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Pré-Natal O pré-natal é programa abrangente de cuidados envolvendo a abordagem coordenada de cuidados médicos e psicossociais que idealmente devem ser iniciados antes da concepção, estendendo-se por todo o período gestacional até o parto. Desse modo, os programas de pré-natal devem incluir: → Cuidados pré-concepcionais; → Diagnóstico precoce da gestação; → Avaliação pré-natal inicial; → Consultas de acompanhamento pré-natais até o parto. Os principais objetivos do acompanhamento médico ou de enfermagem no pré-natal são: → Identificar gestantes com fatores de risco para desfechos desfavoráveis → Prevenir os agravo mais comuns para o binômio materno-fetal → Tratar enfermidades intercorrentes → Educar a gestante para um estilo de vida saudável → Preparar o casal para o momento do nascimento e o puerpério CUIDADOS PRÉ-CONCEPCIONAIS: Idealmente, é recomendado que todo casal que esteja planejando uma gravidez faça pelo menos uma consulta pré-concepcional para aconselhamento e avaliação de eventuais riscos. Nessa consulta, deve ser feita uma anamnese cuidadosa, incluindo história médica pregressa do casal e de sua família, um exame físico geral e ginecológico, incluindo medida da pressão arterial (PA), do peso e da altura (incluindo índice de massa corporal [IMC]) e avaliação da flora vaginal e citopatológica do colo uterino, se indicado. É recomendado também o rastreamento sorológico de vírus da imunodeficiência humana (HIV), sífilis, antígenos e anticorpos da hepatite B, uma medida da glicemia de jejum para detectar e corrigir eventual hiperglicemia e um hemograma para detectar uma anemia não percebida. Além disso, deve ser recomendado que a futura gestante inicie, pelo menos 30 dias antes da concepção mantendo até a 12 a semana de gestação, uma reposição de ácido fólico, o que pode diminuir o risco de defeitos de fechamento do tubo neural no futuro bebê. DIAGNÓSTICO PRECOCE DA GESTAÇÃO: O diagnóstico precoce da gestação é fundamental para uma assistência pré-natal de qualidade, pois possibilita o início também precoce do acompanhamento pré-natal e dos cuidados de saúde. Além disso, facilita a identificação correta da idade gestacional (IG), o que é decisivo para o acompanhamento correto da gestação. O diagnóstico de gestação é feito com base em dados clínicos (história e exame físico) e testes subsidiários. Apesar de ser menos sensível e específica do que os testes laboratoriais, a avaliação clínica de sinais e sintomas fornece dados iniciais a respeito do grau de probabilidade de tratar-se realmente de gestação ou sobre a necessidade de buscar diagnósticos alternativos. A história típica é a de uma mulher na menacme, com vida sexual ativa, sem uso de método contraceptivo, referindo atraso menstrual ou amenorreia secundária. Os sinais e sintomas de gestação podem ser classificados como sintomas de presunção, sinais de probabilidade e sinais de certeza de gestação. Após a confirmação da gravidez, em consulta médica ou de enfermagem, dá-se início ao acompanhamento da gestante. Os procedimentos e as condutas que se seguem devem ser realizados sistematicamente e avaliados em toda consulta de pré-natal. As condutas e os achados diagnósticos sempre devem ser anotados na Ficha de Pré- Natal e no Cartão da Gestante. A partir desse momento, a gestante deverá receber as orientações necessárias referentes ao acompanhamento de pré-natal: sequência de consultas (mensalmente, se possível), visitas domiciliares e grupos educativos. Deverão ser fornecidos para a gestante o: → O Cartão da Gestante, com a identificação preenchida, o número do Cartão Nacional da Saúde, o hospital de referência para o parto e as orientações sobre este; → O calendário de vacinas e suas orientações; → A solicitação dos exames de rotina; → As orientações sobre a participação nas atividades educativas (reuniões e visitas domiciliares). Duas informações essenciais que devem constar explicitamente no Cartão da Gestante são as relacionadas ao nome do hospital de referência para o parto e as relativas às intercorrências durante a gestação. FLUXOGRAMA DE PRÉ-NATAL: AVALIAÇÃO PRÉ-NATAL INICIAL: Na primeira consulta, deve-se pesquisar os aspectos socioepidemiológicos, os antecedentes familiares, os antecedentes pessoais gerais, ginecológicos e obstétricos, além da situação da gravidez atual. Os principais componentes da história clinica que precisam ser abordados: podem ser assim listados: 1. data precisa da última menstruação; 2. regularidade dos ciclos; 3. uso de anticoncepcionais; 4. paridade; 5. intercorrências clínicas, obstétricas e cirúrgicas; 6. detalhes de gestações prévias; 7. hospitalizações anteriores; 8. uso de medicações; 9. história prévia de doença sexualmente transmissível; 10. exposição ambiental ou ocupacional de risco; 11. reações alérgicas; 12. história pessoal ou familiar de doenças hereditárias/malformações; 13. gemelaridade anterior; 14. fatores socioeconômicos; 15. atividade sexual; 16. uso de tabaco, álcool ou outras drogas lícitas ou ilícitas; 17. história infecciosa prévia; 18. vacinações prévias; 19. história de violências. Na pesquisa de sintomas relacionados à gravidez também deverá ser questionada a existência de náuseas, vômitos, dor abdominal, constipação, cefaleia, síncope, sangramento ou corrimento vaginal, disúria, polaciúria e edemas. É importante sanar dúvidas e minimizar a ansiedade do casal. Informações sobre alimentação, hábito intestinal e urinário movimentação fetal, assim como presença de corrimentos ou outras perdas vaginais ajudam a identificar situações de risco gestacional e orientam medidas educativas que devem ser enfatizadas durante o pré- natal. As anotações deverão ser realizadas tanto no prontuário da unidade (Ficha Clínica de Pré-Natal) quanto no Cartão da Gestante; Os fatores de risco deverão ser identificados em destaque no Cartão da Gestante, uma vez que tal procedimento contribui para alertar os profissionais de saúde que realizam o acompanhamento pré-natal. Em cada consulta, o risco obstétrico e perinatal deve ser reavaliado. As ações da equipe devem contemplar as seguintes atividades: o Preenchimento da ficha de cadastramento da gestante no SisPreNatal ou diretamente no sistema para os serviços de saúde informatizados; o Preenchimento do Cartão da Gestante e da Ficha Clínica de Pré- Natal: identificação e demais dados da anamnese e exame físico; número do Cartão Nacional de Saúde; hospital de referência para o parto; o Verificação da situação vacinal e orientação sobre a sua atualização, se necessário; o Solicitação dos exames de rotina; o Realização dos testes rápidos; o Orientação sobre as consultas subsequentes, as visitas domiciliares e as atividades educativas. Durante a anamnese deve-se colher a história clínica da paciente, fazendo sua identificação, colhendo dados socioeconômicos, antecedentes familiares, pessoais gerais, ginecológicos, sexuais, obstétricos e por fim perguntar acerca da gestação atual. No exame físico são indispensáveis os seguintes procedimentos: avaliação nutricional (peso e cálculo do IMC), medida da pressão arterial, palpação abdominal e percepção dinâmica, medida da altura uterina, ausculta dos batimentos cardiofetais, registro dos movimentos fetais, realização do teste de estímulo sonoro simplificado, verificação da presença de edema, exame ginecológico e coleta de material para colpocitologia oncótica, exame clínico das mamas e toque vaginal de acordo com as necessidades de cada mulher e com a idade gestacional. No exame físico, os mais importantes componentes que precisam ser incluídos na primeira visita pré-natal são os seguintes: peso, altura, pressão arterial, avaliaçãode mucosas, da tireoide, das mamas, dos pulmões, do coração, do abdome e das extremidades. No exame ginecológico/obstétrico, deve-se avaliar a genitália externa, a vagina, o colo uterino e, no toque bidigital, o útero e os anexos. Após a 12ª semana, deve-se medir a altura do fundo uterino no abdome. A ausculta fetal será possível após a 10ª-12ª semana, com o sonar- doppler [grau de recomendação D]. Nas visitas subsequentes, torna-se obrigatório medir a altura uterina, pesar a paciente, mensurar a pressão arterial, verificar a presença de anemia de mucosas, a existência de edemas e auscultar os batimentos cardíacos fetais. Deve-se avaliar o mamilo para lactação. A definição da apresentação fetal deverá ser determinada por volta da 36a semana. O exame físico específico (gineco-obstétrico) é composto pela: palpação obstétrica; medida e avaliação da altura uterina; ausculta dos batimentos cardiofetais; registro dos movimentos fetais; teste de estímulo sonoro simplificado (Tess); exame clínico das mamas; exame ginecológico (inspeção dos genitais externos, exame especular, coleta de material para exame colpocitopatológico, toque vaginal). OBS: O exame físico das adolescentes deverá seguir as orientações do Manual de Organização de Serviços para a Saúde dos Adolescentes. CONSULTAS PRÉ-NATAIS: → Primeira Consulta: A primeira consulta deve ser no início da gravidez (antes de 12 semanas); e, em virtude da grande quantidade de informações, pode ser necessária uma segunda consulta inicial. Na primeira consulta pré- natal, é necessário considerar: o DUM; o Ultrassonografia transvaginal de primeiro trimestre (11-13 +6 semanas), essa certifica ou corrige a idade menstrual (datação), diagnostica gravidez gemelar, identifica algumas malformações, rastreia aneuploidias, prediz toxemia e parto pré-termo; OBS: No primeiro trimestre, estima-se a idade da gravidez pela medida do comprimento cabeçanádega (CCN) do embrião, com precisão de ± 5 dias. Após 14 semanas, a idade da gestação é calculada pela medida do diâmetro biparietal (DBP) ou do comprimento do fêmur (CF), com precisão de ± 10 dias o DNA fetal livre no sangue materno (cf DNA): realizado com 9 semanas de gestação, rastreia aneuploidias, diagnostica o sexo fetal e determina o Rh fetal; o Sexagem fetal, realizado a partir de 9 semanas da gravidez, é o teste- padrão no sangue materno por meio da técnica de biologia molecular (PCR). O exame baseia-se na identificação de partes do cromossomo Y do feto; o Peso e pressão arterial (PA); o Ausculta fetal com o sonar-Doppler é positiva entre 10 e 12 semanas; com o estetoscópio de Pinard, somente após 20 semanas; o Exames complementares essenciais: o Identificação da mulher que necessita de cuidados adicionais; o Exame das mamas visando à promoção do aleitamento não está mais indicado na gravidez. → Consultas Subsequentes: As consultas subsequentes serão mensais até 32 semanas; quinzenais, de 32 a 36 semanas; e semanais, de 36 semanas até o parto. A cada consulta, serão avaliados: peso, PA, batimentos cardiofetais (bcf) e fundo do útero. Constituem consultas especiais: HIGIENE PRÉ-NATAL: → Asseio Corporal: A gestação não contraindica o banho diário e outras medidas de higiene pessoal. O banho recomendado é o de chuveiro; pois o de imersão, quente, prolongado, predispõe a desmaios e vertigens. Irrigações vaginais estão proibidas. A região genitoanal merece especial atenção em virtude do aumento natural de umidade. A higiene dos dentes e das gengivas é obrigatória. Se necessário, a extração dentária pode ser realizada, evitando-se, por precaução, os anestésicos com adrenalina. → Vestuário: As roupas devem ser folgadas, confortáveis e compatíveis com o clima; quando há grande desenvolvimento mamário, o uso de sutiã é obrigatório. Deve-se estimular o uso de meia-calça elástica de média compressão para gestantes, a fim de evitar as varizes e diminuir a dor por estase nos membros inferiores. Os sapatos mais indicados são os do tipo “anabela”, com solado antiderrapante, pois, ao caminhar, estimulam naturalmente a circulação sanguínea nos membros inferiores, colaborando para o bom funcionamento da bomba muscular venosa, além de diminuírem dor nas pernas, edema e formação de varizes. ASPECTOS NUTRICIONAIS: São sugeridos cinco grupos de alimentos com recomendações. Na gravidez, há recomendações especiais para excluir alimentos que possam conter teratógenos, como o retinol, ou que estejam contaminados por listeriose (leite não pasteurizado, queijos fermentados, patê) ou toxoplasmose (carne malcozida ou vegetais contaminados pelo solo). Um dilema: o que recomendar para os óleos de peixe? Embora sejam considerados uma fonte importante de ácidos graxos essenciais, também podem estar contaminados com mercúrio, que pode ser nocivo para o cérebro fetal. As dietas de restrição calórica, principalmente em obesas, são preocupantes com relação ao desenvolvimento fetal. Embora possam ser inofensivas para o feto na primeira metade, podem ser danosas na segunda metade, visto que a restrição calórica pode levar à lipólise com cetonemia relativa e prejuízo no desenvolvimento mental do concepto. EXERCÍCIOS FÍSICOS: Para indivíduos saudáveis, 30 min ou mais de exercício moderado, todos os dias da semana. Na ausência de complicações médicas ou obstétricas, é possível adotar a mesma recomendação às grávidas. Nos casos de diabetes gestacional, quando não se consegue a euglicemia pela dieta, o exercício pode funcionar como terapia coadjuvante. A segurança de cada modalidade esportiva é determinada principalmente pelo movimento específico necessário para o seu desempenho. Atividades de risco extremo de queda ou de trauma abdominal devem ser evitadas na gravidez. Do mesmo modo, está proibido o mergulho em profundidade que exija descompressão, porque pode causar abortamento, parto pré-termo ou CIR. Corrida, tênis e treinamento de força também podem ser realizados com moderação para aquelas que regularmente já praticavam essas modalidades. Outras recomendações: o Após o primeiro trimestre, evitar exercícios que necessitem do decúbito dorsal; o Evitar exercícios em ambiente quente e úmido ou em caso de febre; o Utilizar roupas confortáveis e sutiãs adequados; o Beber água durante o exercício, para evitar desidratação; o Parar o exercício caso ocorra sangramento vaginal, tontura, dor no peito, cefaleia, fraqueza muscular, dor ou edema na panturrilha, contrações uterinas, diminuição da movimentação fetal ou perda de líquido pela vagina. Para um bom acompanhamento pré-natal, é necessário que a equipe de saúde efetue os procedimentos técnicos de forma correta e uniforme durante a realização dos exames complementares, assim como quando da realização dos exames clínico e obstétrico. Do contrário, ocorrerão diferenças significativas, prejudicando a interpretação dos dados e a comparação entre eles. É importante ressaltar, no contexto da qualidade da atenção e da proteção biológica, a necessidade da lavagem das mãos do examinador antes e após o atendimento à gestante e, especialmente, na eventualidade da realização de procedimentos. • Devem ser solicitados na primeira consulta os seguintes exames complementares: HEMOGRAMA: O hemograma deve ser solicitado na primeira consulta pré- concepcional ou pré-natal com objetivo de avaliar os níveis de hemoglobina (Hb) e hematócrito (Ht). Durante a gestação, observa-se grande aumento do volume plasmático, assim como aumento da produção de hemácias. Como o aumento plasmático é superior ao da massa eritrocitária, ocorre hemodiluição, em geral com queda de cerca de 2 pontos na concentração de Hb em torno do fim do segundo trimestre e início do terceiro trimestre da gestação. Essa alteração é erroneamente chamadade “anemia fisiológica da gestação”. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), valores de Hb abaixo de 11 g/dL ou de Ht abaixo de 33%, em qualquer período gestacional, indicam anemia. O Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos considera os mesmos valores no primeiro e no terceiro trimestres, mas considera como anemia no terceiro trimestre somente quando os valores de Hb estiverem abaixo de 10,5 g/dLe de Ht abaixo de 32% TIPAGEM SANGUÍNEA E COOMBS INDIRETO: A tipagem sanguínea e o fator Rh precisam ser solicitados na primeira consulta de pré-natal a todas as gestantes, com o intuito de identificar eventual incompatibilidade Rh no casal e prevenir a aloimunização perinatal. Se a gestante for Rh-negativa, deve ser solicitado em seguida o teste de Coombs indireto, a fim de identificar sensibilização prévia. Se este for negativo, a partir da 24ª semana, deve-se repeti-lo mensalmente. Se for positivo, considerar gestante previamente aloimunizada e seguir conduta específica. Em gestantes com história prévia de transfusão sanguínea, mesmo sendo Rh-positivas, devem ser também solicitados teste de Coombs indireto e pesquisa de anticorpos irregulares, pois pode ter havido aloimunização por outros antígenos. GLICEMIA DE JEJUM E TESTE ORAL DE TOLERÂNCIA À GLICOSE: Na primeira consulta pré-concepcional ou pré-natal, deve ser solicitada a glicemia de jejum. O rastreamento deve ser repetido entre a 24ª e a 28ª semana de gestação com o teste oral de tolerância à glicose (TOTG), que é a medida da glicemia no jejum e 1 e 2 horas após uma carga de 75 g de glicose VO. Para a realização do TOTG, recomenda-se jejum de 8 horas e restrição de carboidratos nos 3 dias anteriores ao teste. UROCULTURA: Toda gestante deve ser submetida a uma urocultura na primeira consulta de pré-natal, com objetivo de identificar e erradicar a bacteriúria assintomática (BA) e prevenir a ocorrência de pielonefrite na gestação. Gestantes hígidas, assintomáticas, com urocultura negativa na primeira consulta, sem nefropatias e sem história de infecções urinárias de repetição não necessitam repetir o exame durante o pré-natal. Havendo cistite (infecção baixa sintomática) ou pielonefrite, após o tratamento há indicação de repetir mensalmente a urocultura nos casos em que a gestante não estiver fazendo uso de quimioprofilaxia. Os testes rápidos com fitas e testes enzimáticos não devem ser utilizados para orientar tratamento nas pacientes assintomáticas, pois não têm capacidade de identificar BA. SOROLOGIA PARA SÍFILIS: O rastreamento para sífilis é obrigatório em todo o pré-natal. Deve ser solicitado um teste de Veneral Disease Research Laboratory (VDRL) na primeira consulta, o qual deve ser repetido no terceiro trimestre. Devido ao aumento dos casos de sífilis congênita no Brasil, o MS tornou obrigatório repetir a testagem em todas as gestantes no momento do parto. Se o teste realizado for o VDRL e este for positivo, deve-se solicitar um teste treponêmico (teste rápido para sífilis ou teste de absorção fluorescente contra treponema [FTA-ABS, do inglês fluorescent treponemal antibody-absortion ]) a fim de descartar falsos-positivos. Atualmente, as unidades básicas de saúde (UBSs) vêm realizando o teste rápido para sífilis na primeira consulta de pré-natal. Como esse teste é treponêmico, pode ser positivo mesmo se a gestante já tiver sido tratada anteriormente, o que pode gerar certa dúvida no diagnóstico. Sífilis na gestação e sífilis congênita são doenças de notificação compulsória pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). SOROLOGIA PARA HIV: A testagem do HIV deve ser realizada na primeira consulta do pré- natal a fim de identificar gestantes soropositivas e iniciar o tratamento para diminuir a carga viral e o risco de transmissão vertical. Se negativo, deve-se repetir o teste no terceiro trimestre e no momento da internação hospitalar. O teste também tem sido feito por meio de testes rápidos ou por sorologia como o enzimaimunoensaio (Elisa). Os testes rápidos apresentam sensibilidades superiores a 98%. Se o teste rápido for negativo, encerra-se a investigação naquele momento e repete-se no terceiro trimestre e no momento da internação hospitalar. Se o resultado for positivo, repete-se sequencialmente; se confirmar positividade, inicia-se o aconselhamento e o tratamento. Se os resultados forem discordantes ou indeterminados, segue-se a investigação. O pré-natal da gestante soropositiva deve ser diferenciado, incluindo avaliação clínica mais especializada e preferencialmente acompanhada por um infectologista. Devem ser solicitados exames como o teste de Mantoux, citomegalovírus, anti-HCV (vírus da hepatite C [do inglês hepatitis C virus ]), carga viral e CD4. Nas gestantes que apresentarem o diagnóstico de soropositividade ao HIV no pré-natal, deve-se solicitar a genotipagem para identificação de possíveis mutações virais e consequentes resistências a algumas classes de antirretrovirais (ARVs). Quando a terapia ARV iniciar, devem ser monitorizados os efeitos adversos, por meio de provas de função hepática, renal e sintomas clínicos. SOROLOGIA PARA HEPATITE B: Com o objetivo de reduzir a transmissão materno-infantil da hepatite B, o MS recomenda a triagem sorológica durante a gestação. 8 O exame deve ser realizado na primeira consulta do pré-natal, independentemente da IG. A testagem também tem sido feita por meio de testes rápidos ou por sorologia pelo antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg). Se a gestante for negativa, e o anti-HBs for não reagente, recomenda-se a imunização antes ou durante a gestação, em qualquer trimestre. Se o anti-HBs for reagente, não há mais necessidade de repetir o teste ao longo da gestação, uma vez que a gestante já está imunizada. Gestantes portadoras do antígeno (HBsAg reagente) devem ser encaminhadas no parto para unidades obstétricas que assegurem a administração de vacina e da imunoglobulina específica para o vírus da hepatite B (HBIg) ao RN. Quando a gestação ocorre em paciente portadora de infecção crônica pelo vírus da hepatite B (HBV, do inglês hepatitis B virus) com perfil imunológico HBsAg reagente ou antígeno do envelope do vírus da hepatite B (HBeAg) reagente, ocorre grave risco para o RN, pois, sem a imunoprofilaxia adequada no momento do parto, mais de 90% das crianças desenvolverão infecção aguda pelo HBV e poderão progredir para infecção crônica com complicações da doença hepática crônica na idade adulta. SOROLOGIA PARA TOXOPLASMOSE: Solicitar rotineiramente sorologia (imunoglobulina G [IgG] e imunoglobulina M [IgM]) para toxoplasmose é justificado apenas em regiões de alta prevalência dessa parasitose (p. ex., Rio Grande do Sul) devido ao elevado risco de acometimento fetal. Portanto, em locais onde a prevalência de toxoplasmose é baixa, o rastreamento não está justificado. O risco da transmissão e da infecção congênita é maior com o avanço da gestação, mas a gravidade é menor. Na ausência de anticorpos IgG e IgM no primeiro exame, repete-se no segundo e terceiro trimestres da gestação e inicia-se a instrução da adoção de práticas preventivas, como evitar a ingestão de carnes cruas e malcozidas, lavar bem as frutas e as verduras e evitar contato com animais (principalmente gatos). Na presença de anticorpos IgG-positivos e IgM-negativos, considera- se a gestante imune e não há necessidade de repeti-los ao longo da gestação, com exceção das gestantes imunodeprimidas. Se no primeiro exame solicitado detectar-se a presença de IgM positivo, deve-se solicitar imediatamente o teste de avidez de IgG. Anticorpos IgG com alta avidez indicam infecção antiga e excluem infecção aguda nos últimos 3 a 4 meses. Anticorpos com baixa avidez podem significar infecção aguda. SOROLOGIA PARAVÍRUS DA HEPATITE C: Não se recomenda a pesquisa de anti-HCV de rotina no pré-natal devido aos baixos índices de detecção em gestantes e ao fato de ainda não existir imunoprofilaxia ou intervenção medicamentosa que possa prevenir a transmissão vertical da hepatite C. Deve-se realizar a sorologia nas gestantes com fatores de risco como infecção por HIV, uso de drogas ilícitas, antecedentes de transfusão ou transplante antes de 1993, mulheres submetidas à hemodiálise, mulheres com elevação de aminotransferases sem outra causa clínica evidente e profissionais de saúde com história de acidente com material biológico. SOROLOGIA PARA RUBÉOLA E PARA CITOMEGALOVÍRUS: Não há recomendação do MS para a realização de rastreamento de rotina na gestação para essas infecções. RASTREAMENTO PARA ESTREPTOCOCO DO GRUPO B: A identificação de gestantes portadoras (vagina, reto, bexiga) de estreptococo do grupo B (EGB) ou Streptococcus agalactiae abre oportunidade para erradicação intraparto do EGB e diminuição do risco de sepse neonatal por essa bactéria. Desde 2002, nos Estados Unidos, o CDC passou a recomendar o rastreamento a todas as gestantes portadoras a partir da 35ª semana de gestação, ou antes, quando houver TP pré-termo. A coleta é feita por meio de swab na região vaginal e anal. O tratamento pré-natal só deve ser feito se houver BA por EGB. As mulheres portadoras do EGB na vagina e no reto somente devem ser tratadas durante o TP. RASTREAMENTO PARA DOENÇAS DA TIREOIDE: O rastreamento universal das doenças da tireoide na gestação em pacientes assintomáticas é controverso. Alguns autores sugerem que o rastreamento não é custo-efetivo e deve ser solicitado apenas em situações de risco, como diabetes, áreas com deficiência de iodo, história familiar ou pessoal de hipotireoidismo, abortos de repetição, obesidade, radiação prévia em cabeça ou pescoço. O diagnóstico de hipotireoidismo primário na gestação é feito por meio da TSH, quando os valores forem superiores a 2,5 mUI/mLno primeiro trimestre e de 3 mUI/mLou mais no segundo e no terceiro trimestres. Se houver presença de TSH elevada, recomenda-se solicitar tiroxina (T4) livre para determinar o grau de hipotireoidismo, e, se a T4 livre for normal, sugere-se medir os anticorpos tireoperoxidase (TPO). RASTREAMENTO PARA DOENÇA FALCIFORME: A doença falciforme (DF) é uma das doenças hereditárias mais comuns, especialmente na população afrodescendente. A DF é diagnosticada por meio da eletroforese de Hb, que identifica a doença e o traço falcêmico. O rastreamento universal da DF em gestantes sem anemia e sem etnia afrodescendente não está justificado, embora seja recomendado pelo MS do Brasil EXAME BACTERIOSCÓPICO DE SECREÇÃO VAGINAL E CITOPATOLÓGICO CERVICAL: É recomendado que toda gestante, na primeira consulta de pré-natal, faça um exame a fresco de secreção vaginal para identificar vulvovaginites e alterações da flora vaginal. O tratamento da vaginose bacteriana (Gardnerella vaginalis) pode diminuir o risco de TP pré- termo. Também na primeira consulta, se a gestante não estiver em dia com seu calendário de prevenção de câncer de colo uterino, deve-se coletar um raspado cervical para citopatologia com espátula de Ayre. NÁUSEAS: Estima-se que 70 a 85% das grávidas relatam náuseas e vômitos durante a gravidez, sintomatologia que geralmente cessa com 20 semanas. Intimamente relacionada com hiperêmese gravídica, vômitos incoercíveis. SIALORREIA OU PTIALISMO: No início da gravidez, a salivação excessiva pode ser um incômodo, especialmente quando associada à náusea. Nesses casos, a medicação não obtém resultados satisfatórios. Além do fator psicogênico, a bromoprida também colabora para alguma melhora; a ingesta de alimentos cítricos e gelados pode ajudar bastante. PIROSE: Queixa comum nas últimas semanas de gestação e consequente ao refluxo do conteúdo estomacal para o esôfago (doença do refluxo gastroesofágico – DRGE) e à pressão do útero gravídico sobre o estômago, determinando certo grau de hérnia de hiato. Antiácidos devem ser evitados por levarem ao efeito rebote. A utilização de bromoprida 10 mg por via oral de 8/8 h melhora substancialmente os refluxos. Em casos graves, no final da gestação, é possível utilizar ranitidina 150 mg (Zylium®), 1 comprimido VO de 12/12 h por, no máximo, 14 dias. CONSTIPAÇÃO: Trata-se de um distúrbio trivial na gravidez, que decorre da diminuição da motilidade intestinal, pela ação dos hormônios esteroides e pressão com deslocamento dos intestinos, pelo útero cheio. A conduta terapêutica consiste em: o Dieta: consumir alimentos que formam resíduo (legumes e vegetais folhosos, substâncias ricas em fibras, frutas cítricas, ameixa, mamão) e ingesta liberada de água. o Medicamentos: caso a dieta e os exercícios físicos não sejam suficientes, prescrever laxativos como o Tamarine ® (Cassia angustifolia-sene), 1 cápsula à noite; ou bisacodil 5 mg (Dulcolax ®), 1 comprimido à noite. Em casos de formação de bolus fecal baixo (reto-anal), pode-se prescrever sorbitol (Minilax ®), 1 frasco por via retal. Contudo, o uso regular e crônico desses medicamentos deve ser evitado. Aumentar a ingesta de aveia e de farinha de linhaça pode ser boa profilaxia da constipação crônica. HEMORROIDAS: Combater a constipação é a melhor maneira de prevenção, assim como evitar atrito anal com utilização de papel higiênico. É muito importante a utilização de duchas higiênicas para lavagem do ânus após as evacuações. Em casos necessários com extrusão hemorroidária ou fissuras, podem ser utilizadas pomadas proctológicas à base de policresuleno e cloridrato de cinchocaína (Proctyl ®), um supositório ou uma bisnaga por via retal, de 8/8 h, após as evacuações e antes de dormir à noite. EDEMA: Na avaliação do edema na gravidez, é importante diferenciar o generalizado do gravitacional. O edema gravitacional está limitado aos tornozelos e decorre do aumento de pressão nos capilares dos membros inferiores. Quando cessa a pressão na veia cava inferior pelo útero gravídico, por exemplo, no momento em que a paciente fica em decúbito lateral, o edema cede, como habitualmente ocorre à noite. Não apresenta qualquer conotação com o acúmulo de sódio e de água e está destituído de importância clínica. O edema generalizado, que se anuncia pelo súbito aumento de peso, engrossamento dos dedos, face vultosa e deposição de água na metade superior do corpo, é visto em 25 a 30% das gestantes. Apenas 10% das primíparas, e talvez um percentual menor de multíparas, têm esse tipo de edema acompanhado de hipertensão e proteinúria, configurando estado patológico específico da gravidez, a toxemia gravídica. O edema generalizado, na ausência de hipertensão e proteinúria, representa simples exagero do processo fisiológico de retenção de sódio (sistema renina-angiotensina-aldosterona), agravado pela queda de pressão oncótica plasmática, decorrente da relativa hipoalbuminemia gravídica. Os diuréticos e a dieta hipossódica não são indicados na gravidez. VARICOSIDADES: Complicações mais comuns nas multíparas e decorrem da fraqueza congênita das paredes musculares das veias, aumento da pressão venosa nos membros inferiores, inatividade e mau tônus muscular. Embora possam ser assintomáticas, as varicosidades dos membros inferiores determinam, em geral, dor, edema, ulceração e graves complicações, tais como tromboflebite e flebotrombose. As varizes vulvovaginais, por vezes, sangram profusamente no parto, obrigando a operação cesariana; o tratamento esclerosante e o cirúrgico estão contraindicados na gravidez. As medidas paliativas são: o Evitar ortostatismo prolongado e, quando a paciente se sentar ou se deitar, é necessário suspender as pernas acima do nível do corpo o Meias elásticas de média compressão para gestantes deve sercolocadas com as pernas elevadas, após o esvaziamento das veias por alguns minutos. São utilizadas durante todo o período de deambulação, embora possam ser retiradas por 30 min, diversas vezes ao dia, durante o descanso. Para alívio das dores, do edema e da estase, prescreve-se Venalot H ® creme (cumarina 200 mg e heparina 2.000 UI), aplicado de 8/8 h e sempre antes de dormir, à noite. CÃIBRAS: Incidem, especialmente nos músculos da panturrilha, no segundo ou no terceiro trimestre de gravidez, enquanto a paciente dorme ou está apenas deitada. A etiologia é desconhecida, mas a fadiga das extremidades pode ser importante. O único tratamento que se mostrou relevante foi a administração de magnésio: 100 mg pela manhã e 200 mg à tarde. SINTOMAS URINÁRIOS: A frequência e a urgência são comuns no início e no final da gestação. Os fatores relacionados são: no primeiro trimestre – a pressão exercida pelo útero gestante, em anteflexão exagerada, sobre a bexiga; nas duas últimas semanas da gravidez – o contato da apresentação fetal. TONTEIRAS E VERTIGENS: A instabilidade vasimotora, geralmente associada à hipotensão ortostática, determina insuficiência sanguínea cerebral transitória em virtude do acúmulo de sangue das pernas, nos territórios esplâncnico e pélvico. Outro fator sinalado é a tendência hipoglicemizante no intervalo das refeições. É necessário lembrar-se de que a síndrome de hipotensão supina, que ocorre no último trimestre da gestação, tem mecanismo diverso. FADIGA: A grávida está predisposta à fadiga no último trimestre, em consequência das alterações da postura e do aumento de peso. A anemia deve ser combatida e períodos frequentes de repouso são recomendados. SÍNDROME DOLOROSA: Pode ser abdominal baixa ou lombossacra. A primeira é descrita como sensação de peso no baixo-ventre, na prega inguinal, em virtude da pressão do útero gravídico nas estruturas pélvicas de sustentação e na parede abdominal, tensão dos ligamentos redondos, relaxamento das articulações da bacia, contrações uterinas (Braxton-Hicks), além de gases, distensão e cólicas intestinais. O segundo tipo é muito comum no último trimestre; tem origem na embebição das articulações sacroilíacas, fadiga, espasmo muscular decorrente de alterações posturais (lordose exagerada) e ventre pêndulo. É possível atenuar os eventos dolorosos por meio de repouso no leito, cintas para gestantes e analgésicos. LEUCORREIA: Durante a gestação, é comum o aumento da secreção vaginal (produção exacerbada de muco cervical, maior descamação do epitélio e transudação elevada pelo incremento da vascularização); trata-se de um corrimento branco, leitoso e não produz irritação. Diante das modificações na acidez vaginal ocorridas na gravidez, é muito frequente a inflamação por cândida. O corrimento está associado à coceira e ocorre dor à micção. O tratamento é feito com Gyno-Icaden ® (nitrato de isoconazol) – 1 aplicador (5 g) intravaginal ao deitar-se, por 7 noites. Em torno de 10 a 30% das grávidas apresentam vaginose bacteriana resultante de deficiência da flora normal de Lactobacillus sp. na vagina e crescimento relativo de bactérias anaeróbias, incluindo Mobiluncus sp., Gardnerella vaginalis, Prevotella sp. e Mycoplasma hominis. Isso provoca redução da acidez vaginal, com mau cheiro, embora 50% das mulheres com vaginose bacteriana sejam assintomáticas. A vaginose bacteriana é causa de parto prétermo; em geral, o tratamento está reservado às grávidas sintomáticas, embora estudos recentes tenham sugerido que a erradicação da infecção reduziria a taxa de parto pré-termo em mulheres com história de interrupção. Nos casos de mulher com risco de parto pré-termo, há indicação, na gravidez (12 a 16 semanas), de rastreamento para vaginose bacteriana e, nessas condições, o tratamento deve ser oral (SOGC, 2008): preferencialmente com clindamicina, 300 mg, 2 vezes/dia, durante 7 dias. A tricomoníase é tratada com metronidazol geleia vaginal (Flagyl ® geleia vaginal) – 1 aplicador intravaginal ao deitar-se, à noite, por 10 dias. + A gestação é um fenômeno fisiológico e deve ser vista pelas gestantes e equipes de saúde como parte de uma experiência de vida saudável que envolve mudanças dinâmicas do olhar físico, social e emocional. No entanto, devido a alguns fatores de risco, algumas gestantes podem apresentar maior probabilidade de evolução desfavorável. São as chamadas “gestantes de alto risco”. Com o objetivo de reduzir a morbimortalidade materno-infantil e ampliar o acesso com qualidade, é necessário que se identifiquem os fatores de risco gestacional o mais precocemente possível. Dessa forma, o acolhimento com classificação de risco pressupõe agilidade no atendimento e definição da necessidade de cuidado e da densidade tecnológica que devem ser ofertadas às usuárias em cada momento. O acolhimento, em especial à gestante, objetiva fornecer não um diagnóstico, mas uma prioridade clínica, o que permite que haja impacto na história natural de doenças agudas graves e potencialmente fatais, que, se não atendidas como prioridades, podem levar à morte, por exemplo, uma gestante com síndrome hipertensiva. Portanto, é indispensável que a avaliação do risco seja permanente, (aconteça em toda consulta). GRAVIDEZ DE ALTO RISCO: Quando são identificados fatores associados a um pior prognóstico materno e perinatal, a gravidez é definida como de alto risco, passando a exigir avaliações mais frequentes, muitas vezes fazendo-se uso de procedimentos com maior densidade tecnológica. Nas situações de emergência obstétrica, a equipe deve estar capacitada para diagnosticar precocemente os casos graves, iniciar o suporte básico de vida e acionar o serviço de remoção, para que haja a adequada continuidade do atendimento para os serviços de referência de emergências obstétricas da Rede de Atenção à Saúde. As situações que envolvem fatores clínicos mais relevantes (risco real) e/ou fatores evitáveis que demandem intervenções com maior densidade tecnológica devem ser necessariamente referenciadas, podendo, contudo, retornar ao nível primário, quando se considerar a situação resolvida e/ou a intervenção já realizada. De qualquer maneira, a unidade básica de saúde deve continuar responsável pelo seguimento da gestante encaminhada a um diferente serviço de saúde. GRAVIDEZ DE BAIXO RISCO: Nos casos em que não há necessidade de se utilizar alta densidade tecnológica em saúde e nos quais a morbidade e a mortalidade materna e perinatal são iguais ou menores do que as da população em geral, as gestações podem ser consideradas como de baixo risco. Assim definida, a gravidez de baixo risco somente pode ser confirmada ao final do processo gestacional, após o parto e o puerpério. FATORES DE RISCO QUE PERMITEM A REALIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL PELA EQUIPE DE ATENÇÃO BÁSICA: FATORES DE RISCO QUE PODEM INDICAR ENCAMINHAMENTO AO PRÉ- NATAL DE ALTO RISCO: FERRO E FOLATO: A suplementação rotineira de ferro e folato parece prevenir a instalação de baixos níveis de hemoglobina no parto e no puerpério. É recomendada a suplementação de 40mg/dia de ferro elementar (200mg de sulfato ferroso). Orienta-se que a ingestão seja realizada uma hora antes das refeições. A suplementação de ferro deve ser mantida no pós-parto e no pós-aborto por 3 meses. FOLATO PERI-CONCEPCIONAL: Tem forte efeito protetor contra defeitos abertos do tubo neural. Deve ser usado rotineiramente pelo menos dois meses antes e nos dois primeiros meses da gestação. Esta informação deve ser difundida por programas educacionais de saúde. Mulheres que tiveram fetos ou neonatos com defeitos abertos do tubo neural têm que usar folato continuamente se ainda desejam engravidar (grau de recomendação A). PIRIDOXINA (VITAMINA B6): Nãohá evidências para indicá-la como suplemento na gravidez, embora os resultados de um trabalho sugiram que seu uso pode ter efeito protetor em relação ao esmalte dentário (grau de recomendação A). CÁLCIO: Seu uso parece ser benéfico em mulheres que apresentam alto risco de desenvolver hipertensão na gestação e naquelas que têm baixa ingestão de cálcio. ZINCO: Não existem evidências suficientes para avaliar os efeitos do seu uso na gravidez. Os possíveis efeitos benéficos sobre a prevenção do trabalho de parto prematuro necessitam de novas avaliações (grau de recomendação A). PROTEÍNAS: A suplementação balanceada parece melhorar o crescimento fetal e reduzir os riscos de morte fetal e neonatal. As evidências são insuficientes para afirmar se existem outras vantagens potenciais (grau de recomendação A). SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA A: A vitamina A é nutriente que atua no sistema imunológico, auxiliando no combate às infecções, à diarreia e ao sarampo. o Ajuda também no crescimento e desenvolvimento, além de ser muito importante para o bom funcionamento da visão. A falta de vitamina A pode resultar em cegueira. Dados de pesquisas importantes têm correlacionado a adequação das reservas corporais maternas de vitamina A com a redução da mortalidade. Portanto,em determinadas regiões, toda puérpera no pós- parto imediato, ainda na maternidade, deve receber uma megadose de 200.000 UI de vitamina A (1 cápsula VO), garantindo-se, assim, reposição dos níveis de retinol da mãe e níveis adequados de vitamina A no leite materno até que o bebêatinja os 6 meses de idade, diminuindo-se o risco de deficiência dessa vitamina entre as crianças amamentadas. As mulheres não devem receber suplementação de vitamina A em outros locais ou em outros períodos de sua vida reprodutiva, para que seja evitado o risco de teratogenicidade para o feto, caso haja nova gravidez em curso. ÁCIDO FÓLICO: Tem sido estimado de que cerca da metade de todos os defeitos congênitos pode ser evitada se mulheres em idade de gravidez consumirem quantidade adequada de ácido fólico, seja pela ingesta de alimentos fortificados com a substância ou pela suplementação com multivitaminas. Os defeitos do tubo neural (DTN) são anomalias congênitas graves decorrentes da falta de fechamento do tubo neural da terceira à quarta semana após a concepção (dia 26 ao dia 28 pós- concepção). A suplementação com ácido fólico diminui a incidência dos DTN de 1,58/1.000 nascimentos para 0,86/1.000 nascimentos. As mulheres são consideradas de alto risco caso apresentem história de: o Bebê anterior com DTN; o Parente de 1o, 2o ou 3o grau com DTN; o Diabetes pré-gestacional insulinodependente; o Epilepsia e ingesta de ácido valproico ou carbamazepina para o controle da convulsão; o Uso de antagonistas do ácido fólico (metotrexato, aminopterina). O uso do suplemento periconcepcional reduz tanto o risco da ocorrência dos DTN (primeira gestação afetada) como de recorrência. O risco da recorrência é reduzido de 3,5% para 1% em mulheres recebendo 4 mg/dia de ácido fólico antes da gravidez e nas primeiras semanas após a concepção. Suplementos combinando ácido fólico e multivitaminas também reduzem a incidência de outras anomalias congênitas: defeitos cardiovasculares e dos membros, fenda labiopalatina, anomalias urinárias e hidrocefalia. Além disso, está igualmente diminuído o risco para neuroblastoma e leucemia na infância. Recomendações da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Canadá (SOGC, 2007) estão descritas a seguir: o Mulheres em idade reprodutora devem ser avisadas para os benefícios da ingesta do ácido fólico em suplementos multivitamínicos; o É necessário orientá-las a manter dieta adequada com alimentos ricos em ácido fólico: grãos fortificados, espinafre, lentilha, ervilha, aspargo, brócolis, milho, laranja; o Mulheres com suplementação multivitamínica contendo ácido fólico devem ser alertadas a não ingerir mais de uma dose diária, como indicado pelo produto; o A suplementação de 5 mg de ácido fólico não mascara a deficiência de vitamina B12 (anemia perniciosa); o Mulheres que pretendem engravidar devem ingerir dieta rica em folato e suplementação diária de multivitaminas com ácido fólico (0,4 a 1,0 mg) por, no mínimo, 2 a 3 meses antes da concepção e por toda a gravidez, período pós-parto (4 a 6 semanas) e por quanto tempo durar a amamentação o Pacientes com epilepsia, diabetes insulinodependente, obesidade (IMC > 35 kg/m2), história familiar ou pessoal de DTN requerem a ingesta de alimentos ricos em folato e suplementação diária de 5 mg de ácido fólico em multivitamínicos, iniciando ao menos 3 meses antes da concepção e nas 10 a 12 semanas iniciais da gravidez. Após 12 semanas e por toda a gestação até o período pós-parto (4 a 6 semanas ou enquanto durar a amamentação), é necessária a suplementação de multivitaminas com ácido fólico (0,4 a 1,0 mg). ÁCIDOS GRAXOS ÔMEGA-3: Na gravidez, a dieta costuma estar desbalanceada com relação à quantidade de ômega-3 e deficitária quando comparada à de ômega- 6. Esse desequilíbrio pode levar a estado proinflamatório, que contribui para inúmeras complicações, incluindo parto pré-termo, pré- eclampsia e depressão pós-parto. A deficiência dos ácidos graxos ômega-3 no feto coloca esses bebês sob o risco de doenças alérgicas e desenvolvimento psiquiátrico subótimo. As principais fontes de ômega-3 são os peixes gordurosos de água fria (p. ex., salmão, atum), bem como truta, sardinha, ostra e mariscos, além do óleo de linhaça e de canola, nozes e vegetais de folhas verdes (rúcula). A dieta moderna proporciona 7 a 10 vezes mais ômega-6 de que ômega- 3, quando o correto seria 5:1. Algumas autoridades têm sugerido a suplementação na gravidez com óleo de peixe altamente purificado. O único benefício realmente comprovado foi a redução significativa na incidência de parto pré- termo antes de 34 semanas em mulheres com história de interrupção prematura. Dose do suplemento de óleo de peixe: 1 a 3 g/dia. O feto não tem capacidade de sintetizar os ácidos graxos poli- insaturados de cadeia longa (LC-PUFA) por meio dos seus precursores ômega-3 e ômega-6, sendo suas necessidades supridas pela reserva do tecido adiposo materno, cruzando a placenta por difusão simples. O ácido ômega-3 é indispensável para o desenvolvimento do cérebro e da retina fetal durante todo o terceiro trimestre. A vacinação nas mulheres em idade reprodutiva deve estar idealmente completa antes da gestação, para que a mãe e o feto usufruam da imunização. Os anticorpos da classe IgG atravessam a placenta e conferem proteção passiva à criança até aproximadamente os 15 meses de vida. Esses anticorpos também são transmitidos pelo leite materno. As vacinas indicadas na gestação são: VACINA CONTRA GRIPE A E SAZONAL: A vacinação contra gripe é segura em qualquer IG, e gestantes são consideradas grupo de risco para infecção respiratória grave, devendo ter preferência nos programas de vacinação. VACINA CONTRA HEPATITE B: O esquema completo é de três doses (0,1-6 meses), iniciando a partir do primeiro trimestre e podendo estender-se até após o parto; Vacina contra difteria e tétano (dT) – O esquema de vacinação completo da dupla adulto é de três doses, devendo ser reforçada a cada intervalo de 5 anos. Se a mulher não tomou nenhuma dose dessa vacina antes de engravidar, é necessário tomar duas doses da dupla adulto, com intervalo de no mínimo 30 dias e complementar com a dTpa. Caso a mulher tenha tomado uma dose da dT antes da gestação, ela deverá reforçar o esquema com mais uma dose da dT após a 20ª semana. Se a dT tiver sido aplicada nos últimos 5 anos, não há necessidade de imunizar. VACINA CONTRA DIFTERIA, TÉTANO E COQUELUCHE (DTPA): A vacina dTpa deve ser recomendada,não importa o intervalo de tempo da última dose de dT, pois é essa a vacina que vai proteger contra a coqueluche no RN. Para as mulheres que se preveniram com duas ou mais doses da dT, recomenda-se a dTpa administrada com apenas uma dose. Mulheres grávidas devem tomar uma dose da dTpa em cada gestação, independentemente de terem tomado anteriormente. O MS recomenda a dTpa entre a 27ª e a 36ª semana de gestação, período que gera maior proteção ao RN, com efetividade de até 91%. Entretanto, a dose também pode ser administrada até, no máximo, 20 dias antes da DPP. As vacinas contra Pneumococcus, Neisseria meningitidis e Haemophilus influenzae e a vacina antirrábica podem ser aplicadas na gestação. As vacinas atenuadas (bactérias ou vírus enfraquecidos) apresentam risco teórico de contaminação do feto, sendo contraindicadas na gestação; são elas: bacilo Calmette-Guérin (BCG), tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), varicela e febre amarela. A vacina contra febre amarela, apesar de contraindicada, pode ser administrada em gestantes quando o risco de contrair a doença for elevado. A vacina contra papilomavírus humano (HPV, do inglês human papilloma virus) é contraindicada na gestação devido à falta de estudos confirmando a sua segurança. As vacinas do tipo inativadas, como a vacina contra hepatite A e a vacina meningocócica conjugada, não apresentam riscos para a gestante e para o feto; porém, devem ser aplicadas preferencialmente fora do período gestacional. ( ) A doença hemolítica perinatal (DHPN), ou eritroblastose fetal e do recém-nascido, é uma afecção generalizada, acompanhada de anemia, destruição das hemácias e aparecimento de suas formas jovens ou imaturas (eritroblastos) na circulação periférica, com atividade persistente e anômala de focos extramedulares de hematopoese. Decorre, originariamente, de incompatibilidade sanguínea maternofetal. Os anticorpos da gestante, específico para antígeno localizado nas hemácias do concepto, intervêm como elementos desencadeantes. ETIOPATOGENIA: Estão relacionados com a ocorrência de doença hemolítica os seguintes aspectos: • Incompatibilidade sanguínea maternofetal • Aloimunização materna • Passagem de anticorpos da gestante para o organismo do feto • Ação desses anticorpos maternos no concepto. → Incompatibilidade Sanguínea Materno Fetal: A DHPN é decorrente de incompatibilidade sanguínea maternofetal. Nesse caso, o concepto apresenta fator hemático de herança paterna, ausente no organismo da gestante e capaz de imunizá- la, produzindo anticorpos específico ao referido fator. → Sistema Rh: O sistema Rh é formado pelos antígenos “D”, “c”, “C”, “e” e “E” que se expressam na superfície das hemácias a partir da 6a semana de gestação. A presença do antígeno D é o que determina um indivíduo “Rh positivo “e a sua ausência um indivíduo “Rh negativo” (não são afetados). Para que ocorra a DHPN é necessário que o feto possua um antígeno sanguíneo que está ausente na circulação materna, capaz de imunizá- la, produzindo anticorpos específicos a esse fator. Ou seja, para a aloimunização Rh, é necessário que a mãe seja Rh negativo e filho Rh positivo (portanto pai Rh positivo). → Aloimunização Materna: A aloimunização é causada pela exposição materna a antígenos eritrocitários não compatíveis. Ocorre em casos de transfusão de sangue incompatível, uso de drogas intravesosas e transplante. Porém, a principal causa é a hemorragia feto-materna, que ocorre em aproximadamente 75% das gestações. A frequência e o volume da hemorragia aumentam com a evolução da gestação. Estima-se que um volume mínimo de 0,25ml é necessário para que ocorra a sensibilização. Após a primeira exposição a antígenos eritrocitários desconhecidos ocorre a sensibilização e produção de anticorpos IgM, que por terem um peso molecular maior, não são capazes de atravessar a barreira placentária. Numa segunda exposição a esse antígeno desconhecido ocorre uma resposta imunológica secundária com a produção de anticorpos IgG, que ultrapassam a barreira placentária, aderindo-se à membrana dos erirócitos fetais e causando hemólise. Quanto maior a carga antigênica e quanto mais frequente é a exposição, maior é a produção de anticorpos pela mãe, por isso a probabilidade de desenvolver DHPN se intensificam nas gestações sucessivas no caso da aloimunização Rh. O Coombs indireto é o teste que identifica o anticorpo contra hemácias no sangue materno. Ele é capaz de identificar imunoglobulinas do tipo IgG mas não IgM. Um teste negativo significa que a gestante não foi sensibilizada. Ao contrário do observado na incompatibilidade Rh, na incompatibilidade ABO não existe a necessidade da exposição prévia da mãe a sangue A, B ou AB. Ela já possui anti-A e anti-B no seu organismo em consequência à exposição a bactérias que possuem esses antígenos, ao longo de sua vida. Dessa forma, a DHPN pode ocorrer desde a primeira gestação. A gravidade da incompatibilidade ABO é menor que a Rh porque há um menor número de sítios antigênicos A e B na membrana da hemácia fetal e a maioria dos anti-A e anti-B maternos é IgM, sendo assim, não atravessam a barreira placentária. Além disso, como todos os tecidos expressam antígenos A e B, não só as hemácias, a pequena quantidade de IgG anti-A e anti-B que consegue atravessar a placenta se liga a outros sítios teciduais, não causando uma hemólise significativa. → Passagem de Anticorpos da Gestante para o Feto: O anticorpo IgG pode atravessar a placenta por difusão passiva e transporte ativo e na circulação fetal se fixam às hemácias por uma reação antígeno-anticorpo, causando hemólise. → Ação dos Anticorpos Maternos no Feto: A anemia fetal leva a eritropoese medular e extramedular (principalmente fígado, baço e parede intestinal). Eritrócitos jovens são lançados na circulação periférica originando o termo “eritroblastose fetal”. QUADRO CLÍNICO: → Diagnóstico Anteparto: Na gravidez, a incompatibilidade pelo sistema Rh poucas vezes acomete o 1º filho, exceto se houver referência à hemotransfusão sem o conhecimento prévio do fator Rh. O histórico de um ou dois filhos normais, seguidos de recém-nascidos com icterícia grave e persistente, manifesta nas primeiras horas de vida, anemia e morte nos casos de maior agravo clínico sugerem aloimunização Rh. Em outros casos, há natimortos e hidrópicos que se repetem, encerrando gravidezes de curso normal. Em mulheres com história clinica de 1 natimorto por incompatibilidade Rh, a probabilidade de se reproduzir o acidente é de 75%, que ascende para 90% quando o histórico é de 2 natimortos. A incompatibilidade ABO ocorre, na 1a gravidez, em 40 a 50% dos casos. → Ultrassonografia: A ultrassonografia é extremamente importante para o seguimento fetal na DHPN. Além de possibilitar o monitoramento de procedimentos invasivos, a ultrassonografia pode orientar a identificação dos fetos mais gravemente atingidos por anemia hemolítica, o que possibilita assentar o grau de seu comprometimento. Sinais sonográficos de descompensação fetal, de hidropisia, representam grave anemia do concepto, com hematócrito inferior a 20% e hemoglobinometria com menos de 7 g/dl. Ultrassonografia 3D de feto hidrópico, com reconstrução de superfície mostrando intenso edema facial (fácies de Buda): Ultrassonografia 3D de tórax fetal, em que se observa derrame pleural bilateral e edema subcutâneo: Diante da ausência de hidropisia do concepto, na fase compensada do seu comprometimento, outros sinais sonográficos têm muito menor importância. O aumento da espessura placentária (maior que 4 cm), perda de sua arquitetura e maior homogeneidade parecem ser os primeiros indicadores da doença. Polidrâmnio e aumento da circunferência abdominal do feto, medida seriadamente, correspondemao agravamento do processo hemolítico. → Diagnóstico Pós-Parto no Recém-Nascido: O exame do recém-nascido tem características peculiares com relação ao tipo de incompatibilidade e à forma clínica da enfermidade. o Incompatibilidade Rh: verifica-se que 10 a 15% de todos os casos são hidrópicos; outros 10 a 15% estão constituídos de formas leves, sem sintomatologia (eritroblastose de laboratório); finalmente, 70 a 80%, formas icteroanêmicas, têm gravidade variável e exigem tratamento. o Hidropisia Fetal: os recém-nascidos com esta condição apresentam- se muito deformados pela infiltração edematosa que lhes invade o corpo inteiro. O abdome de batráquio, condicionado pela ascite, caracteriza-se por fígado e baço enormes. Em geral natimortos, a sobrevivência desses bebês era exceção. As transfusões intrauterinas têm impedido a morte de muitos bebês hidrópicos. A hidropisia fetal geralmente ocorre quando a hemoglobina fetal é < 7 g/dl ou o hematócrito < 20%. o Icterícia Grave: pode-se observar icterícia, instalada precocemente, nas primeiras horas de vida. O aumento de volume do fígado e do baço é pontual. O diagnostico diferencial deve ser feito com outras icterícias do recém-nascido, como a chamada fisiológica ou benigna: esta tem início tardio (2o ou 3o dia), acomete 50% dos recém- nascidos, cede espontaneamente, sendo rara a persistência além de 2 semanas. A sonolência brutal seria patognomônica da icterícia nuclear, quando estão associados à DHPN distúrbios nervosos centrais, decorrentes da impregnação dos núcleos da base pela bilirrubina. Os sinais aparecem muitas horas depois do surgimento da icterícia. No período de estado, há hipertonia generalizada, cãibras e espasmos, com predileção destes pela musculatura da face (riso sardônico). A icterícia nuclear é de prognose sombria, em função das sequelas neurológicas, muito prejudiciais, que eclodem ao fim do 1o ano. o Anemia Grave: é a modalidade menos expressiva, clinicamente, de DHPN; há espleno e hepatomegalia, extrema palidez e anemia, com descoramento intenso das mucosas visíveis. O exame de sangue é fundamental. A icterícia, em geral presente, mascara a identificação dos sinais clínicos. No hemograma dos primeiros dias, a anemia constitui descoberta acidental; alcança seu máximo durante a 3a semana, sem relação com a icterícia e o grau de eritroblastose. o Incompatibilidade ABO: embora seja a mais frequente causa de DHPN, a anemia resultante costuma ser leve. Cerca de 20% de todos os bebês apresentam incompatibilidade ABO, mas apenas 5% são clinicamente afetados: • A doença ABO é frequentemente vista no 1o filho porque muitas mulheres do grupo O apresentam isoaglutininas anti-A e antedatam a gravidez. Esses anticorpos imunes são atribuídos à exposição a bactérias que exibem antígenos similares • Grande parte dos anticorpos anti-A e anti-B são IgM que não atravessam a placenta e, por isso, não têm acesso às hemácias fetais. Além disso, as hemácias fetais têm menos locais antigênicos A e B do que as células adultas e são, assim, menos imunogênicas. Não há necessidade de monitoramento da gravidez nem justificativa para o parto antecipado o A doença ABO é invariavelmente muito mais leve do que a aloimunização D e raramente determina anemia significante. Os bebês afetados tipicamente apresentam anemia/icterícia neonatal que pode ser tratada com fototerapia. • Em conclusão, a aloimunização ABO é uma doença pediátrica e não merece maiores preocupações obstétricas. A aloimunização ABO pode comprometer gestações futuras, mas raramente é progressiva como a Rh. O critério usual para a hemólise neonatal por incompatibilidade ABO é: • Mãe do grupo O e feto A, B ou AB o Icterícia que se desenvolve nas primeiras 24 h • Vários graus de anemia, com reticulocitose e esferocitose o Teste de Coombs direto positivo, mas nem sempre o Exclusão de outras causas de hemólise no bebê. ACOMPANHAMENTO NA GRAVIDEZ: A anamnese deve ser minuciosa. São fundamentais a história das gestações anteriores, o desfecho de cada uma delas e os possíveis eventos hemoterápicos. A assistência processa-se em três fases: • Evidenciação da incompatibilidade sanguínea entre o casal. • Determinação da possível aloimunização materna. Se presente, deve-se monitorar seu comportamento durante a gestação atual. • Avaliação das condições do concepto pela dosagem espectrofotométrica da bilirrubina no líquido amniótico e, mais recentemente, por ultrassonografia, Doppler e cordocentese. → Incompatibilidade Sanguínea do Casal: No sistema Rh, a discordância principal, gestante Rh-negativa e marido Rh-positivo, responde por mais de 90% das história clínicas de DHPN, embora se declare aloimunização materna em apenas 1:20 casos. É significativa a proteção determinada pela incompatibilidade ABO. Quando o pai biológico é Rh-positivo homozigoto, todos os filhos serão Rh-positivos; se heterozigoto, apenas 50%. → Aloimunização Materna (Teste de Coombs): A Determinação da sorologia materna é o primeiro passo para determinar sua aloimunização e, para esse objetivo, é utilizado o teste de Coombs indireto (exame imunoematológico no período pré-natal) que identifica os anticorpos anti-Rh Considera-se o título do teste de Coombs anormal quando associado a risco elevado de determinar hidropisia fetal. Esse valor varia de acordo com a experiência da instituição, mas em geral se situa entre 1:16 e 1:32. À 1a consulta de gestante Rh-negativa (com marido Rh-positivo), deve-se realizar pesquisa de anticorpos anti-Rh. Resultado negativo obriga à repetição do teste com 28 semanas. Se os teores dos anticorpos aumentam em cada Determinação, é provável que esteja sendo gerado um feto Rh- positivo, que sofrerá de DHPN. Se o título é > 1:8 até o final da gravidez, praticamente se exclui a possibilidade de nati ou neomorto. Nessas condições, o teste de Coombs é repetido mensalmente. → Ultrassonografia: Tem sido proposta uma classificação biofísica do feto na DHPN. Sua hidropisia é subdividida em leve, grave e terminal. A classificação, além de indicar o grau de comprometimento fetal, teria algum valor prognostico. → Cardiotocografia: Não tem se mostrado de grande valia na DHPN, pois só se altera em fetos gravemente anemiados, hidrópicos, nos quais as medidas terapêuticas já não seriam tão eficazes para reduzir-lhes a morbiletalidade. Traçados terminais (lisos, sinusoides, com dips tardios) correspondem a fetos gravemente atingidos por DHPN. → Doppler: Método não invasivo atualmente consagrado na avaliação do grau de anemia fetal. → Cordocentese: A cordocentese promove o acesso direto à circulação fetal, especialmente para detectar o seu grau de anemia. Como o procedimento está relacionado com 1 a 2% de taxa de óbito fetal, sua indicação está reservada para a eventualidade de a VSmáx mostrar resultado > 1,5 MoM. Utilizado nesse contexto, o sangue fetal com hematócrito < 30% é indicativo de TIV. → Dosagem Espectrofotométrica da Bilirrubina: Com o uso alargado do Doppler seriado da ACM, a dosagem espectrofotométrica da bilirrubina para diagnosticar a anemia fetal ficou relegada a 2o plano. A espectrofotometria do líquido amniótico é feita entre os comprimentos de onda de 350 a 550 mm. Nos casos normais, uma linha reta é observada; em caso de teor elevado de bilirrubina nos conceptos afetados, há deflexão ou pico no nível de 450 mm, cuja altura é a diferença de densidade ótica (ΔDO450). Valores de ΔDO450 na doença hemolítica perinatal (DHPN) – curva de Queenan: gráficos elaborados com objetivo prognostico. → Protocolo de Acompanhamento: Protocolo de acompanhamento do feto na DHPN baseia-se na história materna e no resultado dos exames Como regra geral, a 1a gravidez sensibilizada envolve risco mínimo fetal/neonatal; gestaçõessubsequentes estão associadas à piora do grau de anemia fetal. o Primeira Gestação Afetada: estando a grávida sensibilizada, o teste de Coombs é repetido mensalmente. Atingido o título > 1:8, a partir de 24 semanas de gestação dá-se início ao Doppler da ACM, que será́ repetido a cada 1 a 2 semanas. Valor da ACM > 1,5 MoM em qualquer época entre 24 e 35 semanas é indicação para cordocentese, determinação do hematócrito fetal e TIV, se necessária. Valores da ACM ≤ 1,5 MoM possibilitam o prolongamento da gravidez até 38 semanas e sua interrupção ao atingir essa data. Valores > 1,5 MoM após 35 semanas não são confiáveis e sugere-se interromper a gestação. Todavia, um protocolo recente propõe a realização da amniocentese para avaliar a maturidade fetal e a ΔDO450 nesses casos. As seguintes eventualidades são possíveis: o Maturidade pulmonar e ΔDO450 na curva de Queenan fora da zona afetada Rh-positiva de TIV – parto com 38 semanas para dar oportunidade para o amadurecimento hepático fetal; esta conduta evita a necessidade de exsanguinotransfusão e de fototerapia prolongada neonatal. Maturidade pulmonar e ΔDO450 na zona de TIV – interrupção da gravidez. Imaturidade pulmonar e ΔDO450 na zona de TIV – administração de corticoide e de fenobarbital oral (30 mg, 3 vezes/dia) por 7 dias, também reduzindo a necessidade de exsanguinotransfusão neonatal; parto após 7 dias. Imaturidade pulmonar e ΔDO450 fora da zona de TIV – repetição da amniocentese em 10 a 14 dias. o Gestação Anterior com Feto/Bebê Afetado: nessa eventualidade, o teste de Coombs materno é desnecessário, pois não é mais preditivo do grau de anemia fetal. A maioria dos centros especializados indica o Doppler seriado da ACM após 18 semanas e a sua repetição a cada 1 a 2 semanas. Nos casos raros que não necessitam de TIV, o acompanhamento é o mesmo utilizado para a 1a gravidez afetada. o Determinação do Rh Fetal: o Incompatibilidade Rh: em mulher Rh- positiva, com o teste de Coombs > 1:8, é útil conhecer o Rh fetal, não sem antes determinar a zigotia paterna. Se o pai é Rh-negativo, nada deve ser feito porque todos os conceptos serão Rh-negativos. Se a zigotia paterna revelar marido homozigoto para antígeno D, não é necessário determinar o Rh fetal, pois todos os conceptos serão Rh- positivos. Apenas na eventualidade de o marido ser heterozigoto para o antígeno D pode-se optar pela avaliação do Rh fetal. A Determinação não invasiva do Rh fetal pode ser realizada utilizando- se a técnica PCR real time do DNA fetal livre (cffDNA) no plasma materno. PROVAS IMUNOEMATOLÓGICAS NO RECÉM-NASCIDO: São indispensáveis: a determinação do grupo sanguíneo e do fator Rh e o teste de Coombs direto. → Teste de Coombs Direto: Avalia a sensibilização das hemácias do recém-nascido pelos anticorpos maternos. Deve ser feito, sistematicamente, no sangue do cordão umbilical dos bebês nascidos de mulher Rh-negativa, com ou sem aloimunização, e mesmo se ausente história sugestiva de DHPN. As reações negativas não afastam, definitivamente, a doença; nos tipos clínicos ocasionados pelo sistema ABO, elas costumam ser negativas. → Subsídio Anatomopatológico: Os focos de hematopoese extramedular (eritroblastos), encontrados em muitos órgãos (fígado, baço, placenta), são da maior relevância. Hepatoesplenomegalia está sempre presente. No icterus gravis os núcleos da base do cérebro podem tornar-se amarelo-esverdeados, o que constitui a icterícia nuclear ou kernicterus. A pigmentação ictérica parece poupar o córtex e nunca é observada em natimortos nem em bebês falecidos nas primeiras 24 h de vida; depende do nível de bilirrubina indireta plasmática, além do aumento da permeabilidade da barreira hematencefálica. O estudo da placenta mostra sua invasão pelo edema, apresentando- se 2 a 3 vezes aumentada ponderalmente e no volume, a face fetal e as membranas frequentemente amareladas. → Prevenção: o Imunoglobulina Anti-D: a imunoglobulina anti-D é um produto sanguíneo que contém títulos elevados de anticorpos que neutralizam o antígeno RhD das hemácias fetais e, assim, é efetiva na prevenção da aloimunização RhD. As vias de administração podem ser intravenosa (IV) ou intramuscular (IM). Após a administração da anti- D, o rastreamento para anticorpos apresenta resultado fracamente reativo, com título baixo. O anti-D atravessa a placenta e se liga às hemácias fetais, sem causar hemólise, anemia ou icterícia. Reações adversas são raras e costumam ser leves, tais como inchaço local, dor de cabeça, calafrios. Também são pouco frequentes reações de hipersensibilidade – urticária, coceira, exantema maculopapular – que não resistem a antialérgicos. Embora seja muito rara a ocorrência de anafilaxia após o uso da IgG anti-D, recomenda-se ter à mão solução de adrenalina. o Profilaxia Pós-Parto: se a mulher Rh-negativa não receber profilaxia IgG anti-D no pós- parto após o nascimento de bebêRh- positivo, a incidência de sensibilização na vigência de nova gravidez será́de 12 a 16%, em comparação com 1,6 a 1,9% se tiver havido a prevenção. Devem ser utilizados 300 µg de IgG anti-D dentro de 72 h do parto para mulheres Rh-negativas não sensibilizadas, com bebês Rh-positivos. IgG anti-D adicional deve ser administrado para hemorragia fetomaterna (HFM) com mais de 15 ml de hemácias fetais (30 ml de sangue). Se o anti-D IgG não tiver sido utilizado dentro de 72 h do parto ou de qualquer evento potencialmente sensibilizante, ele poderá ser empregado em até 28 dias com algum efeito protetor. o Profilaxia Anteparto: em pelo menos 50% dos casos, a sensibilização poderia ser evitada pela profilaxia anti-D de rotina com 28 semanas da gestação. Nesse sentido, está indicado no 1o trimestre da gravidez o teste de cfDNA no sangue materno para a tipagem Rh do feto. o Rastreamento Sorológico Antenatal: todas as pacientes devem ser rastreadas na 1a consulta pré-natal para anticorpos com o teste da antiglobulina indireta (teste de Coombs indireto), desde que 1,5 a 2,0% exibam anticorpos atípicos ou irregulares. 300 µg de IgG anti- D devem ser administrados a grávidas Rh-negativo não sensibilizadas com 28 semanas de gestação quando o grupo sanguíneo fetal for Rh- positivo ou desconhecido. Todas as grávidas (D-negativas ou D- positivas) devem ser rastreadas pelo teste de Coombs indireto para aloanticorpos na 1a consulta pré-natal e novamente com 28 semanas. Quando a paternidade do bebê for assegurada e a mãe for Rh-negativa, o pai deve ser submetido à tipagem Rh para eliminar a administração desnecessária de produto sanguíneo.A mulher com “D-fraco” (Du- positivo) não deve receber IgG anti-D. o Abortamento, Gravidez Ectópica e Mola Hidatiforme: após abortamento ou gravidez ectópica, há indicação para o anti-D em mulheres Rh-negativas não sensibilizadas: 120 µg até 12 semanas e 300 µg após esse período. O anti-D deve ser utilizado após a gravidez molar em mulheres Rh-negativas não sensibilizadas pela possibilidade de mola parcial. Se o diagnóstico de mola completa for certo, não há necessidade da prevenção. o Procedimentos Diagnósticos Fetais Invasivos: a amniocentese, a biopsia de vilo corial (BVC) e, especialmente, a cordocentese são procedimentos utilizados no diagnostico pré-natal causadores de HFM. Dose de 300 µg de anti-D deve ser administrada após a amniocentese e a cordocentese em mulheres Rh-negativas não sensibilizadas. Na BVC, a dose de anti-D será́de 120 µg nas primeiras 12 semanas de gestação e de 300 µg após esse prazo em mulheres Rh- negativas não sensibilizadas. o Hemorragia Anteparto, Trauma Abdominal, Versão Externa: podem determinar trauma placentário ou disrupção da interface fetomaterna com resultante HFM e sensibilização da gestante Rh- negativa. Anti-D na dose de 120 a 300 µg é recomendado, assimcomo teste de Kleihauer (eluição das hemácias) em condições associadas a possível trauma placentário (descolamento prematuro da placenta, placenta prévia, traumatismo no abdome, versão externa). Se a HFM estimada for além daquela coberta pela dose de anti-D administrada (6 a 15 ml de hemácias fetais), uma dose adicional de 10 µg de anti- D deve ser utilizada para cada 0,5 ml de hemácias fetais excedente. • Rezende Obstetrícia/ Carlos Antônio Barbosa Montenegro, Jorge de Resende Filho. – 13º ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. a. Capítulo 13 – páginas 152 a 161 b. Capítulo 39 – páginas 422 a 432 • Rotinas em obstetrícia / Organizadores, Sérgio H. Martins-Costa ... [et al.] – 7. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2017. a. Parte II – Assistência pré-natal – páginas 57 a 75. b. Parte II - Doença hemolítica perinatal – páginas 249 a 260. • Resumos da Med: https://www.passeidireto.com/arquivo/97372592/pre-natal https://www.passeidireto.com/arquivo/97372592/pre-natal
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