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Pneumologia Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Aula 02 – DPOC Assuntos do semestre: 1 – Asma 2 – DPOC 3 – Fibrose Pulmonar 4 – Derrame Pleural 5 – Apneia do Sono 6 – Embolia Pulmonar INTRODUÇÃO A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica é uma patologia caracterizada pela progressiva obstrução do fluxo de ar. Essa obstrução geralmente é irreversível, que acomete indivíduos de meia-idade ou idosos com histórico de tabagismo, e que não pode ser atribuída a outra doença específica, como a bronquiectasia ou asma. Todo paciente com DPOC tem enfisema (ou seja, destruição do espaço aéreo) e alterações patológicas das vias de condução consistentes com bronquite crônica. O grau do enfisema – aumento anormal dos espaços aéreos devido à destruição e deformação das paredes alveolares – varia bastante em pacientes com DPOC com graus semelhantes de obstrução. Já a bronquite crônica, definida clinicamente como tosse persistente e produção de expectoração e patologicamente como alargamento anormal das glândulas mucosas do seio das vias aéreas centrais cartilaginosas. Epidemiologia O tabagismo é o principal fator de risco para a DPOC, então a prevalência da doença tende a refletir os hábitos tabagicos da sociedade, com uma fase de latência de 20-30 anos. Etiologia Tabagismo É a principal causa, mas a relação entre o tabagismo e o DPOC é complexo e não foi completamente compreendido. Sabe que se o tabagismo provoca um declínio na função pulmonar que excede o esperado pelo envelhecimento, e a magnitude da perda é dependente da intensidade e Pneumologia Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 duração da exposição à fumaça do cigarro. Após os 30 anos, todos perdem função pulmonar anualmente (VEF1), sendo cerca de 25mL para não fumante e 40mL/ano para os fumantes. Uma minoria chamada de “fumantes suscetíveis” sofre uma perda anual de VEF1 ainda maior, cerca de 100mL ou mais, podendo desenvolver uma obstrução de fluxo de ar ainda na quarta e quinta década de vida. O tabagismo materno durante a gravidez, exposição à fumaça de cigarro durante a primeira infância (fumante passivo) e tabagismo na adolescência prejudicam o crescimento do pulmão. Em consequência, a redução da função pulmonar (VEF1) no início da idade adulta será um fator de risco para desenvolver DPOC posteriormente. Outras exposições ambientais: exposição à poeira em ambientes de trabalho, como em minas e fábricas, comumente causa o desenvolvimento de sintomas respiratórios e perda permanente de função pulmonar. Já a poluição urbana parece ter pouco efeito na prevalência de obstrução de fluxo aéreo, mas pode se tornar um fator importante em centros urbanos fortemente poluídos. Fatores genéticos: a deficiência de alfa1-antitripsina é o único fator de risco genético comprovado para DPOC, esse componente protege o tecido pulmonar e a sua falta acarreta maior vulnerabilidade. Patologia Enfisema É caracterizado por aumento anormal dos espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais com destruição das paredes alveolares, mas sem fibrose evidente. Os bronquíolos terminais, que são as vias não alveoladas mais distais dentro da árvore brônquica, fornecem ventilação para a unidade pulmonar denominada ácino. Distais aos bronquíolos terminais, há duas ou três gerações de Pneumologia Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 bronquíolos parcialmente alveolados e, então, a zona alveolar, onde a maioria das trocas gasosas ocorrem. Os espaços aéreos podem crescer por toda a zona alveolada devido à destruição ou rearranjo de suas paredes. O enfisema consiste em 2 subgrupos principais: Enfisema centroacinar: localizado nos bronquíolos respiratórios distais aos bronquíolos terminais, enquanto o restante do ácino é em grande parte preservado. As lesões individuais tendem a ser mais presentes no lobo superior. O enfisema centroacinar grave quase sempre está relacionado ao tabagismo, mas o centroacinar leve pode ocorrer a partir de outras exposições ambientais. Áreas focais de inflamação, fibrose e pigmento carbonáceo estão comumente presentes nas paredes alveolares e bronquiolares adjacentes. Enfisema panacinar: os ductos alveolares estão difusamente aumentados, os alvéolos adjacentes podem ser destruídos de tal modo que as unidades individuais não podem mais ser identificadas. Com a progressão da doença, as lesões individuais podem coalescer para formar bolhas grandes. Esse enfisema é típico da grave deficiência de alfa1-antitripsina e em pacientes onde o principal fator de risco é o tabagismo. A maioria dos pacientes com DPOC grave possuem elementos mistos de centroacinar e panacinar, e subtipos individuais não podem ser distinguidos na doença avançada. Bronquite Crônica e Bronquiolite Glândulas mucosas, localizadas entre a membrana basal epitelial e placas cartilaginosas dentro da árvore brônquica central, e as células caliciformes secretam muco no lúmen brônquico para auxiliar o epitélio das vias na defesa do hospedeiro. O aumento das glândulas mucosas e a expansão da população de células caliciformes epiteliais brônquicas, que ocorrem na DPOC, se relacionam com os sintomas clínicos de excesso de tosse e produção de escarro, mas não com a obstrução do fluxo aéreo. Uma resposta inflamatória leve, com neutrófilos, macrófagos e linfócitos TCD8 também pode ser vista nas áreas cartilaginosas de pacientes com DPOC. Os principais sítios de aumento da resistência do fluxo aéreo na DPOC são pequenas vias distais com pequeno diâmetro interno. As alterações patológicas precoces em jovens tabagistas são coleções Pneumologia Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 focais de macrófagos com pigmentos marrons no bronquíolo respiratório e um infiltrado esparso de neutrófilos e linfócitos nas paredes dos bronquíolos terminais. Em pacientes idosos com DPOC, a resposta inflamatória é mais intensa, mas ainda com mistura de neutrófilos, macrófagos e linfócitos. Além de fibrose, metaplasia de células caliciformes e do epitélio escamoso de revestimento, aumento do músculo liso nas paredes das vias e regiões com formação de tampões mucosos. Em comparação a indivíduos normais, as vias distais de pacientes com DPOC tem paredes mais espessas e lúmens menores. Vasculatura pulmonar A hipoxemia causa vasoconstrição em pequenas artérias pulmonares e consequente aumento na resistência vascular pulmonar. A remodelação vascular, como aumento da musculatura lisa medial e fibrose da íntima, ocorrem em resposta à hipoxemia crônica resultando em hipertensão pulmonar irreversível. Patogênese O enfisema é causado por um desequilíbrio entre a elastase e a antielastase no pulmão devido ao excesso de elastase ou deficiência de antielastase. Os pulmões contêm uma rede de fibras que contêm elastina e outras proteínas de matriz que conferem integridade estrutural e elasticidade às paredes alveolares. A inflamação crônica induzida pela fumaça de cigarro aumenta a quantidade de proteinases capazes de hidrolisar a elastina nativa, induz lesões com características morfológicas e funcionais de enfisema. Já as deficiências graves de alfa1- antitripsina, um potente inibidor de elastase, estão associadas ao desenvolvimento de enfisema panacinar grave. Nas vias aéreas distais, o material particulado e gases tóxicos de fumaça do cigarro inalada iniciam uma resposta inflamatória composta por macrófagos e neutrófilos. A resposta inflamatória precoce é mediada pela defesa inata como resposta a lesão celular, e no estágio mais avançado a resposta é mediada pelos componentes humorais e Pneumologia NathálliaMachado Tut 01 – Med FTC 22.1 celulares do sistema adaptativo, sendo a infiltração por CD4, CD8 e LB uma característica de DPOC mais avançada. Em casos de doença avançada, a inflamação persiste mesmo após o paciente ter parado de fumar. O reparo por qualquer tipo de resposta imune pode causar remodelação das vias aéreas por estimular a síntese da matriz de tecido conjuntivo e a formação de músculo liso e aumento da proporção de células caliciformes secretoras dentro da camada epitelial. Fisiopatologia A perda da elasticidade do pulmão relacionada à idade explica em grande parte o declínio normal do VEF1 com o avanço da idade. No enfisema, a perda da retração elástica resulta em danos às fibras elásticas e perda de área de superfície alveolar. Um aumento de fluxo aéreo brônquico é outra característica sentinela da mecânica pulmonar em pacientes com DPOC. A resistência aumentada nessa doença é devida principalmente a alterações nas pequenas vias aéreas. Um dos principais aspectos fisiológicos é a limitação do fluxo de ar expiratório devido à perda da retração elástica pulmonar e aumento da resistência viscosa do fluxo nas pequenas vias aéreas. A gravidade do enfisema e a obstrução do fluxo aéreo são diretamente relacionadas ao enchimento ventricular esquerdo prejudicado, à redução do volume sistólico e ao débito cardíaco menor. A hipoxemia leve geralmente é detectada nos estágios iniciais da DPOC e piora com a progressão da obstrução de fluxo de ar. A hipercapnia geralmente aparece apenas na DPOC grave, mas algumas vezes está ausente mesmo nos estágios avançados da doença. O desequilíbrio da relação ventilação-perfusão, devido a alterações tanto nas vias aéreas como nos vasos pulmonares, são responsáveis, em grande parte, por hipoxemia, sendo o evento primário a ventilação desigual. Na DPOC há “ventilação desperdiçada”, porque algumas regiões pulmonares têm fluxo sanguíneo pulmonar inadequado para a ventilação. Manifestações Clínicas Deve-se suspeitar de DPOC em pacientes que se queixam de sintomas respiratórios crônicos, particularmente a dispneia que limita as atividades da vida diária. Pneumologia Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Principalmente em pacientes com idade avançada, que foram expostos a fumaça e substâncias nocivas, uso atual ou passado de cigarros, início insidioso de dispneia com progressão lenta, histórico de bronquite aguda, tosse crônica, produção de escarro e sibilos. A tosse e o escarro podem anteceder a tosse por muitos anos. Alguns pacientes iniciam a dispneia com uma infecção respiratória, mas geralmente existe um histórico de diminuição da tolerância ao exercício anterior ao evento. A ausência de histórico de tabagismo não exclui DPOC porque alguns pacientes desenvolvem uma grave obstrução irreversível mesmo sem uso de cigarro e sem predisposições genéticas conhecidas. O exame físico geralmente é normal em pacientes com doença leve a moderada e os sinais físicos característicos podem estar ausentes mesmo no estágio grave. Na DPOC grave comumente encontra-se tórax em barril, diafragma rebaixado detectado por percussão, fase expiratória prolongada, uso de músculos acessórios e baqueteamento digital. Além de bulhas hipofonéticas, sons respiratórios diminuídos ou roncos/sibilos/estertores. Se hipoxemia grave, a cianose pode se tornar evidente. Diagnóstico Exposição a partícula nociva + sintomas compatíveis + VEF1\CVF < 0.7 pós uso de BD à espirometria. Exame de imagem pode auxiliar com pistas em relação ao diagnóstico. A tomografia do tórax auxilia ainda mais que o RX no diagnóstico, tem melhor acurácia. Importante avaliar a existência de CA de pulmão nesse exame. Pneumologia Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Manejo do paciente Checar: Gravidade do distúrbio obstrutivo; Sintomas; Frequência de exacerbações nos últimos 12 meses; Presença de comorbidades. Classificação da obstrução do fluxo aéreo (VF1) Geralmente, quanto mais alta na escala classificatória, pior os sintomas. Escala da dispneia segundo o MRC – Medical Research Council Classificação com base nos sintomas e exacerbação da doença Essa classificação ajuda a direcionar o tratamento do paciente. Grupo A: O paciente com poucos sintomas (MRC 0-1) e nenhum ou apenas 1 episódio de exacerbação com internamento. Grupo B: Paciente com mais sintomas (MRC>2) e nenhum ou apenas 1 episódio de exacerbação com internamento. Grupo C: O paciente com poucos sintomas (MRC 0-1) e com mais de 2 episódios de exacerbação com internamento. Grupo D: Paciente com mais sintomas (MRC>2) e com mais de 2 episódios de exacerbação com internamento. Pneumologia Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 Tratamento O tratamento tem como objetivo aliviar os sintomas e reduzir o risco de exacerbação. Plano terapêutico - Medidas não farmacológicas (para todos): Cessação do tabagismo Atividade física Reabilitação pulmonar: serve para melhorar a dispneia do paciente e isso será feito melhorando o condicionamento físico do paciente e tirando-o do sedentarismo. - Medidas farmacológicas (quando necessário): Vacinação: influenza anualmente e pneumococo a cada 5 anos - diminui a chance de pneumonia e infecções virais. Ventilação não invasiva em caso de exacerbação: Oxigenoterapia se: PaO2 < 55mmHg ou SatO2 < 88% Ou PaO2 entre 56-59 + cor pulmonale ou Policitemia. Tratamento de manutenção: Paciente do Grupo A: Paciente com poucos ou nenhum sintoma e episódios de exacerbação. Broncodilatador de curta duração -> avaliar tratamento ->se não houve melhora da dispneia - >reavaliar BD ou tentar outra classe. Se paciente sem dispneia não é necessário BD. Paciente do Grupo B: Paciente com mais sintomas e poucos ou nenhum episódio de exacerbação. Broncodilatador de longa duração – LABA ou LAMA LABA: beta-agonista de longa duração. LAMA: anti-muscaríneo de longa duração. Sempre reavaliar o paciente, se não houver melhora, associar as duas drogas e reavaliar. Paciente do Grupo C: Paciente com poucos ou nenhum sintoma, mas com episódios de exacerbação. LAMA Pneumologia Nathállia Machado Tut 01 – Med FTC 22.1 O LAMA é o mais adequado uma vez que o problema do paciente é a exacerbação e não sintomas e o efeito desse medicamento é justamente para redução de exacerbação. Reavaliar -> se persistência -> associar com LABA. Se paciente com histórico de asma na infância ou atopia -> associar LABA + CI – corticóide inalatório. Paciente do Grupo D: Pacientes com muitos sintomas e que exacerbam com maior frequência. LABA + LAMA Reavaliar, se persistência: LABA + LAMA + CI. Se ainda persistir: LABA + LAMA + CI + macrolídeo (azitromicina) ou roflumilaste. - Tratamento Cirúrgico Medida mais restrita reservada para os pacientes que forem refratários ao tratamento farmacológico, não é uma opção muito utilizada.
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