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FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL II Mauro Noriaki Takeda , 2 3 TERMODINÂMICA A termodinâmica sob o ponto de vista macroscópico descreve o estado de um sistema em função das variáveis de estado, pressão, volume, temperatura e energia interna. O estudo da termodinâmica abrange o armazenamento, a transferência e a transformação de energia. Através de processos físicos, podemos adicionar ou retirar energia de uma massa. Por exemplo, a queima da gasolina em um cilindro de motor de um carro aumenta a temperatura e a pressão dentro do cilindro de maneira muito rápida. Nesse caso, estão envolvidos dois tipos de processos termodinâmicos: a energia química contida na gasolina é liberada na forma de calor quando da sua combustão e o pistão é movimentado devido à pressão realizando trabalho. Pensando em energia na termodinâmica, ela não só pode aumentar a temperatura, mas pode diminuir a temperatura, o que ocorre num sistema de refrigeração. Os engenheiros de várias áreas como engenheiros mecânicos, químicos e civis utilizam a termodinâmica, como por exemplo, no projeto de sistemas de potência. 3.1 Transformações gasosas As variáveis de estado, volume, temperatura e pressão podem sofrer alterações ao mesmo tempo em uma transformação. São chamadas transformações gasosas os experimentos realizados em sistemas fechados, ou seja, aqueles em que a massa de um gás ideal se mantém fixa não ocorrendo a troca de massa com o ambiente, mas podendo ocorrer a troca de calor. O processo ocorre mantendo-se constante uma das variáveis e variando as outras duas e verificando a relação entre essas duas variáveis. As transformações gasosas ocorrem mantendo a temperatura constante, mantendo a pressão constante, e o volume constante. 3.1.1 Lei de Boyle-Mariotte Essa lei é relativa à transformação isotérmica que é aquela em que a temperatura é mantida constante e ocorre a variação do volume e da pressão. , 3 Nessa lei, a relação entre o volume e a pressão é que se aumentarmos a pressão sobre um gás o volume diminui e se diminuirmos a pressão o volume aumenta, ou seja, essas duas grandezas são inversamente proporcionais. Essa relação pode ser escrita como: Ou: A representação gráfica de uma transformação isotérmica é uma curva chamada de isoterma. Temperaturas diferentes resultam em diferentes isotermas. , 4 Exemplo Um gás ideal contido em um recipiente ocupa 6 litros à pressão de 300 Pa. Ao sofrer uma transformação isotérmica, passa a ocupar um volume de 9 litros. Qual será a pressão exercida pelo gás dentro do frasco? Resolução: 3.1.2 Lei de Gay-Lussac Nessa lei, a pressão é mantida constante, ocorrendo a variação do volume e da temperatura. Portanto, há uma transformação isobárica. , 5 Nessa lei, a relação entre o volume e a temperatura é que se aumentarmos a temperatura de um gás, o volume aumenta, e se diminuirmos a temperatura, o volume diminui. Ou seja, essas duas grandezas são diretamente proporcionais. A representação gráfica de uma transformação isobárica é uma reta. Essa relação pode ser escrita como: A temperatura deve ser na escala absoluta (escala kelvin). Exemplo Um gás que se encontra no estado 1 apresenta volume de 15 L, à pressão de 5 atm e temperatura de 295 K. Determine o volume desse gás em um estado 2 se a temperatura for dobrada mantendo a pressão constante. Resolução: , 6 3.1.3 Lei de Charles Essa lei refere-se à transformação isovolumétrica, ou seja, que mantém o volume constante e a pressão e a temperatura sofrem variação. Nessa lei, a temperatura e a pressão são grandezas diretamente proporcionais. Portanto, quando há um aumento da temperatura, ocorre um aumento da pressão, e quando diminui a temperatura, diminui a pressão. Essa relação pode ser escrita como: A temperatura deve ser na escala absoluta (escala kelvin). Exemplo Calibrou-se um pneu com pressão de 2,0 atm, quando a temperatura do pneu era de 27 °C. Depois de se ter rodado um certo tempo com esse pneu, mediu-se novamente sua pressão e verificou-se que agora era de 2,2 atm. Supondo a variação de volume do pneu desprezível, determine a temperatura em que se encontra o pneu. , 7 Resolução: T1 = 27 °C T1 = 27 + 273 = 300 K Ou: 330 = T2 + 273 T2 = 330 273 T2 = 57 °C 3.2 Lei geral dos gases perfeitos Podemos reunir as três leis vistas anteriormente em uma equação mais geral que permite prever o que acontece com variações simultâneas de volume, pressão e temperatura dos gases, e só vale para massa constante de um determinado gás. Essa equação é chamada de equação geral dos gases perfeitos e é escrita como: Ou: Unidades usadas: Volume – pode ser qualquer unidade de volume desde que V1 e V2 estejam na mesma unidade. Pressão – pode ser em qualquer unidade de pressão desde que p1 e p2 estejam na mesma unidade. Temperatura – deve ser obrigatoriamente na escala absoluta ou kelvin. , 8 Exemplo: Vinte litros de gás hidrogênio foram medidos a 27 oC e 700 mmHg. Qual o volume do gás a 87 oC e 600 mmHg? T1 = 27 oC T1 = 27 + 273 = 300 K T2 = 87 oC T2 = 87 + 273 = 360 K 3.2.1 Equação de Clapeyron Como vimos, a equação geral dos gases perfeitos vale para uma massa fixa de um determinado gás. Clapeyron desenvolveu uma equação que relaciona as variáveis de estado com o número de mols que compõe um gás através da expressão: em que: p é a pressão V é o volume n é o número de mols R é a constante universal dos gases perfeitos T é a temperatura (kelvin) De acordo com as unidades utilizadas, o valor de R deve ser: , 9 Ou: 3.3 Primeira lei da termodinâmica Em uma transformação gasosa, pode ocorrer troca de energia com o meio ambiente sob a forma de calor e trabalho. Em consequência dessas trocas energéticas, a energia interna do gás pode sofrer um aumento, uma diminuição ou se manter constante. Assim, a primeira lei da termodinâmica é uma Lei da Conservação da Energia. Se considerarmos que o sistema é submetido a uma variação infinitesimal em seu estado, de maneira que uma pequena quantidade de energia dQ seja transferida por calor e uma quantidade pequena de trabalho d seja realizada sobre o sistema, a energia interna, por conseguinte, irá mudar de uma pequena quantidade dU. Logo, podemos expressar a primeira lei da termodinâmica para os processos infinitesimais como: Ou ainda, podemos enunciar a primeira lei da termodinâmica como: a variação da Energia interna ΔU de um sistema é igual à diferença entre a quantidade de calor Q trocada com o meio ambiente e o trabalho realizado durante a transformação. Ou: Aplicando a primeira lei da termodinâmica a alguns casos especiais, temos: Processos adiabáticos: Como não há troca de calor com o meio, temos Q = 0, portanto: Processos a volume constante: Nesse processo, como não há variação do volume, o trabalho , temos: , 10 Processos cíclicos: No processo cíclico, retorna-se ao ponto inicial. Portanto, não há variação da energia interna . Logo: 3.3.1 Energia interna Considere um gás monoatômico e que a energia interna U do gás correspondeà soma das energias cinéticas de translação dos átomos. A energia cinética de translação média de um átomo depende da temperatura do gás e é dada por: Onde , sendo R a constante universal dos gases e NA é o Número de Avogadro. Número de Avogadro é o número de átomos existentes em um átomo-grama de qualquer substância, e vale . E a energia interna total U para n mols de um gás ideal monoatômico é dada por: 3.3.2 A distribuição de velocidades das moléculas A distribuição de velocidades de Maxwell P(v), dada pela equação: é uma função tal que P(v)dv é a fração de moléculas com velocidades no intervalo dv na área em volta da velocidade v. M é a massa molar. As medidas da distribuição de velocidades das moléculas de um gás são: , 11 Velocidade média (vmed) É determinada por: Cuja integral resulta em: A média dos quadrados das velocidades, (v2)med , pode ser calculada usando a equação: E obtemos para a integral: Velocidade média quadrática (vrms) A velocidade média quadrática é a raiz quadrada de (v2)med, ou seja: Velocidade mais provável (vp) A velocidade mais provável é a velocidade para a qual P(v) é máxima. Para calcular vP, fazemos dP/dv = 0, que resulta em: É mais provável que uma molécula tenha uma velocidade vp do que qualquer outra velocidade, mas algumas moléculas têm velocidades muito maiores que vp. , 12 3.4 Trabalho realizado numa transformação termodinâmica O trabalho que um gás realiza ao se expandir ou se contrair de um volume V1 para um volume V2 é dado por: É necessário calcular a integral porque a pressão p pode variar com a variação do volume V durante o processo. Se a pressão for constante, a integral fornece: De acordo com a equação, observamos que quando o gás é comprimido, dV é negativo e o trabalho realizado sobre o gás é positivo. Quando o gás sofre expansão, dV é positivo e o trabalho realizado sobre o gás é negativo. Se o volume permanece constante, o trabalho realizado sobre o gás é zero. Essa observação nos leva ao seguinte resumo: Quando o gás se expande (ΔV > 0) e temos > 0, dizemos que o gás realiza trabalho. Quando o gás sofre contração (ΔV < 0) e temos < 0, dizemos que o trabalho foi realizado sobre o gás. Quando o volume do gás não sofre variação (ΔV = 0), temos = 0. Se a pressão não é constante, o trabalho realizado por um gás pode ser calculado através da área do gráfico pressão x volume. A área numericamente corresponde ao trabalho . , 13 Exemplo O gráfico a seguir ilustra uma transformação onde 200 mols de gás ideal monoatômico recebem do meio exterior uma quantidade de calor igual a 900 kJ. Dado R = 8,317 J/mol . K. Determine: a) o trabalho realizado pelo gás; b) a variação da energia interna do gás; c) a temperatura do gás no estado B. Resolução: a) O trabalho numericamente corresponde à área, que nesse caso é a área do trapézio delimitado pelos pontos 1, A, B e 2 que pertencem aos vértices do mesmo. b) Q = 900 kJ = 9 . 105 J c) , 14 3.5 Segunda lei da termodinâmica A segunda lei da termodinâmica trata do rendimento das máquinas térmicas e tem maior aplicação na construção de máquinas térmicas e utilização na indústria. As máquinas térmicas foram os primeiros dispositivos mecânicos a serem utilizados em larga escala na indústria, por volta do século XVIII. Uma máquina térmica é um dispositivo que recebe energia por calor, e operando em ciclo, transforma uma fração dessa energia em trabalho, como por exemplo, ao girar um eixo, transforma a energia que entra em energia mecânica que irá realizar trabalho. Como o calor flui naturalmente no sentido de um corpo com temperatura mais alta para outro corpo com temperatura mais baixa, o calor não flui espontaneamente de uma temperatura menor para uma temperatura maior. Para que esse fluxo ocorra, é necessária a atuação de um agente externo realizando trabalho sobre o sistema. Dessa maneira, não é possível construir uma máquina térmica que operando em um ciclo termodinâmico converta toda quantidade de calor recebido em trabalho. Portanto, é impossível obter um dispositivo térmico que tenha um rendimento de 100%, ou seja, sempre uma quantidade de calor não se transforma em trabalho. Reservatório quente a Tq Máquina térmica Reservatório frio a Tf Energia |Qq| entra na máquina Energia |Qf| sai do motor Qq Qf Máquina realiza trabalho , 15 O trabalho realizado por uma máquina térmica é a diferença entre o calor cedido da fonte quente e o calor recebido pela fonte fria, ou seja: Em que: Qq é o calor que entra na máquina Qf é o calor que sai do motor Utiliza-se o valor absoluto das quantidades de calor, pois, em uma máquina cujo objetivo é o resfriamento, esses valores serão negativos. Podemos calcular o rendimento de uma máquina térmica sabendo quanto de trabalho ela produz e quanto de calor é fornecido pela fonte quente através da equação: Observe que o rendimento sempre resulta num valor entre zero e 1. Multiplicando por 100 esse resultado, obtemos o rendimento em termos de percentagem. 3.5.1 Máquina de Carnot Entre todas as máquinas térmicas, a máquina de Carnot é a que consegue utilizar o calor com maior eficiência para realizar trabalho. Ele demonstrou que qualquer máquina térmica que opere entre duas fontes na escala kelvin atingirá seu rendimento máximo se seu funcionamento ocorrer a partir de processos reversíveis. Denomina-se processo reversível aquele que após ter ocorrido em um sentido, também pode ocorrer em sentido contrário e retornar ao estado inicial. , 16 O ciclo de Carnot pode ser representado pelas etapas apresentadas no gráfico a seguir. O gás sofre uma expansão isotérmica de A até B que ocorre quando o gás absorve a quantidade de calor Q de uma fonte quente. O gás sofre uma expansão adiabática (sem trocas de calor com o meio) de B até C. O gás sofre uma compressão isotérmica de C até D e libera uma quantidade de calor Q para a fonte fria. O gás sofre uma compressão adiabática (sem troca de calor) de D para A retornando à condição inicial. A máquina térmica que opera segundo o ciclo de Carnot é uma máquina de Carnot. Na máquina de Carnot, a quantidade de calor que é fornecida pela fonte quente e a quantidade cedida à fonte fria são proporcionais às suas temperaturas absolutas, ou seja: , 17 Assim, o rendimento de uma máquina de Carnot é: Exemplo Determine o rendimento de uma máquina de Carnot que opera entre as temperaturas de 27 oC e 427 oC Resolução: Tf = 27 oC = 300 K Tq = 527 oC = 800 K Multiplicando por 100, temos: 3.5.2 Entropia Em termodinâmica, a entropia é uma grandeza que mede o grau de desordem das partículas em um sistema físico. É utilizada a letra S para representar essa grandeza. Um exemplo que ilustra o conceito de entropia é um bloco de gelo derretendo. Depois do derretimento, a água não volta a ser gelo através de um processo natural. A água no estado líquido apresenta entropia maior que no estado sólido, pois suas moléculas encontram-se mais espaçadase com maior energia. , 18 Quando um processo físico ou químico acontece espontaneamente, a entropia do sistema aumenta, isto é, o sistema fica menos organizado ou mais aleatório. Se considerarmos a agitação como a desordem do sistema, concluímos que: quando um sistema recebe calor, Q > 0, sua entropia aumenta; quando um sistema cede calor, Q < 0, sua entropia diminui; se o sistema não troca calor, Q = 0, sua entropia permanece constante. Quando vamos calcular variação da entropia para um processo finito, devemos observar que T normalmente não é constante. Se dQ é a energia reversivelmente transferida pelo calor quando o sistema está à temperatura T, a variação da entropia em um processo arbitrário reversível entre os estados inicial (i) e final (f) é: em que Q é a energia transferida do sistema ou para o sistema na forma de calor durante o processo, e T é a temperatura do sistema em kelvin. No caso de um processo isotérmico reversível, a expressão da variação de entropia se reduz a: Olhando para a natureza como um sistema, observamos que o Universo está constantemente recebendo energia, porém, não tem capacidade de cedê-la, o que nos leva a concluir que a entropia do Universo está aumentando conforme o tempo passa. , 19 Conclusão do Bloco 3 Neste bloco, vimos as transformações gasosas passando pela transformação isotérmica, isobárica e isovolumétrica. Aprendemos a equação geral dos gases e a equação de Clapeyron. Estudamos a primeira lei da termodinâmica em que a variação da Energia interna ΔU de um sistema é igual à diferença entre a quantidade de calor Q trocada com o meio ambiente e o trabalho realizado durante a transformação. Vimos as medidas da distribuição de velocidades das moléculas de um gás. Estudamos a segunda lei da termodinâmica, o trabalho realizado pelas máquinas térmicas e o rendimento delas. Estudamos o ciclo de Carnot, a máquina de Carnot, e o rendimento para essa máquina em função das temperaturas da fonte fria e quente. Por fim, falamos da entropia e a variação dela nos sistemas. REFERÊNCIAS HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de física: gravitação, ondas e termodinâmica. 10. ed. São Paulo: LTC, 2016. v. 2. TIPLER, Paul Allen; MOSCA, Gene. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. v. 1. YOUNG, Hugh D.; FREEDMAN, Roger A. Física II: termodinâmica e ondas. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley, 2008. SERWAY, Raymond A.; JEWETT JR, John W. Princípios de física: oscilações, ondas e termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. v. 2.
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