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(Em estudo divulgado esta semana, o consultor es- portivo Amir Somoggi apresenta os números do Comitê Olímpico Americano: arrecadação total de R$ 475 milhões e repasse de R$ 244 milhões. É praticamente o dobro, mas resulta num número de medalhas sete vezes maior.) Foi com sua parte nessa verba (R$ 3,8 milhões) que a canoagem contratou um técnico estrangeiro, alugou uma casa em Lagoa Santa e montou a estrutura para transfor- mar Isaquias Queiroz no primeiro brasileiro a ganhar três medalhas numa mesma edição dos Jogos. Nos quatro ciclos olímpicos desde que a lei entrou em vigor, além da canoagem, ginástica artística, tae kwon do e pentatlo moderno entraram na lista de esportes brasileiros com medalhas olímpicas. Boxe e tiro esportivo voltaram depois de muito tempo. Judô, vela, vôlei de praia e futebol, com mais constância, atletismo, natação e hipismo, com menos, continuaram. E só o basquete saiu. Tudo isso fez com que o número de medalhas crescesse lenta, mas gra- dualmente. O que não parece crescer na mesma medida é a base da pirâmide, embora parte da verba seja destinada a ela: R$ 22 milhões para o esporte escolar e R$ 11 milhões para o universitário em 2016. Esse conceito, inspirado no mode- lo americano, até hoje não funcionou aqui, onde o espaço para desenvolvimento de talentos ainda é o dos clubes. Às escolas deveria caber a disseminação dessa cultura e não aproveitar o impacto do Rio-2016 será outro erro, mais gra- ve ainda. Uma das imagens que mais me marcaram foi a do for- migueiro humano do parque olímpico. Tanta gente vendo o melhor do esporte no quintal de casa muda a cultura es- portiva do brasileiro. Meus filhos assistiram a atletismo, badminton, esgrima, handebol, polo aquático e vela – to- dos pela primeira vez. Não quero ser hipócrita: a partir de amanhã, no Seleção SporTV, e de domingo, aqui, volto a falar prioritariamente de futebol. Mas, como autor do Almanaque Olímpico, acre- dito que é possível escapa r da monocultura esportiva. A mudança começa não só nos clubes e nas escolas, mas em escolinhas, projetos sociais, torneios locais. Ne- les estão o próximo Isaquias, o próximo Serginho. Quan- do mais dinheiro começar a ser investido aí, mudaremos a meta. BARRETO, Marcelo. A verdadeira meta. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/esportes/ a-verdadeira-meta-19965538>. Acesso em: 2 jun. 2017. 4 5 6 7 8 9 10 1 O texto que você leu, do jornalista e apresentador es- portivo Marcelo Barreto, pode ser considerado um ar- tigo de opinião. Explique por quê. Trata-se de um artigo de opinião porque reflete criticamente sobre um tema central e apresenta tese e argumentos em defesa de um ponto de vista. 2 Embora um dos assuntos do texto seja a Olimpíada Rio-2016, o autor procura dar enfoque especial a um tema mais amplo. Que tema seria? A importância de investir mais em esportes, e em esportes diferentes, a fim de mudar a cultura esportiva no Brasil. 3 Desde o início do texto o autor reflete criticamente sobre o legado da Olimpíada realizada no Rio de Janeiro em 2016. Afinal, qual é a posição defendida pelo articulista? O articulista acredita que é preciso haver uma mudança no planejamento e na mentalidade das autoridades e da sociedade no que diz respeito aos investimentos no esporte. 4 No segundo parágrafo do texto, é possível identificar a tese do articulista. Retire do texto a passagem que ilustra a posição central do autor. “Numa abordagem mais ampla, que me interessa mais, o foco no alto rendimento é o equívoco.” 5 Releia a passagem a seguir. Desde 2001, o Brasil tem dinheiro para investir em atletas de ponta. E ele não vem do Rio-2016, mas da Lei Agnelo/Piva, que destina 2% da renda das loterias ao COB e ao CPB. No ano dos Jogos, a previsão de arreca- dação é de R$ 220 milhões, dos quais R$ 131 milhões são repassados às confederações de esportes olímpicos. (Em estudo divulgado esta semana, o consultor es- portivo Amir Somoggi apresenta os números do Comitê Olímpico Americano: arrecadação total de R$ 475 milhões e repasse de R$ 244 milhões. É praticamente o dobro, mas resulta num número de medalhas sete vezes maior.) 133 R ED A Ç Ã O » M Ó D U LO 10 PH9_EF2_RED_C2_125a135_M10.indd 133 1/2/18 5:58 PM A leitura desse trecho permite identificar as estraté- gias argumentativas utilizadas pelo articulista Marcelo Barreto. Quais são elas? Marcelo Barreto utiliza dados baseados em pesquisas e a comparação com outro país (Estados Unidos). 6 Sabemos que uma argumentação eficaz produz efei- to direto na forma como o leitor reflete sobre o tema debatido no texto. Qual é o objetivo do articulista ao empregar diferentes estratégias argumentativas ao lon- go do artigo? O autor procura convencer o leitor de que seu posicionamento é o correto (os investimentos não estão sendo eficazes e algo precisa mudar) por meio de diferentes estratégias argumentativas. 7 A linguagem de um artigo de opinião pode variar de acordo com o público-alvo e o contexto de circulação, entre outros fatores. O texto de Marcelo Barreto oscila entre a formalidade e a informalidade. Retire do texto DESENVOLVENDO HABILIDADES Leia o texto a seguir. Uma aposta em todas as mídias Um dos maiores erros que se cometem quando se fala em TV, ou em internet, é imaginar que a mídia nova acaba com a velha. Gente apressada fala em morte do livro, como antes disso falou em superação do rádio. Até ago- ra, nada disso ocorreu, e por uma razão simples: cada mídia tem seu nicho, seu lugar. Cada meio de comunicação atende a neces- sidades, a desejos, a anseios diferentes. O enriquecedor é a gente saber lidar com todos e jogar com um para usar me- lhor o outro. Compare o livro à tela de computador. O livro é muito mais amistoso, mais fácil de manejar, de levar, de possuir. A tela é fria. Podemos variar as letras (“fonts”), mudar a cor, trocar as peles (“skins”), fazer o que quiser: nada ainda se compara à invenção de Gutemberg para levar à praia, ler na cama, dobrar pela lombada. Pouquíssima gente lê um texto longo na tela – quase todos o imprimem e leem em papel, e ainda assim é mais enfadonho que um livro, porque sai sempre no mesmo sulfite, na mesma tinta, enquanto o livro varia bastante. É verdade que há mudanças que eliminam uma mídia. Quando surgiu o livro, isto é, um grande conjunto de folhas costuradas sob uma capa, ele venceu e depois liquidou o rolo. Antes do livro (seu nome técni- co é ‘códice’), ler era uma proeza, que exigia virar um longo rolo. m ol lic ar t/ S hu tt er st oc k duas passagens que revelem uso de linguagem coloquial e dois que exemplifiquem o emprego da norma-padrão. Sugestão de respostas: Linguagem informal – “vão pipocar os tuítes com comparações espirituosas com Jamaica e Quênia”; “Hashtags fora”. Linguagem formal – “No aspecto esportivo, ambos deixam de considerar quantos atletas e equipes melhoraram ou pioraram suas marcas”; “Às escolas deveria caber a disseminação dessa cultura”. 8 Sabemos que o artigo de opinião é um gênero textual que se caracteriza pela subjetividade e pela parciali- dade. Que marcas de linguagem, no texto de Marcelo Barreto, deixam clara essa subjetividade? Justifique sua resposta com passagens do texto. O autor, em diversas passagens, utiliza a primeira pessoa do singular, conferindo subjetividade ao texto: “Mas, como autor do Almanaque Ol’mpico, acredito que é possível escapar da monocultura esportiva.”;“Uma das imagens que mais me marcaram foi a do formigueiro humano do parque olímpico.” Glossário Nicho: espaço específico, segmento restrito. 134 R ED A Ç Ã O » M Ó D U LO 10 PH9_EF2_RED_C2_125a135_M10.indd 134 1/2/18 5:58 PM Assim como imprimir um formulário contínuo e depois lê-lo, sem soltar as páginas. Difícil, não é? O códice é mais prático, e continua vivo. Não foi por acaso que o maior defensor da nova mídia, Bill Gates, gastou uma fortuna para comprar um códicede Leonardo Da Vinci. O que isso tem a ver com a TV? Quero argumentar que o procedimento avançado não é substituir um meio pelo mais novo. Só num país em que tem charme mostrar-se in- culto, como no Brasil, uma ideia assim tola pode prosperar. O avançado é dominar os vários meios. Nosso m undo exige que sejamos multimeios. É como saber várias línguas, co- nhecer vários países, dominar vários instrumentos. RIBEIRO, Renato Janine. Uma aposta em todas as mídias. O Estado de S. Paulo, 5 nov. 2000. 1 Os textos argumentativos assumem funções específi- cas, formais e de conteúdo. O artigo de Renato Janine Ribeiro tem como objetivo: a) convencer o leitor da importância de se dominar vários meios comunicacionais. b) persuadir o leitor a mudar seu comportamento acer- ca das escolhas das mídias digitais. c) entreter o leitor com reflexões sobre a forma como as pessoas utilizam os meios de comunicação. d) sugerir ao leitor que o Brasil é um país com dificulda- des de utilizar a internet como meio de comunicação. e) comparar as novas mídias com as antigas, revelando a eficácia destas em relação àquelas. 2 Nos artigos de opinião, utilizam-se diversos mecanismos para convencer o leitor da validade da tese defendida. Um deles é a comparação. Podemos dizer que, no ar- tigo de Renato Janine Ribeiro, o uso da comparação contribui para sua eficácia argumentativa porque, por meio dela, o autor: a) detalha minuciosamente aspectos midiáticos de grande relevância. b) analisa a visão da sociedade acerca da preferência do grande público. c) descreve a preocupação dos veículos de comunica- ção com o fim da TV. d) defende a ideia de que é importante dominar diver- sos procedimentos multimídias. e) sugere que o público decida qual mídia é mais inte- ressante para seu uso. 3 A linguagem do artigo apresenta passagens em que predomina a coloquialidade. É possível verificar isso no seguinte trecho: a) “Nosso mundo exige que sejamos multimeios.” b) “O livro é muito mais amistoso, mais fácil de manejar, de levar, de possuir.” c) “É verdade que há mudanças que eliminam uma mídia.” d) “Quero argumentar que o procedimento avançado não é substituir um meio pelo mais novo.” e) “O enriquecedor é a gente saber lidar com todos e jogar com um para usar melhor o outro.” 4 Sabemos que o artigo de opinião é um gênero textual em que o autor expressa subjetividade. Observa-se essa pessoalidade na seguinte passagem: a) “Cada meio de comunicação atende a necessidades, a desejos, a anseios diferentes.” b) “Quero argumentar que o procedimento avançado não é substituir um meio pelo mais novo.” c) “É como saber várias línguas, conhecer vários países, dominar vários instrumentos.” d) “Gente apressada fala em morte do livro, como antes disso falou em superação do rádio.” e) “É verdade que há mudanças que eliminam uma mídia.” ANOTAÇÕES 135 R ED A Ç Ã O » M Ó D U LO 10 PH9_EF2_RED_C2_125a135_M10.indd 135 1/2/18 5:58 PM