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BIOÉTICA E PRINCÍPIOS BIOÉTICOS A Bioética é uma ciência transversal que estuda o nosso comportamento ético em relação à vida. Sendo assim, esse é um tema que tem tudo a ver com a rotina do profissional de Saúde, neste caso específico, farmacêuticos. O surgimento da bioética aconteceu em meio ao contexto da 2ª Guerra Mundial quando o homem foi estimulado a uma profunda reflexão para estabelecer limites entre ética e comportamento. No final da década de 60, a Bioética foi conceituada na definição de Giovanni Berlinguer, "Uma disciplina filosófica que conecta a ciência, a vida e a moralidade". Já para Marcos Segre é "A parte da Ética, ramo da filosofia, que enfoca as questões referentes à vida humana (e, portanto, à saúde). A Bioética, tendo a vida como objeto de estudo, trata também da morte (inerente à vida).". A aplicação do conceito de bioética tem como objetivo garantir que haja uma responsabilidade moral nos procedimentos, pesquisas e atos médicos e biológicos. A bioética busca garantir que os valores morais humanos não se percam, independentemente do desenvolvimento histórico e social da humanidade, durante as tentativas de solução de conflitos e/ou dilemas éticos. A Bioética, é um desdobramento da ética geral. Portanto, ela aplica conceitos da ética no universo da saúde. Alguns dos assuntos que mais requerem a intervenção da bioética são: Aborto; Clonagem; Engenharia genética; Eutanásia; Fertilização in vitro; Uso de células- tronco; Uso de animais em experimentos; Suicídio. Importante destacar que a aplicação dos princípios da bioética relativamente aos casos acima pode variar consoante o país onde é praticado. O que, por vezes, é permitido em determinados países, pode ser classificado como crime em outros. O aborto e a eutanásia exemplificam essa situação. Em 1979, Tom Beauchamp e James Childress apresentam, pela primeira vez, os quatro princípios bioéticos: Beneficência, Não Maleficência, Autonomia e Justiça. A Bioética se sustenta em quatro princípios, que devem nortear discussões, decisões, procedimentos e ações na esfera dos cuidados da saúde. Os três princípios: o da beneficência, o da autonomia e o da justiça, interpretados à luz do utilitarismo. É conhecida como a tríade bioética, cuja articulação, nem sempre harmoniosa, repousa no profissional da saúde (pela beneficência), no doente (pela autonomia) e na sociedade (pela justiça). O princípio de beneficência e o seu correlato de não maleficência derivam do preceito hipocrático Primum non nocere (primeiro, não causar danos), logo Bene facere (fazer o bem), e resumem-se na obrigação moral de agir em benefício do outro, seja quem for e em quaisquer circunstâncias. O princípio de autonomia, em sentido lato, implica em não submeter as ações autônomas a limitações controladoras alheias: sob um aspecto, não deve ser confundido com o individualismo e, sob outro, confronta com as formas de manipulação, que consideram o homem como objeto. O princípio de justiça ou de equidade seria a distribuição equânime de bens e serviços, segundo alguns, ou o respeito aos interesses de cada um, conforme outros. PRINCÍPIO DE BENEFICÊNCIA Este princípio encerra-se no preceito de fazer o bem e evitar o mal, isto é, maximizar os benefícios e minimizar os riscos potenciais. Esse princípio relaciona-se ao dever de ajudar aos outros, de fazer ou promover o bem a favor de seus interesses. Reconhece o valor moral do outro, levando-se em conta que maximizando o bem do outro, possivelmente pode-se reduzir o mal. Neste princípio, o profissional se compromete em avaliar os riscos e os benefícios potenciais (individuais e coletivos). Busca o máximo de benefícios, reduzindo ao mínimos dados e riscos. Exemplo de bioética na aplicação do princípio da beneficência: uma médica está socorrendo um paciente que está correndo risco de morte. Esse paciente é um conhecido assassino. Objetivo dessa médica sempre será salvar a vida de seu paciente e mobilizará todas as alternativas para que isso aconteça. Segundo o princípio da beneficência, deve-se apenas ter em vista o bem. O descaso ou a omissão (ainda que pudesse ser justificado) consistiria em um mal e feriria o princípio bioético. NÃO MALEFICIÊNCIA Implica no dever de se abster de fazer qualquer mal para os clientes, de não causar danos ou colocá-los em risco. O profissional se compromete a avaliar e evitar os danos previsíveis. É universalmente consagrado através do aforismo hipocrático primum non nocere (primeiro não prejudicar), cuja finalidade é reduzir os efeitos adversos ou indesejáveis das ações diagnósticas e terapêuticas no ser humano. Exemplo de bioética na aplicação do princípio da não maleficência: Em uma pesquisa para o desenvolvimento de uma vacina, é chegada a fase de testes em humanos. Os testes demonstraram que em 70% dos casos, os pacientes que receberam a vacina foram curados, mas 30% morreram em consequência de efeitos colaterais.Os estudos serão interrompidos e a vacina não poderá ser produzida apesar de um índice alto de cura, causar a morte de pessoas é causar o mal e fere o princípio da não maleficência. AUTONOMIA O princípio de autonomia exerce-se pela consideração, na relação terapêutica, do paciente como sujeito, ou seja, participante ativo e esclarecido, e não apenas como objeto, isto é, recipiente passivo e desinformado. Configura o direito à autodeterminação e sua violação está em tratar as pessoas como meio e não como fim. O princípio de autonomia, em vez de se fixar na noção estática de norma, pode tornar-se um instrumento, um auxílio dinâmico da investigação bioética: uma passagem do código para a vida. Enquanto uns pedem regras e preceitos, que lhes são ditados e que lhes oferecem o conforto (mas também as limitações) do conformismo, outros procuram, mesmo com riscos, a coerência entre o ser e o agir, entre interioridade e exterioridade, entre as convicções mais profundas e as condutas mais cotidianas. As pessoas têm liberdade de decisão sobre sua vida. Autonomia diz respeito à autodeterminação ou autogoverno. Preconiza que a liberdade de cada ser humano deve ser resguardada. Cabe aos profissionais da saúde oferecer as informações técnicas necessárias para orientar as decisões do cliente, sem utilização de formas de influência ou manipulação, para que possa participar das decisões sobre o cuidado e a assistência à sua saúde. Exemplo de bioética na aplicação do princípio da autonomia: quando um paciente é diagnosticado com uma doença terminal, já não existem tratamentos que possam curá-lo. Geralmente, o que se faz nesses casos é dar a esse paciente os cuidados paliativos, de forma que ele se sinta aliviado dos sintomas do mal que o acomete. JUSTIÇA OU EQUIDADE Diz respeito à obrigação de igualdade de tratamento, com referência à equipe de saúde, e de justas políticas de saúde, com relação ao Estado O princípio da justiça estabelece como condição fundamental a equidade, que pode ser compreendida como obrigação ética de tratar cada indivíduo conforme o que é moralmente correto e adequado, de forma a dar a cada um o que lhe é devido. Os recursos devem ser equilibradamente distribuídos, com o objetivo de alcançar, com melhor eficácia, o maior número de pessoas assistidas. Exemplo de bioética na aplicação do princípio da justiça: um caso real que exemplifica o princípio da justiça, aconteceu em Oregon, nos Estados Unidos. Com o objetivo de proporcionar um atendimento básico de saúde a um maior número de pessoas, o governo local reduziu os atendimentos de saúde que imputavam custos altos. Dessa forma, foi possível realizar uma distribuição mais alargada dos recursos disponíveis de forma a ajudar solucionar os problemas de uma parcela maior da população.
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