Buscar

texto e contexto

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

TEXTO E CONTEXTO 
Leia o texto abaixo: 
“A Peste” 
 “... : o hábito do desespero é pior que o próprio desespero.” 
 
(Albert Camus) 
 
 Há, de tempos em tempos, tragédias que 
assolam a humanidade: século XIV, a Peste Negra 
(Bubônica) – matou 50 milhões de pessoas; a Gripe 
Espanhola (1918 – 1919) – ceifou 20 milhões de vidas, 
inclusive a do presidente Rodrigues Alves; todavia, 
existem outras ainda mais letais, porém diluídas ao 
longo de quartéis: a Tuberculose que, entre 1850 e 
1950, aniquilou 1 bilhão de humanos; a AIDS que, de 
1981 até hoje, tragou 22 milhões indivíduos. No 
entanto, infelizmente, nada é mais avassalador do que 
a peste camusiana que infesta a contemporaneidade. 
 O franco-argelino Albert Camus, Nobel de 
literatura em 1957, narra, usando o Realismo Absurdo, 
no “A Peste” uma epidemia que assola a cidade fictícia 
de Orã. A calamidade é tão somente um pano de fundo 
para revelar os conflitos existenciais do homem 
contemporâneo. “A multidão festiva ignorava o que 
pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem 
desaparece, fica dezenas de anos a dormir nos móveis 
e nas roupas, espera com paciência nos quartos, nos 
porões, nas malas, nos papéis, nos lençóis - e chega 
talvez o dia em que, para desgraça e ensinamento dos 
homens, a peste acorda os ratos e os manda morrer 
numa cidade feliz". Entre as muitas metáforas desse 
romance, está a da ignorância; aliás, nada mais 
paradoxal, na atualidade, que, em que pese toda a 
possibilidade do acesso à informação, à ciência; grande 
parte da população orienta-se por crendices, 
especulações e fanatismos. 
 Além disso, em tempos pestilentos ou não, 
quase todos tornamo-nos condescendentes com as 
atitudes mais desumanas, mais espúrias e mais torpes 
que nos infligem. Parece estarmos imunes à dor e ao 
sofrimento do outro; não os vemos e se os vemos é 
como se não os víssemos: a maioria, como afirma 
Camus, torna-se cúmplice: "Não mudei. Tenho 
vergonha há muito, vergonha enorme de ter sido, 
embora de longe, embora com boa vontade, um 
assassino também. Depois notei que até os melhores 
não poderiam deixar de matar, ou consentir que 
 
 
 
 
 
matassem, pois isso era da lógica admitida, e não 
fazíamos um gesto nesse mundo sem nos arriscarmos 
a matar. Continuei a ter vergonha, percebi que vivíamos 
na peste - e sumiu-se a paz." 
 Assim, pululam “Orãs” repletas não só de títeres 
ignorantes e condescendentes com o execrável como 
também hordas de imbecilizados, para os quais a única 
lógica é a mesma presente na obra camusiana: “...e a 
cidade inteira parecia uma sala de espera. Os que 
tinham ofício trabalhavam seguindo o exemplo da 
peste: meticulosamente e sem brilho. Todos eram 
modestos. Pela primeira vez, falavam com facilidade 
nas pessoas ausentes, usavam a linguagem comum. 
Examinavam a separação como examinavam as 
estatísticas da epidemia”. 
O mesmo muro invisível que isolava Orã e seus ratos e 
sua peste do resto mundo, também cerceia a 
capacidade de sentir e amar em tempos de 
Coronavírus. Afinal, “o amor exige um pouco de futuro” 
(Camus) e, por hora, tristemente, a maioria não o vê. 
 
 CINTRA, Sérgio. “A Peste”. Diário de Cuiabá, Cuiabá, 20 de 
março de 2020. Opinião.Disponível em < 
http://www.diariodecuiaba.com.br/artigos/a‐peste/529006> 
 
 Nesse artigo de opinião por abordar o assunto 
“pandemia”, percebe-se, com facilidade, a relação entre 
o texto e o seu contexto. Sendo que um dos conceitos 
de Texto é um todo organizado, que usa de recursos 
semióticos – linguísticos e/ou não linguísticos – para 
produzir sentidos e essa produção de sentido(s) 
relaciona-se com a linguagem usada; mas 
independentemente do tipo de linguagem, é importante, 
para estabelecer uma significação, entender que 
nenhuma linguagem é neutra: “Não existe Linguagem 
neutra; aliás, ela desempenha uma função social e 
dá significação ao mundo.”(Sérgio Cintra). Dessa 
maneira, ao se estabelecer relações entre textos, ou 
entre textos e seus contextos (que nada mais é, 
segundo Halliday, um outro texto) consegue-se produzir 
um entendimento, um ou mais sentidos. Segundo a 
Linguística Sistêmico-Funcional, “Um texto tem sempre 
outro texto que o rodeia: um contexto” (Sérgio Cintra). 
Apesar do contexto ser apenas mais um texto, ele pode 
ser entendido como o que compõe o texto na sua 
totalidade; reunião dos elementos do texto que estão 
relacionados com uma palavra ou frase e contribuem 
 
 
 
 
para a modificação ou esclarecimento de seus 
significados. 
 Quando se lê o artigo de opinião do professor 
Sérgio Cintra, percebe-se, com facilidade, a 
intertextualidade (Diálogo entre textos; criação ou 
superposição de textos) estabelecida entre a obra de 
Camus e o momento vivido não só por brasileiros, mas 
pelo mundo todo e retratado pelo artigo de opinião: a 
pandemia do Covid-19. Para se fazer tal comparação 
são necessários dois pré-requisitos: conhecimento de 
mundo (expressão que se refere ao conhecimento 
acumulado de um certo indivíduo sobre toda a 
realidade. Ou seja, sua experiência de vida.) e 
competência linguística (é um termo que denomina a 
capacidade do usuário da língua de produzir e entender 
um número infinito de sequências linguísticas 
significativas, que são denominadas sentenças, frases 
ou enunciados, a partir de um número finito de regras e 
estruturas). Assim, a interpretação de um texto 
depende, diretamente, do nível de cidadania do 
indivíduo e do domínio morfossintático e semântico de 
determinada língua. 
 
 EXERCÍCIOS DE AULA 
1. (Fuvest - 2014) A civilização “pós-moderna” 
culminou em um progresso inegável, que não foi 
percebido antecipadamente, em sua inteireza. Ao 
mesmo tempo, sob o “mau uso” da ciência, da 
tecnologia e da capacidade de invenção nos precipitou 
na miséria moral inexorável. Os que condenam a 
ciência, a tecnologia e a invenção criativa por essa 
miséria ignoram os desafios que explodiram com o 
capitalismo monopolista de sua terceira fase. 
Em páginas secas premonitórias, E. 
Mandel1 apontara tais riscos. O “livre jogo do 
mercado” (que não é e nunca foi “livre”) rasgou o 
ventre das vítimas: milhões de seres humanos 
nos países ricos e uma carrada maior de milhões 
nos países pobres. O centro acabou fabricando a 
sua periferia intrínseca e apossou-se, como não 
sucedeu nem sob o regime colonial direto, das 
outras periferias externas, que abrangem quase 
todo o “resto do mundo”. 
1: Ernest Ezra Mandel (1923-1995): economista e 
militante político belga. 
O emprego de aspas em uma dada expressão 
pode servir, inclusive, para indicar que ela 
I. foi utilizada pelo autor com algum tipo de 
restrição; 
II. pertence ao jargão de uma determinada área 
do conhecimento; 
III. contém sentido pejorativo, não assumido pelo 
autor. 
Considere as seguintes ocorrências de emprego 
de aspas presentes no texto: 
A. “pós-moderna” (L. 1); 
B. “mau uso” (L. 2); 
C. “livre jogo do mercado” (L.6); 
D. “livre” (L. 7); 
E. “resto do mundo” (L. 9). 
As modalidades I, II e III de uso de aspas, 
elencadas acima, verificam-se, respectivamente, 
em 
a) A, C e E 
b) B, C e D 
c) C, D e E 
d) A, B e E 
e) B, D e A 
 
2. (Enem - 2012) “Ele era o inimigo do rei”, nas 
palavras de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, 
“um romancista que colecionava desafetos, 
azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o 
Brasil”. Assim era José de Alencar (1829-1877), o 
conhecido autor de O GUARANI e IRACEMA, 
tido como o pai do romance no Brasil. 
Além de criar clássicos da literatura brasileira 
com temas nativistas, indianistas e históricos, ele 
foi também folhetinista, diretor de jornal, autor de 
peças de teatro, advogado, deputado federal e 
até ministro da Justiça. Para ajudar na 
descoberta das múltiplas facetas desse 
personagem do século XIX, parte de seu acervo 
inédito será digitalizada. 
História Viva, n.°99, 2011. 
Com base no texto, que trata do papel do escritor 
José de Alencar e da futura digitalização de sua 
obra, depreende-se que 
a) a digitalização dos textos é importante para 
que os leitores possam compreender seus 
romances. 
b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi 
importante porque deixou uma vasta obra literária 
com temática atemporal. 
c) a divulgação das obras de José de Alencar, 
por meio da digitalização, demonstra sua 
importância para a história do Brasil Imperial. 
d) a digitalização dos textos de José de Alencar 
terá importante papel na preservação da memória 
 
 
 
 
linguística e da identidade nacional. 
e) o grande romancista José de Alencar é 
importante porque se destacou por sua temática 
indianista. 
 
3. (Enem - 2012) A substituição do haver por ter em 
construções existenciais, no português do Brasil, 
corresponde a um dos processos mais característicos 
da história da língua portuguesa, paralelo ao que já 
ocorrera em relação à aplicação do domínio de ter na 
área semântica de “posse”, no final da fase arcaica. 
Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter 
sobre haver e discute a emergência de ter existencial, 
tomando por base a obra pedagógica de João de 
Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e 
cinquenta do século XVI, encontram-se evidências, 
embora raras, tanto de ter “existencial”, não 
mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe 
histórica, quanto de haver como verbo existencial com 
concordância, lembrado por Ivo Castro, e anotado 
como “novidade” no século XVIII por Said Ali. 
Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito 
só revela um conhecimento deficiente da língua. Há 
mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma 
norma única e prescritiva? É válido confundir o bom 
uso e a norma com a própria língua e dessa forma 
fazer uma avaliação crítica e hierarquizante de outros 
usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma 
norma por outra? 
CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente 
para o passado, In: Cadernos de Letras da UFF, n.° 36, 2008. Disponível em: 
www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado). 
Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em 
diferentes contextos evidencia que 
a) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma 
pesquisa histórica. 
b) os estudo clássicos de sintaxe histórica enfatizam a 
variação e a mudança na língua. 
c) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da 
língua fundamenta a definição da norma. 
d) a adoção de uma única norma revela uma atitude 
adequada para os estudos linguísticos. 
e) os comportamentos puristas são prejudiciais à 
compreensão da constituição linguística. 
 
4. ETEC - 2017/1) "Em um mundo marcado por 
conflitos em diferentes regiões, as operações de 
manutenção da paz das Nações Unidas são a 
expressão mais visível do compromisso solidário 
da comunidade internacional com a promoção da 
paz e da segurança. 
Embora não estejam expressamente 
mencionadas na Carta da ONU, elas funcionam 
como instrumento para assegurar a presença 
dessa organização em áreas conflagradas, de 
modo a incentivar as partes em conflito a superar 
suas disputas por meio pacífico – razão pela qual 
não devem ser vistas como forma de intervenção 
armada." 
Acesso em: 26.08.2016. Adaptado. 
Historicamente, o Brasil envia soldados para 
participar de operações de paz. Em 2004, foi 
criada pelo Conselho de Segurança da ONU a 
Missão das Nações Unidas para Estabilização do 
Haiti (Minustah). 
De acordo com o texto, essa missão foi criada para 
a) restabelecer a segurança e normalidade 
institucional do Haiti após sucessivos episódios de 
turbulência política e de violência, que marcaram 
esse país no início do século XXI. 
b) atacar os garimpos ilegais de diamantes no 
interior do Haiti, que usavam mão de obra infantil 
nas minas onde esse minério é encontrado. 
c) combater o narcotráfico comandado pelo Cartel 
de Medelin, que a partir do Haiti distribuía drogas 
para todos os países da América Latina. 
d) acabar com os problemas ambientais crônicos 
no Haiti, pois esse país era o principal responsável 
pela poluição ambiental no Caribe. 
e) extinguir a rede de trabalho escravo existente 
no Haiti, que utilizava esse tipo de mão de obra 
nas plantações de soja e trigo. 
 
GABARITO 
1. Alternativa correta: a) A, C e E 
O uso das aspas no texto indicam algumas 
intenções do autor: 
“Pós-moderna”: o autor entende que ainda 
existem algumas restrições sobre o uso desse 
termo, seja por ser incerto ou pouco aceito pela 
comunidade acadêmica. O termo pós-moderno 
indica uma fase que começou após o 
modernismo, no entanto, alguns autores se 
referem a esse momento por 
“contemporaneidade”. 
“Livre jogo do mercado”: as aspas aqui foram 
usadas pois essa é uma expressão usada na 
área da economia e, portanto, trata-se de um 
jargão. Ela indica a liberdade do mercado em 
atuar sem intervenção do estado. 
“Resto do mundo”: o autor usou aspas nessa 
expressão para indicar que existe um caráter 
 
 
 
 
pejorativo nela do qual ele não compartilha, ou 
seja, não concorda. 
 
2. Alternativa correta: d) a digitalização dos 
textos de José de Alencar terá importante 
papel na preservação da memória 
linguística e da identidade nacional. 
A importância de José de Alencar (1829-1877) 
não se limita somente ao Brasil Imperial (1822-
1889). Escritor multifacetado, ele atuou como 
jornalista, crítico, advogado, dramaturgo e 
político, sendo uma das figuras mais importantes 
da literatura romântica nacional. 
Por esse motivo, a digitalização de suas obras, 
sem dúvida, fortalecerá a preservação da 
memória linguística e da identidade nacional, 
tornando público seus escritos. 
 
3. Alternativa correta: e) os comportamentos 
puristas são prejudiciais à compreensão 
da constituição linguística. 
Na opinião da autora, o purismo da língua traz 
consequências que dificultam a compreensão 
linguística e, por isso, são prejudiciais. Esse 
purismo está relacionado com a hierarquização 
dos usos da língua que gera preconceito 
linguístico entre os falantes. 
 
4. Alternativa correta: a) restabelecer a 
segurança e normalidade institucional do 
Haiti após sucessivos episódios de 
turbulência política e de violência, que 
marcaram esse país no início do século 
XXI. 
Segundo o texto, a ONU (Organização das 
Nações Unidas) tem como compromisso 
amenizar as disputas entre algumas regiões e 
trazer paz e segurança aos locais envolvidos em 
conflitos. 
Da mesma forma, a Missão das Nações Unidas 
para Estabilização do Haiti (Minustah) tem como 
intuito restabelecer a segurança do local, depois 
de anos de conflitos e episódios de violência. 
 
 
 
EXERCÍCIOS-TAREFA 
 
1. (Fatec - 2013) Leia o texto para responder às 
questões. 
O labirinto dos manuais 
Há alguns meses troquei meu celular. Um modelo lindo, 
pequeno, prático. Segundo a vendedora, era capaz de 
tudo e mais um pouco. Fotografava, fazia vídeos, 
recebia e-mails e até servia para telefonar. Abri o 
manual, entusiasmado. “Agora eu aprendo”, decidi, 
folheando as 49 páginas. Já na primeira, tentei executar 
as funções. Duas horas depois, eu estava prestes a roer 
o aparelho. O manual tentava prever todas as 
possibilidades. Virou um labirinto de instruções! 
Na semana seguinte, tentei baixar o som da 
campainha. Só aumentava. Buscava o vibracall, não 
achava. Era só alguém me chamar e todo mundo em 
torno saía correndo, pensando que era o alarme de 
incêndio! Quem me salvou foi um motorista de táxi. 
— Manual só confunde – disse didaticamente. – Dá 
uma de curioso. 
Insisti e finalmente descobri que estava no vibracall há 
meses! O único problema é que agora não consigo 
botar a campainha de volta! 
Atualmente, estou de computador novo. Fiz o que toda 
pessoa minuciosa faria. Comprei um livro. Na capa, a 
promessa: “Rápido e fácil” – um guia prático, simples e 
colorido! Resolvi: “Vou seguir cada instrução, página 
por página. Do que adianta ter um supercomputadorse 
não sei usá-lo?”. Quando cheguei à página 20, minha 
cabeça latejava. O livro tem 342! Cada vez que olho, dá 
vontade de chorar! Não seria melhor gastar o tempo 
relendo Guerra e Paz*? 
Tudo foi criado para simplificar. Mas até o microndas 
ficou difícil. A não ser que eu queira fazer pipoca, que 
possui sua tecla própria. Mas não posso me alimentar 
só de pipoca! Ainda se emagrecesse... E o fax com 
secretária eletrônica? O anterior era simples. Eu 
apertava um botão e apagava as mensagens. O atual 
exige que eu toque em um, depois em outro para 
confirmar, e de novo no primeiro! Outro dia, a luzinha 
estava piscando. Tentei ouvir a mensagem. A 
secretária disparou todas as mensagens, desde o início 
do ano! 
Eu sei que para a garotada que está aí tudo parece 
muito simples. Mas o mundo é para todos, não é? 
Talvez alguém dê aulas para entender manuais! Ou o 
jeito seria aprender só aquilo de que tenho realmente 
necessidade, e não usar todas as funções. É o que a 
maioria das pessoas acaba fazendo! 
(Walcyr Carrasco, Veja SP, 19.09.2007. Adaptado) 
* Livro do escritor russo Liev Tolstói. Com mais de mil 
páginas e centenas de personagens, é considerada 
uma das maiores obras da história da literatura. 
Pelos comentários feitos pelo narrador, pode-se 
concluir corretamente que 
a) a leitura de obras-primas da literatura é atividade 
mais produtiva do que utilizar celulares e 
computadores. 
b) os manuais cujas diversas instruções os usuários 
 
 
 
 
não conseguem compreender e pôr em prática são 
improdutivos. 
c) a vendedora foi convincente, pois o narrador 
comprou o celular, embora duvidasse das qualidades 
prometidas pelo aparelho. 
d) o manual sobre computadores, ao contrário de 
outros do gênero, cumpria a promessa assumida nos 
dizeres impressos na capa. 
e) os jovens deveriam ensinar computação aos mais 
velhos, pois, dessa forma, estes últimos entenderiam 
as funções básicas do equipamento. 
 
2. Analise as afirmações sobre trechos do texto e 
assinale a correta. 
a) Em – Há alguns meses, troquei meu celular. –, 
o verbo haver indica tempo decorrido e pode ser 
substituído, corretamente, por Fazem. 
b) Em – Fotografava, fazia vídeos, recebia e-
mails e até servia para telefonar. –, o termo em 
destaque expressa a ideia de exclusão. 
c) Em – Virou um labirinto de instruções! –, o 
termo em destaque foi empregado em sentido 
figurado, indicando confusão, 
incompreensibilidade. 
d) Em – Fiz o que toda pessoa minuciosa faria. –
, o termo em destaque pode ser substituído, 
corretamente e sem alteração do sentido do 
texto, por limitada. 
e) Em – Mas não posso me alimentar só de 
pipoca! –, a conjunção em destaque expressa a 
ideia de comparação. 
 
3. (Fuvest - 2013) A essência da teoria 
democrática é a supressão de qualquer 
imposição de classe, fundada no postulado ou na 
crença de que os conflitos e problemas humanos 
– econômicos, políticos, ou sociais – são 
solucionáveis pela educação, isto é, pela 
cooperação voluntária, mobilizada pela opinião 
pública esclarecida. Está claro que essa opinião 
pública terá de ser formada à luz dos melhores 
conhecimentos existentes e, assim, a pesquisa 
científica nos campos das ciências naturais e das 
chamadas ciências sociais deverá se fazer a 
mais ampla, a mais vigorosa, a mais livre, e a 
difusão desses conhecimentos, a mais completa, 
a mais imparcial e em termos que os tornem 
acessíveis a todos. 
(Anísio Teixeira, Educação é um direito. Adaptado.) 
No trecho “chamadas ciências sociais”, o 
emprego do termo “chamadas” indica que o autor 
a) vê, nas “ciências sociais”, uma panaceia, não 
uma análise crítica da sociedade. 
b) considera utópicos os objetivos dessas 
ciências. 
c) prefere a denominação “teoria social” à 
denominação “ciências sociais”. 
d) discorda dos pressupostos teóricos dessas 
ciências. 
e) utiliza com reserva a denominação “ciências 
sociais”. 
 
4.(Unesp - 2010) 
 
Texto 1 
Porque morrer é uma ou outra destas duas 
coisas: ou o morto não tem absolutamente 
nenhuma existência, nenhuma consciência do 
que quer que seja, ou, como se diz, a morte é 
precisamente uma mudança de existência e, para 
a alma, uma migração deste lugar para um outro. 
Se, de fato, não há sensação alguma, mas é 
como um sono, a morte seria um maravilhoso 
presente. […] Se, ao contrário, a morte é como 
uma passagem deste para outro lugar, e, se é 
verdade o que se diz que lá se encontram todos 
os mortos, qual o bem que poderia existir, ó 
juízes, maior do que este? Porque, se chegarmos 
ao Hades, libertando-nos destes que se 
vangloriam serem juízes, havemos de encontrar 
os verdadeiros juízes, os quais nos diria que 
fazem justiça acolá: Monos e Radamante, Éaco e 
Triptolemo, e tantos outros deuses e semideuses 
que foram justos na vida; seria então essa 
viagem uma viagem de se fazer pouco caso? 
Que preço não seríeis capazes de pagar, para 
conversar com Orfeu, Museu, Hesíodo e 
Homero? 
(Platão. Apologia de Sócrates, 2000.) 
Texto 2 
Ninguém sabe quando será seu último passeio, 
mas agora é possível se despedir em grande 
estilo. Uma 300C Touring, a versão perua do 
sedã de luxo da Chrysler, foi transformada no 
primeiro carro funerário customizado da América 
Latina. A mudança levou sete meses, custou R$ 
160 mil e deixou o carro com oito metros de 
comprimento e 2 340 kg, três metros e 540 kg 
além da original. O Funeral Car 300C tem luzes 
piscantes na já imponente dianteira e enormes 
rodas, de aro 22, com direito a pequenos caixões 
estilizados nos raios. Bandeiras nas pontas do 
capô, como nos carros de diplomatas, dão um 
toque refinado. Com o chassi mais longo, o 
banco traseiro foi mantido para familiares 
acompanharem o cortejo dentro do carro. No 
encosto dos dianteiros, telas exibem mensagens 
 
 
 
 
de conforto. O carro faz parte de um pacote de 
cerimonial fúnebre que inclui, além do cortejo no 
Funeral Car 300C, serviços como violinistas e 
revoada de pombas brancas no enterro. 
(Funeral tunado. Folha de S.Paulo, 28.02.2010.) 
Confrontando o conteúdo dos dois textos, pode-
se afirmar que: 
a) embora os dois textos transmitam concepções 
divergentes acerca da morte, eles tratam de 
visões concernentes à mesma época, a saber, a 
sociedade atual. 
b) sob o ponto de vista filosófico, não há 
diferenças qualitativas entre uma e outra 
concepção sobre a morte. 
c) os comentários do texto grego sobre a morte 
são coerentes com uma filosofia de forte 
valorização do corpo em detrimento da alma, e 
do mundo sensível sobre o mundo inteligível. 
d) o texto de Platão evidencia uma cultura 
monoteísta, enquanto que o segundo é politeísta. 
e) enquanto no primeiro texto transparece a 
dignidade metafísica da morte, no segundo 
sugere-se a conversão do funeral em espetáculo 
da sociedade de consumo. 
 
5. (Enem - 2013) 
Adolescentes: mais altos, gordos e 
preguiçosos 
A oferta de produtos industrializados e a falta de 
tempo têm sua parcela de responsabilidade no 
aumento da silhueta dos jovens. “Os nossos 
hábitos alimentares, de modo geral, mudaram 
muito”, observa Vivian Ellinger, presidente da 
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e 
Metabologia (SBEM), no Rio de Janeiro. 
Pesquisas mostram que, aqui no Brasil, estamos 
exagerando no sal e no açúcar, além de tomar 
pouco leite e comer menos frutas e feijão. 
Outro pecado, velho conhecido de quem exibe 
excesso de gordura por causa da gula, surge 
como marca da nova geração: a preguiça. “Cem 
por cento das meninas que participam do 
Programa não praticavam nenhum esporte”, 
revela a psicóloga Cristina Freire, que monitora o 
desenvolvimento emocional das voluntárias. 
Você provavelmente já sabe quais são as 
consequências de uma rotina sedentária e cheia 
de gordura. “E não é novidade que os obesos 
têm uma sobrevida menor”, acredita Claudia 
Cozer, endocrinologista da Associação Brasileira 
para o Estudo da Obesidade e da Síndrome 
Metabólica. Mas, se há cinco anos os estudos 
projetavam um futuro sombrio para os jovens, no 
cenário atual as doençasque viriam na velhice já 
são parte da rotina deles. “Os adolescentes já 
estão sofrendo com hipertensão e diabete”, 
exemplifica Claudia. 
DESGUALDO, P. Revista Saúde. Disponível em: http://saude.abril.com.br. 
Acesso em: 28 jul. 2012 (adaptado). 
Sobre a relação entre os hábitos da população 
adolescente e as suas condições de saúde, as 
informações apresentadas no texto indicam que 
a) a falta de atividade física somada a uma 
alimentação nutricionalmente 
desequilibrada constituem fatores 
relacionados ao aparecimento de doenças 
crônicas entre os adolescentes. 
b) a diminuição do consumo de alimentos 
fontes de carboidratos combinada com um 
maior consumo de alimentos ricos em 
proteínas contribuíram para o aumento da 
obesidade entre os adolescentes. 
c) a maior participação dos alimentos 
industrializados e gordurosos na dieta da 
população adolescente tem tornado 
escasso o consumo de sais e açúcares, o 
que prejudica o equilíbrio metabólico. 
d) a ocorrência de casos de hipertensão e 
diabetes entre os adolescentes advém 
das condições de alimentação, enquanto 
que na população adulta os fatores 
hereditários são preponderantes. 
e) a prática regular de atividade física é 
um importante fator de controle da 
diabetes entre a população adolescente, 
por provocar um constante aumento da 
pressão arterial sistólica. 
 
 
6. (Enem PPL 2019) O debate sobre o conceito de 
saúde refere-se à importância de minimizar a 
simplificação que abrange o entendimento do senso 
comum sobre esse fenômeno. É possível entendê-lo 
de modo reducionista, tão somente, à luz dos 
pressupostos biológicos e das associações 
estatísticas presentes nos estudos epidemiológicos. 
Os problemas que daí decorrem são: a) o foco centra-
se na doença; b) a culpabilização do indivíduo frente à 
sua própria doença; c) a crença na possibilidade de 
resolução do problema encerrando-se uma suposta 
causa, a qual recai no processo de medicalização; d) a 
naturalização da doença; e) o ceticismo em relação à 
contribuição de diferentes saberes para auxiliar na 
compreensão dos fenômenos relacionados à saúde. 
 
 
 
 
 
BAGRICHEVSKY, M. et al. Considerações teóricas 
acerca das questões relacionadas à promoção da 
saúde. In: BAGRICHEVSKY, M.; PALMA, A.; 
ESTEVÃO, A. (Org.). A saúde em debate na educação 
física. Blumenau: Edibes, 2003. 
 
 
O texto apresenta uma reflexão crítica sobre o 
conceito de saúde, que deve ser entendida mediante 
a) dados estatísticos presentes em estudos 
epidemiológicos. 
b) pressupostos relacionados à ausência de doenças 
nos indivíduos. 
c) responsabilização dos indivíduos pela adoção de 
hábitos saudáveis. 
d) intervenção da medicina nos diferentes processos 
que acometem a saúde. 
e) compreensão dos fenômenos sociais, políticos e 
econômicos relacionados à saúde. 
 
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 
Leia o trecho do livro A dança do universo, do físico 
brasileiro Marcelo Gleiser, para responder à(s) 
questão a seguir. 
 
 
Algumas pessoas tornam-se heróis contra sua 
própria vontade. Mesmo que elas tenham ideias 
realmente (ou potencialmente) revolucionárias, muitas 
vezes não as reconhecem como tais, ou não 
acreditam no seu próprio potencial.Divididas entre 
enfrentar sua insegurança expondo suas ideias à 
opinião dos outros, ou manter-se na defensiva, elas 
preferem a segunda opção. O mundo está cheio de 
poema se teorias escondidos no porão. 
Copérnico é, talvez, o mais famoso desses 
relutantes heróis da história da ciência. Ele foi o 
homem que colocou o Solde volta no centro do 
Universo, ao mesmo tempo fazendo de tudo para que 
suas ideias não fossem difundidas, possivelmente com 
medo de críticas ou perseguição religiosa. Foi quem 
colocou o Sol de volta no centro do Universo, 
motivado por razões erradas. Insatisfeito com a falha 
do modelo de Ptolomeu, que aplicava o dogma 
platônico do movimento circular uniforme aos corpos 
celestes, Copérnico propôs que o equante fosse 
abandonado e que o Sol passasse a ocupar o centro 
do cosmo. Ao tentar fazer com que o Universo se 
adaptasse às ideias platônicas, ele retornou aos 
pitagóricos,ressuscitando a doutrina do fogo central, 
que levou ao modelo heliocêntrico de Aristarco dezoito 
séculos antes. 
Seu pensamento reflete o desejo de 
reformular as ideias cosmológicas de seu tempo 
apenas para voltar ainda mais no passado; Copérnico 
era, sem dúvida, um revolucionário conservador. Ele 
jamais poderia ter imaginado que, ao olhar para o 
passado, estaria criando uma nova visão cósmica, 
queabriria novas portas para o futuro. Tivesse vivido o 
suficiente para ver os frutos de suas ideias, Copérnico 
decerto teria odiado a revolução que involuntariamente 
causou. 
Entre 1510 e 1514, compôs um pequeno 
trabalho resumindo suas ideias, intitulado 
Commentariolus (Pequeno comentário).Embora na 
época fosse relativamente fácil publicar um 
manuscrito, Copérnico decidiu não publicar seu 
texto,enviando apenas algumas cópias para uma 
audiência seleta.Ele acreditava piamente no ideal 
pitagórico de discrição; apenas aqueles que eram 
iniciados nas complicações da matemática aplicada à 
astronomia tinham permissão para compartilhar sua 
sabedoria. Certamente essa posição elitista era muito 
peculiar, vinda de alguém que fora educado durante 
anos dentro da tradição humanista italiana. Será que 
Copérnico estava tentando sentir o clima intelectual da 
época, para ter uma ideia do quão “perigosas” eram 
suas ideias? Será que ele não acreditava muito nas 
suas próprias ideias e, portanto,queria evitar qualquer 
tipo de crítica? Ou será que ele estava tão imerso nos 
ideais pitagóricos que realmente não tinha o menor 
interesse em tornar populares suas ideias? As razões 
que possam justificar a atitude de Copérnico são, até 
hoje, um ponto de discussão entre os especialistas. 
 
(A dança do universo, 2006. Adaptado.) 
 
7. (Unesp 2019) “Tivesse vivido o suficiente para ver 
os frutos de suas ideias, Copérnico decerto teria 
odiado a revolução que involuntariamente causou.” (3º 
parágrafo) 
 
Em relação ao trecho que o sucede, o trecho 
sublinhado tem sentido de 
a) consequência. 
b) condição. 
c) conclusão. 
d) concessão. 
e) causa. 
 
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 
 
Pichação-arte é pixação? 
 
As discussões muitas vezes acaloradas sobre 
 
 
 
 
o reconhecimento da pixação como expressão 
artística trazem à tona um questionamento conceitual 
importante: uma vez considerado arte contemporânea, 
o movimento perderiasua essência? Para 
compreendermos os desdobramentos da pixação, 
alguns aspectos presentes no graffiti são essenciais e 
importantes de serem resgatados. O graffiti nasceu 
originalmente nos EUA, na década de 1970, como um 
dos elementos da cultura hip-hop (Break, MC, DJ e 
Graffiti). Daí até os dias atuais, ele ganhou em 
força,criatividade e técnica, sendo reconhecido hoje no 
Brasil como graffiti artístico. Sua caracterização como 
arte contemporânea foi consolidada definitivamente 
por volta do ano 2000. 
A distinção entre graffiti e pixação é clara; ao 
primeiro é atribuída a condição de arte, e o segundo é 
classificado como um tipo de prática de vandalismo e 
depredação das cidades, vinculado à ilegalidade e 
marginalidade. Essa distinção das expressões deu-se 
em boa parte pela institucionalização do graffiti, com 
os primeiros resquícios já na década de 1970. 
Esse desenvolvimento técnico e formal do 
graffiti ocasionou a perda da potência subversiva que 
o marca como manifestação genuína de rua e 
caminha para uma arte de intervenção domesticada 
enquadrada cada vezmais nos moldes do sistema de 
arte tradicional. O grafiteiro é visto hoje como artista 
plástico, possuindo as características de todo e 
qualquer artista contemporâneo, incluindo a prática e o 
status. Muito além da diferenciação conceitual entre as 
expressões – ainda que elas compartilhem da mesma 
matéria-prima – trata-se de sua força e essência 
intervencionista. 
Estudos sobre a origem da pixação afirmamque o graffiti nova-iorquino original equivale à pixação 
brasileira; os dois mantêm os mesmos princípios: a 
força, a explosão e o vazio. Uma das principais 
características do pixo é justamente o esvaziamento 
sígnico, a potência esvaziada. Não existem frases 
poéticas, nem significados. A pichação possui 
dimensão incomunicativa, fechada, que não conversa 
com a sociedade. Pelo contrário, de certa forma, a 
agride. A rejeição do público geral reside na falta de 
compreensão e intelecção das inscrições; apenas os 
membros da própria comunidade de pixadores 
decifram o conteúdo. 
A significância e a força intervencionista do 
pixo residem, portanto, no próprio ato. Ela é 
evidenciada pela impossibilidade de inserção em 
qualquer estatuto pré-estabelecido, pois isso 
pressuporia a diluição e a perda de sua potência 
signo-estética. Enquanto o graffiti foi sendo introduzido 
como uma nova expressão de arte contemporânea, a 
pichação utilizou o princípio de não autorização para 
fortalecer sua essência. 
Mas o quão sensível é essa forma de 
expressão extremista e antissistema como a pixação? 
Como lidar coma linha tênue dos princípios 
estabelecidos para não cair em contradição? Na 26ª 
Bienal de Arte de São Paulo, em2004, houve um caso 
de pixo na obra do artista cubano naturalizado 
americano, Jorge Pardo. Seu comentário,diante da 
intervenção, foi “Se alguém faz alguma coisa no seu 
trabalho, isso é positivo, para mim, porque escolheram 
a minha peça entre as expostas” […]. “Quem fez isso 
deve discordar de alguma coisa na obra. Pode ser 
outro artista fazendo sua própria obra dentro da 
minha. Pode ser só uma brincadeira” e finalizou 
dizendo que “pichara obra de alguém também não é 
tão incomum. Já é tradicional”. 
É interessante notar, a partir do depoimento 
de Pardo, a recorrência de padrões em movimentos 
de qualquer natureza, e o inevitável enquadramento 
em algum tipo de sistema, mesmo que imposto e 
organizado pelos próprios elementos do grupo. Na 
pixação, levando em conta o “sistema” em que estão 
inseridos, constatamos que também passa longe de 
ser perfeito; existe rivalidade pesada entre gangues, 
hierarquia e disputas pelo “poder”. 
Em 2012, a Bienal de Arte de Berlim, com o 
tema “Forget Fear”, considerado ousado, priorizou 
fatos e inquietações políticas da atualidade. Os 
pixadores brasileiros, Cripta (Djan Ivson), Biscoito, 
William e R.C., foram convidados na ocasião para 
realizar um workshop sobre pixação em um espaço 
delimitado, na igreja Santa Elizabeth. Eles 
compareceram. Mas não seguiram as regras impostas 
pela curadoria, ao pixar o próprio monumento. O 
resultado foi tumulto e desentendimento entre os 
pixadores e a curadoria do evento. 
O grande dilema diante do fato é que, ao 
aceitarem o convite para participar de uma bienal de 
arte,automaticamente aceitaram as regras e o sistema 
imposto. Mesmo sem adotar o comportamento 
esperado, caíram em contradição. Por outro lado, pela 
pichação ser conhecidamente transgressora (ou pelo 
jeito, não tão conhecida assim), os organizadores 
deveriam pressupor que eles não seguiriam padrões 
pré-estabelecidos. 
Embora existam movimentos e grupos que 
consideram, sim, a pixação como forma de arte, como 
é o caso dos curadores da Bienal de Berlim, há uma 
questão substancial que permeia a realidade dos 
pichadores. Quem disse que eles querem sua 
expressão reconhecida como arte? Se arte pressupõe, 
como ocorreu com o graffiti,adaptar-se a um molde 
específico, seguir determinadas regras e por 
consequência ver sua potência intervencionista diluída 
e branda, é muito improvável que tenham esse desejo. 
A representação da pixação como forma de 
expressão destrutiva, contra o sistema, extremista e 
marginalizada é o que a mantêm viva. De certo modo, 
a rejeição e a ignorância do público é o que garante 
sua força intervencionista e a tão importante e 
sensível essência. 
 
 
 
 
 
Adaptado de: CARVALHO, M. F. Pichação-arte é 
pixação?Revista Arruaça, Edição nº 0. Cásper Líbero, 
2013. Disponível 
em<https://casperlibero.edu.br/revistas/pichacao-arte-
e-pixacao/> Acesso em: maio 2018. 
 
Um muro para pichar 
 
Em frente da minha casa existe um muro 
enorme, todo branco. No Facebook, uma postagem 
me chama atenção: é um muro virtual e a brincadeira 
é pichá-lo com qualquer frase que vier à cabeça. Não 
quero pichar o mundo virtual, quero um muro de 
verdade, igual a este de frente para a minha casa. 
Pelas ruas e avenidas, vou trombando nos muros 
espalhados pelos quarteirões, repletos de frases tolas, 
xingamentos e erros de português. Eu bem poderia 
modificar isso. 
“O caminho se faz caminhando”, essa frase 
genial, tão forte e certeira do poeta espanhol Antonio 
Machado, merece aparecer em diversos muros. Basta 
pensar um pouco e imaginar; de fato, não há caminho, 
o caminho se faz ao caminhar. 
De repente, vejo um prédio inteiro marcado 
por riscos sem sentido e me calo. Fui tentar entender 
e não me faltaram explicações: é grafite, é tribal, 
coisas de difícil compreensão. As explicações 
prosseguem: grafite é arte, pichar é vandalismo. O 
pequeno vândalo escondido dentro de mim busca 
frases na memória e, então, sinto até o cheiro da lama 
de Woodstock em letras garrafais: “Não importam os 
motivos da guerra, a paz é muito mais importante”. 
Feito uma folha deslizando pelas águas 
correntes do rio me surge a imagem de John Lennon; 
junto dela, outra frase: “O sonho não acabou”, um 
tanto modificada pela minha mão, tornando-se: o 
sonho nunca acaba. E minha cabeça já se transforma 
num muro todo branco. 
Desde os primórdios dos tempos, usamos a 
escrita como forma de expressão, os homens das 
cavernas deixaram pichados nas rochas diversos 
sinais. Num ato impulsivo, comprei uma tinta spray, 
atravessei a rua chacoalhando a lata e assim 
prossegui até chegar à minha sala, abraçado pela 
ansiedade aumentada a cada passo. Coloquei o dedo 
no gatilho do spray e fiquei respirando fundo, juntando 
coragem e na mente desenhando a primeira frase 
para pichar, um tipo de lema, aquela do Lô Borges: 
“Os sonhos não envelhecem” – percebo, num sorrir de 
canto de boca, o quanto os sonhos marcam a minha 
existência. 
Depois arriscaria uma frase que criei e gosto: 
“A lagarta nunca pensou em voar, mas daí, no espanto 
da metamorfose, lhe nasceram asas...”. Ou outra, 
completamente tola, me ocorreu depois de assistir a 
um documentário, convencido de que o panda é um 
bicho cativante, mas vive distante daqui e sua agonia 
não é menor das dos nossos bichos. Assim pensando, 
as letras duma nova pichação se formaram num 
estalo: “Esqueçam os pandas, salvem as 
jaguatiricas!”. 
No muro do cemitério, escreveria outra frase 
que gosto: “Em longo prazo estaremos todos mortos”, 
do John Keynes, que trago comigo desde os tempos 
da faculdade. Frases de túmulos ganhariam os muros; 
no de Salvador Allende está consagrado, de autoria 
desconhecida: “Alguns anos de sombras não nos 
tornarão cegos.” Sempre apegado aos sonhos, 
picharia também uma do Charles Chaplin: “Nunca 
abandone os seus sonhos, porque se um dia eles se 
forem, você continuará vivendo, mas terá deixado de 
existir”. 
Claro, eu poderia escrever essas frases num 
livro, num caderno ou no papel amassado que 
embrulha o pão da manhã, mas o muro me cativa, 
porque está ao alcance das vistas de todos e quero 
gritar para o mundo as frases que gosto; são tantas, 
até temo que me faltem os muros. Poderia passar o 
dia todo pichando frases, as linhas vão se acabando e 
ainda tenho tanto a pichar... “É preciso muito tempo 
para se tornar jovem”, de Picasso, “Há um certo prazer 
na loucura que só um louco conhece”, de Neruda, “Se 
me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem 
devagarzinho”, cravada por Mário 
Quintana... 
Encerro com Nietzsche: “Isto é um sonho, bem 
sei, mas quero continuar a sonhar”, que serve para 
exemplificar o que sinto neste momento, aqui na 
minha sala, escrevendo no computador o que gostaria 
de jogar nos muros lá fora, a custo me mantendocalmo, um olho na tela, outro voltado para o lado 
oposto da rua. Lá tem aquele muro enorme, branco e 
virgem, clamando por frases. Não sei quanto tempo 
resistirei até puxar o gatilho do spray. 
 
Adaptado de: ALVEZ, A. L. Um muro para pichar. 
Correio do Estado, fev 2018. Disponível em 
<https://www.correiodoestado.com.br/opiniao/leia-
acronica-de-andre-luiz-alvez-um-muro-para-
pichar/321052/> Acesso em: ago. 2018. 
 
 
8. (Ita 2019) A partir da leitura dos textos acima, 
depreende-se que 
 
I. os autores reiteram que grafite e pichação não são 
práticas artísticas bem aceitas por toda a sociedade. 
II. o texto “Pichação-arte é pichação?” menciona a 
ausência de poesia na pichação; o texto “Um muro 
para pichar” explora a possibilidade de essa prática 
 
 
 
 
disseminar cultura. 
III. o texto “Pichação-arte é pichação?” contrasta 
grafite e pichação; já o texto “Um muro para pichar” 
expressa motivações subjetivas do autor para 
pichar. 
 
Está/ão correta/s: 
a) apenas I e II. 
b) apenas I e III. 
c) apenas II. 
d) apenas II e III. 
e) todas. 
 
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: 
 
Desenhar para ele é uma coisa; pintar é outra. No 
desenho se afirma, na pintura se esconde. Pela linha 
fala com extraordinária precisão estilística, 
preciosismo, audácia, e vai, por vezes, até a 
elegância, mesmo mundana; pela cor, ele se retrai e 
silencia. (...) Milton Dacosta foi o primeiro artista, hoje 
consagrado, que no Brasil partiu do cubismo, ou 
melhor, das repercussões da revolução cubista até as 
nossas praias provincianas. (...) Dessa fase, entre 
1939 e 40, nos deu algumas telas que ainda hoje 
interessam pela essencialização dos valores plásticos, 
o desprezo dos detalhes anedóticos para só guardar 
os que definem o ambiente e, sobretudo, marcam a 
atmosfera, principal tema delas. A esquematização 
das formas, sobretudo o ovoide das cabeças sem 
pormenores fisionômicos, lembra Modigliani. 
Realmente, o ar que se respira nessas telas é o ar da 
“escola de Paris”. 
 
(Mário Pedrosa, Dos murais de Portinari aos espaços 
de Brasília, Perspectiva, 1981) 
 
9. (Espm 2019) Segundo o texto, a obra de Milton 
Dacosta se destaca: 
a) pelo desenho formal da pintura clássica. 
b) pelo colorido apagado da escola de Paris. 
c) pelo desenho e pormenor fisionômico que lembram 
Picasso. 
d) pela cor e originalidade das formas expressionistas. 
e) pela ousadia do desenho e pela temática de origem 
vanguardista. 
 
10. (Espm 2019) Ainda segundo o texto, a 
aproximação possível entre Dacosta e Modigliani 
firma-se: 
a) na profusão de detalhes do retrato. 
b) no caráter fisionômico do ovoide corporal. 
c) na essencialização dos valores anedóticos. 
d) na simplificação das formas humanas. 
e) na pintura cubista em praias provincianas. 
 
GABARITO 
 
1. Alternativa correta: b) os manuais cujas 
diversas instruções os usuários não 
conseguem -compreender e pôr em prática 
são improdutivos. 
Segundo o texto, os manuais de instruções dos 
aparelhos mais confundem do que ajudam e, por 
isso, são indicados como “labirintos” onde as 
pessoas se perdem. 
 
2. Alternativa correta: c) Em – Virou um 
labirinto de instruções! –, o termo em 
destaque foi empregado em sentido 
figurado, indicando confusão, 
incompreensibilidade. 
O termo “labirinto” foi utilizado no texto em seu 
sentido figurado (ou conotativo) indicando algo 
complexo e que causa confusão, tal qual um 
labirinto. 
 
3. Alternativa correta: e) utiliza com reserva a 
denominação “ciências sociais”. 
Ao utilizar a palavra “chamadas” antes de 
“ciências sociais”, o autor do texto evita a 
generalização do termo, utilizando-o com 
reserva. 
 
4. Alternativa correta: e) enquanto no primeiro 
texto transparee a dignidade metafísica da 
morte, no segundo sugere-se a conversão 
do funeral em espetáculo da sociedade de 
consumo. 
A partir da leitura dos textos, fica claro que a morte 
é o tema principal, porém é abordada de maneiras 
diferentes. 
Assim, no primeiro texto temos a morte como a 
passagem do mundo terreno ao espiritual; 
enquanto no segundo, o foco está no espetáculo 
do consumo, evocado por um “CARRO FAZ QUE 
PARTE DE UM PACOTE DE CERIMONIAL 
FÚNEBRE”. 
 
 
 
 
 
5. Alternativa correta: a) a falta de atividade 
física somada a uma alimentação 
nutricionalmente desequilibrada 
constituem fatores relacionados ao 
aparecimento de doenças crônicas entre 
os adolescentes. 
Com a leitura do texto, fica claro entender que a 
intenção da autora é alertar para os hábitos pouco 
ou nada saudáveis dos jovens da atualidade. 
Destacam-se o consumo dos alimentos pobres 
em nutrientes e a falta de práticas diárias de 
exercícios físicos, o que levam ao sedentarismo 
e, consequentemente, ao surgimento de doenças 
crônicas. 
 
Resposta da questão 6: 
[E] 
 
O texto coloca ressalvas ao conceito de saúde quando 
é reduzido a estudos de cunho biológico, 
acompanhados de estatísticas. Segundo o autor, tal 
conceito dá origem a diversos problemas: foco na 
doença, culpabilização do indivíduo frente à sua 
própria doença, medicalização insatisfatória e 
“ceticismo em relação à contribuição de diferentes 
saberes para auxiliar na compreensão dos fenômenos 
relacionados à saúde”. Deste último item, infere-se 
que o autor defende a ideia de que o conceito de 
saúde deve ser entendido mediante uma perspectiva 
muito mais ampla: compreensão dos fenômenos 
sociais, políticos e econômicos relacionados à saúde, 
como transcrito em [E]. 
 
Resposta da questão 7: 
[B] 
 
A presença do termo verbal “tivesse”, pretérito 
imperfeito do subjetivo, subordinada à oração principal 
com verbo no futuro do pretérito composto do 
indicativo, “teria odiado”, permite deduzir que se trata 
de uma oração com valor condicional: se tivesse vivido 
o suficiente para ver os frutos de suas ideias, 
Copérnico decerto teria odiado a revolução que 
involuntariamente causou. Assim, é correta a opção 
[B]. 
 
Resposta da questão 8: 
[D] 
 
[I] Falso. O grafite já alcançou status de arte; a 
pichação, no entanto, mantém-se à margem da 
sociedade. 
[II] Verdadeiro. Em “Pichação-arte é pichação?”, o 
autor menciona que na pichação “Não existem 
frases poéticas, nem significados”; já em “Um muro 
para pichar”, o autor afirma que picharia diversas 
citações de escritores famosos, fazendo da 
pichação um modo de disseminar cultura. 
[III] Verdadeiro. Em “Pichação-arte é pichação?”, o 
contraste é explicado no 2º parágrafo: “A distinção 
entre graffiti e pixação é clara; ao primeiro é atribuída 
a condição de arte, e o segundo é classificado como 
um tipo de prática de vandalismo e depredação das 
cidades, vinculado à ilegalidade e marginalidade. Essa 
distinção das expressões deu-se em boa parte pela 
institucionalização do graffiti, com os primeiros 
resquícios já na década de 1970”; por sua vez, em 
“Um muro para pichar”, o autor menciona que picharia 
frases significativas para a personalidade dele nos 
muros. 
 
Resposta da questão 9: 
[E] 
 
Segundo o autor, Milton Dacosta foi um pintor 
vanguardista que se destacou pela audácia do 
desenho, revelador de influências do movimento 
estético do cubismo europeu e da arte de Modigliani, 
pelo uso do recurso de esquematização das formas 
humanas sem pormenores fisionômicos. Ou seja, pela 
ousadia do desenho e pela temática de origem 
vanguardista como se afirma em [E]. 
 
Resposta da questão 10: 
[D] 
 
A referência a “esquematização das formas” através 
de características como a representação ovoide das 
cabeças “sem pormenores fisionômicos” permite inferir 
que a aproximação possível entre Dacosta e 
Modigliani se firma na simplificação das formas 
humanas, como transcrito em [D].

Continue navegando