Buscar

AULA 2 - DISCURSO POLÍTICO (Continuação)

Prévia do material em texto

Plano de Aula: 2 
 
 DISCURSO POLÍTICO (continuação) 
 
 Analisar as estratégias usadas pelos sujeitos 
políticos em seus discursos. 
 Compreender o conceito e as estruturas da 
Retórica Política. 
 
 A retórica é uma dinâmica de comunicação dos atores 
políticos, ou seja, a razão ideológica de identificação 
imaginária da “verdade” política. 
 Os atores do campo político fazem parte das diversas 
cenas de vozes comunicantes de um enredo permeado 
pelo desafio retórico do reconhecimento social, isto é, o 
consenso, a rejeição ou a adesão. 
 Suas ações realizam vários eventos: audiências públicas, 
debates, reuniões, e hoje principalmente, a ocupação do 
espaço midiático. 
 Precisam de filiações, estabelecendo organizações, que se 
sustentam pelo mesmo sistema de crença político 
articuladora de ritos e mitos pela via dos procedimentos 
retóricos. 
 A retórica além de ser a arte da persuasão pelo discurso; é 
também a teoria e o ensinamento dos recursos verbais – 
da linguagem escrita ou oral – que tornam um discurso 
persuasivo para seu receptor. 
 Segundo Aristóteles, a função da retórica não seria 
“somente persuadir, mas ver o que cada caso comporta 
de persuasivo” (Retórica, I,2,135 a-b). 
 
 “Sendo a política um domínio de prática social em que se 
enfrentam relações de força simbólicas para a conquista e a 
gestão de um poder, ela só pode ser exercida na condição 
mínima de ser fundada sobre uma legitimidade adquirida e 
atribuída. 
 Mas isso não é suficiente, pois o sujeito político deve também 
se mostrar crível e persuadir o maior número de indivíduos de 
que ele partilha certos valores. 
 É o que coloca a instância política na perspectiva de ter que 
articular opiniões a fim de estabelecer um consenso. 
 Ela deve, portanto, fazer prova da persuasão para 
desempenhar esse duplo papel de representante e de fiador do 
bem-estar social. 
 O político encontra-se em dupla posição, pois, por um lado, 
deve convencer todos da pertinência de seu projeto político e, 
por outro, deve fazer o maior número de cidadãos aderirem a 
esses valores. 
 
 Ele deve inscrever seu projeto na “longevidade de uma ordem 
social”, que depende dos valores transcendentais fundados 
historicamente. 
 Ao mesmo tempo, ele deve se inscrever na volátil regulação 
das relações entre o povo e seus representantes. 
 O político deve, portanto, construir para si uma dupla 
identidade discursiva; uma que corresponda ao conceito 
político, enquanto lugar de constituição de um pensamento 
sobre a vida dos homens em sociedade; outra que corresponda 
à prática política, lugar das estratégias da gestão do poder: o 
primeiro constitui o que anteriormente chamamos de 
posicionamento ideológico do sujeito do discurso; a segunda 
constrói a posição do sujeito no processo comunicativo. 
 
 
 Nessas condições, compreende-se que o que caracteriza 
essa identidade discursiva seja um Eu-nós, uma 
identidade do singular-coletivo. 
 O político, em sua singularidade, fala para todos como 
portador de valores transcendentais: ele é a voz de todos 
na sua voz, ao mesmo tempo em que se dirige a todos 
como se fosse apenas o porta-voz de um Terceiro, 
enunciador de um ideal social. 
 Ele estabelece uma espécie de pacto de aliança entre estes 
três tipos de voz – a voz do Terceiro, a voz do Eu, a voz do 
Tu-todos – que terminam por se fundir em um corpo 
social abstrato, frequentemente expresso por um Nós que 
desempenha o papel de guia (“Nós não podemos aceitar 
que sejam ultrajados os direito legítimos do indivíduo”). 
 
 Nesse aspecto, as instâncias dos discursos político e religioso têm 
qualquer coisa em comum: o representante de uma instituição de 
poder e o representante de uma instituição religiosa supostamente 
ocupam uma posição intermediária entre uma voz-terceira da 
ordem do sagrado (voz de um deus social ou de um deus divino) e o 
povo (povo da Terra ou povo de Deus). 
 Em contrapartida, vêem-se no que diferem, apesar do que dizem 
alguns, as instâncias política e publicitária. 
 As duas são provedoras de um sonho (coletivo ou individual), mas a 
primeira está associada ao destinatário-cidadão e constrói o sonho 
(um ideal social) com ele, e uma espécie de pacto aliança (“Nós, 
juntos, construiremos uma sociedade mais justa”), enquanto a 
segunda permanece exterior ao destinatário-consumidor ao qual ela 
oferece um sonho supostamente desejado por ele (singularidade do 
desejo): o destinatário-consumidor é o agente de uma busca pessoal 
(ser belo, sedutor, diferente ou estar na moda) e de forma alguma 
coletiva. 
 É preciso, portanto, que o político saiba inspirar confiança, 
admiração, isto é, que saiba aderir à imagem ideal do chefe que se 
encontra no imaginário coletivo dos sentimentos e das emoções. 
 Muitos pensadores o afirmaram e alguns grandes homens o 
colocaram e prática: a gestão das paixões é a arte da boa política. 
 À condição de que o exercício desse parecer, levado ao extremo e 
mascarando um desejo de poder pessoal, não conduza aos piores 
desvios fascistas ou populistas. 
 Efetivamente, quando essa gestão das paixões conduz à submissão 
total e cega do povo (ou de uma maioria), isto é, quando este último 
confunde um, intercessor, com outro, soberano, ele não dispõe 
mais de nenhum julgamento livre, não exerce mais nenhum 
controle e segue o chefe cegamente em uma fusão (às vezes, uma 
fúria) coletiva e irracional. 
 Derivados ou não, sustentamos a hipótese, seguindo filósofos da 
retórica política, de que a influência política é praticada tanto no 
terreno da paixão quanto no do pensamento.” CHARAUDEAU, 
Patrick. Discurso Político. São Paulo: Contexto, 2006, p. 79-81.

Continue navegando