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Júlia de Azevedo Conceição – Medicina FAM 5 Cefaleias DEFINIÇÃO Dores de cabeça: 4 a 9% - consultas na atenção básica; ESTIMATIVA: 93% ♂ e 99% ♀ apresentarão; e 76% ♀ e 57% ♂ → ao menos 1 episódio por mês. PATOGENIA Inflamação, irritação, deslocamentos, tração, dilatação ou destruição de estruturas sensíveis à dor desencadeiam fenômenos dolorosos. INSENSÍVEIS À DOR: cérebro, o crânio, a maior parte da dura-máter, o epêndima e os plexos coroides. SENSÍVEIS À DOR: ♥ Extracranianas: pele, tecido subcutâneo, músculos, nervos, membranas submucosas, dentes e alguns vasos sanguíneos maiores. ♥ Intracranianas: seios venosos, veias de maior calibre e a dura-máter que as circunda, artérias durais e artérias do polígono de Willis. CLASSIFICAÇÃO International Classification of Headache Disorders, realizada pela International Headache Society (IHS) - Tipos de Cefaleia - MODO DE INSTALAÇÃO E EVOLUÇÃO 1. Agudas; 2. Subagudas – insidiosa; ápice em dias ou até 3 meses, principalmente nas cefaleias 2ª – p.e (hematomas subdurais, tumores e meningites crônicas (fungo, tuberculose); 3. Crônicas – > 3 meses; podem ser recidivantes, por período variável de tempo (minutos, horas, dias) para depois desaparecerem, ressurgindo algum tempo depois, como na migrânea e na cefaleia em salvas. AVALIAÇÃO HISTÓRIA: a) Motivo da procura; b) Quantos tipos o paciente apresenta; c) Relacionados ao tempo: Idade; Idade de início; Padrão temporal (horário de crises e periodicidade); Duração. d) Caracterização da dor: Intensidade: leve, moderada (atrapalha as atividades), incapacitante (impede atividades a maior parte do dia) ou excruciante (a intensidade da dor leva ao descontrole do paciente); Natureza ou qualidade da dor; Local e irradiação; Sintomas associados, como náuseas, vômitos, febre, alterações de consciência, sintomas neurológicos focais, alterações visuais, descarga nasal. e) Relacionados à causa: Predisposição ou fatores desencadeantes; Fatores de melhora ou agravantes; · História familiar. f) Pródromos; g) Influência hormonal; h) Resposta à dor: O que o paciente faz durante a dor? · Quanto sua atividade fica limitada? Quais são as medicações usadas? i) Estado de saúde entre os ataques; j) Problemas médicos crônicos concomitantes ou pregressos; k) Fatores de risco na infância para o desenvolvimento de migrânea: cinetose, dor abdominal recorrente, pseudoangina, vertigens, dores do crescimento, distúrbios do sono, vômitos cíclicos, hiperatividade. EXAME FÍSICO: ♥ Busca de sinais; neurológicos localizatórios; ♥ Palpação do crânio, musculatura cervical e ATM; ♥ Ausculta das artérias carótidas e órbitas; ♥ Fundo de olho, para descartar edema de papila; ♥ Medida da pressão arterial; e temperatura. EXAMES COMPLEMENTARES: ♥ Radiografia de crânio e coluna cervical: suspeita de fraturas, doenças ósseas, anormalidades da região selar e cervical, como malformações, traumas e subluxações; ♥ Tomografia de crânio: na presença de sinais de alarme; ♥ Ressonância Magnética de Crânio ♥ EEG: alteração consciência ♥ LCR: inflamação/infecção; HIC benigna; ♥ Estudo Vascular com AngioRM ou AngioTC de vasos cervicais e intracranianos fase arterial e fase venosa: dissecção arterial e trombose venosa de seios durais. Cefaleias Primárias Enxaqueca ou migrânea Cefaleia do tipo tensional Cefaleia em salvas e outras trigeminoautonômicas Outras cefaleias primárias Cefaleias Secundárias atribuída a trauma de cabeça e/ou cervical atribuída a d. vascular craniana ou cervical atribuída a transtorno intracraniano não vascular atribuída a uma substância ou sua retirada atribuída a infecção atribuída a transtorno da homeostase Cefaleia/dor facial atribuída a t. anatômicos Atribuída a transtorno psiquiátrico Neuralgias cranianas, dor facial primária e central ou outras cefaleias Neuralgias cranianas e causas centrais da dor facial Outras cefaleias, neuralgias cranianas e dor facial primária ou central Júlia de Azevedo Conceição – Medicina FAM 5 ♥ Primeira ou pior cefaleia da vida do paciente ou cefaleia de início súbito; Cefaleia súbita = atinge em 60s a intensidade máxima. “Em trovoada”/Thunderclap. Temida: Hemorragia Subaracnóidea (HSA) ♥ Cefaleias de início recente (menos de 1 ano); processo expansivo cerebral (?) ♥ Cefaleia nova após os 50 anos; >50 (+ incidência de neo SNC ou metástases); Arterite de Células Gigantes (cefaleia, claudicação mandibular, amaurose fugaz e polimialgia reumática + VHS > 50, biópsia de artéria temporal) ♥ Cefaleia + alterações do exame neurológico, alteração de consciência, rigidez de nuca e febre – Processo expansivo intracraniano. ♥ Cefaleia nova em imunodeprimido com coagulopatia ou neoplasia – neuroinfecções/neoplasias; anticoagulante – hemorragia intraparenquimatosa. ♥ Cefaleia pós-TCE: TCE leves (14 ou 15 – fazer TC em: otorragia, rinoliquorraquia, Glasgow < 15, perda de consciência, amnésia lacunar, cefaleia intensa, crises convulsivas, grandes lesões acima da clavícula, intoxicação exógena; idade > 60 ou < 6 anos; uso de anticoagulantes; fratura craniana; sinais de lesão de base de crânio; se ECG < 14 – SEMPRE TC DESCRIÇÃO DAS CEFALEIAS Primárias MIGRÂNEA - Enxaqueca; pode ter associação com alterações do sistema nervoso e ativação do sistema trigeminovascular. - Migrânea > hemigrania = metade do crânio; - Epidemio: 18% das ♀; 6% dos ♂; pico de incidência: com aura 12-13 ♀ e 5 ♂; sem aura: 14-17 ♀ e 10-11 ♂; Quadro típico: cefaleia unilateral (60%), pulsátil, início antes dos 20 anos; piora com os esforços físicos ou manobras que ↑ o fluxo sanguíneo cerebral; melhora com ↓ o afluxo de sangue ao segmento cefálico. desencadeantes: jejum, chocolate, emocionais, mudança no sono, estímulo sensorial e ingesta de bebidas alcoólicas. acompanha: palidez, sudorese, anorexia, náuseas e vômitos, foto e fonofobia e, + raro – distúrbios autonômicos. A crise migranosa – fases: premonitória, aura, cefaleia e resolução ♥ não estão necessariamente presentes em todos os casos. AURA: Luzes cintilantes, linhas em ziguezague, manchas cegas, parestesias, fraqueza ou incoordenação, dificuldade para falar ou comprometimento do equilíbrio. A aura pode ser típica, de 5 a 60 minutos, ou atípica, > 60 minutos. - Cefaleia, náuseas, vômitos e/ou fotofobia sucedem os sintomas neurológicos da aura imediatamente ou após um intervalo livre não superior a 1 hora MIGRÂNEA/ENXAQUECA COMUM (SEM AURA) - A: 5 ou + crises que preencham os critérios B e D; - B: Crise de cefaleia de 4 a 72hs, com tratamento fracassado ou não realizado; - C: Cefaleia com pelo menos 2 das caraterísticas: Unilateral Pulsátil Dor moderada a intensa Dor agravada ou que impede atividade física rotineira - D: Durante a cefaleia, pelo menos 1 destes sintomas: Fotofobia e fonofobia Náuseas e vômitos - E: Não atribuída a outra doença COM AURA - A: 2 ou + crises que preencham os critérios B e D; - B: Aura consistente com, pelo menos 1 dos seguintes, mas sem paresias Sintomas visuais: positivos (luzes piscando, pontos ou linhas luminosas) e/ou negativos (perda da visão. complementamente reversíveis Sintomas sensoriais: positivos (pontadas e agulhadas) e/ou negativos (insensibilidade) Disfasia completamente reversível - C: Pelo menos 2 dos seguintes Sintomas visuais ou sensoriais Pelo menos 1 aura gradual por 5 min. ou mais Cada sintoma entre 5-60 min. - D: Cefaleia com critérios B a D para enxaqueca s/ aura: durante a aura ou que a siga por 60 min. - E: Não atribuída a outra doença. ♥ Equivalentes de enxaqueca 1. Migrânea acompanhada: sinais e sintomas de sofrimento encefálico após início da cefaleia; -sensitiva (+); déficit motor, distúrbios de linguagem e ataxia; 2. Migrânea complicada: relacionados à crise, aparecem sintomas neurológicos que persistem após a cefaleiater cessado ou por mais de 24 horas. - pode não haver regressão ou esta ser parcial (sequela). Pode ser dividida em oftalmoplégica, hemiplégica (familiar - hemiplegia ou hemiparesia na aura + parente de primeiro grau), da artéria basilar (Bickerstaff) e migrânea retiniana; 3. Migrânea oftalmoplégica: rara e vista mais frequentemente em crianças e adultos jovens, é uma dor unilateral associada a paresias do III (mais comum), IV e VI nervos cranianos. ♥ Cefaleia Menstrual Sinais de alarme Júlia de Azevedo Conceição – Medicina FAM 5 Tratamento: 1) Medidas Gerais: evitar desencadeantes; tratar doenças concomitantes (HAS e depressão), técnicas de relaxamento físico e mental; regular sono; atividades físicas; TCC; acunpuntura; massagens e compressas. 2) Medicamentos: ♥ Analgésicos e AINEs – ingestão precoce. Evitar abuso; risco de desencadear cefaleia por uso abusivo. - Primeira escolha: Paracetamol é a primeira escolha – 5 a 15 mg/kg/dose, 2 a 3x/d (se necessário). Contraindicação: deficiência de G6PD. Ibuprofeno – 7,5 a 10 mg/kg VO tem boa resposta. Dipirona – 10 a 25 mg até 4x/d (se necessário) VO ou VR. ♥ Triptanos (agonistas dos receptores serotoninérgicos) – crises moderadas e fortes. - Crianças e Adolescentes: Sumatriptana spray nasal de sumatriptana 5-20mg. Contraindicados em: insuficiência arterial, periférica, cerebral ou coronariana; isquemia ou infarto do miocárdio e na presença de angina ou claudicação; gravidez, amamentação, hipertensão arterial não controlada, uso concomitante de ISRS ou lítio, uso de ergotamina nas últimas 24 horas e enxaquecas com aura prolongada, hemiplégica ou basilar. ♥ Antieméticos – Metoclopramida 10 mg VO ou IM ♥ Corticosteróides – em status enxaquecoso (crises > 24hs); usar associado a demais medicações. 3) Tratamento Profilático: + 2 crises por mês ou que tendo 1+ seja grave ou demorada, ou que seja refratária a terapêutica abortida. - betabloqueadores (propranolol - 1 a 2 mg/kg/d, em 2 tomadas. doses crescentes (3 a 4 semanas). Contraindicados em: pacientes com asma, diabetes e arritmias cardíacas; - antidepressivos tricíclicos (amitriptilina 10 a 50 mg/d); - os antagonistas de canal de cálcio (flunarizina 5 mg/d); - alguns anticonvulsivantes (ácido valproico, topiramato e lamotrigina). - drogas antisserotoninérgicas (ciproeptadina 4 a 12 mg/d) e o maleato de pizotifeno (0,5 a 1,5 mg/d) TENSIONAL ♥ cefaleia crônica mais comum e mais prevalente em adultos jovens. Sua incidência em adultos varia de 35 a 78%, sendo mais comum em mulheres. Critérios - A: 10 episódios que preencham os critérios B a D; Infrequente: <1d/m ou <12d/a Frequente: 1-14d/m por +3m ou 12-180d/ano Crônica: 15+d/m por +3m ou >180d/ano - B: Crise de 30min. a 7 dias (tto n feito ou malsucedico) - C: Cefaleia com pelo menos 2 das caraterísticas: Bilateral Não Pulsátil Dor leve a moderada Dor não agravada ou que impede atividade física rotineira - D: Durante a cefaleia ausência destes sintomas: Fotofobia e fonofobia Náuseas e vômitos - E: Não atribuída a outra doença Tratamento: 1) Medidas Gerais: evitar desencadeantes; palpação c/ mov. giratórios e pressão sobre os músculos frontal, temporal, masseter, pterigóideo, esternocleidomastóideo, esplênio e trapézio; Prevenção: Reeducação postural; identificar desencadeantes; antidepressivos tricíclicos (amitriptilina 1ª) > duais (venlafaxina ou duloxetina – 2ª) > ISRS (3ª) Fase Aguda: AINES (ibuprofeno ou naproxeno) Analgésicos (acetaminofeno, AAS) EM SALVAS OU “CLUSTER” - principal das cefaleias trigeminoautonômicas; - epidemio: incidência (3h:1m), início 20-40 anos - crises: 30-180 minutos, várias vezes/dia; grande intensidade; fronto-orbitária pode irradiar p hemicrânio/hemiface ipsilateral; pode ter ansiedade antecipatória (horários predeterminados). C- Conjuntiva vermelha L- Lacrimejamento/rinorreia U- Unilateral S- Sexo Masculino T- Terapia O2 100% 7L/min/15m E- Ergotamina na Emergência R- Repetidas vezes ao dia S- Sempre mesma hora A- Álcool desenc/agrava L- Lítio V- Verapamil A- Ácido Valpróico S- Sexo Masculino Critérios: - A: 5 episódios que preencham os critérios B a D; - B: Dor forte e muito forte unilateral, orbitária, supraorbitária e/ou temporal; 15-180 min. se não tratada. - C: Cefaleia c/ 1+ dos sinais ou sintomas ipsilaterais: Hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento Congestão Nasal e/ou Rinorreia Edema Palpebral Sudorese frontal ou facial Rubor frontal ou facial Sensação de Plenitude Auricular Miose e/ou Ptose palp.(Sd. Claude Bernard Horner) Inquietude ou agitação - D: Frequência de 1 crisa a cada 2 dias até 8 crises/dia - E: Sem causa que explique melhor a dor Fácies Leonina sulcos faciais profundos e pele em casca de laranja Tratamento: - oxigenoterapia a 100% 7 L/min, por 15 minutos; - sumatriptana 6 mg SC, ou ergotamínicos 1 mg 2x/d. - profilaxia: verapamil, valproato, prednisona ou lítio. - cefaleia de rebote é mais habitual com oxigênio e sumatriptana. Júlia de Azevedo Conceição – Medicina FAM 5 V 2 HEMICRANIA PAROXÍSTICA CRÔNICA - Rara; predomínio em M, 15 a 20 crises de 10- 20minrespondendo absoluta e exclusivamente a indometacina. Em alguns pacientes, os ataques podem ser precipitados por movimentos da cabeça. SÍNDROME SUNCT - cefaleia breve, unilateral, neuralgiforme, com hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal e rinorreia - ramo oftálmico do trigêmeo; 50-100/dia – 1 a 15 min. - carbamazepina, lamotrigina, gabapentina ou topiramato. Secundárias - etiologias: infecciosa, inflamatória, parasitária, traumática, vascular, tumoral e metabólica. sinais de organicidade das cefaleias: 1. Início abrupto, principalmente se for o primeiro episódio; 2. Lesões estruturais ou dor com início após trauma; 3. Aparecimento após os 50 anos; 4. Sinais neurológicos irritativos ou deficitários; 5. Papiledema; 6. Rigidez de nuca, febre ou alteração da consciência; 7. Mudança significativa no padrão da dor ou piora progressiva; 8. Alterações endócrinas concomitantes. NEURALGIA DO TRIGÊMEO - DOR FACIAL: choque ou punhalada em 1 ou 2 ramos contíguos do trigêmeo (em frequência V3 > V2 > V1). - dor súbita e lancinante; - dura segundos a 2 minutos. - TRIGGER POINTS: movimento, as temperaturas frias e a estimulação tátil nas regiões “gatilhos” - TTO: A carbamazepina e oxcarbamazepina são a primeira escolha para tratamento.
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