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Micoses profundas Autor: Pedro V.F. Medrado PARACOCCIDIOIDOMICOSE - É uma infecção causada pelo fungo dimórfico Paracoccidioides brasiliensis (P. brasiliensis) que compromete principalmente pulmões, sistema fagocítico-mononuclear, mucosa, pele e supra-renais. - É endêmica na América Latina, e c/ maior prevalência no Brasil, Colômbia, Venezuela, Argentina e Uruguai - É uma doença crônica que compromete adultos entre 30-50 anos, agricultores ou pessoas da zona rural - Proporção 10-25 homens para cada mulher – estrógenos inibe a transformação de micélio ou conídios para levedura - O P. brasiliensis tem sino isolado do solo (regiões úmidas, tropicais e subtropicais em pH ácido e temperatura de 15-30ºC) e em tatus Patogênese - Há formação do complexo primário – linfócitos locais e regiões c/ disseminação hematogênica e linfática. - Lesão granulosa que contém células fúngicas – proliferativa e/ou exsudativa, que pode resultar em necrose (atividade neutrofílica) - Fenótipos HLA A9, HLA DRB1*11(unifocal), B13, B40 e Cw3 – maior suscetibilidade - Resposta imune específica – depende das diferentes fases/estágios de evolução da doença Quadro clínico - Varia de leve até o óbito, c/ período de incubação desconhecido - Forma aguda (tipo juvenil) – 1-20% dos pacientes – Th1 · Proporção similar de homens/mulheres · Evoluem por 2-3 meses ou mais c/ febre, perda de peso e envolvimento fagocítico-mononuclear · Aumento do fígado, baço e linfonodos regionais ou generalizados – cervicais os mais frequentes · Múltiplas reações cutâneas, ossos longos, lesões líticas e raramente pega medula e compromete TGI · Eosinofilia absoluta transitória · Raramente o pulmão é envolvido - Forma crônica – Th17 · Forma insidiosa na faixa etária de 30-50 anos, trabalhadores/residentes rurais, 10-25 H/M · Compromete mais de 80% dos casos o pulmão, seguido de lesões de pele: · Lesões vegetantes, verrucóides, tuberculoides, acneiformes, pápulas, úlceras e pústulas · Lesões de mucosa – La:Tra:Far · Lesões de mucosa (estomatite) – solicita biópsia · Forma disseminada – linfonodos, supra-renais, ossos, intestinos, SNC, olhos, geniturinário, miocárdio, pericárdio e vascular · Infartamento pulmonar – não espera – já trata logo se o indivíduo tem quadro clínico claro da fase crônica - Sequelas – fibrose · Fibrose pulmonar – Insuficiência respiratória · Bloqueio linfático, fibrose ganglionar, da laringe, traqueia e microstomia Diagnóstico - Identificação em exame direta e cultura ou histopatológico – maior sensibilidade pelo exame c/ prata ou PAS em biópsia ou escarro/lavado - Exames imunológicos – controle pós-terapêutico · Reação de imunodifusão duplas (Ouchterlony) e contra-imunoeletroforese - Pesquisa de antígenos no sangue e no LCR não é disponível de rotina - Levado brônquio-alveolar por broncoscopia - Teste intradérmicos – negativa se imunidade celular deprimida Terapêutica - Casos leves – Sulfametoxazol-trimetoprim (160:400mg), Sulfadiazina (150mg/kg/dia) ou Itraconazol (100-400mg/dia) - Casos moderados – Sulfadiazina, Itraconazol (200mg/dia) e cetoconazol (eficácia similar) - Neuroparacoccidiodomicos – Voricoanazol/Itraconazol - Casos graves, · Terapia endovenosa – Anfotericina B desoxicolato (0,5-1mg/kg/dia) · Se estabilização dos graves – dose total de 1-3g ou mais - Não é uma doença que tem cura, mas em controle CRIPTOCOCOSE - É uma micose sistêmica causa pelo fungo encapsulado Cryptococcus neoformans, que acomete pulmões, SNC, além da pele, rins, próstata e sistema musculoesquelético - É comum em pacientes imunodeprimidos · Sem a presença de TCD4 + – a criptococose se torna disseminada, e não é possível de fazer o clearence imune do fungo (TCD8+ isolado não é suficiente) - É considerada uma doença oportunista, c/ fungo isolado em solo, excreta de pombos e morcegos, c/ distribuição mundial - Diminuição graças à terapêutica antirretroviral de alta potência (HAART) - C. neoformans var gattii – quase que apenas indivíduos sem aids e é endêmica de regiões tropicais e subtropicais, no NE do Brasil o sorotipo B é o mais prevalente. - Infecção por inalação – a imunidade inata controla da disseminação do fungo - Principal fator de virulência – cápsula polissacarídica (glucuronoxilomanana) que induz secreção de IL-10 (resposta imune Th2) Quadro clínico - Manifestações pulmonares e extrapulmonares, além de comprometimento do SNC - Infecção pulmonar – varia de assintomático até IRpA · A maioria é assintomática ou oligossintomática c/ um quadro leve de dispneia, tosse, dor pleurítica e raramente hemoptise · Sintomas constitucionais são incomuns · Radiologia – nódulo solitário, consolidação lobar ou infiltrado intersticial c/ derrame pleural - Infecção do SNC – é a manifestação clínica mais comuns · Manifesta-se como meningite ou meningoencefalite, c/ evolução subaguda ou crônica · Não difere dos pacientes HIV- e com AIDS, embora c/ aids a progressão é mais acelerada · Sintomas – Febre (34,3%), cefaleia (97,1%), distúrbios visuais (20%), confusão mental (11,4%), sinais meníngeos (5,7%), náuseas e vômitos (51,4%), coma, alterações de personalidade e perda de memória. - Formas disseminadas – disseminação hematogênica, SNC, medula óssea ou no escarro podem ser detectados · Particularmente AIDS – comum envolvimento em mais de um órgão Diagnóstico/exames complementares - Análise quimiocitológica do LCR em pacientes c/ meningoencefalite criptocócica, revela: · Celularidade normal ou pleocitose discreta; · células fúngicas é menor em indivíduos c/ aids · Elevação da proteínorraquia; · Mais elevada em indivíduos s/ aids · Glicorraquia normal ou baixa - Diagnóstico etiológico realizado no LCR – exame direto pela tinta da China, dosagem de antígenos criptocócico (aglutinação em látex) ou isolamento do fungo na cultura - Fatores de mau prognóstico · Confusão mental · Título de antígeno criptocócico maior do que 1.024 · Celularidade LCR <20/mm³ · Idade <35 anos - Regra: “todos os pacientes com doença criptocócica devem ser submetidos à punção liquórica para afastar acometimento do SNC.” Tratamento - Indivíduos s/ imunossupressão c/ doença pulmonar estável e leve · Observação clínica, OU · Fluconazol (200-400mg/dia por 3-6 meses) - Casos graves de doença pulmonar, s/ imunossupressão, · Fluconazol 200-400mg/dia por 6-12 meses - Doenças graves disseminadas, ou acometimento do SNC em imunossuprimidos ou não, · Anfotericina B 0,4-0,7mg/kg/dia, c/ OU s/ · 5-Fluocitosina 100mg/kg/dia · Esquema por 2 semanas + 10 semanas c/ fluconazol 400mg/dia (se tiver melhora clínica) - Paciente refrataria, s/ melhora clínica, · Possibilidade de cirurgia – avaliação HISTOPLASMOSE - É uma doença sistêmica causada pelo Histoplasma capsulatum, um fungo dimórfico - Duas variedades: var. duboissii (Histoplasmose africana) e o var. capsulatum (Histoplasmose clássica) - Pode ser encontrada em qualquer região do mundo, mas é mais comum na América do Norte - Fungo necessita de certas condições de umidade, acidez, temperatura e quantidade de nitrogênio para sobreviver - Solos ricos em excrementos de aves e morcegos, e em cavernas e galinheiros abandonados - É uma doença associada à infecção pelo HIV - Infecção adquirida por inalação de microconídios que se alojam nos alvéolos pulmonares - Fungos leveduriforme fagocitados – fagolissoma de macrófagos – disseminação hematogênica Quadro clínico - Primo-infecção assintomática – exposição de indivíduos saudáveis é assintomática · Testes intradérmicos positivos (testes epidemiológicos) · Estudos radiológicos e sorológicos pode ser negativo · Maior exposição – linfadenopatia hilar ou mediastinal c/ infiltrado pulmonar focal ou mais disseminado (calcificações indefinidas?) - Doença pulmonar aguda – apresentação de uma IRpA · Variados achados radiológicos – infiltrado intersticial ou retículo-nodular difuso bilateral, pode haver linfadenopatia hilar ou mediastinal · Sintomas frequentes – febre, calafrios e perda de peso, e alguns referem cefaleia e alterações gastrintestinais - Doença pulmonar crônica – pacientes com DPOC tem problemas de clearencedo fungo · Pacientes apresentam tosse, febre baixa, calafrios e perda de peso · Radiografia de tórax – consolidação ou infiltrado associado a cavitações c/ nível líquido - Doença sistêmica aguda – é a forma comum do imunodeprimido c/ disseminação linfo-hematogênica. · Aumento do fígado, baço, gânglios, comprometimento da medula, lesões cutâneas e pulmão: · Hepatoesplenomegalia, hipoplasia medular, elevação discreta de enzimas hepáticas · Raramente hemocultura positiva · Febre alta e astenia são comuns · Quadros similares à sepse · Hemograma – pancitopenia c/ anemia, leucopenia e plaquetopneia · TC – Hepatoesplenomegalia (homogênea ou não) · Comprometimento ósseo e do TGI (úlcera esofágicas) - Doença sistêmica subaguda – é uma forma branda da doença aguda em indivíduos c/ imunodepressão de base - Doença sistêmica crônica – acomete indivíduos c/ imunodepressões leves (etilismo, DM, em uso de baixas doses de corticosteroides ou tumores sólidos) · Queixa principal – febre e emagrecimento, c/ meningoencefalite semelhante à TB ou criptococose (10% dos casos). · Raramente – fibrose mediastinal e doença ocular associada · Diagnóstico diferencial – paracoccidioidomicose, pneumocistose, TB, sarcoidose Diagnóstico/Exames complementares - Exames inespecíficos – graus de anemia, leucopenia e plaquetopenia, pode haver discreto aumento de enzimas hepáticas, e DHL costuma estar elevado nas formas disseminadas - Exames específicos – diagnóstico por isolamento do fungo · Cultura c/ colorações de Grocott e PAS – anatomopatológico · Técnicas de imuno-histoquímica – fungos nos tecidos · Giemsa no sangue e medula óssea – formas disseminadas · Provas sorológicas – formas agudas · Títulos de anticorpos – elevam só 2-6 semanas após exposição Tratamento Forma Fármaco/dose Duração Pulmonar aguda Anfotericina B e Itraconazol 4 a 12 semanas Pulmonar crônica Anfotericina B e Itraconazol 4 a 12 semanas Disseminada sem aids Anfotericina B e Itraconazol 6 a 8 semanas Disseminada c/ aids, meningite Anfotericina B e Itraconazol Anfo por 3 meses E Fluco por 12 meses Mediastinite Anfotericina B e Itraconazol 6 a 12 meses Mediastinite fibrosante Itraconazol 3 meses Pericardite AINH 2 a 12 semanas Reumatológica AINH 2 a 12 semanas - A duração do tratamento depende da gravidade da doença · Pacientes c/ aids CD4>150/mm³ - Anfotericina B seguido por Itraconazol O período depende da resposta ao uso de anti-retrovirais ESPOROTRICOSE - É uma doença subaguda ou crônica causada pelo fungo dimórfico Sporothrix schenckii - Melhor descrito em dermato COCCIDIOIDOMICOSE - É uma micose sistêmica com evolução aguda ou crônica, restrita em regiões secas - Doença de Posadas-Wernicke, ou Febre do Vale de São Joaquim - Acomete os pulmões – infecção respiratórias leve, PAC ou quadro semelhante à TB - Doença relacionada à caça de tatus, perfuração de poços, na região do nordeste - Causas – exposição à poeira contaminadas por C. immitis, C. posadassi - Não é uma doença de notificação compulsória Quadro clínico - Infecção respiratório benigna - A infecção dependente da carga infectante e do estado imunológico do paciente - Estado gripal leve (gripal-like) · Febre alta, dor torácica, tosse seca, artralgia, eritema nodoso e eritema multiforme - Formas disseminadas em imunocomprometidos - Se não tratadas, podem levar ao óbito Diagnóstico - Dados clínico + epidemiológicos + laboratoriais Tratamento - Aguda primária – fluconazol 3-6 meses - Progressiva – fluconazol ou itraconazol VO - Graves – Anfotericina B IV BLASTOMICOSE - É uma doença crônica, granulomatosa e supurativa causada pelo fungo dimórfico Blascomyces dermatites
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