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FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA I - LIVRO

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Prévia do material em texto

FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA I 
OLÁ! SEJA MUITO BEM-VINDO(A) 
INTRODUÇÃO 
Olá, estudante! 
Estamos aqui para apresentar a você o material da disciplina Formação 
Sociocultural e Ética I. Ao falar sobre este material, é preciso também falar sobre a 
disciplina. 
Talvez, alguns questionamentos passem por sua mente neste momento: que 
disciplina é essa? Por qual motivo ela está na matriz curricular do meu curso e preciso 
estudá-la? 
Pois bem, esclarecer essas questões e fazer com que você compreenda a 
importância da disciplina é um dos nossos principais objetivos. Assim, peço que 
continue sua leitura para que, juntos, cheguemos a conclusões importantes! 
De início, quero convidar você para uma breve experiência. Imagine a seguinte 
situação: você está em uma entrevista de trabalho e além de apresentar seu currículo, 
ela é fundamental para a vaga que você pretende. Nessa entrevista, a organização 
quer checar algumas competências comportamentais dos candidatos e, por esse 
motivo, você precisará apresentar sua habilidade de comunicação e conhecimentos 
gerais, apresentando um texto sobre política. E agora? Como você se comportará 
para desenvolver um texto e expor considerações e argumentos acerca da política? 
Como você se sairia nessa prova? 
Sobre tal experiência, é importante compreender que ela será cada vez mais 
comum no mercado de trabalho, e a chance de realmente vivenciar uma situação 
como essa é muito grande. Assim, é preciso que os estudantes estejam preparados 
não apenas para situações de aprendizagem de sua área de formação e para o 
exercício técnico dela, mas também precisam ir além disso. 
No decorrer do seu curso, você terá contato com Formação Sociocultural e Ética 
I (FSCE I) e Formação Sociocultural e Ética II (FSCE II). Elas são consideradas 
disciplinas de formação geral e, independentemente da área de formação, integram 
as matrizes dos cursos ofertados pela UniCesumar. 
Sobre isso, é preciso esclarecer que o Ensino Superior, no Brasil, tem finalidades 
bem delimitadas pela LDB – nossa lei de diretrizes e bases da educação brasileira. 
Nesse sentido, justifica-se a oferta das disciplinas considerando, especialmente, o 
artigo 43, que trata a respeito da finalidade desse nível de ensino em nosso país: 
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: I - estimular a criação cultural e 
o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar 
diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores 
profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e 
colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e 
investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da 
criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem 
e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber 
através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar 
o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a 
correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo 
adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada 
geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em 
particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e 
estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta 
à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios 
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na 
instituição. 
Uma rápida análise de todos os itens que compõem tal artigo, faz-nos 
compreender a amplitude da formação no Ensino Superior e a relevância de 
disciplinas de formação geral, justificando, então, a oferta de disciplinas como FSCE 
I e FSCE II. 
Além da formação geral, essas disciplinas também estão relacionadas aos 
pilares institucionais, ou seja, ao pilar espiritual, ao pilar intelectual, ao pilar 
profissional e ao pilar emocional estabelecidos como bases para a missão da 
UniCesumar enquanto instituição de educação. 
Com a análise da figura que segue, é possível compreender a relação entre os 
pilares e o desenvolvimento que se almeja para os estudantes: 
 
Diante do exposto, a disciplina FSCE I visa apresentar conteúdos de formação 
geral, organizados a partir das seguintes temáticas: 
o Política; 
o Interesse social; 
o Linguagens, comunicação e interação. 
Assim, este material contará com conceitos basilares sobre os temas descritos, 
bem como com textos diversificados que tratam sobre suas respectivas temáticas de 
forma a fortalecer o conhecimento dos estudantes a respeito de conhecimentos gerais 
e, ainda, para que sua formação cidadã seja continuamente trabalhada do ponto de 
vista social e ético. Cabe esclarecer que não será estudada a ética propriamente dita, 
mas sim como considerar social e eticamente uma série de temas transversais da 
sociedade em que estamos inseridos. 
Diante do exposto, convidamos você para uma imersão em nosso material que 
aqui se apresenta! Vamos lá? 
 
 
POLÍTICA 
Unidade 1 - Dr. Tiago Valenciano Previatto Amaral 
 
https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/a3373974219dc6dfe0a18a621d224968fa55bee655b2542f258fc4f36028813257bfc2a51fb9f6852d82602f210827f02aea50745e7dd82ac8fd04adbd2ad8a8/unidade1.html
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INTERESSE SOCIAL – ÉTICA, DEMOCRACIA E CIDADANIA 
Unidade 2 - Dr. Éder Rodrigo Gimenes 
 
 
 
LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO 
Unidade 3 - Pós-Dr. Diego Luiz Miiller Fascina 
 
 
 
ATUALIDADES 
Unidade 4 - Me. Fabiane Carniel 
 
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PRÁTICAS E EXPERIÊNCIAS 
Unidade 5 - Me. Fabiane Carniel 
 
 
POLÍTICA 
Unidade 1 
A POLÍTICA E SEU CAMPO PRÓPRIO: COMO ENTENDÊ-LA? 
É normal que as pessoas questionem como funciona a política e como fazer para 
entendê-la. Comumente, o cidadão tem dificuldade para compreender o cotidiano da 
política, isto é, quais são as ações rotineiras que vão influenciar a vida das pessoas, 
como o valor dos impostos, a contrapartida do Estado em realizar obras e 
aperfeiçoamentos na administração pública, o preço do combustível, do arroz, do 
feijão, da água, entre outros. Tudo isto fica ainda mais complicado quando falamos de 
corrupção, desvios de verbas públicas e a possível “mordomia” que os políticos 
brasileiros, em geral, têm. Contudo, de fato, o que eu, um simples cidadão brasileiro, 
tenho que fazer para conhecer a política? Existe algum curso específico para melhor 
entendê-la? Só de acompanhar o noticiário eu consigo captar as discussões que 
passam na política? São essas e outras perguntas que pretendemos responder neste 
tópico, a fim de facilitar a compreensão daquela que é uma arte, uma ciência e uma 
paixão. 
POLÍTICA: 
https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/a3373974219dc6dfe0a18a621d224968fa55bee655b2542f258fc4f36028813257bfc2a51fb9f6852d82602f210827f02aea50745e7dd82ac8fd04adbd2ad8a8/unidade5.html
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ARTE 
 
CIÊNCIA 
 
PAIXÃO 
Antes de continuarmos a falar sobre a política, advertimos a você, acadêmico, 
que é importante fazermos um exercício simples e didático para melhor entender o 
jogo de interesses e poder que se convencionou creditar a ela: afastar os 
preconceitos, isto é, esquecer tudo (ou quase tudo!) aquilo que você ouviu falar sobre 
o termo. Vemos em nossos dias que o próprio preconceito está na pauta política, e 
muita energia de nossos governantes e representantes é gasta em torno de uma 
sociedade menos preconceituosa. Se isto é exigido dos nossos governantes, também 
é exigido de qualquer um que queira ser uma pessoa letrada politicamente. Essa tática 
era empregada por Émile Durkheim (1858-1917), sempre argumentando que a boa 
sociologia era feita por aqueles que “puramente” pretendiam conhecer a sociedade, 
esquecendo os conceitos prévios sobre determinados assuntos e reaprendendo-os. É 
esta ideia que proponho aqui: vamos afastar os preconceitos e as prenoções e passar 
a conhecer a política por ela mesma, sem misturarmos conceitos já formados ou 
opiniões pessoais, da mídia, da família e de amigos de que “a política é sempre a 
mesma coisa” ou “os políticos são todos iguais”, por exemplo. Então, vamos lá? 
Contudo, como dissemos anteriormente: devemos esquecer quase tudo para 
iniciar nossa caminhada ao labirinto da política. Um dos textos mais evocados ao se 
tratar de política (e que busca chamar a atenção sobre a necessidade da política) é O 
analfabeto político, do teatrólogo alemão Bertolt Brecht (1898-1956). Vemos que 
Brecht afirma que o pior analfabeto é o político, que é aquele que não ouve, não fala 
e não participa dos acontecimentos políticos. Podemos pensar que o analfabeto 
político é aquele que não participa da política, mas não! O analfabeto político já é, por 
si, um analfabeto (ainda que letrado)! Antes da participação política, há a necessidade 
do entendimento sobre ela. Uma ação autônoma, na qual o indivíduo seja um sujeito 
(e não se torne sujeito) demanda, necessariamente, do seu entendimento prévio, e no 
caso da política, esse entendimento deve ser absolutamente estratégico. Afinal, 
falamos, aqui, de poder e seus jogos. 
 
Devemos aprender uma segunda lição: a história. Esta é uma disciplina 
fundamental para a compreensão política. Outro autor que é muito citado ao se tratar 
da política é o filósofo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), principalmente o seu 
livro O príncipe, considerado um texto básico para qualquer um que queira se 
aventurar e se aprofundar na política. Quando o leitor começar a ler esse livro (e temos 
certeza que você vai se deparar com uma surpresa: O príncipe parece muito mais 
um livro de história do que dos famosos conselhos para os governantes, igual 
comumente é citado. A primeira metade do livro é feita, quase que exclusivamente, 
de narrativas de feitos políticos, mal ou bem sucedidos. A história, para ele (e para 
qualquer político) deve ter um sentido prático, um guia para as ações atuais. Talvez o 
leitor esteja rememorando seu tempo de colégio e se pergunte: como aquela história 
que lhe foi ensinada pode ser um guia para suas ações? No entanto, meu caro, até 
mesmo a história que lhe foi ensinada, e a forma que você aprendeu, dependeu de 
uma decisão política, e nem sempre nossos governantes acreditam que o homem 
deva saber guiar sua própria vida. 
Chegamos, então, a uma terceira lição: a desconfiança. Aprender política 
envolve muito mais que decifrar palavras, muito mais que recitar fatos históricos e 
suas datas. Falamos, aqui, da necessidade do homem refletir sobre os rumos de sua 
vida em sociedade, e não apenas confiar no que lhe é dito. Geralmente, deparamo-
nos com algumas situações em nossa vida familiar que são mal resolvidas no passado 
e que surgem como fantasmas em nossas vidas atuais, não é mesmo? Na política, a 
situação é muito semelhante, com a diferença que ela é muito mais complexa e com 
potencial quase que infinito nos rumos de nossas vidas. Sem falar que a política não 
é apenas feita de homens, em carne e osso, desejos e necessidades, mas também 
de grupos que possuem maior ou menor força, em torno de interesses que nós, em 
nossa vida cotidiana, sequer temos possibilidade de conhecer. Dessa forma, 
desconfie de tudo que se refere à política. Comece por este livro e busque outras 
fontes. Desconfie dos jornais, televisão e redes sociais. Forme seu arcabouço 
particular de pensamento, pautado na ciência, pois apenas assim poderemos nos 
tornar autônomos dentro de nosso labirinto social. 
Vamos tentar demonstrar essa lição: palavras, história e desconfiança. 
 
Se olharmos para o radical da palavra política, verificamos que esse termo vem 
do grego politikos, que significa assuntos relacionados a polis, isto é, aos modelos de 
cidade-estado da Grécia Antiga. É claro que as cidades mudaram muito do período 
em que o termo foi criado até os dias de hoje; mas, tanto as cidades-estado da Grécia 
quanto as cidades brasileiras têm os mesmos ingredientes para definirmos o que é a 
política e seus efeitos: povo, governantes e disputas em tornodo poder do governo 
que somente a política pode proporcionar. Assim, se olharmos para essa explicação 
clássica em torno do radical do termo, conseguimos ver a primeira definição sobre a 
política, com os assuntos relacionados às cidades, ou seja, a forma de governar uma 
cidade (e daí as subdivisões de quem governa e como governa, questões clássicas 
da ciência política) e os problemas que as cidades atravessam ao longo do período 
em que os políticos estão no poder. 
De fato, essa explicação tem sua razão de existir. 
Quando questionamos um leigo sobre o assunto (a nossa posição no momento), a 
primeira ideia que vem à cabeça sobre política são os políticos, os que exercem um 
poder conferido para tratar dos assuntos relacionados ao Estado. Veja que política dá 
a noção de governo, de alguém que lidera um grupo de pessoas que vive nas cidades. 
Aí alguém pode questionar: "mas não há política no campo?" Claro que sim! Aos 
poucos vamos enxergar que ela aparece constantemente em nossas vidas, pelo sim 
ou pelo não – independentemente da nossa vontade, ela vai existir. Retomando, a 
figura mental sobre a política é constantemente a mesma: um político governando 
seus governados e uma pilha de problemas amontoados, que normalmente são 
direcionados aos políticos para que sejam resolvidos, na tentativa de alcançar a 
satisfação da população em relação a determinados assuntos. 
Com seu livro O Príncipe, Maquiavel passou a analisar o Estado moderno de 
um modo diferente, talvez muito mais pelas práticas adotadas pela classe política do 
que pelos autores do período, em alguns casos preocupados em idealizar algo que, 
na prática, não acontecia. A contribuição sobre a nossa “nova” definição de política é 
oriunda do entendimento da obra dele uma vez que a política pode também ser 
conceituada como a “arte de conquistar, manter e exercer o poder e o governo”. 
Aí começamos a diferenciar um pouco como os estudiosos pensam sobre a 
política. O primeiro destes pensamentos é a política como arte, a qual somente os 
habilidosos prosperam. Como toda arte, é necessário um dom especial – às vezes até 
mesmo “sobrenatural” – para que ela se materialize. O que se passa na cabeça do 
artista só se transforma em arte a partir do momento em que este a coloca em prática. 
E esta arte, a “arte da política”, não é tão fácil assim de ser efetuada, pois depende 
do relacionamento interpessoal, da condução de problemas específicos do campo 
político até as disputas de vaidade, muito comuns no contexto da política. Assim, o 
“artista da política” é alguém que possui esta habilidade de conduzir situações e tê-
las sempre a seu favor, angariando simpatizantes e transformando ideias em ações 
concretas, que, de alguma forma devem mudar a vida das pessoas. 
O segundo pensamento é ver a política como ciência. E é isto que um cientista 
político faz, uma profissão contemporânea e muito diferente. Afinal, o que estes 
profissionais estudam? A política enquanto ciência surgiu depois do estabelecimento 
das ciências sociais no campo de pesquisa, marcada, basicamente, pela filosofia e 
pela história até o início do século XIX, quando houve a percepção de que uma nova 
área de pesquisa necessitava surgir. A partir do início do século XX, a ciência política 
passou a analisar a política após o nascimento da Idade Moderna e, com esta área 
de atuação, profissionais se graduam para analisar os processos e sistemas políticos 
em vigência, sobretudo em relação aos políticos, partidos e eleições como um todo. 
No Brasil, a ciência política é recente, com o estabelecimento da área da década de 
70 em diante e, sobretudo, com a efetivação dos trabalhos da ABCP – Associação 
Brasileira de Ciência Política, no início da década de 90. 
Contudo, é preciso ser um cientista político para conhecer tudo o que se passa 
na política? Preciso fazer um “cursinho” básico sobre a área para, então, ser um 
“expert” na política? A resposta tende a ser não. Um dos objetivos deste livro é este: 
aproximar a política (seja ela arte, ciência ou paixão) um pouco mais das pessoas. 
Assim, somente aqueles que desejam ingressar na carreira acadêmica – lecionando 
ou pesquisando – devem procurar estudar mais sobre a teoria e a prática política no 
Brasil e no mundo. Portanto, a política enquanto ciência é específica, mas auxilia a 
compreensão dos processos políticos que acontecem no dia a dia, objeto desta 
publicação e particularmente da vida de todos, de um modo que atinge o campo 
individual e universal. 
Dessa forma, a política é tratada como ciência, isto é, um campo específico do 
conhecimento direcionado à pesquisa e ao ensino sobre as maneiras de como a 
política se consolidou ao longo dos anos. Segundo o epistemólogo (aquele que estuda 
como o conhecimento é produzido) Gilles Gaston Granger, a ciência é “uma fonte 
sistematicamente organizada do pensamento objetivo”. Se unirmos essa definição de 
ciência à política, chegamos à conclusão do que faz a ciência política: explicar, de 
maneira organizada e objetiva, o que é, quando e como a política acontece (ou se 
manifesta) nos mais diversos espaços da sociedade – desde a um pequeno município 
a uma grande nação. Granger também diz que a ciência é “método de pensamento e 
ação”, algo muito familiar com a política, não? Ora, para se fazer política, é necessário 
pensar e agir. Uma das regras de ouro da política – aquela de ocupar um espaço 
determinado antes que alguém o faça – pode ser explicada a partir do pensamento e 
da ação: sem pensamento, baseado na razão, é impossível agir calculadamente para, 
posteriormente, alcançar os resultados esperados. É neste sentido, portanto, que um 
cientista político age: pesquisa, por meio de diversos materiais, para consolidar seu 
pensamento e, posteriormente, agir, publicando materiais, lecionando, prestando 
consultoria, isto é, fazendo ciência política. 
Nossa última parte da trilogia diz que a política também é paixão. Não deixa de 
ser. A paixão é um sentimento muito forte em relação a outra pessoa ou a um tema, 
por exemplo. E assim dividimos a paixão em duas ocasiões: sobre a política e a paixão 
política. A primeira, normalmente, é ocasionada pela própria atividade política, muito 
envolvente e, de fato, apaixonante. A partir dela, pode-se conhecer muitas pessoas, 
participar das mais variadas formas possíveis (como candidato; militante partidário, 
de uma causa ou bandeira; como fiscalizador do governo; como cidadão comum; entre 
outras), além de cada situação ser diferente uma da outra, exigindo uma habilidade 
no relacionamento interpessoal específica. A segunda é a mais preocupante e a que 
“vivenciamos” nas redes sociais, por exemplo: a paixão acerca de determinadas 
causas ou pessoas, que, muitas vezes “cega” o horizonte em relação a temas 
passíveis de solução, mas que o viés apaixonado não faz com que as pessoas 
enxerguem a resolução dos problemas, muitas vezes em defesa do seu ponto de vista 
(sempre o correto). 
Por hora, incluímos o governo nesta explicação porque é a ocasião em que mais 
visualizamos a prática política, isto é, nas ações: 
1) para a conquista do governo, como explicitado anteriormente; 
2) para a manutenção do governo: os projetos, programas, as propostas 
veiculadas durante a campanha, os servidores trabalhando, o cidadão que paga os 
impostos, enfim, o funcionamento em si que manterá o governo em pé; 
3) o exercício do poder em relação ao governo, algo complexo e que 
analisaremos na próxima seção deste livro. 
O fato é a impossibilidade de definirmos a política em poucas linhas ou páginas: 
cada autor a caracterizará de um modo peculiar – ainda que, em geral, ela tenha um 
corpo específico, as peculiaridades deste corpo serão conferidas por cada pessoa que 
decide estudá-la. Da mesma forma, cada pessoa envolvida na política a praticará 
seguindo suas convicções, sua razão ou, até mesmo, sua paixão, orientando-se para 
osassuntos pertinentes conforme seus procedimentos. Nosso objetivo, nesta primeira 
parte é, em linhas gerais, explicar – ou apontar caminhos – para a compreensão da 
política acadêmica (aquela – dos cientistas políticos) e a política do dia a dia, efetuada 
desde o cidadão comum até o Presidente da República, por exemplo. Há, como 
demonstramos, uma relação entre as duas: ainda que pareçam distantes, a teoria e a 
prática são interdependentes entre si e, por fim, a sentença que aprendemos vale para 
várias ocasiões do relacionamento humano: é muito difícil se livrar da política, pois ela 
se manifestará constantemente em nossas vidas. 
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VAMOS FALAR DE POLÍTICA? 
 
 
SISTEMA DE GOVERNO 
 
A forma de governo praticada no Brasil é a República Federativa. Falta definir 
então o que é um sistema de governo. Se olhássemos um computador, por exemplo, 
a forma de governo seria seu layout externo: tamanho, cor, tela, componentes 
externos. O sistema de governo são os programas e as funcionalidades que fazem 
com que o usuário utilize este computador: editor de texto, de tabelas, navegador de 
internet, enfim, aquilo que é manuseado pelas pessoas após a ativação da máquina. 
A forma é a cara do governo, ou seja, como o moldamos externamente – no caso 
brasileiro, a República. O sistema de governo diz respeito ao andamento interno do 
governo, aquilo que a maioria das pessoas não enxerga ao passar em frente de uma 
Prefeitura, Palácio do Governo ou todos aqueles prédios do centro político do país, a 
capital Brasília. Uma das missões desta unidade é, também, fazer com que as 
pessoas passem a olhar “de dentro” o que acontece na política brasileira – inclusive 
os seus bastidores, operado, na maioria das vezes, por políticos profissionais 
ou experts da área. 
Neste sentido, convém destacar que as formas de governo são consideradas, 
atualmente, entre a República e a Monarquia, e os sistemas de governo são 
distribuídos em duas modalidades mais conhecidas: o presidencialismo e o 
parlamentarismo. Essa discussão é recente na memória dos brasileiros quando o 
assunto forma e sistema de governo é tratado. Em 1993, houve um plebiscito para 
saber se o país seria republicano ou monarquista, presidencialista ou parlamentarista. 
Vejamos que caso a Monarquia ganhasse, a opção presidencialista estaria, 
automaticamente, descartada e o país teria um governo parlamentarista (uma vez que 
uma Monarquia Presidencialista é uma impossibilidade lógica). Caso vencesse a 
República (e foi o caso), o Brasil poderia ser parlamentarista ou presidencialista. 
Venceu a opção presidencialista, fortemente marcada na cultura política nacional. No 
entanto, repare que em momentos de crise política, o debate do presidencialismo 
versus parlamentarismo retorna (ainda que timidamente). 
PRESIDENCIALISMO E PARLAMENTARISMO 
O presidencialismo é mais comum no Brasil – seja no governo ou nas 
instituições, as pessoas procuram o presidente, no sentido de que ele resolva os 
problemas. É comum que a política nacional seja discutida em torno do Presidente da 
República. A mesma situação acontece nas instituições: o cargo de Presidente é o 
mais cobiçado e sob ele recai a representação do organismo. Contudo, no que 
consiste o presidencialismo? Ora, a resposta praticamente foi dada: é um sistema de 
governo em que há uma pessoa exercendo o poder, por tempo determinado, 
exercendo as funções de chefe de Estado e de governo. 
E qual a diferença entre chefe de Estado e de governo? Para facilitar, podemos 
dizer que o chefe do Estado representa o país diplomaticamente, enquanto o chefe 
de governo executa, administra as ações do país. Não há necessariamente a 
correspondência entre chefe de Estado e de governo, isto é, que uma só pessoa possa 
exercer as duas funções. No entanto, em um sistema presidencialista, as funções 
normalmente convergem em uma pessoa. É o que acontece no Brasil: o Presidente 
representa o país em relação às demais nações e, ao mesmo tempo, administra as 
questões inerentes à política nacional. 
O presidencialismo tem cinco principais características, a saber: 
 
Há a separação entre os poderes. No Brasil, são três: Legislativo, Executivo e 
Judiciário. Na teoria, um poder não se intromete nos trabalhos do outro. 
 
Como dito, o Presidente exerce tanto a função de chefe do governo quanto chefe 
de Estado, na maioria dos casos. 
 
 
O chefe do Poder Executivo também é quem tem a figura de maior líder do 
Estado. 
 
 
 
 
Na condição de chefe de Estado, o Presidente é quem escolhe seus ministros, 
compondo, assim, a equipe que irá executar os projetos e as políticas públicas. 
 
 
 
 
O Presidente – também chefe do Poder Executivo, do governo e do Estado, é 
eleito direta (eleições em que as pessoas votam nos candidatos) ou indiretamente 
(eleito pelo voto de deputados, por exemplo) pelo povo, com um mandato delimitado 
em período. 
 
No presidencialismo, há ainda um Congresso Nacional, isto é, a reunião de 
representantes do povo responsáveis por levar as demandas da população ao 
Presidente, além de elaborar leis (no caso do parlamento) em caráter nacional. Esse 
congresso pode ser unicameral ou bicameral (caso brasileiro), existindo duas 
“assembleias” direcionando o Poder Legislativo: o Senado da República e a Câmara 
dos Deputados. 
Por outro lado, há o parlamentarismo, um sistema de governo destinado 
nitidamente ao protagonismo do parlamento à frente do poder. Neste sistema não 
existe uma clara separação entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo, uma vez 
que o executivo depende diretamente da articulação do parlamento para governar. O 
papel de chefe de Estado e de governo também não é exercido, necessariamente, por 
uma mesma pessoa: enquanto o chefe de Estado normalmente desempenha um 
papel cerimonial frente ao país, o chefe de governo administra as responsabilidades 
políticas da nação. 
É evidente que cada um destes sistemas tem seus pontos positivos e negativos, 
à guisa de observação de cada autor, analista ou cidadão. No Brasil, tradicionalmente, 
o presidencialismo se mantém e, como dissemos, as pessoas já buscam a figura do 
presidente em todos os casos em que há a necessidade de uma liderança representar 
um segmento ou representar um corpo político. Portanto, é difícil apontar se o 
parlamentarismo daria certo ou não no país ou se o presidencialismo é um sistema 
viciado: apenas o teste empírico poderá resolver esta dúvida. 
SOBRE A DIVISÃO DE PODERES 
A divisão do poder é um conceito geral do Direito Constitucional, um campo do 
conhecimento destinado a estudar e desenvolver teorias voltadas às constituições dos 
países, aprimorando cada vez mais estas que são os princípios gerais de cada Estado. 
Como dito, os Estados são personalidades jurídicas e a lei que dá a “cara do Estado” 
é a constituição. No Brasil a última promulgada é de 1988, com diversas pequenas 
reformas ao longo dos anos, mas que não muda seu jeito de ser. 
Esta divisão do poder também é conhecida como sistema de freios e 
contrapesos (checks and balances system), que visa garantir que um poder não 
interfira nas ações do outro e que existam freios para segurar os avanços de um poder 
sobre o outro e contrapesos, para que possíveis avanços também não tirem a 
essência de cada poder do lugar. Pasme você: talvez seja essa a explicação mais 
simples que se pode encontrar por aí. O fato é que esse sistema funciona como se 
fosse uma gangorra – aquelas em que as crianças de outrora brincam nos parquinhos: 
o ideal para não passar sustos ou não cair é que a gangorra fique centralizada, em 
um ângulo de 180 graus. A partir do momento em que há alguém mais pesado em 
uma das pontas da gangorra, ela penderá para o lado de quem tem mais quilos. O 
sistema de freios e contrapesos existe justamente para que o efeito da gangorra não 
aconteça e que cada poder cumpra seu papel.Esta divisão “partida” do poder foi proposta por alguns autores, como Aristóteles, 
John Locke e Jacques Rousseau. Mas o consagrado com o conceito foi Montesquieu 
(1689-1755), que era defensor da ideia de separar as atribuições do poder em três 
funções: 
1 – Legislativa: destinada a elaborar as leis que vão regular a vida em sociedade, 
além de fiscalizar os atos praticados pelo Poder Executivo; 
2 – Executiva: atua nos fins diretos da administração pública, executando os 
projetos voltados para melhorar a vida das pessoas. Além disso, é responsável pela 
arrecadação de dinheiro a partir de impostos, intervenção nos assuntos do Estado e 
organização do serviço público; 
3 – Judiciária: aplica ou revisa as normas jurídicas, no sentido de garantir a 
justiça, analisando disputas entre as pessoas, por exemplo. 
Este quadro nos auxilia a compreender melhor cada uma destas funções que o 
poder exerce: 
 
Fonte: TEMER, 2000, p.120. 
Pelo exposto, esta discussão quanto à divisão dos poderes é algo ainda não 
superado. Independentemente dos autores ou da nomenclatura dada, o fato é que 
existem três poderes fundamentando o Brasil. A missão dos próximos capítulos é 
explicar o funcionamento de cada um destes poderes, ou seja, o papel desempenhado 
na política. 
Antes, vale lembrar que estes três poderes estão dispostos da seguinte forma 
no Brasil: 
 
Essa divisão entre os poderes expõe uma espécie de radiografia da estrutura do 
sistema político brasileiro. São três níveis fundamentais: municipal, estadual e 
nacional. Essas três esferas do poder demonstram como o sistema político brasileiro 
está disposto, ao mesmo tempo verticalizado (damos maior importância aos assuntos 
federais, por exemplo, talvez pela relevância do tamanho do país quando comparado 
a um município) e horizontal, pois todas essas esferas dependem uma das outras para 
o pleno funcionamento. 
 
Você conhece a Câmara do Deputados? Explore aqui 
Se há ou não uma divisão do poder, devemos ponderar de acordo com a 
explicação de cada autor: ele pode ser tanto único, concentrado e compartilhado por 
quem detém o poder ou partilhado, múltiplo, ao passo que cada agente exerce o poder 
em seu âmbito ou competência administrativa, por exemplo. O importante para nós, 
neste momento, é o seu conhecimento sobre estas possibilidades e, a partir disso, 
demonstrar a complexidade que o jogo político nos proporciona. 
 
Você sabe o que faz um vereador, o que faz um prefeito? Abaixo, a matéria do 
site Politize! demonstra as principais atribuições do cargo de vereador, o mais 
importante no âmbito municipal. Afinal, é ele quem aprova as leis, avalia as ações 
elaboradas pela prefeitura e, sobretudo, fiscaliza as ações do Poder Executivo. 
Conheça: "E qual a principal função de um vereador? 
Como integrante do Poder Legislativo municipal, o vereador tem como função 
primordial representar os interesses da população perante o poder público. Esse é (ou 
pelo menos deveria ser) o objetivo final de uma pessoa escolhida como representante 
do povo. E como um vereador pode representar, na prática, os eleitores? Pode-se 
dizer que a atividade mais importante do dia a dia de um vereador é legislar." 
Fonte: www.politize.com.br Além disso, convido-o a acompanhar a Web Série "A 
Razão do Voto", a qual apresento os principais temas das eleições municipais e que 
https://artsandculture.google.com/streetview/hgFiI1u706j8bg?sv_lng=-47.86448575900744&sv_lat=-15.80008542854583&sv_h=152.39281049227606&sv_p=-5.171277345347576&sv_pid=FNnxOLtXwcsRgkhIUzj5uw&sv_z=1
https://www.politize.com.br/papel-do-vereador/
afetam diretamente o nosso cotidiano: 
Fonte: www.youtube.com 
REFERÊNCIAS 
AZAMBUJA, D. Introdução à Ciência Política. São Paulo: Globo, 1994. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: 
promulgada em 5 de outubro de 1988. 
CERQUEIRA, T. Direito eleitoral esquematizado. 2. ed. rev. e atual. São 
Paulo: Saraiva, 2012. 
DE CICCO, C. Teoria geral do Estado e ciência política. 6. ed. rev. e atual. 
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. 
KELLY, P. O livro da política. São Paulo: Globo, 2013. 
MARINO, R. Entenda a política e o mude o Brasil: aprenda a política e suas 
estruturas de forma fácil. O Brasil é tão bom quanto o seu voto. Brasília: LGE, 2010. 
MARTINS, J. A.Corrupção. São Paulo: Globo, 2008. 
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Hedra, 2009. 
NICOLAU, J. Sistemas eleitorais. 5. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Editora 
FGV, 2004. 
NICOLAU, J. Eleições no Brasil: do império aos dias atuais. Rio de Janeiro: 
Zahar, 2012. 
TEMER, M. Elementos de Direito Constitucional. 15 ed. São Paulo: Malheiros 
Editores, 2000. 
VALENCIANO, T. LEAL E SILVA, R. E. Política Brasileira: como entender o 
funcionamento do Brasil. Astorga: Editora Sahar, 2015. 
 
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INTERESSE SOCIAL – ÉTICA, DEMOCRACIA E 
CIDADANIA 
Unidade 2 
A vida em sociedade é pautada por múltiplas perspectivas, a partir das quais nos 
colocamos em interação com os demais, pensamos a nós mesmos e nossas atitudes 
https://youtube.com/playlist?list=PLmvScUJgLtjjgA14TjNoU_FEnNo7dgxNt
e também nos relacionamos com as instituições. Assim, cada um de nós age de 
diferentes maneiras, a depender da situação em que nos encontramos: em casa, no 
trabalho, entre amigos, com relação aos estudos, em nosso planejamento para o 
futuro etc. Contudo, ainda que possamos assumir diversos papéis sociais – como filho, 
cônjuge, empregado, colega de trabalho, usuário de política pública ou eleitor, por 
exemplo – é pertinente considerar que nossos valores e modo de lidarmos com a 
sociedade, em geral, não se alteram. 
Os pilares da discussão desta unidade de estudo sobre questões de interesse 
social dizem respeito a temas de nosso cotidiano: ética, democracia e cidadania. Se, 
por um lado, podem parecer temas amplos e desconexos com seu processo de 
formação superior, por outro lado, trata-se de três pilares fundamentais à sua 
conformação como indivíduo que se coloca como agente ativo de transformações 
sociais e pode contribuir com a melhoria da vida em coletividade. 
Você conhece as definições de ética, de democracia e de cidadania? Saberia 
responder o que constitui ou caracteriza cada um dos conceitos e sua relação? E 
mais: Saberia responder os motivos pelos quais esses conceitos são importantes para 
qualquer pessoa? 
 
Perceba que essas perguntas dizem respeito a temas que todos nós deveríamos 
conhecer, mesmo que minimamente, uma vez que se referem a elementos que 
vivenciamos e impactam nossas vidas. Entretanto, por outro lado, não raras vezes, 
temos dificuldade em conceituar, especialmente as noções de ética e de cidadania, 
ainda que estejam intimamente relacionadas com a experiência democrática que 
vivenciamos. 
Ao abordar esses temas em salas de aula de graduação e de pós-graduação, é 
recorrente entre os alunos associá-los com desigualdades e com corrupção. Ainda 
que não se trate de associações incorretas acerca de nuances dessas relações, dizem 
respeito a aspectos negativos, os quais podemos enfrentar, em alguma medida, com 
conhecimento sobre esses temas e como se relacionam. 
Assim, nos parágrafos que seguem, vamos falar um pouco sobre alguns desses 
temas e seus conceitos. 
O que é ética? O que é democracia? O que é cidadania? Três termos, três 
conceitos com significados distintos e com aplicações intimamente relacionadas! 
Tendo em vista que a discussão em torno da temática de interesse social se 
desenvolve a partir desses pilares, iniciemos nossa exposição pela abordagem sobre 
a ética. 
A ética é um dos ramos de estudos da Filosofia – que se constitui como forma 
de conhecimento pautada pela busca da compreensão da vida social por meio do 
estabelecimento de relações entre a reflexão e a ação para o estabelecimentode 
práticas sociais ideais. Nesse sentido, tendo em vista que a Filosofia busca ensinar 
os indivíduos a pensar criticamente, a ética se coloca como um modo de organização 
racional do pensamento humano com vistas à promoção da prática social mais 
adequada à vida em coletividade (TIBURI, 2014). 
Ainda que seja mais corriqueiro ouvirmos falar sobre ética no âmbito de atuações 
profissionais – como a ética médica, a ética empresarial, a ética pública, a ética 
profissional etc. -, é necessário destacar que a prática ética se coloca a todos que 
vivem numa determinada sociedade, independentemente de ocupação profissional ou 
outros marcadores sociais, uma vez que o termo ética é de origem grega e remete a 
caráter, já que ethos diz respeito ao modo de ser de um indivíduo. 
 
Nesse sentido, a ética diz respeito aos preceitos sociais gerais para a vida em 
sociedade, de modo que o caráter dos habitantes de determinada comunidade seja 
balizado coletivamente, ou seja, para que haja preceitos partilhados pelo grupo a reger 
o funcionamento daquela sociedade. 
Isto posto, é necessário destacar que a ética corresponde à materialização da 
moral, que consiste numa construção coletiva de regras e normas sociais, que são 
reconhecidas e partilhadas pelos indivíduos de uma comunidade e, portanto, 
consideradas legítimas. A moral é, inevitavelmente, uma conformação de valores 
humanos, culturais, temporais e societais, o que significa que a base da ética existe 
em decorrência da vida da organização dos homens e leva em conta a maneira como 
eles se relacionam entre si e com o ambiente, sendo passível de variações ou distintas 
configurações – até mesmo conflitantes – tanto ao compararmos diferentes grupos 
sociais num dado momento quanto ao compararmos um mesmo agrupamento (ou 
alguns) em momentos diversos da História. Como a moralidade implica em 
obrigações, a ética determina modos de agir em coletividade. 
Nesse sentido, é pertinente destacar que a própria noção de ética se alterou ao 
longo dos séculos: na clássica sociedade grega, ser ético significava respeitar as leis 
e valores da pólis, incluída a restrição em termos de cidadania; no período medieval, 
a ética foi pautada pela intrínseca relação entre poder político e religião, uma vez que 
os Reis e a Igreja Católica determinavam os modos de convivência dos indivíduos 
segundo a metafísica e a preocupação com o respeito às hierarquias; na 
modernidade, agir eticamente implica lançar um olhar racional à sociedade e 
considerar a fragmentação ou multiculturalismo como parâmetro ético. 
[...] a ética se preocupa em como os homens devem ser e não em como eles 
efetivamente são! E, invocando antigos manuais, eu poderia acrescentar que a ética 
é o fundamento da regra moral, esta última sim, dedicada a responder à pergunta: 
“Como devo agir?” (EVANGELISTA, 2016, p. 8). 
Isto posto, a ética se coloca, portanto, como um comprometimento de cada 
indivíduo com relação aos demais, permeando e delimitando a vida em sociedade por 
meio de nossas ações, comportamentos, falas, posicionamentos e julgamentos. 
Assim, a ética implica em nossa responsabilidade com relação à vida coletiva e 
cotidiana e deve se pautar pela preocupação com a maneira correta ou adequada de 
nos portarmos, no sentido de que a liberdade e os direitos de cada um têm, no seu 
semelhante, o seu limite. 
Esse é, inclusive, o princípio básico da pactuação social para a vida em 
sociedade, definido por autores clássicos da Filosofia Política como contrato social: a 
vida em sociedade demandaria um conjunto de normas sociais a serem respeitadas 
pelos indivíduos, a fim de que a convivência fosse possível (HOBBES, 2000; LOCKE, 
2001; ROUSSEAU, 1999; 2002). 
Para avançarmos aos demais conceitos relacionados à temática do interesse 
social, cabe ressaltar que as implicações da ética estão no campo de nossa 
consciência acerca da maneira como agimos racionalmente e com relação aos nossos 
sentimentos, assim como nas interações que desenvolvemos com outros em nossos 
espaços pessoais (familiares, amigos e relações afetivas) e sociais (como espaços 
escolares, laborais e comunitários – igreja, clube ou grupo desportivo, voluntariado 
etc.). 
 
Se me fosse solicitado que buscasse um único termo para tratar de ética na 
contemporaneidade, eu escolheria a palavra alteridade, cuja perspectiva de respeito 
às diferenças e olhar empático aprofundaremos à frente. Antes, contudo, cabe tratar 
do regime político em que a alteridade deve ser respeitada de maneira ampla: a 
democracia. 
As primeiras reflexões sistematizadas sobre o conceito de “democracia” se 
encontram nas discussões da teoria política clássica sobre formas de governo. Apesar 
de não negar a existência de sociedades democráticas anteriores à Grécia Antiga, o 
primeiro governo denominado “democrático” de que se tem registro e que se tornou 
referencial para o pensamento contemporâneo corresponde ao governo de Atenas. 
A concepção grega de democracia repudiava a ideia de representação como 
método democrático. A eleição de representantes era considerada como um método 
aristocrático, pois se tratava de uma seleção na qual os indivíduos teriam diferentes 
probabilidades de vencer, uma vez que possuíam capacidades diferentes. Os 
princípios democráticos estavam relacionados à participação igualitária. O método 
associado à democracia era, portanto, o sorteio, utilizado em Atenas para preencher 
os cargos que não exigissem capacitação ou experiência específicas, e o governo do 
povo se materializava na noção de igualdade política, que se manifestava em métodos 
nos quais preponderavam oportunidades igualitárias de exercer o poder político 
(MANIN, 1997). Não por acaso, a democracia era o governo de muitos, em contraste 
ao governo de poucos, chamado de aristocracia (ou de oligarquia, em sua forma 
degenerada). 
 
Se por um lado pode-se argumentar que o escopo da cidadania ateniense era 
muito restrito devido à exclusão de mulheres, escravos e estrangeiros das decisões 
públicas, por outro, o regime democrático, ateniense outorgava mais poder político à 
classe trabalhadora e aos pobres em comparação à versão contemporânea. O regime 
ateniense propiciava mais controle por parte da classe produtiva, uma vez que os 
problemas eram levados à esfera pública. 
Discutir democracia no âmbito da prática e da teoria política contemporâneas 
implica lidar com um evidente paradoxo: ao passo que a democracia é uma forma de 
governo valorizada como “positiva”, ela se distancia de seu conceito original, 
relacionado a participação popular direta. 
Embora haja diferentes perspectivas sobre a democracia, uma delas se 
sobrepôs às demais a ponto de o Ocidente considerá-la como única forma possível 
(HEYWOOD, 2010), o liberal-pluralismo, projeto democrático baseado na existência 
de um conjunto de garantias legais, como as liberdades cidadãs, a competição 
eleitoral e a livre organização mediante grupos de pressão. 
Dentre os autores que defendem tal perspectiva democrática, há distinções 
expressivas: enquanto Schumpeter (1961) argumentava que a desigualdade política 
seria um aspecto natural da sociedade e que caberia aos indivíduos “comuns” 
limitarem sua atuação política ao momento de escolha de representantes (voto) 
porque as massas seriam incapazes de governar devido à sua irracionalidade inata, 
Dahl (1997) argumenta que uma poliarquia – regime real mais próximo de uma 
democracia – seria caracterizada pela fragmentação do poder político, o qual não está 
concentrado em apenas um grupo devido à dispersão dos variados recursos na 
sociedade, de modo que a igualdade política também se relaciona à distribuição do 
poder. Conforme pontuado por Albrecht (2019), dentre as demais vertentes da teoria 
democrática, a maioria consiste em alternativas a esse modelo. 
No geral, as teorias circundam, principalmente, três conceitos importantes no 
estudoda democracia: 
1) Representação 
2) Participação 
3) Deliberação 
Tais eixos podem auxiliar a compreensão acerca das semelhanças e diferenças 
entre teorias que servem de base para a construção de modelos de democracia e 
suas respectivas variações. Os regimes contemporâneos são, na verdade, mesclas 
de elementos pertencentes aos três eixos. 
A representação se caracteriza por ser indireta, com alguém que fala “em nome 
dos interesses” de outrem (GURZA LAVALLE; ISUNZA VERA, 2010). Uma 
representação democrática implica vínculo entre representante e representados, de 
modo que aquele tenha certa margem de liberdade para atuar, mas sem estar alheio 
aos anseios destes. Quando o representante age exclusivamente voltado aos próprios 
interesses, trata-se de uma representação não democrática ou de uma mera 
transferência de poder. Dessa forma, uma democracia representativa é um regime 
democrático cujas decisões públicas são tomadas predominantemente mediante 
mecanismos de representação. As eleições fazem parte desses mecanismos, mas 
não são suficientes para promover uma representação democrática, que exige certo 
controle por parte dos representados. Os atuais sistemas de representação são 
imperfeitos porque carecem de instrumentos de controle mais efetivos dos 
representados em relação aos representantes (MANIN; PRZEWORSKI; STOKES, 
1999). A representação não democrática acentua a distância entre representantes e 
representados. 
A democracia deliberativa se pauta pela ideia de que a discussão é um 
mecanismo para encontrar soluções coletivas e suspender a influência das diferenças 
de poder. Nesse sentido, a deliberação também contribui para que os indivíduos 
transcendam seus interesses privados (YOUNG, 2006). 
Por sua vez, a democracia participativa está centrada, de maneira geral, em 
mecanismos de participação direta, em que o engajamento do cidadão se dá de forma 
não mediada. A crítica da democracia participativa à deliberativa reside no fato de que 
alguns problemas não podem ser solucionados em instituições, uma vez que elas 
reproduzem as desigualdades. Dessa forma, a inclusão formal não é suficiente, pois 
o acesso se restringe a determinados grupos que possuem recursos, como 
habilidades e posses econômicas. Assim, o eixo da “participação” salienta a 
importância de entender a democracia para além de seu aspecto institucional. 
Diante das explanações acerca dos conceitos de ética e democracia, você deve 
ter notado que o terceiro tema de nosso eixo de discussão sobre interesse social foi 
mencionado mais de uma vez: a cidadania. Assim, cabem, agora, considerações 
sobre seu conceito. 
Na teoria constitucional moderna, cidadão é o indivíduo que tem um vínculo 
jurídico com o Estado. É o portador de direitos e deveres fixados por uma determinada 
estrutura legal (Constituição, leis) que lhe confere, ainda, a nacionalidade. Cidadão 
são, em tese, livres e iguais perante a lei, porém súditos do Estado. Nos regimes 
democráticos, entende-se que os cidadãos participaram ou aceitaram o pacto 
fundante da nação ou de uma nova ordem jurídica (BENEVIDES, 1994, p. 7). 
De acordo com a interpretação clássica de Marshall (1967) a partir da 
perspectiva da sociedade inglesa, o princípio de igualdade presente no conceito de 
cidadania seria tensionado, inevitavelmente, pelas desigualdades sociais existentes 
nas sociedades de classes, relacionadas ao funcionamento do capitalista estruturante 
do funcionamento de relações econômicas e, em alguma medida, até mesmo dos 
governos. 
Contudo, nos cabe destacar, a princípio, o primeiro “lado” desse conflito 
destacado pelo autor clássico: as noções de cidadania e de cidadão implicam no 
estabelecimento de condições de igualdade ou de busca para sua efetivação. 
Seguindo o critério ético de caráter, uma sociedade moralmente estruturada deveria 
ser balizada pela possibilidade de acesso semelhante de seus indivíduos a todas as 
oportunidades, especialmente se pensarmos o contexto democrático e a preocupação 
com o governo voltado ao atendimento das necessidades sociais da população. 
Em segundo lugar, quando nos debruçamos sobre as tensões geradas pela 
desigualdade de classes, deparamo-nos com argumentos clássicos de diversos 
autores: Maquiavel (1976) afirmou que o Estado é sempre um espaço de luta pela 
conquista ou manutenção do poder e que o governante deve valer-se de estratégias 
para manter sua condição, ainda que não atenda aos anseios da população; Marx 
(1983) destacou a luta entre as classes sociais – burguesia e proletariado – como 
inevitável para a superação da condição de desigualdade de distribuição de recursos 
e exploração da mão-de-obra; os autores do elitismo clássico, Michels (1982), Pareto 
(1984) e Mosca (1992), afirmaram que sempre haveria uma minoria organizada, 
denominada elite, capaz de ocupar os postos de poder e manter sua condição 
dominante com relação à maioria desorganizada por conta de múltiplas vontades e 
poucos recursos, o povo. 
 
Assim, a preocupação com a questão da cidadania não é recente, o que reforça 
a necessidade de refletirmos sobre esse tema de interesse social, uma vez que a 
preocupação de debates sobre aspectos socioculturais e éticos é, em parte, 
proporcionar a formação cidadã a você, em diálogo e para além dos conteúdos 
específicos de sua formação profissional. 
Entender, portanto, que a maneira como as sociedades atuais estão organizadas 
limita o exercício da cidadania implica em reconhecer que o parâmetro ético que 
deveria balizar as relações entre os indivíduos e com os governos e demais 
instituições tem falhado, mas, por outro lado, permite pensarmos sobre caminhos 
possíveis à superação ou redução dessas desigualdades no contexto democrático, 
em que instrumentos de representação, participação e deliberação se colocam como 
caminhos possíveis ao exercício da cidadania. 
headset 
DÊ O PLAY E OUÇA O PODCAST: 
 
 
A IDENTIDADE SOB A PERSPECTIVA COMBINADA DE ÉTICA, 
DEMOCRACIA E CIDADANIA 
 
 
Diante das considerações sobre ética, democracia e cidadania e da reflexão 
proposta acerca de suas influências (na primeira parte de nossa discussão) sobre a 
conformação de nossas identidades (no podcast), cabe uma explanação sobre a 
maneira como esses distintos elementos se organizam para conformar a vida social a 
qual todos integramos e se justifica a compreensão de conceitos como os tratados 
neste material. 
Nesse sentido, como tratamos nesta unidade de estudos da temática do 
interesse social, cabe tratarmos da questão da alteridade, que remete à maneira como 
nos posicionamos socialmente a partir das noções e da diferenciação entre “eu” e o 
“outro”. A ideia de alteridade está intimamente relacionada não apenas ao olhar para 
o outro, mas também a reconhecer o outro e a respeitar as diferenças identificadas, o 
que exige de cada um considerar dois aspectos: a compreensão sobre o que o outro 
pensa que faz e entende com relação aos símbolos e como eu interpreto a cultura e 
a interpretação do outro acerca de sua sociedade e/ou de suas práticas 
(LAPLANTINE, 2003; RIFIOTIS, 2012; RECHENBERG, 2013; QUEIROZ; 
SOBREIRA, 2016). 
Esse modo de interpretação social, característico da Antropologia, é capaz de 
permitir, àqueles que conseguem se colocar em tal condição, a superação dos limites 
daquilo que, inicialmente, pressupõem que encontrarão ou terão que decodificar, pois 
as noções de “cotidiano” e “habitual” tendem a se reduzir conforme a percepção 
acerca do que é “normal” ou “natural” e se tornam questionamentos sobre como e/ou 
o quanto costumes, posturas, práticas e a formação intelectual do “outro” são tão 
pertinentes quanto a minha! 
Diante de tais inquietações, Rifiotis (2012) destaca que a experiência da 
alteridade, que aparentemente é fácil, revela-se complicada na prática, especialmente 
por conta de julgamentos e sensos que conformam nosso etnocentrismo, que 
remetemà avaliação de aspectos diversos a partir da cultura de quem julga, ou seja, 
minha percepção como métrica para balizar o quanto todas as demais são adequadas, 
corretas ou justificáveis. 
A necessidade de tomada de consciência por parte de cada um com relação ao 
etnocentrismo e à necessidade de estimular em si a prática da alteridade é salutar ao 
desenvolvimento das relações sociais, uma vez que a ética consiste no caráter 
coletivo e mutável de funcionamento mais adequado de uma sociedade; a democracia 
implica a conformação de arranjos sociais e políticos em que diferentes grupos sejam 
considerados para as tomadas de decisões e a cidadania só se efetiva plenamente 
quando os diferentes são tratados de maneira equânime ou se busca a redução de 
disparidades sociais. 
Refletindo acerca do funcionamento das sociedades na atualidade, Hall (2006) 
afirmou que as alterações nas estruturas e nos padrões culturais nos dias de hoje 
decorreriam de rupturas que gerariam fragmentações que permeiam as relações 
sociais como um todo. Se anteriormente as sociedades eram pensadas a partir de um 
centro de poder e que este perderia espaço apenas quando substituído por outro; na 
pós-modernidade, a substituição se daria por uma pluralidade de centros de poder, 
fragmentados sem, necessariamente, um princípio articulador ou organizador único, 
bem como sem obrigatoriedade de causalidade ou explicação única. 
As sociedades contemporâneas ou pós-modernas, portanto, não poderiam ser 
tratadas como unificadas, delimitadas ou totais, sendo que aquelas de modernização 
tardia – fora do eixo dos países que estiveram à frente da Revolução Industrial nos 
séculos XVIII e XIX e dos Estados Unidos - produziriam ampla variedade de 
identidades aos indivíduos, as quais não se desintegram, não por unificação 
(unidade), mas porque os diferentes elementos e identidades podem, em certas 
circunstâncias, articular-se conjuntamente, ainda que seja parcial. 
Tal perspectiva nos permite inferir que Hall (2006) apresenta a noção de 
identidade na pós-modernidade como permeada por uma estrutura aberta, o que 
devemos considerar como positiva, já que a desarticulação de identidades fixas e 
estáveis do passado abre possibilidades a novas articulações, novos sujeitos, novas 
identidades e recomposições das estruturas de articulações – conforme destacado 
em nosso podcast. 
Eis o princípio do multiculturalismo, uma corrente interpretativa que se pauta pela 
defesa de grupos que têm acesso restrito a diversas esferas de reconhecimento, 
especialmente no que tange aos direitos sociais e, portanto, aos interesses sociais, 
uma vez que articula elementos de ética, democracia e cidadania em seu conteúdo, 
especialmente ao focar em discussões atreladas à inclusão de grupos cujos valores 
são inferiorizados pela sociedade em que vivem. 
 
Considerando que o debate acerca da garantia de direitos sociais a grupos que 
deles são privados está intimamente relacionado à própria democracia. Identificamos 
em Miguel (2005) e Albrecht (2019) as principais contribuições do multiculturalismo 
para a teoria e a prática democrática, ética e pautada pela cidadania. 
Em primeiro lugar, cabe destacar que a perspectiva multiculturalista é positiva 
no contexto democrático por conta da possibilidade de valorização de grupos como 
agentes políticos, tendo em vista que se pautam pela manifestação de que direitos 
sociais lhes são devidos e carecem de atenção e atendimento. 
Segundo, a manifestação de insatisfação de grupos faz emergir a consideração 
em torno da necessidade de incluir políticas direcionadas a minorias, de caráter 
redistributivo e voltado àqueles que necessitam, especificamente, de determinado 
serviço ou recurso, reforçando o caráter ético coletivo de busca pelo atendimento de 
necessidades de distintos grupos e expande a noção de cidadãos à totalidade da 
população, independentemente de características sociais específicas. 
O terceiro ponto diz respeito à crítica ao ideal de imparcialidade que, muitas 
vezes, vigora, em que a elite política e econômica ocupa os postos de mando e 
trabalha para a manutenção de seu status quo, de modo que grupos menos 
favorecidos sequer tenham voz, não raras vezes, e que toda oportunidade de vocalizar 
demandas e necessidades deve ser aproveitada! 
Diante do exposto, é importante reafirmar que o multiculturalismo inclui os grupos 
como agentes na reflexão política, já que tais coletividades são entendidas não como 
mera agregação de indivíduos, mas como conjuntos de pessoas que compartilham 
uma identidade e lutam pela garantia de direitos sociais pertinentes a essa identidade. 
Aqui, cabe reforçar que essa identidade pode ser de diferentes naturezas, inclusive 
profissional! 
Nesse contexto, a representação específica de grupos estimularia a participação 
e o engajamento e revelaria a parcialidade das perspectivas politicamente 
predominantes ao trazer à deliberação compreensões diferentes. Conforme destaca 
Young (2006), no âmbito do poder político instituído, não se trataria de ter um 
parlamento totalmente “igual” à sociedade em termos numéricos, mas de conferir 
oportunidade para diferentes grupos se expressarem e terem suas perspectivas 
consideradas. Essa noção de vocalização de perspectivas, inclusive, é um dos 
principais aspectos democráticos do multiculturalismo, para além da esfera político-
partidária relacionada aos cargos eletivos. 
O multiculturalismo traz, assim, uma reflexão sobre o próprio significado de 
democracia: constantemente associada à maioria, a democracia, em defesa do 
multiculturalismo, passa a ser vista como um regime protetor de minorias, constituída, 
não pelo aspecto numérico, mas pela posição que ocupa na sociedade em uma 
perspectiva relacional com relação à sua cidadania e aos direitos sociais. Assim, o 
multiculturalismo se opõe à ideia de que democracia é meramente um governo “do 
maior número”. 
Em se tratando dos principais marcadores sociais que marcam o contexto 
multiculturalista de enfrentamentos por direitos de minorias, Rifiotis (2012) – destaca 
quatro aspectos ou temáticas, quais sejam: 
 
zoom_in 
Em alguma medida, esses marcadores relacionam-se com os Objetivos do 
Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas 
(ONU) por meio da Agenda 2030 de parâmetros a ser estabelecidos pelos países, 
conforme será evidenciado ao fim desta unidade por meio de um infográfico específico 
. 
O sexo se apresenta como um vetor biológico definidor, ainda que parcialmente, 
de modos de pensar, agir e sentir dentro da maioria das sociedades contemporâneas, 
https://conteudoava.unicesumar.edu.br/arquivos/material-digital/a3373974219dc6dfe0a18a621d224968fa55bee655b2542f258fc4f36028813257bfc2a51fb9f6852d82602f210827f02aea50745e7dd82ac8fd04adbd2ad8a8/unidade2.html#modalfig2
as quais, em alguma medida, refletem a diferenciação entre homens e mulheres e 
suas ocupações e limites nos âmbitos público e privado (RIFIOTIS, 2012). Nesse 
sentido, uma desconstrução latente a ser enfrentada pela noção de alteridade é a 
determinação dos papéis sociais atribuídos a homens e mulheres no cuidado com o 
lar e a família (no âmbito privado), e sua capacidade de atuação no mercado de 
trabalho em geral, em cargos e funções hierarquicamente elevados e nos espaços da 
política (no âmbito público). 
O segundo marcador social relevante no contexto multicultural atual é a questão 
de classe social, critério que assume características econômicas e culturais, de 
maneira simultânea. Por um lado, remete à manutenção do domínio e da 
diferenciação social que perpetua uma elite política e econômica como ocupantes do 
poder, ao mesmo tempo que, por outro lado, dialoga com um discurso de meritocracia, 
pautado pelo argumento de que o esforço é a condição necessária para que todos 
alcancem seus objetivos. Considerando o impacto da qualidade do ensino sobre apossibilidade de alteração de classe social dos indivíduos, é pertinente considerar que 
uma sociedade mais ética e com valores de cidadania seria aquela em que a 
democracia defende a melhoria da educação pública e do acesso a essa educação. 
Com relação ao terceiro marcador social, a relação entre idade e geração, cabe 
destacar que enquanto idade remete à mera contagem de anos de vida, o conceito de 
geração remete às experiências e perspectivas que cada período da vida pode 
reservar aos indivíduos. Da mesma maneira, trata das necessidades individuais com 
as quais o Estado deve arcar para com o indivíduo. Isso significa que os jovens, por 
exemplo, fazem maior uso de equipamentos públicos de educação e esportes, bem 
como carecem de políticas de inserção no mercado de trabalho e de acesso ao ensino 
superior ou cursos técnicos para profissionalização. Por outro lado, àqueles em idade 
“produtiva” cabe a preocupação com a Previdência Social; e aos idosos cabe a maior 
utilização do Sistema Único de Saúde. Essa noção de geração, portanto, remete às 
experiências vivenciadas, de modo que as experiências que conformam as 
identidades dos indivíduos e sua relação com o caráter ético da vida em sociedade e 
sua cidadania diferem. 
 
Por fim, o quarto marcador social destacado por Rifiotis (2012) é a questão da 
etnia, indicador voltado à interpretação das relações existentes entre distintos grupos 
étnico-raciais, referentes aos quais é conhecida a diferenciação em termos de acesso 
a oportunidades e preconceitos, especialmente ao nos depararmos com a história do 
Brasil após a abolição da escravatura (1888) e a proclamação da república (1889). 
Sobre tal marcador, o autor chama atenção com a seguinte exposição: 
A desigualdade social no Brasil passa com certeza pelo marcador étnico. Porém, 
a questão atual está em compreender como se dá o “preconceito à brasileira” e como 
ele opera no nosso cotidiano. Neste campo entre desigualdade social e preconceito, 
há muito para fazer e muitos aspectos para analisar. E não se iluda, porque o mais 
difícil de ver é o óbvio. De fato, a questão envolve múltiplos aspectos da vida social 
(RIFIOTIS, 2012, p. 99). 
Contudo, para além da consideração sobre cada marcador em separado, é 
preciso ter em mente que se tratam de categorias analíticas, as quais podem 
apresentar-se isoladas ou de maneira conjunta na prática, uma vez que o 
multiculturalismo nos coloca o desafio de considerar a multiplicidade de aspectos 
conformadores das identidades individuais e pensarmos, de modo coletivo, sobre a 
prática ética e os direitos de cidadania. 
Para concluirmos nossa reflexão, cabem duas considerações acerca desses 
temas de interesse social. A primeira diz respeito à materialização da questão ética 
no contexto democrático por meio da cidadania em nível global: trata-se dos direitos 
humanos, que constituem as liberdades civis e políticas dos indivíduos ao redor de 
todo o mundo, conforme determina a ONU desde a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, assinada em 1948, por um conjunto de países que aceitaram princípios 
como: todos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e devem permanecer 
iguais perante a lei; todos têm direito à vida e não devem ser submetidos à escravidão; 
todos devem ter direito à educação; devem ser respeitadas liberdades de opinião, de 
expressão e de manifestação de religião etc. Esses princípios devem nortear a 
formulação de leis em cada país. 
A segunda consideração, relacionada à primeira e específica para o caso 
brasileiro, diz respeito à Constituição Federal de 1988, vigente no país até o momento 
e internacionalmente conhecida como “Constituição cidadã”, por conta dos avanços 
em termos de determinação de igualdade de direitos a toda a população, garantia de 
direitos sociais por meio de políticas públicas e de liberdades de expressão, 
organização e manifestação, inclusive por meio de manifestações contestatórias ao 
funcionamento das instituições políticas que regem o governo e pela participação 
ampla dos cidadãos na formulação de políticas públicas, por meio de instituições 
participativas. 
A Organização das Nações Unidas definiu um conjunto de parâmetros para a 
melhor adequação do funcionamento das sociedades atuais por meio do 
estabelecimento da Agenda 2030, na qual foram firmados os Objetivos do 
Desenvolvimento Sustentável (ODS), relacionados a três eixos práticos: a biosfera, a 
sociedade e a economia, conforme exposto na representação a seguir, extraída da 
página oficial do documento. 
 
www.agenda2030.com.br 
Conforme evidenciado na imagem, a maioria dos objetivos se encontra vinculada 
à sociedade, tratando-se, portanto, de aspectos relacionados ao interesse social e, 
nesse sentido, permeando as temáticas da ética, da democracia e da cidadania no 
contexto de vivência com alteridade e em respeito ao multiculturalismo. 
Seguem breves descrições dos ODS de interesse social também extraídas da 
página oficial da Agenda 2030. 
 Erradicação da pobrezaarrow_drop_down 
 Fome zero e agricultura sustentávelarrow_drop_down 
 Saúde e bem-estararrow_drop_down 
 Educação de qualidadearrow_drop_down 
 Igualdade de gêneroarrow_drop_down 
 Energia acessível e limpaarrow_drop_down 
 Cidades e comunidades sustentáveisarrow_drop_down 
 Paz, justiça e instituições eficazesarrow_drop_down 
 REFERÊNCIASarrow_drop_down 
 
 
AcessibilidadeAlto-contrasteModo escuroA+Aumentar fonteAaOriginalA-Diminuir 
fonteLinha marcadoraLinha de leituraRestaurar 
 
LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO 
Unidade 3 
O intuito da unidade 3, caro(a) estudante, é trazer algumas reflexões básicas a 
respeito de um assunto que se relaciona a todos nós, sujeitos humanos: a 
comunicação. Trata-se de um assunto que deveria ser acessível a todos, mas – sabe-
se que, por inúmeras questões, isso não é possível. 
Assim, para iniciar a discussão aqui proposta, seguem alguns questionamentos: 
você sabia que a língua vai muito além das regras gramaticais? Sabia que ela é um 
organismo vivo e interfere muito em nossa vida? 
A falta de conhecimento entre linguagem e poder, os problemas no processo de 
comunicação e o desconhecimento da língua como organismo vivo acarretam 
http://www.agenda2030.com.br/os_ods/
inúmeros problemas em nossas práticas, desde as mais banais até as mais 
sofisticadas. 
Partindo dessa premissa, vamos pensar, mesmo que rapidamente, acerca dos 
conceitos de língua e linguagem, nos elementos que compõem os atos comunicativos, 
nas funções da linguagem e nas diferenças básicas existentes entre o texto literário e 
o texto nãoliterário. 
LÍNGUA & LINGUAGEM 
A língua é o meio de comunicação utilizado por todos os falantes de qualquer 
região do mundo. Muito mais do que isso, ela é, também, um objeto de poder. A 
Linguística – ciência que estuda as línguas – propõe inúmeras maneiras de se 
conceituar e compreender esse complexo tema. 
Exemplo de tipo de linguagem: 
 
 
Um conceito de cunho estruturalista vem de Ferdinand de Saussure (1970), 
considerado o pai da Linguística moderna. Para ele, a língua é um sistema de signos, 
isto é, um conjunto de unidades que relaciona um significante (imagem acústica) com 
um significado (conceito). A língua está na coletividade e se manifesta de duas formas: 
fala e escrita. Com base nessas duas manifestações é possível pensar na dimensão 
histórica da língua levando em consideração suas questões sociais. Fato é que a 
língua existe desde o começo do mundo, e quando nascemos já somos impostos a 
ela que, por sua vez, já está definida por seus usuários. De acordo com Saussure 
(1970, p. 34): 
Língua e escrita são dois sistemas distintos de signos; a única razão de ser do 
segundo é representar o primeiro; o objetivo linguístico não se define pela combinação 
da palavra escrita e da palavra falada; essa última, por si só, constitui tal objeto. Mas 
a palavra escrita se mistura tãointimamente com a palavra falada, da qual é a imagem, 
que acaba por usurpar-lhe o papel principal; terminamos por dar importância à 
representação do signo vocal do que ao próprio signo. É como se acreditássemos 
que, para conhecer uma pessoa, melhor fosse contemplar-lhe a fotografia do que o 
rosto. 
Saussure (1970, p. 24) complementa – afirmando que “a língua é um sistema de 
signos que exprimem ideias, e é comparável, por isso, à escrita, ao alfabeto dos 
surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares etc., etc. 
ela é apenas o principal desses sistemas”. É importante que fique claro que o interesse 
de Saussure estava focado no sistema e na forma da língua e não nos aspectos de 
sua realização na fala ou nos textos. Em outras palavras, em seus estudos, ele não 
se preocupava em analisar o uso da língua, embora ele nunca tenha “fechado as 
portas” para esse tipo de análise. 
 
Para Saussure, a linguagem, ao contrário da língua, sofre alterações: modificam-
se as palavras, novas expressões vão surgindo, o uso constante da língua permite 
comunicações distintas em diversas épocas e/ou situações. Para encerrarmos essa 
noção básica acerca da concepção estruturalista, entende-se que a linguagem advém 
da língua e não podemos confundir: a linguagem tem caráter individual e social e a 
língua possui caráter adquirido e convencional. 
Já uma concepção histórica, social e interativa põe em relevo a evolução da 
língua. Depois de muitos estudos e de revisões do pensamento saussureano, fica 
explícito que não é possível afirmar que a língua permanece a mesma, homogênea e 
intacta, depois de tantas evoluções históricas e sociais que ocorreram em todo o 
mundo desde os primórdios. 
Irandé Antunes (2009) – afirma que não é possível pensar em língua como objeto 
isolado, ao contrário: é preciso observar suas condições de uso. Assim sendo, essa 
concepção de língua pensa no fenômeno linguístico a partir de suas intenções 
sociocomunicativas, observando as interações existentes entre seus interlocutores, 
além dos efeitos de sentido, seus contextos de uso, deixando, dessa maneira, de ser 
um signo contido de significado e significante e um amontoado de regras normativas. 
A partir da quebra dessa visão estrutural, é possível entender toda a mobilidade da 
língua. Antunes (2009. p. 23) complementa: 
A língua é, assim, um grande ponto de encontro; de cada um de nós, com os 
nossos antepassados, com aqueles que, de qualquer forma, fizeram e fazem a nossa 
história. Nossa língua está embutida na trajetória de nossa memória coletiva. Daí o 
apego que sentimos à nossa língua, ao jeito de falar e nosso grupo. Esse apego é 
uma forma de selarmos nossa adesão a esse grupo. 
Na esteira dessas discussões, Marcos Bagno (2002) contribui para a presente 
discussão ao trazer, de modo clarificado, algumas definições da língua, conforme 
seguem: 
a) A língua apresenta uma organização interna sistemática que pode ser 
estudada cientificamente, mas ela não se reduz a um conjunto de regras de boa-
formação que podem ser determinadas de uma vez por todas como se fosse possível 
fazer cálculos de previsão infalível. As línguas naturais são dificilmente formalizáveis; 
b) A língua tem aspectos estáveis e instáveis, ou seja, ela é um sistema variável, 
indeterminado e não fixo. Portanto, a língua a apresenta sistematicidade e variação a 
um só tempo; 
c) A língua se determina por valores imanentes e transcendentes de modo que 
não pode ser estudada de forma autônoma, mas deve-se recorrer ao entorno e à 
situação nos mais variados contextos de uso. A língua é, pois, situada; 
d) A língua constrói-se com símbolos convencionais, parcialmente motivados, 
não aleatórios, mas arbitrários. A língua não é um fenômeno natural nem pode ser 
reduzida à realidade neurofisiológica; 
e) A língua não pode ser tida como um simples instrumento de representação do 
mundo como se dele fosse um espelho, pois ela é constitutiva da realidade. É muito 
mais um guia do que um espelho da realidade; 
f) A língua é uma atividade de natureza sócio-cognitiva, histórica e 
situacionalmente desenvolvida para promover a interação humana; 
g) A língua se dá e se manifesta em textos orais e escritos ordenados e 
estabilizados em gêneros textuais para uso das situações concretas; 
h) A língua não é transparente, mas opaca, o que permite a variabilidade de 
interpretação nos textos e faz da compreensão um fenômeno especial na relação 
entre os seres humanos; 
i) Linguagem, cultura, sociedade e experiência interagem de maneira intensa e 
variada não se podendo postular uma visão universal para as línguas particulares. 
As reflexões de Bagno fortalecem a compreensão da versatilidade da língua e a 
impossibilidade de estudá-la isoladamente, uma vez que ela é ferramenta de 
comunicação e de interação social entre os sujeitos falantes. Antunes (2009) afirma 
que língua e linguagem caminham e evoluem juntas, portanto, “linguagem, língua e 
cultura são, reiteramos, realidades indissociáveis”. 
Nessa mesma perspectiva, Celestina Sitya (1995) afirma que a linguagem possui 
várias funções, no entanto, destaca a importância da interação social, da comunicação 
entre os sujeitos. Ela afirma que sendo a linguagem uma forma de ação, ela “adentra-
se nos campos da persuasão e do convencimento, porque a linguagem como meio de 
interação social é dotada de intencionalidade: seu fundamento está, pois, na 
argumentação que procura persuadir e convencer” (SITYA, 1995, p. 12). Isto quer 
dizer que a função primordial da linguagem é a argumentação, pois quem enuncia 
algo sempre tem em vista persuadir seu interlocutor. 
Ingedore Koch (1996, p. 17) propõe que a linguagem deve ser compreendida 
como forma de ação, isto é, “ação sobre o mundo dotada de intencionalidade, 
veiculadora de ideologia, caracterizando-se, portanto, pela argumentatividade”. Com 
base nessa afirmação, todas as relações, opiniões, interações que são construídas 
via linguagem são feitas não apenas para expressar algo, mas também para provocar 
alguma reação no outro. Dessa forma, fica explícito que tudo é intencional, mesmo 
que não tenhamos consciência disso. 
ELEMENTOS DO ATO COMUNICATIVO E FUNÇÕES DA LINGUAGEM 
Pensemos, a partir de agora, mais detalhadamente nas funções da linguagem. 
Para tal, acionaremos o modelo proposto por Roman Jakobson (2010), relido aqui por 
Mário Eduardo Martelotta (2008). 
Para Jakobson (2010), a linguagem possui várias funções, mas para que 
possamos apreendê-las, é preciso compreender os elementos que constituem o ato 
de comunicação. Observe o esquema a seguir: 
 
O esquema nos mostra que, para existir comunicação, é preciso que haja não 
apenas um remetente que envie uma mensagem qualquer para um destinatário. Para 
que haja sucesso nesse ato, é preciso observar, por exemplo, um contexto que seja 
compreensível para o destinatário. Martelotta (2008) afirma que a noção de contexto 
está relacionada ao conteúdo da mensagem, às informações que estão ligadas à 
nossa realidade biossocial e que aparecem na mensagem enviada. Isso quer dizer 
que não necessariamente as informações contextuais estejam todas explícitas na 
mensagem, podendo fazer referência às informações ditas anteriormente ou mesmo 
ao tipo de relação estabelecida entre os interlocutores. 
Amplificando essa discussão, a noção de contexto também envolve todas as 
informações referentes à produção da mensagem. Por exemplo, se ouvirmos a frase: 
“passei muitos exercícios na aula de hoje”, certamente ela possui sentidos diferentes 
se fosse dita por um professor de língua portuguesa ou por um professor de 
musculação. Resumidamente, para que o destinatário compreenda a mensagem, ele 
precisa entender o contexto em que ela está inserida, levando em consideração 
assuntos que não estão postos na mensagem. 
O código é o conjunto de sinais utilizados para construir a mensagem. Pode ser

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