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1 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 OBJETIVOS 1. Descrever a etio-epidemiologia das intoxicações alimentares. 2. Caracterizar os possíveis quadros clínicos. 3. Descrever os seus principais diagnósticos diferenciais. 4. Propor as opções terapêuticas e profiláticas. REFERÊNCIAS Ministério da Saúde. Manual Integrado de Vigilância, Prevenção e Controle de Doenças Transmitidas por Alimentos. Brasília, 2010. Ministério da Saúde. Manual Técnico de Diagnóstico Laboratorial da Salmonella spp. Brasília 2011. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância em Saúde. Brasília. 5ª ed., 2021 INTRODUÇÃO O perfil epidemiológico das doenças transmitidas por alimentos (DTA) no Brasil ainda é pouco conhecido. Somente alguns estados e/ou municípios dispõem de estatísticas e dados sobre os agentes etiológicos mais comuns, alimentos mais frequentemente implicados, população de maior risco e fatores contribuintes. Vários são os fatores que contribuem para a emergência dessas doenças, entre os quais destacam-se: o crescente aumento das populações; a existência de grupos populacionais vulneráveis ou mais expostos; o processo de urbanização desordenado e a necessidade de produção de alimentos em grande escala. Contribui, ainda, o deficiente controle dos órgãos públicos e privados no tocante à qualidade dos alimentos ofertados às populações. Acrescentam-se outros determinantes para o aumento na incidência das DTA, tais como a maior exposição das populações a alimentos destinados ao pronto consumo coletivo – fast- foods –, o consumo de alimentos em vias públicas, a utilização de novas modalidades de produção, o aumento no uso de aditivos e a mudanças de hábitos alimentares. ETIOLOGIAS As DTA podem ser causadas por: Toxinas: produzidas pelas bactérias Staphylococcus aureus, Clostridium spp, Bacillus cereus, Escherichia coli, Vibrio spp, etc. Bactérias: Salmonella spp, Shigella spp, Escherichia coli, etc. Vírus: Rotavírus, Noravírus, etc. Parasitas: Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, Cryptosporidium parvum, etc. Substâncias tóxicas: metais pesados, agrotóxicos, etc. MECANISMOS PATOGÊNICOS Existem vários mecanismos patogênicos envolvidos com a determinação das DTA. De forma simplificada, pode-se agrupar as DTA nas seguintes categorias: Infecções – são causadas pela ingestão de micro- organismos patogênicos, denominados invasivos, com capacidade de penetrar e invadir tecidos, originando quadro clínico característico como as infecções por Salmonella spp, Shigella spp, Yersinia enterocolitica e Campylobacter jejuni. Estes quadros geralmente são associados a diarreias frequentes, mas não volumosas, contendo sangue e pus, dores abdominais intensas, febre e desidratação leve, sugerindo infecção do intestino grosso por bactérias invasivas. Agentes virais, protozoários e helmintos também estão envolvidos com DTA, cujo mecanismo de ação é a invasão tecidual, embora o quadro clínico geralmente não tenha as mesmas características discutidas anteriormente. Doenças Transmitidas por Alimentos Problema 12 2 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Toxinfecções: são causadas por micro-organismos toxigênicos, cujo quadro clínico é provocado por toxinas liberadas quando estes se multiplicam, esporulam ou sofrem lise na luz intestinal. Essas toxinas atuam nos mecanismos de secreção/absorção da mucosa do intestino. As infecções por Escherichia coli enterotoxigênica, Vibrio cholerae, Vibrio parahaemolyticus, Clostridium perfringens e Bacillus cereus (cepa diarreica) são exemplos clássicos. Normalmente, a diarreia nestes casos é intensa, sem sangue ou leucócitos, febre discreta ou ausente, sendo comum a desidratação. Intoxicações – são provocadas pela ingestão de toxinas formadas em decorrência da intensa proliferação do micro-organismo patogênico no alimento. Os mecanismos de ação dessas toxinas em humanos não estão bem esclarecidos. Observações em animais sugerem alterações na permeabilidade vascular e inibição da absorção de água e sódio levando às diarreias. Os vômitos possivelmente estão associados a uma ação das toxinas sobre o SNC. Exemplos clássicos deste processo são as intoxicações causadas por Staphylococcus aureus, Bacillus cereus (cepa emética) e Clostridium botulinum. BOTULISMO ETIOLOGIA Doença neuroparalítica grave, não contagiosa, resultante da ação de toxinas produzidas pela bactéria Clostridium botulinum. O C. botulinum é um bacilo Gram-positivo, anaeróbio e esporulado. Em sua forma vegetativa, pode produzir pré-toxina botulínica. São conhecidas oito tipos de toxinas botulínicas: A, B, C1, C2, D, E, F e G. Os tipos que causam doença no ser humano são: A, B, E e F, sendo os mais frequentes o A e o B As condições ideais para que a bactéria assuma a forma vegetativa, produtora de toxina, são: anaerobiose, pH alcalino ou próximo do neutro (4,8 a 8,5), atividade de água de 0,95 a 0,97 e temperatura ótima de 37°C. Os tipos A e B desenvolvem-se em temperaturas próximas das encontradas no solo (acima de 25ºC até 40°C), enquanto o tipo E é capaz de proliferação a partir de 3°C (considerada psicrófila moderada). Os esporos do C. botulinum são amplamente distribuídos na natureza, em solos e sedimentos de lagos e mares. São identificados em produtos agrícolas, como legumes, vegetais e mel, e em intestinos de mamíferos, peixes e vísceras de crustáceos. MODO DE TRANSMISSÃO Botulismo alimentar Ocorre por ingestão de toxinas presentes em alimentos previamente contaminados, que foram produzidos ou conservados de maneira inadequada. Os alimentos mais comumente envolvidos são: •Conservas vegetais, principalmente as artesanais (palmito, picles, pequi). • Produtos cárneos cozidos, curados e defumados de forma artesanal (salsicha, presunto, carne frita conservada em gordura – “carne de lata”). • Pescados defumados, salgados e fermentados. • Queijos e pasta de queijos. 3 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 • Raramente, alimentos enlatados industrializados. Período de Incubação: pode variar de 2 horas a 10 dias, com média de 12 a 36 horas. Quanto maior a concentração de toxina no alimento ingerido, menor o período de incubação. FISIOPATOLOGIA A toxina absorvida no trato gastrintestinal e dissemina-se por via hematogênica até as terminações nervosas (membrana pré-sináptica da junção neuromuscular), bloqueando a liberação da acetilcolina. Consequentemente, haverá falha na transmissão de impulsos nas junções das fibras nervosas, resultando em paralisia flácida dos músculos que estes nervos controlam. O alimento consumido juntamente com a toxina pode protegê-la do efeito deletério dos ácidos durante a passagem pelo estômago. O local de máxima absorção da toxina botulínica é o intestino delgado, de onde segue para o sistema linfático e posteriormente alcança a corrente sanguínea. Existem dois grupos diferentes de Clostridium botulinum: os proteolíticos e os não proteolíticos. As cepas proteolíticas produzem uma pró-toxina que sofrerá ação de proteases do próprio microrganismo ainda no alimento e, nesses casos, a toxina é ingerida na forma ativa. Quando se trata de cepa não proteolítica, o alimento contém pró-toxinas que serão ativadas por ação das proteases existentes no trato digestivo do homem. QUADRO CLÍNICO A doença caracteriza-se por instalação súbita e progressiva. Os sinais e os sintomas iniciais podem ser gastrointestinais e/ou neurológicos. As manifestações gastrointestinais mais comuns são náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, e podem anteceder ou coincidir com os sinais e os sintomasneurológicos. Os primeiros sinais e sintomas neurológicos podem ser inespecíficos, tais como cefaleia, vertigem e tontura. Os principais sinais e sintomas neurológicos são: visão turva, ptose palpebral, diplopia, disfagia, disartria e boca seca, íleo paralítico, hipotensão sem taquicardia e retenção urinária, evoluindo para paralisia flácida motora descendente, associada a comprometimento autonômico disseminado. As manifestações começam no território dos nervos cranianos e evoluem no sentido descendente. Essa particularidade distingue o botulismo da síndrome de Guillain-Barré, que é uma paralisia flácida aguda ascendente. Com a evolução da doença, a fraqueza muscular pode se propagar de forma descendente para os músculos do tronco e dos membros, o que pode ocasionar dispneia, insuficiência respiratória e tetraplegia flácida. A fraqueza muscular nos membros é tipicamente simétrica, acometendo com maior intensidade os membros superiores. Uma característica importante no quadro clínico do botulismo é a preservação da consciência. Na maioria dos casos, também não há comprometimento da sensibilidade, o que auxilia no diagnóstico diferencial com outras doenças neurológicas. O botulismo pode apresentar progressão por 1 a 2 semanas e estabilizar-se por mais 2 a 3 semanas, antes de iniciar a fase de recuperação, com duração variável, que depende da formação de novas sinapses e restauração da função. Nas formas mais graves, o período de recuperação pode durar de 6 meses a 1 ano, embora os maiores progressos ocorram nos primeiros três meses após o início dos sintomas. DIAGNÓSTICO Anamnese: na suspeita de botulismo alimentar, também devem ser investigados: • Alimentos ingeridos nos últimos 3 dias e, quando possível, até 10 dias. • Tempo decorrido entre a ingestão e o aparecimento da doença. • Existência de outros casos e fonte comum de ingestão de alimentos. 4 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 • Outras pessoas com sinais e sintomas semelhantes. Exame neurológico Devem ser avaliados nível de consciência, deficit de força muscular nos membros, e comprometimento da musculatura ocular, facial e bulbar. Devem ser verificados os movimentos da língua e do palato; movimentos da face; reflexos profundos (aquileu, patelar, bicipital, tricipital, estilorradial); sensibilidade; comprometimento do sistema nervoso autônomo; acuidade visual; e preservação da audição. Laboratorial O diagnóstico laboratorial é baseado na análise de amostras clínicas (soro, fezes, vômitos) e de alimentos para identificação da toxina ou isolamento da bactéria (Clostridium botulinum). Mesmo sorotipo no alimento e no material biológico. Eletrofisiológico A eletroneuromiografia permite identificar se a lesão no sistema nervoso periférico localiza-se na raiz, nos plexos, no nervo, no músculo ou na junção neuromuscular. Dessa forma, esse exame é de grande valor no diagnóstico de botulismo ao demonstrar o comprometimento da junção neuromuscular, mais especificamente da membrana pré- sináptica, causada pela toxina botulínica. Notificação Todo caso suspeito de botulismo exige notificação à vigilância epidemiológica local imediatamente (em até 24 horas); posteriormente, a notificação deve ser registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) por meio do preenchimento da Ficha de Investigação. do Botulismo. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Existem muitas doenças neurológicas que podem se manifestar com fraqueza muscular súbita e paralisia flácida aguda. As principais são: síndrome de Guillain-Barré, síndrome de Muller- Fisher (variante da síndrome de Guillain-Barré) e Miastenia gravis. TRATAMENTO Basicamente, o tratamento da doença se apoia em dois conjuntos de ações: tratamento de suporte e tratamento específico. Tratamento de suporte A disfagia, regurgitação nasal, comprometimento dos movimentos da língua, do palato e, principalmente, da musculatura respiratória são sinais indicativos de gravidade e exigem atenção redobrada e ação imediata para evitar broncoaspiração e insuficiência respiratória. Nesses casos, a assistência ventilatória é essencial para evitar o óbito, podendo ser necessária por 4 (toxina tipo B) a 8 semanas (toxina tipo A) ou mais, se houver complicações. Não é necessário esperar que a PCO2 esteja elevada ou que a saturação de O2 diminua, pois a espera de tais sinais pode representar maior risco de instalação da insuficiência respiratória. As paralisias podem causar: (a) asfixia e obstruções respiratórias altas e, nesse sentido, deve-se observar se há mobilidade da língua e do palato, disfonia e disfagia; e (b) perda da capacidade vital (aferida por espirômetro) e, em geral, a intubação é indicada quando a capacidade vital é menor que 12 mL/kg. • Traqueostomia: nem sempre é necessária, devendo ter sua indicação avaliada caso a caso. • Lavagens gástricas, enemas e laxantes podem ser úteis nos casos de botulismo alimentar, com o objetivo de eliminar a toxina do aparelho digestivo, exceto naqueles em que houver íleo paralítico. • Hidratação parenteral e reposição de eletrólitos, além de alimentação, por meio de sondas, devem ser mantidas até que a capacidade de deglutição seja recuperada. Tratamento específico Soro Antibotulínico (SAB): atua contra a toxina circulante, que ainda não se fixou no sistema nervoso. Por isso, recomenda-se que o tratamento com SAB seja realizado o mais precocemente 5 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 possível (até 7 dias a partir do início dos sintomas neurológicos); caso contrário, poderá não mais ser eficaz. A dose é uma ampola de antitoxina botulínica bi (A e B) ou trivalente (A, B e E) por via endovenosa. A dose de SAB é diluída em solução fisiológica a 0,9%, na proporção de 1:10 para infundir em aproximadamente uma hora. No botulismo alimentar, a indicação de antibióticos ainda não está bem estabelecida. Obs: Antes de iniciar o tratamento específico, todas as amostras clínicas para exames diagnósticos devem ser coletadas SALMONELOSE As salmonelas são causadas por bactérias (Salmonella spp.) pertencentes à família Enterobacteriaceae, sendo que, morfologicamente, são bastonetes Gram negativos, geralmente móveis, capazes de formar ácido e, na maioria das vezes, gás a partir da glicose, com exceção de S. Typhi, S. Pullorum e S. Gallinarum (≤ 5% produzem gás). Existem diversas espécies e subespécies de Salmonella. Atualmente são reconhecidos cerca de 2500 sorovares incluídos em 2 espécies (S.enterica e S.bongori), sendo que a Salmonella enterica de subespécie enterica é predominante em isolamento de fonte humanas e animais. ESPÉCIES/SUBESPÉCIES SOROVARES Salmonella enterica subsp. enterica 1.490 Salmonella enterica subsp. salamae 500 Salmonella enterica subsp. arizonae 94 Salmonella enterica subsp. diarizonae 320 Salmonella enterica subsp. houtenae 72 Salmonella enterica subsp. indica 12 Salmonella bongori 22 A adaptabilidade fisiológica de Salmonella é demonstrada por sua habilidade para proliferar em valores de pH entre 7.0 e 7.5 (extremos 3.8 e 9.5), temperatura de 35°C a 43°C (extremos 5°C a 46°C) e uma atividade hídrica (> 0,94), ocorrendo variações entre sorovares e/ou cepas. Nos produtos secos, como o chocolate, o cacau em pó, as especiarias ou o leite em pó, e em produtos congelados, como os sorvetes, o normal é a sobrevivência por períodos de tempo prolongados. A bactéria é sensível ao calor, não sobrevivendo à temperatura superior a 70°C. TRANSMISSÃO A transmissão se dá com a ingestão de alimentos contaminados com fezes de animais (galinhas, porcos, répteis, anfíbios, vacase até mesmo em animais domésticos, como cachorros e gatos). Os produtos agrícolas não processados (hortaliças e frutas), geralmente por exposição à agua contaminada e os alimentos de origem animal (carnes cruas, leite e os ovos) por exposição direta são veículos frequentes de salmonelas. Período de incubação: 8 horas a 2 dias FISIOPATOLOGIA Os microrganismos penetram por via oral, invadindo a mucosa intestinal, com disseminação para a submucosa, resultando em enterocolite aguda. Seu transporte, através do sistema retículo endotelial, aliado à capacidade de multiplicação no interior dos macrófagos, possibilita sua manutenção e disseminação no organismo. QUADRO CLÍNICO A manifestação clínica inclui quadros entéricos agudos ou crônicos, além de localização extraintestinal, como infecções septicêmicas, osteomielite, artrite, hepatite etc. O quadro clínico é caracterizado pelo aumento do número de evacuações (mínimo de 3 episódios no período de 24 horas), com diminuição da consistência das fezes (líquidas ou semilíquidas). Normalmente, o quadro diarreico é moderado, sem a presença de sangue, entretanto, em alguns quadros clínicos, pode ocorrer perda de pequeno volume de fezes associado a tenesmo e sangue O quadro diarreico regride, usualmente, de 3 a 4 dias. 6 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 Pode ocorrer febre (39ºC) em cerca de 50% dos casos, normalmente de curta duração (2 dias), cólicas abdominais leves a intensas quando houver invasão dos linfonodos (linfadenite mesentérica), que podem mimetizar apendicite Pode haver manifestações mais graves, com desidratação e distúrbios hidroeletrolíticos, principalmente quando associadas à desnutrição DIAGNÓSTICO Anamnese: É importante excluir as causas não infecciosas de diarreia aguda: uso recente de medicamentos (laxativos, antiácidos, antibióticos), ingestão de bebidas alcoólicas, excesso de bebidas lácteas etc. Laboratorial Exames parasitológicos e cultura de bactérias em amostras de fezes ou “swab” retal” ou cultura em alimento suspeito para pesquisa de Salmonella spp e Salmonella enteritidis. Se houver sintomas septicêmicos, na urina ou sangue. Obs: As fezes devem ser coletadas durante a fase aguda, antes de iniciar o tratamento com antibióticos TRATAMENTO Tratamento sintomático por meio de medidas de suporte com uso de antitérmicos e hidratação oral e/ou parenteral para correção de distúrbios ácido-básicos e eletrolíticos (hipocalemia, acidose metabólica, etc.). AVALIAÇÃO DO ESTADO DE HIDRATAÇÃO OBSERVE Estado geral Bem alerta Irritado, intranquilo Comatoso, hipotônico Olhos Normais Fundos Muito fundos Lágrima Presentes Ausentes Ausentes Sede Bebe normalmente Sedento, bebe Rapidamente e avidamente Bebe com dificuldade ou é incapaz de beber * EXPLORE Sinal de prega Desaparece rapidamente Desaparece lentamente Desaparece muito lentamente (mais de 2 segundos) Pulso Cheio Rápido, fraco Muito fraco ou ausente* Enchimento capilar Normal (até 3 segundos) Prejudicado (de 3 a 5 segundos) Muito prejudicado (mais de 5 segundos) * DECIDA SEM SINAIS DE DESIDRATAÇÃO Se apresentar dois ou mais sinais: DESIDRATAÇÃO Se apresentar dois ou mais sinais, incluindo pelo menos um dos destacados com asterisco (*): DESIDRATAÇÃO GRAVE Obs: O uso de antieméticos deve ser evitado na maioria dos casos, seu uso, em situações especiais, deve ser criterioso O tratamento com antibioticoterapia deve ser feito com cloranfenicol 500mg, VO, 6/6horas ou caso a via oral não seja possível, 1g, IV, 6/6 horas durante 21 dias. Ciprofloxacina é uma boa alternativa, sobretudo em pacientes imunodeprimidos, na dose de 500mg, VO, 12/12 horas durante 14 dias. INTOXICAÇÃO POR ESTAFILOCOCOS Estafilococos são microrganismos Gram-positivos aeróbios. Staphylococcus aureus é o mais patogênico. A intoxicação alimentar por estafilococos é causada pela ingestão de uma enterotoxina pré- formada resistente ao calor. Os alimentos podem ser contaminados por portadores de estafilococos ou pessoas com infecções cutâneas TRANSMISSÃO Em alimentos com refrigeração deficiente, manipulação inadequada, preparo de alimentos várias horas antes do consumo, manutenção de alimentos em temperaturas elevadas (incubação bacteriana), manipuladores com infecções purulentas, os estafilococos se multiplicam e produzem enterotoxina Muitos alimentos podem servir como meio de crescimento e, apesar da contaminação, apresentam gosto e odor normais, como por exemplo: bolos e similares com recheio e cobertura; produtos de confeitaria doces e salgados, tortas salgadas, massas salgadas com 7 MÓDULO I: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS ANA LUÍZA A. PAIVA – 5° PERÍODO 2022/1 recheio e/ou cobertura, carne moída, presunto, etc, Período de incubação: 1 a 8 horas (em geral 2 a 4 horas) QUADRO CLÍNICO Náuseas e vômitos intensos começam de 2 a 8 horas após a ingestão, seguidos de cólicas abdominais e diarreia. Importante observar ausência de febre O episódio é breve, com duração < 12 horas. DIAGNOSTICO O diagnóstico de infecções estafilocócicas é feito por coloração de Gram e cultura do material infectante (Staphylococcus aureus em vômito, fezes e alimento suspeito). TRATAMENTO Tratamento sintomático por meio de medidas de suporte com uso de antitérmicos e hidratação oral e/ou parenteral para correção de distúrbios ácido-básicos e eletrolíticos (hipocalemia, acidose metabólica, etc.). Não está indicado o uso de antimicrobianos no manuseio de doença diarreica causada por Staphylococcus spp. MEDICAMENTOS CONTRA INDICADOS NA DIARREIA AGUDA ANTIEMÉTICOS (Metoclopramida, Clorpromazina, etc.). Podem provocar manifestações extrapiramidais, depressão do sistema nervoso central e distensão abdominal. Podem dificultar ou impedir a ingestão do soro oral. ANTIESPASMÓDICOS (Elixir paregórico, Atropínicos, Loperamida, Difenoxilato, etc.). Inibem o peristaltismo intestinal, facilitando a proliferação de germes e, por conseguinte, o prolongamento do quadro diarreico. Podem levar à falsa impressão de melhora. ADSTRINGENTES (Caolin-pectina, Carvão ativado, etc.) Têm apenas efeitos cosméticos sobre as fezes, aumentando a consistência do bolo fecal, além de expoliar sódio e potássio ANTIPIRÉTICOS (Dipirona, etc.). Podem produzir sedação, prejudicando a tomada do soro oral. LACTOBACILOS, etc. Não há evidência de sua eficácia, apenas onera o tratamento. Fonte: Manual de Tratamento de Diarreia – Ministério da Saúde
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