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RESPOSTA A ACUSACAO

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO LUÍS DO ESTADO DO MARANHÃO
Nº DO PROCESSO: XXXXXXXXXXX
Bernardino, já qualificado nos autos, por seu advogado, que está subscreve, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência com o devido acato e respeito de estilo apresentar: 
RESPOSTA À ACUSAÇÃO,
, com fulcro nos artigos 396 e 396-A do Código Processo Penal e no Artigo 5º, Inciso LV, da Constituição Federal de 1988.
I- DOS FATOS
No dia 01/03/2019, Bernardino estava na sacada de seu apartamento em São Luís – Ma, quando encontrou sua filha Luciane sendo violentada pelo seu namorado Johnny Bravo pela razão dela recusar dinheiro à ele para comprar drogas. Diante da agressão que o Bernardino presenciou e por estar se recuperando de um procedimento, a solução que ele teve de imediato foi pegar uma arma de fogo e tentou disparar em direção de Johnny Bravo, porém não teve resultado finalístico.
Nesse sentido, em seguida Johnny Bravo foi prestar queixa para uma autoridade policial, assim, passado meses de investigação foram arrolados como testemunhas, Juliana, Pedrinha e Catolé, estes dois últimos dias estavam de visitantes no estacionamento perto da sacada do apartamento onde ocorreu a situação.
Logo, o inquérito foi concluído e o Ministério Público ofereceu denúncia perante o juízo competente, em face de Bernardino como incurso de sanções penais do artigo 129 parágrafo 1º inciso III c/c artigo 14, inciso I, ambos do Código Penal. Com a denúncia vieram as principais peças que constavam do inquérito, inclusive a folha de antecedentes criminais no qual constavam a anotação por ação penal em curso pela suposta prática do crime do artigo 168-A do Código Penal, e também o laudo de perícia da arma de fogo de Bernardino.
Durante o trâmite processual, em razão do mandado de citação tem-se a presença do oficial de justiça no Condomínio Residencial Águas Claras onde Bernardino mora, porém ele não se encontrava em casa tendo em vista que houve o desencontro, no dia 26/02/2020, conclui-se que ele estava se ocultando, então foi intimado por hora certa.
Então o porteiro, Sr. João do condomínio avistando a situação do oficial de justiça, imediatamente liga para o advogado de Bernardino, explicando que estava embarcado na Marinha Mercante durante 20 dias, logo, por WhatsApp, o advogado envia a procuração para adoção de medidas cabíveis e lhe informou o trâmite processual.
II – DO DIREITO
II.I- DA PRELIMINAR
A) DA NULIDADE DA CITAÇÃO
De início, preliminarmente requer-se que seja reconhecida a nulidade do ato de citação, considerando que a legislação vigente nesse sentido prescreve que a citação por hora certa deve ser admitida quando o acusado está se ocultando para não ser citado, o que não ocorre no presente caso, pois não havia indícios que comprovem que o acusado estava se ausentando propositalmente, assim, a residência de Bernardino estava fechada, pois o mesmo estava trabalhando em embarcação. 
Desta maneira prescreve o artigo 362 do Código de Processo Penal:
Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Nesse sentido, houve prematura conclusão do oficial de justiça, tendo em vista que foi considerado apenas seu único comparecimento com intuito de citar, não havendo aprofundamento no motivo pelo qual o acusado não estava em sua residência, de acordo com o artigo 362 do Código de Processo Penal c/c o art. 252 do Código de Processo Civil.
Deste modo prescreve o artigo seguinte:
Art. 252. Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar.
Ademais, resta evidenciado que o oficial de justiça compareceu apenas uma única vez na residência do acusado, sendo legitimo e necessário procura-lo por duas vezes, sendo verificada desta maneira outro elemento que acarreta a nulidade da citação.
Assim, nos termos do artigo 564, inciso III, alinha “e” do Código de Processo Penal:
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: [...]
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa; [...]
Sendo assim, a citação foi invalida, havendo prejuízo ao direito de defesa, considerando que não houve se quer prévia conversa entre o acusado e o advogado sobre os fatos, antes de apresentar a resposta a acusação. 
II.II- DO MÉRITO
A) DA EXCLUSÃO DE ILICITUDE
 De acordo com o artigo 25 do Código Penal que dispõe:
Art. 25: entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 
Conforme o caso narrado, o acusado ao presenciar o namorado de sua filha violentando- a, não teve alternativa a não se pegar sua arma e apertar o gatilho, para defender sua filha, sendo assim, agindo em legitima defesa, visto que o mesmo estava em recuperação por haver passado por uma cirurgia no menisco em seu membro inferior. Ademais, a arma não mostrou eficaz, sendo assim, o namorado da filha do réu não chegou a ser baleado. Vale ressaltar, que a intenção do acusado era de produzir lesão corporal que gerasse debilidade permanente na perna do agressor de sua filha, porém em virtude de circunstancias alheias a sua vontade não chegou acontecer.
Nessa mesma linha de raciocínio, vejamos os julgados: 
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PENAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO TENTADO (CP, ART. 121, § 2º, INCISO II). PRONÚNCIA. PRELIMINAR DE NULIDADE POR LINGUAGEM EXCESSIVA. E, NO MÉRITO, ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA COM APLICAÇÃO DA EXCLUDENTE DE ILICITUDE DE LEGÍTIMA DEFESA, ALÉM DA EXCLUSÃO DAS QUALIFICADORAS IMPUTADAS E REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. JUÍZO PRONUNCIANTE, DE FATO, ADENTRA O MÉRITO DA CAUSA, AO FUNDAMENTAR O DECISUM. PLAUSIBILIDADE DA DEFESA. ANULAÇÃO DA DECISÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
(TJ-BA - RSE: 03029814320158050080, Relator: Pedro Augusto Costa Guerra, Primeira Câmara Criminal - Segunda Turma, Data de Publicação: 08/08/2018)
PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO. TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA. EXCLUDENTE DE ILICITUDE. LEGÍTIMA DEFESA CONFIGURADA. RECURSO PROVIDO. 1) Faz-se necessário que o magistrado se convença da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria para submeter o réu a julgamento no Tribunal do Júri (art. 413 do CPP). 2) No caso, evidenciado pelo conjunto probatório que os recorrentes, policiais militares, agiram amparados pela excludente de ilicitude de legítima defesa própria e de terceiros, utilizando-se dos meios necessários para afastar injusta agressão de suspeito da prática de crimes, a absolvição sumária dos réus é medida que se impõe, com fundamento no art. 415, IV, do CPP. 3) Recurso conhecido e provido.
(TJ-AP - RSE: 00296149620178030001 AP, Relator: Desembargador ROMMEL ARAÚJO DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 09/07/2019, Tribunal)
Ademais, seguindo o raciocínio do ilustríssimo jurista Damásio de Jesus, nos ensina que: 
“A antijuridicidade, segundo requisito do crime, pode ser afastada por determinadas causas, denominadas ‘causas da exclusão da antijuridicidade’ ou ‘justificativas’. Quando isso ocorre, o fato permanece típico, mas não há crime: excluindo-se a ilicitude, e sendo ela, requisito do crime, fica excluído o próprio delito. Em consequência, o sujeito deve ser absolvido. (JESUS, 1997 p.360).”
Sendo assim, uma das exclusões da ilicitude é a legítima defesa, ocorre quando seu autor pratica um fato típico previsto em lei como crime para repelir a injusta agressão de outrem a um bem jurídico seu ou de terceiro. Todavia o réu está amparado pela legitimadefesa, com isso exclui-se a ilicitude conforme o art. 23 e 25 do Código Penal Brasileiro. 
Destarte, como mencionado, o acusado agiu em legitima defesa, defendendo sua filha das agressões do namorado, dessa forma, o fato típico praticado em legitima defesa não configura crime, sendo assim, excluindo a ilicitude.
Portanto, como constatado a legitima defesa em favor de terceiro, no caso, a sua própria filha, impõe-se a absolvição sumária do réu conforme Artigo 23 do Código Penal Brasileiro: 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - em legítima defesa; 
Nessa mesma linha de raciocínio, vejamos o julgado: 
APELAÇÃO CRIMINAL- RECURSO MINISTERIAL TENTATIVA DE HOMICÍDIO - ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA - LEGÍTIMA DEFESA - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - NECESSIDADE. Considera-se em legítima defesa, a teor
do artigo 25 do Código Penal, aquele que, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Sendo a hipótese dos autos de legítima defesa, há de se manter a sentença de absolvição sumária do acusado. (TJ- MG Apelação Criminal 1.0040.06.044701-4/002, Relator(a): Des.(a) Kárin Emmerich, julgamento Em 12/02/0019, publicação da súmula em 20/02/2019, #65647168).
B) CRIME IMPOSSIVEL
Não há o que se falar em punição na tentativa tendo em vista que houve crime impossível de acordo com o Art. 17 do Código Penal como segue:
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
Portanto, apesar de haver a tipicidade não foi possível concretizar o delito já que a arma foi incapaz de efetuar os disparos pois houve absoluta ineficácia do meio utilizado. 
Como entendimento jurisprudencial temos: 
- APELAÇÃO CRIMINAL - POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO - SENTENÇA CONDENATÓRIA - RECURSO DEFENSIVO - PRETENDIDA ABSOLVIÇÃO - ARMA INAPTA - AUSÊNCIA DE POTENCIALIDADE LESIVA - CRIME IMPOSSÍVEL - ATIPICIDADE DA CONDUTA - ABSOLVIÇÃO IMPOSITIVA - RECURSO PROVIDO. Demonstrado, por laudo pericial, a ineficácia da arma de fogo (inapta a disparar), deve-se reconhecer a atipicidade da conduta do acusado ante da ausência de afetação do bem jurídico incolumidade pública, tratando-se de crime impossível pela ineficácia absoluta do meio. Precedentes do STJ. (TJMS. Apelação Criminal n. 0002945-40.2016.8.12.0017,  Nova Andradina,  2ª Câmara Criminal, Relator (a):  Des. Ruy Celso Barbosa Florence, j: 28/06/2019, p:  02/07/2019)
O reconhecimento do crime impossível gera a tipicidade da conduta e consequentemente cabível a absolvição sumária pelo fato evidentemente não constitui crime, com base no artigo 397 inciso III, do código do processo penal.
Diante de todas as evidencias, requer a absolvição sumária do acusado diante dos direitos aqui apresentados.
III- DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto requer:
a) O reconhecimento da nulidade de citação conforme Art. 564, inciso III, alínea “e” e Art. 362 do Código de Processo Penal combinado com Art. 252 do Código de Processo Civil de 2015;
b) Que o acusado, seja absolvido sumariamente, devido ao crime impossível e a exclusão de ilicitude, pois agiu em legítima defesa em favor de terceiro, conforme o Art. 397, incisos I, III, do Código de Processo Penal e os Arts. 17 e 23 inciso I do Código Penal;
c) Se houver o prosseguimento da instrução, o acusado requer a intimação das testemunhas a seguir: 1 – Juliana (end xxx, tel xxx, cpf xxx), 2 – Pedrina (end xxx, tel xxx, cpf xxx), 3 – Catolé (end xxx, tel xxx, cpf xxx), de acordo com o Art.401 do Código de Processo Penal.
Nestes Termos, Pede Deferimento.
 
São Luís/MA, 09 de março de 2020.
ADVOGADO
OAB/…

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