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Biópsia na odontologia: Revisão da Literatura Carmem Eduarda Rohr Flores 1. INTRODUÇÃO Inúmeras patologias podem se estabelecer na cavidade bucal, cuja determinação e diagnóstico frequentemente constitui um desafio para o cirurgião dentista. O profissional deve lançar mão da anamnese, exame físico e exames complementares mais específicos, quando necessário, para confirmar o diagnóstico da lesão (BARBOSA et al., 2005). O diagnóstico clínico de uma lesão é estabelecido levando em consideração vários dados obtidos na anamnese e no exame físico, em que quando esse diagnóstico não é conclusivo é indicado a realização da biopsia para definição do caso através do exame histopatológico (SILVA et al., 2010). Os exames complementares destinam-se a auxiliar no estabelecimento de um diagnóstico correto, juntamente com a avaliação dos sinais e sintomas dos pacientes (CAUBI et al., 2004). Nesse sentido, o papel da biópsia é de auxiliar ou estabelecer o diagnóstico definitivo das lesões, através de um procedimento cirúrgico realizado no sentido de obter-se parte de tecido de um organismo vivo, para estudo microscópico (SEONE et al.,2008). Sendo assim, o presente trabalho tem como intuito apresentar uma revisão da literatura sobre a biópsia, um procedimento cirúrgico que deve fazer parte da rotina clínica dos dentistas, visto que possui elevada importância na elucidação dos casos. 2. REVISÃO DA LITERATURA A palavra biópsia vem do latim (bio, vida) e do grego (opsis, observação), sendo então, a observação de um tecido vivo com finalidade de visualização macro e microscópicas das alterações ocorridas diante de um processo patológico qualquer (KIGNEL, 2011). Na biópsia remove-se um fragmento de tecido vivo alterado para estudo histológico e realização dos exames para fins diagnósticos (TOMMASI, 2014). Na rotina de clínica odontológica é comum o cirurgião dentista se deparar com lesões em tecidos orais de diagnóstico duvidoso, em que deve ser indicado a realização de biópsia, a qual é fundamental na análise das alterações da normalidade presentes nas patologias bucais (BARBOSA et al., 2005). No entanto, apesar da biópsia ser utilizada para detectar inúmeros processos patológicos, seu nome faz com que alguns profissionais, e principalmente os pacientes, relacionem a palavra imediatamente com o câncer (KIGNEL, 2011). No entanto, para a detecção final da patologia, mesmo que o diagnóstico clínico seja bem especializado, o laudo microscópico é o mais confiável (BARBOSA et al., 2005). A biópsia é indicada basicamente em todos os casos em que se suspeita de doenças que deixem substrato morfológico característico nos tecidos afetados e é usada também para fins de diagnóstico diferencial por exclusão (CAUBI et al., 2004). Como orientação básica, qualquer lesão cuja história clínica e aspecto não permitam a elaboração do diagnóstico e que esteja presente sem nítida regressão por um período de dez dias devem ser imediatamente submetidas à biópsia (TOMMASI, 2014). Com base nisso, é indicado realizar o exame histopatológico quando a lesão persiste por mais de duas semanas sem nenhuma base etiológica, quando qualquer lesão inflamatória não responda ao tratamento local após dez a quatorze dias com retirada do irritante local, quando tem alterações hiperceratóticas persistentes na superfície dos tecidos, quando tiver qualquer tumefação persistente, visível ou palpável sob tecido relativamente normal, quando haja alterações inflamatórias de causa desconhecida que persistam por períodos prolongados, quando existam lesões que interfiram com a função do local, quando existam lesões ósseas não identificadas especificamente por meio dos achados clínicos e radiográficos e, finalmente, quando da existência de lesão que apresente características de malignidade (HUPP et al., 2009). Em relação as contraindicações da realização do procedimento, duas situações devem ser levadas em consideração. A primeira é a respeito das lesões pigmentadas (negras) que podem ocorrer na mucosa bucal, em que havendo a possibilidade de se tratar de um melanoma e, sempre que a localização e as dimensões da lesão o permitam, a biópsia deve ser excisional e com certa margem de segurança. Isso deve ao fato de que a manipulação desses tumores costuma permitir o desgarramento de células devido a seu grande potencial invasivo e provocar uma disseminação indesejável. Porém, não sendo possível pelas mais diversas razões, a biópsia pode e deve ser realizada mesmo que parcial. A segunda contraindicação diz respeito a lesões vasculares denominadas hemangiomas, onde a biópsia por incisão não deve ser realizada em lesões vasculares ou pigmentadas. Os melanomas são altamente metastáticos, e assim, as lesões pigmentadas devem ser excisadas com uma ampla margem de tecido macroscopicamente normal ao redor e abaixo delas. O diagnóstico clínico de hemangioma em geral pode ser confirmado pela aspiração de sangue da lesão em uma seringa de vidro, com uma agulha de orifício largo (TOMMASI, 2014). A realização do exame clínico bem conduzido e a realização de exames complementares tendem a auxiliar na elaboração de hipóteses diagnósticas adequadas (BARBOSA et al., 2005). Assim, quanto à concordância do exame por biópsia com o exame clínico, o diagnóstico histopatológico correspondeu a uma das duas hipóteses clínicas em 56,67% das lesões. Em 33,33% das lesões, não houve concordância com nenhuma das duas hipóteses clínicas elaboradas, sendo que, em três exames histopatológicos, houve emissão de laudo inconclusivo, e os pacientes foram submetidos à nova biópsia (SILVA et al., 2010). Com análise nesses dados, percebe-se o papel fundamental da biópsia para o diagnóstico conclusivo das lesões para correta sequência do tratamento do paciente. Para a realização da biópsia é necessário instrumental cirúrgico simples e é um procedimento que todo clínico geral e especialistas das diversas áreas odontológicas são capazes de realizar (KIGNEL, 2011). Portanto, apesar da técnica oral ser incluída entre as competências do dentista clínico geral, alguns profissionais podem achar mais cômodo referenciar a especialistas da área de cirurgia e estomatologia para realização do referido procedimento (SEOANE et al., 2008). Nesse sentido, em relação aos encaminhamentos deve-se considerar que cada cirurgião dentista possui um grau de interesse, treinamento e habilidade cirúrgica, em que alguns profissionais se sentem confortáveis para realizar a maioria dos procedimentos de biopsia em seus pacientes, enquanto outros podem achar necessário encaminhá-lo a um especialista. Essa escolha depende de cada profissional e deve levar em conta a saúde do paciente, dificuldade cirúrgica e o potencial maligno da lesão (HUPP et al., 2009) 3. DISCUSSÃO A biopsia adequada envolve essencialmente três fatores chaves: seleção do local da biópsia, procedimentos utilizados e o envio adequado da amostra a ser submetida ao exame (POH et al.,2008). O local em que a biópsia deve ser realizada precisa ser selecionado cuidadosamente para garantir que produza resultados precisos, devendo incluir o tecido da pior parte da lesão, o qual pode ser determinado com base em sua aparência clínica, múltiplas biópsias em mais de uma região e uso de ferramentas visuais auxiliares, como o corante azul de toluidina (POH et al., 2008). Se o cirurgião dentista não tiver certeza acerca do local mais apropriado (POH et al., 2008), ou as lesões estarem localizadas em regiões muito profundas e de difícil acesso, a técnica cirúrgica fica mais complicada ou perigosa, sendo necessário o encaminhamento a um especialista (MOTA et al., 2007). Nesse sentido, realizar biópsias de diferentes partes de uma lesão, particularmente se a lesão for extensa ou se mostrar uma variedade de apresentações clínicas, pode garantir resultados de biópsia confiáveis (POH et al., 2008). Quanto a escolha do procedimento, cabe ao profissional tantoo discernimento quanto a habilidade para decidir qual tipo utilizar, bem como a elaboração de um diagnóstico clínico prévio, para que a escolha do procedimento leve em conta o tamanho da lesão, inserção e localização (TOMMASI, 2014). As biópsias podem ser classificadas de acordo com a técnica utilizada, o material empregado, o momento clínico, a localização da lesão-alvo, o processamento da amostra e a finalidade do procedimento (MOTA et al., 2007). A biópsia incisional ou parcial, caracteriza-se pela remoção de um pequeno fragmento da lesão, sendo indicada em lesões múltiplas, extensas (maiores de 1 cm de diâmetro), localização de risco ou em casos de suspeita de malignidade (HUPP et al., 2009). Já na biopsia excisional, remove-se toda a lesão, devido às pequenas dimensões que apresenta, ou ainda quando, no transoperatório, a lesão mostra características próprias ou sinais patognomônicos que justifiquem sua remoção por completo (KIGNEL, 2011). Outro procedimento é punção aspiratória por agulha fina (PAAF), que representa a obtenção do material com o uso de uma agulha e seriga, que penetra a lesão suspeita e aspira seu conteúdo. Essa técnica deve ser usada quando uma massa de tecido mole é detectada sob a superfície cutânea ou mucosa e o paciente deseja evitar a formação de cicatrizes ou quando as estruturas anatômicas adjacentes sofrem risco (POH et al., 2008). Os materiais e instrumentação necessários para realizar uma biópsia oral não são particularmente sofisticados. Os instrumentos necessários são limitados aos comumente empregados em cirurgia, como espelho bucal, sonda exploratória, pinça de dissecção desdentada, pinça mosquito, peça de mão de bisturi e lâmina número 15, seringa para anestesia, pinça de pressão, tesoura, periótomo, separadores, porta- agulhas e agulhas montadas em sutura. Como em qualquer procedimento cirúrgico, a biópsia requer a devida esterilização da instrumentação e desinfecção do campo cirúrgico (MOTA et al., 2007). A maioria das lesões-alvo são encontradas em tecidos moles, como língua, mucosa da bochecha ou lábios, ou em regiões mais aderidas, como palato e gengivas e, com base nisso, para evitar alterações, a anestesia com vasoconstritor não deve ser aplicada na própria zona alvo da biópsia, mas a certa distância. Assim, a injeção deve ser realizada com separação de 3-4 mm e nos quatro pontos de referência cardinais (superior, inferior, esquerdo e direito) (MOTA et al., 2007). Para a realização do procedimento deve-se seguir alguns passos para que o exame seja realizado corretamente. Com base nisso, o protocolo clínico para a execução da biópsia deve iniciar através do preenchimento do prontuário do paciente, seguido da determinação do tipo de biópsia e escolha do instrumental cirúrgico adequado. Em seguida, a área mais representativa com tecido sadio próximo deve ser selecionada para realização da técnica operatória. Após a remoção, o material coletado deve ser acondicionado em um recipiente contendo formol a 10% e deve-se passar as recomendações do pós-operatório ao paciente e então realizar o envio do material ao laboratório em que será realizada a análise histopatológica. Após a análise, obtém-se o resultado e realiza-se o controle clínico e o plano de tratamento (BARBOSA et al., 2005). O terceiro ponto mencionado por Poh et al. (2008) refere-se ao envio da biópsia, através do qual a amostra deve estar acompanhada de informações clínicas pertinentes, incluindo a história progressiva de displasia ou CEC, fatores de risco do paciente e localização da lesão e aparência, tamanho e duração. Se mais de uma amostra for enviada, todas devem estar em recipientes separados (POH et al., 2008). As biópsias podem ser realizadas para fins diagnósticos ou experimentais. Assim, além do diagnóstico para o tratamento, a biópsia pode trazer informações importantes para o estudo histopatológico de novas entidades patológicas (MOTA et al., 2007). 4. CONCLUSÃO: A biópsia é um exame complementar muito eficiente para o diagnóstico definitivo e correto das patologias e para o tratamento dessas lesões, porém ela necessita de técnicas adequadas e cuidados especiais. Baseando-se na importância do procedimento, o cirurgião-dentista deve estar apto para realizar a biópsia na sua rotina clínica. Para que o dentista realize a biópsia adequadamente ele deve possuir conhecimentos das limitações e indicações do procedimento, além da escolha da técnica adequada baseada nas características da lesão. Com base nisso, a maior indicação da biópsia refere-se às lesões que estejam presentes na cavidade bucal por um período aproximado de dez dias sem nítida regressão. Já em relação as contraindicações, de modo geral, são em lesões pigmentadas (negras) ou lesões vasculares (hemangiomas). 5. REFERÊNCIAS BARBOSA, R. P. S. et al. Valorizando a biópsia na clínica odontológica. Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v. 41, n. 4,p. 273-368, out/dez.2005 CAUBI AF; XAVIER RLF; LIMA FILHO MA; CHALEGR JF; Biópsia. Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial v.4, n.1, p. 39 - 46, jan/ mar – 2004. HUPP, R. James; ELLIS, III Edward; TUCKER, R. Myron. Cirurgia oral e maxilofacial contemporânea. 5.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. KIGNEL, Sergio. Estomatologia: bases do diagnóstico para o clínico geral – 3.ed. – Rio de Janeiro: Santos 2020 MOTA-RAMÍREZ, A; SILVESTRE, F J.; SIMÓ, J M. Oral biopsy in dental practice. Med. Oral Patol. Oral Cir.Bucal, Madrid, v. 12 n.7, nov. 2007. POH, C. F. et al. Biopsy and Histopathologic Diagnosis of Oral Premalignant and Malignant Lesions. JCDA. april 2008, v. 74, n. 3. Disponível em: <www.cdaadc.ca/jcda> SEOANE, J. M; GONZÁLEZ-MOSQUERA, A.; VELO-NOYA J. La biopsia oral en el contexto del precáncer y del cáncer oral. Av. Odontoestomatol. v. 24, n. 1, p. 89- 96, 2008. Silva TFA, Souza RB, Rocha DR, Araújo FAC, Morais HHA. Levantamento das Biópsias realizadas no serviço de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial do Curso de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Revista de cirurgia e traumatologia buco-maxilo-facial 2011 abr/jun;11(2): 91-100. TOMMASI, Maria Helena. Diagnóstico em patologia bucal. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
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