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ENSINO A DISTÂNCIA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Copyright © 2020 by Editora Faculdade Avantis. Direitos de publicação reservados à Editora Faculdade Avantis e ao Centro Universitário Avantis – UNIAVAN. Av. Marginal Leste, 3600, Bloco 1. 88339-125 – Balneário Camboriú – SC. editora@avantis.edu.br Depósito legal na Biblioteca Nacional, conforme Lei nº 10.994, de 14 de dezembro de 2010. Nenhuma parte pode ser reproduzida, transmitida ou duplicada sem o consentimento da Editora, por escrito. O Código Penal brasileiro determina, no art. 184, “dos crimes contra a propriedade intelectual”. Projeto gráfico e diagramação: Ana Lúcia Dal Pizzol Editoração: Bruna Jaime Feiden PLANO DE ESTUDOS Olá prezado(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Fisiologia do Exercício. Os conteúdos desta disciplina pontuam as alterações no organismo, em virtude do exercício, de modo a apontar as respostas agudas e adaptações crônicas, resultantes dos diferentes tipos de exercícios. EMENTA Adaptações cardiovasculares e exercício. Adaptações respiratórias e exercício. Desempenho e composição corporal. Efeitos crônicos e agudos do exercício no corpo humano. Estudo das alterações fisiológicas do organismo, frente ao exercício e treinamento físico. Fisiologia do exercício, relacionada ao desenvolvimento do ser humano, desde a infância até à terceira idade. Bioenergética. OBJETIVOS DA DISCIPLINA • Entender a importância da Fisiologia do Exercício para a prática de atividades físicas. • Compreender a integração entre os sistemas, durante o exercício físico. • Conhecer os efeitos crônicos e agudos do exercício físico no corpo humano. • Identificar os efeitos dos diferentes tipos de exercícios físicos. • Ter conhecimento sobre a aplicabilidade da Fisiologia do exercício nos diversos contextos. O PAPEL DA DISCIPLINA NA FORMAÇÃO DO ESTUDANTE Na disciplina de Fisiologia Humana, você apreendeu o funcionamento dos sistemas do corpo humano, utilizando os conceitos e conteúdos relacionados à Biologia e à Anatomia Humana. Além dos conhecimentos das duas disciplinas, neste estudo, nós precisaremos da compreensão prévia de aspectos ligados à Bioquímica. Em um futuro breve, quando você estiver formado, será impossível não basear suas práticas e discussões profissionais nos conceitos que veremos em nossa disciplina. Você deverá conhecer os efeitos crônicos e agudos dos diferentes tipos de exercício físico, nas mais diversas populações e contextos, como, por exemplo, para o idoso atenuar a sarcopenia, com o treinamento resistido na academia; ou para o atleta de futebol melhorar seu VO 2max no jogo, através do treinamento aeróbio. Portanto, espera-se que você se identifique com a disciplina, entendendo a necessidade de sempre se atualizar acerca desta temática. SOBRE O AUTOR TIAGO MARTINS COELHO Mestre pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), membro do grupo de pesquisa do Laboratório de esforço físico (LAEF/UFSC), professor de ensino superior, fisiologista e personal trainer. Pós-graduado em Treinamento Desportivo e em Docência no Ensino Superior, pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci, e em Ensino a Distância: Docência e Tutoria, pela Faculdade Avantis. Possui graduação em Educação Física – Bacharelado, pela Universidade de Santa Cruz do Sul (2012) e graduação em Educação Física – Licenciatura, pela Universidade da Região da Campanha (2010). Atuou como atleta profissional de futebol, de 2005 a 2012. Possuidor de ampla vivência na área de Educação Física, com ênfase em Academia (avaliação física, musculação, bike indoor e ginástica) e Treinamento Desportivo. Professor convidado do Curso de Especialização Lato Sensu, da Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC. Atualmente, é colaborador do SESC-SC, personal trainer e professor do Centro Universitário UNIAVAN. Também é acadêmico do curso de Administração, UNIVAN. Curriculum Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8138167E1 PROFESSOR http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8138167E1 SUMÁRIO UNIDADE 1 - BASE DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO E BIOENERGÉTICA ................9 1 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................................................................. 10 1.1 BREVE EVOLUÇÃO DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO ............................................................................. 10 1.2 STEADY STATE, RESPOSTAS AGUDAS E ADAPTAÇÕES CRÔNICAS AO EXERCÍCIO FÍSICO ..............15 1.3 BIOENERGÉTICA .....................................................................................................................................................18 1.3.1 Sistema ATP-CP ..............................................................................................................................................................28 1.3.2 Glicolítico ...........................................................................................................................................................................29 1.3.3 Oxidativo .............................................................................................................................................................................32 1.4 SOBREPOSIÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA .................................................. 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................... 35 EXERCÍCIO FINAL ....................................................................................................................................................... 36 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................37 UNIDADE 2 - FISIOLOGIA NEUROMUSCULAR ...................................................................................39 2 INTRODUÇÃO À UNIDADE ................................................................................................................................ 40 2.1 SISTEMA NEUROMUSCULAR ........................................................................................................................ 40 2.2 FADIGA NEUROMUSCULAR ...........................................................................................................................47 2.3 ADAPTAÇÕES NEUROMUSCULARES ....................................................................................................... 48 2.3.1 Adaptações Neurais ..................................................................................................................................................49 2.3.2 Adaptações Morfológicas ....................................................................................................................................51 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................57 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................................... 59 UNIDADE 3 - FISIOLOGIA CARDIORRESPIRATÓRIA .......................................................................61 3 INTRODUÇÃO À UNIDADE .................................................................................................................................62 3.1 SISTEMA CARDIORRESPIRATÓRIO ..............................................................................................................62 3.2 COMPORTAMENTO DO SISTEMA CARDIOVASCULAR FRENTE AO EXERCÍCIO FÍSICO . 64 3.2.1 Frequência Cardíaca .................................................................................................................................................653.2.2 Débito Cardíaco ...........................................................................................................................................................69 3.2.3 Pressão Arterial ........................................................................................................................................................... 70 3.3 COMPORTAMENTO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO FRENTE AO EXERCÍCIO FÍSICO ...........72 3.3.1 Índices Fisiológicos do Desempenho Aeróbio .................................................................................... 76 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................... 80 EXERCÍCIO FINAL ........................................................................................................................................................ 81 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................82 UNIDADE 4 - EXERCÍCIO FÍSICO E ASPECTOS HORNOMAIS ..........................................83 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................................................................... 84 4.1 SISTEMA HORMONAL ...................................................................................................................................... 84 4.1.1 Hormônio do Crescimento (GH) ........................................................................................................................88 4.1.2 Testosterona ...................................................................................................................................................................90 4.1.3 Cortisol .................................................................................................................................................................................93 4.1.4 Insulina e Glucagon ...................................................................................................................................................95 4.1.5 Catecolaminas ...............................................................................................................................................................98 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................101 EXERCÍCIO FINAL ......................................................................................................................................................102 REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................................................104 1 unidade BASE DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO E BIOENERGÉTICA 10 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 1 INTRODUÇÃO À UNIDADE Olá caro(a) acadêmico(a)! A partir de agora, estudaremos as influências do exercício físico na estrutura, na função e nas adaptações do organismo, além dos fundamentos e mecanismos fisiológicos quanto à prática e prescrição do exercício físico, relacionados ao crescimento, desenvolvimento, saúde e desempenho. Entenderemos, na Unidade 1, a Fisiologia do Exercício, a qual pode ser considerada o estudo das respostas que o corpo humano nos fornece antes, durante e após os exercícios, de modo a conceituar os mecanismos do organismo para o seu funcionamento integrado, refletindo as alterações que os sistemas apresentam por meio dos exercícios físicos. Com a fisiologia do exercício podemos entender, por exemplo, como as pessoas fazem exercícios em diferentes intensidades, como se comporta a FC, ou até mesmo as diferenças fisiológicas entre crianças, adultos e idosos, submetidos ao mesmo estímulo (treino), além de compreender as especificidades entre o sexo masculino e feminino. Veremos que a influência da temperatura, quente ou frio, o tipo de exercício ou modalidade, a predominância de fonte energética (carboidrato, proteínas, lipídios), a intensidade, o volume do treino e a individualidade biológica podem explicar as diferenças de rendimento. Devemos considerar, ainda, a energia necessária para sair do repouso e iniciar o exercício, a fim de produzir força (contração muscular) e, por fim, gestos específicos, em diferentes intensidades e duração. Assim sendo, abordaremos o exercício físico, relacionado aos sistemas: neuromuscular, cardiorrespiratório, endócrino e imunológico, principalmente. Portanto, esta unidade tem os seguintes objetivos de aprendizagem: conhecer as áreas de atuação da Fisiologia do exercício; diferenciar respostas agudas de adaptações crônicas ao exercício; compreender o metabolismo dos macronutrientes e identificar os sistemas de produção de energia. 1.1 BREVE EVOLUÇÃO DA FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO A história e a evolução da fisiologia do exercício se misturam às grandes áreas do conhecimento, como: Filosofia, Anatomia e Medicina, pois nomes como Hipócrates (460 e 370 a.C.), Aristóteles (384 a 322 a.C.), Galeno (131-202 d.C.), Leonardo da Vinci (1452 11 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO a 1519 d.C.), Galileu Galilei (1564 a 1642 d.C.), Alfonso Borelli (1608 a 1679 d.C.), Willian Harvey são protagonistas de todas estas áreas que citadas. Antes de entrarmos no conceito de fisiologia de exercício propriamente dito, faz-se necessário pontuar alguns destaques na história, para entendermos melhor como esta subárea alcançou a relevância que tem hoje. Dos mais remotos cientistas, talvez Galeno (131-202 d.C.) tenha sido o primeiro médico dedicado ao esporte, o qual buscou melhorar a compreensão sobre a contração muscular e a anatomia musculoesquelética, constatando que as artérias conduziam sangue, e não ar como se imaginava (RASCH, 2008). Depois disso, os achados eram de ordem básica, mais relacionados à anatomia e medicina do que aplicados ao exercício. Cabe destacar que, apenas em 1628, Willian Harvey escreveu sobre o Sistema Circulatório, e a Fisiologia passou a ser ciência. Em 1860, Claude Bernard fez a descrição de homeostasia, a qual deveria ser mantida pelo organismo para a manutenção do equilíbrio no meio interno. As contribuições acadêmicas vieram de muitas partes do mundo. Na Europa, por meio do dinamarquês August Krogh (1920), do britânico Archibald V. Hill (1922) e do alemão Otto Meyerhof (1922), os quais receberam o Prêmio Nobel por suas pesquisas na fisiologia da musculatura esquelética e do metabolismo energético, sendo tão significante quanto nos Estados Unidos, quando o Harvard Fatigue Laboratory foi a incubadora da ciência, na história da Fisiologia do Exercício na América. Nesse laboratório, durante vinte anos, David Bruce Dill conduziu estudos nas áreas de metabolismo energético, meio ambiente (efeitos do frio e da altitude), envelhecimento, nutrição e aptidão física e saúde. A partir dos anos 60, a Fisiologia do Exercício se estabeleceu enquanto área de investigação científica, com a presença de pesquisadores como: William McArdle, Frank Katch, David Costill e Jack Wilmore, sendo alguns deles citados ao longo de nossa disciplina. Contemporâneo aos seus pares, Hugh Luxley (1924 a 2013), de posse do microscópio eletrônico, em seu estudo de 1954, observou o comportamento das proteínas contráteis no seu processo de deslizamento e sobreposição (MCARDLE, KATCH, E KATCH, 2016). No Brasil, o Laboratório de Fisiologia do Exercício (LABOFISE), local em que atualmente é a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizava pesquisas para obter o perfil antropométrico e fisiológico dos alunos da instituição. Em outra metrópole brasileira, a Escola de Educação Física e Esporte, da Universidade de São Paulo (EEFEUSP), começou com o seu primeiro laboratório de pesquisa, denominado CIPEF - CentroIntegrado de Pesquisa em Educação Física. Hoje, o fisiologista é um profissional requisitado em ambientes acadêmicos, como laboratórios e sala de aula, em clínicas de reabilitação e avaliação, além de comissões 12 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO interdisciplinares de clubes de futebol, nadadores, lutadores, ciclistas e corredores, por exemplo. O fisiologista pode atuar com diferentes populações, desde a infância até a terceira idade, e também em ensaios com modelos animais. Figura 1 - Atuação do fisiologista do exercício. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). SAIBA MAIS SUGESTÃO DE SITE: Um laboratório de referência nesta área é o LAEF – Labora- tório de Esforço Físico. O centro de pesquisa pertence à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), destacando-se por muitos estudos, em periódicos nacionais e interna- cionais, com temas relacionados ao desempenho humano. Mestres e Doutores são formados no Programa de Pós-Graduação em Educação Física, ao qual este laboratório está vinculado. Vale a pena conferir um pouco do que acontece lá! Disponível em: <https://www.facebook.com/pages/category/School/LAEF-Laborat%C3%B3rio- -de-esfor%C3%A7o-f%C3%ADsico-207340282680450/>. Acesso em: 14 de julho de 2020. Caso queria ir adiante, sugiro visitar a página no site da UFSC, na qual constam todas as dissertações e teses deste grupo de pesquisa. Disponível em: <https://ppgef.ufsc.br/noticias/>. Acesso em: 22 de julho de 2020. https://www.facebook.com/pages/category/School/LAEF-Laborat%C3%B3rio-de-esfor%C3%A7o-f%C3%ADsico-207340282680450/ https://www.facebook.com/pages/category/School/LAEF-Laborat%C3%B3rio-de-esfor%C3%A7o-f%C3%ADsico-207340282680450/ https://ppgef.ufsc.br/noticias/ 13 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Esta rápida reflexão tem o objetivo de situá-lo quanto ao que a fisiologia já encontrou, além da importância das pesquisas relacionadas à saúde e ao desempenho. É possível subdividir a Fisiologia do Exercício em aspectos relacionados ao desempenho esportivo e aspectos relacionados à aplicação clínica. As pesquisas na primeira área envolvem: avaliação de atletas, procedimentos de treinamento, desenvolvimento de capacidades motoras, respostas agudas e adaptações ao processo treinamento, efeitos do meio ambiente, entre outros. Na área voltada à saúde, os estudos abordam prevenção, tratamento e controle de doenças relacionadas à hipocinesia (i.e. oriundas da baixa participação em atividades físicas), em especial, as doenças crônico-degenerativas (FORJAZ; TRICOLI, 2011). FÓRUM No fórum da disciplina, deixe seu parecer sobre as possibilidades de atuação do fisiologista do exercício. Lembre-se de que sua participação nestes momentos de atividades que quebram a linearidade da leitura do caderno é importantíssima para a assimi- lação dos conteúdos apresentados aqui. Não deixe de participar! Originada do grego Physis (natureza, função ou funcionamento) e logos (palavra ou estudo), a fisiologia, na essência que conhecemos, é a mãe da fisiologia do exercício. Esta última, também chamada de Fisiologia do Esforço ou da Atividade Física, estuda como as funções orgânicas respondem e se adaptam ao estresse imposto pelo exercício físico. “A fisiologia do exercício abrange esses elementos para avaliar o efeito de uma simples sessão de exercício (exercício agudo) e de repetidas sessões de exercício (p. ex., programas de treinamento) nesses tecidos, órgãos e sistemas” (POWERS e HOWLEY, 2017, p.3). 14 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Figura 2 - Origem da fisiologia do exercício. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). A Fisiologia do Exercício estuda os efeitos agudos e crônicos do exercício físico sobre a estrutura e a função dos diversos sistemas orgânicos, bem como a integração entre os sistemas com o aumento da demanda energética existente durante o exercício. Mais especificamente, pode-se dizer que ela estuda a integração entre os sistemas cardiovascular, respiratório e muscular (3 sistemas que explicam o VO 2max ), com o aumento da demanda energética que ocorre durante o exercício, por exemplo. Cabe ressaltar que não podemos desassociar os sistemas ou simplesmente negligenciar a participação de outros sistemas, com seus efeitos inibitórios ou reguladores, como é o caso do hormonal. Todavia, para facilitar o entendimento desta disciplina bastante complexa e interdependente, tentamos estudá-los isoladamente, ou até mesmo em pares (Ex.: Sistema Nervoso e Muscular = Sistema Neuromuscular). Por assim ser, ao longo deste caderno, você perceberá que daremos mais atenção a alguns, em detrimento de outros, porém é de suma importância você compreender o conceito de fisiologia integrada, na qual todos os sistemas estão relacionados, trabalhando em diferentes frequências, regidas pelos dois sistemas de controle – Nervoso e Hormonal. 15 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 1.2 STEADY STATE, RESPOSTAS AGUDAS E ADAPTAÇÕES CRÔNICAS AO EXERCÍCIO FÍSICO Se na fisiologia humana o conceito de homeostase é tão relevante, na fisiologia do exercício, além deste, também devemos entender o conceito de steady state (estado estável). Ambas são condições de equilíbrio dinâmico e instável do organismo, sendo que a homeostase se refere a este equilíbrio, durante o repouso, e steady state, durante o exercício. Em contrapartida, a condição de equilíbrio estático se refere à morte celular (POWERS e HOWLEY 2017). Ao iniciar um exercício físico, a demanda energética se altera, e o organismo necessita de mais energia do que estava produzindo. Assim, tende a se ajustar, dependendo da duração e intensidade do exercício, e entrar em steady state, alterando o metabolismo. Tal alteração pontual é o que a literatura chama de efeito agudo do exercício físico. Podemos citar o aumento da frequência cardíaca (FC), da pressão arterial (PA), da temperatura corporal, das concentrações de lactato sanguíneo e do consumo de oxigênio (VO 2 ). Figura 3 - Respostas agudas e adaptações crônicas do exercício. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Segundo Simão (2008), a FC de repouso é de 60 a 80 batimentos por minuto (bpm), em média, podendo alcançar valores acima de 200 bpm, em exercícios máximos e supra máximos. Para a PA, o que se altera significativamente durante o exercício é a pressão sistólica, variando de 110 a 139 mmHg, em repouso, para 220 a 260 mmHg no exercício. Quanto às concentrações de lactato, outra variável de resposta aguda, estas podem ser superiores a 10 mmol/l, antes de o indivíduo entrar em fadiga. Já o consumo de oxigênio 16 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO se altera da forma gradual, porém com algum deley (atraso), ou seja, o organismo leva um tempo para entrar em equilíbrio (steady state) e produzir a energia necessária para a nova demanda energética imposta pela atividade física, indo de 3,5 ml/kg/min em repouso para uma imensa variação de 25 a 80 ml/kg/min no exercício máximo, dependendo do indivíduo. SUGESTÃO DE LEITURA Veja um exemplo de estudo sobre efeitos agudos do exercício físico, no artigo intitulado: “Efeito agudo de uma sessão de CrossFit® sobre as variáveis hemodinâ- micas e a percepção de esforço de adultos treinados”. Este artigo de Alencar, De Souza Sodré e Rosa (2018), teve o objetivo de verificar o efeito de uma sessão de treinamento de CrossFit® sobre as variáveis hemodinâmicas e a percepção de esforço de indivíduos treinados. Doze homens praticantes apenas de CrossFit®, tiveram sua percepção de esforço (PE) e suas variáveis hemodinâmicas, frequência cardíaca (FC), pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD) aferidas antes, e imediatamente após uma sessão de treinamento. Os autores encontraram aumento significativo nos níveis de FC, PAS e DP após a sessão de CrossFit®. O artigo na íntegra está disponível em: <https://revistadeeducacaofisica.emnuvens.com.br/revista/article/view/487/pdf_125>. Aces- so em: 23 de julho de 2020. Já os efeitos crônicos do exercício físico são aqueles queacontecem ao longo do tempo, sendo mediados pelos efeitos agudos. Maiores estoques de glicogênio muscular e hepático, massa muscular, coordenação intra e intermuscular, aumento do metabolismo basal e diminuição da FC de repouso (valores de 40 a 60 bpm para indivíduos altamente treinados), ilustram tais adaptações. SUGESTÃO DE LEITURA: ARTIGO EFEITOS CRÔNICOS Da Rosa et al. (2019), em seu estudo: “Efeitos de vinte semanas de treinamento físico sobre a força e marcadores sanguíneos em mulheres idosas”, teve como objetivo verificar o efeito de vinte semanas de treinamento físico sobre a força e marcadores https://revistadeeducacaofisica.emnuvens.com.br/revista/article/view/487/pdf_125 17 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO sanguíneos (HDL, colesterol total, triglicerídeos e glicose) em mulheres idosas. Na amostra, 18 idosas foram submetidas a 20 semanas de treinamento resistido (10 exercícios com intensidade de 70-85% de 1RM), com avaliações nos momentos pré e pós (coletas sanguíneas e testes de 1RM). Os testes de força e o HDL apresentaram aumentos significativos, enquanto o colesterol, a glicose e os triglicerídeos apresentaram redução significativa, demonstrando que o método de treinamento foi eficiente para a melhora da força e dos parâmetros sanguíneos. O artigo na íntegra está disponível em: <http://www.rbpfex.com.br/index.php/rbpfex/article/view/1712/1225>. Acesso em: 23 de julho de 2020. Figura 4 - Infograma da essência da fisiologia do exercício. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Os efeitos agudos e as adaptações crônicas dependem: da seleção do exercício, da intensidade e do volume, das condições climáticas, do gênero, da idade, do nível de condicionamento, do estado nutricional (Ex.: nível de glicogênio), da predominância de fibras, dentre outros, o que irá interferir diretamente no dispêndio energético. http://www.rbpfex.com.br/index.php/rbpfex/article/view/1712/1225 18 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO PARA REFLETIR Vamos fazer uma vivência rápida?! Primeiro, verifique sua FC em repouso, pode ser por meio de um monitor car- díaco, aparelho de pressão digital, celular ou algo do gênero, mas caso não tenha nada do tipo, poderá apalpar a carótida com o dedo indicador e dedo médio, e contar durante 60 segundos seus batimentos. Depois, levante da cadeira e faça, durante 60 segundos, uma corrida estacionária. Logo após verifique novamente sua FC. E aí?! Percebeu os efeitos agudos do exercício físico? Tenho certeza de que sua FC se elevou, sua respiração aumentou (hiperventilação) e sua temperatura corporal subiu. 1.3 BIOENERGÉTICA Todas as alterações que o organismo sofre, em razão do aumento da demanda energética, são sustentadas pela produção contínua de ATP (adenosina trifosfato), via sistemas de produção de energia, oriundos dos macronutrientes: carboidratos, proteínas e lipídios. Eles permitem que as mais diversas funções biológicas aconteçam no nosso metabolismo. O metabolismo é composto pelo Anabolismo, reações do organismo que aumentam o tamanho das moléculas (Simples – Complexas, por exemplo, Glicose - Glicogênio) e pelo Catabolismo, reações do organismo que diminuem o tamanho das moléculas (Complexas – Simples, por exemplo, Glicogênio - Glicose). A nutrição e a fisiologia do exercício estão naturalmente interligadas. Uma nutrição adequada constitui o alicerce para o desempenho físico; proporciona os elementos necessários para o trabalho biológico e as substâncias químicas para extrair e utilizar a energia potencial existente nos alimentos. Os nutrientes dos alimentos também fornecem os elementos essenciais para o reparo das células já existentes e para a síntese de novos tecidos (McARDLE; KATCH; KATCH, 2016, p. 2). 19 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Dessa forma, a Bioenergética (Bio = vida; energética = energia) é o estudo quantitativo das transformações de energia que ocorrem nas células vivas, bem como da natureza e função dos processos químicos nelas envolvidos. A Bioenergética medeia o metabolismo energético, convertendo nutrientes alimentares em uma forma de energia biologicamente utilizável. Figura 5 - Bioenergética. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). São várias as energias disponíveis no universo: Química, Mecânica, Térmica (calor), Luminosa (luz), Elétrica e Nuclear. Destas, a transformação de energia que mais nos interessa é a da energia química em energia mecânica, pois esta se manifesta no movimento humano, cuja fonte provém da transformação do alimento em energia química, dentro do nosso organismo. A Figura 6 demonstra a interação de dois sistemas (Digestivo e Respiratório), e as suas reações para a liberação de energia (ATP) e resíduos. As fontes alimentares são quebradas pelo catabolismo, a fim de serem utilizadas pelas células. A energia é transferida das fontes alimentares para ATP, através da fosforilação, sendo o ATP um composto de alta energia para a estocagem e conservação de energia. Figura 6 - Bioenergética. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). 20 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Define-se energia como a capacidade de realizar trabalho (expresso em Newton/metro (Nm)). O trabalho é a aplicação de uma força, através de uma distância. Já o termo potência (expresso pela unidade watt (W)) é usado para descrever quanto trabalho se realiza por unidade de tempo. Em outras palavras, o conceito de potência é importante para podermos descrever a velocidade com que o trabalho é realizado (POWERS e; HOWLEY, 2017). Os potenciais energéticos dos alimentos, segundo as leis da termodinâmica, são transferidos à ATP. Perceba que as vias de anabolismo e catabolismo acontecem de forma simultânea, para que os processos de produção e utilização de energia sustentem o aumento da demanda energética pelo exercício físico. Se o corpo humano necessita de energia, e a transferência desta energia ocorre por meio das reações químicas, de modo que a energia do alimento não pode ser diretamente transferida para os processos biológicos, como podemos saber qual a necessidade energética do metabolismo? Primeiramente, precisamos conhecer as possibilidades de mensuração do gasto calórico em repouso, para depois sabermos as demandas energéticas durante o exercício físico, sendo utilizadas tanto a calorimetria direta quanto a indireta. A energia química dos alimentos é liberada em forma de calor e é mensurada em quilocalorias (kcal), pois, quando o corpo usa energia para realizar trabalho, há liberação de calor. A taxa de produção de calor de um indivíduo é diretamente proporcional à taxa metabólica. Uma caloria é definida como a quantidade de calor requerida para elevar a temperatura de 1 g de água em 1°C. Como a caloria é muito pequena, o termo quilocaloria (kcal) costuma ser usado para expressar o gasto energético e o valor energético dos alimentos. Uma kcal é igual a mil calorias. [...] O processo de mensurar a taxa metabólica por meio da mensuração da produção de calor é denominado calorimetria direta e tem sido usado pelos cientistas desde o Século XVIII. Essa técnica envolve a colocação do indivíduo em uma câmara apertada (denominada calorímetro), isolada do meio ambiente (em geral, por um revestimento de água ao redor da câmara), e permite a ocorrência de troca livre de O2 e CO2 a partir da câmara. O calor do corpo do indivíduo eleva a temperatura da água que circula ao redor da câmara. Assim, ao mensurar a mudança de temperatura por unidade de tempo, a quantidade de produção de calor pode ser calculada. Além disso, o indivíduo perde calor por evaporação da água da pele e vias 21 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO respiratórias. Essa perda de calor é mensurada e somada ao calor total assimilado pela água para render uma estimativa da taxa de gasto energético do indivíduo (POWERS e HOWLEY, 2017, p. 21). SUGESTÃO DE VÍDEO Este vídeo demonstra a utilização da calorimetria direta em repouso e em exercício. Perceba o controle de variáveis, como temperatura, humidade,consumo de oxigênio e trabalho cardíaco. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=DAW198M- Jy_M>. Acesso em: 27 de julho de 2020. Como a oxidação de 1 g de gordura produz 9 kcal, e a mesma quantidade de carboidratos e proteínas produz aproximadamente 4,1 kcal de energia, é possível mensurar a energia liberada para ser utilizada nos movimentos corporais e também a energia livre, a qual é responsável pelo crescimento e reparo do organismo (Ex.: aumento da massa muscular e transporte ativo de substâncias). Todavia, pelo elevado custo para adquirir e manter um calorímetro, a calorimetria indireta (voltaremos a falar disso para entender os índices fisiológicos do desempenho aeróbio) vem sendo uma opção para a estimativa da taxa metabólica, dada a existência de uma relação direta entre o oxigênio consumido e a quantidade de calor que é produzida no corpo (POWERS e HOWLEY, 2017). Os carboidratos, classificados em monossacarídeos (glicose, galactose, frutose), dissacarídeos (lactose, maltose) e polissacarídeos (maltodextrina, amino) são a principal fonte de energia, extraída dos alimentos, disponível para o organismo. As junções de moléculas de glicose formam o glicogênio muscular e hepático. O muscular é utilizado na contração muscular e o hepático na manutenção da glicose sanguínea, o qual também pode ser transportado para o tecido muscular, conforme a necessidade. Abaixo, a Tabela 1 traz uma estimativa das concentrações de carboidratos no organismo. https://www.youtube.com/watch?v=DAW198MJy_M https://www.youtube.com/watch?v=DAW198MJy_M 22 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Carboidratos Gramas Kcal Glicogênio Hepático 110 451 Glicogênio Muscular 250 1025 Glicose em fluidos corporais 15 62 Total 375 1538 Tabela 1: Estimativa dos estoques de glicogênio e glicose com base em um indivíduo de 65 kg e 12% de gordura corporal.Tabela 1 - Estimativa dos estoques de glicogênio e glicose, com base em um indivíduo de 65 kg e 12% de gordura corporal. Fonte: Adaptado de Wilmore e Costill, 2001. Para que haja a formação de glicogênio, processo denominado de glicogênese, é necessário um estado de hiperglicemia, no qual a insulina é o hormônio ativador do glicogênio sintase, enzima responsável pela síntese desta molécula no fígado e nos músculos. Porém, quando em estado hipoglicêmico, e/ou em jejum, ocorre a degradação de glicogênio, fenômeno chamado de glicogenólise, a qual acontece na presença de glucagon e é catalisada pela enzima fosforilase. Além da glicogênese e glicogenólise, a gliconeogênese é outro evento, referente ao metabolismo dos carboidratos, que tem relevância no exercício. Em estado de jejum prolongado, o fígado, principalmente, é capaz de sintetizar glicose, por meio de compostos anglicanos (não açúcares), como o lactato, aminoácidos e piruvato. Tal evento ocorre devido ao ciclo de Cori, no qual o piruvato gerado pela glicólise anaeróbia é oxidado a lactato e transportado pelo sangue para o fígado, onde a enzima glicose-6- fosfatase sintetiza glicose novamente. A partir deste ponto, a glicose pode ser novamente transportada ao tecido, para produzir ATP ou ser estocada no fígado em forma de glicogênio hepático (gliconeogênese). O esquema abaixo busca sintetizar estes três eventos metabólicos da glicose. 23 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Quadro 1 - Bioenergética. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Os Lipídeos são armazenados para trabalho biológico, sendo os ácidos graxos, armazenados na forma de triglicerol, e a reserva de gordura é encontrada no tecido adiposo. A utilização destsas reservas de energia decorre da necessidade de energia pela musculatura, dependendo da intensidade e do volume deo exercício. Os lipídios Ffornecem energia substancial durante a atividade prolongada, de baixa intensidade, de modo queassim os estoques de lipídios são maiores do que as reservas de carboidratos. TodaviaEntretanto, são menos disponíveis para o metabolismo, porque devem ser reduzidos a glicerol e ácidos graxos livres (AGL) para sua utilização. A lipólise é realizada por meio do transporte do glicerol ao fígado, para haver a transformação da glicose em glicogênio. PARA REFLETIR Além dos conceitos aqui discutidos, sugiro que você tenha ao seu alcance o caderno de Bioquímica, o qual traz informações que complementam muitas já apresentadas, além de muitas outras que ainda serão embutidas ao longo desta disciplina. Caso 24 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO não tenha um livro que aborda com detalhes este tema, busque o livro Bioquímica – Combo, de Mary K. Campbell e Shawn O. Farrell. Lipídios Gramas Kcal Subcutâneo 7800 70980 Intramuscular 161 1465 Total 7961 72445 Tabela 2: Estimativa dos estoques de lipídios com base em um indivíduo de 65 kg e 12% de gordura corporal.Tabela 2 - Estimativa dos estoques de lipídios, com base em um indivíduo de 65 kg e 12% de gordura corporal. Fonte: Adaptado de Wilmore e Costill, 2001. Dentre os macronutrientes, as proteínas são as que menos contribuem para a liberação de energia (5 a 10%) e, quando ocorre, é em casos de jejum prolongado e condições severas de depleção dos demais substratos, via conversão de aminoácidos em glicose (gliconeogênese). Podem também gerar AGL, após momentos de jejum prolongado através da lipogênese. Figura 7: Fontes de Energia. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). 25 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Em repouso, o corpo utiliza carboidratos e lipídios como combustível para produzir energia. Proteínas fornecem pouca energia para a atividade celular, e sua utilização inibei os processos anabólicos, e estimulando o catabolismo (Eex.: Perda de massa magra), mas servem como base para a formação de tecidos corporais. Por fim, no exercício leve para intenso, o corpo utiliza principalmente carboidratos para produzir energia. O dispêndio energético depende de muitos fatores, como o tipo de exercício, frequência, duração, intensidade, condições climáticas, condicionamento físico, composição corporal, percentual de tipos de fibras e dieta. A Figura 8 apresenta as porcentagens aproximadas do gasto energético diário. Cabe destacar dois pontos: o primeiro se refere ao maior percentual ser destinado ao metabolismo de repouso, ou seja, ser fisicamente ativo e apresentar uma boa relação peso magro / peso gordo, itens que interferem positivamente neste aspecto. E o segundo é que se pode aumentar o gasto energético com o exercício físico diário (efeito agudo), embora o maior percentual ainda permaneça sendo referente ao metabolismo basal (efeitos crônicos). Figura 8 - Gasto energético diário. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Consoante a Powers e Howley (2017), a mensuração do gasto calórico pela calorimetria indireta pode ser feita por meio do consumo de oxigênio, no qual 1 L de O 2 equivale a 5 kcal/L-1. Para expressar o gasto calórico em mL/kg -1/min-1 (unidade mais usada por possibilitar a comparação de indivíduos com pesos corporais diferentes) basta multiplicar o valor encontrado por 1000. Por exemplo, se tivermos uma mulher de 60 kg, com um valor de consumo de oxigênio (VO 2 ) em uma corrida submáxima na esteira de 2,4 L/min-1, teremos o seguinte cálculo: 26 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO (2,4 L/min-1 x 1000 mL/L) x 60 kg = 40 mL/kg-1/min-1 Também é possível expressar o gasto calórico em Kcal/min1. Desta forma, e levando ainda em consideração a mulher de 60 kg que correu 30 min ao mesmo VO 2 do exemplo anterior , seu gasto energético total seria: 2,4 L/min-1 x 5 kcal/L-1 = 12 kcal/min-1 12 kcal/min-1 x 30 min = 360 kcal Outra possibilidade de expressão do gasto energético é por meio do equivalente metabólico (MET). Este termo se refere à taxa do metabolismo de repouso que, por convenção, é igual a 3,5 mL/kg-1/min-1, sendo denominado 1 MET. Ainda considerando o primeiro exemplo, teríamos: 40 mL/kg-1/min-1 ÷ 3,5 mL/kg-1/min-1 = 11,4 MET As atividades físicas são classificadas, conforme sua intensidade, em leve(<3 MET), moderada (3 a <6 MET) e vigorosa (≥ 6 MET). Tabelas disponíveis na literatura trazem os valores específicos de MET em atividades da vida diária AVDs) e nos esportes (ACSM, 2014). Além das formas apresentadas aqui para determinar o gasto energético, a literatura traz muitas equações para estimar esta variável. Leve (< 3 MET) Moderada (3 a < 6 MET) Vigorosa (≥ 6 MET) Caminhada Caminhada Caminhada, trote e corrida Caminhar devagar ao redor da casa, da loja ou do escritório = 2,0 Caminhar 4,8 km · h–1 = 3,0 Caminhar em ritmo bastante ativo (7,2 km · h–1) = 6,3 Caminhar/marchar em um ritmo moderado e carregar um peso leve (< 4,5 kg) = 7,0 Correr a 8,1 km · h–1 = 8,0 Correr a 9,7 km · h–1 = 10,0 Correr a 11,3 km · h–1 = 11,5 Lazer e esporte Lazer e esporte Lazer e esporte 27 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Artes e artesanato, jogar cartas = 1,5 Badminton = 4,5 Andar de bicicleta em superfície plana com pouco esforço (16,1 a 19,3 km · h–1 ) = 6,0 Sinuca = 2,5 Basquete – lance livre = 4,5 Jogo de basquete = 8,0 Jogar dardos = 2,5 Dançar – dança de salão lenta = 3,0; dança de salão rápida = 4,5 Futebol casual = 7,0; competitivo = 10,0 Tênis de mesa = 4,0 Pedalar em superfície plana, com esforço moderado (19,3 a 22,5 km · h–1 ) = 8,0; rápido (22,5 a 25,8 km · h–1 ) = 10,0 Velejar, praticar windsurfe = 3,0 Nadar por lazer = 6,0; natação moderada/intensa = 8,0 a 11 Vôlei – não competitivo = 3,0 a 4,0 Vôlei – competição na academia ou na praia = 8,0 Tabela 3: Valores de equivalentes metabólicos (MET) de atividades físicas comuns cujas intensidades classificadas como leve, moderada ou vigorosa.Tabela 3 - Valores de equivalentes metabólicos (MET) de atividades físicas comuns, com intensidades classificadas como: leve, moderada ou vigorosa. Fonte: Adaptado de ACMS, 2014. Além disso, a característica do exercício quanto à classificação das habilidades – cíclico, acíclico e misto – também interfere no gasto energético e, consequentemente, nas vias de produção de energia. Então, dependendo do esporte e/ou da valência física que está sendo solicitada durante o exercício, temos a predominância do sistema anaeróbio ou aeróbio. O ATP é a principal fonte imediata de energia usada pelo nosso organismo. A energia liberada durante o fracionamento do ATP é transferida diretamente para outras moléculas que necessitam de energia para suas funções, como: contração muscular, transmissão nervosa, secreção glandular, digestão, síntese tecidual e circulação. A energia liberada durante a desintegração do alimento não é utilizada diretamente para realizar trabalho, ela é empregada para produzir outro ATP, ou seja, a energia é transferida das fontes alimentares para ATP através da fosforilação, de modo que este composto de alta energia está armazenado nas ligações entre os fosfatos. Todavia, a quantidade de ATP estocada dentro da célula é limitada, sendo suficiente para aproximadamente 3s de trabalho, quando falamos do ATP residente no tecido muscular, por exemplo, e por isso o composto precisa ser constantemente ressintetizado. Três vias de produção de ATP agem em intensidades e durações de exercícios diferentes para manter o corpo em exercício, sendo elas duas anaeróbias e uma aeróbia. As vias anaeróbias (as quais independem da presença de O2) são chamadas de sistema ATP-CP, fosfagênio ou anaeróbio alático, e glicolítico, glicólise ou anaeróbio lático. Já a via aeróbia 28 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO (ocorre na presença de O 2 ) é conhecida como sistema oxidativo ou cadeia transportadora de elétrons (BOMPA, 2002). Todos estes sistemas têm a função de produzir as moléculas de ATP necessárias para a contração muscular. 1.3.1 Sistema ATP-CP O sistema ATP-CP (anaeróbio alático) compreende a quebra da creatina fosfato ou fosfocreatina (CP) e das moléculas de ATP já presentes dentro do músculo. Neste sistema, a liberação de energia se dá através da desfosforilação de um grupamento fosfato pela ação da enzima ATPase, resultando em potencial energético e em um fosfato inorgânico (Pi). a fim de que o ciclo se feche, é necessário agregar um fosfato no agora ADP (adenosina difosfato) e assim transformá-lo em ATP novamente. Então, para isso ocorrer é necessária a presença de CP no tecido e a ação da enzima creatina quinase, a qual é responsável por transferir o grupamento fosfato da CP para o ADP. O sistema ATP-CP é obviamente o mais rápido, mas note que, a cada vez que o processo é realizado, apenas 1 ATP é ressintetizado. No entanto, quando há ATP disponível na célula, ele poderá ser utilizado para a formação de novas moléculas de CP. Figura 09 - Sistema ATP-CP. Fonte: Shutterstock (2020). Link: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/atp-adp-cycle-adenosine-triphosphate-orga- nic-1359935222. Acesso em: 09 de setembro de 2020. https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/atp-adp-cycle-adenosine-triphosphate-organic-1359935222 https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/atp-adp-cycle-adenosine-triphosphate-organic-1359935222 29 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO A creatina, substância necessária para a formação de CP, é extraída por meio de nossa alimentação ou de recursos ergogênicos, o que justifica o fato de atletas a administrarem, com o objetivo de melhorar os níveis de CP muscular, de 10% a 40%, resultando em melhora dos níveis de força e potência, sustentados pelo sistema ATP-CP. As fibras do tipo II (rápidas) são capazes de armazenar de 4 a 6 vezes mais CP do que ATP, sendo um rápido recurso à produção extra de energia. Outra possibilidade é a transferência de um grupamento fosfato pela hidrólise de um ADP para outro ADP, catalisada pela enzima MK (mioquinase) formando um novo ATP e AMP (adenosina monofosfato), fato que ocorre em condições de emergência energética, em virtude do rápido esgotamento dos estoques de CP. O sistema ATP-CP atua em exercícios de intensidade muito alta e de curta duração (aproximadamente 10s), sendo a fonte de energia primária para corridas curtas, levantamento de peso, saltos e chutes. O reabastecimento dos estoques de ATP via este sistema leva cerca de 30 segundos, para 70% de restauração, e de 3 a 5 minutos (min), para a restauração completa. Já na restauração do substrato CP, temos: 2 min (84%), 4 min (89%) e 8 min (100%) de restauração, sendo restaurado principalmente por intermédio do metabolismo aeróbio (BOMPA, 2002). Conhecer o tempo de sustentação e de ressíntese de ATP via sistema ATP-CP garante uma maior assertividade na prescrição do exercício: o tipo, a duração (tanto do estímulo quanto do intervalo) e a intensidade. 1.3.2 Glicolítico Este sistema faz menção à degradação parcial da molécula de glicose, via metabolismo anaeróbio que ocorre no meio aquoso da célula, fora da mitocôndria, sem a presença de oxigênio. Iniciado no citoplasma da célula (sarcoplasma da célula muscular), após 12 reações químicas (já descritas no caderno de Bioquímica), tem um rendimento energético final de 2 ATPs, pois, por mais que sejam sintetizados 4 ATPs ao longo da glicólise, 2 ATPs são investidos (gastos) nas primeiras reações desta via. Portanto, são necessárias tanto a disponibilidade de glicose quanto a captação da glicose sanguínea por parte da célula, para que tal evento ocorra. A reserva de glicogênio muscular é solicitada, tão logo inicia o exercício, garantindo o primeiro aporte de glicose para a glicólise. Se o exercício perdurar, as reservas de energia distantes, como a glicose circulante, glicogênio hepático e lipídios do tecido adiposo, darão continuidade à produção de energia, mesmo que isso, aos poucos, afete 30 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO negativamente a execução de uma atividade motora intensa. Porém, a glicose circulante só entrará na célula, caso a insulina sinalize para o transportador de glicose (neste caso a proteína GLUT4). A finalidade da glicólise é a formação de duas moléculas de piruvato, asquais apresentam quatro possíveis rotas, as quais podem resultar na formação de alanina (aminoácido), oxaloacetato, lactato e acetil-CoA. Destas, as que mais nos interessam são as duas últimas. Dada a necessidade da formação de mais ATP, agora já pelo segundo sistema de produção de energia (glicolítico), a taxa de degradação da glicose aumenta, como também a da formação de piruvato. Neste ponto, o piruvato pode adentrar a mitocôndria e iniciar a produção de energia via metabolismo aeróbio, dependendo da capacidade mitocondrial de captar o piruvato pelos MCT (transportador de monocarboxilato) e transportá-lo por difusão facilitada para o interior desta organela. Todavia, quando os transportadores de piruvato (MCT) estão saturados, o piruvato será reduzido a lactato pela enzima lactato desidrogenase (LDH) aumentado as concentrações de lactato e de H+ e, consequentemente, a acidose metabólica. 31 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Figura 10 - Glicólise. Fonte: Shutterstock (2020). Link: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/gluconeogenesis-glycolysis-graph-551338564. Acesso em: 09 de setembro de 2020. https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/gluconeogenesis-glycolysis-graph-551338564 32 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Voltaremos a falar do lactato sanguíneo e de sua aplicabilidade na prescrição do exercício físico ao longo do caderno. O importante, neste momento, é que você compreenda a importância desta via para as atividades físicas que exigem um esforço máximo de vinte segundos até cerca de dois minutos. São exemplos de exercícios que dependem majoritariamente deste sistema: corrida de 200 a 400 m, nado de 50 m e um rally de tênis. Após a depleção dos estoques de glicogênio muscular, estima-se que este substrato seja restaurado por completo entre vinte e vinte e quatro horas, o que depende, é claro, da dieta e do nível de danos musculares causados pelo exercício. Além de ser considerada uma via anaeróbia, a glicólise também é tida como a primeira etapa da produção de energia, advinda do metabolismo aeróbio. E é daqui em diante que os processos em âmbito mitocondrial continuam, quando o exercício perdura por mais de dois minutos. 1.3.3 Oxidativo Processo mais complexo de produção de energia dentro da célula, e por isso o mais demorado a ser ativado e atender à demanda energética, o metabolismo aeróbio é muito eficiente na transferência de energia dos nutrientes para ATP, sendo considerado um sistema autossustentável. Baseado na oxidação dos macronutrientes dietéticos, Carboidratos, Lipídeos e Proteínas, é composto por três etapas: Glicólise, Ciclo de Krebs e Cadeia Transportadora de Elétrons. Devemos lembrar que, após o término da glicose, temos a formação de duas moléculas de piruvato, sendo alguns caminhos possíveis para elas. A formação de acetil-CoA (molécula de dois carbonos) se dá pela quebra do piruvato (molécula de três carbonos) e a consequente liberação do carbono remanescente em forma de CO 2 (gás carbônico), devido à ação catalizadora do complexo da piruvato desidrogenase, para então entrar no ciclo de Krebs. Esta etapa é central na produção de energia, e após dez reações, uma molécula de acetil-CoA (não esqueça que uma molécula de glicose dá origem a dois piruvatos, portanto temos tudo isso multiplicado por 2) tem a formação de 3 NADH, 3H+ e 1 FADH 2 e um GTP (análogo a ATP). Em resumo, o objetivo do ciclo de Krebs é gerar NADH e FADH, para serem oxidados na cadeia transportadora de elétrons. A cadeia transportadora de elétrons é a parte mais produtiva das etapas até aqui discutidas. Aproximadamente 90% do rendimento da degradação total da glicose é produzida por meio dos complexos enzimáticos I, II, III e IV, pois até aqui temos apenas 33 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 4 ATPS. Durante o processo da cadeia respiratória, os elétrons e hidrogênios se ligam ao oxigênio e geram H2O. Ao final das três fases da respiração celular, são gerados de 36 a 38 ATPs. Figura 11 - Sistema Aeróbio. Fonte: Shutterstock (2020). Link: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/aerobic-respiration-cellular-pyruvate-enter-mito- chondria-1285196527. Acesso em: 09 de setembro de 2020. Este sistema é o responsável pela manutenção da produção de energia para a continuidade do exercício, quando superior a dois minutos, como em provas de corrida e ciclismo de longa distância. Perceba que falamos apenas da degradação da glicose, mas a molécula de acetil-CoA pode ser formada a partir de um aminoácido ou de um ácido graxo. Note que, de qualquer https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/aerobic-respiration-cellular-pyruvate-enter-mitochondria-1285196527 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/aerobic-respiration-cellular-pyruvate-enter-mitochondria-1285196527 34 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO forma, o próximo passo será o ciclo de Krebs. Em resumo, temos: • ATP-CP – INSTANTÂNEO, DEPENDE APENAS DA CP = 1 ATP. • GLICOLÍTICO – RÁPIDO, DEPENDE DA GLICÓLISE ANAERÓBIA = 2 ATPs. • OXIDATIVO (GLICÓLISE – CICLO DE KREBS – CADEIA TRANSPORTADORA DE ELÉTRONS) – PROCESSO MAIS DEMORADO QUE DEPENDE DO O 2 = 36 A 38 ATPs. 1.4 SOBREPOSIÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE ENERGIA Para darmos continuidade ao conteúdo e à discussão sobre a fisiologia do exercício e seus sistemas, um ponto crucial é entender que os sistemas de produção de energia vão sendo ativados conforme a demanda energética, a intensidade e a duração do exercício. O primeiro sistema a entrar em ação é o sistema ATP-CP, independentemente da intensidade do exercício, seja este exercício um sprint (duração de 5 s) ou uma corrida leve (duração mais que 1 min). Em ambos os exercícios, a nova demanda energética é suprida por este sistema. No entanto, caso o exercício continue (duração de mais de 10 s), o organismo ainda continuará produzindo energia via metabolismo anaeróbio (glicolítico), mas agora com a possibilidade de produção de lactato. Só então, se o exercício perdurar, a via aeróbia (oxidativo) entrará em ação. Perceba que, por se tratar de um fenômeno, envolvendo mais reações do que nos sistemas anaeróbios, o sistema oxidativo apresenta um delay (atraso) entre a nova demanda energética e a produção efetiva desta energia, cuja diferença é chamada pela literatura de déficit de O 2 . Contudo, na sequência, o organismo equaliza esta demanda e produção e entra em steady state, tornando-o predominantemente aeróbio, contanto que a intensidade não se modifique. Para fechar, há três pontos a serem destacados: o primeiro ponto é que ambas as vias, aeróbias e anaeróbias, trabalham simultaneamente para uma produção total de energia. O segundo ponto é que, dependendo da modalidade praticada, a predominância será aeróbia ou anaeróbia. E o terceiro ponto é que, a partir de aproximadamente 2,5 min de duração do exercício, a predominância de produção de energia será sempre aeróbia. 35 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO SUGESTÃO DE LIVRO O livro Fisiologia do Exercício: Nutrição, Energia e Desempeno Humano 8ª edição, da editora Guanabara Koogan, sob autoria de Willian D. MacArdle, Frank I. Katch e Victor L. Katch (disponível em sua biblioteca digital institucional) é um ótimo guia para você acompanhar os conteúdos desta primeira etapa de aprendizagem. Tratando-se de um livro muito didático e ilustrativo, traz muitas informações complementares ao que estamos vendo neste caderno, de forma bastante contextualizada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Vimos, nesta primeira unidade do caderno, que a Fisiologia do Exercício é muito antiga enquanto área do conhecimento, pois foi originada dos fundamentos da Medicina e Fisiologia Humana, mas um tanto jovem, para a sua real aplicação na área do exercício físico propriamente dito. Compreendemos que, para o exercício físico ocorrer, é necessário o organismo se ajustar às novas demandas energéticas e funcionais que não tinha, quando estava em repouso. Entretanto, a fim de que os devidosajustes aconteçam, e o organismo entre em steady state, os sistemas respondem de forma aguda para atender a esta nova solicitação e aumentar a produção de energia via metabolismo anaeróbio ou aeróbio, dependendo da duração e da intensidade do exercício. Portanto, a partir dos conhecimentos adquiridos na Unidade 1, entendemos quais são os ajustes que os sistemas fazem para dar suporte ao exercício físico, como são controlados e quais os impactos destas alterações fisiológicas, ocasionadas pelo treinamento nos diferentes sistemas. 36 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO EXERCÍCIO FINAL 01- Segundo o artigo, disponibilizado nas leituras complementares e discutido neste caderno, “A fisiologia em educação física e esporte”, a fisiologia do exercício pode ser subdividida em aspectos relacionados à: a) performance e estética corporal. b) saúde e composição corporal. c) performance e aplicação clínica. d) aplicação clínica e genética. e) composição corporal e performance. 02- O processo de contração muscular é realizado em quase todos os movimentos que fazemos. Para haver contração muscular, as células musculares precisam de energia. Neste caso, a energia necessária é oriunda do (a): a) Cálcio b) Trifosfato de adenosina c) Lipídios d) Carboidratos e) O 2 03- Assinale o sistema de produção de energia que mais contribui para atividades com duração acima de 4 minutos: a) ATP-CP. b) Oxidativo. c) Glicolítico. d) Anaeróbio lático e) Anaeróbio alático. 37 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO REFERÊNCIAS ACMS, Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição/ American College of Sports Medicine; tradução Dilza Balteiro Pereira de Campos; 9ª edição, Rio de Janeiro, Guanabara, 2014. ALENCAR, Lucas; DE SOUZA SODRÉ, Ravini; ROSA, Guilherme. Efeito agudo de uma sessão de CrossFit® sobre as variáveis hemodinâmicas e a percepção de esforço de adultos treinados. Revista de Educação Física/Journal of Physical Education, v. 87, n. 1, 2018. BOMPA, Tudor O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. Phorte, 2002. DA ROSA, Greice Kelly Gonçalves et al. Efeitos de vinte semanas de treinamento físico sobre a força e marcadores sanguíneos em mulheres idosas. RBPFEX-Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, v. 13, n. 83, p. 523-530, 2019. FORJAZ, Cláudia Lúcia de Moraes; TRICOLI, Valmor. A fisiologia em educação física e esporte. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, n. SPE, p. 7-13, 2011. HUXLEY, H.; HANSON, J. Changes in the cross-striations of muscle during contraction and stretch and their structural interpretation. Nature, v. 173, n. 4412, p. 973-976, 1954. MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2016. POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício: Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho. 9. ed. São Paulo: Editora Manole, 2017. RASCH, Philip J. Cinesiologia e Anatomia Aplicada. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. SIMÃO, Roberto. Fisiologia e prescrição de exercícios para grupos especiais. São Paulo: Ed Phorte, 2008. WILMORE, J. H.; COSTILL, David L.; KENNEY, W. L. Fisiologia do exercício e do esporte. São Paulo, 2001. 38 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 39 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 2 unidade FISIOLOGIA NEUROMUSCULAR 40 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO 2 INTRODUÇÃO À UNIDADE Nesta segunda unidade de estudo, entenderemos que, para haver o movimento, além da necessidade de energia, advinda dos macronutrientes que estudamos no capítulo anterior, é preciso a transferência desta energia para a mecânica do movimento. Assim, independentemente de o exercício ter um maior caráter anaeróbio ou aeróbio, este só ocorrerá devido à ativação de tecidos ativos (Exemplo: músculos), controlados por um centro de controle (Sistema Nervoso Central – SNC). Conheceremos, ainda, a Fisiologia Neuromuscular, ou seja, o estudo da função integrada dos Sistemas Muscular e Nervoso, que depende tanto de fatores centrais quanto periféricos para sua funcionalidade. Desta forma, ao longo da Unidade 2, trataremos dos eventos tanto de ordem muscular quanto cerebral, bem como suas implicações para o exercício físico. Abordaremos, também, os tipos de adaptações referentes à estimulação (treinamento) deste sistema, os tipos de ativação muscular e as suas consequências para o condicionamento físico, principalmente no que diz respeito à manutenção e ao aumento da força. Esta unidade visa aos seguintes objetivos de aprendizagem: compreender a integração entre os sistemas muscular e nervoso; identificar as características de cada tipo de fibra; entender os mecanismos de ativação muscular e conhecer os fatores morfológicos e neurais envolvidos no aumento da força. 2.1 SISTEMA NEUROMUSCULAR Caro estudante, se no capítulo anterior os conhecimentos prévios de Bioquímica se fizeram necessários, aqui, os de Fisiologia Humana serão resgatados. Formado por um emaranhado de neurônios e células de glia, o Sistema Nervoso é dividido em: Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP), sendo o primeiro composto pelo cérebro e medula espinal, e o segundo, pelos nervos sensitivos (ou aferentes) e motores (ou eferentes). O Sistema Nervoso Periférico pode, também, ser subdividido em: Sistema Nervoso Somático (SNS) (soma = corpo), Sistema Nervoso Autônomo (SNA) (auto = próprio / nomo = lei) e Sistema Nervoso Entérico (SNE) (enter = intestinos) (POWERS e HOWLEY, 2017). Assim, o impulso elétrico, o qual dará início aos eventos que culminarão na contração 41 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO muscular (Sistema Muscular Esquelético), é gerado de forma consciente e voluntária. Originado no córtex motor, este sinal elétrico (impulso nervoso) percorre a medula espinal e, a partir de um ponto localizado na medula, chamado “H” medular, dirige-se à fenda sináptica, por meio de nervos motores (no caso motoneurônio). Na medula, devido à liberação de acetilcolina (um potente neurotransmissor) pelas vesículas, presentes nas extremidades distais do motoneurônio, dar-se-á início à despolarização da fibra muscular. O contato não físico (mas sim químico) entre o terminal axonal e o sarcolema é denominado de junção neuromuscular (o que explica, em partes, o termo Sistema Neuromuscular) que acontece na placa motora. Figura 12 - Sistema Neuromuscular. Fonte: Shutterstock (2020). LINK: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/infographics-spinal-cord-reflexes-central-ner- vous-361518653. Acesso em: 09 de setembro de 2020. A função dos nervos sensitivos (Ex.: proprioceptores) é perceber o meio e transmitir a informação, para que o centro de controle (SNC) possa processá-la e mandar uma resposta via nervos motores (motoneurônio) de volta à periferia. O mecanismo que explica o trânsito das informações proprioceptivas é um exemplo clássico desta dinâmica. O esquema a seguir ilustra o mecanismo de retroalimentação (feedback) das respostas proprioceptivas, relacionadas ao equilíbrio e estabilidade dos segmentos corporais (Ex.: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/infographics-spinal-cord-reflexes-central-nervous-361518653 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/infographics-spinal-cord-reflexes-central-nervous-361518653 42 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO tornozelo). Observe na Figura 13 abaixo. Figura 13 - Mecanismo de retroalimentação. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Tem-se o conjunto entre um motoneurônio e todas as fibras por ele inervadas como a unidade funcional do movimento, sendo chamado de Unidade Motora. Um motoneurônio pode inervar poucas fibras (pálpebra do olho), mas também pode inervar muitas fibras (quadríceps). Figura 14 - Unidade motora. Fonte: Shutterstock (2020). Link: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/motor-neuron-motoneuron-diagram-transmission- -nerve-1629602293. Acesso em: 09 de setembro de 2020. https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/motor-neuron-motoneuron-diagram-transmission-nerve-1629602293https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/motor-neuron-motoneuron-diagram-transmission-nerve-1629602293 43 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Existem fibras que apresentam um baixo limiar de excitabilidade (fibras do tipo I) e fibras com alto limiar de excitabilidade (fibras do tipo IIB) (MCARDLE, KATCH, E KATCH, 2016). Ou seja, quando os impulsos excitatórios excedem os impulsos inibitórios das fibras musculares, inicia-se a contração e a estimulação do recrutamento de unidades motoras, ocorrendo em distintas intensidades nos diferentes tipos de fibras e músculos. Podemos destacar, ainda, dois componentes presentes no músculo que têm relação direta com a contração e tônus muscular: o Órgão Tendinoso de Golgi (OTG) e o Fuso Muscular. O OTG é um conjunto de terminações nervosas, localizado na junção entre os tendões e as fibras musculares, as quais são capazes de detectar variações no comprimento e tensão do músculo. Em casos de tensão demasiada sobre os tendões, o OTG é capaz de disparar um potencial de ação para as fibras aferentes do nervo sensorial, de modo a inibir o efeito dos motoneurônios e limitar a contração muscular, sendo assim um mecanismo de proteção, responsável por relaxar a musculatura. Já os fusos musculares, presentes no interior das fibras entre as miofibrilas, têm como função detectar alterações extremas na extensão do músculo, o qual fornece informações sensoriais à medula para uma resposta reflexa imediata. Entretanto, a atividade tônica, exercida pelos neurônios motores alfa, garante o chamado tônus muscular, o que pode ser entendido como uma pequena ativação muscular (tensão), mesmo com o músculo em repouso. Somados os componentes do Sistema Nervoso, o Sistema Musculoesquelético complementa e forma o Sistema Neuromuscular. A arquitetura muscular do macro para o micro (µ - unidade em que o sarcômero é expresso, mais especificamente 2,3 micrômetros) pode ser assim descrita: músculo, feixe muscular, fibra muscular, miofibrila, sarcômero e citoesqueleto (proteínas contráteis). A figura abaixo ilustra desde a inserção do músculo no osso pelo tendão, ao músculo envolvido pelo epimísio até os núcleos da célula muscular. 44 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Figura 15 - Arquitetura muscular. Fonte: Shutterstock (2020). Link: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/illustration-structure-skeletal-muscle-ana- tomy-404668558. Acesso em: 16 de setembro de 2020. As proteínas presentes no músculo esquelético são: actina e miosina (proteínas contráteis); titina e nebulina (proteínas acessórias); troponina e tropomiosina (proteínas reguladoras), sendo que todas elas formam um sarcômero, proteína motora com capacidade de produzir movimento. Cada molécula de miosina é formada por cadeias proteicas que se entrelaçam, compostas por uma longa cauda e duas cabeças (dobradiça próxima às cabeças). Nas cabeças da miosina, encontra-se o sítio de ligação para ATP e para actina, a qual forma os filamentos finos da fibra muscular. Uma molécula isolada de actina apresenta uma proteína globular (proteína G), e cada molécula de actina G contém um sítio de ligação para miosina. A titina e nebulina asseguram o alinhamento adequado dos filamentos dentro do sarcômero. A titina é uma molécula elástica, maior proteína conhecida (vai de um disco Z a uma linha M), e a nebulina é uma proteína gigante não elástica, a qual acompanha a actina, além de se prender ao disco Z. Para que a actina e a miosina deslizem uma sobre a outra durante a contração, esta última converte a energia da ligação química do ATP na energia mecânica necessária ao movimento das ligações cruzadas, devido à regulação da troponina e tropomiosina. A primeira é uma molécula presente em um filamento (tropomiosina) enroscado na actina, o qual possui um receptor para o cálcio. https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/illustration-structure-skeletal-muscle-anatomy-404668558 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/illustration-structure-skeletal-muscle-anatomy-404668558 45 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO O Quadro 1 retrata as terminologias específicas da célula muscular, haja vista que estas nomenclaturas devem ser muito claras a você, principalmente para a compreensão sobre o funcionamento do músculo enquanto célula específica, relacionada às adaptações crônicas do treinamento resistido (hipertrofia), por exemplo. Termo Geral Termo Equivalente no Músculo Célula muscular Fibra muscular Membrana plasmática Sarcolema Citoplasma Sarcoplasma Retículo Endoplasmático Modificado Retículo sarcoplasmático Quadro 21 -: Terminologia da célula muscular. Fonte: McARDLE; KATCH; KATCH (2016). De acordo com Powers e Howley (2017), dando continuidade aos eventos que originarão a contração muscular, após a acetilcolina sair do neurônio pré-sináptico e se ligar ao seu receptor na membrana pós-sináptica (músculo), o sódio penetra a fibra muscular e a despolariza. Então, o retículo sarcoplasmático libera o cálcio através dos túbulos T, invaginados ao longo da fibra, para o sarcolema. Contudo, para evitar a despolarização crônica da membrana, a acetilcolina sofre a ação da enzima acetilcolinesterase, a qual quebra a acetilcolina em acetil e colina, removendo, assim, o estímulo para despolarização. O cálcio tem papel fundamental para o início das pontes cruzadas (interação entre actina e miosina), pois é por meio da ligação desta molécula no sítio ativo da troponina C que o complexo troponina/tropomiosina é modificado, expondo o sítio de ligação da actina para a miosina. Devido à interação das proteínas contráteis, o músculo torna-se capaz de mudar seu comprimento e realizar tensão. Isto acontece por processos de mecânica (deslizamento das proteínas) e bioquímicos (liberação de ATP). 46 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Figura 16 - Sarcômero. Fonte: Shutterstock (2020). Link: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/sarcomere-muscular-biology-scheme-vector-illus- tration-1642804348. Acesso em: 16 de setembro de 2020. VÍDEO COMPLEMENTAR Os vídeos do canal Anatomia e etc. trazem, de uma forma muito didática, mais detalhes sobre os mecanismos da contração neuromuscular. Acessar o link do vídeo abaixo, fará com que você possa visualizar melhor o que está sendo discutido neste caderno. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FA8SevvZUfQ>. Acesso em: 15 de agosto de 2020. Os músculos são as estruturas ativas conectadas ao esqueleto por tendões que representam aproximadamente 40% do peso corporal. Eles são responsáveis pela proteção e sustentação, postura e produção de calor (85% de todo o calor do corpo), https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/sarcomere-muscular-biology-scheme-vector-illustration-1642804348 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/sarcomere-muscular-biology-scheme-vector-illustration-1642804348 https://www.youtube.com/watch?v=FA8SevvZUfQ 47 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO capazes de gerar movimento através das contrações musculares, as quais são divididas em isotônicas e isométricas. As isotônicas são as que apresentam movimento aparente, ou seja, mudam a posição do segmento, sendo divididas em concêntricas e excêntricas. Já as isométricas são as que, igualmente às isotônicas, geram tensão e mudam seu comprimento, porém não impactam em movimento aparente. Em ambos os casos, há necessidade de energia disponível, para que elas ocorram, além da disponibilidade de cálcio que, quando reduzido no sarcoplasma pela ação da bomba serpa (bombas de cálcio), desfaz as ligações com a troponina. Assim, a tropomiosina volta a recobrir o sítio de ligação da actina, e o músculo retorna à sua posição de repouso, graças aos elementos elásticos (titina) (SILVERTHORN, 2010). SAIBA MAIS – CURIOSIDADE: Sem a presença de ATP para os processos de contração e relaxamento como, por exemplo, em um organismo sem vida (cadáver), a musculatura está contraída e enrijecida, uma vez que, por não haver ATP disponível,o músculo não relaxa mais. 2.2 FADIGA NEUROMUSCULAR A fadiga é um fenômeno caracterizado pela incapacidade de manter um trabalho de forma adequada. No caso da fadiga muscular, relacionada ao exercício físico, este fenômeno pode ser explicado por dois fatores: os centrais e os periféricos. Esta condição reversível, na qual um músculo é incapaz de produzir ou sustentar a potência esperada, depende: da intensidade e duração da atividade contrátil; do fato de a fibra muscular estar usando o metabolismo aeróbio ou anaeróbio; da composição do músculo e do nível de condicionamento do indivíduo. Os fatores centrais estão associados aos mecanismos neurais, necessários para ativar o músculo, sendo atribuídos à diminuição do impulso nervoso do SNC, pela diminuição da excitabilidade do drive do córtex motor, do motoneurônio ou da síntese de neurotransmissores (acetilcolina) pelo motoneurônio. Quando há diminuição da excitabilidade do sarcolema, diminuição da disponibilidade de substratos energéticos (ATP) ou aumento do acúmulo de ácido lático no músculo, a 48 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO fadiga é atribuída a mecanismos periféricos. O grau de fadiga varia, de acordo com o tipo de fibra muscular. As fibras do tipo I, aquelas de tonalidade mais avermelhada, em virtude do maior número de mioglobinas (moléculas que armazenam oxigênio), também chamadas de oxidativas, possuem uma maior tolerância à fadiga. As fibras oxidativas dependem, principalmente, da fosforilação oxidava para a produção de ATP, por possuírem mais mitocôndrias e vasos sanguíneos do que as fibras do tipo II. As contrações das fibras do tipo I são mais resistentes que as do tipo II, pois as fibras de contração rápida são usadas ocasionalmente, enquanto as de contração lenta são usadas quase constantemente para a manutenção da postura e durante a locomoção. Porém, sua velocidade de desenvolvimento de tensão máxima é lenta e seu diâmetro pequeno. As fibras do tipo II são divididas em fibras oxidativas-glicolíticas de contração rápida (tipo IIA), também denominadas mistas, e fibras glicolíticas de contração rápida (tipo IIX). As fibras musculares de contração rápida (tipo II) produzem tensão máxima duas a três vezes mais acelerada do que as fibras de contração lenta (tipo I). A duração da contração relacionada à velocidade com que o retículo sarcoplasmático remove o Cálcio do sarcoplasma, faz com que as concentrações de Cálcio caiam e se desliguem da troponina. A tropomiosina se move para a posição de bloqueio, e a fibra muscular relaxa. As fibras rápidas bombeiam Cálcio para dentro do retículo sarcoplasmático, de forma mais rápida do que as fibras lentas. Estas fibras do tipo IIX dependem principalmente da glicólise anaeróbia para a produção de ATP, e entram em fadiga mais facilmente do que as fibras oxidativas (que não dependem do metabolismo anaeróbio), por serem fibras de tonalidade branca, com baixo conteúdo de mioglobina. Por sua vez, as fibras do tipo IIA (mistas) apresentam tanto propriedades de fibras oxidativas quanto de fibras glicolíticas. Por isso, são fibras de tom avermelhado, de velocidade intermediária quanto ao desenvolvimento de tensão máxima, com média densidade capilar e número de mitocôndrias e com uma resistência à fadiga maior do que as do tipo IIX. 2.3 ADAPTAÇÕES NEUROMUSCULARES Quando submetido a um programa de exercícios físicos sistematizados, o sistema neuromuscular apresenta adaptações relacionadas ao aumento de força por dois 49 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO mecanismos: os neurais e os morfológicos. O que caracteriza e diferencia exercícios físicos de atividade física é a delimitação clara dos objetivos, metas e métodos. Atividade física é todo movimento corporal que resulte em gasto calórico acima dos valores de repouso, como atividade nos domínios do trabalho, deslocamento, atividades da vida diária e lazer, incluindo esportes recreativos. Exercícios físicos são todas as atividades físicas realizadas com um determinado objetivo, com intensidade e duração pré-estabelecidos e de forma organizada e periódica. Programas de treino com estas características podem ser planejados para melhorar o condicionamento físico geral, ou uma valência física específica, como é o caso do treinamento resistido – treinamento de força ou musculação – que visa principalmente ao aumento da força muscular, além da modificação da composição corporal (SIMÃO, 2008). Os exercícios físicos também podem ter objetivos diferentes: reabilitação ortopédica, emagrecimento ou simples combate ao sedentarismo. Na sequência, discutiremos como acontecem as adaptações, ocasionadas por este tipo de treinamento. Com o treinamento, alterações no sistema anaeróbico estão relacionadas a maiores níveis de substratos, como aumento significativo nos níveis de repouso do músculo treinado de ATP, PC, creatina livre e glicogênio. Além de maior quantidade e atividade das enzimas-chave que controlam a fase anaeróbia do catabolismo da glicose, maior capacidade de suportar altos níveis de lactato sanguíneo durante o exercício, e vascularização do músculo. 2.3.1 Adaptações Neurais Os aspectos neurais que influenciam no acréscimo da força são: o aumento do número de unidades motoras recrutadas (limiar excitatório), o aumento da frequência de disparo destas unidades motoras e uma redução na coativação dos grupos musculares antagonistas ao movimento. Os mecanismos neurais são os principais responsáveis pelo incremento de força nas primeiras doze semanas, ou seja, o aumento inicial na força muscular ocorre mais rapidamente do que a hipertrofia muscular, relacionando-se ao aprendizado motor e à coordenação intra e intermuscular. Estes aspectos melhoram, devido à expansão nas dimensões da junção neuromuscular e ao aumento: no conteúdo de neurotransmissores pré-sinápticos, nos receptores pós- sinápticos e no sincronismo de ativação muscular como um todo. Ocorre que uma pessoa treinada apresenta maior capacidade de recrutamento de 50 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO unidades motoras para uma determinada atividade do que um indivíduo destreinado e, na sequência, em virtude da coordenação motora, tal ato possibilita à pessoa levantar uma maior sobrecarga. Para facilitar o entendimento, imagine um indivíduo iniciante, no seu primeiro dia de academia, fazendo o exercício de supino, sentado na máquina (chest press). Independentemente do seu nível de força, no primeiro momento, ele terá alguma dificuldade em executar o movimento, pelo simples fato de ser um movimento não usual para ele. No próximo dia em que ele vier à academia, muito provavelmente ele perceberá o movimento mais fácil, sendo possível aumentar a carga (por exemplo, 5 kg no primeiro dia e 10kg no segundo). E, ao final da semana, é possível que se tenha mais um ajuste na carga (de 10 kg para 12 kg). O que acontece, de fato, é que o indivíduo está se familiarizando com o movimento e aumentando a produção de força, por causa dos primeiros ajustes neurais. Todavia, ao longo do tempo, as adaptações neurais tendem a chegar a um platô, e os incrementos de força se dão (principalmente) pelas adaptações morfológicas. Figura 17 - Adaptações neurais e morfológicas. Fonte: Adaptado de Sale (1988). SAIBA MAIS O Sport Science Web é um site de conteúdo interativo, de fácil acesso a profis- sionais da área da Educação Física que buscam evidências científicas para sus- tentarem suas práticas, de uma forma rápida e confiável. O canal apresenta artigos científicos 51 FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO de alto impacto em infográficos, e com voz computadorizada, em um tempo de menos de cinco minutos. Especialistas em Fisiologia do Exercício relacionada a diversas áreas, como treinamen- to de força, recuperação e emagrecimento, comentam e apontam as principais aplicabilidades dos estudos. Disponível em: <https://www.sportscienceweb.com/>. Acesso em: 18 de agosto de 2020. 2.3.2
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