Buscar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 59 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 59 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 59 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
A construção histórica da Psicossomática e sua efetivação como campo de conhecimento da Psicologia na área de Saúde.
PROPÓSITO
Compreender o conceito e a origem da Psicossomática para fins de obtenção de conhecimento e atuação profissional dentro da Psicologia,
discutindo a dicotomia mente e corpo.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Comparar as abordagens monistas e dualistas no problema mente/corpo
MÓDULO 2
Descrever o conceito de Psicossomática e sua evolução histórica
MÓDULO 3
Relacionar fundamentos da Psicossomática às práticas atuais
INTRODUÇÃO
Vamos estudar a visão mente e corpo, o conceito de psicossomática e somatopsíquico, para assim descobrir a evolução da Psicossomática
que aconteceu em três fases: psicanalítica, behaviorista e multidisciplinar. Precisamos compreender que a Psicossomática não se resume às
doenças psicossomáticas, mas engloba todo um campo de estudos que considera o ser humano em sua forma biopsicossocial, ou seja, o ser
humano em sua integralidade. Desta forma, vamos relacionar esses conceitos às práticas multi e interdisciplinares no campo da Saúde.
MÓDULO 1
 Comparar as abordagens monistas e dualistas no problema mente/corpo
A DICOTOMIA MENTE/CORPO E SUA REPERCUSSÃO NA
PRÁTICA DO PROFISSIONAL DE SAÚDE
Para discutir as concepções monistas e dualistas sobre o problema da mente e do corpo, vamos precisar fazer uma breve visita à mãe de
todas as ciências: a Filosofia. É na Filosofia que esse problema é posto de forma sistemática e pensado por renomados filósofos da nossa
história. Veja os pensamentos de importantes filósofos sobre essas concepções.
Andee Viana
Destacar
DUALISMO
Dualismo é uma oposição ao pensamento monista, ou seja, mente e corpo são entidades separadas, distintas e incompatíveis. Os dualistas,
como o filósofo René Descartes, aceitam que há relação entre mente e corpo, mas isso não significa que a mente padeceria após a morte
física do nosso corpo.
Vamos recorrer ao dicionário de Psicologia da American Psychological Association (APA) para melhor compreensão desse conceito:
NO CONTEXTO DO PROBLEMA MENTE-CORPO, DUALISMO É A POSIÇÃO DE
QUE MENTE E CORPO CONSTITUEM DOIS REINOS OU SUBSTÂNCIAS
SEPARADAS. POSIÇÕES DUALISTAS LEVANTAM A QUESTÃO DE COMO MENTE
E CORPO INTERAGEM NO PENSAMENTO E NO COMPORTAMENTO [...] PARA
DESCARTES, ISSO SIGNIFICA QUE A MENTE CONTINUA EXISTINDO MESMO QUE
O CORPO MATERIAL NÃO EXISTA MAIS.
(APA, 2010, p.312)
Platão foi um dos mais brilhantes filósofos que existiu. Nasceu em Atenas, na Grécia Antiga, e viveu entre os anos de 427-347 a.C. Formulou
a tese de que existe um mundo dos sentidos e um mundo das ideias. Para explicar melhor a tese de Platão, podemos usar uma ilustração
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
confeccionada pelo próprio filósofo: o mito da caverna. De forma resumida, o mito da caverna consiste em prisioneiros que se encontram
condenados a viverem o resto de seus dias em uma caverna, acorrentados e impossibilitados de enxergarem o que acontece por trás da
entrada do lugar. Tudo o que eles conseguem ver são sombras de pessoas e objetos projetadas na parede da caverna, graças a uma
fogueira presente no local. Um prisioneiro consegue escapar e encontrar a saída, observa admirado o mundo exterior que sempre esteve ali,
mas com o qual ele apenas se conectava pelas sombras projetadas na caverna.
A alegoria da caverna serve para ilustrar a tese platônica do mundo das ideias e do mundo dos sentidos. Para o filósofo grego, este mundo
seria justamente o material, que conseguimos captar pelos nossos órgãos sensoriais. São as projeções imperfeitas das sombras do que
existe no mundo das ideias. Portanto, o mundo das ideias é o exterior da caverna no mito de Platão. É neste mundo que reside as formas
perfeitas e eternas, separado do âmbito material e que não pode ser acessado pelos órgãos sensoriais. Em outras palavras, a forma de
contato com o mundo das ideias é através da razão. É assim que Platão pode ser considerado um dualista: para ele, a alma do homem é
imortal e um dia ela já habitou o mundo das ideias, pois, se o corpo é o possuidor dos sentidos e consegue captar esse mundo. A alma é
possuidora da razão, e é a parte do ser humano que acessa o mundo das ideias.
Em Platão, existe uma clara separação entre corpo (material) e alma (abstrata). Enquanto o corpo habita o mundo dos sentidos, a alma
pertence ao mundo das ideias. O corpo seria um instrumento para a alma do ser humano.
 
Fonte: Shutterstock.com.
 Ilustração de “O mito da caverna”.
Outro importante dualista que também pertence ao campo da filosofia foi René Descartes. O filósofo francês pensava que os sentidos são
ferramentas falhas para conhecer a verdade, pois eles nos enganariam o tempo todo. De fato, os sentidos humanos – visão, olfato, paladar,
tato e audição – podem nos enganar. Basta recorrermos aos inúmeros exemplos de ilusão de ótica, nos quais uma figura pode ser
interpretada de diversas formas, ou pode nos levar a acreditar que uma imagem estática está em movimento. Faça o seguinte exercício:
entre no Google Imagens e digite a expressão “ilusão de movimento”. Você verá imagens estáticas, mas terá a sensação de que elas estão
em movimento.
Descartes busca pôr em xeque todas as certezas sobre o mundo, com o objetivo de chegar a certezas irrefutáveis. A primeira certeza de
Descartes era a de que ele não podia duvidar de sua própria existência, pois: penso, logo, existo. Em outras palavras, para pensar é preciso
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
existir, não haveria a mínima possibilidade de um pensamento sem existência, logo, a existência se constituía em uma certeza para
Descartes.
 
Fonte: Shutterstock.com.
 René Descartes.
O filósofo usa o exemplo da cera para indicar como conhecemos as coisas pela razão e não pelos sentidos. Um pedaço de cera derretido
tem suas características modificadas e transformadas, mas continua sendo cera:
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
O QUE É, POIS, QUE SE CONHECIA DESTE PEDAÇO DE CERA COM TANTA
DISTINÇÃO? CERTAMENTE NÃO PODE SER NADA DE TUDO O QUE NOTEI NELA
POR INTERMÉDIO DOS SENTIDOS, POSTO QUE TODAS AS COISAS QUE SE
APRESENTAVAM AO PALADAR, AO OLFATO, OU À VISÃO, OU AO TATO, OU À
AUDIÇÃO, ENCONTRAM-SE MUDADAS E, NO ENTANTO, A MESMA CERA
PERMANECE.
(DESCARTES, 1979, p. 96)
A dependência em conhecer através dos sentidos poderia nos enganar no exemplo citado, pois, graças a nossa res cogitans sabemos que a
cera continua sendo cera, mesmo que derretida e com outras características.
RES COGITANS
Termo de origem no latim, que significa coisa pensante. O ser humano tem uma res cogitans, em circunstâncias naturais, todo ser
humano pensa e, como indicado por Descartes em seu método, pode duvidar das ideias que ele tem sobre si e sobre o mundo.
javascript:void(0)
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
 
Fonte: Gimas / Shutterstock.com.
 Escultura de bronze “O Pensador”, de Auguste Rodin.
É neste sentido que o dualismo cartesiano está ancorado nessas duas substâncias incompatíveis. Enquanto a res cogitans está associada à
mente,a res extensa está relacionada ao corpo. Aqui, existe um claro dualismo entre mente e corpo. Destaca-se a opção de Descartes em
usar o substantivo res extensa para nomear a esfera da matéria física, o filósofo evidencia com essa escolha que toda matéria física tem
uma extensão no espaço. A própria cera, ainda que derretida, continua ocupando o espaço com sua extensão. O próprio cérebro – órgão em
que alguns autores da psicologia, principalmente, os de cunho cognitivistas, vão indicar como sinônimo de mente – possui uma extensão,
mas, para Descartes, a mente não possui nenhuma extensão no espaço, o que, para ele, significa que ela continua existindo mesmo depois
da morte do corpo material.
javascript:void(0)
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
De que forma mente e corpo se relacionavam em Descartes? O autor acreditava que a glândula pineal exerce um papel fundamental nesse
processo. Segundo o pensador:
RES EXTENSA
A gênese da palavra está no latim e significa coisa expandida. Descartes usa o termo para indicar o aspecto físico da matéria. Toda a
matéria ocupa espaço físico, ainda que ela seja modificada como a cera derretida, a propriedade da extensão continua existindo na
mesma matéria.
A RAZÃO QUE ME PERSUADE DE QUE A ALMA NÃO PODE TER, EM TODO
CORPO, NENHUM OUTRO LUGAR, EXCETO ESSA GLÂNDULA, ONDE EXERCE
IMEDIATAMENTE SUAS FUNÇÕES, É QUE CONSIDERO QUE AS OUTRAS PARTES
DE NOSSO CÉREBRO SÃO TODAS DUPLAS, ASSIM COMO TEMOS DOIS OLHOS,
DUAS MÃOS, DUAS ORELHAS, E ENFIM TODOS OS ÓRGÃOS DE NOSSOS
SENTIDOS EXTERNOS SÃO DUPLOS [...]
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
(DESCARTES, 1979, p. 229)
A mente não é sinônimo de cérebro para Descartes, porque os animais, assim como os humanos, possuem cérebros, mas eles não possuem
capacidade de raciocínio. Os animais, em suma, consistem apenas em corpos, já os seres humanos possuem corpos e mente.
 
Fonte: René Descartes/ Wikimedia Commons/Domínio Público.
 Desenho de René Descartes em "Tratado do Homem", retratando a função da glândula pineal.
Descartes se aproxima de Platão, não no sentido da existência de um mundo dos sentidos e um mundo das formas, mas pela via da
existência da mente (ou alma em Platão), após o perecimento do corpo físico humano.
Andee Viana
Retângulo
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
MONISMO
A posição dualista do problema mente e corpo não é uma unanimidade nos dias de hoje. Grande parte da comunidade científica defende
uma posição monista, isto é, de que mente e corpo não se constituem em substâncias diferentes. Se, para Platão, havia um mundo dos
sentidos e um mundo das ideias, o primeiro abrigando a substância material enquanto o segundo acolhia nossas almas, para os monistas,
essa separação não existe. Os monistas acreditam que o ser humano, apesar da sua aparente diversidade expressa pelo problema mente e
corpo, tem sua gênese em um único princípio ou substância.
Monismo – Em uma concepção discursiva do problema mente e corpo, os monistas são aqueles que pensam em uma integração entre as
duas entidades, ou seja, mente e corpo estão relacionados e intrinsecamente combinados. O dicionário de psicologia da APA descreve: “No
contexto do problema mente-corpo, monismo é qualquer posição que evita o dualismo.” (APA, 2010, p.621)
Aqui, é importante destacar que existe uma ideia geral de que a vertente dualista do problema mente e corpo se relaciona de uma forma mais
próxima a algum tipo de espiritualidade – o que faz sentido, uma vez que a eternidade da mente em Descartes, ou o mundo das ideias de
Platão, evoca um mistério desconhecido pelo ser humano. Enquanto o monismo estaria mais associado a uma crença na finitude da espécie,
de seu corpo, de sua mente e de sua substância. Porém, alguns filósofos monistas também pensavam o monismo pela via do espírito. Para
Hegel, por exemplo, não existe separação entre ser e pensar (como existe em Descartes), ou seja, ele é um monista. Entretanto, Hegel
pensa um monismo pela via de espírito infinito. Algo parecido acontece em Spinoza que, apesar de ser monista, considera que Deus é a
substância única, mas no sentido de que Deus e natureza são a mesma coisa, por isso, Spinoza é considerado um panteísta.
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
 
Fonte: Shutterstock.com.
A nossa Psicologia contemporânea do século XXI tende a se aproximar mais do monismo do que do dualismo. Uma das explicações para
essa posição foi a empreitada de tornar a Psicologia do século XIX uma ciência experimental. É William Wundt quem leva esse crédito ao
inaugurar, em 1879, na cidade Leipzig (Alemanha), o primeiro laboratório de Psicologia Experimental oficial do mundo.
Portanto, para se tornar ciência, a Psicologia precisou se adequar aos equipamentos, instrumentos e laboratórios, considerados científicos.
Como analisar a mente através de instrumentos e técnicas científicas, uma substância que, para Descartes, não tem extensão no tempo e
que, para Platão, já habitou o mundo das ideias? Na impossibilidade de provar a existência da mente separada do corpo, pelo menos no que
tange ao uso de instrumentos científicos, grande parte dos psicólogos atualmente adota uma posição monista, o que não significa dizer que o
dualismo tenha desaparecido da Psicologia ou de qualquer outro campo científico. No entanto, é bem verdade que é mais difícil encontrar
cientistas que adotam essa posição, pelo menos, publicamente.
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
O CURIOSO CASO DE PHINEAS GAGE
O emblemático caso de Phineas Gage é usado para ilustrar o monismo e sua afirmação de que mente e corpo constituem uma só
substância. Phineas Gage foi um estadunidense nascido em 1823, no estado de Nova Hampshire. Em 1848, Gage estava trabalhando como
operário em uma linha férrea. Seu trabalho era fazer detonações no terreno para construir o caminho necessário para a passagem dos
trilhos. Essa detonação era feita com pólvora e, em uma de suas rotinas, um acidente aconteceu, enquanto Gage estava acomodando a
substância no local em que havia planejado.
O acidente fez voar uma barra de ferro de mais de 1 metro contra seu crânio. A barra atravessou seu rosto atingindo seu cérebro,
atravessando a extremidade da cabeça do operário. A morte parecia certa para os seus colegas de trabalho, que vislumbraram o acidente,
mas Gage ficou apenas atordoado e logorecuperou seus sentidos. Suas capacidades intelectuais pareciam intactas e é provável que os
médicos da época tenham ficado surpreendidos pela aparente falta de consequências ou efeitos colaterais do acidente. Contudo, após o
acidente, Phineas Gage, que era considerado um exemplo de trabalhador, responsável, respeitoso e educado com as pessoas que
conheciam seu caráter, passou a agir de forma bem diferente, tratando as pessoas com desdém, de forma desrespeitosa, agindo com
irresponsabilidade e sendo grosseiro com seus colegas de trabalho.
Andee Viana
Retângulo
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
 
Fonte: Jack e Beverly Wilgus /Wikimedia.commons /licença CC BY-SA 3.0.
 Phineas P. Gage.
Será que a barra de ferro que atravessou seu cérebro lesionando-o tinha alguma relação com essa mudança na personalidade de Phineas
Gage? “150 anos mais tarde, pesquisadores usando técnicas modernas de neuroimagem do crânio preservado de Gage e uma simulação
computadorizada do acidente, demonstraram que o principal dano ao cérebro de Gage tinha ocorrido no córtex pré-frontal [...] esta área do
cérebro é envolvida na maioria dos nossos processos de pensamento avançado [...] Por isso, não é surpresa que os aspectos do self – as
características que associamos ao nosso self, as emoções provocadas por essas características e nossa habilidade em regulá-lo, envolvam o
processamento no córtex pré-frontal.” (NOLEN et al., 2012, p. 458)
A mente é composta pelas propriedades que apenas um ser humano é capaz de expressar, pelo menos até o estado da arte científica atual,
como pensamento crítico, raciocínio lógico, linguagem, aspectos relativos à personalidade de cada ser, sentimentos, emoções, memórias,
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
entre outras. Alguns desses aspectos mentais foram prejudicados por causa da barra de ferro que atravessou Phineas Gage. Isto seria um
indício de que mente e corpo (cérebro) formam uma única substância. O exemplo do operário norte-americano pode ser utilizado como uma
forma de ilustrar a posição monista no que tange ao problema mente e corpo.
Atualmente, a Psicossomática parece estar mais próxima de uma abordagem monista do que de uma visão dualista do problema mente e
corpo. O próprio Hipócrates, filósofo que pensa em uma medicina psicossomática mesmo sem dar este nome, era um filósofo monista. Ele
considerava que a alma (o que chamaríamos de mente nos dias de hoje) era um componente orgânico do corpo.
A posição da Psicossomática faz sentido na medida em que os profissionais e estudiosos do campo pensam que os aspectos psicológicos
podem fazer surgir uma determinada doença ou até mesmo trazer complicações para uma doença já existente. É a mente trazendo reflexos
para o corpo. A abordagem somatopsíquica também vai fazer essa relação pela via inversa, como vamos ver posteriormente: o corpo físico e
material gerando impactos psicológicos nesse sujeito. É compreensível que essa relação mente-corpo e corpo-mente na Psicossomática se
enverede pelas vias do monismo, que concebe mente e corpo como uma única substância, pois, na medida em que um desses aspectos do
ser humano é modificado, o outro acaba absorvendo consequência dessa mudança, sejam elas positivas ou negativas.
É claro que o dualismo também considera que há relação entre mente e corpo, basta recordarmos a glândula pineal como o local da alma
humana para Descartes. Entretanto, essa relação parece ser mais frágil na medida em que a mente continuaria a existir após a morte do
corpo físico para os dualistas. No monismo, mente e corpo padecem uma vez que o sujeito deixa de existir, pelo menos no que tange ao
mundo físico. É por isso que a posição atual da Psicossomática está mais próxima de um monismo do que de um dualismo.
Compreender a relação, associação e imbricação entre mente e corpo é fundamental para o profissional que aposta na Psicossomática como
ponto privilegiado para tratar o ser humano enquanto um ser integral. Estar atento aos aspectos biológicos, psíquicos e sociais do indivíduo
pode auxiliar no processo de cura do sujeito.
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Sublinhar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
VISÕES SOBRE A RELAÇÃO MENTE & CORPO
Imagine um profissional que pense apenas na materialidade do corpo do sujeito e leve em consideração apenas as lesões físicas ou doenças
que se apoderam da estrutura física do indivíduo. Até um cardiologista que vai decidir se opera ou não opera um determinado paciente, ou se
o caso dele é de urgência, ou se pode esperar mais um pouco. Para tomar essas decisões, ele precisa ter esse olhar para os aspectos
emocionais do cardíaco. Seria interessante que todo médico que fosse tomar essa decisão, perguntasse como vai a vida dessa pessoa, de
seus familiares, os aspectos financeiros; de forma geral, verificasse a regularidade da vida desse sujeito a fim de descobrir se está propenso
a tomar algum grande susto em sua vida que descompense suas emoções e que possa agravar seu quadro cardíaco, levando-o até um
infarto.
 
Fonte: Shutterstock.com.
Agora, pense em outro profissional que considera apenas o psicológico do sujeito. Neste exemplo, focaremos em um profissional de
Psicologia, que é aquele que está trabalhando com a subjetividade, emoção, sentimentos e cognições do sujeito de forma mais direta e clara.
Este psicólogo clínico que estamos imaginando recebe em seu consultório um paciente, preocupa-se apenas com o psicológico dessa
pessoa. Conforme as sessões avançam no tempo, as queixas de insônia, cansaço, tristeza e ganho de peso vão se acumulando e ganhando
cada vez mais força na vida dessa pessoa. O psicólogo não tem dúvida e diagnostica o paciente com depressão. Todavia, o psicólogo insiste
na hipótese de que a depressão deste sujeito está relacionada a uma série de pensamentos disfuncionais, crenças e esquemas, que
favorecem o surgimento deste transtorno. Ainda que a terapia esteja ajudando essa pessoa, a depressão continua persistindo.
Em um exame de rotina indicado por seu médico, esse sujeito descobre que possui hipotireoidismo e que esta desregulação da tireoide pode
acarretar sintomas bem semelhantes a um quadro depressivo e, inclusive, algumas pessoas com hipotireoidismo podem desenvolver um
quadro depressivo de fato. Com o tratamento adequado indicado pelo médico e com o acompanhamento psicológico, essa pessoa consegue
melhorar seu quadro depressivo. O psicólogo observou apenas a mente do sujeito e desconsiderou seu corpo. Caso tivesse uma visão mais
holística do problema, poderia ter poupado seu paciente de um longo período de sofrimento, fazendo a indicação para o médico competente
e descobrindo o problema hormonal precocemente.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ALGUNS DOS MAIS BRILHANTES FILÓSOFOS DA HUMANIDADE PENSARAM NO PROBLEMA MENTE E
CORPO. PLATÃO ELABOROU UMA TESE QUE COMPREENDIA A EXISTÊNCIA DE DOIS MUNDOS: O MUNDO
DOS SENTIDOS E O MUNDO DAS IDEIAS. RENÉ DESCARTES PENSAVA UM SER HUMANO COMPOSTO DE
UMA RES COGITANS E UMA RES EXTENSA, SENDO A PRIMEIRA RELATIVA À POSSIBILIDADE DO
PENSAMENTO E A SEGUNDA COMO O PRÓPRIO CORPO. NESTE SENTIDO, PODEMOS AFIRMAR QUE
AMBOS OS FILÓSOFOS SÃO ADEPTOS DO:
A) Monismo.
B) Dualismo.
C) A uma mistura entre dualismo e monismo.
D) Ao monismo, mas pensam que o corpo e mente são instâncias distintas.
E) Ao dualismo, mas acreditam que corpo e mente fazem parte de uma mesma gênese.
2. O INTERESSANTECASO DE PHINEAS GAGE, O OPERÁRIO QUE TEVE SEU CRÂNIO PERFURADO POR
UMA BARRA DE FERRO, GANHOU NOTORIEDADE PELAS CIRCUNSTÂNCIAS DO ACIDENTE: ELE
SOBREVIVEU, MAS MUITAS CARACTERÍSTICAS DE SUA PERSONALIDADE FORAM TRANSFORMADAS
APÓS O INFORTÚNIO. A PARTIR DA LEITURA DO TEXTO, PODE-SE AFIRMAR QUE O CASO DE PHINEAS
GAGE É UTILIZADO COMO UM ARGUMENTO A FAVOR:
A) Do dualismo.
B) Da importância em usar capacetes em obras ferroviárias.
C) Da personalidade ser imutável.
D) Do monismo.
E) Do mundo das ideias de Platão.
GABARITO
1. Alguns dos mais brilhantes filósofos da humanidade pensaram no problema mente e corpo. Platão elaborou uma tese que
compreendia a existência de dois mundos: o mundo dos sentidos e o mundo das ideias. René Descartes pensava um ser humano
composto de uma res cogitans e uma res extensa, sendo a primeira relativa à possibilidade do pensamento e a segunda como o
próprio corpo. Neste sentido, podemos afirmar que ambos os filósofos são adeptos do:
A alternativa "B " está correta.
 
Tanto Platão como René Descartes foram filósofos dualistas. Ambos pensavam na existência da mente para além do próprio corpo e que
ambas eram substâncias distintas. Descartes, por exemplo, argumentava que toda a matéria tinha uma extensão e ocupava lugar no espaço,
mas isso não acontecia com a mente, logo, ela deveria ser eterna.
2. O interessante caso de Phineas Gage, o operário que teve seu crânio perfurado por uma barra de ferro, ganhou notoriedade pelas
circunstâncias do acidente: ele sobreviveu, mas muitas características de sua personalidade foram transformadas após o
infortúnio. A partir da leitura do texto, pode-se afirmar que o caso de Phineas Gage é utilizado como um argumento a favor:
A alternativa "D " está correta.
 
O caso de Phineas Gage é usado como um argumento em favor do monismo, pois, após ter seu cérebro lesionado por uma barra de ferro,
sua personalidade e outras características comportamentais foram transformadas. Portanto, uma lesão no cérebro afetou o que chamamos
de mente, que engloba aspectos da personalidade do sujeito, o pensamento, a memória, a tomada de decisão etc.
MÓDULO 2
 Descrever o conceito de Psicossomática e sua evolução histórica
A HISTERIA E A PSICANÁLISE
Durante o século XIX e início do século XX, alguns proeminentes médicos, como Jean-Martin Charcot, Pierre Janet, Josef Breuer e Sigmund
Freud, investigavam com afinco e interesse um fenômeno que causava curiosidade em uma parcela da comunidade médica europeia.
Tratava-se de casos que chegavam a vários consultórios médicos da época. Eram casos de pessoas, mais especificamente mulheres, que
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
apresentavam sintomas de problemas físicos ou uma desordem com o próprio corpo. Os sintomas eram os mais variados e podiam incluir
cegueira, dores nas pernas, desmaios, impossibilidade de andar, câimbras nos membros superiores ou inferiores, amnésia e uma série de
outros sintomas. Apesar da grande gama de sintomas que podiam se manifestar das mais diversas formas, algo em comum agrupava esse
conjunto de pessoas que buscavam tratamento com os médicos da época: elas experimentavam os sintomas, mas os exames médicos não
apontavam uma causa física ou lesão orgânica nesses sujeitos.
Vamos imaginar uma mulher que chega a um consultório médico reclamando que, de forma repentina, ficou cega. Ela conta que foi se divertir
em uma festa com amigos e amigas na noite anterior, bebeu um pouco mais além da conta, mas que chegou em casa em segurança levada
por uma das pessoas que estavam no seu grupo. Chegando em casa, procurou a cama de imediato, pois estava muito cansada e com dores
de cabeça devido à alta dose de álcool que ingeriu na noite. O médico, muito preocupado, pede com gentileza que essa senhora se sente
sobre sua maca para que ele possa examiná-la. Várias hipóteses começam a circular nos pensamentos do médico. Cuidadosamente, o
médico vai até sua mesa e abre uma gaveta, retira uma pequena lanterna e se dirige até a maca. O médico acende a lanterna e joga a luz do
objeto nos olhos da mulher. Para sua surpresa os olhos da paciente estão reagindo à luz, isso significa que não existe nenhum tipo de lesão
física que justifique a cegueira. Ela deveria estar enxergando, mas ela afirma que não está. Esse tipo de manifestação, transtorno ou doença
ficou conhecido como histeria.
Histeria - A histeria é uma palavra de origem grega (hystera) que significa útero. A origem do termo nos indica o motivo dessa desordem ter
sido nomeada de tal forma, pois as observações dos médicos, psicanalistas e neurologistas dos séculos XIX e XX apontavam para uma
predominância da histeria nas mulheres.
Andee Viana
Destacar
[...] UMA NEUROSE CARACTERIZADA POR QUADROS CLÍNICOS VARIADOS. SUA
ORIGINALIDADE RESIDE NO FATO DE QUE OS CONFLITOS PSÍQUICOS
INCONSCIENTES SE EXPRIMEM DE MANEIRA TEATRAL E SOB A FORMA DE
SIMBOLIZAÇÕES, ATRAVÉS DE SINTOMAS CORPORAIS PAROXÍSTICOS
(ATAQUES OU CONVULSÕES DE APARÊNCIA EPILÉPTICA) OU DURADOUROS
(PARALISIAS, CONTRATURAS, CEGUEIRA).
(ROUDINESCO, 1998, p. 337)
Não era incomum encontrar médicos que se recusavam a tratar as histéricas, pois acreditavam que seus sintomas eram uma espécie de
atuação teatral e que elas não estavam doentes de verdade. A falta de uma comprovação concreta expressa em algum tipo de exame e a
ausência de lesões orgânicas que justificassem as queixas das pacientes contribuía para a recusa. Outros médicos acreditavam nas
histéricas, mas se sentiam limitados no que tange a formas de ajudar essas pessoas, uma vez que não havia exames que comprovassem
lesões. E se não há lesão orgânica comprovada, como ele poderia oferecer algum tipo de ajuda ou tratamento para suas pacientes? Até
mesmo as explicações que Freud forneceu para a manifestação da histeria não foram suficientes por um longo período. A aceitação de suas
teorias sobre as histéricas começou a ganhar mais prestígio à medida que sua respeitabilidade, enquanto fundador da Psicanálise, foi
crescendo. Essa pequena explicação sobre a histeria nos ajuda a compreender como as doenças foram tratadas de forma isolada pelos
profissionais que se incumbiam delas. Somente as manifestações físicas e as lesões orgânicas nos tecidos do corpo humano eram
consideradas na hora de ajudar alguém que estava sofrendo.
 
Fonte: Shutterstock.com.
Hoje, evoluímos nesse sentido e muitos profissionais compreendem a importância de um diagnóstico e tratamento mais integrado. Médicos
encaminham seus pacientes para consultórios de psicologia, educadores solicitam aos familiares da criança uma avaliação junto a um
neurologista, psicólogos encaminham seus pacientes ao psiquiatra. Há uma preocupação desses profissionais em saber em que contexto
essa queixa é produzida. Inclusive, é cada vez mais comum e desejável que os profissionais – para além de fazerem esses
encaminhamentos – busquem contato direto um com o outro, no intuito de discutir o caso do paciente que ambos têm em comum. Isso
porque, assim podem traçar estratégias conjuntas mais efetivas com o objetivo de ajudar de forma mais eficaz a pessoa que os busca. O ser
humano é um ser biopsicossocial e, por isso, deve ser tratado nesta perspectiva.
Afirmar que o ser humano é um ser biopsicossocial significa dizer que esses três aspectos de sua vida devem ser considerados quando se
fala de um ser humano. Todos os seres humanos possuem uma herança genética, características físicas próprias e um corpo biológico
composto de órgãos, hormônios, neurônios, tecidos fibrosos, ossos, músculos e afins. Porém, o corpo não se resume apenas a essas
características biológicas, também existem nossas variáveis psíquicas: atenção, inteligência, emoções, personalidade, humor etc. Tão
importante quanto nossas características biológicas e psíquicas é o contexto social em que vivemos, nossas relações familiares, escolares,
religiosas, políticas, laborais e afetivas também formam um ser humano. Essas três dimensões são indissociáveis e, porisso, as escrevemos
juntas: biopsicossocial.
 
Fonte: EnsineMe
Ainda que muitos profissionais, sejam eles médicos, psicólogos, psicanalistas, neurologistas, educadores, dentre outros, compreendam o ser
humano enquanto um ser biopsicossocial, muitas doenças parecem sofrer dessa mesma característica que a histeria sofria: parecem ser
“frescura”, algo menos importante ou até mesmo falta de vontade do sujeito em superar o que está passando. Um bom exemplo é a
depressão. Frases como: “isso é falta do que fazer” ou “dê um tanque de roupa suja para lavar que ele vai melhorar rapidinho” ou ainda que a
depressão seria “falta de Deus na vida do sujeito”, costumam ser ouvidas por pessoas que passam por um processo depressivo e não
contribuem em nada para a melhora, pelo contrário, essas frases preconceituosas podem agravar o quadro desses indivíduos.
Parece que a falta de um exame de imagem ou uma lesão orgânica também faz uma parcela da sociedade não dar a importância devida a
transtornos psicológicos ou doenças que não possuem uma explicação física. É possível que essas pessoas até neguem a existência desses
transtornos, uma vez que eles não saem em uma ressonância magnética. Esse é o caso das doenças psicossomáticas que vamos estudar
com mais profundidade a partir de agora.
O CONCEITO DE PSICOSSOMÁTICA
PSICOSSOMÁTICA: CONCEITOS E HISTÓRIA
Psicossomática é uma palavra formada pela junção de duas outras de origem grega: 
 
psique = alma e soma = corpo
A Psicossomática estuda como a nossa mente se relaciona com o nosso corpo e a produção de doenças. Segundo Julio de Melo Filho
(2010), uma pesquisa em Psicossomática se debruça: “[...] sobre a relação mente-corpo, sobre os mecanismos de produção de
enfermidades, notadamente sobre os fenômenos do estresse” (FILHO et al., 2010, p. 29).
A DEFINIÇÃO DO TERMO PARA A APA (2010, P.765) É A SEGUINTE: “ADJ. CARACTERIZA
ABORDAGEM BASEADA NA CRENÇA DE QUE A MENTE (PSIQUE) DESEMPENHA UM PAPEL
EM TODAS AS DOENÇAS QUE AFETEM OS VÁRIOS SISTEMAS CORPORAIS (SOMA).”
Roudinesco localiza na Grécia Antiga o nascimento deste tipo de Medicina: “Nascida com Hipócrates, a Medicina Psicossomática concerne
simultaneamente ao corpo e ao espírito e, mais especificamente, à relação direta entre a soma e a psyché. Descreve a maneira como as
Andee Viana
Destacar
doenças orgânicas são provocadas por conflitos psíquicos, em geral inconscientes” (ROUDINESCO, 1998, p. 624). É importante destacar
que tanto a palavra alma como o termo espírito possuem um sentido de mente nesses escritos.
Hipócrates foi o filósofo que fundou a Psicossomática em termos epistemológicos, mas foi Heinroth quem criou essa expressão (FILHO et al.,
2010, p. 29). Em outras palavras, Hipócrates praticava Psicossomática, mas não nomeava sua prática desta forma. O nome psicossomática
nasce com Heinroth que, além de nomear esse campo, também cunhou um outro termo importante: o conceito de somatopsíquico.
Vamos recorrer aos exemplos para esclarecer os conceitos de psicossomática e somatopsíquica.
ESTUDO DE CASO 1
Imagine um atleta que está se preparando há quatro anos para as Olimpíadas que acontecerão em seu país. Esse atleta está confiante com
as chances de ganhar uma medalha olímpica e seus treinadores acreditam que o Brasil tem boas chances de conseguir o pódio nos 100
metros rasos com sua boa performance. Alguns meses antes das Olimpíadas, o atleta sofre um acidente e fratura uma das pernas
necessitando de cirurgia e um longo período de reabilitação.
As Olimpíadas chegam e ele assiste de casa o pódio ser ocupado por dois quenianos e um canadense. Por ser muito patriota, a derrota do
país na modalidade é sentida como um fracasso pessoal; ele pensa que talvez pudesse alegrar seu povo com uma medalha, caso não
estivesse impedido de competir. Depois de alguns meses, o atleta começa a apresentar sintomas depressivos como uma tristeza profunda
que se estende por mais de duas semanas, incapacidade de experimentar prazer nas coisas que antes lhe traziam satisfação, insônia e
pensamentos de morte. O acompanhamento psicológico e psiquiátrico indica um transtorno depressivo. O leitor consegue perceber como a
lesão e seus efeitos está acompanhada de enormes impactos psicológicos na vida deste atleta? É exatamente isso que a somatopsíquica vai
investigar.
ESTUDO DE CASO 2
Agora, vamos imaginar que tudo o que o atleta brasileiro dos 100 metros rasos vivenciou não passou de um terrível pesadelo. Ele acorda e
verifica que sua perna está intacta. Os treinos continuam trabalhando intensamente e as esperanças de subir ao pódio estão mais próximas
do que nunca. Alguns meses antes de começar as Olimpíadas, o atleta começa a sentir desconfortos abdominais, cólicas e uma estranha
alternância entre períodos de prisão de ventre seguidos por outros períodos de diarreia. O nosso corredor posterga a ida ao médico e pensa
que os sintomas logo irão passar. Após mais algumas semanas de sofrimento e de prejuízos ao seu treinamento, o atleta resolve buscar
ajuda especializada. Uma colonoscopia é realizada para verificar a saúde do seu intestino e nada é constatado. O exame clínico do médico é
fundamental para o diagnóstico e o profissional chega à conclusão de que a nossa esperança de medalha sofre da síndrome do intestino
irritável. O médico levanta a hipótese da sua condição ter sido gerada pela ansiedade com a chegada da competição. Este seria um caso que
interessaria a Psicossomática, pois um fator psíquico influenciou a chegada de uma síndrome no intestino.
Vale notar que condições psicossomáticas e somatopsíquicas podem acontecer de forma conjunta, uma não anula a outra,
necessariamente. É possível que uma pessoa conviva com alguma condição crônica de saúde que movimente negativamente seu psiquismo
que, por seu turno, vai trazer consequências desfavoráveis para o físico desse sujeito. Por exemplo: a fibromialgia é uma doença
psicossomática na medida em que o psiquismo do sujeito tem influência na dor e na intensidade da doença. Mas também é somatopsíquica,
javascript:void(0)
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
uma vez que o sofrimento experimentado pode gerar um quadro de ansiedade generalizada na pessoa, que sempre está à espera da
próxima onda de sofrimento. Ou seja, não há dualidade mente e corpo, como já dito anteriormente. Nesta perspectiva, a dualidade mente-
corpo é superada.
SOMATOPSÍQUICAS
A APA ainda nos oferece uma boa definição de Somatopsicologia (que pode ser compreendida como um sinônimo de somatopsíquico):
“s. o estudo do impacto psicológico de doença ou incapacidade fisiológica [...]” (APA, 2010, p. 875).
AS TRÊS FASES DA PSICOSSOMÁTICA
A Psicossomática surge como uma reação à tradição dualista cartesiana de estudar a doença. Propõe um olhar holístico para a doença e se
refere à origem psicológica de doença orgânica e aos efeitos psicológicos de doença física (somatopsíquica), compreendendo mente, corpo e
ambiente como indissociáveis para compreensão da saúde e do adoecimento humanos.
Como já aprendemos, o termo aparece pela primeira vez em 1818, quando o psiquiatra alemão J.C. Heinroth descreve a insônia e a
influência das paixões na tuberculose, na epilepsia e no cancro, mas, somente no século posterior, o conceito é estruturado por influência da
Psicanálise.
Em uma perspectiva histórica, podemos afirmar que a Psicossomática passou por três fases (FILHO & BURD, 2010). São elas: a fase
psicanalítica, a behaviorista e a multidisciplinar. Examinemos com um pouco mais de detalhes cada uma dessas fases.
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
FASE PSICANALÍTICA
 
Fonte: Natata / Shutterstock.com.
 Sigmund Freud.
É a primeira fase descrita pelos autores do livro que usamos como referência no Brasil, quando o assunto é Psicossomática. Freud, o pai da
Psicanálise, entendia que ideias reprimidas podiam acarretar conversões sintomáticas no corpo do sujeito.É o que já vimos anteriormente
com a histeria e sua conversão em um sintoma físico, sem um correspondente orgânico lesionado:
Andee Viana
Destacar
“A CONVERSÃO FOI DESCRITA POR FREUD COMO UM MECANISMO
INCONSCIENTE, PRESENTE NA MATRIZ CLÍNICA DA NEUROSE HISTÉRICA, EM
QUE A PULSÃO LIGADA A UMA IDEIA É RECALCADA, É CONVERTIDA EM
REPRESENTANTES IDEATIVOS DO PRÓPRIO CORPO”.
(GALDI & CAMPOS, 2017, p. 30)
Nesse sentido, para a Psicanálise, algumas enfermidades que não podiam ser explicadas por lesões físicas, que, por consequência, eram
consideradas psicossomáticas, tinham suas origens no inconsciente.
Para enfatizar a diferença entre a histeria e uma doença psicossomática, é importante destacar que, na histeria, não existe um
correspondente físico lesionado para os sintomas do sujeito e, na Psicossomática, também pode não existir essa relação. Contudo,
diferentemente da histeria, que nunca apresenta um órgão, tecido ou músculo que apresente distúrbios, na Psicossomática, é possível que
isto ocorra devido às questões da psique.
FASE BEHAVIORISTA
A segunda fase diz respeito à behaviorista da Psicossomática. Os behavioristas formavam grupos que nos séculos XIX e XX queriam fazer
da Psicologia uma ciência mais objetiva e quantificável. O interesse dos behavioristas era prever e controlar o comportamento (WATSON,
1913, p. 1). O Positivismo, corrente filosófica que defendia a neutralidade, objetividade e sistematização das pesquisas, exerceu grande
influência nas obras behavioristas. É de se imaginar que esses preceitos foram usados nos estudos behavioristas sobre as doenças
psicossomáticas, diferente de grande parte da comunidade que as estuda, que compreende a existência da mente e seus efeitos sobre o
corpo.
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Oval
Andee Viana
Oval
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Oval
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
 
Fonte: Desconhecido/Wikimedia Commons/ Domínio Público.
 John Broadus Watson.
Os behavioristas, ainda que admitam a existência da mente, não estão interessados em seu estudo, uma vez que, para esses teóricos, o que
importa é o comportamento e o ambiente em que o sujeito está inserido.
Para eles, a mente é uma substância abstrata que não pode ser medida, quantificada e observada de forma direta, neutra e empírica. Alguns
behavioristas chegam a afirmar que a psicossomática está mais para a vertente dualista do que para uma concepção monista.
Os behavioristas se afastam dos estudos que buscam investigar a mente e seus processos, pois são eventos que não podem ser
observados. Essa é a posição de Watson, que concebia a existência da mente, mas pensava ser impossível estudá-la com os métodos que
considerava adequado para uma psicologia que pretendia se tornar científica. Para estudar os processos mentais, era comum que os
contemporâneos de Watson utilizassem uma metodologia conhecida como introspecção.
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Se, para os behavioristas, a mente não deve ser estudada, já que está inacessível aos nossos métodos de pesquisa realmente válidos, como
eles entendem a Psicossomática? Para os behavioristas, essas alterações fisiológicas sem causa orgânica aparente podem ser
compreendidas olhando para as contingências.
Uma série de contingências aversivas são experimentadas pelas pessoas em suas rotinas. O ambiente de trabalho e as tarefas laborais
podem, por exemplo, resultar em níveis elevados de estresse incessante. Para os behavioristas, o ambiente do sujeito que somatiza precisa
ser transformado em algo mais positivo para sua saúde, principalmente, se esse sujeito não tem condições de contornar as contingências
aversivas de sua vida por conta própria.
CONTINGÊNCIA
Pode ser entendida como a probabilidade de um determinado evento (o estresse, por exemplo) acontecer depois de um outro evento
(uma bronca do chefe no trabalho, por exemplo). Assim, o estresse é contingente à bronca do chefe no trabalho. Segundo a definição
da APA: “s. relação condicional, probabilística, entre dois eventos.” (APA, 2010, p. 225).
FASE MULTIDISCIPLINAR
É a terceira fase da Psicossomática. Filho et al. (2010, p. 29) afirmam que a terceira fase é: “[...] atividade essencialmente de interação, de
interconexão entre vários profissionais de saúde.” Uma abordagem multidisciplinar pressupõe a contribuição de diversos profissionais para
atender um mesmo paciente. Pensar a Psicossomática desta forma implica na aposta de que o psicólogo, o médico, o psiquiatra, o
javascript:void(0)
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Oval
Andee Viana
Destacar
nutricionista, o neurologista ou qualquer outra especialidade, não consegue dar conta da integralidade do sujeito de forma isolada. A
multidisciplinaridade está relacionada ao conceito de um ser humano biopsicossocial. França e Rodrigues (2005) resumem bem essa
afirmação, para eles: “[...] o que somos hoje é resultado de nossa interação com o mundo e todas as nossas experiências do passado e de
expectativas futuras. É um sistema único, constituído por três subsistemas: mente, corpo e relacionamentos sociais”.
Cabe ressaltar que uma instituição de cuidados clínicos composta por diversos profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros,
nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, dentre outros, não está automaticamente praticando uma medicina psicossomática. Ainda que
a atual fase da Psicossomática demande uma multidisciplinaridade, é necessário que esses profissionais compreendam o ser humano
enquanto um ser biopsicossocial e o tratem dessa forma, considerando a possibilidade de que a psique possa influir em desordens físicas e
que estas possam descompensar a psique do sujeito. Uma atuação psicossomática não pode tratar apenas da doença. Filho et al. (2010, p.
40) dizem que essa nova visão terapêutica “[...] trouxe para o pensamento médico-científico e para a prática assistencial o mote clássico:
tratar doentes e não doenças.”
A Psicossomática não resume apenas as doenças psicossomáticas. Engloba uma compreensão de ser humano biopsicossocial e a
importância de um trabalho multidisciplinar para oferecer a melhor assistência possível para as pessoas que necessitam de cuidados em
saúde.
É nesse sentido que Filho et al. (2010, p. 29) afirmam que:
PSICOSSOMÁTICA, EM SÍNTESE, É UMA IDEOLOGIA SOBRE A SAÚDE, O
ADOECER E SOBRE AS PRÁTICAS DE SAÚDE, É UM CAMPO DE PESQUISAS
SOBRE ESTES FATOS E, AO MESMO TEMPO, UMA PRÁTICA – A PRÁTICA DE
UMA MEDICINA INTEGRAL [...] HOJE, A GAMA DE ATIVIDADES DO QUE SE
CHAMA DE PSICOSSOMÁTICA ABRANGE O ENSINO OU A PRÁTICA DE
QUALQUER TIPO DE FENÔMENOS DE SAÚDE E DE INTERAÇÕES ENTRE
PESSOAS, COMO AS RELAÇÕES PROFISSIONAIS-PACIENTES, AS RELAÇÕES
HUMANAS DENTRO DE UMA FAMÍLIA OU DE UMA INSTITUIÇÃO DE SAÚDE, A
QUESTÃO DAS DOENÇAS AGUDAS E CRÔNICAS, O PAPEL DAS REAÇÕES
ADAPTATIVAS AO ADOECER, A INVALIDEZ, A MORTE, OS RECURSOS
TERAPÊUTICOS EXTRAORDINÁRIOS.
(FILHO et al., 2010, p. 29)
O DSM E A PSICOSSOMÁTICAAs doenças chamadas psicossomáticas, por serem desencadeadas ou agravadas por questões psicológicas, podem ser manifestadas em
dores, alterações gastrointestinais, tremores, manchas na pele, falta de ar e esses sintomas tendem a se intensificar em situações de
estresse. O diagnóstico é complexo e se dá por exclusão. Não há uma causa específica, mas alguns fatores são recorrentes, como a
sobrecarga profissional, vivência de evento traumático, situações de violência, luto, ansiedade, preocupação excessiva, entre outras
situações possíveis de desencadear estresse. A dificuldade em falar sobre o sofrimento psicológico vivenciado parece ser um fator relevante
nesses casos.
Nosso organismo, quando sobrecarregado, possui três vias de descarga das excitações: o pensamento, o comportamento e o organismo.
Assim, o sofrimento intenso ou mesmo a sobrecarga de atividades pode perturbar o funcionamento do organismo e favorecer, de acordo com
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
a cultura, os traços de personalidade e o momento de vida, o surgimento de patologias psíquicas ou somáticas. Isso acontece quando o
conflito psíquico e o sofrimento ultrapassam a capacidade habitual da pessoa de tolerar situações de estresse, impedindo que estas sejam
elaboradas. O adoecimento aparece como uma tentativa de equilíbrio para o corpo e, quando é percebido dessa forma, implica não somente
em tratar os sintomas da doença, mas também mudar os fatores que propiciaram seu desencadeamento.
Essas patologias são tratadas no capítulo de Sintomas Somáticos e outros Transtornos Relacionados, na última revisão do Manual de
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V).
MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS
MENTAIS (DSM-V)
O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição ou DSM-5 é uma referência para psicólogos, médicos e
terapeutas ocupacionais, elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria para definir diretrizes no diagnóstico de transtornos
mentais. O instrumento é atualizado de acordo com o avanço científico que fornece novas evidências que podem retirar, inserir ou
alterar critérios para diagnóstico.
javascript:void(0)
 
Fonte: Shutterstock.com.
O DSM-V classifica como portador de Transtorno com Sintomas Somáticos os indivíduos que apresentam qualquer número de sintomas
somáticos acompanhados por pensamentos, sentimentos ou comportamentos excessivos, relacionados aos sintomas em si ou preocupações
associadas com a saúde, caracterizado por:
PENSAMENTOS DESPROPORCIONAIS E PERSISTENTES SOBRE A GRAVIDADE
DOS PRÓPRIOS SINTOMAS
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
 
NÍVEL PERSISTENTEMENTE ELEVADO DE ANSIEDADE SOBRE A SAÚDE OU
SINTOMAS
 
EXCESSO DE TEMPO E ENERGIA DEDICADOS A ESTES SINTOMAS OU
PROBLEMAS DE SAÚDE
 ATENÇÃO
O diagnóstico pode ser aplicado mesmo na presença de uma doença clínica devido à ênfase dada aos pensamentos e comportamentos que
acompanham o sintoma.
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
O diagnóstico de Transtorno de Ansiedade de Doença é recebido por indivíduos que experimentam um alto nível de ansiedade, com temor
de estar doente, mas sem sintomas somáticos. Estes indivíduos eram classificados como hipocondríacos até o DSM-IV e esta categoria foi
excluída devido ao caráter pejorativo que o termo adquiriu como “quem tem mania de doença”.
O Transtorno Factício foi incluído no capítulo dos Sintomas Somáticos e Outros Transtornos Relacionados com um diagnóstico para
indivíduos que apresentam falsificação de sintomas físicos ou psicológicos, sem um incentivo externo evidente, motivado por assumir o papel
de enfermo. Nesses casos, não falamos em adoecimento psicossomático. São situações em que os sintomas não existentes são usados
como justificativa para determinado comportamento ou mesmo para obter benefícios, sejam eles conscientes ou inconscientes.
Outro quadro estudado anteriormente, quando contextualizamos o que ficou conhecido como Histeria de Conversão pela Psicanálise, é o que
hoje está classificado como Transtorno Conversivo. Nesse quadro, é necessária a presença de um ou mais sintomas de alterações da
função motora e sensorial voluntária, tendo os exames neurológicos descartando outras causas para a sintomatologia apresentada. Nesses
casos, o sintoma não é falseado como no Transtorno Factício, nem o organismo apresenta algum tipo de lesão orgânica de fato como no
Transtorno de Sintomas Somáticos. A pessoa de fato sente o que está relatando, mas não há alteração no organismo que justifique o que
está relatando sentir.
Há ainda a inclusão de um novo diagnóstico neste capítulo, Fatores Psicológicos que Afetam Outras Condições Médicas, que identifica os
quadros nos quais fatores psicológicos e comportamentais afetam negativamente o estado de saúde, por interferirem em outras condições
clínicas.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ESTUDAMOS QUE A HISTERIA FOI OBJETO DE INTERESSE DE MÉDICOS COMO CHARCOT E FREUD.
MUITAS HISTÉRICAS CHEGAVAM AOS CONSULTÓRIOS MÉDICOS E PODIAM APRESENTAR UMA GAMA DE
SINTOMAS EXTENSA COMO: CEGUEIRA, CÃIMBRAS NOS MEMBROS SUPERIORES E ATÉ MESMO
DESMAIOS. SOBRE A HISTERIA, É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) Atingiam apenas as mulheres jovens.
B) Todos os médicos recebiam as histéricas em seus consultórios e ofereciam seus serviços a elas.
C) As pessoas que são histéricas fingem seus sintomas.
D) Na histeria, não existe lesão física.
E) Os exames da época conseguiam localizar no corpo com precisão o motivo dos sintomas.
2. A PSICOSSOMÁTICA SE INTERESSA PELA INFLUÊNCIA DE ASPECTOS PSÍQUICOS EM DOENÇAS
CORPORAIS. SOBRE O CONCEITO DE PSICOSSOMÁTICA, É INCORRETO AFIRMAR QUE:
A) Hipócrates praticava uma medicina psicossomática.
B) Histeria e psicossomática são sinônimos.
C) A palavra psicossomática tem origem grega nas palavras psique e soma.
D) A psicossomática ganhou esse nome de Heinroth.
E) Ansiedade e estresse podem gerar uma condição psicossomática como a síndrome do intestino irritável.
GABARITO
1. Estudamos que a histeria foi objeto de interesse de médicos como Charcot e Freud. Muitas histéricas chegavam aos consultórios
médicos e podiam apresentar uma gama de sintomas extensa como: cegueira, cãimbras nos membros superiores e até mesmo
desmaios. Sobre a histeria, é correto afirmar que:
A alternativa "D " está correta.
 
Apesar da possibilidade de a histeria aparecer com sintomas bem distintos, dependendo da pessoa, algo em comum entre as histéricas era a
inexistência de uma lesão física no corpo que justificasse os sintomas que a pessoa experimentava. Ou seja, de fato, ela sentia o que estava
dizendo, mas não havia correspondência com alguma lesão física no corpo.
2. A Psicossomática se interessa pela influência de aspectos psíquicos em doenças corporais. Sobre o conceito de
Psicossomática, é incorreto afirmar que:
A alternativa "B " está correta.
 
Como estudamos na histeria, não existe lesão orgânica no corpo do sujeito. Já na Psicossomática a lesão orgânica pode existir. Logo, elas
não são sinônimas.
MÓDULO 3
 Relacionar fundamentos da Psicossomática às práticas atuais
O humano como sujeito psicossomático: uma visão holística da saúde e suas implicações práticas
A PSICOLOGIA DA SAÚDE
Doenças já foram tratadas como algo isolado, levando em conta, pura e simplesmente, suas questões relacionadas a manifestações físicas.
Introduzido por Heinroth, no início do século XIX,o termo psicossomático vai nos dizer sobre a influência recíproca entre mente e corpo,
buscando compreender toda perturbação somática resultante de uma desordem psicológica, que intervém de modo constante na gênese da
doença.
O conceito de psicossomática engloba três diferentes horizontes. O primeiro diz respeito à dimensão psicológica da doença, toda doença
física tem implicações psíquicas para o sujeito que a experimenta. O segundo horizonte vai enfatizar a importância da relação entre médico
e paciente, já que uma boa relação pode contribuir para a recuperação do sujeito e até mesmo para a adesão do paciente a uma
determinada intervenção. O terceiro horizonte destaca os procedimentos terapêuticos em relação à pessoa que, no momento, está doente.
Tais procedimentos, sejam eles realizados por qualquer profissional que esteja envolvido no caso, precisam levar em conta que o ser humano
é um ser biopsicossocial.
A Psicologia da Saúde tem início, pelo menos no que tange a seu marco oficial, com um grupo de trabalho na APA. Esse grupo se reúne para
discutir a crescente demanda pela prática da psicologia da saúde e para conduzir e avaliar pesquisas neste campo. Oito anos depois do
início das atividades deste grupo, uma divisão específica para a área foi criada dentro da instituição que congrega inúmeros psicólogos norte-
americanos. Essa divisão ficou conhecida como divisão 38.
Aqui em nossas terras tropicais, as instituições de saúde surgem como mais um dos inúmeros campos de atuação para os profissionais que
se graduaram em Psicologia. Os hospitais e demais instituições de saúde começaram a perceber a importância de ter um ou mais psicólogos
na equipe, uma vez que a compreensão de um ser humano biopsicossocial demanda a atenção de profissionais capacitados para intervir na
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
psique desses sujeitos. Neste sentido, quem melhor do que os profissionais especializados em Psicologia da Saúde para desempenhar este
trabalho?
Mas afinal, o que é a Psicologia da Saúde? Segundo um importante psicólogo norte-americano, ex-presidente da APA e presidente do
primeiro departamento de Psicologia Médica do seu país de origem, a Psicologia da Saúde pode ser definida da seguinte maneira:
É O CONJUNTO DE CONTRIBUIÇÕES EDUCACIONAIS, CIENTÍFICAS E
PROFISSIONAIS ESPECÍFICAS DA PSICOLOGIA, UTILIZADAS PARA A
PROMOÇÃO E MANUTENÇÃO DA SAÚDE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO DAS
DOENÇAS, IDENTIFICAÇÃO DA ETIOLOGIA E DIAGNÓSTICO (DE PROBLEMAS)
RELACIONADOS À SAÚDE, DOENÇA E DISFUNÇÕES, PARA A ANÁLISE DO
SISTEMA DE ATENÇÃO À SAÚDE E FORMAÇÃO DE POLÍTICAS DE SAÚDE.
(MATARAZZO, 1980, p. 815)
Diante disso, torna-se importante salientar que cabe à Psicologia da Saúde, o interesse frente ao adoecimento do sujeito e a promoção de
saúde, isto é, como cada um experimenta seu estado de saúde e doença, dando espaço para suas relações pessoais e visões de mundo.
Existem duas leis brasileiras que falam um pouco sobre o conceito de saúde, são elas: Lei n° 8080 de 19/9/90, a Lei Orgânica da Saúde, e a
Lei n° 8142 de 18/12/90. A primeira discorre sobre a promoção, proteção e recuperação da saúde e a segunda vai descrever a participação
da comunidade na gestão do SUS.
Andee Viana
Destacar
O mais interessante dessas leis é que elas estabelecem um conceito que não se restringe apenas a tratar a saúde enquanto ausência de
doença, mas pensam a saúde enquanto um conceito ampliado em que é preciso levar em conta alguns universos que fazem parte da vida de
todo ser humano. Assim, temos o universo físico, já que todos nós temos um corpo e nos relacionamos de forma concreta no mundo. O
universo socioeconômico, tendo em vista que todo ser humano nasce em uma família, frequenta instituições e se relaciona socialmente com
outros vários seres humanos. Também não podemos perder a dimensão econômica em que esse indivíduo está inserido, pois o acesso a
serviços de saúde pode ser diferente a depender de sua condição econômica. O universo cultural se constitui em um ponto importante na
medida em que ter saúde também passa por uma concepção de um sujeito cultural.
As duas leis vão garantir o acesso à saúde como um direito de todo cidadão brasileiro, afirmando a responsabilidade do Estado em garantir
esse direito. A Lei 8142/90 ainda vai enumerar os princípios do SUS que, dentre tantos, podemos destacar a acessibilidade do nosso sistema
de saúde para todas as pessoas que procurem ajuda médica, a universidade do serviço e a humanização no tratamento das pessoas. Você
pode conferir as outras atribuições do SUS na Lei 8142/90, que está disponível no site do Planalto Federal.
 
Fonte: Brenda Rocha - Blossom / Shutterstock.com.
Cabe agora esclarecer as diferenças entre dois termos que podem parecer sinônimos, mas não são: atenção básica e atenção primária. A
atenção básica se constitui em uma perspectiva mais ampla do que a atenção primária, pois trabalha com a promoção de saúde, a prevenção
de doenças, o diagnóstico de enfermidades, o tratamento de patologias e até mesmo a reabilitação de pessoas que tenham passado por
algum tipo de problema físico. A estratégia de saúde da família (ESF) – modelo que vem ganhando cada vez mais espaço como um
substituto de um que preconizava a atenção individual, centrada na pessoa – trabalha na perspectiva da atenção básica. O termo atenção
básica costuma ser usado no Brasil, enquanto o termo atenção primária é visto com mais frequência na literatura internacional. Atenção
primária incorpora temas com relação à saúde coletiva, prevenção e promoção de saúde.
Agora que já entendemos a Psicologia da Saúde, passamos ao entendimento de suas formas de atuação. Vamos lá?
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
A PSICOLOGIA HOSPITALAR
PSICOLOGIA HOSPITALAR É O CAMPO DE ENTENDIMENTO E TRATAMENTO
DOS ASPECTOS PSICOLÓGICOS EM TORNO DO ADOECIMENTO.
(SIMONETTI, 2004, p. 15)
Em sua prática diária, é atribuição do psicólogo hospitalar: “Atender a pacientes, familiares e/ou responsáveis pelo paciente; membros da
comunidade dentro de sua área de atuação; membros da equipe multiprofissional e eventualmente administrativa, visando o bem-estar físico
e emocional do paciente; e, alunos e pesquisadores, quando estes estejam atuando em pesquisa e assistência” (CFP, 2001, p. 13).
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
 
Fonte: Shutterstock.com.
 ATENÇÃO
A Psicologia Hospitalar não trata apenas das doenças com causas psíquicas, mas sim dos aspectos psicológicos de toda e qualquer doença.
Desta forma, toda doença apresenta aspectos psicológicos; toda doença encontra-se repleta de subjetividade, e por isso, pode-se beneficiar
do trabalho da Psicologia Hospitalar. Cada doença é entendida de uma determinada forma, conforme o sujeito está adoecido.
Vamos pensar juntos em exemplos para compreender como uma mesma doença pode reverberar de forma diferente conforme o sujeito que
a experimenta?
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
ESTUDO DE CASO 1
Imagine um homem chamado Carlos André, com 52 anos, casado há 32 com sua esposa, pai de dois filhos e em plena ascensão em sua
carreira como chefe da unidade de trauma de um hospital, referência neste tipo de atendimento em sua cidade. Nos últimos dois dias, Carlos
começa a sentir febre com constância, dores de garganta e nota o aparecimento recente de feridas pelo corpo. Apropriando-se de sua
formação e conhecimento em Medicina, opta por tomar alguns analgésicos para aliviar os sintomas, porém os mesmos incômodos continuam
após se encerrar o “efeito” das medicações administradas. Depois de muita postergação, ele resolve trocar sobre seus sintomas recentes
com um colega médico que indica, aquilo que já deveria ter feito, uma bateria de exames para investigar o caso. Após duas semanas, ele
volta a conversar com o colega médico, no entanto, desta vez, no lugar de paciente, pois Carlos André acabou de descobrir queé portador
do vírus da imunodeficiência humana (HIV). Como médico, Carlos sabe que o vírus é uma condição crônica, sem cura e que exige muitos
cuidados, mas que, com os avanços tecnológicos da indústria farmacêutica, é possível conviver relativamente bem com o vírus, desde que
tenha boa adesão ao tratamento. Apesar dessas informações e seu conhecimento técnico, no lugar de paciente, ele continua apavorado com
a descoberta. Ele sabe que o HIV é uma doença grave, mas que não é sinônimo de morte no século XXI. No entanto, dado o diagnóstico,
permanece temeroso e ansioso com outras questões, dentre elas:
1°) Em um primeiro momento, os possíveis impactos que essa situação pode causar em seu trabalho. A ampliação da unidade que ele
esperava para o início do próximo ano pode não acontecer, a doença pode trazer um estigma para sua vida, pode fazer seu prestígio cair
junto aos seus colegas.
2°) A doença que ele contraiu, provavelmente, ao que tudo indica, é fruto de algumas relações extraconjugais que Carlos André foi
acumulando ao longo do tempo, das quais ele se relacionava sexualmente sem os devidos cuidados para não contrair ou contaminar outra
pessoa com doenças sexualmente transmissíveis.
3°) Carlos imagina que dar essa notícia para sua esposa e família, necessariamente, lhe obrigará a contar a verdade sobre suas relações
extraconjugais. Como resultado disso, ele teme a possibilidade de sua esposa lhe pedir o divórcio e, consequentemente, perder o convívio
diário com seus filhos.
ESTUDO DE CASO 2
Agora, vamos imaginar que um jovem de 27 anos, chamado Henrique, solteiro, sem filhos, que reside com seus pais enfermeiros, começa a
apresentar os mesmos sintomas de Carlos André, sendo também diagnosticado com HIV. Inicialmente, Pedro recebe a notícia como uma
condenação à morte e fica ansioso por conta desse diagnóstico, mas, depois do impacto inicial e de muitas conversas com seus pais, que lhe
apoiaram e ofereceram todo o suporte que precisava, começa a perceber que a doença, ainda que grave e demandadora de muitos
cuidados, tem controle e que é possível conviver com ela de forma satisfatória, sem perder a qualidade em sua vida. Henrique compreende
que as consequências para seu comportamento sexual descuidado (uma vez, saindo de uma balada, momento que ele não usou
preservativos para se prevenir do HIV) foram graves, porém o mundo não acabou e ele pode viver com o vírus, desde que tome os devidos
cuidados. Sua ansiedade começa a desaparecer conforme percebe o apoio que tem da família, amigos e dos resultados do tratamento
médico; esta rede de apoio tem feito toda a diferença.
É possível perceber que o mesmo processo, neste caso, o HIV, carrega significados diferentes para Carlos André e para Henrique? A doença
é grave, a ansiedade e os medos que acompanham o diagnóstico acometem aos dois, mas Henrique encontra apoio da família e dos amigos,
consegue absorver melhor o impacto da notícia e ter uma qualidade de vida resguardada. Carlos André experimenta a ansiedade de forma
mais elevada e por maior tempo, imagina como o diagnóstico pode interferir em diversas áreas de sua vida, a quem ele irá recorrer para
conseguir suporte e apoio emocional nesse momento? Mesmo acontecimento, vários sentidos que irão repercutir no estado de saúde.
A partir das definições supracitadas, cabe aqui a distinção entre Psicologia da Saúde, Psicologia Hospitalar e Psicologia Clínica, pois, ao
mesmo tempo que se torna possível encontrar diferenças, também se faz necessário associar suas semelhanças no que tange às formas de
atuação na prática nos especialistas nestas áreas:
PSICOLOGIA CLÍNICA
PSICOLOGIA DA SAÚDE
PSICOLOGIA HOSPITALAR
PSICOLOGIA CLÍNICA
Atua nos três níveis de atenção: primário, secundário e terciário, no sentido de promover a saúde mental para os usuários destes serviços.
PSICOLOGIA DA SAÚDE
Atua nos três níveis de atenção: primário, secundário e terciário, mas sua atuação está mais voltada para o universo sanitário, com especial
atenção para os desdobramentos psicológicos de uma doença ou impossibilidade física que comprometa a saúde do sujeito.
PSICOLOGIA HOSPITALAR
É uma área que está dentro da Psicologia da Saúde, todavia, sua atuação está limitada ao hospital, enquanto local de trabalho do
profissional. Está associada ao nível secundário e terciário.
A DOENÇA NÃO É UMA VARIAÇÃO DA DIMENSÃO DA SAÚDE; ELA É UMA NOVA
DIMENSÃO DA VIDA.
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
Andee Viana
Destacar
(CANGUILHEM, 2009, p. 73)
O entendimento do “ser doente” percebido por muitos dos profissionais da saúde, centrado apenas em questões anatomofisiológicas, não
leva em consideração as subjetividades do sujeito. Sendo assim, a tendência é a redução de funcionalidades, dando prioridade aos aspectos
e manifestações da doença e não ao sujeito adoecido.
Durante muito tempo, a saúde humana foi tratada separando mente e corpo. A importância do profissional de saúde em superar esta
dualidade e compreender a pessoa em sua integralidade é fundamental já que a divisão mente-corpo somente tem função didática, mas, na
prática, pouco auxilia na compreensão da saúde e do adoecimento humanos.
PSICOLOGIA HOSPITALAR
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A PSICOLOGIA DA SAÚDE TEM ORIGEM EM UM GRUPO DE TRABALHO CONSTITUÍDO NA AMERICAN
PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). SOBRE ELA, É CORRETO AFIRMAR QUE:
A) Não é um campo científico.
B) É um campo cujas contribuições advêm da medicina.
C) Qualquer profissional da área da saúde pode exercer a Psicologia da Saúde.
D) É a mesma coisa da Psicologia Clínica, mas feita em ambientes sanitários.
E) É um conjunto de contribuições educacionais, científicas e profissionais da Psicologia na busca de promoção, manutenção e prevenção de
doenças.
2. SEGUNDO SIMONETTI (2004, P. 15), PSICOLOGIA HOSPITALAR PODE SER DEFINIDA COMO: “CAMPO DE
ENTENDIMENTO E TRATAMENTO DOS ASPECTOS PSICOLÓGICOS EM TORNO DO ADOECIMENTO”. NESTE
SENTIDO:
A) A Psicologia Hospitalar está apta a medicar.
B) Está preocupada apenas com a doença do sujeito.
C) Trata dos aspectos psicológicos de qualquer doença, pois toda doença possui uma dimensão psicológica.
D) Busca compreender os aspectos psicológicos que estão envolvidos no processo de adoecimento, pois qualquer doença pode ser curada
pelo psicólogo.
E) Apenas as doenças psicossomáticas são atendidas pelo psicólogo hospitalar.
GABARITO
1. A Psicologia da Saúde tem origem em um grupo de trabalho constituído na American Psychological Association (APA). Sobre ela,
é correto afirmar que:
A alternativa "E " está correta.
 
A definição de Matarazzo para a Psicologia da Saúde engloba suas contribuições e seus objetivos enquanto prática profissional.
2. Segundo Simonetti (2004, p. 15), Psicologia Hospitalar pode ser definida como: “campo de entendimento e tratamento dos
aspectos psicológicos em torno do adoecimento”. Neste sentido:
A alternativa "C " está correta.
 
Toda doença possui uma dimensão psicológica, uma vez que todo o processo de adoecimento carrega uma série de significados para cada
sujeito. Uma mesma doença é sentida de diferentes formas a depender de quem está experienciando o processo.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, iniciamos falando sobre o dualismo - concepção de que mente e corpo constituem substâncias distintas - e sobre o monismo -
abordagem que considera mente e corpo parte da mesma substância.
Posteriormente, estudamos o conceito de psicossomática e somatopsíquica. A primeira diz respeito à relação entre mente e corpo e à
produção de doenças advindas de desordens psíquicas. Já a segunda trata dos aspectos psicológicos gerados por uma lesão física ou
doença. Além disso, analisamos como a Psicossomática assume umaposição mais conectada com o monismo do que com o dualismo.
Também compreendemos características da Psicologia da saúde, da Psicologia Hospitalar e questões relativas à multidisciplinaridade,
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Todos esses temas são atravessados pelos estudos da psicossomática.
Esta conclusão não se trata de um final ou algum tipo de fechamento, pois há muito mais a ser estudado, e o que aprendemos durante nossa
leitura são aspectos introdutórios aos temas abordados.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-V). 5 ed. Arlington, VA:
American Psychiatric Association, 2013.
BRASIL. Lei n° 8080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Consultado em meio eletrônico em: 01 nov. 2020.
BRASIL. Lei n° 8142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde
(SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Consultado em
meio eletrônico em: 01 nov. 2020.
BORING, E. A history of experimental psychology. 2. ed. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice Hall, 1950.
CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. Tradução de Maria Thereza Barrocas. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução n° 02, 10 de março de 2001. Altera e regulamenta a Resolução CFP no 014/00 que
institui o título profissional de especialista em psicologia e o respectivo registro nos Conselhos Regionais. Consultado em meio eletrônico em:
20 out. 2020.
DESCARTES, R. As Paixões da Alma. Tradução de Jacó Guinsburg e Bento Prado Júnior. In: Os Pensadores, 2. ed. São Paulo: Abril, 1979.
DESCARTES, R. Discurso do método. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
DESCARTES, R. Meditações metafísicas. Tradução de Jacó Guinsburg e Bento Prado Júnior. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
FRANÇA, A. C. L.; RODRIGUES, L. A. Stress e trabalho: uma abordagem psicossomática. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
FILHO, J. M. et al. Psicossomática hoje. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
FREUD, S. A Interpretação de Sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 2001. GOODWIN, J. História da Psicologia Moderna. Tradução de Marta
Rosas. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 2010.
MATARAZZO, J. Behavioral health and behavioral medicine: Frontiers for a new health psychology. American Psycologist [online], 35, 807-
817, 1980.
NOLEN, S. et al. Introdução à psicologia. 15. ed. São Paulo: Cengage, 2012.
PLATÃO. A República. Tradução de Edson Bioni. São Paulo: Edipro, 2020.
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro e Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
SIMONETTI, A. Manual de Psicologia Hospitalar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
VANDENBOS, G. (org.). Dicionário de Psicologia da APA. Tradução de Daniel Bueno et al. Porto Alegre: Artmed, 2010.
VOLICH, R. Psicossomática: de Hipócrates à Psicanálise. Casa do Psicólogo: São Paulo, 2000.
WATSON, J. Clássico traduzido: a psicologia como o behaviorista a vê. v. 16. n. 2. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, 2008.
EXPLORE+
Veja a partir do livro Psicossomática hoje como os autores Julio de Mello Filho e Miriam Burb abordam aspectos históricos e conceituais
da Psicossomática.
Ouça o episódio de podcast Processo Saúde e Doença - Psicossomática, de Larissa Linard.
CONTEUDISTA
Leticia Nascimento Mello
 CURRÍCULO LATTES
javascript:void(0);

Mais conteúdos dessa disciplina