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TEXTO E CONTEXTO Leia o texto abaixo: “A Peste” “... : o hábito do desespero é pior que o próprio desespero.” (Albert Camus) Há, de tempos em tempos, tragédias que assolam a humanidade: século XIV, a Peste Negra (Bubônica) – matou 50 milhões de pessoas; a Gripe Espanhola (1918 – 1919) – ceifou 20 milhões de vidas, inclusive a do presidente Rodrigues Alves; todavia, existem outras ainda mais letais, porém diluídas ao longo de quartéis: a Tuberculose que, entre 1850 e 1950, aniquilou 1 bilhão de humanos; a AIDS que, de 1981 até hoje, tragou 22 milhões indivíduos. No entanto, infelizmente, nada é mais avassalador do que a peste camusiana que infesta a contemporaneidade. O franco-argelino Albert Camus, Nobel de literatura em 1957, narra, usando o Realismo Absurdo, no “A Peste” uma epidemia que assola a cidade fictícia de Orã. A calamidade é tão somente um pano de fundo para revelar os conflitos existenciais do homem contemporâneo. “A multidão festiva ignorava o que pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece, fica dezenas de anos a dormir nos móveis e nas roupas, espera com paciência nos quartos, nos porões, nas malas, nos papéis, nos lençóis - e chega talvez o dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acorda os ratos e os manda morrer numa cidade feliz". Entre as muitas metáforas desse romance, está a da ignorância; aliás, nada mais paradoxal, na atualidade, que, em que pese toda a possibilidade do acesso à informação, à ciência; grande parte da população orienta-se por crendices, especulações e fanatismos. Além disso, em tempos pestilentos ou não, quase todos tornamo-nos condescendentes com as atitudes mais desumanas, mais espúrias e mais torpes que nos infligem. Parece estarmos imunes à dor e ao sofrimento do outro; não os vemos e se os vemos é como se não os víssemos: a maioria, como afirma Camus, torna-se cúmplice: "Não mudei. Tenho vergonha há muito, vergonha enorme de ter sido, embora de longe, embora com boa vontade, um assassino também. Depois notei que até os melhores não poderiam deixar de matar, ou consentir que matassem, pois isso era da lógica admitida, e não fazíamos um gesto nesse mundo sem nos arriscarmos a matar. Continuei a ter vergonha, percebi que vivíamos na peste - e sumiu-se a paz." Assim, pululam “Orãs” repletas não só de títeres ignorantes e condescendentes com o execrável como também hordas de imbecilizados, para os quais a única lógica é a mesma presente na obra camusiana: “...e a cidade inteira parecia uma sala de espera. Os que tinham ofício trabalhavam seguindo o exemplo da peste: meticulosamente e sem brilho. Todos eram modestos. Pela primeira vez, falavam com facilidade nas pessoas ausentes, usavam a linguagem comum. Examinavam a separação como examinavam as estatísticas da epidemia”. O mesmo muro invisível que isolava Orã e seus ratos e sua peste do resto mundo, também cerceia a capacidade de sentir e amar em tempos de Coronavírus. Afinal, “o amor exige um pouco de futuro” (Camus) e, por hora, tristemente, a maioria não o vê. CINTRA, Sérgio. “A Peste”. Diário de Cuiabá, Cuiabá, 20 de março de 2020. Opinião.Disponível em < http://www.diariodecuiaba.com.br/artigos/a‐peste/529006> Nesse artigo de opinião por abordar o assunto “pandemia”, percebe-se, com facilidade, a relação entre o texto e o seu contexto. Sendo que um dos conceitos de Texto é um todo organizado, que usa de recursos semióticos – linguísticos e/ou não linguísticos – para produzir sentidos e essa produção de sentido(s) relaciona-se com a linguagem usada; mas independentemente do tipo de linguagem, é importante, para estabelecer uma significação, entender que nenhuma linguagem é neutra: “Não existe Linguagem neutra; aliás, ela desempenha uma função social e dá significação ao mundo.”(Sérgio Cintra). Dessa maneira, ao se estabelecer relações entre textos, ou entre textos e seus contextos (que nada mais é, segundo Halliday, um outro texto) consegue-se produzir um entendimento, um ou mais sentidos. Segundo a Linguística Sistêmico-Funcional, “Um texto tem sempre outro texto que o rodeia: um contexto” (Sérgio Cintra). Apesar do contexto ser apenas mais um texto, ele pode ser entendido como o que compõe o texto na sua totalidade; reunião dos elementos do texto que estão relacionados com uma palavra ou frase e contribuem para a modificação ou esclarecimento de seus significados. Quando se lê o artigo de opinião do professor Sérgio Cintra, percebe-se, com facilidade, a intertextualidade (Diálogo entre textos; criação ou superposição de textos) estabelecida entre a obra de Camus e o momento vivido não só por brasileiros, mas pelo mundo todo e retratado pelo artigo de opinião: a pandemia do Covid-19. Para se fazer tal comparação são necessários dois pré-requisitos: conhecimento de mundo (expressão que se refere ao conhecimento acumulado de um certo indivíduo sobre toda a realidade. Ou seja, sua experiência de vida.) e competência linguística (é um termo que denomina a capacidade do usuário da língua de produzir e entender um número infinito de sequências linguísticas significativas, que são denominadas sentenças, frases ou enunciados, a partir de um número finito de regras e estruturas). Assim, a interpretação de um texto depende, diretamente, do nível de cidadania do indivíduo e do domínio morfossintático e semântico de determinada língua. EXERCÍCIOS DE AULA 1. (Fuvest - 2014) A civilização “pós-moderna” culminou em um progresso inegável, que não foi percebido antecipadamente, em sua inteireza. Ao mesmo tempo, sob o “mau uso” da ciência, da tecnologia e da capacidade de invenção nos precipitou na miséria moral inexorável. Os que condenam a ciência, a tecnologia e a invenção criativa por essa miséria ignoram os desafios que explodiram com o capitalismo monopolista de sua terceira fase. Em páginas secas premonitórias, E. Mandel1 apontara tais riscos. O “livre jogo do mercado” (que não é e nunca foi “livre”) rasgou o ventre das vítimas: milhões de seres humanos nos países ricos e uma carrada maior de milhões nos países pobres. O centro acabou fabricando a sua periferia intrínseca e apossou-se, como não sucedeu nem sob o regime colonial direto, das outras periferias externas, que abrangem quase todo o “resto do mundo”. 1: Ernest Ezra Mandel (1923-1995): economista e militante político belga. O emprego de aspas em uma dada expressão pode servir, inclusive, para indicar que ela I. foi utilizada pelo autor com algum tipo de restrição; II. pertence ao jargão de uma determinada área do conhecimento; III. contém sentido pejorativo, não assumido pelo autor. Considere as seguintes ocorrências de emprego de aspas presentes no texto: A. “pós-moderna” (L. 1); B. “mau uso” (L. 2); C. “livre jogo do mercado” (L.6); D. “livre” (L. 7); E. “resto do mundo” (L. 9). As modalidades I, II e III de uso de aspas, elencadas acima, verificam-se, respectivamente, em a) A, C e E b) B, C e D c) C, D e E d) A, B e E e) B, D e A 2. (Enem - 2012) “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “um romancista que colecionava desafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil”. Assim era José de Alencar (1829-1877), o conhecido autor de O GUARANI e IRACEMA, tido como o pai do romance no Brasil. Além de criar clássicos da literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e históricos, ele foi também folhetinista, diretor de jornal, autor de peças de teatro, advogado, deputado federal e até ministro da Justiça. Para ajudar na descoberta das múltiplas facetas desse personagem do século XIX, parte de seu acervo inédito será digitalizada. História Viva, n.°99, 2011. Com base no texto, que trata do papel do escritor José de Alencar e da futura digitalização de sua obra, depreende-se que a) a digitalização dos textos é importante para que os leitores possam compreender seus romances. b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante porque deixou uma vasta obra literária com temática atemporal. c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da digitalização, demonstra sua importância para a história do Brasil Imperial. d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante papel na preservação da memória linguística e da identidade nacional. e) o grande romancista José de Alencar é importante porque se destacou por sua temática indianista. 3. (Enem - 2012) A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil, corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portuguesa, paralelo ao que já ocorrera em relação à aplicação do domínio de ter na área semântica de “posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de João de Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com concordância, lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali. Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua. Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma fazer uma avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra? CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente para o passado, In: Cadernos de Letras da UFF, n.° 36, 2008. Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado). Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que a) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica. b) os estudo clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua. c) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma. d) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos linguísticos. e) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística. 4. ETEC - 2017/1) "Em um mundo marcado por conflitos em diferentes regiões, as operações de manutenção da paz das Nações Unidas são a expressão mais visível do compromisso solidário da comunidade internacional com a promoção da paz e da segurança. Embora não estejam expressamente mencionadas na Carta da ONU, elas funcionam como instrumento para assegurar a presença dessa organização em áreas conflagradas, de modo a incentivar as partes em conflito a superar suas disputas por meio pacífico – razão pela qual não devem ser vistas como forma de intervenção armada." Acesso em: 26.08.2016. Adaptado. Historicamente, o Brasil envia soldados para participar de operações de paz. Em 2004, foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah). De acordo com o texto, essa missão foi criada para a) restabelecer a segurança e normalidade institucional do Haiti após sucessivos episódios de turbulência política e de violência, que marcaram esse país no início do século XXI. b) atacar os garimpos ilegais de diamantes no interior do Haiti, que usavam mão de obra infantil nas minas onde esse minério é encontrado. c) combater o narcotráfico comandado pelo Cartel de Medelin, que a partir do Haiti distribuía drogas para todos os países da América Latina. d) acabar com os problemas ambientais crônicos no Haiti, pois esse país era o principal responsável pela poluição ambiental no Caribe. e) extinguir a rede de trabalho escravo existente no Haiti, que utilizava esse tipo de mão de obra nas plantações de soja e trigo. GABARITO 1. Alternativa correta: a) A, C e E O uso das aspas no texto indicam algumas intenções do autor: “Pós-moderna”: o autor entende que ainda existem algumas restrições sobre o uso desse termo, seja por ser incerto ou pouco aceito pela comunidade acadêmica. O termo pós-moderno indica uma fase que começou após o modernismo, no entanto, alguns autores se referem a esse momento por “contemporaneidade”. “Livre jogo do mercado”: as aspas aqui foram usadas pois essa é uma expressão usada na área da economia e, portanto, trata-se de um jargão. Ela indica a liberdade do mercado em atuar sem intervenção do estado. “Resto do mundo”: o autor usou aspas nessa expressão para indicar que existe um caráter pejorativo nela do qual ele não compartilha, ou seja, não concorda. 2. Alternativa correta: d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante papel na preservação da memória linguística e da identidade nacional. A importância de José de Alencar (1829-1877) não se limita somente ao Brasil Imperial (1822- 1889). Escritor multifacetado, ele atuou como jornalista, crítico, advogado, dramaturgo e político, sendo uma das figuras mais importantes da literatura romântica nacional. Por esse motivo, a digitalização de suas obras, sem dúvida, fortalecerá a preservação da memória linguística e da identidade nacional, tornando público seus escritos. 3. Alternativa correta: e) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística. Na opinião da autora, o purismo da língua traz consequências que dificultam a compreensão linguística e, por isso, são prejudiciais. Esse purismo está relacionado com a hierarquização dos usos da língua que gera preconceito linguístico entre os falantes. 4. Alternativa correta: a) restabelecer a segurança e normalidade institucional do Haiti após sucessivos episódios de turbulência política e de violência, que marcaram esse país no início do século XXI. Segundo o texto, a ONU (Organização das Nações Unidas) tem como compromisso amenizar as disputas entre algumas regiões e trazer paz e segurança aos locais envolvidos em conflitos. Da mesma forma, a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah) tem como intuito restabelecer a segurança do local, depois de anos de conflitos e episódios de violência. EXERCÍCIOS-TAREFA 1. (Fatec - 2013) Leia o texto para responder às questões. O labirinto dos manuais Há alguns meses troquei meu celular. Um modelo lindo, pequeno, prático. Segundo a vendedora, era capaz de tudo e mais um pouco. Fotografava, fazia vídeos, recebia e-mails e até servia para telefonar. Abri o manual, entusiasmado. “Agora eu aprendo”, decidi, folheando as 49 páginas. Já na primeira, tentei executar as funções. Duas horas depois, eu estava prestes a roer o aparelho. O manual tentava prever todas as possibilidades. Virou um labirinto de instruções! Na semana seguinte, tentei baixar o som da campainha. Só aumentava. Buscava o vibracall, não achava. Era só alguém me chamar e todo mundo em torno saía correndo, pensando que era o alarme de incêndio! Quem me salvou foi um motorista de táxi. — Manual só confunde – disse didaticamente. – Dá uma de curioso. Insisti e finalmente descobri que estava no vibracall há meses! O único problema é que agora não consigo botar a campainha de volta! Atualmente, estou de computador novo. Fiz o que toda pessoa minuciosa faria. Comprei um livro. Na capa, a promessa: “Rápido e fácil” – um guia prático, simples e colorido! Resolvi: “Vou seguir cada instrução, página por página. Do que adianta ter um supercomputadorse não sei usá-lo?”. Quando cheguei à página 20, minha cabeça latejava. O livro tem 342! Cada vez que olho, dá vontade de chorar! Não seria melhor gastar o tempo relendo Guerra e Paz*? Tudo foi criado para simplificar. Mas até o microndas ficou difícil. A não ser que eu queira fazer pipoca, que possui sua tecla própria. Mas não posso me alimentar só de pipoca! Ainda se emagrecesse... E o fax com secretária eletrônica? O anterior era simples. Eu apertava um botão e apagava as mensagens. O atual exige que eu toque em um, depois em outro para confirmar, e de novo no primeiro! Outro dia, a luzinha estava piscando. Tentei ouvir a mensagem. A secretária disparou todas as mensagens, desde o início do ano! Eu sei que para a garotada que está aí tudo parece muito simples. Mas o mundo é para todos, não é? Talvez alguém dê aulas para entender manuais! Ou o jeito seria aprender só aquilo de que tenho realmente necessidade, e não usar todas as funções. É o que a maioria das pessoas acaba fazendo! (Walcyr Carrasco, Veja SP, 19.09.2007. Adaptado) * Livro do escritor russo Liev Tolstói. Com mais de mil páginas e centenas de personagens, é considerada uma das maiores obras da história da literatura. Pelos comentários feitos pelo narrador, pode-se concluir corretamente que a) a leitura de obras-primas da literatura é atividade mais produtiva do que utilizar celulares e computadores. b) os manuais cujas diversas instruções os usuários não conseguem compreender e pôr em prática são improdutivos. c) a vendedora foi convincente, pois o narrador comprou o celular, embora duvidasse das qualidades prometidas pelo aparelho. d) o manual sobre computadores, ao contrário de outros do gênero, cumpria a promessa assumida nos dizeres impressos na capa. e) os jovens deveriam ensinar computação aos mais velhos, pois, dessa forma, estes últimos entenderiam as funções básicas do equipamento. 2. Analise as afirmações sobre trechos do texto e assinale a correta. a) Em – Há alguns meses, troquei meu celular. –, o verbo haver indica tempo decorrido e pode ser substituído, corretamente, por Fazem. b) Em – Fotografava, fazia vídeos, recebia e- mails e até servia para telefonar. –, o termo em destaque expressa a ideia de exclusão. c) Em – Virou um labirinto de instruções! –, o termo em destaque foi empregado em sentido figurado, indicando confusão, incompreensibilidade. d) Em – Fiz o que toda pessoa minuciosa faria. – , o termo em destaque pode ser substituído, corretamente e sem alteração do sentido do texto, por limitada. e) Em – Mas não posso me alimentar só de pipoca! –, a conjunção em destaque expressa a ideia de comparação. 3. (Fuvest - 2013) A essência da teoria democrática é a supressão de qualquer imposição de classe, fundada no postulado ou na crença de que os conflitos e problemas humanos – econômicos, políticos, ou sociais – são solucionáveis pela educação, isto é, pela cooperação voluntária, mobilizada pela opinião pública esclarecida. Está claro que essa opinião pública terá de ser formada à luz dos melhores conhecimentos existentes e, assim, a pesquisa científica nos campos das ciências naturais e das chamadas ciências sociais deverá se fazer a mais ampla, a mais vigorosa, a mais livre, e a difusão desses conhecimentos, a mais completa, a mais imparcial e em termos que os tornem acessíveis a todos. (Anísio Teixeira, Educação é um direito. Adaptado.) No trecho “chamadas ciências sociais”, o emprego do termo “chamadas” indica que o autor a) vê, nas “ciências sociais”, uma panaceia, não uma análise crítica da sociedade. b) considera utópicos os objetivos dessas ciências. c) prefere a denominação “teoria social” à denominação “ciências sociais”. d) discorda dos pressupostos teóricos dessas ciências. e) utiliza com reserva a denominação “ciências sociais”. 4.(Unesp - 2010) Texto 1 Porque morrer é uma ou outra destas duas coisas: ou o morto não tem absolutamente nenhuma existência, nenhuma consciência do que quer que seja, ou, como se diz, a morte é precisamente uma mudança de existência e, para a alma, uma migração deste lugar para um outro. Se, de fato, não há sensação alguma, mas é como um sono, a morte seria um maravilhoso presente. […] Se, ao contrário, a morte é como uma passagem deste para outro lugar, e, se é verdade o que se diz que lá se encontram todos os mortos, qual o bem que poderia existir, ó juízes, maior do que este? Porque, se chegarmos ao Hades, libertando-nos destes que se vangloriam serem juízes, havemos de encontrar os verdadeiros juízes, os quais nos diria que fazem justiça acolá: Monos e Radamante, Éaco e Triptolemo, e tantos outros deuses e semideuses que foram justos na vida; seria então essa viagem uma viagem de se fazer pouco caso? Que preço não seríeis capazes de pagar, para conversar com Orfeu, Museu, Hesíodo e Homero? (Platão. Apologia de Sócrates, 2000.) Texto 2 Ninguém sabe quando será seu último passeio, mas agora é possível se despedir em grande estilo. Uma 300C Touring, a versão perua do sedã de luxo da Chrysler, foi transformada no primeiro carro funerário customizado da América Latina. A mudança levou sete meses, custou R$ 160 mil e deixou o carro com oito metros de comprimento e 2 340 kg, três metros e 540 kg além da original. O Funeral Car 300C tem luzes piscantes na já imponente dianteira e enormes rodas, de aro 22, com direito a pequenos caixões estilizados nos raios. Bandeiras nas pontas do capô, como nos carros de diplomatas, dão um toque refinado. Com o chassi mais longo, o banco traseiro foi mantido para familiares acompanharem o cortejo dentro do carro. No encosto dos dianteiros, telas exibem mensagens de conforto. O carro faz parte de um pacote de cerimonial fúnebre que inclui, além do cortejo no Funeral Car 300C, serviços como violinistas e revoada de pombas brancas no enterro. (Funeral tunado. Folha de S.Paulo, 28.02.2010.) Confrontando o conteúdo dos dois textos, pode- se afirmar que: a) embora os dois textos transmitam concepções divergentes acerca da morte, eles tratam de visões concernentes à mesma época, a saber, a sociedade atual. b) sob o ponto de vista filosófico, não há diferenças qualitativas entre uma e outra concepção sobre a morte. c) os comentários do texto grego sobre a morte são coerentes com uma filosofia de forte valorização do corpo em detrimento da alma, e do mundo sensível sobre o mundo inteligível. d) o texto de Platão evidencia uma cultura monoteísta, enquanto que o segundo é politeísta. e) enquanto no primeiro texto transparece a dignidade metafísica da morte, no segundo sugere-se a conversão do funeral em espetáculo da sociedade de consumo. 5. (Enem - 2013) Adolescentes: mais altos, gordos e preguiçosos A oferta de produtos industrializados e a falta de tempo têm sua parcela de responsabilidade no aumento da silhueta dos jovens. “Os nossos hábitos alimentares, de modo geral, mudaram muito”, observa Vivian Ellinger, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), no Rio de Janeiro. Pesquisas mostram que, aqui no Brasil, estamos exagerando no sal e no açúcar, além de tomar pouco leite e comer menos frutas e feijão. Outro pecado, velho conhecido de quem exibe excesso de gordura por causa da gula, surge como marca da nova geração: a preguiça. “Cem por cento das meninas que participam do Programa não praticavam nenhum esporte”, revela a psicóloga Cristina Freire, que monitora o desenvolvimento emocional das voluntárias. Você provavelmente já sabe quais são as consequências de uma rotina sedentária e cheia de gordura. “E não é novidade que os obesos têm uma sobrevida menor”, acredita Claudia Cozer, endocrinologista da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Mas, se há cinco anos os estudos projetavam um futuro sombrio para os jovens, no cenário atual as doençasque viriam na velhice já são parte da rotina deles. “Os adolescentes já estão sofrendo com hipertensão e diabete”, exemplifica Claudia. DESGUALDO, P. Revista Saúde. Disponível em: http://saude.abril.com.br. Acesso em: 28 jul. 2012 (adaptado). Sobre a relação entre os hábitos da população adolescente e as suas condições de saúde, as informações apresentadas no texto indicam que a) a falta de atividade física somada a uma alimentação nutricionalmente desequilibrada constituem fatores relacionados ao aparecimento de doenças crônicas entre os adolescentes. b) a diminuição do consumo de alimentos fontes de carboidratos combinada com um maior consumo de alimentos ricos em proteínas contribuíram para o aumento da obesidade entre os adolescentes. c) a maior participação dos alimentos industrializados e gordurosos na dieta da população adolescente tem tornado escasso o consumo de sais e açúcares, o que prejudica o equilíbrio metabólico. d) a ocorrência de casos de hipertensão e diabetes entre os adolescentes advém das condições de alimentação, enquanto que na população adulta os fatores hereditários são preponderantes. e) a prática regular de atividade física é um importante fator de controle da diabetes entre a população adolescente, por provocar um constante aumento da pressão arterial sistólica. 6. (Enem PPL 2019) O debate sobre o conceito de saúde refere-se à importância de minimizar a simplificação que abrange o entendimento do senso comum sobre esse fenômeno. É possível entendê-lo de modo reducionista, tão somente, à luz dos pressupostos biológicos e das associações estatísticas presentes nos estudos epidemiológicos. Os problemas que daí decorrem são: a) o foco centra- se na doença; b) a culpabilização do indivíduo frente à sua própria doença; c) a crença na possibilidade de resolução do problema encerrando-se uma suposta causa, a qual recai no processo de medicalização; d) a naturalização da doença; e) o ceticismo em relação à contribuição de diferentes saberes para auxiliar na compreensão dos fenômenos relacionados à saúde. BAGRICHEVSKY, M. et al. Considerações teóricas acerca das questões relacionadas à promoção da saúde. In: BAGRICHEVSKY, M.; PALMA, A.; ESTEVÃO, A. (Org.). A saúde em debate na educação física. Blumenau: Edibes, 2003. O texto apresenta uma reflexão crítica sobre o conceito de saúde, que deve ser entendida mediante a) dados estatísticos presentes em estudos epidemiológicos. b) pressupostos relacionados à ausência de doenças nos indivíduos. c) responsabilização dos indivíduos pela adoção de hábitos saudáveis. d) intervenção da medicina nos diferentes processos que acometem a saúde. e) compreensão dos fenômenos sociais, políticos e econômicos relacionados à saúde. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o trecho do livro A dança do universo, do físico brasileiro Marcelo Gleiser, para responder à(s) questão a seguir. Algumas pessoas tornam-se heróis contra sua própria vontade. Mesmo que elas tenham ideias realmente (ou potencialmente) revolucionárias, muitas vezes não as reconhecem como tais, ou não acreditam no seu próprio potencial.Divididas entre enfrentar sua insegurança expondo suas ideias à opinião dos outros, ou manter-se na defensiva, elas preferem a segunda opção. O mundo está cheio de poema se teorias escondidos no porão. Copérnico é, talvez, o mais famoso desses relutantes heróis da história da ciência. Ele foi o homem que colocou o Solde volta no centro do Universo, ao mesmo tempo fazendo de tudo para que suas ideias não fossem difundidas, possivelmente com medo de críticas ou perseguição religiosa. Foi quem colocou o Sol de volta no centro do Universo, motivado por razões erradas. Insatisfeito com a falha do modelo de Ptolomeu, que aplicava o dogma platônico do movimento circular uniforme aos corpos celestes, Copérnico propôs que o equante fosse abandonado e que o Sol passasse a ocupar o centro do cosmo. Ao tentar fazer com que o Universo se adaptasse às ideias platônicas, ele retornou aos pitagóricos,ressuscitando a doutrina do fogo central, que levou ao modelo heliocêntrico de Aristarco dezoito séculos antes. Seu pensamento reflete o desejo de reformular as ideias cosmológicas de seu tempo apenas para voltar ainda mais no passado; Copérnico era, sem dúvida, um revolucionário conservador. Ele jamais poderia ter imaginado que, ao olhar para o passado, estaria criando uma nova visão cósmica, queabriria novas portas para o futuro. Tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Copérnico decerto teria odiado a revolução que involuntariamente causou. Entre 1510 e 1514, compôs um pequeno trabalho resumindo suas ideias, intitulado Commentariolus (Pequeno comentário).Embora na época fosse relativamente fácil publicar um manuscrito, Copérnico decidiu não publicar seu texto,enviando apenas algumas cópias para uma audiência seleta.Ele acreditava piamente no ideal pitagórico de discrição; apenas aqueles que eram iniciados nas complicações da matemática aplicada à astronomia tinham permissão para compartilhar sua sabedoria. Certamente essa posição elitista era muito peculiar, vinda de alguém que fora educado durante anos dentro da tradição humanista italiana. Será que Copérnico estava tentando sentir o clima intelectual da época, para ter uma ideia do quão “perigosas” eram suas ideias? Será que ele não acreditava muito nas suas próprias ideias e, portanto,queria evitar qualquer tipo de crítica? Ou será que ele estava tão imerso nos ideais pitagóricos que realmente não tinha o menor interesse em tornar populares suas ideias? As razões que possam justificar a atitude de Copérnico são, até hoje, um ponto de discussão entre os especialistas. (A dança do universo, 2006. Adaptado.) 7. (Unesp 2019) “Tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Copérnico decerto teria odiado a revolução que involuntariamente causou.” (3º parágrafo) Em relação ao trecho que o sucede, o trecho sublinhado tem sentido de a) consequência. b) condição. c) conclusão. d) concessão. e) causa. TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Pichação-arte é pixação? As discussões muitas vezes acaloradas sobre o reconhecimento da pixação como expressão artística trazem à tona um questionamento conceitual importante: uma vez considerado arte contemporânea, o movimento perderiasua essência? Para compreendermos os desdobramentos da pixação, alguns aspectos presentes no graffiti são essenciais e importantes de serem resgatados. O graffiti nasceu originalmente nos EUA, na década de 1970, como um dos elementos da cultura hip-hop (Break, MC, DJ e Graffiti). Daí até os dias atuais, ele ganhou em força,criatividade e técnica, sendo reconhecido hoje no Brasil como graffiti artístico. Sua caracterização como arte contemporânea foi consolidada definitivamente por volta do ano 2000. A distinção entre graffiti e pixação é clara; ao primeiro é atribuída a condição de arte, e o segundo é classificado como um tipo de prática de vandalismo e depredação das cidades, vinculado à ilegalidade e marginalidade. Essa distinção das expressões deu-se em boa parte pela institucionalização do graffiti, com os primeiros resquícios já na década de 1970. Esse desenvolvimento técnico e formal do graffiti ocasionou a perda da potência subversiva que o marca como manifestação genuína de rua e caminha para uma arte de intervenção domesticada enquadrada cada vezmais nos moldes do sistema de arte tradicional. O grafiteiro é visto hoje como artista plástico, possuindo as características de todo e qualquer artista contemporâneo, incluindo a prática e o status. Muito além da diferenciação conceitual entre as expressões – ainda que elas compartilhem da mesma matéria-prima – trata-se de sua força e essência intervencionista. Estudos sobre a origem da pixação afirmamque o graffiti nova-iorquino original equivale à pixação brasileira; os dois mantêm os mesmos princípios: a força, a explosão e o vazio. Uma das principais características do pixo é justamente o esvaziamento sígnico, a potência esvaziada. Não existem frases poéticas, nem significados. A pichação possui dimensão incomunicativa, fechada, que não conversa com a sociedade. Pelo contrário, de certa forma, a agride. A rejeição do público geral reside na falta de compreensão e intelecção das inscrições; apenas os membros da própria comunidade de pixadores decifram o conteúdo. A significância e a força intervencionista do pixo residem, portanto, no próprio ato. Ela é evidenciada pela impossibilidade de inserção em qualquer estatuto pré-estabelecido, pois isso pressuporia a diluição e a perda de sua potência signo-estética. Enquanto o graffiti foi sendo introduzido como uma nova expressão de arte contemporânea, a pichação utilizou o princípio de não autorização para fortalecer sua essência. Mas o quão sensível é essa forma de expressão extremista e antissistema como a pixação? Como lidar coma linha tênue dos princípios estabelecidos para não cair em contradição? Na 26ª Bienal de Arte de São Paulo, em2004, houve um caso de pixo na obra do artista cubano naturalizado americano, Jorge Pardo. Seu comentário,diante da intervenção, foi “Se alguém faz alguma coisa no seu trabalho, isso é positivo, para mim, porque escolheram a minha peça entre as expostas” […]. “Quem fez isso deve discordar de alguma coisa na obra. Pode ser outro artista fazendo sua própria obra dentro da minha. Pode ser só uma brincadeira” e finalizou dizendo que “pichara obra de alguém também não é tão incomum. Já é tradicional”. É interessante notar, a partir do depoimento de Pardo, a recorrência de padrões em movimentos de qualquer natureza, e o inevitável enquadramento em algum tipo de sistema, mesmo que imposto e organizado pelos próprios elementos do grupo. Na pixação, levando em conta o “sistema” em que estão inseridos, constatamos que também passa longe de ser perfeito; existe rivalidade pesada entre gangues, hierarquia e disputas pelo “poder”. Em 2012, a Bienal de Arte de Berlim, com o tema “Forget Fear”, considerado ousado, priorizou fatos e inquietações políticas da atualidade. Os pixadores brasileiros, Cripta (Djan Ivson), Biscoito, William e R.C., foram convidados na ocasião para realizar um workshop sobre pixação em um espaço delimitado, na igreja Santa Elizabeth. Eles compareceram. Mas não seguiram as regras impostas pela curadoria, ao pixar o próprio monumento. O resultado foi tumulto e desentendimento entre os pixadores e a curadoria do evento. O grande dilema diante do fato é que, ao aceitarem o convite para participar de uma bienal de arte,automaticamente aceitaram as regras e o sistema imposto. Mesmo sem adotar o comportamento esperado, caíram em contradição. Por outro lado, pela pichação ser conhecidamente transgressora (ou pelo jeito, não tão conhecida assim), os organizadores deveriam pressupor que eles não seguiriam padrões pré-estabelecidos. Embora existam movimentos e grupos que consideram, sim, a pixação como forma de arte, como é o caso dos curadores da Bienal de Berlim, há uma questão substancial que permeia a realidade dos pichadores. Quem disse que eles querem sua expressão reconhecida como arte? Se arte pressupõe, como ocorreu com o graffiti,adaptar-se a um molde específico, seguir determinadas regras e por consequência ver sua potência intervencionista diluída e branda, é muito improvável que tenham esse desejo. A representação da pixação como forma de expressão destrutiva, contra o sistema, extremista e marginalizada é o que a mantêm viva. De certo modo, a rejeição e a ignorância do público é o que garante sua força intervencionista e a tão importante e sensível essência. Adaptado de: CARVALHO, M. F. Pichação-arte é pixação?Revista Arruaça, Edição nº 0. Cásper Líbero, 2013. Disponível em<https://casperlibero.edu.br/revistas/pichacao-arte- e-pixacao/> Acesso em: maio 2018. Um muro para pichar Em frente da minha casa existe um muro enorme, todo branco. No Facebook, uma postagem me chama atenção: é um muro virtual e a brincadeira é pichá-lo com qualquer frase que vier à cabeça. Não quero pichar o mundo virtual, quero um muro de verdade, igual a este de frente para a minha casa. Pelas ruas e avenidas, vou trombando nos muros espalhados pelos quarteirões, repletos de frases tolas, xingamentos e erros de português. Eu bem poderia modificar isso. “O caminho se faz caminhando”, essa frase genial, tão forte e certeira do poeta espanhol Antonio Machado, merece aparecer em diversos muros. Basta pensar um pouco e imaginar; de fato, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar. De repente, vejo um prédio inteiro marcado por riscos sem sentido e me calo. Fui tentar entender e não me faltaram explicações: é grafite, é tribal, coisas de difícil compreensão. As explicações prosseguem: grafite é arte, pichar é vandalismo. O pequeno vândalo escondido dentro de mim busca frases na memória e, então, sinto até o cheiro da lama de Woodstock em letras garrafais: “Não importam os motivos da guerra, a paz é muito mais importante”. Feito uma folha deslizando pelas águas correntes do rio me surge a imagem de John Lennon; junto dela, outra frase: “O sonho não acabou”, um tanto modificada pela minha mão, tornando-se: o sonho nunca acaba. E minha cabeça já se transforma num muro todo branco. Desde os primórdios dos tempos, usamos a escrita como forma de expressão, os homens das cavernas deixaram pichados nas rochas diversos sinais. Num ato impulsivo, comprei uma tinta spray, atravessei a rua chacoalhando a lata e assim prossegui até chegar à minha sala, abraçado pela ansiedade aumentada a cada passo. Coloquei o dedo no gatilho do spray e fiquei respirando fundo, juntando coragem e na mente desenhando a primeira frase para pichar, um tipo de lema, aquela do Lô Borges: “Os sonhos não envelhecem” – percebo, num sorrir de canto de boca, o quanto os sonhos marcam a minha existência. Depois arriscaria uma frase que criei e gosto: “A lagarta nunca pensou em voar, mas daí, no espanto da metamorfose, lhe nasceram asas...”. Ou outra, completamente tola, me ocorreu depois de assistir a um documentário, convencido de que o panda é um bicho cativante, mas vive distante daqui e sua agonia não é menor das dos nossos bichos. Assim pensando, as letras duma nova pichação se formaram num estalo: “Esqueçam os pandas, salvem as jaguatiricas!”. No muro do cemitério, escreveria outra frase que gosto: “Em longo prazo estaremos todos mortos”, do John Keynes, que trago comigo desde os tempos da faculdade. Frases de túmulos ganhariam os muros; no de Salvador Allende está consagrado, de autoria desconhecida: “Alguns anos de sombras não nos tornarão cegos.” Sempre apegado aos sonhos, picharia também uma do Charles Chaplin: “Nunca abandone os seus sonhos, porque se um dia eles se forem, você continuará vivendo, mas terá deixado de existir”. Claro, eu poderia escrever essas frases num livro, num caderno ou no papel amassado que embrulha o pão da manhã, mas o muro me cativa, porque está ao alcance das vistas de todos e quero gritar para o mundo as frases que gosto; são tantas, até temo que me faltem os muros. Poderia passar o dia todo pichando frases, as linhas vão se acabando e ainda tenho tanto a pichar... “É preciso muito tempo para se tornar jovem”, de Picasso, “Há um certo prazer na loucura que só um louco conhece”, de Neruda, “Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarzinho”, cravada por Mário Quintana... Encerro com Nietzsche: “Isto é um sonho, bem sei, mas quero continuar a sonhar”, que serve para exemplificar o que sinto neste momento, aqui na minha sala, escrevendo no computador o que gostaria de jogar nos muros lá fora, a custo me mantendocalmo, um olho na tela, outro voltado para o lado oposto da rua. Lá tem aquele muro enorme, branco e virgem, clamando por frases. Não sei quanto tempo resistirei até puxar o gatilho do spray. Adaptado de: ALVEZ, A. L. Um muro para pichar. Correio do Estado, fev 2018. Disponível em <https://www.correiodoestado.com.br/opiniao/leia- acronica-de-andre-luiz-alvez-um-muro-para- pichar/321052/> Acesso em: ago. 2018. 8. (Ita 2019) A partir da leitura dos textos acima, depreende-se que I. os autores reiteram que grafite e pichação não são práticas artísticas bem aceitas por toda a sociedade. II. o texto “Pichação-arte é pichação?” menciona a ausência de poesia na pichação; o texto “Um muro para pichar” explora a possibilidade de essa prática disseminar cultura. III. o texto “Pichação-arte é pichação?” contrasta grafite e pichação; já o texto “Um muro para pichar” expressa motivações subjetivas do autor para pichar. Está/ão correta/s: a) apenas I e II. b) apenas I e III. c) apenas II. d) apenas II e III. e) todas. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: Desenhar para ele é uma coisa; pintar é outra. No desenho se afirma, na pintura se esconde. Pela linha fala com extraordinária precisão estilística, preciosismo, audácia, e vai, por vezes, até a elegância, mesmo mundana; pela cor, ele se retrai e silencia. (...) Milton Dacosta foi o primeiro artista, hoje consagrado, que no Brasil partiu do cubismo, ou melhor, das repercussões da revolução cubista até as nossas praias provincianas. (...) Dessa fase, entre 1939 e 40, nos deu algumas telas que ainda hoje interessam pela essencialização dos valores plásticos, o desprezo dos detalhes anedóticos para só guardar os que definem o ambiente e, sobretudo, marcam a atmosfera, principal tema delas. A esquematização das formas, sobretudo o ovoide das cabeças sem pormenores fisionômicos, lembra Modigliani. Realmente, o ar que se respira nessas telas é o ar da “escola de Paris”. (Mário Pedrosa, Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília, Perspectiva, 1981) 9. (Espm 2019) Segundo o texto, a obra de Milton Dacosta se destaca: a) pelo desenho formal da pintura clássica. b) pelo colorido apagado da escola de Paris. c) pelo desenho e pormenor fisionômico que lembram Picasso. d) pela cor e originalidade das formas expressionistas. e) pela ousadia do desenho e pela temática de origem vanguardista. 10. (Espm 2019) Ainda segundo o texto, a aproximação possível entre Dacosta e Modigliani firma-se: a) na profusão de detalhes do retrato. b) no caráter fisionômico do ovoide corporal. c) na essencialização dos valores anedóticos. d) na simplificação das formas humanas. e) na pintura cubista em praias provincianas. GABARITO 1. Alternativa correta: b) os manuais cujas diversas instruções os usuários não conseguem -compreender e pôr em prática são improdutivos. Segundo o texto, os manuais de instruções dos aparelhos mais confundem do que ajudam e, por isso, são indicados como “labirintos” onde as pessoas se perdem. 2. Alternativa correta: c) Em – Virou um labirinto de instruções! –, o termo em destaque foi empregado em sentido figurado, indicando confusão, incompreensibilidade. O termo “labirinto” foi utilizado no texto em seu sentido figurado (ou conotativo) indicando algo complexo e que causa confusão, tal qual um labirinto. 3. Alternativa correta: e) utiliza com reserva a denominação “ciências sociais”. Ao utilizar a palavra “chamadas” antes de “ciências sociais”, o autor do texto evita a generalização do termo, utilizando-o com reserva. 4. Alternativa correta: e) enquanto no primeiro texto transparee a dignidade metafísica da morte, no segundo sugere-se a conversão do funeral em espetáculo da sociedade de consumo. A partir da leitura dos textos, fica claro que a morte é o tema principal, porém é abordada de maneiras diferentes. Assim, no primeiro texto temos a morte como a passagem do mundo terreno ao espiritual; enquanto no segundo, o foco está no espetáculo do consumo, evocado por um “CARRO FAZ QUE PARTE DE UM PACOTE DE CERIMONIAL FÚNEBRE”. 5. Alternativa correta: a) a falta de atividade física somada a uma alimentação nutricionalmente desequilibrada constituem fatores relacionados ao aparecimento de doenças crônicas entre os adolescentes. Com a leitura do texto, fica claro entender que a intenção da autora é alertar para os hábitos pouco ou nada saudáveis dos jovens da atualidade. Destacam-se o consumo dos alimentos pobres em nutrientes e a falta de práticas diárias de exercícios físicos, o que levam ao sedentarismo e, consequentemente, ao surgimento de doenças crônicas. Resposta da questão 6: [E] O texto coloca ressalvas ao conceito de saúde quando é reduzido a estudos de cunho biológico, acompanhados de estatísticas. Segundo o autor, tal conceito dá origem a diversos problemas: foco na doença, culpabilização do indivíduo frente à sua própria doença, medicalização insatisfatória e “ceticismo em relação à contribuição de diferentes saberes para auxiliar na compreensão dos fenômenos relacionados à saúde”. Deste último item, infere-se que o autor defende a ideia de que o conceito de saúde deve ser entendido mediante uma perspectiva muito mais ampla: compreensão dos fenômenos sociais, políticos e econômicos relacionados à saúde, como transcrito em [E]. Resposta da questão 7: [B] A presença do termo verbal “tivesse”, pretérito imperfeito do subjetivo, subordinada à oração principal com verbo no futuro do pretérito composto do indicativo, “teria odiado”, permite deduzir que se trata de uma oração com valor condicional: se tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Copérnico decerto teria odiado a revolução que involuntariamente causou. Assim, é correta a opção [B]. Resposta da questão 8: [D] [I] Falso. O grafite já alcançou status de arte; a pichação, no entanto, mantém-se à margem da sociedade. [II] Verdadeiro. Em “Pichação-arte é pichação?”, o autor menciona que na pichação “Não existem frases poéticas, nem significados”; já em “Um muro para pichar”, o autor afirma que picharia diversas citações de escritores famosos, fazendo da pichação um modo de disseminar cultura. [III] Verdadeiro. Em “Pichação-arte é pichação?”, o contraste é explicado no 2º parágrafo: “A distinção entre graffiti e pixação é clara; ao primeiro é atribuída a condição de arte, e o segundo é classificado como um tipo de prática de vandalismo e depredação das cidades, vinculado à ilegalidade e marginalidade. Essa distinção das expressões deu-se em boa parte pela institucionalização do graffiti, com os primeiros resquícios já na década de 1970”; por sua vez, em “Um muro para pichar”, o autor menciona que picharia frases significativas para a personalidade dele nos muros. Resposta da questão 9: [E] Segundo o autor, Milton Dacosta foi um pintor vanguardista que se destacou pela audácia do desenho, revelador de influências do movimento estético do cubismo europeu e da arte de Modigliani, pelo uso do recurso de esquematização das formas humanas sem pormenores fisionômicos. Ou seja, pela ousadia do desenho e pela temática de origem vanguardista como se afirma em [E]. Resposta da questão 10: [D] A referência a “esquematização das formas” através de características como a representação ovoide das cabeças “sem pormenores fisionômicos” permite inferir que a aproximação possível entre Dacosta e Modigliani se firma na simplificação das formas humanas, como transcrito em [D].
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