Buscar

Teoria geral do negocio juridico (Pratica) (1) (2)

Prévia do material em texto

2º ano de Direito	Teoria Geral do Negócio Jurídico	Ana Rita Alves
Teoria geral do negócio jurídico (prática):
A emprestou a B 5€. 
· Tradução jurídica: 
Sujeito ativo: A – direito de crédito
Sujeito passivo: B – dever especifico de prestar
Objeto mediato: 
Direito de crédito – prestação 
Facto: contrato de mútuo
Esta relação jurídica entre A e B assenta sobre uma garantia. 
Encontramo-nos perante uma relação jurídica, em que A é o sujeito ativo e B o sujeito passivo, importando realçar que ambos têm personalidade jurídica. 
Sendo que A possui um direito subjetivo e o B se encontra adstrito a um dever. 
Art. 1142.º: este facto filtrado por este artigo leva-nos a concluir que estamos perante um contrato de mútuo. Ora, deste artigo resulta que o mutuário fica com a obrigação de restituir a quantia mutuada. 
A vendeu a B um telemóvel por 50€. 
· Tradução jurídica: 
· Antes do contrato:
· Sujeito ativo: A
· Sujeito passivo: B
· Objeto imediato: 
· Direito de propriedade
· Objeto mediato: 
· Facto: contrato de compra e venda
· Esta relação jurídica entre A e B assenta sobre uma garantia. 
· Art. 874.º: A tem o direito de exigir o pagamento dos 50€. O B, por sua vez, após o pagamento, tem o direito a receber o telemóvel adquirindo o direito de propriedade. 
· Se alguém é titular de um direito subjetivo está estabelecida uma relação jurídica. 
· Art. 879.º: efeitos reais da al. a): regra do n.º 1, art. 408.º - resulta desta regra que os efeitos reais se verificam por mero efeito de contrato, ou seja, basta o acordo das partes e é neste momento que se verifica o efeito real. No c. de compra e venda o efeito é a transmissão do direito de propriedade. 
· A deixou de ser proprietário com o c. de compra a venda
· Sujeito ativo passa a ser B. 
· Sujeito passivo passa a ser A. 
· Efeitos obrigacionais da al. b) e c): obrigação de entrega e obrigação do pagamento do preço. Assim, constitui-se uma nova relação jurídica. 
· B tem o poder de exigir a entrega da coisa (ativo). 
· A tem o dever de entregar a coisa (passivo). 
· Direito a exigir o pagamento do preço A (Ativo). 
· Dever de pagar B (passivo). 
· Objeto imediato: direito de crédito (lado ativo) – dever específico de prestar (lado passivo)
· Objeto mediato: prestações
· Facto: contrato de compra a venda – art. 874.º e ss. 
· Relação jurídica assistida pela garantia. 
Facto jurídico: o evento só é jurídico se produzir efeitos jurídicos. O facto só é jurídico se constituir, modificar ou constituir uma relação jurídica. 
Classificação dos factos jurídicos: 
1. Facto jurídico natural: é irrelevante a vontade humana. 
2. Ato jurídico: é relevante a vontade humana.
2.1. Ato jurídico licito: aquele que é conforme à ordem jurídica. 
2.2. Ato jurídico ilícito: aquele que é desconforme à ordem jurídica. 
2.3. Ato jurídico simples: basta existir vontade de ação. É irrelevante a vontade funcional. Os efeitos decorrem diretamente da lei. 
2.4. Negócio jurídico: é essencial para a existência de vontade funcional. Os efeitos jurídicos do negocio jurídico decorrem da vontade. É, portanto, um ato autónomo de vontade tendente à produção de efeitos jurídicos. 
a) Vontade de ação: traduz-se na intenção de ter uma atuação no mundo material, sendo que essa atuação pode ser por ação ou por omissão. 
b) Vontade de declaração: significa que aquela atuação no mundo material tem um conteúdo significativo. Quer dizer que aquele que atuou, além de atuar, quer que essa atuação leve uma determinada para um destinatário.
c) Vontade funcional: é a vontade direcionada à produção de efeitos jurídicos. Quer isto dizer que eu tenho vontade de atuar, quero que essa atuação tenha um significado declarativo, mas quero mais que esse, quero que com esse significado declarativo se produzam determinados efeitos jurídicos. Só quando há esta vontade é que temos um negócio jurídico. 
Subclassificação do negócio jurídico: 
1. Negocio jurídico unilateral: basta uma só parte para que se produza efeitos jurídicos (exemplo: testamento).
2. Negocio jurídico bilateral/contrato: são necessárias, pelo menos, duas partes para que o negócio se torne eficaz.
(*uma parte é um suporte de interesse*)
Caso prático 1:
António fez anunciar nas redes sociais que dava 100€ a quem encontra-se o seu cão colocando uma foto do mesmo.
Dez dias depois, Carlos, que desconhecia o anuncio feito, encontrou o animal e entregou a António. 
Analise a situação, classificando os factos enunciados. 
O anúncio feito por António nas redes sociais corresponde a um negócio jurídico unilateral, designadamente uma promessa pública (art. 459.º do CC). 
O anuncio feito por António é relevante juridicamente, constituindo desta forma uma relação jurídica. 
Sujeito passivo: António
Sujeito ativo: indeterminado, mas determinável (art. 511.º)
No momento em que o anúncio é feito, este constitui uma relação jurídica em que o A fica como sujeito passivo e o sujeito ativo encontra-se indeterminado. Este é um ato jurídico, mais especificamente um negócio jurídico unilateral porque bastou a vontade do António para que se produzissem efeitos. 
O Carlos encontra o animal, ou seja, praticou o facto que o leva a adquiri na esfera jurídica o direito a receber os 100€. Os efeitos produzidos por este facto jurídico vão alterar e modificar a relação jurídica. O sujeito ativo passa a ser Carlos e passa a ter o direito de exigir ao António os 100€. 
Falta classificar este facto: é um ato jurídico simples porque basta a vontade de ação. 
Caso prático 2:
António enviou uma mensagem por correio eletrónico a Bernardo, com o seguinte teor: 
· Compro-te por 1000€ o quadro x que o outro dia vi na tua galeria; 
· Compro-te, também por 1000€ a escultura y; 
· Aguardo por 8 dias que me digas algo.
Três dias depois, Bernardo, sem nada dizer, mandou entregar em casa de António o quadro x. Quinze dias depois, Bernardo vendeu o quadro e a escultura a Carlos. 
Analise a situação, e diga quem é o proprietário dos bens em causa.
Resolução: 
Declaração negocial expressa – art. 217.º e ss. 
O objetivo é a celebração de um contrato de compra venda.
Art. 219.º – vigora a liberdade de forma (neste caso, mensagem de correio eletrónico). 
Esta declaração feia por A ao B é uuma proposta contratual – art 224.º e ss.; 874.º e ss. – proposta de compra
Efeitos produzidos por esta declaração negocial: 
A declaração de A tornou-se eficaz no momento que chegou ao conhecimento do B – art 224.º, n.º 1. Uma vez que estamos face a uma declaração receticia. Só se torna eficaz quando chega ao conhecimento do destinatário. 
No momento em que chegou ao poder de B, este ficou com o direito potestativo de aceitar ou não aceitar a proposta. A ficou com o estado de sujeição.
Aceitação tácita da proposta contratual –
 art. 228.º, n.º 1 – conclusão do contrato; 
Direito de propeidade transfere-se da esfera jurídica do B para o A – art. 874, 879, 408, n.º 1
A escultura: 
Declaração negocial expressa por parte do A – proposta contratual, proposta de compra da escultura. 
Ao fim de oito dias caduca a proposta. atitude de omissão/silencio que não vale como meio declarativo – art. 218.º
Não houve conclusão do contrato de compra a venda, continuando a escultura a ser do B. 
B vende o quadro e a escultura a C: 
Bernardo não tinha legitimidade para vender o quadro – venda inóqua. Em conclusão, o quadro pertencia ao António e a escultura a Carlos. 
Caso prático 3: 
A e B encontraram-se num café, sendo que o primeiro interpelou o segundo perguntando-lhe se este tinha interesse no relógio que ele trazia no pulso. B nada disse.
Dez minutos depois, quando B se preparava para ir embora, A pegou no relógio e disse-lhe o seguinte: “leva o relógio contigo e se nada disseres no prazo de 10 dias é porque ficas com ele por 100€”. B, nada dizendo, pegou no relógio e foi embora. 
Cinco dias depois, A, vendeu aquele mesmo relógio a C. 
Os dez dias passaram sem que B dissesse seja o que for. 
Após estes factos quem é o proprietário do relógio?
Estamos face a uma proposta contratual, sendo uma declaração negocial expressa – art.224.º e ss. 
A diz ao B leva o relógio e se nada disseres no prazo de 10 dias é porque o queres: 
A pretende que o silêncio, neste caso, possa valer como meio declarativo por parte de B. 
O B ao pegar no relógio e ao levá-lo com ele, mesmo nada dizendo, a sua atuação corresponde a uma aceitação tácita da parte da proposta que diz respeito ao silêncio. Ou seja, o B com a sua atuação está a aceitar tacitamente que o silêncio passe a valer como meio declarativo. 
Interpretando os factos, isto quer dizer que, perante o art. 218.º e porque houve acordo das partes nesse sentido o silencio passou a valer como meio declarativo.
A faz uma proposta de venda. O A e o B acordam que o silêncio passa a valer como efeito declarativo. Daqui resulta que o B fica com o direito potestativo de aceitar ou não a posposta de A, que fica com o estado de sujeição. 
Cinco dias depois, A vende o relógio a C: 
Contrato de compra e venda entre A e C – art. 874.º; 879.º; 408.º, n.º 1. 
Significa que o direito de propriedade se se transfere da esfera jurídica do A para a esfera jurídica do C, passando C a ser proprietário do relógio. 
É obvio que nasce a obrigação da entrega da coisa e do pagamento do respetivo preço.
Chegados os 10 dias temos: 
O silêncio do B. No momento em que termina o prazo, o silêncio do B, produz os seus efeitos, ou seja, conclui-se o contrato de compra e venda entre o A e o B. 
No fim do prazo de 10 dias, o proprietário do relógio neste momento já é C. 
A venda feita por A a B é uma venda de bens alheios. 
Quer isto dizer que o proprietário do relógio é o C. 
(B tem de entregar o relógio a C. Se não o entregar, C tem a faculdade de reivindicação, art. 1311.º, podendo B ser condenado a entregar o relógio.) – informação adicional
A atuação de A é censurada, ao abrigo do art. 227.º - responsabilidade civil pré contratual. Desta forma, A terá de indemnizar o B por todos os danos que lhe causou com esta situação.
Caso prático 4:
António enviou um e-mail a Carlos, recebido no dia 1, propondo a venda de um determinado quadro, pela quantia de 1500€ e solicitando resposta até ao dia 10. 
Suponha as seguintes hipóteses: 
1. No dia 3, António vende o quadro a Pedro e no dia 8 recebe um e-mail de Carlos, no qual este dizia que aceitava comprar o quadro por aquele preço. A quem pertence o quadro?
Declaração negocial expressa, mais concretamente uma proposta de venda (art. 224.º e ss.; 874.º e ss.). 
Sendo que a proposta se torna eficaz (quando é recebida, dia 1 neste caso, até dia 10). Até ao dia 10 o António está vinculado à proposta, ficando num estado de sujeição. E o Carlos fica com direito potestativo de aceitar ou não a proposta de António. 
Acontece que António vende o quadro ao Pedro (art. 874.º, 879.º e 409) hoye transferência de propriedade da esfera jurídica do António para o Pedro.
Posteriormente, Carlos responde que aceitava comprar o quadro, no dia 8, concluindo-se o contrato de compra e venda entre António e Carlos. No entanto, o quadro nesse dia já não pertence a António, pertence a Pedro. António carecia, então, de legitimidade para vender o quadro nessa altura. 
892.º - compra e venda de bens alheios. E este contrato entre Carlos não é apta a produzir efeitos reais, uma vez que estes já tinham sido produzidos no dia 3. Pertencendo, portanto, o quadro a Carlos. 
Geradora de responsabilidade civil pré-contratual (art. 227.º). António teria de indemnizar Carlos por danos.
2. No dia 5, Carlos respondeu, por e-mail, recebido por António no dia 6, dizendo que aceitava comprar por 1250€ e marcando 10 dias a António para este responder, sob pena de se considerar o negócio concluído. No dia 20, António, sem nada ter dito a Carlos, vendeu o quadro a Pedro. A quem pertence o quadro?
A declaração por parte do Carlos não é uma declaração de aceitação da proposta. Carlos diz que está interessado, mas por 1250€ - Art. 233.º - aceitação com modificações. Isto é uma nova proposta contratual. Ficando o António com o direito potestativo de aceitar ou não. 
Importa determinar se o nada dizer por parte de António levou ou não à conclusão do contrato. Por força do art. 218.º o silencio não vale como meio declarativo, em regra. So vale quando a lei assim o determinar, quando houver acordo das partes ou dos usos. 
Consequente, no nosso caso o silencio não valia como meio declarativo. Isto significa que o nada dizer por parte de António aqui foi inócuo, não tendo qualquer consequência jurídica, nunca chegando a haver contrato de compra e venda. Permanecendo o legitimo dono do quadro António. 
O contrato de compra e venda, por sua vez, entre António e Pedro produz os seus efeitos, sendo o direito de propriedade transferido da esfera jurídica de António para Pedro. (art. 879.º, 408.º, n.º1). 
Consequentemente, o quadro pertence ao Pedro, neste caso.
3. No dia 10, Carlos enviou um e-mail a António, que, em virtude de um problema no servidor de correio eletrónico, só foi por este recebido no dia 11. No dia 12, António vendeu o quadro a Pedro. A quem pertence o quadro?
António num estado de sujeito e Carlos direito potestativo de aceitar ou não. 
Esta proposta tinha eficácia até ao dia (art. 228, n.º 1, al. a)). Certo é que o Carlos no dia 10 respondeu através de um e-mail dizendo que aceitava ficar com o quadro. Só que esse e-mail não foi recebido no dia 10, mas dia 11. Sendo que no dia 12 António vendeu o quadro a Pedro. 
Para a conclusão do contrato, é necessário saber se a resposta do Carlos, apesar de só recebida no dia 11, foi capaz de levar à conclusão do contrato. 
A proposta feita por António era eficaz ate ao final do dia 10. Para haver conclusão do contrato, a declaração de aceitação tem só se torna eficaz, chegando ao poder ou conhecimento do destinatário. 
Este caso só chegou ao poder do destinatário no dia 11, a declaração de aceitação e só ganha eficácia no momento em que a proposta já perdeu eficácia. 
A declaração de aceitação não tem a virtualidade de levar a conclusão do contrato porque a proposta já não era eficaz. 
No dia 12, assim sendo, António ainda é proprietário e sendo-o, legitimamente vendeu ao Pedro e o Pedro é o legitimo proprietário, uma vez que produziu os seus normais efeitos (art. 879.º, 408.º, n.º 1)
Caso prático 5:
António, no dia 5/11/2019 enviou a Bento uma carta com o seguinte teor:
“vendo-te o apartamento X, do qual já te enviei a respetiva documentação, pelo preço de 50 000€, e vendo-te também o veículo automóvel X, por 10 000€. No dia 14/11 António recebeu na sua conta bancária a quantia de 60 000€, provenientes de uma transferência bancária efetuada por Bento.
Dia 15/11 António vendeu o apartamento e o automóvel a Carlos.
A quem pertencem estes bens?
António faz a proposta de venda e Bento fica no estado de sujeição, com o direito potestativo de aceitar ou não.
Esta carta consubstancia duas propostas contratuais de venda: do apartamento e do automóvel.
Quanto à proposta de venda do apartamento, esta não é viável juridicamente pois não é formalmente adequada. E não é formalmente adequada porque visa a celebração de um contrato de compra e venda de um bem imóvel e, por força do art. 875.º CC, para a compra venda de bens imóveis é necessária uma forma especial, nomeadamente escritura pública ou documento particular autenticado.
A carta é apenas um documento particular. Assim, pode-se concluir que a proposta não é formalmente adequada e consequentemente, mesmo que se entendesse que afinal haveria o contrato de compra e venda, esse contrato seria nulo por violação do art. 875.º e, de tal forma, não produziria quais efeitos nos termos conjugados do art. 220.º e 286.º e ss. CC.
Resumindo, esta declaração negocial do António quanto à venda do apartamento não é formalmente adequada e, por isso, é inviável juridicamente para a celebração do contrato de compra e venda.
Quanto ao automóvel, tem-se aqui uma declaração negocial expressa, que é uma proposta contratual (art. 217.º e 224.º e ss. CC), proposta essa que é uma proposta de venda (art. 874.º e ss. CC). Esta proposta, ganhando eficácia,faz com que Bento fique com o direito potestativo de aceitar ou não aceitar e que António fique no estado de sujeição.
Importa também determinar o período de eficácia da proposta, tipificado no art. 228.º n.º 1 CC.
Desta forma, neste caso, António não determinou o período de eficácia, por isso não se aplica aqui a alínea a). A alínea b) também não se aplica, pois esta pressupõe que o preponente tenha pedido uma resposta imediata, o que não foi o caso. Assim, aplica-se a alínea c), da qual resulta que se deve aplicar o prazo resultante da alínea b), com o acréscimo de mais 5 dias.
Assim, neste caso, o prazo decorrente da aplicação da alínea b), conjuntamente com a jurisprudência e a doutrina, que têm entendido que quando é utilizada a carta o prazo suficiente para a proposta ser emitida e chegar ao destinatário e a resposta ser emitida e chegar ao respetivo destinatário é de 3 dias (3 dias para a proposta e 3 dias para a aceitação, ou seja, 6 dias). Ora. Juntando 6 dias da aplicação da alínea b) com mais 5 dias da aplicação da alínea c), tem-se, no total, 11 dias de eficácia da proposta. Então, neste caso, a proposta seria eficaz até dia 16. O que acontece é que no dia 14 Bento faz o deposito do preço do automóvel. Fazendo isto, o seu comportamento, não consubstanciando uma declaração expressa de aceitação, consubstancia uma declaração tácita de aceitação (art.217.º CC). Quer isto dizer que dia 14 conclui-se o contrato de compra e venda do automóvel entre António e Bento e, como tal, o direito de propriedade transferiu-se da esfera jurídica do vendedor, António, para a do comprador, Bento (874.º 879.º e 408.º n.º 1). 
Logo, no dia 15/11, quando António vende a Carlos o apartamento este fá-lo na qualidade de proprietário do mesmo e, por força do 874.º 879.º e 408.º n.º 1, dá-se a transferência de propriedade desta para Carlos.
Relativamente ao automóvel, no dia 15/11 este já pertencia a Bento, o que significa que António, nesta data, estava a vender algo que já não lhe pertence, e como tal esta compra e venda do automóvel não é apta a produzir efeitos reais, corresponde a uma compra e venda de bens alheios (art. 892.º CC)
A) Pressuponha, agora, que bento respondeu por carta, depositada na caixa de correio de A no dia 14 e lida por este no dia 16. Daquela carta constava que bento aceitava a proposta feita por António. Sabendo-se que nesta situação não houve transferência bancaria e que no dia 15/11 António vendeu o apartamento e o automóvel a Carlos, diga a quem pertencem aqueles bens.
Quanto ao imóvel, não é formalmente adequado, por isso não há contrato de compra e venda viável juridicamente. Mesmo que se defenda que tinha havido uma compra e venda do bem imóvel esta seria nula por não cumprir a forma exigida pelo art. 875.º e violar o art. 220.º. Consequentemente, António manteve-se proprietário do apartamento e quando vende a Carlos vende bem.
Relativamente ao automóvel, está aqui presente uma declaração expressa, através da carta.
No entanto surgiu um problema: a carta chegou dia 14 e só foi lida no dia 16, sendo o prazo de eficácia da proposta, como já se viu, até dia 16. Sendo que no dia 15 António vendeu o automóvel a Carlos.
Neste caso prático, o ponto axial é saber se a aceitação se tornou eficaz no dia 14 ou apenas no dia 16, isto é, se se tornou eficaz quando chegou à caixa do correio ou apenas quando foi lida por António.
Assim, segundo o art. 224.º n.º 1, a declaração torna-se eficaz quando chega ao poder ou conhecimento do destinatário. Chega ao poder quando se está em condições de ser conhecida pelo destinatário (perspetiva do prof.) e chega ao conhecimento quando o destinatário tem ciência do conteúdo da declaração. Aplicando esta norma ao presente caso prático, a declaração de aceitação de Bento torna-se eficaz no momento em que chega à caixa de correio de António, ou seja, no dia 14. Como tal, neste mesmo dia, ficou concluído o contrato de compra e venda do automóvel entre António e Bento, e, consequentemente, a transferência de propriedade do mesmo para Bento (art. 874.º 879.º e 408.º n.º 1) 
Concluindo, no dia 15/11, quando António vende o automóvel a Carlos, este está a vender algo que já não lhe pertence, que já é propriedade de Bento, e, como tal, esta compra e venda do automóvel não é apta a produzir efeitos reais, corresponde a uma compra e venda de bens alheios (art. 892.º CC)
Para mais informações, ver Código civil anotado de Antunes varela e Pires de Lima 
Caso prático 6:
José escreveu uma carta a Manuela recebida no dia 2, propondo a venda de uma determinada joia pela quantia de 150€ e solicitando resposta até ao dia 10. No dia 5, Manuel respondeu, por outra carta, aceitando, tendo um funcionário dos CTT, no dia 6, deixando aviso para levantar a carta na estação de correios, uma vez que José não se encontrava em casa. Certo é que a carta acabou por ser devolvida a Manuel, uma vez que José não a foi levantar à estação de correios no prazo que tinha para tal.
José, no dia 20, vendeu aquela mesma joia a Pedro. 
A quem pertence a joia?
O José enviou a carta ao Manuel propondo a venda de uma joia por 150€:
Declaração negocial expressa, tipificada como uma proposta contratual (art. 224.º e ss) e, mais concretamente, é uma proposta de venda (874.º e ss.). 
A proposta ganhando eficácia, e ela ganha eficácia enquanto declaração recetícia quando chega ao poder ou conhecimento do destinatário. 
José estado de sujeição; Manuel direito potestativo
Prazo de eficácia da proposta, uma vez que José solicitou resposta ate ao dia 10, quer isto dizer que nos termos do art. 228.º, n.º 1, al. a), a proposta estava eficaz até ao dia 10. 
Quer isto dizer que Manuel deveria exercer o seu direito potestativo dentro do prazo da proposta para que o contrato se pudesse concluir.
Manuel responde por carta no dia 5 e aceita a proposta, carta essa que chega ao poder de José no dia 6, só não chegou ao poder nesse dia porque José não estava em casa para receber a carta e como tal foi deixado um aviso na caixa de correio de José para este ir à estação dos CTT levantar a carta. Certo é que ele não foi levantar carta nenhuma e, no dia 20, ele vende aquela mesma joia ao Pedro. Ao fim ao cabo o que se pretende saber é a quem é que pertence a joia. 
É saber se entre José e Manuela se concluiu o contrato ou não, saber se a atuação do Manuel a dizer que aceitava se se tornou eficaz ou não.
A carta enviada pelo Manuel ao José, não chegou ao poder nem ao conhecimento de José. Para chegar ao poder teria de estar em termos de ser conhecimento, e ao conhecimento muito menos chegou. Na perspetiva não há hipótese de aplicação do n.º 1, do art. 224.º. 
No entanto, neste artigo, n.º 2, existem duas válvulas de segurança, dois regimes que de alguma forma excecionam a regra do n.º 1, mas que levam também à eficácia da declaração. 
Deste artigo resulta que se por culpa do destinatário da carta a mesma não chegou ao seu poder e não foi dele conhecida entende-se que ela ganhou eficácia. Neste caso, José propõe ao Manuel a venda da joia e dá-lhe prazo para ele responder, por isso ele deve receber a proposta dele. José podia ter ido levantar a carta e como não o fez, nunca chegou ao seu poder/conhecimento. A carta só não chega ao José por culpa que lhe é imputada e, portanto, de acordo com este art., a declaração ganhou eficácia. 
Por aplicação deste artigo, isto significa que a declaração de aceitação do Manuel ganhou eficácia, e desta forma conclui-se o contrato. Concluindo-se o contrato, aplicam-se as regras do contrato de compra e venda e transfere-se o direito de propriedade. 
Manuel passou a ser o proprietário. 
No dia 20, vende uma coisa a Pedro que já não é sua – compra e venda de bens alheios (ver os artigos). 
Caso prático 7: 
Pedro contratou uma empresa especializada para proceder à entrega de um determinado quadro em casa do seu filho João. O quadro ia acompanhado de uma carta, na qual, singelamente, era dito “espero que este quadro simbolize o fim de tantos anos de conflito”. 
Um mês depois, Pedro é citado parauma ação judicial proposta pelo seu filho, relativa a um diferendo pela propriedade de um terreno.
Descontente com a situação, Pedro exigiu a devolução do quadro sendo que João disse que o quadro já era dele e que não o iria restituir. 
Quid iuris? 
Pedro quer a restituição do quadro e João diz que o quadro já é dele. Saber se entre o Pedro e o João foi celebrado um contrato de doação. Para tal, tem de haver uma declaração da parte do doador a dizer que doa e do donatário a dizer que aceita. Só havendo essas declarações é que se conclui se houve ou não contrato de doação. 
Analisar os comportamentos do Pedro e do João: 
Pedro: 
Contrata uma empresa e manda entregar o quadro com uma carta. Ora, isto sem mais, parece que temos aqui uma declaração, mas que não é expressa no sentido que quer doar o quadro ao filho. 
Aquilo que Pedro faz consubstancia uma declaração tácita por parte dele, retirando que ele quer doar o quadro o filho, mais concretamente uma proposta de doação (217.º, 940.º e ss.; 224.º e ss, sendo que por via deste n.º 1, esta proposta ganhou eficácia no momento em que o quadro e a carta chegam ao poder do joão).
Ora, se aplicarmos as normas gerais vamos ter de aplicar o 228.º, al. c), n.º1. aplicando esta al. diríamos que um mês depois a proposta já não era eficaz, ou seja, o joao nada fez, apenas um mês depois de receber o quadro é que diz ao pai que entende que o quadro é dele e não o vai devolver. Poderíamos retirar que estaria, neste momento, a aceitar a proposta de doação. Mas, aceitar um mês depois a proposta já não estava eficaz. Logo, teríamos de concluir que não houve conclusão do contrato de doação. 
No entanto, no que respeita a doação, existe o art. 945.º e, mais concretamente, o n.º2, parece plausível defender que houve tradição da coisa e havendo essa tradição, ela é entendida como um ato de aceitação. Este n.º 2 está a dar algum valor ao silencio do donatário, no sentido dessa atuação resultar a aceitação da proposta de doação. Podemos concluir que houve conclusão do contrato de doação entre Pedro e João. E tendo havido a conclusão por força do 954.º e 408.º, n.º 1, o direito de propriedade do quadro transferiu-se da esfera jurídica do Pedro para a esfera jurídica do João. Ora, diríamos que quem tem razão é o João. A doação conclui-se. 
Caso prático 8: 
José escreveu uma carta a Manuel, recebida no dia 2, propondo a venda de uma determinada joia pela quantia de 200€. 
Suponha que no dia 14, Manuel respondeu por outra carta, recebida por José no dia 15, dizendo que aceitava comprar, carta essa que só foi lida no dia 17. 
Entretanto, no dia 16, José vendeu aquela mesma joia a Alberto. 
A quem pertence a joia?
Neste caso, tem-se aqui uma declaração negocial expressa, que é uma proposta contratual (art. 217.º e 224.º e ss. CC), proposta essa que é uma proposta de venda (art. 874.º e ss. CC). Esta proposta, ganhando eficácia, faz com que Manuel fique com o direito potestativo de aceitar ou não aceitar e que José fique no estado de sujeição.
A proposta tornou-se eficaz no dia 2, momento em que chegou ao poder do destinatário (art. 224.º n.º 1 CC)
Importa também determinar o período de eficácia da proposta, tipificado no art. 228.º n.º 1 CC.
Desta forma, neste caso, José não determinou o período de eficácia, por isso não se aplica aqui a alínea a). A alínea b) também não se aplica, pois esta pressupõe que o preponente tenha pedido uma resposta imediata, o que não foi o caso. Assim, aplica-se a alínea c), da qual resulta que se deve aplicar o prazo resultante da alínea b), com o acréscimo de mais 5 dias.
Assim, neste caso, o prazo decorrente da aplicação da alínea b), conjuntamente com a jurisprudência e a doutrina, que têm entendido que quando é utilizada a carta o prazo suficiente para a proposta ser emitida e chegar ao destinatário e a resposta ser emitida e chegar ao respetivo destinatário é de 3 dias (3 dias para a proposta e 3 dias para a aceitação, ou seja, 6 dias). Ora. Juntando 6 dias da aplicação da alínea b) com mais 5 dias da aplicação da alínea c), tem-se, no total, um prazo de 11 dias. Ou seja, o prazo de eficácia da proposta seria até dia 13.
No entanto, a resposta apenas ganhou eficácia no dia 15, momento em que a proposta contratual já não era eficaz.
Com isto conclui-se que entre José e Manuel não se chegou a concluir o contrato de compra e venda, o que significa que o contrato celebrado entre José e Alberto, no dia 16, é válido.
Assim, por via dos efeitos do contrato de compra e venda (arts. 874.º, 879.º e 408.º n.º 1 CC), o proprietário da joia é Alberto.
Caso prático 9:
Joaquim outorgou uma procuração atribuindo poderes a Daniel para este comprar quaisquer bens imoveis destinados a habitação, pelo preço e restantes condições que entendesse.
Munido daquela procuração, Daniel decidiu comprar a Carlos, por escritura pública, em nome e representação de Joaquim, um armazém pelo preço de 200.000€.
Dois dias depois, Daniel deu conhecimento do negócio a Joaquim, que, de imediato, efetuou uma transferência bancária de 200.000€ para a conta bancária de Carlos.
Três dias depois, Carlos restituiu os 200.000€ a Joaquim, informando, ainda, que nesse mesmo dia iria vender o armazém a Pedro, o que efetivamente veio a fazer.
Joaquim e Pedro arrogam-se proprietários do armazém.
Quid Iuris
A procuração (art. 262.º) é um instrumento pelo qual o representado atribui poderes ao representante (procurador). Do conteúdo da procuração devem resultar os poderes do procurador.
Neste caso, o procurador tinha poderes para comprar quaisquer bens imóveis destinados à habitação pelo preço e restantes condições que entendesse convenientes. Assim, é este o conteúdo e o âmbito de poderes que o Daniel tinha para atuar. E por isso, se atuasse dentre destes poderes estava a atuar em conformidade com a procuração e os efeitos dos seus atos iriam projetar-se na esfera jurídica do Joaquim.
Quanto á forma da procuração, vigora o princípio da liberdade de forma. No entanto, por via do nº 2 do 262.º, a procuração revestirá forma especial desde que essa forma seja exigida para o negócio que se visa celebrar. neste caso, a procuração é passada para a compra de bens imóveis. Ora, para a compra de bens imóveis, por força do art. 875.º, é preciso forma especial, isto é, documento particular autenticado ou escritura pública. Isto significa que a procuração também deveria ser feita por uma destas formas.
A primeira questão que tem se colocar é se Daniel, ao comprar o armazém, estava a atuar dentro ou fora dos poderes que lhe foram conferidos. Fica-se a saber isto mediante o conteúdo da procuração. Ora, a procuração conferia-lhe poderes para comprar bens imóveis destinados a habitação. No entanto, Daniel comprou um armazém, e os armazéns não se destinam à habitação.
Desta forma, conclui-se que Daniel atuou fora dos poderes, o que significa que esta sua atuação não produz quaisquer efeitos (art. 268.º)
Será ineficaz a não ser que tenha havido ratificação (art. 268.º n.º 1). A ratificação é um ato do representado no caso de o representante ter atuado em seu nome sem poderes para tal, através do qual este vai confirmar o negócio e faz seus os efeitos produzidos por esse negócio (avoca para si os efeitos produzidos por esse negócio). 
O ato de ratificação é uma declaração negocial. E, como já se sabe, estas podem ser expressas ou tácitas, ou através do silêncio quando é atribuído esse valor ao mesmo. Neste caso, Joaquim não disse que aceitava a copra do armazém, mas fez a transferência dos 200.000€. Assim, à primeira vista este comportamento parece ser uma declaração tácita de ratificação do negócio. No entanto, o n.º 2 do art. 268.º CC tipifica que a ratificação está sujeita à mesma forma exigida para a procuração, ou seja, por documento particular autenticado ou por escritura pública. Ora, neste caso, a ratificação não foi por nenhum documento, antes foi através de um ato de transferência dos 200.000€. isto significa que o ato de ratificação, por violação do n.º 2 do art. 268, do n.º 2 do art. 262.º e do art.875.º, é nulo (art. 220.º) e, consequentemente não produz quaisquer efeitos. Neste seguimento, não produzindo quaisquer efeitos, a compra feita pelo Daniel em nome e representação de Joaquim é ineficaz.
Sendo ineficaz, a venda feita posteriormente a Pedro produz os seus normais efeitos (art. 874.º, 879.º e 408.º n.º 1 CC), isto é, concretiza-se a transferência de propriedade sobre o armazém da esfera jurídica de Carlos para a de Pedro.
Concluindo, Pedro é o legítimo proprietário do armazém.
Caso prático 10:
António pretende comprar um quadro do artista plástico Daniel. Como não pode deslocar-se a Lisboa para proceder à aquisição, outorga uma procuração através da qual atribui poderes a Carlos. Da procuração consta o seguinte: “concedo os necessários poderes a Carlos para este, em minha representação, adquirir quaisquer obras de arte, do artista plástico Daniel, pelo preço e restantes condições que entender por convenientes”. 
Chegado a Lisboa, Carlos dirige-se ao ateliê de Daniel e, munido da procuração, acaba por comprar, em representação de António, uma escultura, pelo preço de 10 000 €. 
De regresso ao Porto dá noticia da aquisição a António, o qual mostra, desde logo, o seu profundo desagrado, uma vez que aquilo que pretendia, conforme indicações expressas que lhe tinha dado, era adquirir o quadro e não uma escultura. 
No dia seguinte, Daniel exige a António o pagamento do preço, sendo que este afirma que não quer a escultura e, por isso, nada tem a pagar. 
Quid iuris?
António não podendo deslocar-se a Lisboa outorga uma procuração atribuindo poderes ao Carlos. 
A procuração é um negócio jurídico unilateral atributivo de poderes representativos (art. 262.º e ss). Quanto à forma, neste caso vigorava a liberdade de forma por se tratar da compra e venda de bens móveis, para os quais não é necessária forma especial, portanto a procuração também não necessitaria de forma especial. 
Importa delimitar o campo de atuação do procurador. Do enunciado da procuração António deu poderes para Carlos comprar quaisquer obras de arte a Daniel, embora Carlos soubesse que os poderes lhe foram conferidos para a compra de um quadro.
Munido dessa procuração o Carlos vai, então, ao ateliê do Daniel e acaba por comprar uma escultura. De regresso ao Porto o que se percebe é que António não ficou contente com a situação porque aquilo que ele queria um quadro e o Carlos acabou por lhe comprar uma escultura. Por isso António entende que nada comprou e, por isso, nada deve. Por sua vez, Daniel entende que vendeu e que terão de lhe pagar a escultura. 
O ponto axial deste caso é saber se efetivamente foi celebrado o negócio de forma eficaz ou não, ou seja, se a Compra e Venda celebrada entre Carlos, em representação de António, e o Daniel foi eficaz ou não.
O que determina o campo de atuação do procurador é o enunciado da procuração, é esse enunciado que diz quais são os poderes que o procurador tem. 
Ora, no nosso caso, o enunciado da procuração refere o seguinte: “adquirir quaisquer obras de arte, do artista plástico Daniel, pelo preço e restantes condições que entender por convenientes”. Por isso este é o campo do âmbito dos poderes de atuação do procurador. 
Em principio, se o procurador atuar dentro dos seus poderes os negócios por ele celebrados são eficazes e vão projetar efeitos para a esfera do representado – principio geral, art. 258.º. 
Convém realçar que a procuração serve, de alguma forma, para mostrar ao terceiro que o representante do procurador está a atuar dentro dos poderes. É um instrumento que de alguma forma protege o representado e protege o terceiro que confiando no enunciado da procuração contrata. 
No nosso caso concreto, o que aconteceu é que o Carlos tinha poderes para comprar a escultura, apesar do António lhe ter dado poderes amplos e querer o quadro, certo é que objetivamente o Carlos tinha poder para comprar a escultura. 
Se nos colocarmos na posição do Daniel olha a procuração e vê que António deu poderes ao Carlos para este comprar quaisquer obras de arte, sendo certo que uma escultura é uma obra de arte e, como tal, o Daniel vende. 
Pode-se desde já chegar a uma conclusão: o Carlos não atuou fora dos seus poderes de representação, por isso, não se aplica, sem mais, o art. 268.º. este não é um caso de falta de poderes de representação.
Certo é, por outro lado, que o Carlos utilizou mal os poderes que lhe foram conferidos, porque foram-lhes conferidos aqueles poderes para comprar um quadro e ele acabou por comprar uma escultura. 
Então, o que temos é um caso de desvio, um caso de abuso dos poderes de representação, isto é, deram-lhe poderes para ele prosseguir um determinado fim, apesar dos poderes serem amplos e darem para outros fins e Carlos acaba por não prosseguir o desidrato objetivo do representado, mas seguiu outro objetivo. E, por isso, estamos aqui face a uma situação de abuso de poderes de representação, aplicando-se, aqui, art. 269.º. 
O que flui do artigo anteriormente mencionado é o seguinte: se o procurador atuou dentro dos poderes de representação, o negócio é eficaz. A regra é esta, a da eficácia do negócio.
O negócio só não será eficaz, e aqui o art. 269.º remete para a aplicação do art. 268.º, nos casos em que o terceiro com quem o procurador contratou sabia ou devia saber que ele estava em abuso de poderes de representação. Se este não sabia o negocio é perfeitamente eficaz, sendo apenas um problema entre o representado e o procurador. 
Só passa a ser um problema imputável ao terceiro se este sabia ou devia saber que o procurador estava a atuar em abuso de poderes de representação.
Significa isto que, no âmbito deste caso prático, não há nenhum facto que refira que Daniel sabia ou devia saber que o Carlos estava a abusar de poderes. Isto é, que o Carlos tinha a procuração para comprar o quadro e estava a utilizar mal a procuração para comprar uma escultura. 
Como tal, devemos aplicar o art. 269.º como ele deve ser aplicado e o negocio celebrado entre Carlos (como procurador de António) e Daniel é perfeitamente eficaz e produz todos os seus efeitos. 
E, produzindo todos os seus efeitos, celebra-se o contrato de compra e venda, nos termos do art. 874.º, 879.º, 408.º, n.º 1. Transmite-se o direito de propriedade, existindo a obrigação de pagamento do preço e obrigação da entrega da coisa. 
Aqui, a obrigação da entrega da coisa já está cumprida. Por sua vez, a obrigação do pagamento do preço tem de ser cumprida, por isso António tem de pagar o preço ao Daniel.
Caso prático 11:
António pretende adquirir um imóvel em Lisboa. Para o efeito, nomeia sua representante Carlota, para proceder à respetiva compra, em data combinada para o efeito (10/01/2018), com o vendedor, Benjamim.
Em 7/01/2018. Carlota recebeu uma carta registada com aviso de receção, remetida por António, onde este “revoga todos os poderes que tinham sido outorgados a Carlota” e exige “a imediata restituição do documento representativo”.
Carlota, não só se recusa a restituir o documento, como celebra o negócio de compra daquele imóvel em nome de António.
António recusa-se, agora, a pagar o preço.
Quid Iuris
Estamos face a representação voluntária (art. 262.º e ss. CC). Já se sabe que se nomeou representante, a forma de atribuição de poderes é através da procuração e, por isso, a Carlota ficou com poderes para no dia 10/01/2018 comprar ao Benjamin um determinado imóvel.
É necessário perceber qual é a consequência da revogação da procuração. Neste caso, a revogação da procuração é um negócio jurídico uniliteral extintivo pois o representado extingue o efeito da procuração, ou seja, retira os poderes que tinha conferido (art. 265.º n.º 2 CC).
Por isso, diríamos que chegando ao poder ou conhecimento de carlota, este ato de revogação ganha eficácia pois trata-se de uma declaração recetícia e ganha eficácia, nos termos do art. 224.º n.º 1 CC). E, ganhando eficácia, quer isto dizer que no dia 07/01 a revogação deixou de produzir efeitos, ou seja, Carlota deixou de ser procuradora de António.
Certo é que nessa qualidadede alguém que já não é procurador, Carlota mesmo assim resolveu efetuar a compra a Benjamin no dia 10/01. E só é possível celebrar este negócio pois Carlota não restituiu a procuração a António, apesar de estar obrigada a tal (art. 267.º CC).
A questão é saber se este negócio celebrado pela Carlota, na qualidade de procuradora de António, produz ou não efeitos. 
Se seguíssemos aqui os termos gerais, ter-se-ia que dizer que no momento em que celebra o negócio não é não é procuradora, não tem poderes de representação e, por isso, nos termos do art. 268.º CC, o negócio é ineficaz.
Só que apenas seria assim se não houvesse uma norma de proteção de terceiros (art. 266.º). E deste artigo flui a ideia de que as modificações ou a revogação da procuração devem ser levadas ao conhecimento do terceiro com quem o procurador vai contratar sob pena de não lhe serem oponíveis essas revogações. Neste caso, nada é dito a Benjamin, e não pode extrapolar daqui que este sabia do sucedido. Isto significa que, por força do art. 266.º, a procuração não é oponível a Benjamin. quer isto dizer que se ficciona aqui a situação, é como se a procurarão ainda fosse eficaz e o negócio celebrado entre a Carlota, representante de António, e Benjamin vai produzir os seus normais efeitos. 
Com efeito, António passará a ser o proprietário do imóvel e terá que pagar o preço ao Benjamin. Sem embrago da eventual responsabilização de Carlota no âmbito da responsabilidade civil. Isto, pois, esta, apesar de saber que a procuração estava revogada, utilizou indevidamente a procuração para celebrar o negócio com Benjamin quando sabia que já não tinha poderes para tal.
É obvio que se Benjamin soubesse que a procuração já tinha sido revogada, este negócio celebrado com Carlota seria ineficaz (art. 268.º CC).
Consequência da falta de forma de qualquer negócio jurídico – nulidade – art. 220.º. o que é nulo não produz efeitos, é como se não houvesse
Caso prático 12:
Em setembro de 2012, António doou ao seu filho Basílio um valioso relógio de coleção, ficando, no entanto, acordado entre ambos que o relógio só passaria efetivamente a pertencer ao donatário se este concluísse a sua licenciatura até ao fim do ano de 2017.
Em 2013, como Basílio ainda estava no primeiro ano, António, convencendo-se que ele nunca acabaria o curso no prazo apontado, vendeu o relógio a Carlos, a quem informou de tudo.
Basílio é que nunca perdeu a esperança e, em 2016, apesar de ainda não ter o relógio na sua posse, vendeu-o a Damião, tendo-lhe dado conta do negócio que fizera com o seu pai.
 Em setembro de 2017, Basílio obteve aprovação à última disciplina que faltava para o fim da licenciatura.
A quem pertence o relógio.
Existe um contrato de doação de um relógio entre António e Basílio (art. 940.º e ss). Este contrato normalmente produziria efeito reias – transmissão do direto de propriedade – e obrigacionais – entrega da coisa. Para celebrar um negócio de doação é necessário que o doador declare que doa e que o donatário declare que aceita a doação.
Neste caso, além de ter havido, por um lado, a declaração de António que queria doar e de Basílio que aceitava a doação, houve também, acessoriamente, outro tipo de declaração. 
Existe uma clausula acessória ao contrato (art. 270.º e ss. CC). Eles fazem depender os efeitos deste contrato na verificação de um facto futuro e incerto – a licenciatura de Basílio em 2017. A condição consubstancia-se num facto futuro e incerto do qual se faz depender os efeitos de um contrato. 
E por força do art. 270.º pode fazer-se fazer depender os efeitos de um contrato de duas formas: extinguindo-se o contrato e, por isso, extinguindo-se os efeitos do mesmo, ou fazendo-se depender o início desses efeitos. E aqui vem a distinção entre condição resolutiva e condição suspensiva. Na condição resolutiva, verificando-se o facto futuro e incerto, levará à resolução do contrato, isto é, levará à extinção do contrato e este deixará de produzir os efeitos. Ou seja, o contrato está a produzir os seus normais efeitos no início, mas, no entanto, verifica-se o tal facto futuro e incerto que leva à extinção do contrato, deixando ele de produzir efeitos.
Na condição suspensiva as partes celebram o contrato só que este não produz logos os seus efeitos. Estes ficam dependentes da verificação no futuro da tal condição. Se se verificar o facto, o contrato irá produzir efeitos, caso contrário, não irá produzir efeitos.
Neste caso está-se perante uma condição suspensiva: os efeitos do contrato apenas se produziriam se Basílio concluísse a sua licenciatura até o fim de 2017.
Ora, António, quando vendeu o relógio a Carlos, ainda era proprietário do relógio uma vez que a doação feita ao seu filho não produziu efeitos devido à condição suspensiva. E, por isso, a venda por António a Carlos é válida e eficaz (art. 874.º, 879.º e 408.º n.º 1 CC), passando Carlos a ser o proprietário do relógio.
A venda do relógio por Basílio a Damião, em 2016, corresponde a uma compra e venda de bens alheios pois Basílio ainda não era proprietário do relógio (art. 892.º), mas sim Carlos.
Agora em setembro de 2017, dentro do prazo estipulado por António, o facto futuro e incerto aconteceu: Basílio licenciou-se. Isto é, tecnicamente verificou-se a condição.
Consequentemente, tem-se agora um problema: verificando-se a condição, o contrato de doação produz os seus efeitos. Só que, produzindo os seus efeitos agora em setembro de 2017, poderia significar à primeira vista que não há nada a fazer porque em 2013 o relógio foi vendido por António a Carlos.
No entanto, é preciso ter aqui em atenção duas normas muito importantes. Primeiro, o art. 276.º, do qual resulta que o preenchimento da condição tem efeitos retroativos. Isto significa que é como se nunca tivesse havido condição. Deste artigo parece fluir que, neste caso concreto, a doação, porque se preencheu a condição, é como se tivesse produzido os efeitos desde de 2012.
E, tributariamente a este princípio do art. 276.º, o legislador avançou com outra norma: o art. 274.º. E deste artigo resulta que os negócios celebrados na pendencia da condição, isto é, os negócios celebrados que tenham por objeto a mesma coisa com outras pessoas, esses estão dependentes da eficácia ou ineficácia do negócio condicionado. Isto significa que se o negócio condicionado vier a ser eficaz, como é o caso, os outros negócios que foram celebrados na sua pendência tornam-se ineficazes. Se o negócio condicionado nunca se tornar eficaz, isto é, se nunca se verificar o facto futuro e incerto, os outros negócios celebrados na pendência mantêm-se eficazes. Se o negócio condicionado se vier a tornar eficaz, porque se verificou a condição, então os outros negócios que eram eficazes tornam-se ineficazes.
Ora, como Basílio terminou a licenciatura até ao final de 2017, verificando-se, assim, a condição, por foça do art. 276.º e 274.º, o negócio entre António e Basílio torna-se plenamente eficaz com efeitos retroativos e o negócio entre António e Carlos torna-se ineficaz.
Consequentemente, havendo transmissão da propriedade para o Basílio, automaticamente há transmissão da propriedade do Basílio para o Damião (art. 895.º).
Assim, pode-se concluir que o proprietário do relógio é Damião.
Caso Prático 13
Aníbal pretende alugar a Belchior um automóvel em 2º mão. Para o efeito Aníbal nomeia Carlota como sua representante para proceder ao respetivo aluguer.
a. Que forma deve assumir a procuração?
b. Suponha que Carlota, a quem tinham sido atribuídos poderes específicos, comprou o automóvel, pois considerou que se tratava de um bom negócio para Aníbal. Está este vinculado ao pagamento do preço?
Relativamente á primeira questão, havia uma procuração para um fim que seria um contrato de locação, um aluguer, de coisa móvel (artigo 262º - forma da procuração).
O artigo 262º nº2, diz-nos que a procuração revestirá a forma exigida para o negócio que neste caso Carlota irá executar, como não há nenhuma forma especifica a seguir devemos seguir o 219º, a liberdade de forma.
Relativamenteá segunda questão, embora tenha poderes para o aluguer, não tem poderes para a compra e venda, temos aqui um caso de representação sem poderes neste âmbito – 268.
Não faz efeitos na esfera do representado, a não ser que este opte por ser ratificado. Responsabilidade de Carlota está plasmada no 227º.
Caso Prático 14
Abel outorga procuração a Bernardo para a venda de uma joia por preço não inferior a € 20 000,00. Sabendo de tal procuração e pretendendo adquirir a joia, Daniel envia carta a Bernardo propondo a compra da joia por € 23 000,00.  Bernardo responde também por carta a aceitar a proposta, enviando a carta a 4 de janeiro do presente ano.
No dia 5 de janeiro, Bernardo recebe carta de Carlos a propor a compra da joia por € 20 000,00.  Nesse mesmo dia, Bernardo manda Rui entregar a joia a Carlos e, esta paga os € 20 000,00
No dia 7 Daniel recebe a carta de Bernardo.
Abel ficou indignado com o comportamento de Bernardo e pretende saber que direitos lhe assistem
A proposta contratual (de compra) é eficaz quando chega à esfera jurídica de quem a recebe – 224º.
Declaração expressa – 217º - vale como uma proposta contratual. Logo vincula o Daniel.
228º nº1 c – o prazo para resposta terá 11 dias.
· 4 de janeiro - Bernardo para Daniel a aceitar
· 5 de janeiro – Bernardo recebe uma carta de Carlos e nesse mesmo dia manda Rui entregar a Joia.
· Ainda sobre isto, o facto de entregar a coisa vale como aceitação, e as partes cumpriram as suas partes. Como Bernardo está a vender uma coisa sobre a qual ainda não recebeu aceitação, não está a vender uma coisa alheia
· 7 de janeiro – Bernardo já tinha vendido a joia, abusa dos seus poderes pois poderia ter vendido por mais dinheiro. Mas apesar de ter havido abuso de poderes o artigo referente ao abuso de poderes, vincula o preponente no artigo 228/1, onde o negócio só é ineficaz caso Carlos conhecesse o abuso de representação.
20

Continue navegando