso convencionais); STOL: Short Take-off and Landing (decolagem e pouso curtos); VTOL: Vertical Take-off and Landing (decolagem e pouso na vertical). Um avião é composto basicamente de três grandes grupos: estrutura (célula), motores (ou grupo motopropulsor) e sistemas diversos (elétrico, lubrificação). As principais partes da estrutura de um avião, conforme representado na Figura 4, são: asas (wings), fuselagem (fuselage), empenagem (stabilizers ou empennage), superfícies de controle (flight controls) e trem de pouso (landing gear). Geometria da asa Fixação de asas Fixação mais comum encontrada nos aviões. Nesta montagem, a conexão das asas na fuselagem é realizada por meio da estrutura interna da asas; Similar à cantilever, entretanto utiliza adicionalmente suportes ou cabos de tensão entre as asas e a fuselagem. Estes elementos são requeridos em alguns projetos de aeronaves para manter a integridade estrutural das asas. Existem ainda algumas variações do semi-cantilever (aeronaves biplano com cabos de tensão conectados entre asas, semi-cantilever com suportes extras). Os principais componentes estruturais de uma asa são: Ainda a respeito da configuração estrutural da asa, a grande maioria das aeronaves possui os tanques de combustíveis localizados em seu interior. Em alguns projetos, eles são anexados como compartimentos separados no interior da asa; em outras ocasiões, uma determinada região interna da estrutura da asa é isolada e selada, a fim de evitar contato com as demais áreas. Nesta região, o combustível é armazenado na própria estrutura. Este conceito é definido como asa molhada (wet wing). Praticamente a totalidade de aeronaves construídas são da categoria monoplano (uma asa) Com relação à posição e ao tipo das asas, existe uma grande variedade de configurações possíveis, e cada uma delas destina-se a prover solução para um determinado perfil de voo projetado para a aeronave. Quanto à posição, podemos destacar: A fuselagem é a estrutura responsável por carregar diversos tipos de cargas em seu interior (pessoas, animais, produtos, alimentos) e abrigar a maioria dos sistemas necessários para o voo. Nela são fixadas as asas, a empenagem e, em algumas configurações, os trens de pouso e motores. Na sua grande maioria, os novos projetos de aeronave têm sido desenvolvidos em estrutura semi-monocoque. Os componentes dos sistemas da aeronave são distribuídos em diversas regiões na fuselagem e, em muitas ocasiões, principalmente em aeronaves de grande porte, a tarefa de localizar um componente específico demanda tempo e esforço. Para facilitar este processo, foram criados sistemas de zoneamento; nestes sistemas, a fuselagem é dividida em várias seções (estações) e um número é dado para cada uma. Assim, quando o piloto precisa verificar visualmente um componente, ou quando o mecânico realiza sua manutenção, basta verificar nos manuais em qual estação o componente está localizado e quais são as portas de acesso até ele. Estação da fuselagem (FS ou Fus. Sta.) Linhas imaginárias verticais localizadas longitudinalmente em diversos pontos da fuselagem e medidas em polegadas com relação à datum line. Alguns fabricantes também usam a nomenclatura BS (Body Station) ou Estação do Corpo; Linha d’água (W.L. – water line) Linhas imaginárias horizontais localizadas verticalmente em diversos pontos da fuselagem e medidas em polegadas com relação a um plano horizontal definido pelo fabricante (solo, cabine da aeronave ou mesmo abaixo do nível do solo – esta última opção é utilizada em alguns casos, pois este conceito de medição e o termo “linha d’água” derivam da indústria náutica, na qual as embarcações são medidas em relação à posição do casco acima do nível da água); Linha de alheta (B.L. – buttock line) • Linhas imaginárias paralelas localizadas à direita ou à esquerda, a partir do eixo central da fuselagem (vista por cima). Estas linhas incluem posições nas asas. • Observando a Figura abaixo, podemos notar que o fabricante da aeronave determinou: • Datum line em 38.3 polegadas à frente do spinner (cobertura) da hélice; • Parede de suporte do motor na F.S. 100.0 (100 polegadas à frente da datum line); • O water line de referência a 50 polegadas abaixo do solo, e o ponto mais alto da empenagem na W.L. 165.5 (165.5 polegadas acima da W.L. referência e 115.5 polegadas acima do solo). O conceito de zoneamento da estrutura também é aplicado a outras partes da aeronave, como nos ailerons (estações do aileron – A.S), flapes (estações do flape – F.S.), empenagem (estações do estabilizador horizontal – H.S.S), entre outros. Em aeronaves de grande porte, que podem chegar a ter milhares de componentes, grandes áreas são divididas em zonas e subzonas, como, por exemplo: • Zona 100 – região inferior da fuselagem, Subzona 132 – estrutura do piso central/lado direito; • Zona 300 – empenagem, Subzona 333 – profundor esquerdo; • Zona 800 – portas, Subzona 821 – porta de passageiros dianteira/lado esquerdo. A empenagem, conhecida popularmente como “cauda da aeronave”, é o conjunto estrutural responsável pela estabilidade direcional e longitudinal da aeronave. Nela estão presentes o cone de cauda, o estabilizador horizontal, o estabilizador vertical (ou deriva) e superfícies de comando (leme, profundor e compensadores). As estruturas internas das empenagens seguem o mesmo princípio encontrado nas asas, sendo compostas por nervuras, longarinas, reforços e revestimento. Da mesma maneira, estes elementos são responsáveis por suportar esforços como torção, tensão e cisalhamento causados pelo fluxo de ar durante o voo. As superfícies secundárias são chamadas de compensadores e têm a responsabilidade de ampliar ou equilibrar o movimento de uma superfície primária (aileron, profundor ou leme), permitindo que o piloto comande a aeronave com menor esforço e maior controle. As superfícies secundárias são chamadas de compensadores e têm a responsabilidade de ampliar ou equilibrar o movimento de uma superfície primária (aileron, profundor ou leme), permitindo que o piloto comande a aeronave com menor esforço e maior controle. Alguns compensadores são do tipo ajustáveis no solo, os quais, uma vez posicionados, não têm interferência do piloto durante o voo, e sua influência na superfície primária é constante. Já outros são do tipo dinâmico, se movimentando de modo automáticoquando uma superfície primária é comandada ou conforme ajuste do piloto em voo. Como podemos observar o exemplo da Figura abaixo, uma vez que o piloto comanda o profundor para baixo e a aeronave alcança a razão de descida desejada, o compensador é ajustado (trimado), para estabilizar o profundor nesta posição e, a partir deste momento, o piloto não precisa mais continuar segurando o manche para manter o perfil de descida. Esta situação é chamada de hands-off condition ou condição de mãos livres. Abaixo seguem alguns dos efeitos dos compensadores: • Compensador do aileron: atua para diminuir o esforço do piloto nas curvas e manter as asas niveladas; • Compensador do profundor: atua para diminuir o esforço do piloto nas manobras de subida ou descida e pode ser ajustado para uma altitude de voo específica (subida ou descida constante); • Compensador do leme de direção: atua para diminuir o esforço do piloto nas manobras de guinada e manter a aeronave em uma direção desejada quando em condições adversas (ventos fortes laterais). Dispositivos hipersustentadores são superfícies aerodinâmicas que possuem a função de aumentar a sustentação das asas nas fases mais críticas do voo: a decolagem e o pouso. Nestas ocasiões, a aeronave encontra-se em baixas velocidades, próxima ao solo, e a perda de sustentação poderia resultar em graves acidentes. Slats Superfícies aerodinâmicas localizadas nos bordos de ataque da asa. Ao ser comandado pelo piloto, estendem-se à frente do bordo de ataque por meio da ação de atuadores hidráulicos, aumentando o arqueamento da asa e permitindo que ela atinja maiores ângulos de ataque sem perder a sustentação Flapes Superfícies aerodinâmicas localizadas no bordo de fuga da asa. Ao serem acionados, da mesma maneira que os slats, aumentam o arqueamento, a curvatura e, em alguns projetos, a área da asa. Entretanto, ao contrário dos slats, que permanecem em apenas duas posições (abertos ou fechados), os flapes possuem várias posições (graus) ou, como popularmente mencionado no jargão aeronáutico, vários “dentes” de flape, e são acionados conforme o momento do voo. Para aeronaves de alta performance e peso, além dos dispositivos de hipersustentação, existem dispositivos mecânicos que realizam a operação inversa, ou seja, reduzem a sustentação. Os speed brakes, também chamados de spoilers, são painéis aerodinâmicos localizados no extradorso da asa, e podem ser acionados em três situações diferentes: a) Durante um procedimento de descida, são abertos parcialmente (em ambos os lados das asas), aumentando o arrasto e permitindo à aeronave descer sem que ocorra o aumento da velocidade; b) Durante uma curva em apoio à ação do aileron, é aberto parcialmente o spoiler do mesmo lado em que a curva está sendo realizada, aumentando o arrasto e a inclinação. O spoiler localizado na asa oposta permanece fechado nesta situação; c) Após o pouso, são abertos totalmente, em ambos os lados, reduzindo a sustentação, a velocidade e a distância percorrida na pista. O sistema responsável por ser a interface entre a vontade do piloto e a mudança de atitude do avião é chamado de sistema de controle de voo, o qual permite manobrar precisamente a aeronave nos três eixos (longitudinal, lateral e vertical). Para isto, ele utiliza os componentes principais (manches, pedais) que, por meio dos componentes secundários (cabos, polias, entre outros), acionam as superfícies de controle (aileron, profundor e leme de direção). Independentemente do modelo de manche utilizado, os princípios de comando são os mesmos: • Para realizar uma curva, o piloto deve inclinar o manche para o lado desejado, e os ailerons serão acionados, iniciando a rolagem; • Para subir, o piloto deve puxar o manche para próximo do seu corpo, e o profundor será acionado, iniciando a subida ou “cabragem”; • Para descer, o piloto deve afastar o manche do seu corpo, e o profundor será acionado, iniciando a descida ou “picagem”. Os princípios de comando dos pedais são: • Para modificar a direção do nariz da aeronave em voo, o piloto deve pressionar somente o pedal do lado desejado e o leme de direção será acionado, iniciando a guinada; • Para direcionar a aeronave no táxi ou na decolagem, o procedimento é igual ao anterior. Entretanto, em algumas aeronaves, existe um pequeno volante localizado na cabine de comando, chamado steering tiller control. Este dispositivo atua diretamente no trem de pouso de nariz, controlando a direção durante o táxi e no início da decolagem; • Para efetuar a frenagem da aeronave, o piloto deve pressionar a parte superior dos dois pedais ao mesmo tempo, utilizando as pontas dos pés. Este procedimento aciona os freios por meio da pressão do fluido hidráulico. 2 Módulo 2 – Conhecimentos Técnicos em Aeronaves 2.1 O sistema de alimentação é composto pelo de indução, superalimentação e formação de mistura. O sistema de indução, o qual leva a mistura ar-combustível para o motor, filtra e, se for preciso, utiliza-se dos gases de escapamento para aquecer o ar admitido. Num motor comum, não superalimentado, o pistão aspira o ar através da rarefação que ele cria no cilindro durante a fase de admissão. Portanto, a pressão no tubo de admissão é sempre menor do que a pressão atmosférica (ou seja, menor que 760 mm, ou 29,92 polegadas de mercúrio ao nível do mar na atmosfera ISA). Os motores não superalimentados perdem potência com a altitude, devido à diminuição de quantidade de ar. (HOMA, 2013, p. 61) O motor superalimentado – o famoso motor “turbo” – se utiliza de um compressor, que basicamente comprime o ar e o envia para o motor, com uma alta pressão, maior do que a externa. Isto acaba sendo um diferencial, pois, mesmo em altas altitudes, tem o rendimento igual ao nível do mar. Assim, é possível atingir altitudes as quais um motor convencional não alcançaria, por volta dos 18.000 ft. Motor não superalimentado Motor superalimentado Sistema de Formação de Mistura O sistema de formação de mistura é onde ocorre a mistura de ar-combustível para o funcionamento do motor. Existem três tipos: carburador, injeção direta e injeção indireta. O carburador é o sistema de formação de mistura mais utilizado em aviões de pequeno porte. Um dos principais elementos dele é o tubo de Venturi. O princípio de Bernoulli foi o caminho para os projetistas conseguirem diminuir a pressão do fluido e aumentar sua velocidade. Assim, torna-se possível pulverizar o combustível. Existem dois tipos de carburador: o de sucção e o de injeção. O principal tipo utilizado em aviões de pequeno porte é o de sucção. Basicamente, com a utilização do tubo de Venturi, é responsável pela sucção do ar, diminuindo a pressão. Sua principal desvantagem é a formação de gelo, a qual ocorre com o congelamento do vapor combustível e condensando a água no tubo de Venturi. Isso possui relação direta com a diminuição da pressão atmosférica, que diminui a temperatura internamente e tem relação, também, com a diminuição da temperatura externa e da pressão externa. Uma maneira de se evitar a formação de gelo no carburador é a utilização do ar quente do carburador, ou seja, utiliza-se dos gases de escapamento do motor para aumentar a temperatura na entrada de ar do motor, prevenindo contra a formação de gelo. Este motivo causa uma diminuição de potência em mais ou menos 15%. A injeção é, basicamente, um sistema que injeta combustível diretamente no cilindro. Sendo composta por uma válvula interna, seu sistema tem o mesmo princípio do utilizado no carburador. É automático e possui por segurança uma bomba auxiliar. O sistema de injeção direta pulveriza o combustível, sendo aspirado junto com o ar puro e ocorrendo a mistura ar-combustível dentro dos cilindros. 2.2 Sistema de combustível É o sistemadesignado a promover, ininterrompidamente, o combustível necessário para o motor, de forma limpa, sempre proveniente dos tanques. A alimentação por gravidade utiliza as forças de gravidade para transferir o combustível do tranque para o motor. Normalmente, os tanques são instalados nas asas, sempre ficando acima do carburador, fazendo a gravidade transportar o combustível até o carburador. Esse sistema é mais utilizado em aviões de pequeno porte. A alimentação por pressão é o sistema que utiliza as bombas de combustível, sendo responsável por transportar o combustível das asas para o motor. É composta por duas bombas: uma principal e outra auxiliar. 2.3 Sistema de Ignição O sistema de ignição do motor é o que fornece as centelhas para o funcionamento das velas, provocando, assim, a combustão da mistura ar- combustível nos cilindros. O magneto é responsável por fornecer a energia elétrica para o sistema de ignição. O magneto é o gerador elétrico do sistema de ignição, que funciona completamente independente do sistema elétrico da aeronave. O magneto gera alta tensão, a qual é suficiente para alimentar as velas. Outro componente importante do sistema de ignição é a vela, que produz a faísca dentro do cilindro e faz acontecer a combustão. Por segurança, o seu sistema é duplo e blindado (a parte externa é inteiramente metálica). 2.4 Sistema pneumático Este sistema utiliza o ar pressurizado para o seu funcionamento. O ar provém, principalmente, do motor, mas também pode ser de uma APU (unidade auxiliadora de pressão) ou de uma fonte externa. É utilizado para efetuar de comandos leves até os mais pesados. O sistema pneumático também possibilita a funcionalidade de diversos outros sistemas, como o sistema de pressurização, ar-condicionado, sistema antigelo, acionamento dos motores, pressurização do reservatório de água, reservatório hidráulico e tomada de temperatura total do ar, podendo também ser utilizado como motor de arranque, principalmente em aviões de grande porte. A composição desse sistema é feita por tomadas de pressão em dois estágios: compressor de baixa pressão, que é composto por um FAN (vide exemplos da unidade passada) como a composição do motor a jato, e um compressor de alta pressão, sendo em dois pontos – um ponto intermediário e um ponto no final do compressor. O ponto final do compressor é de onde provém o ar que alimenta o sistema pneumático, com o nome de sangria, sendo um estágio intermediário e de alta pressão. 2.5 Sistema hidráulico O sistema hidráulico das aeronaves é responsável por acionar os componentes das aeronaves a partir da pressão propagada através de um fluido, ou seja, esse sistema é responsável por ampliar as forças de um determinado movimento para facilitar a atuação dos componentes das aeronaves. O sistema hidráulico é baseado na Lei de Pascal, a qual pode ser definida como: “a pressão aplicada a um ponto do fluido transmite-se igualmente para todas as partes desse fluido”. Dependendo do tamanho da aeronave e de sua complexidade, podem existir diversos tipos de sistemas e componentes, os quais podem ser controlados pelo sistema hidráulico. Nas aeronaves de grande porte, o sistema hidráulico controla as superfícies de comando, tais como spoilers, flaps, leme, profundor e outros tipos de sistemas. Já nas aeronaves de pequeno porte o sistema hidráulico pode controlar o trem de pouso retrátil, a aplicação dos freios e até mesmo alguns modelos de hélice. A figura abaixo facilita o entendimento sobre o sistema hidráulico. Observe que o fluido que passa pelo tubo consegue fazer com que uma força aplicada no cilindro primário, de 1 kgf (quilograma/força), possa movimentar uma carga de até 20 kg. Para as aeronaves de grande porte, este princípio é extremamente importante e eficiente, pois existem componentes e sistemas que não poderiam ser acionados utilizando somente a força dos pilotos. A Figura 9 também demonstra como é o princípio de atuação dos freios das aeronaves, pois o cilindro atuador dos freios corresponde ao cilindro primário e, através do tubo, o fluido é transportado até os freios das aeronaves, os quais são responsáveis por comprimirem as pastilhas ou as sapatas. A fórmula do rendimento mecânico pode ser definida da seguinte forma: R = força aplicada pelo cilindro atuador / força aplicada pelo cilindro primário R = área do pistão do cilindro atuador / área do pistão do cilindro primário Ou seja, tem-se daí o princípio de que, quanto maior for a força aplicada pelo cilindro primário, menor será o rendimento mecânico, pois, para se obter um rendimento mecânico melhor, uma força menor deve ser aplicada. Um sistema hidráulico é composto basicamente por: uma bomba (pode ser elétrica ou manual), um reservatório (onde o fluido ficará armazenado) e um filtro (para manter o fluido livre de impurezas), uma válvula seletora (responsável por controlar a direção do fluxo do fluido), uma válvula de alívio e um atuador. Quanto maior e mais pesada a aeronave for, mais complexo será o seu sistema hidráulico. Em aeronaves civis de grande porte (Boeing 737, Airbus A320) não existe um único sistema responsável por todos os componentes; existem, geralmente, três diferentes sistemas hidráulicos responsáveis por controlar diferentes componentes da aeronave. Essa composição é mais segura e eficaz, pois, em caso de falha de algum dos sistemas, os pilotos não irão perder todos os componentes controlados pelo sistema hidráulico. 2.6 Sistema de antigelo e degelo Os sistemas de antigelo e degelo são destinados ao combate de gelo, que pode surgir em algumas partes das aeronaves, comprometendo a segurança da operação. No Brasil, devido ao clima tropical é muito improvável que o gelo cause algum tipo de problema para as operações, as quais acontecem ao nível do mar. Contudo, a temperatura é inversamente proporcional à altitude, ou seja: quanto maior a altitude, menor será a temperatura. Mesmo em locais muito quentes as aeronaves estão sujeitas a encontrar condições climáticas adversas, propícias à formação e ao acúmulo de gelo; Os sistemas de antigelo e degelo são responsáveis por combater e prevenir essa formação de gelo nas aeronaves. O sistema antigelo tem a função de prevenir a formação de gelo nas aeronaves, ou seja, o objetivo desses sistemas é prevenir que o gelo apareça, e não o extinguir depois de ele aparecer. Dependendo do tamanho e da complexidade das aeronaves, os sistemas podem variar em locais de atuação e complexidade. Os componentes das aeronaves que podem possuir algum sistema de antigelo ou degelo são: para-brisa, bordo de ataque da asa, pás da hélice, pontos de tomada de pressão estática, tubo de pitot e aberturas do tanque de combustível. Cada componente pode possuir o seu próprio sistema para evitar o acúmulo de gelo. O sistema de degelo, ao contrário do antigelo, tem a função de destruir o gelo acumulado depois de formado. Esse sistema é encontrado em aeronaves que operam em condições meteorológicas adversas, e é muito importante para garantir a eficiência e a segurança de todas as operações aeronáuticas. Um famoso sistema de degelo são as “botas” degeladoras. Estas botas são, basicamente, uma camada de borracha colada a superfícies do bordo de ataque, e as botas degeladoras têm a função de destruir o gelo formado nas asas. As botas degeladoras são controladas de dentro da cabine de comando, portanto os pilotos conseguem acionar esse sistema sempre que desejarem. Uma bomba pneumática é responsável por ativar as botas e fazer com que elas inflem. É importante ressaltar que esse sistema requer manutenções constantes, pois isso pode garantir uma maior longevidade ao sistema e uma eficiente inspeção pré-voo. Portanto, os pilotos devem checar se o sistema está operante sempreantes de todo voo. 2.7 Sistema de Oxigênio À medida que a altitude aumenta, a pressão diminui e o ar passa a ser cada vez mais rarefeito, ou seja, quanto maior for a altitude mais difícil fica para poder respirar. Devido a isto, as aeronaves que voam em altas altitudes necessitam de um sistema capaz de suprir essa falta de oxigênio; esse sistema é o sistema de oxigênio. O sistema de oxigênio trabalha em conjunto com o sistema de pressurização, visando suprir a falta de oxigênio que começa a acontecer, aproximadamente, acima de 10.000 pés de altitude. Especialistas calculam que, entre 12.000 e 14.500 pés, o corpo humano já começa a sentir sintomas relacionados à falta de oxigênio, a chamada hipóxia. Hipóxia significa ausência de oxigênio nos tecidos do corpo humano. Dentre os principais sintomas relacionados à hipóxia, estão: sonolência, perda de consciência, dor de cabeça, tonturas e desmaios. As aeronaves que voam acima de 15.000 pés são obrigadas a possuir um sistema de oxigênio e pressurização. Dependendo da condição física do indivíduo, este já pode começar a sentir os sintomas da falta de oxigênio a partir de 10.000 pés durante o dia e, durante a noite, a partir de 5.000 pés. As aeronaves que não possuem um sistema fixo de oxigênio, mas que voam acima de 14.000 pés, precisam possuir um modelo de sistema de oxigênio portável. O sistema portável de oxigênio consiste basicamente em um uma máscara de oxigênio, um cilindro que armazena O2, um manômetro (equipamento utilizado para medir a pressão) e um regulador. A pressão média a qual o oxigênio deve se manter dentro do cilindro é entre 1.800 e 2.200 PSI (unidade de medida para medir a pressão), e, ainda, caso o sistema não seja armazenado a uma temperatura adequada, é possível que perca oxigênio. Esse fator acontece devido à temperatura ambiente, ou seja, quanto menor for a temperatura dentro da aeronave, menor será a quantidade de oxigênio dentro do cilindro. Portanto, é necessário que todo o sistema esteja armazenado a uma temperatura ideal. Os cilindros podem ser pintados de verde ou amarelo: verde para indicar uma pressão em torno de 1.800 PSI e amarelo para indicar uma pressão de aproximadamente 450 PSI; A máscara é responsável por fornecer o oxigênio da forma correta, pois, abaixo de 34.000 pés, não se deve utilizar O2 em sua forma pura. Nessa condição, o ar deve ser diluído, e a máscara é responsável por essa função; Os reguladores regulam a quantidade de oxigênio fornecida e se ele será fornecido de forma pura ou diluída. 2.8 Sistema de pressurização Com o objetivo de suprir a falta de oxigênio nas cabines das aeronaves civis, o sistema de pressurização foi criado. O sistema de pressurização tem a finalidade de manter a cabine de passageiros e a cabine de controle da aeronave pressurizadas, ou seja, fazer com que se mantenha uma quantidade ideal de oxigênio dentro da aeronave para a respiração de todos e que a pressão possa ser suportável. Vale ressaltar que em grandes altitudes (por exemplo, 35.000 pés) a pressão também é muito menor e interfere no funcionamento do corpo humano. Existem dois motivos pelos quais as aeronaves de grande porte voam em altas altitudes. O primeiro é o consumo de combustível; em altitudes maiores, as aeronaves podem desenvolver uma velocidade alta consumindo menos combustível comparando com a mesma velocidade em uma altitude menor. Vale ressaltar que o combustível é um dos principais gastos que uma empresa aérea possui, por isso economizar combustível é muito importante. O segundo motivo é que é possível desviar-se de más formações meteorológicas e de tempestades, garantindo maior conforto aos passageiros. A Figura 13 mostra como funciona um sistema de pressurização. O controlador de pressurização fica dentro da cabine de controle, que é o local onde o piloto ativa e controla o sistema; a válvula controladora de vazão tem a finalidade de controlar a quantidade de ar que sai da aeronave, e também é responsável por controlar a pressão dentro da cabine; já o compressor é o componente responsável por enviar o ar sob pressão para a cabine. O compressor utilizado é o mesmo encontrado nos motores a reação. Figura 13. Sistema de pressurização. Fonte: HOMA, 2007, p. 131. (Adaptado) A grande maioria dos sistemas de pressurização encontrados atualmente mantém a cabine de passageiros pressurizada da mesma maneira do que a 8.000 pés de altitude, ou seja, a pressão dentro da aeronave quando esta estiver pressurizada será a mesma durante qualquer altitude que a aeronave mantiver; isso facilita o funcionamento de todo o sistema. A função do sistema de pressurização não é somente garantir o conforto de todos os passageiros, mas também garantir a segurança operacional, pois uma falha ou mau funcionamento do sistema pode ser fatal. Caso o sistema falhe em voo e ocorra a despressurização da cabine, os pilotos devem iniciar uma descida de emergência para aproximadamente 10.000 pés de altitude, garantindo que nenhum passageiro a bordo da aeronave sofra com a hipóxia (falta de oxigênio). A demora por parte dos pilotos em identificar um problema durante a pressurização pode ser fatal para todos a bordo – acidentes aeronáuticos já aconteceram por conta disso. 2.9 Sistema de proteção contra incêndio Um fator que pode ser prejudicial e afetar a segurança das operações aeronáuticas, da mesma forma que o gelo, é o fogo. Fogo no motor é um problema que todas as aeronaves estão sujeitas a vivenciar, mas, se a manutenção for feita de forma constante e do modo como as agências reguladoras exigem, a probabilidade desse problema acontecer é pequena. Com o objetivo de prevenir a disseminação do fogo, foram criados sistemas de proteção e prevenção contra incêndios nas aeronaves O sistema é dividido basicamente em duas partes: • A – é o sistema que tem a finalidade de detectar o fogo ou pontos de calor em locais que podem acontecer um incêndio com mais facilidade. Os sistemas possuem sensores que podem ser contínuos (em forma de fios compridos) ou locais (sensores isolados). O sistema produz um alarme na cabine para avisar os pilotos; • B – é o sistema responsável por extinguir o fogo, e é acionado pelos pilotos dentro da cabine. O primeiro termo é combustão. A combustão é uma reação química que ocorre entre o oxigênio e algumas substâncias combustíveis, podendo haver chama ou não. Uma combustão sem chama, por exemplo, é aquela que acontece nos churrascos, uma vez que o carvão produz calor sem chama. A combustão com chama, a seu turno, é a que acontece quando acendemos um fósforo, por exemplo. Os outros termos são ponto de fulgor e ponto de autoinflamação. Como o próprio nome já diz, o ponto de autoinflamação é a temperatura em que o líquido entra em combustão somente devido à sua alta temperatura, ou seja, o líquido se “inflama” sozinho, basicamente. Já o ponto de fulgor é a temperatura em que o líquido se inflama, mas precisa de uma fonte externa de calor, como uma faísca, uma chama ou outra fonte de calor. No ponto de fulgor, os líquidos ficam inflamáveis e a combustão pode acontecer devido a alguma fonte externa. Para conseguir acabar com a combustão ou algum incêndio, existem duas maneiras possíveis de se fazer: pode ser tanto por abafamento quanto por resfriamento. A combustão acontece quando existe a presença de três fatores importantes: calor, oxigênio e combustível. Quando algum desses fatores é eliminado, a combustão é cessada. O método por resfriamento acontece quando algum componente é resfriado e o calor é eliminado (por exemplo, um pedaço de papel molhado não pega fogo, pois está frio). O método por abafamento acontece porque calor, combustível e oxigênio são separados (por exemplo, aplicar a espuma do extintor de incêndio em alguma superfície em chamas). Além das formasde se interromper a combustão, existem os tipos de incêndio, divididos nas seguintes classes: • Classe A – Materiais e produtos que podem deixar brasas e cinzas. Exemplo: papel, tecido e madeira; • Classe B – Líquidos inflamáveis. Exemplo: álcool, querosene, gasolina; • Classe C – Materiais elétricos. Exemplos: cabos, fios; • Classe D – Metais em geral, os quais são ótimos condutores de calor; Água - Utiliza o método de resfriamento para o apagar os incêndios de classe A. Ou seja, apaga incêndios em papel e madeira, não sendo muito utilizado em aeronaves. Espuma - Utiliza o método de abafamento para apagar os incêndios de classe B. É muito corrosiva aos metais, mas é útil para apagar incêndios relacionados a acidentes aeronáuticos. Pó seco - Utiliza o método de abafamento para o apagar os incêndios de classe D, ou seja, metais. Pó químico - Utiliza o método de abafamento para apagar os incêndios de classe C e B, ou seja, apaga mais de uma classe e é muito útil durante algum incêndio. CO2 – dióxido de carbono – Não conduz eletricidade, portanto é utilizado para apagar incêndios de classe C. Porém, pode causar queimaduras na pele e asfixia em locais fechados. 3 Hélice e motores a reação 3.1 As hélices das aeronaves A hélice de uma aeronave é um componente muito relevante, pois sua principal função é fazer a potência efetiva do motor se transformar em potência útil. Isso significa que a potência produzida pelos motores das aeronaves, nos motores a pistão e nas aeronaves que utilizam a hélice, será transformada em uma potência realmente útil, capaz de ser aproveitada por toda a aeronave. As hélices são aerofólios, como as asas e outras superfícies de controle e comando das aeronaves. Isso quer dizer que a sua forma estrutural e os seus princípios de funcionamento são os mesmos de um aerofólio. A hélice, além de ser um aerofólio, é rotativa, e está sujeita aos princípios de qualquer aerofólio, ou seja, as hélices podem sofrer estol e, ainda, estão sujeitas ao arrasto. A maneira pela qual as hélices produzem sustentação é bem parecida com a forma que as asas produzem, pois os motores farão a hélice girar e produzir a tração necessária pra a locomoção da aeronave. Isso quer dizer que o ângulo é maior na raiz das hélices e menor na ponta. Na maioria das hélices, as pás são torcidas e o ângulo é maior na raiz, para poder suportar a força tratora e a força centrífuga. A espessura na raiz das hélices também é maior enquanto na ponta é menor, bem como o ângulo. Com relação à escolha dos tipos de materiais utilizados para a construção das hélices, é importante lembrar que elas devem ser resistentes a danos, não podem ser corrosivas, devem ter fácil manutenção e longa durabilidade. Levando em conta que, durante um voo, os pilotos podem encontrar diversas formas de anormalidades capazes de causar algum risco à segurança de voo e à estrutura das hélices, elas precisam garantir que serão resistentes e não serão danificadas com facilidade. Os materiais utilizados podem ser de algum tipo de madeira reforçada até alumínio. Alguns plásticos reforçados também podem ser utilizados na composição das hélices. Os materiais utilizados variam conforme o modelo das aeronaves e da sua potência produzida, ou seja, quanto maior for a potência dos motores, mais resistentes às hélices devem ser. As aeronaves que possuem motores com uma potência menor fazem a utilização de hélices de madeira. Um importante tópico é o passo da hélice. O passo pode ser definido como a distância que a hélice avança quando completa uma volta, mas antes de analisarmos os diferentes tipos de hélice existentes, serão estudadas as formas que as hélices podem assumir durante o voo, baseadas no passo da hélice. O primeiro tipo existente é o passo bandeira: O passo bandeira é utilizado quando o motor falha em voo e acaba parando. A pá da hélice fica alinhada ao vento, de uma forma que pareça cortá-lo. Outro método existente é o passo chato: O passo chato acontece quando o ângulo da pá é nulo, ou seja, o arrasto acaba sendo máximo. Caso o motor esteja acelerando e aumentando sua potência, esse tipo de passo pode causar um disparo de hélice. O terceiro tipo existente é o passo reverso: O passo reverso faz o ângulo da pá ser negativo. Isso significa que a hélice é utilizada para frear o avião e é utilizada para realizar pousos mais curtos. Vale ressaltar que cada tipo de passo possui uma função e um modelo de operação diferente. Portanto, os pilotos e profissionais da aviação devem sempre ficar muito atentos sobre qual é o passo desejado, e qual o resultado pretendido. A Figura 2 ilustra bem as diferenças entre os três tipos existentes. Hélices de passo fixo As hélices de passo fixo são as mais simples que existem, porque suas pás são fixas, e os pilotos não conseguem modificar as hélices em voo. Geralmente, são utilizadas em aeronaves de pequeno porte e mais simples. Exemplo: Cessna 152. Hélices de passo ajustável: As hélices de passo ajustável, como o próprio nome diz, podem ter seu passo ajustado, e podem ser modificadas. Contudo, essas mudanças podem acontecer somente em solo, e somente a equipe de manutenção pode realizá-las, pois devem ser feitas em local apropriado, com as devidas ferramentas. Hélices de passo variável á as hélices de passo variável são divididas em manual e automática. As hélices de passo variável automáticas podem ser divididas em: hidramática, aeromática e elétrica. O último modelo de hélice existente é a hélice de passo variável automática, sendo a mais eficiente que existe, pois essa hélice ajusta o passo de forma automática, permitindo que a aeronave voe com uma velocidade constante, além de possuir governador (será explicado logo em seguida). A hélice de passo variável automática também é reconhecida e chamada de “hélice de velocidade constante”, pois o governador é responsável por controlar o passo da hélice, conforme a potência dos motores, e isso diminui a possibilidade de ocorrer um erro causado por algum ajuste errado do passo. O governador é um importante conceito deste tópico, pois ele é responsável por controlar o passo da aeronave durante todas as fases do voo. Conforme o motor aumenta a rotação, os governadores aumentam o passo da aeronave; conforme o motor diminui a rotação, o governador diminui o passo. 3.2 Motor a reação A primeira aeronave civil a utilizar motores a jato em seu funcionamento e para o transporte de passageiros foi o de Havilland Comet DH 106. O primeiro voo dessa aeronave foi no ano de 1952, e ela possuía 4 reatores em suas asas. O DH 106 foi revolucionário para a época, pois, até aquele momento, existiam somente aeronaves equipadas com motores a pistão. O princípio de funcionamento dos motores a reação está baseado na terceira lei de Newton, lei da ação e reação. Também já foi analisado que os motores a jato possuem diferentes variações, entre elas estão o motor a jato puro, turbofan e turbo-hélice. Os motores turbo-hélice e turbofan serão mais bem detalhados, portanto, este tópico demonstrará o funcionamento dos motores a reação de uma maneira geral. A Figura 3b mostra que os motores são basicamente divididos em: duto de admissão, compressor, câmara de combustão, turbina e bocal propulsor. Cada componente possui uma função fundamental durante o funcionamento desses motores, e mesmo que existam diferentes variações dos motores a reação, os componentes básicos são praticamente os mesmos. Uma definição muito básica sobre como ocorre o funcionamento seria: existe um tubo, que é aberto em duas partes, e existe o ar que fica passando por dentro desse tubo continuamente. Essa definição é bem simples, mas é útil, pois resume como ocorre o funcionamento. O ar entra pelo duto de admissão, depois é comprimido pelo compressor(ou compressores); após a passagem pelo compressor, o ar chega à câmara de combustão, onde será aquecido e misturado ao combustível. Depois, a turbina expandirá os gases da combustão e, finalmente, o bocal propulsor irá expelir os gases, gerando tração e potência para os motores. É interessante analisar que a turbina e o compressor formam a única parte móvel dos motores a reação, pois os dois componentes giram em conjunto. Outro fator interessante é que a pressão dentro do motor está sempre variando, pois, primeiramente, a pressão aumenta nos compressores, depois permanece a mesma dentro da câmara de combustão (em teoria, pois na prática ocorre uma perda de pressão quando ocorre a combustão), e depois a pressão diminui significativamente quando os gases são expandidos através da turbina. Os motores a reação funcionam, basicamente, pela forma descrita anteriormente. O ciclo de funcionamento dos motores a reação é chamado de ciclo de Brayton, assemelhando-se ao ciclo de Otto, que é o ciclo de funcionamento dos motores a pistão. Os dois ciclos possuem os mesmos tempos, admissão (duto de admissão), compressão (compressores), tempo motor (câmara de combustão e turbina) e escapamento (bocal propulsor). A principal diferença entre os dois é que, nos motores a reação, cada tempo ocorre em uma parte diferente do motor e a pressão não aumenta durante a combustão. O primeiro componente é o duto de admissão, que tem a finalidade de ordenar a quantidade e a direção do fluxo de ar que chega aos compressores. É a primeira etapa de todo o processo, portanto eles são muito importantes para a eficácia do funcionamento. Os dutos de admissão podem variar de forma e tamanho, dependendo do tipo de operação desejada e do tipo do motor. O segundo componente são os compressores. A pressão do ar aumenta dentro deles, e os compressores possuem a função de comprimir o ar admitido. As diferenças entre compressor centrífugo e compressor axial estão relacionadas com o comportamento do ar após a passagem pelos compressores. No compressor axial, o ar entra e sai no mesmo sentido do eixo, ou seja, paralelo a ele. Já no compressor centrífugo, o ar entra no sentido paralelo, e sai no sentido perpendicular, ou seja, fazendo um ângulo de 90 graus com o eixo. Cada tipo de compressor possui uma finalidade, por exemplo, o compressor centrífugo é utilizado para pressões maiores, enquanto o axial é utilizado para maiores quantidades de ar. Caso a pretensão seja utilizar o axial para pressões maiores, basta utilizar vários compressores (estágios) para conseguir um maior volume de ar, com pressões elevadas O terceiro componente dos motores é a câmara de combustão. É o local onde acontece o processo de combustão e, dentro dela, existe o bico injetor, que é responsável por pulverizar o combustível. A câmara de combustão possui um alargamento em sua estrutura, objetivando que a pressão não diminua durante a combustão ou diminua pouco, garantindo uma melhor eficiência dos motores. Quando falamos de câmara de combustão, é interessante apontar alguns problemas que podem ser causados e que devem ser evitados. Esses problemas são: a chama causar danos e fundir o material da câmara, e a chama ser soprada para fora da câmara. Visando solucionar esses problemas, os engenheiros e os fabricantes aeronáuticos criaram o “ar primário” e o “ar secundário”. A Figura 4 ilustra muito bem esse funcionamento. O fluxo de ar é divido em dois dentro da câmara de combustão o ar primário corresponde a 1/4 da quantidade total do ar que chega do compressor, e o ar secundário corresponde a 3/4 do total do ar. Conforme a Figura 4, o ar primário é aquele que participará efetivamente da combustão, e o ar secundário ontornará a câmara de combustão, garantindo que essa não sofra danos. O ar primário e o secundário são muito importantes para a melhor operação dos motores a reação, e seus estudos efetivaram as operações aeronáuticas. Turbina Após a passagem do ar pela câmara de combustão, o próximo componente é a turbina. Sempre é importante lembrar que turbina é diferente de motos; os profissionais da aviação devem entender que motor é o conjunto todo; a turbina é um dos componentes. Enfim, como a turbina e os compressores formam a parte móvel de todo o motor, a turbina serve para acionar os compressores, extraindo a potência dos gases queimados provenientes da combustão. As turbinas não possuem somente partes móveis; o estator, por exemplo, é um componente fixo da turbina que tem grande importância para garantir um melhor funcionamento. As turbinas utilizadas são somente do tipo axial e, devido às altas temperaturas, devem ser produzidas por materiais resistentes ao calor. Existem motores a reação que possuem mais de um rotor, ou seja, existirão dois conjuntos de turbina e compressor em um único motor. Essa divisão não é feita em vão, pois garante a maior eficácia dos motores (maior potência e tração), além de reduzir muito a possibilidade de ocorrência de um estol de compressor. A Figura 5 ilustra como podem existir dois rotores em um motor aeronáutico. ercebe-se que existem tanto o rotor de alta pressão, como o rotor de baixa pressão. O de alta pressão girará de uma forma mais rápida, garantindo os benefícios já citados. Por fim, o último componente é o bocal propulsor, que é responsável por corrigir o fluxo de ar que sai da turbina e aproveitar a energia que vem sob pressão. Outra função desse bocal é aumentar a velocidade dos gases. Motores que não possuem um eficiente bocal propulsor podem permitir que muita energia seja perdida na atmosfera. 3.3 Motor turboélice O motor turbo-hélice, de modo geral, auxiliou no avanço da aviação no mundo, desde a sua invenção na década de 1960. Possibilitando a operação em locais de difícil acesso, abordaremos o seu princípio de funcionamento, como sua principal diferença para o motor a jato, que é de gerar tração ao invés de empuxo, e outras diversas particularidades. É um motor derivado do motor a jato puro. Temos como base o principal fabricante, a empresa norte-americana Pratt & Whitney, que produz o motor turbo-hélice mais utilizado no mundo: o PT6, que apresenta detalhadamente sua composição e o modo de funcionamento. Vamos estudar os três principais estágios e os tipos de sistemas. “O motor turbopropulsor combina a confiabilidade dos jatos com a eficiência da hélice, utilizando o eixo da turbina a gás para girar a hélice. Existem duas partes principais no sistema de propulsão turbopropulsor: o motor principal e a hélice, sendo o motor principal similar a um turbojato, com exceção de que ao invés de expandir todos os gases quentes pelo bocal de exaustão para produzir propulsão, a maior parte da energia advinda da exaustão é utilizada para girar a turbina (HALL, 2017 apud CARVALHO, 2018, p. 14)”. Iniciaremos falando sobre o seu princípio de funcionamento, que é bem parecido com o motor turbofan, mas ao invés de gerar empuxo, ele gera tração por conta do eixo, que é conectado entre compressor, turbina e caixa de engrenagem, movimentando a hélice. A principal diferença é que a hélice é a responsável pela tração que possibilita o movimento da aeronave. No motor a jato, por exemplo, o que faz o movimento da aeronave é o deslocamento da massa de ar, movendo uma massa de ar para trás e empurrando o avião para frente, diferente do turbo-hélice, cuja tração é proveniente da hélice. Uma de suas qualidades é possibilitar o tipo de operação em ambientes de difícil acesso, como fazendas, que provêm pistas de terra e grama. Um diferencial: ser operacional onde não seria possível para aviões a jato. Isso é possível porque no duto de admissão do ar, que fica instalado na parte frontal do motor turbo- hélice (com destaque referente ao box), há um separador inercial, impedindo que partículas sejamingeridas pelo motor. Vale ressaltar que o seu custo de operação, comparado com o motor a jato, é muito menor, sendo o ideal para distâncias mais curtas. O motor turbo-hélice tem a maior aplicação na aviação regional, tendo o exemplo do avião ATR (Aviões de Transporte Regional), de fabricante francesa, que tem seu próprio nome como objetivo. Um ATR é um avião de asa alta, tendo em sua composição dois motores turbo-hélices, Pratt & Whitney. Além de diversos aviões que utilizam o motor turbo-hélice, para ser viável a operação em fazendas, locais remotos e entre outros exemplos, vamos abordar algumas informações do ATR a seguir. O ATR é um avião essencial para uma das maiores companhias aéreas brasileiras, a Azul, que possibilitou a operação em locais que não provêm de estrutura suficiente para a operação de grandes jatos. O ATR, por exemplo, tem em sua composição alguns diferenciais, como: portas de fácil acesso e escada própria; é um avião autossuficiente e operacional (em qualquer aeroporto), não necessitando de grandes infraestruturas. É muito bem empregado, tendo como um diferencial da empresa atender às demandas que as demais companhias aéreas nacionais não atendem. É pressurizado e voa em uma altitude de no máximo 25.000ft, conta com um perfil de asa diferente, um pouco maior, que gera mais sustentação em baixas altitudes e baixas velocidades. O Motor do ATR é o PW121, com funcionamento similar ao PT6. O ATR é um avião mais lento que um avião equipado com motor turbofan, porém apresenta uma melhor economia de combustível. O motor turbo-hélice mais utilizado no mundo, PT6, é fabricado pela Pratt & Whitney, e tem diversas variações, que, no conceito geral, têm o mesmo funcionamento e empregabilidade. Está equipado na maioria dos aviões turbo-hélices, além de diversos outros aviões com características e intuito parecido, atingindo uma gama de mercado específico. Exemplo de aviões que utilizam o motor PT6 são o Cessna Caravan, o Beechcraft King air, o Pilatus PC-6, entre outros diversos aviões, que utilizam esse motor com o mesmo intuito: ser operacional em pistas de difícil acesso e ter alta confiabilidade. Sobre o seu funcionamento, vamos usar como base a composição do motor turbo-hélice PT6. Podemos falar que ele é dividido em três partes: admissão, compressão e exaustão. Na parte de admissão, os dutos de admissão são instalados na parte frontal do motor, assim, todo ar admitido inicialmente passa por um filtro e depois é enviado para um compressor axial (que tem o fluxo paralelamente ao eixo de rotação). Esse ar admitido é comprimido, sendo classificado como compressor de alta pressão. Quando se chega ao final do compressor, o ar é encaminhado para um compressor centrífugo, que o empurra para o próximo estágio de compressão. O que faz girar o motor é a maior parte do ar admitido, ou seja, parte do ar passa pela câmara de combustão para que ocorra a queima e o aumento de velocidade dos gases, fazendo as rodas da turbina girarem. Parte desse ar é direcionado para trocar calor com as partes quentes do motor. O ar chega em alta pressão e o segundo estágio é iniciado na câmara de combustão, que é responsável por admitir o ar em alta pressão e realizar a mistura com o combustível através dos bicos injetores, onde ocorre a queima e, consequentemente, faz a turbina girar. Para movimentar a hélice, há uma caixa de engrenagem redutora, que é conectada por um eixo, limitando em média até 2.000 rotações por minuto. Deve-se manter uma rotação adequada para a ponta da hélice, para não entrar em velocidade supersônica e se tornar ineficiente. As turbinas são divididas em dois eixos: parte fria e o eixo conectado à hélice, não tendo conexão física. O motor tem estágios de compressão e estágios de turbina. Turbina é um módulo do motor e o estágio de turbina não tem como composição parte do compressor. Sua temperatura de trabalho gira em torno de 600 a 700 °C. Chamamos essa temperatura de ITT (Inter Turbine Temperature) nos motores turbo-hélice. No segundo estágio, há a queima do combustível, que ocorre na câmara de combustão. As velas são utilizadas apenas no acionamento do motor e, em condições de chuva, podem ser acionadas para evitar apagamento do motor. Após a partida, a chama dentro da câmara de combustão se mantém acesa. Chegando no terceiro estágio, após a queima, o compressor e a turbina movimentam todo o eixo do motor, chegando na caixa de engrenagem, que resulta no movimento de tração da hélice. O FCU (Fuel Control Unit) não recebe ar sangrado. A função dele é regular a quantidade de combustível a ser queimado na câmara de combustão com base em informações de temperatura, pressão, posição de manete, rpm etc. A FCU é a Unidade de controle de combustível que se aplica diretamente em motores a reação. É o responsável pela dosagem de combustível enviado para o motor e trabalha com uma válvula de dosagem. Além disso, busca a mistura ideal para o funcionamento do motor. Ao contrário do carburador, ele não usa a medida de ar para determinar a quantidade de combustível, e sim a rotação do motor, através de um eixo conectado com o compressor. Um fator importante é o tipo de combustível utilizado pelo motor turbo-hélice, que é a querosene de aviação (JET A-1). A potência do motor turbo-hélice, diferente dos motores a pistão, que se tem a potência medida através de HP (Horse Power), é medida pelo seu eixo, o SHP (Shaft Horse Power), onde se pode comprovar a potência que está sendo gerada pelo motor. Nos bancos de provas de motores turbo-hélice, temos os dinamômetros (water brakes), que simulam cargas no eixo do motor para verificar o SHP. Outro ponto importante é o passo da hélice, que é comandado pelos pilotos. Sendo assim, o ângulo de ataque da hélice pode ser alterado, responsabilizando- se também pelo acionamento do reverso nos pousos, que auxilia na frenagem do avião. 3.4 Motor turbofan Tendo projetos iniciais na década de 1950, o motor turbofan tem como a ideia principal em seu desenvolvimento combinar as melhores características do turbojato e do turbo-hélice. O motor turbofan foi projetado para criar impulso adicional, desviando um fluxo de ar secundário em torno da câmara de combustão, por conta do fan, gerando um aumento da pressão que, ao mesmo tempo, resfria o motor e ajuda na supressão do ruído de escape. Fornece uma velocidade de cruzeiro igual ao do motor a jato puro, mas o consumo de combustível é muito menor. Não esquecendo de ressaltar a relação direta com a terceira lei de Newton, que apresenta em si a fórmula em ação. Além disso, serão apresentadas suas particularidades, os principais tipos de operação e quais os principais tipos de sistema, além do exemplo de um dos maiores e mais seguros motores produzidos no mundo, o GE-90, fabricado pela General Eletric. “Desde o surgimento dos primeiros motores turbofan, na década de 1950, como o Pratt&Whitney JT3D, o uso dos propulsores a jato se popularizou na indústria aeronáutica, enquanto os fans receberam uma série de aperfeiçoamentos. Um dos grandes avanços ocorreu durante o desenvolvimento do Boeing 747, que exigiu um motor com grande potência e elevada taxa de derivação (Bypass ratio), definida pela razão entre o fluxo de massa de ar que passa pelo duto e o fluxo de massa de ar que passa pelo centro do motor. Com a expansão do transporte aéreo, o mercado experimentou uma mudança de paradigma e o desafio passou a se desenvolver e produzir propulsores mais leves e eficientes, o que provocou uma corrida tecnológica entre os principais fabricantes com investimentos milionários em pesquisa e, por conseguinte, o início de um novo ciclo na forma de projetar e construir motores aeronáuticos, sobretudo para os grandes aviões. O resultado está por se revelar nos próximos anos, com a chegada ao mercado de versõesremotorizadas de Airbus, Boeing, Embraer e Bombardier (UBIRATAN, 2014)”. O principal diferencial do motor turbofan é justamente o fan (ventilador), instalado na parte frontal do motor, que constitui o primeiro estágio dele. O fan faz o ar admitido ser dividido em dois fluxos, sendo que um passa através do núcleo do motor, enquanto um segundo fluxo passa por fora do núcleo do motor. O ar que passa fora do núcleo é o responsável por deslocar a grande massa de ar para trás, sendo 80% do empuxo que o motor produz. É o próprio fan que diminui a temperatura do motor, tendo relação direta com o seu baixo consumo de combustível. Fan Blades - São as responsáveis por deslocar a grande massa de ar para trás, ou seja, 80% do empuxo que o motor produz, e 20% do ar vai para o compressor. São nove estágios de compressão de alta e cada estágio vai direcionar o ar ao ângulo ideal, que em alta velocidade vai comprimir as partículas de ar, sendo parte do compressor de alta pressão. Parte quente do motor - É onde fica localizada a câmara de combustão. Tem um formato perfeito para receber o combustível e misturar com ar, formando uma chama ideal. A responsável pela queima é a vela de ignição, que só é utilizada no acionamento do motor e em dias de muita ingestão de água, para evitar o apagamento do motor em voo. Turbina de alta - Vai receber os gases provenientes da câmara de combustão, aproveitando o máximo Turbina de baixa - Recebe o que sobra da turbina de alta, aproveitando o máximo possível, sendo possível da energia térmica com seus aerofólios rotativos, para transformar em energia mecânica responsável pelo movimento de girar o fan. O compressor de baixa e o de alta são conectados por um eixo A seção da descarga tem o formato ideal para descarregar os gases no ambiente, sendo o responsável por emitir o mínimo de ruído possível e otimizar a saída desses gases e resulta nos 20% de propulsão do motor, fazendo os outros 80% virarem empuxo. Além dessas partes, há as caixas de engrenagem, que diminuem o peso dos estágios e a inércia de todos os conjuntos do sistema, podendo obter muitas variações, como a instalação de caixa de redução, para poder ter o aumento da área do fan. O motor turbofan é responsável por alimentar a maioria dos sistemas de um avião, como o seu motor de partida, que é feito pelo sistema pneumático. É importante ressaltar que o motor é o coração da aeronave, pois alimenta todos os sistemas principais, como o sistema de condicionamento de ar. O motor turbofan tem a sua entrada de ar dividida em duas partes: o ar primário e o ar secundário. O ar primário é o único que é queimado e passa por dentro do núcleo do motor. O ar secundário que não é queimado passa em volta dos gases da queima do motor, resfriando-os. O projeto GE-90 foi iniciado na década de 90, após a Boeing fechar um acordo com a GE (General Eletric) para utilização do motor em todos os Boeing 777. Foi estreado na aviação mundial em 1995, sendo o maior e mais potente motor aeronáutico do mundo. O GE-90 é feito para suprir a necessidade de usar mais que dois motores, o que traz economia de combustível e de manutenção. Seu fan tem quatro metros de diâmetro e tem diversas variações, mudando apenas a quantidade de empuxo. Foi o primeiro motor a ter a pás no fan, feitas por materiais compósitos. As blades do fan do GE-90 são feitas de fibra de carbono e de titânio, com um design diferente; 90% do ar passa por fora do núcleo do motor; tem um custo aproximado de 27 milhões de dólares; desloca aproximadamente 56 toneladas de ar; o spinner conner protege o motor, passando pelo ar secundário. 4 Hélices, instrumentos de bordo e manutenção Aerofólios são, sem dúvida, a parte mais importante para o voo. Não só porque produzem a sustentação necessária para voar quando nos referimos às asas, mas também por produzirem o empuxo quando na forma de pás de hélice. Desde a invenção do 14 Bis e dos Wright Flyers, notou-se que uma asa gera sustentação se o vento relativo tiver velocidade o suficiente e essa mesma reação poderia ser usada para gerar empuxo. Sabemos que as asas são aerofólios e as pás de hélice também, embora possuam uma orientação vertical. Nas asas, o vento relativo se move na direção contrário à direção que a aeronave se desloca. Muitas pesquisas se desenvolveram no período da Primeira Guerra Mundial em busca da supremacia aérea. A eficiência de uma hélice é medida levando em consideração o quanto ela consegue converter a energia mecânica gerada pelo motor em empuxo. No entanto, como conseguir essa eficiência? Qual o tamanho que uma hélice deve ter? Quantas pás? As hélices devem puxar uma aeronave, empurrá-la ou fazer os dois? Em junho de 1929, nascia o Dornier Do X (hidroavião), até então a maior aeronave que o mundo havia visto, equipado com 12 motores e 12 hélices. Todavia, mesmo com todo esse maquinário para fazer essa grande embarcação voadora alçar voo, o Dornier era defasado em questão de potência. Com o começo da Segunda Guerra Mundial, a demanda por mais potência e uma performance superior trouxe motores mais fortes, hélices com um maior número de pás, melhor controle de passo de hélice e até os sistemas de hélices contrarrotativas nasceram nessa época. Até o final da década de 1940, todo o conhecimento básico de hélices que temos até hoje já havia sido descoberto. Temos como exemplo de hélice contrarrotativa as da aeronave Tupolev TU-95, que alcançou a marca de aeronave com hélices mais rápida do mundo, capaz de voar a impressionantes 925 km/h de velocidade máxima e 710 km/h de velocidade de cruzeiro. Hélices contrarrotativas, como o nome sugere, utilizam em cada motor um par de hélices que giram em direções opostas, gerando uma potência maior e anulando alguns efeitos negativos causados pelas hélices. Nos dias de hoje, é comum deixarmos de lado toda a genialidade e funcionalidade das hélices, dada sua tradição equipando aeronaves de pequeno e médio porte, mas como elas realmente funcionam? É um conhecimento de extrema importância, pois mesmo possibilitando o voo motorizado, elas produzem condições que influenciam o comportamento das aeronaves e a forma com a qual as pilotamos. Como visto na Figura acima, as velocidades envolvidas no trabalho da hélice são a velocidade rotativa, que é a velocidade com que o motor gira a hélice, e a velocidade de avanço, que nada mais é do que a velocidade do avião. Além das velocidades, temos também a corda do aerofólio, ou seja, a linha que une o bordo de fuga ao bordo de ataque da pá da hélice. O ângulo de ataque é formado entre a corda da pá da hélice e o vento relativo e o ângulo de passo da hélice é formado pelo ângulo entre a corda da pá da hélice e o vetor de velocidade rotativa. Todo esse sistema gera o empuxo para a aeronave. Da mesma forma que a sustentação é gerada pela velocidade com a qual o aerofólio corta o ar, o empuxo é gerado pela velocidade com que as pás de uma hélice giram. Mas como uma hélice forma um círculo em seu funcionamento, a ponta das pás giram em uma velocidade superior à velocidade da raiz da pá. Sendo assim, para manter um ângulo de ataque constante, as pás são torcidas e seu perfil muda conforme a proximidade da raiz. Se a sustentação é gerada pela velocidade do fluxo de ar sobre as asas, o empuxo é gerado pela velocidade rotativa da hélice, que é muito maior e mais constante do que a velocidade horizontal da aeronave. Portanto, mudanças na velocidade da aeronave não influenciam muito na velocidade do vento relativo da hélice, mas influenciam o ângulo desse vento relativo que, consequentemente, muda o ângulo de ataque das pás da hélice, reduzindo muito sua eficiência. Em outras palavras, em baixas velocidades, uma hélice que tem um ângulo de ataque pequeno vai ter uma eficiência específica. Essa eficiênciaem questão vai reduzir conforme a aeronave levanta voo e acelera para velocidade de cruzeiro. Como melhorar a eficiência dessa aeronave em altas velocidades? Aumentando o ângulo de ataque das pás! Dessa forma, aumentar o ângulo de ataque das pás aumenta a eficiência dessa hélice em maiores velocidades e altitudes, fazendo com que a aeronave tenha uma performance de cruzeiro superior. Então, ângulos de ataque grandes são melhores para o voo todo? Não! Lembre-se que grandes ângulos de ataque geram maiores arrastos e, quando o arrasto fica maior do que a sustentação, a aeronave entra em estol, o que pode acontecer igualmente com as pás da hélice, já que elas também são aerofólios. E uma hélice perder sua capacidade de gerar empuxo com baixas velocidades pode ser fatal para um voo. Sendo assim, como alcançar um maior nível de eficiência usando as hélices? As hélices podem ser vistas de vários tamanhos, formatos e ângulos de ataque maiores ou menores, cada um com suas vantagens e desvantagens distintas. As hélices podem ser classificadas de acordo com o Diagrama 1. 4.1 Tipos de Helices Hélices são compostas por aerofólios giratórios, produzem empuxo, estão sujeitas a arrasto, stalls e outros efeitos aerodinâmicos. Hélices projetadas com o mesmo ângulo de incidência em todo o seu comprimento são ineficientes devido às diferentes velocidades experimentadas ao longo do seu comprimento. Então, para resolver esse problema, existem vários tipos de hélices. Hélices de passo fixo (fixed pitch propellers) - As hélices de passo fixo são aquelas cujo ângulo de passo da hélice é o mesmo desde sua fabricação até sua troca. Escolhido pelo comprador ou pela fabricante visando uma melhor performance em decolagens ou em voo de cruzeiro, é uma peça inteiriça e suas pás são fixas. Hélices de passo ajustável (variable pitch propellers) - As hélices de passo ajustável têm uma versatilidade maior comparada com as de passo fixo, pois o piloto pode ajustar o passo da hélice conforme sua necessidade para o voo que será executado. No entanto, isso deve ser feito em solo com a hélice removida e com ajuda de ferramentas e gabaritos apropriados. Dessa forma, a hélice se ajusta com maior eficiência a apenas uma fase do voo ou até a um meio termo entre as fases. Hélice de passo variável (manual) - As hélices de passo variável podem ser ajustadas durante o voo. Os modelos mais simples têm apenas duas posições: passo máximo e passo mínimo. Os modelos mais complexos permitem o ajuste contínuo entre o passo máximo e o mínimo. Esse mecanismo usa pressão de óleo para reduzir o passo e um contrapeso centrífugo para aumentá-lo. Hélices de tacometr (controllable pitch propellers) - As hélices de passo controlável são conhecidas também como hélices de velocidade constante (constant speed propellers), pois seu passo pode ser ajustado durante o voo pelo manete de controle de passo, que ajusta a velocidade com a qual a hélice gira e mantém sempre um RPM e um ângulo de ataque na condição mais apropriada para a situação do voo. A introdução das hélices de passo controlável aumentou muito a eficiência das aeronaves em todas as condições de voo, uma vez que, para uma decolagem, o passo da hélice é configurado com um ângulo de ataque menor, mantendo a eficiência em velocidades baixas. Dessa forma, conforme a aeronave acelera para o voo de cruzeiro, o passo é ajustado para um RPM menor e um ângulo de ataque maior, garantindo uma maior velocidade de cruzeiro. Esse ajuste é feito pelo governador de hélice. 4.2 Governadores Controlar o passo da hélice é função do governador de hélice. Em um aumento de RPM, esse dispositivo aumenta o passo de hélice e, consequentemente, aumenta a carga aerodinâmica da hélice sobre o motor. Se o RPM diminuir, a ação será contrária. As hélices de passo controlável podem ser de três tipos: aeromáticas, hidromáticas ou elétricas. Os governadores de hélice são controlados por manetes que se encontram juntos aos de potência e mistura, geralmente identificados pela cor azul. 4.3 Passo reverso e Passo chato Algumas aeronaves são equipadas com passo reverso, que altera o passo da hélice e configura o menor ângulo de ataque, fazendo com que as hélices gerem uma força contrária ao sentido de movimento da aeronave. Esse sistema está presente em aeronaves de aplicação, como o C-130 “Hércules", permitindo que a gigante aeronave consiga executar um pouso em menos de 700 metros sem precisar usar toda sua capacidade de frenagem. Passo chato O ângulo da pá é nulo e o arrasto da hélice é máximo. Pode provocar um disparo de hélice se o motor ainda estiver desenvolvendo potência. Em uma situação de pane, o vento relativo enfrentado pela aeronave tende a forçar as hélices para uma situação de passo chato. Essa condição faz com que as hélices provoquem muito arrasto, diminuindo sua capacidade de planeio e, no caso de uma aeronave multimotor, prejudicando muito sua controlabilidade. Para combater esse efeito em emergência, temos o passo bandeira. Passo bandeira A pá fica alinhada com o vento. É usado para diminuir o arrasto causado por uma hélice inoperante, melhorando a capacidade de planeio e a controlabilidade da aeronave em pane. Efeito Asa - Princípio de Bernoulli Um fluxo constante de ar passando por uma asa de avião, o ar estará submetida a uma diferença de pressão. Sendo a velocidade suficiente alta, a diferença de pressão vence a força peso e garante a sustentação do aeronave. Em caso de fluxo de ar não constante, a diferença de pressão que garante a sustentação da aeronave deixa de existir. Maiores ângulos de ataque permitem uma maior quantidade de ar entrando pela hélice, forçando-o a reduzir as rotações. Em baixas velocidade, os maiores ângulos de ataque produzem maior arrasto, não sendo o empuxo gerado suficiente para garantir a sustentação da aeronave, provocando o stall. 4.4 Instrumentos básicos de bordo Tendo em vista que os órgãos responsáveis pelos sentidos humanos possuem várias limitações quanto à percepção das mais variadas condições, tanto do meio ambiente como na manipulação dos complexos aparatos que equipam uma aeronave moderna, tornou-se indispensável que tal limitação fosse compensada por algo que aferisse e indicasse, com certo grau de precisão, certas grandezas físicas. Sistema Pitot-Estático Antes de falarmos especificamente dos instrumentos, precisamos entender o Sistema pitot-estático, responsável por captar a pressão estática e dinâmica para o altímetro, o velocímetro, o variômetro e para o machímetro. É função do tubo de pitot captar as pressões dinâmicas e estáticas. Geralmente, ele é encontrado e instalado sob a asa do avião. O tubo de pitot conta com uma tomada de pressão estática (pressão atmosférica fora do avião) e uma tomada de pressão total, que consiste na soma da pressão estática com a pressão dinâmica. Em altitudes elevadas, a temperatura cai e, por conta da formação de gelo, o tubo de pitot pode deixar de cumprir sua função. Por esse motivo, eles são equipados com resistências que o aquecem, evitando a formação de gelo. As pressões captadas nos tubos de pitot são enviadas até os instrumentos através de duas linhas: a linha de pressão estática e a linha de pressão dinâmica (ou de impacto). Os manômetros são responsáveis por medir a pressão captada pelo tubo de pitot. São classificados em manômetros de pressão absoluta e manômetros de pressão relativa. Manômetro Os manômetros de pressão absoluta são graduados em polegadas de mercúrio (inHg) e medem a pressão em relação ao vácuo. Sendo assim, uma indicação “zero” só pode ser obtida em uma situação de vácuo ou no espaço, acima da camada atmosférica terrestre. O funcionamento do manômetro de pressão absoluta se baseia na cápsulaaneroide, que contém vácuo em seu interior. Essa cápsula se contrai em situações de pressão atmosférica elevada e expande em situações de baixa pressão atmosférica. Todos os instrumentos ligados ao sistema pitot-estático têm cápsulas (aneroides ou não) para medir as alterações de pressão. Instrumento de voo São responsáveis por indicar as variáveis que afetam o voo do avião, como a velocidade e a altitude. Altímetro (altimeter) O altímetro é o instrumento que mede a altura da aeronave acima de um dado nível de pressão. Já que o altímetro é o único instrumento capaz de medir a altitude de uma aeronave, isso faz dele um dos instrumentos mais importantes de um avião. O altímetro conta com um conjunto de cápsulas aneroides que expandem ou contraem conforme a pressão estática diminui ou aumenta. Essas alterações medidas são indicadas pelos ponteiros do altímetro. O ponteiro maior e mais fino mede dezenas de milhares de pés (no 1), o médio mede centenas de pés (próximo ao 2) e o menor dos ponteiros mede milhares de pés (próximo ao 0). Seguindo essas informações, nosso altímetro está indicando aproximadamente 10.180 ft de altitude. Velocímetro (airspeed indicator) Como o nome já sugere, o velocímetro mede a velocidade da aeronave em relação ao ar. Usa uma cápsula de pressão diferencial que recebe a pressão total em seu interior e a pressão estática no exterior. Ambas as pressões se anulam e a pressão dinâmica faz a cápsula se expandir e movimentar a agulha no mostrador. O instrumento pode ser graduado em km/h, mph ou kt. É comum ver velocímetros como o da Figura 6, com alguns arcos coloridos que indicam alguns dos limites operacionais da aeronave. Arco branco - indica o limite operacional dos flaps da aeronave e a velocidade de estol (stall) em sua faixa de menor velocidade; Arco amarelo - o arco da cautela. Não se deve voar nesse arco em condições de vento agitado e, mesmo com vento calmo, ele deve ser evitado; Linha vermelha - ndica a Vne, ou velocidade a nunca exceder. Voar acima dessa velocidade é proibido, pois pode causar danos estruturais à aeronave. Arco verde - indica o alcance normal de velocidade da aeronave. A maior parte do voo se desenvolve com a velocidade dentro desse arco. Nas velocidades mais baixas desse arco, temos a Vs1, velocidade de estol em configuração sem flaps, e na velocidade máxima desse arco, temos a Vno, velocidade máxima estrutural de cruzeiro. Não é permitido exceder essa velocidade em situações nas quais o vento não está calmo; Machímetro (Machmeter) Esse instrumento é derivado do velocímetro e também se baseia na cápsula aneróide com vácuo interno e na cápsula de pressão diferencial. Serve para indicar o número mach. O número mach indica a velocidade do avião em relação à velocidade do som. Se uma aeronave voa a 0,85 mach, significa que ela está voando a uma velocidade igual a 85% da velocidade do som. Como em grandes altitudes, o ar fica mais rarefeito e se utiliza a velocidade em mach. Giroscópios Da mesma forma que precisamos entender o sistema pitot-estático para compreender o funcionamento dos instrumentos de voo, precisamos entender os giroscópios para falarmos dos sistemas de navegação. Dessa forma, qualquer objeto que gira exibe propriedades giroscópicas. Uma roda ou um rotor desenhado e montado para fazer uso dessas propriedades é chamado de giroscópio. Duas importantes características do design dos instrumentos giroscópicos são: peso elevado para seu tamanho e alta capacidade de rotação com rolamentos de baixa fricção. Existem dois princípios giroscópicos comumente utilizados para os Instrumentos de navegação: a rigidez no espaço e a precessão. Rigidez no espaço - Refere-se ao princípio no qual um giroscópio mantém uma posição fixa no plano em que está girando. Um exemplo de Precessão - É o tombar ou inclinar de um giroscópio em resposta a uma força defletora. Essa resposta não ocorre no mesmo sentido que a força rigidez no espaço são as rodas de uma bicicleta. Conforme as rodas da bicicleta ganham mais velocidade, elas ficam mais estáveis em seu plano de rotação. Por isso as bicicletas são mais instáveis e mais manobráveis em baixas velocidades e mais estáveis e bem menos manobráveis em altas velocidades. foi aplicada, mas sim a 90º no sentido da rotação. A diferença de pressão sentida durante uma mudança de direção permite que um giroscópio determine a quantos graus por segundo uma aeronave está fazendo uma curva. Usando novamente o exemplo da bicicleta: a precessão é o que permite que a bicicleta faça curvas. Não é necessário virar o guidão para fazer uma curva em velocidades normais, ou seja, o ciclista se inclina na direção que ele quer virar. Com as rodas da bicicleta girando no sentido horário (visto do lado direito da bicicleta), uma força é aplicada quando o ciclista se inclina para a esquerda. Essa força aplicada age 90º no sentido da rotação, gerando uma força na parte da frente da roda e fazendo a bicicleta ir para a esquerda. Em baixas velocidades, existe a necessidade de virar o guidão devido à velocidade de rotação reduzida. 4.5 Instrumentos de navegação O giro direcional é um instrumento mecânico criado para facilitar o uso da bússola magnética, uma vez que ela é insuficientemente precisa e dificulta o voo, principalmente em condições turbulentas. O giro direcional, no entanto, não sofre com as forças que dificultam o uso da bússola. Por meio de um botão de ajuste, o piloto alinha a direção mostrada no giro com a direção da bússola para ter uma informação precisa. A operação do giro direcional depende do princípio da rigidez no espaço. Um rotor gira em um plano vertical e, fixado ao rotor, há a carta de direções. Como o rotor permanece rígido no espaço, as direções mostradas permanecem no mesmo lugar. Dessa forma, a aeronave roda em volta do instrumento, e não o oposto. Graças à força de precessão transmitida pelas engrenagens principais, conforme a aeronave inicia uma curva, essa força é transmitida para o instrumento que mostra a nova direção que a aeronave tomou. Alguns erros de direção ocorrem nesse instrumento quando ele é lubrificado de forma incorreta ou se os rolamentos estiverem gastos, causando uma defasagem da informação desse instrumento em comparação à bússola. Outro erro comum é causado pela rotação da Terra, que gira a 15º por hora, fazendo com que os instrumentos tenham que ser reajustados, pois também ficam com a informação 15º defasada. O horizonte artificial tem como função mostrar para o piloto qual é a situação da aeronave em relação ao horizonte. A atitude que o horizonte demonstra é exatamente como o avião se encontra em relação ao terreno. Esse instrumento dá uma indicação instantânea até das menores alterações. Diferentemente do giro direcional, o horizonte artificial possui seu rotor posicionado na orientação horizontal. Inicia sua rotação quando a aeronave aciona o motor e é calibrado na posição correta do horizonte. Tudo que acontece após essa calibragem gira em volta do instrumento, enquanto ele se mantém na mesma orientação. O instrumento conta com um botão de ajuste para que o piloto posicione o indicador da aeronave alinhado com o horizonte em relação ao seu ponto de visão. Normalmente, a miniatura é posicionada a fim de que as asas se encontrem com as linhas brancas que representam o horizonte para ter uma leitura precisa de voo nivelado. O indicador de curva mostra a inclinação e a razão de curva. Esses instrumentos ainda contam com um inclinômetro, comumente chamado de bolinha, que indica quando uma curva é feita com inclinação incorreta. É constituído de um tubo transparente que, em seu interior, contém querosene e uma esfera pesada. Existem modelos que usam sistema giroscópico e alguns que dispõem de motores elétricos. O sistema
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