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CENTRO UNIVERSITÁRIO ICESP (CAMPUS GUARÁ) GABRIELLE REGINO SILVA DE ALMEIDA JOVANA SANTOS FERNANDES MARIA EDUARDA CANDEIRA COELHO CONTRATO DE NAMORO Brasília 2021 INTRODUÇÃO Segundo a Professora Marília Pedroso Xavier, caracteriza o contato de namoro como "uma espécie de negócio jurídico no qual as partes que estão tendo um relacionamento afetivo acordam consensualmente que não há entre elas objetivo de constituir família". O contrato de namoro é retratado pelo artigo 421 do Código Civil, o qual dispõe a liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato., cumulado com o artigo 425 do mesmo diploma, que alega ser lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. Este documento jurídico destina-se aos indivíduos solteiros ou divorciados. Tem como objetivo dar autonomia para o casal que não tem a intenção de constituir família e partilhar bens, o casal poderá adotar o contrato de namoro estipulando cláusulas que sejam de interesse do casal, bem como resguardar patrimônio. Afinal, se não pactuado de outra maneira, seja através de instrumento público ou particular, a união estável atrairá o regime da comunhão parcial de bens. DOUTRINA “O contrato de namoro serve para que o patrimônio do casal não se enquadre no campo Jurídico como uma União Estável, o contrato protegeria o casal contra uma possível prova para desclassificar uma União Estável.” (Marília Pedroso Xavier, 2011) Entendem Caetano Lagrasta Neto, Flávio Tartuce e José Fernando Simão que o contrato de namoro deverá ser considerado nulo por violação da função social do contrato: “Problema dos mais relevantes é o relacionado à elaboração de um contrato de namoro ou de um contrato de intenções recíprocas entre as partes, justamente para afastar a existência de uma união estável entre elas. Existindo entre os envolvidos uma união estável, conforme outrora manifestado, posiciono-me pela nulidade do contrato de namoro, por afrontar às normas existenciais e de ordem pública relativas à união estável, notadamente por desrespeito ao art. 226, § 3º da Constituição Federal.” Como fundamento legal ainda pode ser citado o art. 166, inciso VI do Código Civil, pelo qual é nulo o negócio jurídico quando houver intuito das partes fraude à lei imperativa. (TARTUCE, FLÁVIO, 2017). https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 Para celebrar contrato de namoro deve ter, por recomendação, os seguintes itens: I. dados dos namorados, como, nome completo, CPF, endereço, dentre outros. II. a data na qual o namoro foi iniciado; III. a declaração expressa dos namorados que não pretendem constituir uma família; IV. qual seria o regime de bens escolhido; V. a declaração dos bens que existiam antes do início do relacionamento. E para que o contrato seja válido, ele não pode ser feito por meio de coação, e as partes devem estar lúcidas e cientes do que nele contém. https://www.99contratos.com.br/contrato-namoro.php DIVISÃO DE BENS NO TÉRMINO DO NAMORO A principal consequência de uma configuração automática de união estável é o fato dos parceiros serem obrigados a aceitar o regime padrão de comunhão de bens, que neste caso seria o de comunhão parcial de bens. Em suma, todos os bens que foram adquiridos pelos namorados, agora considerados automaticamente como companheiros, se por um acaso houver rescisão do contrato de namoro os bens deverão ser divididos igualmente, visto que ele se tornou uma união estável. E isso independe de quem o pagou ou em nome de quem está. Como por exemplo, se um dos namorados comprou um apartamento, e está somente em seu nome, com o término do namoro pode este apartamento ser dividido entre as partes igualmente. Caso o relacionamento mude com o decorrer do tempo, é possível substituir o contrato por união estável ou rescindi-lo. Nada impede, também, que no contrato de namoro seja estipulado qual o regime de bens será aplicado caso o status avance para união estável. No atual estado pandêmico, de alguma forma incentivou os casais a coabitar, dividindo despesas e responsabilidades, fato que provocou duplo efeito: o aumento do vínculo afetivo e uma situação decisiva, o término. JURISPRUDÊNCIA Cito alguns recentes julgados que reconheceram o "contrato de namoro", afastando a partilha de bens e alimentos requeridos pelas mulheres. Primeiro caso julgado em 25 de junho de 2020 perante o Tribunal de Justiça de São Paulo: "APELAÇÃO. Ação de reconhecimento e dissolução de união estável cumulada com partilha de bens. Sentença que julgou improcedente a ação. Inconformismo da parte autora. Não preenchidos os elementos essenciais caracterizadores da união estável previstos na lei. Contrato de namoro firmado pelas partes. Caracterizado simples namoro, sem intenção de formação de núcleo familiar. Sentença mantida. Recurso desprovido. TJ-SP — Apelação Cível AC 10008846520168260288 SP 1000884-65.2016.8.26.0288 (TJ SP) (...) O artigo 1.723 do Código Civil, após a interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal, estabelece os elementos essenciais caracterizadores da união estável, ou seja, convivência pública, contínua e duradoura, estabelecida com o intuito de formar uma nova família, um novo núcleo familiar. É de se observar que, apesar de comprovada a habitação em comum por um curto período, tal fato não é elemento circunstancial, por si só, apto à caracterização da união estável. Nesse sentido, aliás, foi a prova produzida nos autos, que veio a corroborar as alegações da requerida, de modo a concluir que a relação, muito aquém de uma união estável, não passava de um namoro. Em especial, o contrato de namoro firmado pelas partes (fls. 41/43), que foi celebrado dentro dos ditames do artigo 104, do Código Civil, inexistindo patente vício de vontade que poderia ensejar, de plano, o reconhecimento de eventual nulidade. De tal sorte, é válido. Deste modo, não comprovada a alegada união estável, não há que se falar em meação quanto aos bens adquiridos pela recorrida. (...)" relator Rogério Murillo Pereira Cimino. Segundo caso: julgamento em último dia 2/6, perante o Tribunal de Justiça de São Paulo: uma mulher interpôs recurso insistindo na divisão de bens e pedido de alimentos, alegando união estável antes do casamento. O Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu o contrato de namoro antes do casamento e afastou a partilha dos bens. Vejamos: "EMENTA: Apelação. Família. Ação de divórcio litigioso, alimentos e partilha de bens. Sentença que decreta o divórcio e partilha, na proporção de 50% para cada um, os valores pagos pelo imóvel durante o casamento. Recurso de ambas as partes. Partes que firmaram contrato de namoro, que exclui a existência de união estável anterior ao casamento. Contrato firmado que não constitui pacto antenupcial. Obrigações lá assumidas que não podem ser discutidas na ação de divórcio. Bens adquiridos antes do casamento que não devem ser partilhados. Prestações do imóvel de propriedade exclusiva do réu pagas durante o casamento que devem ser partilhadas na proporção de 50% para cada um. Alimentos que não são devidos à autora. Requerente pessoa jovem e apta a trabalhar, ainda que momentaneamente desempregada. Sentença mantida. RECURSOS DESPROVIDOS – TJSP- APELAÇÃO Nº 1007161- 38.2019.8.26.0597. O documento acostado a fls. 20/21 é um contrato de namoro, não possuindo a natureza de contrato de união estável nem de pacto antenupcial. Ora, no momento em que as partes firmaram contrato de namoro fica evidente que não pretendiam constituir família com a uniãoestável, tampouco compartilhar bens e obrigações. Tais contratos visam a proteção patrimonial dos apaixonados, afastando qualquer possibilidade de se confundir com a união estável que, sabidamente, gera efeitos patrimoniais." Cristina Medina Mogioni — relatora. CONCLUSÃO O contrato de namoro é um instrumento jurídico, disciplinado nos princípios da liberdade contratar, da autonomia de vontade e da boa-fé, para afastar o reconhecimento de entidade familiar entre aqueles indivíduos que assim almejam, não podendo ser considerado um contrato nulo como defendido por grande parte da doutrina. Tem por objeto determinar qual será o regime de bens dos namorados caso a relação se torne automaticamente uma união estável, servindo assim como uma proteção patrimonial. Compreende-se que não basta apenas o contrato, se, posteriormente, as circunstâncias fáticas demonstrarem que a relação evoluiu para a configuração de uma união estável, hipótese que deve ser analisada casuisticamente pelo julgador, o que se declarou no instrumento deixa de ter efeito e o Magistrado pode converter substancialmente o contrato de namoro em separação convencional de bens. Diante do exposto, é possível concluir que se o contrato for realizado por escritura pública e em caso de término de namoro, o casal deverá lavrar um instrumento em que os outorgantes dissolvam o documento no cartório de notas em que o mesmo foi elaborado. REFERÊNCIAS XAVIER, Marília Pedroso. Contrato de namoro: Amor Líquido e Direito de Família Mínimo. Belo Horizonte: Fórum, 2021, p. 102-103. AMARI, Marina; CAPAVERDE KELLER, Mariana. Afinal, para que serve o contrato de namoro?. Migalhas. 2021. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/342685/afinal-para-que-serve-o-contrato- de-namoro. Acesso em: 6 out. 2021. TJSP-Apelação Cível AC 10008846520168260288 SP 1000884-65.2016.8.26.0288 TJSP- APELAÇÃO Nº 1007161-38.2019.8.26.0597. R.TRIPODE, Fernanda. OPINIÃO: A eficácia jurídica do contrato de namoro e a proteção do patrimônio. ConJur. São Paulo, 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-jun-13/tripode-eficacia-juridica-contrato- namoro-protecao-patrimonial. Acesso em: 6 out. 2021. DIVISÃO DE BENS NO TÉRMINO DO NAMORO
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