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ISSN 2176-1396 ESTÁGIO SUPERVISIONADO: NOVAS EXPERIÊNCIAS NA FORMAÇÃO DOCENTE EM LETRAS Teresinha de Jesus de Sousa Costa1 - UEA Eixo – Ensino e Práticas nas Licenciaturas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente trabalho relata experiências ocorridas na disciplina Estágio Supervisionado no curso de Licenciatura em Letras, da Universidade do Estado do Amazonas - UEA, localizada no município de Tefé, estado do Amazonas e objetiva compartilhar as reflexões decorrentes das atividades do Estágio Supervisionado, e como objetivos específicos evidenciar a evolução das experiências perpassadas pela disciplina e enfatizar a importância da união dos conhecimentos teóricos e práticos para a formação de professores de Língua Portuguesa nas turmas de ensino médio. Nesse sentido se destacará a importância dos estágios como atividades práticas necessárias na formação profissional, social e cultural oferecidas ao estudante pela participação em situações reais de trabalho pela instituição formadora. Como procedimento metodológico a pesquisa teve como base a pesquisa bibliográfica e de campo subsidiada pelos autores Portela (2007), Tardif (2008), Pimenta (2004; 2012), Zabalza (2014), Lakatos (2017) e como instrumento para coleta de dados se utilizou a observação participante, com aplicação do projeto de ensino nas turmas estagiadas. Como resultado final se percebeu que a execução do estágio com projetos dinamizou o processo de formação, pois proporcionou um maior engajamento nas atividades de regência, cujas ações foram planejadas e executadas de forma colaborativa entre os estagiários, os professores das escolas campo, a docente da instituição superior e os estudantes do ensino médio, constituindo-se numa experiência colaborativa exitosa. Portanto o estágio com a aplicação de projetos contribuiu para o início da construção da identidade profissional dos estagiários, estimulou a reflexão sobre suas práticas, e estimulou-os ao campo da pesquisa para a aquisição de novos conhecimentos. Palavras-chave: Estágio Supervisionado. Projeto de ensino. Nova experiência. 1 Especialista em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa pela AVM Faculdade Integrada (2016), em Políticas Públicas e Contextos Educativos pela Faculdade Adelmar Rosado – FAR (2015), em Metodologia do Ensino de Língua Inglesa pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA (2008) e Didática do Ensino Superior pela Faculdade de Educação da Serra – FASE (2006). e-mail: tjesus65@hotmail.com. 24849 Introdução O presente trabalho relata experiências ocorridas na disciplina Estágio Supervisionado no curso de Licenciatura em Letras, da Universidade do Estado do Amazonas - UEA, localizada no município de Tefé, do Amazonas, com o objetivo compartilhar as reflexões decorrentes das atividades do Estágio Supervisionado, assim apresenta como objetivos específicos compartilhar as reflexões decorrentes dos estudos teóricos, evidenciar a evolução das experiências perpassadas pela disciplina, enfatizar a importância da união dos conhecimentos teóricos e práticos para a formação de professores de Língua Portuguesa e relatar o resultado da experiência do estágio supervisionado em turmas do ensino médio através da aplicação de projetos de ensino. Nesse sentido se conceituará o estágio, dando destaque aos seus objetivos, ressaltando a importância dos estágios como atividades práticas necessárias na formação profissional, social e cultural oferecidas ao estudante pela participação em situações reais de trabalho pela instituição formadora, assim como apresentará a evolução do estágio supervisionado do curso de Letras. Como procedimento metodológico a pesquisa teve como base a pesquisa bibliográfica e de campo subsidiada pelos autores Portela (2007), Tardif (2008), Pimenta (2004 e 2012), Zabalza (2014), Lakatos (2017) e para coleta de dados se utilizou a observação participante, com aplicação do projeto de ensino nas turmas estagiadas, que se constituíram em atividades práticas das regências, cujas atividades foram planejadas e executadas após levantamento diagnóstico realizado por cada equipe de estagiários nas fases de observação e participação nas turmas do ensino médio, em cinco escolas públicas estaduais. Os resultados proporcionaram a participação ativa e colaborativa de estudantes do ensino médio, seus professores, os estagiários e professor formador, nas atividades de planejamento, execução e apresentação das produções dos alunos, finalizando com a apresentação de vídeos, poesias e relatos de experiências, paródias e jornal escolar para toda a comunidade, comprovando a capacidade dos aprendizes em produzir seus próprios textos. Finalidades e Importância do Estágio Supervisionado Na formação de todo profissional se faz necessário vivenciar as experiências reais, atuando na profissão sob a forma de estágio, não só para relacionar a teoria com a prática, mas 24850 principalmente, para que o indivíduo possa identificar-se ou não com a futura profissão, e na formação docente não é diferente, pois o estágio segundo Pimenta (2014) é como: Um campo de conhecimento que envolve estudos, análise, problematização, reflexão e proposição de soluções para o ensinar e o aprender, e que compreende a reflexão sobre as práticas pedagógicas, o trabalho docente e as práticas institucionais, situados em contextos sociais, históricos e culturais (PIMENTA, 2014, p. 29). Nesse sentido os estagiários se direcionam às escolas, no período do estágio supervisionado, locais que se constituem também no lócus de aprendizagem e vivência das atividades inerentes à sua futura profissão, levando-os às análises e reflexões das práticas institucionais, à detecção dos problemas de ensino-aprendizagem, mediados pelo professor universitário e os docentes das escolas públicas campos de estágio. Para Sacristán (1991, p. 64) o estágio pode ser entendido como “a afirmação do que é específico na ação docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor”. Assim o estagiário tem a oportunidade de formular suas próprias representações a respeito de sua função como docente, a partir de sua compreensão conceitual de como ensinar e aprender. Já em relação às finalidades do estágio Portela (2007) afirma que: O estágio tem por finalidade colocar o aluno em contato com a atividade real da profissão em formação, para oportunizar-lhe a aquisição ou análise de uma experiência profissional. Além disso, o estágio também oferece a oportunidade de, após um longo processo de iniciação pelos caminhos da teoria, tomar posse daquilo que efetivamente “conta”: a prática, os segredos da profissão, as regras/normas do como fazer (PORTELA, 2007, p. 36). A autora reafirma o período de estágio como um momento para o aluno testar suas habilidades e pré-condições para o exercício de sua futura profissão, ou seja, comprovar na prática os conhecimentos teóricos absorvidos nos períodos de sua formação acadêmica indicando também sua finalidade, a qual é complementada por Zabalza (2014) com base em Daresh (1990) quando acrescenta que o objetivo do estágio é oferecer aos estudantes a oportunidade de: ➢ Aplicar conhecimentos e habilidade em contextos práticos. ➢ Desenvolver conhecimentos e habilidades orientados à participação gradual em um amplo espectro de atividades práticas. ➢ Contrastar seu envolvimento com a profissão. 24851 ➢ Compreender melhor a prática real de sua profissão. ➢ Avaliar o próprio progresso e identificar aquelas áreas em que seria necessário um desenvolvimento pessoal e/ou profissional mais profundo. E, além disso, o estágio também objetiva aos estudantes uma visão de conjunto sobreo mundo do trabalho e a situação de sua profissão, o desenvolvimento da maturidade e a relação interpessoal e social assim como a tomada de atitudes mais positivas em sala de aula. Logo o estágio também se constitui numa prática investigativa tanto para os estudantes quando para os docentes envolvidos, uma vez que se torna uma alternativa concreta de formação contínua dos professores da escola e dos docentes formadores da universidade, ou seja, todos os envolvidos adquirem novos conhecimentos através das experiências a partir das atividades colaborativas, bem organizadas e planejadas do estágio supervisionado. O Estágio Supervisionado como Experiência Local Em meados de 2009 o trabalho com o Estágio Supervisionado iniciou-se para a docente como substituição do professor titular da disciplina que se afastara para prosseguimento nos seus estudos, a qual assumiu uma turma do oitavo período de Letras, que naquele momento estava em fase de conclusão do curso com o trabalho da monografia. O estágio funcionava nesse período a critério de cada colegiado, sendo o professor da disciplina o responsável por todo o processo, desde ministrar as disciplinas, acompanhar os estágios nas escolas, orientar individualmente todos os alunos da turma e não havia a defesa oral do Trabalho de Conclusão do Curso - TCC para uma banca examinadora, pois segundo Freire (1998, p. 44): [...] na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre sua prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. O autor chama atenção para o papel do professor para que se torne o sujeito no processo de construção de sua prática, do conhecimento, através da reflexão crítica de sua prática, para que possa redimensionar suas ações, se tornando um agente de mudanças tanto na escola quanto na sociedade. Dessa forma, a docente iniciou o processo de mudança em várias atividades, uma vez que buscou novas leituras sobre o estágio, analisou criticamente sua própria prática, ouvindo a avaliação dos alunos, e a partir daí decidiu ao final do curso, realizar a defesa oral dos TCC, 24852 em sala de aula, onde a docente e os alunos poderiam avaliar as apresentações, conforme critérios estabelecidos previamente, tornando-se uma experiência muito positiva. Vale ressaltar que nessa época o estágio se desenvolvia em três fases distintas: observação, participação e regência em sala de aula, e a disciplina se dividia em três períodos subdivididos em 30 aulas teóricas e 120 horas práticas nos Estágios Supervisionados I e II e no Estágio III se desenvolvia em 30 aulas teóricas e 180 horas de prática. No Estágio I o aluno recebia as orientações gerais sobre o estágio, leis que regulamentam e as orientações para realização dos estágios nas escolas públicas de ensino fundamental, assim como as orientações para o planejamento das aulas e elaboração do projeto de pesquisa e do relatório de estágio, uma vez que o planejar para Gandin (2008, p.27) “é de fato, definir o que queremos alcançar; verificar a que distância, na prática, estamos do ideal e decidir o que se vai fazer para encurtar essa distância.” No estágio II se trabalhava as diretrizes, leis e regulamentos para o ensino médio e as fases de observação, participação e regência se davam nos anos do ensino médio regular e nas turmas da EJA, com o planejamento de aulas interdisciplinares e início da elaboração da monografia, iniciando pela pesquisa bibliográfica para a elaboração do referencial teórico do TCC, orientados pelo docente do estágio, de quem recebiam as orientações, inclusive para a elaboração relatório do estágio II para ser entregue ao final do semestre. No terceiro período do estágio ocorriam estudos, debates e seminários sobre a avaliação, produção e avaliação de material didático, motivação, interdisciplinaridade, relação professor/aluno, além das orientações gerais para a finalização da monografia, realização da pesquisa de campo, análise de dados e normas científicas para o TCC. Percebeu-se nessa fase, que a junção de estágio com TCC deixava os alunos muito sobrecarregados de atividades e alguns não conseguiam efetuar as pesquisas do TCC e nem as atividades do estágio com êxito. Em 2011 a instituição passou por um processo de revisão do Projeto Curricular de Curso e todos os colegiados tiveram a oportunidade de revisar as ementas, criar novas disciplinas e readequá-las aos novos anseios da sociedade, pois de acordo com Codo: as mudanças decorrentes das reformas educacionais, em geral, trazem como consequência insegurança nos docentes, à medida que alteram as formas organizacionais, com vista à melhoria doo ensino, sem, no entanto, modificarem as condições de trabalho dos professores, o que enseja apatia e desmotivação destes diante dos desafios que lhes são postos no cotidiano da escola (CODO, 1999). 24853 Decorrente dessas mudanças foi instituída a Comissão Local de Estágio Supervisionado para estabelecer as mudanças necessárias para o bom andamento do estágio, surgindo assim o Manual de Estágio Supervisionado dos cursos de licenciatura, atualização das fichas do estágio e a partir dos encontros dessa comissão foi normatizada a banca de defesa oral de TCC, assim como a figura do professor orientador individual de TCC, se programou reuniões com os docentes das instituições parceiras para estreitamento dos laços e ciência das atividades relativas ao estágio supervisionado, o que Tardif (2008) considera: a prática como meio de formação profissional, tanto em cursos de licenciatura quanto no exercício da profissão, e defende o trabalho coletivo em todas as ações a serem realizadas. Esse trabalho, que compreende apoio mútuo entre as unidades formadoras na busca de coerência no desenvolvimento dos programas e atividades, impõe a necessidade de orientação esclarecedora sobre os vários aspectos do programa, de fortalecimento de parcerias com o meio escolar e de criação de espaços para que os formadores e outros atores possam planejar e atuar coletivamente nos projetos de formação (TARDIF, 2008). Dessa feita se procurou fortalecer esse contato com as instituições parceiras, não apenas no período do estágio, mas também através da inserção dos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID, e nesse ínterim surgiu nova oportunidade de revisão dos projetos de curso das licenciaturas para adequação à nova lei do estágio, então no colegiado de Letras foi decidido separar o Estágio Supervisionado do TCC e assim o estágio reduziu-se a dois períodos e criaram-se três disciplinas para o trabalho com a pesquisa e realização do TCC, todavia permaneceu sendo obrigatório a realização da monografia. Assim com a desvinculação do TCC do Estágio Supervisionado os alunos puderam desenvolver suas atividades com mais tranquilidade e tempo para cumprir as exigências da disciplina, momento em que surgiu a necessidade de reorganizar a metodologia do estágio, a partir dos novos paradigmas que foram surgindo como a necessidade de realizar o estágio por meio de projetos, uma vez que já se trabalhava o estágio com pesquisa, e que para Hernández: os projetos de trabalho [dos estagiários] constituem um planejamento de ensino e de aprendizagem, vinculado a uma concepção da escolaridade, em que se dá importância não só à aquisição de estratégias cognitivas de ordem superior, mas também ao papel do estudante [estagiário] como responsável por sua própria aprendizagem (HERNÁNDEZ, 1998, p. 88-9). O autor reforça que a realização do estágio por meio de projetos propicia aos estagiários novas experiências, uma visão investigativa e interpretativa levando - osa 24854 perceberem as dificuldades nas escolas e tentar ajudar de alguma forma na resolução do problema enfrentado na escola, de maneira colaborativa com os docentes. Atualmente o estágio supervisionado no curso de letras se realiza em dois períodos, distribuídos da seguinte forma: Estágio Supervisionado I realizado nos anos do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e Estágio Supervisionado II realizado no 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio, que corresponde aos 7º e 8º períodos do curso. Entretanto devido às mudanças ocorridas nas leis e no sistema educacional brasileiro, o colegiado de Letras está realizando a revisão do seu Plano Curricular, visando atender a Resolução Nº 2 de 1º de julho de 2015 e Resolução Nº 53/2015- CONSUNIV/UEA de 09 de outubro de 2015, com o objetivo de se adaptar à nova conjuntura educacional, assim como a comissão de estágio está em processo de revisão e atualização do Regulamento do Estágio Supervisionado e das Diretrizes de TCC dessa instituição de ensino superior. Então se espera adequar o estágio supervisionado às novas demandas da sociedade da informação e da tecnologia, à nova resolução do estágio, que fora aprovada em 2015, assim como acompanhar as mudanças ocorridas no contexto social, objetivando preparar cada vez melhor o cidadão para atuar frente às complexidades da vida atual e para isso na nova organização curricular do curso de Letras está em processo de conclusão de sua revisão. Dessa forma o Estágio Supervisionado organizar-se-á: Estágio Supervisionado I ministrado no 5º período do curso com orientações e conteúdos voltados para o Ensino Fundamental de 6º ao 9º ano, o Estágio II será específico para orientar, debater e refletir sobre as leis e diretrizes da Educação de Jovens e Adultos – EJA, se dará no 6º período do curso e no sétimo período o Estágio III se destinará aos estudos, reflexões e orientações para o processo de ensino- aprendizagem nos 1º, 2º e 3 anos do Ensino Médio, tendo como base as novas diretrizes para o Ensino Médio, além dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, PCN + e Orientações Curriculares Nacionais – OCN com o planejamento e aplicação do projetos interdisciplinares nas escolas estagiadas, visando minimizar os problemas detectados no período de observação nas salas de aula. Portanto, com essas mudanças previstas na reformulação do Projeto Curricular do Curso de Letras se espera contribuir de forma mais adequada aos anseios da sociedade contemporânea, buscando redimensionar e inovar as práticas educativas na formação dos docentes, para que possam proporcionar aos estudantes um ensino de língua inovador, significativo, contextualizado e de forma interdisciplinar. 24855 Metodologia No primeiro semestre de 2017 o Estágio Supervisionado II realizou-se nas turmas do Ensino Médio regular e Educação de Jovens e Adultos - EJA, em cinco escolas públicas estaduais, nos turnos vespertino e noturno, no período de março a junho de 2017. As escolas que serviram de campo de estágio, no geral, atuam com duas modalidades: ensino fundamental do 6º ao 9º ano e ensino médio regular e EJA, possuem boa estrutura física, docentes habilitados nas várias disciplinas, em sua maioria são concursados, com tempo de experiência na profissão, que varia entre três e trinta anos na docência, e em relação aos materiais didáticos e tecnológicos ainda há muito que melhorar, pois no geral essas escolas disponibilizam de apenas um laboratório de informática, que para ser utilizado, há que se fazer o agendamento das turmas, a internet não é acessível a todos, apenas aos docentes e não é de boa qualidade. Em relação ao acervo bibliográfico, as escolas maiores possuem uma quantidade de livros razoável para uso dos estudantes, porém com o predomínio dos livros didáticos, também há projetos escolares realizados por áreas específicas como de leitura, de reforço na matemática, além do programa do PIBID que disponibiliza bolsista para atuar com projetos nas diversas áreas tendo como supervisores os docentes das próprias escolas, que são coordenados pelos docentes da instituição superior. O universo da pesquisa constitui-se de todos os alunos das turmas do Ensino Médio e da EJA das cinco escolas que serviram de campo de estágio para os vinte dois estagiários do 7º período do curso de Letras. Os alunos dessas escolas do turno vespertino são adolescentes e jovens, que geralmente não trabalham, apenas estudam e são advindos de todas as classes sociais, já os alunos do turno noturno são aqueles que estão fora da idade série, outros já são adultos que tinham abandonado seus estudos e que agora retornam à escola para conseguir seu diploma para garantir seus empregos ou tentar uma vaga no mundo do trabalho e os demais são jovens trabalhadores, que optam por estudar à noite, porque já tem família para sustentar, ou para ajudar seus pais nas despesas familiares. A referente pesquisa caracteriza-se como abordagem qualitativa, pois procura pesquisar e representar a qualidade dos fatos e discursos pesquisados, onde os estagiários estiveram em contato direto com o contexto estudado, pois como afirma Silva: a linguagem das pessoas que fazem parte daquele objeto de pesquisa é usada pelo pesquisador, como se fosse matéria-prima para confeccionar seu estudo; pois a 24856 abordagem qualitativa em como objeto a linguagem comum das pessoas e sua vida cotidiana, seus significados, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores (SILVA, 2005, p.85). Para a coleta dos dados acima citados pelo autor, os estagiários foram a campo, que conforme Lakatos (2017) “se procura uma resposta, uma hipótese, que se queira comprovar, ou ainda, com o propósito de descobrir os fenômenos ou relações entre eles”, para realizar a fase de observação, a fim de realizar o levantamento diagnóstico de todo o contexto escolar e das dificuldades encontradas no processo de ensino e aprendizagem da língua portuguesa. Na segunda fase do estágio os alunos realizaram pesquisas em livros, internet e consultaram os conteúdos teóricos recebidos nas trinta aulas teóricas da disciplina para planejar o projeto de ensino, os planos de aula das regências com suas atividades práticas, pois a pesquisa bibliográfica para Ander-Egg (1978, p. 28) é o “procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, eu permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento”, pois a partir das leituras se escolhia a melhor forma de facilitar o ensino dos conteúdos aos alunos. E na terceira fase do estágio foram realizadas as regências nas salas, com a aplicação dos projetos de ensino em consonância com as dificuldades de cada turma, a partir dos conteúdos indicados pelos docentes das escolas campo. Nesse período os estagiários tiveram uma maior interação com os estudantes do ensino médio, uma vez que não só lhes repassaram teorias, mas ajudaram na elaboração das atividades práticas de produção de textos, vídeos, cartazes, poesias, jornal escolar etc. Todo o material produzido nas regências foi exposto para todo o corpo docente e discente, sob o formato de mural os artigos de opinião, houve apresentação dos vídeos, paródias, poesias, relato de experiência, e do jornal escolar ao final das atividades do estágio supervisionado, demonstrando assim o interesse, a participação e os resultados satisfatórios de todo o trabalho desenvolvido. Resultados e Discussões O Estágio Supervisionado passou por várias fases segundo Pimenta e Lima (2004) como imitação de modelos, uma vez que logo no início dos cursos de licenciatura era essa a prática que predominava na maioria dos cursos de licenciatura. Após a implantação da Comissão de Estágio a partir de 2011, predominou o estágio como instrumentalização técnica, as aulas teóricas focavam no “como fazer”, o que Pimenta e 24857 Lima (2004,p. 37) argumentam: “A prática pela prática [...], isoladamente, [...] gera equívocos graves nos processos de formação profissional [...] e o emprego de técnicas sem a devida reflexão pode reforçar a ilusão de que há uma prática sem teoria ou de uma teoria desvinculada da prática”. Para as autoras, ensinar técnicas para uso dos alunos, sem ter o embasamento teórico necessário, caso contrário, ela pode não atingir ao objetivo almejado em relação ao processo de ensino e de aprendizagem. A partir das discussões na Comissão de Estágio Supervisionado passou-se a cobrar do aluno uma atuação mais reflexiva e atuante, orientando-os para a realização do estágio com pesquisa. Dessa forma, segundo Pimenta e Lima (2004, p.46) o estágio “se traduz na possibilidade de os estagiários desenvolverem posturas e habilidades de pesquisador a partir das situações de estágio, elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam”, assim, o estágio servia de base para a descoberta e do objeto e realização de suas pesquisas. Nesse contexto, se percebeu que a inserção do projeto como uma técnica de execução do Estágio Supervisionado se deu a partir da dicotomia entre o estágio e o TCC, pois a pesquisa passou a ser efetuada por disciplinas específicas, uma vez que “a pesquisa tem por finalidade a produção de conhecimentos numa determinada área e que o processo de pesquisar não se confunde com o processo de ensinar” de acordo com (PIMENTA, 2012, p. 230). Somente a partir das aulas teóricas com os estudos, discussões e reflexões de diversos temas é que os alunos iniciavam a fase prática do estágio estabelecendo o contato com os gestores, pedagogos e docentes das escolas para realização das três fases o estágio. Após a realização dos diagnósticos, os estagiários partiam para o planejamento do projeto de ensino, aplicando-o nas regências. Nesse contexto, o estágio segundo Pimenta (2004, p. 46) “se traduz na possibilidade dos estagiários desenvolverem posturas e habilidades de pesquisador a partir das situações de estágio, elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam”. Outrossim as atividades práticas do estágio realizadas através da aplicação de projetos de ensino, bem planejados e voltados para realidade dos estudantes do ensino médio foram exitosos, pois contribuíram para o desenvolvimento pessoal e para o início da construção da identidade profissional dos estagiários, levando-o à reflexão sobre as experiências vivenciadas, à sua auto-avaliação, possibilitando a integração dos conhecimentos teóricos e 24858 práticos e despertando-lhes habilidades e valores que poderão ser utilizados no futuro profissional, conforme (ZABALZA, 2014, p. 43). Essa experiência na realização do Estágio Supervisionado através de projetos de ensino, visando minimizar as dificuldades em língua portuguesa, das turmas, comprovou na prática que o projeto: é um instrumento teórico-metodológico que visa ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano [...] só que de uma forma refletida, consciente, sistematizada, orgânica, científica e, o que é essencial, participativa. É uma metodologia de trabalho que possibilita ressignificar a ação de todos os envolvidos (VASCONCELOS, 1995, p. 43). O autor confirma que a ressignificação envolve a participação de todos os envolvidos no processo e somente através do trabalho colaborativo é que se coseguirá realizar projetos significativos, no sentido de transformar o processo de ensino e de aprendizagem da língua portuguesa. E na experiência explicitada foi confirmado o que Pimenta (2012) afirma que o projeto está ligado a dois componentes essenciais: a questão educativa e o trabalho conjunto. Por fim, o estágio desenvolvido com projetos de ensino bem planejados e significativos tornam-se “o caminho teórico-metodológico de mão dupla para a formação dos estagiários e para a criação de possibilidades de melhoria das escolas” segundo Pimenta (2012, p.221). A autora ressalta que toda técnica de ensino se bem planejada terá o objetivo alcançado, contribuindo tanto para a formação dos estagiários quanto para a melhoria do processo educacional nas escolas. Considerações Finais De acordo com o exposto, se constatou a importância do Estágio Supervisionado, não só na formação dos estudantes, mas também na contribuição às universidades, ao oferecer novas oportunidades de aprendizagem, suscitando a reformulação das práticas pedagógicas no ambiente acadêmico, rompendo com o isolamento da universidade em relação à sua participação na sociedade, através de parcerias com outras instituições, assim como proporcionou a atualização nos currículos dos cursos de formação visando atender às demandas sociais, constituindo-se, dessa forma, um campo de formação permanente para todos os envolvidos no processo. Sugere-se a utilização dessas novas práticas e visões teóricas que se constituem em ideias mais atualizadas e alternativas mais coerentes para a formação profissional dos estagiários dos cursos de Letras e também das demais Licenciaturas. 24859 REFERÊNCIAS ANDER-EGG, Ezequiel. Introdución a lãs técnicas de investigación social: para trabajadores socieles. 7. ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978. CODO, W. (Coord.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1999. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1998. GANDIN, Danilo. Planejamento na sala de aula. 8. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. HERNÁNDEZ, F. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998. LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. PIMENTA, S. G.; LIMA, M. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2004. PIMENTA, Selma Garrido. Estágio e docência. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2012. 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