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Técnico em Biblioteca Luciana de Santana Fernandes 2013 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Temer Ministro da Educação Aloizio Mercadante Oliva Secretário de Educação Profissional e Tecnológica Marco Antônio de Oliveira Diretor de Integração das Redes Marcelo Machado Feres Coordenação Geral de Fortalecimento Carlos Artur de Carvalho Arêas Governador do Estado de Pernambuco Eduardo Henrique Accioly Campos Vice-governador do Estado de Pernambuco João Soares Lyra Neto Secretário de Educação José Ricardo Wanderley Dantas de Oliveira Secretário Executivo de Educação Profissional Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra Gerente Geral de Educação Profissional Luciane Alves Santos Pulça Gestor de Educação a Distância George Bento Catunda Coordenação do Curso Hugo Carlos Cavalcanti Coordenação de Design Instrucional Diogo Galvão Revisão de Língua Portuguesa Letícia Garcia Diagramação Izabela Cavalcanti INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 3 1.COMPETÊNCIA 01 | DISTINGUIR OS DIFERENTES TIPOS DE LITERATURA ........................... 3 1.1 O que é Arte e para que Ela Serve? ..................................................................... 4 1.1.1 Conceitos e Definições de Arte ........................................................................ 4 1.1.2 A Função da Arte ............................................................................................. 6 1.2 Formas de Expressão Artística ............................................................................ 7 1.2.1 Pintura ............................................................................................................ 7 1.2.2 Escultura ......................................................................................................... 9 1.2.3 Dança ............................................................................................................ 10 1.2.4 Cinema .......................................................................................................... 10 1.2.5 Música........................................................................................................... 10 1.2.6 Fotografia ...................................................................................................... 11 1.2.7 Teatro ........................................................................................................... 11 1.2.8 Literatura ...................................................................................................... 11 1.3 O que é Literatura e para que ela Serve? .......................................................... 11 1.3.1 Conceitos e Definições sobre a Arte Literária ................................................. 12 1.3.2 A Função da Literatura .................................................................................. 14 1.4 A Origem de Nossa Literatura ........................................................................... 15 1.5 Tipos de Literatura ........................................................................................... 18 1.5.1 Literatura Brasileira ....................................................................................... 19 1.5.2 Literatura Brasileira ....................................................................................... 24 1.5.3 Literatura Portuguesa .................................................................................... 31 1.5.4 Literatura Estrangeira .................................................................................... 31 1.5.5 Literatura Infanto-Juvenil no Brasil ................................................................ 31 2.COMPETÊNCIA 02 | DIFERENCIAR OS GÊNEROS LITERÁRIOS ........................................... 33 2.1 Uso da Linguagem Literária e Não Literária ....................................................... 33 2.1.1 Denotação e Conotação................................................................................. 33 2.1.2 Prosa e Poesia ............................................................................................... 35 2.2 Gêneros Literários ............................................................................................ 36 2.2.1 Gênero Épico ................................................................................................. 37 2.2.2 Gênero Dramático ......................................................................................... 39 Sumário 2.2.3 Gênero Lírico ................................................................................................. 42 2.2.4 Gênero Narrativo........................................................................................... 42 2.3 Leitura .............................................................................................................. 45 2.3.1 A Importância da Leitura ............................................................................... 45 2.3.2 O Papel do Bibliotecário ................................................................................ 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 51 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 52 MINICURRÍCULO DO PROFESSOR ....................................................................................... 54 3 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia INTRODUÇÃO Prezado (a) cursista, O caminho da arte literária pode conduzir o ser humano à sensibilidade e ainda permitir o conhecimento da história do passado por meio da Literatura. Para o mercado de trabalho do Técnico em Biblioteconomia, a disciplina proporciona elementos substanciais para o encontro com a arte, através de gêneros literários distintos e que precisam ser organizados em uma biblioteca de forma que fique acessível ao usuário da informação. Dessa forma, a disciplina de Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia pretende trazer conteúdos voltados às diversas formas de expressão artísticas, o que é literatura e para que ela serve, os principais gêneros literários, dentre outros. Nesta competência estudaremos o conceito de literatura, sua função e seus tipos. Porém, sabendo que literatura é arte, antes de começarmos a discutir esses pontos, vamos refletir um pouco sobre o conceito de arte e suas diversas manifestações. Para isso, proponho que você assista, primeiramente, a uma cena do filme O sorriso de Monalisa, produzido em 2002, que traz como protagonista a atriz Julia Roberts. Veja o link no Box abaixo. Depois, vamos fazer um passeio por alguns tipos de literatura: brasileira, portuguesa, estrangeira, pernambucana e infanto-juvenil. Seja bem-vindo (a)! Para Refletir: www.youtube.com/ watch?v=rXJHvW_n VOc http://www.youtube.com/watch?v=rXJHvW_nVOc http://www.youtube.com/watch?v=rXJHvW_nVOc http://www.youtube.com/watch?v=rXJHvW_nVOc 4 Técnico em Biblioteca 1.COMPETÊNCIA 01 | DISTINGUIR OS DIFERENTES TIPOS DE LITERATURA 1.1O que é Arte e para que Ela Serve? 1.1.1 Conceitos e Definições de Arte Gostou da cena do filme? Ela traz uma discussão muito interessante sobre o conceito de arte. Mas, afinal, o que é arte? É difícil chegar a um conceito, pois definir o que é arte ou não depende de muitas variáveis: o momento histórico, a sociedade e a cultura desta, entre outros fatores. O que num momento é considerado feio egrotesco, em outro é considerado arte. Observe a Figura 1: Figura 1- O homem amarelo (1915-16) de Anita Malfatti (1889 – 1964) Fonte: http://obrasanitamalfatti.wordpress.com/ Este quadro expressionista foi pintado pela artista Anita Malfatti. Foi exposto pela primeira vez em 1917. Mas, se hoje é considerado um fruto importante da arte moderna, na época, junto a outros em exibição, recebeu uma crítica severa do escritor Monteiro Lobato, em artigo intitulado “Paranóia ou mistificação”, publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 20 de dezembro de 1917. (Disponível em, www.pitoresco.com/brasil/anita/lobato.htm) O belo foi considerado um critério de valoração da arte, pela primeira vez, pelos gregos. Entretanto, o próprio conceito de belo artístico mudou com a O Expressionismo é um movimento de vanguarda artística e cultural que teve origem na pintura em Viena no começo do Séc. XX. Caracterizou-se pelas expressões do subconsciente do artista numa fantástica visão do eu retratada nas obras artísticas, num diálogo profundo com a ciência psicanalítica de Freud e Jacques Lacan. Não é mais o homem o senhor de seu próprio destino: ele é antes de tudo governado por forças subconscientes que regem a conduta de suas ações. Saiba mais em: http://pt.wikipedia. org/wiki/Expression ismo Competência 01 http://obrasanitamalfatti.wordpress.com/ http://www.pitoresco.com/brasil/anita/lobato.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Expressionismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Expressionismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Expressionismo 5 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia passagem dos séculos. Para comprovar isso, pegue uma foto antiga e veja como as pessoas se vestiam, como se penteavam. Com certeza você achará o estilo dessas pessoas bem estranho ou até mesmo feio. Dessa forma, o que é feio para um, poderá ser bonito para outra pessoa. Com o passar do tempo, os padrões artísticos vão mudando. Como vimos na Figura 01, a obra de arte pode até não ser bela, mas é certo que ela expressa contradições humanas. Então, o que é arte? Desde a antiguidade que o ser humano cria maneiras de melhorar sua vida, de se comunicar e de expressar suas ideias e sentimentos. Para isso, ele recria sua realidade e utiliza várias linguagens e materiais para deixar a sua marca: Figura 02 – Nossa Senhora das Dores Fonte: www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2007/espaco82ago /0cultura01.htm Figura 03 – Dança Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dan%C3%A7a Competência 01 http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2007/espaco82ago%20/0cultura01.htm http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2007/espaco82ago%20/0cultura01.htm http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2007/espaco82ago%20/0cultura01.htm http://pt.wikipedia.org/wiki/Dan%C3%A7a 6 Técnico em Biblioteca O homem é o único ser vivo que produz arte. Assim, numa simplificação, podemos dizer que arte é toda manifestação humana, sem uma utilidade prática em si, mas que é produto da expressão do homem sobre si e sobre o mundo, e que reflete ou transgride os padrões de uma época. 1.1.2 A Função da Arte Até aqui, discutimos o conceito de arte. Aprendemos que ela só é produzida pelo ser humano e não necessariamente segue padrões de beleza bem definidos. Agora, refletiremos sobre outra pergunta: qual a função da arte? Já falamos que o ser humano expressa seus sentimentos e ideias através da arte. Dessa forma, podemos dizer que essa é sua primeira função. O autor Ernst Fischer, no livro “A necessidade da arte” (1976), foi mais longe e disse que a arte é uma necessidade humana e que sempre o será, independente das mudanças: A arte concebida como “substituto da vida”, a arte concebida como o meio de colocar o homem em estado de equilíbrio com o meio circundante - trata-se de uma idéia que contém o reconhecimento parcial da natureza da arte e da sua necessidade. Desde que um permanente equilíbrio entre o homem e o mundo que o circunda não pode ser previsto nem para a mais desenvolvida das sociedades, trata-se de uma idéia que sugere, também, que a arte não só é necessária e tem sido necessária, mas igualmente que a arte continuará sendo sempre necessária. (FISCHER, 1976, p. 11). Além de ser uma necessidade para a completude humana, a arte também é um meio de diversão. Quando vamos ao teatro assistir a uma peça, ao cinema ver um filme, ou quando escutamos uma música, lemos um livro, dançamos em uma festa, estamos desfrutando de uma das principais funções artísticas: a fruição ou diversão. Por meio da obra artística podemos também nos Competência 01 7 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia comunicar com as outras pessoas, além de fazê-las pensar sobre suas vidas. Ao lermos um livro, estamos nos comunicando com o autor da obra, descobrimos suas ideias, interpretamos o que nos é semelhante e o que nos é estranho, ficamos emocionados. Ainda, a arte pode ser usada para denúncia social. Sendo o artista a má consciência de seu tempo, é ele quem primeiro percebe as mudanças, aquilo que está errado na sociedade, e, por meio de sua obra, denuncia. No quadro Guernica (Figura 04), Pablo Picasso denuncia todo horror do bombardeio à cidade espanhola de Guernica, em 26 de abril de 1937: Figura 04 – Guernica (1937) de Pablo Picasso Fonte: www.museupicasso.bcn.cat/en/ Portanto, entre outras funções, a arte é meio de expressão e comunicação humana, serve para divertir e denunciar fatos sociais. 1.2 Formas de Expressão Artística Como já dissemos, o ser humano pode se expressar artisticamente de diversas maneiras. Para isso, utilizará várias linguagens. Vamos conhecer algumas delas? 1.2.1 Pintura A pintura é uma das mais antigas linguagens artísticas. Tinha na antiguidade Pablo Picasso (1881 – 1973), pintor espanhol co- fundador do movimento Cubista. SAIBA MAIS! http://pt.wikipedia. org/wiki/Pablo_Pica sso, www.picasso.fr/fr/p icasso_page_index. php, www.picasso.com/, www.museupicasso .bcn.cat/en/ www.youtube.com/ watch?v=ODwu7UJf SP0 www.youtube.com/ watch?v=sh70SiwjN Nw Competência 01 http://www.museupicasso.bcn.cat/en/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Picasso http://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Picasso http://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Picasso http://www.picasso.fr/fr/picasso_page_index.php http://www.picasso.fr/fr/picasso_page_index.php http://www.picasso.fr/fr/picasso_page_index.php http://www.picasso.com/ http://www.museupicasso.bcn.cat/en/ http://www.museupicasso.bcn.cat/en/ http://www.youtube.com/watch?v=ODwu7UJfSP0 http://www.youtube.com/watch?v=ODwu7UJfSP0 http://www.youtube.com/watch?v=ODwu7UJfSP0 http://www.youtube.com/watch?v=sh70SiwjNNw http://www.youtube.com/watch?v=sh70SiwjNNw http://www.youtube.com/watch?v=sh70SiwjNNw 8 Técnico em Biblioteca uma função mágico-religiosa. Já no Paleolítico, o homem pré-histórico pintava cenas do seu cotidiano nas paredes das cavernas com a intenção (é o que alguns historiadores acreditam) de ter sorte nas caçadas. Figura 05 – Pintura rupestre Fonte: http://tempodoshomens.blogspot.com.br/2011/04/arte- rupestre.html Às pinturas produzidas nas cavernas convencionou-se chamar de arte rupestre. Para obter os pigmentos, o homem utilizava carvão, sangue e resina de algumas árvores, além de óxido de ferro e de magnésio. Com o passar do tempo, a pintura foi se desvencilhando da função mágica e caminhando para um papel representativo e decorativo. Assim, o pintor levará em consideração elementos como: luz, traço, forma, espaço e cor. Como esses elementos serão usados dependerá do momento histórico e do estilo do artista. Os padrões, as técnicas, os temas a serem seguidosvariam conforme a época. Figura 06 – Mona Lisa (1503- 1506) também conhecida como A Gioconda, de Leonardo da Vinci (1452 - 1519) Fonte: www.wikipaintings.org/en/leonardo-da-vinci/mona-lisa Competência 01 http://tempodoshomens.blogspot.com.br/2011/04/arte-rupestre.html http://tempodoshomens.blogspot.com.br/2011/04/arte-rupestre.html http://www.wikipaintings.org/en/leonardo-da-vinci/mona-lisa 9 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Figura 07 – Le pont de Giverny (1907) de Claude Monet (1840 – 1926) Fonte: http://algarve-saibamais.blogspot.com.br/2010/12/claude-monet- um-dos-maiores-pintores.html Percebeu as diferenças entre as duas pinturas? A Figura 06 apresenta traços mais bem definidos e uma profundidade maior. Além disso, há um jogo entre cores claras e escuras. Já a Figura 07 foi feita por meio de pontos. Há mais cores e a pintura é mais plana que a primeira. Essas características são as marcas estilísticas de cada obra. 1.2.2 Escultura A princípio, a escultura tinha um papel religioso e utilitário. Os antigos representavam suas divindades em pedra, madeira, osso, marfim ou metal. Durante o período pré-histórico, as estatuetas mais conhecidas eram as de Vênus, figuras de mulheres com formas arredondadas e nas quais se destacavam as partes do corpo relacionadas à procriação. Outras peças eram usadas para as atividades diárias e apresentavam desenhos simbólicos: Figura 08 – Vénus de Willendorf Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A9nus_de_Willendorf Competência 01 http://algarve-saibamais.blogspot.com.br/2010/12/claude-monet-um-dos-maiores-pintores.html http://algarve-saibamais.blogspot.com.br/2010/12/claude-monet-um-dos-maiores-pintores.html http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A9nus_de_Willendorf 10 Técnico em Biblioteca Figura09 – Instrumentos Paleolíticos Fonte: http://superneandertal.wordpress.com/page/13/ Nesta linguagem artística, os elementos importantes são o volume e o espaço. 1.2.3 Dança Além de ser uma das artes mais antigas, é a única que não depende de ferramentas ou materiais para ser reproduzida. É instrumento de expressão humana que manifesta seus sentimentos de tristeza, alegria, religiosidade e revolta. Estão presentes na dança o ritmo, a harmonia e o movimento. 1.2.4 Cinema Seus criadores são os irmãos Louis e Auguste Lumière. Sua criação se deu no final do século XIX, na França. Hoje é uma das principais atrações da indústria do entretenimento. Seus elementos mais importantes são a imagem e o som. Muitos filmes se inspiram na Literatura para desenvolver seus temas. 1.2.5 Música Acredita-se que a música tenha surgido há 50 mil anos. É uma das mais universais manifestações artísticas. Simplificadamente, podemos dizer que ela resulta da combinação harmônica de sons e silêncio, em um ritmo determinado. Assista ao vídeo: www.youtube.com/ watch?v=pCXXAs2 MSt4 Competência 01 http://superneandertal.wordpress.com/page/13/ http://www.youtube.com/watch?v=pCXXAs2MSt4 http://www.youtube.com/watch?v=pCXXAs2MSt4 http://www.youtube.com/watch?v=pCXXAs2MSt4 11 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia 1.2.6 Fotografia Surgiu em meados do século XIX, na França, mas se popularizou apenas no final do mesmo século. Sua classificação como arte ainda gera discussões e os elementos importantes e diferenciadores são a luz, a forma e a imagem. 1.2.7 Teatro Sobre a origem do teatro há várias teorias. Alguns teóricos vão dizer que ele surgiu na Pré-história durante as perfomances ritualísticas. Outros vão remetê-lo às festas da colheita na Grécia, nas quais se homenageava o deus Dionísio, divindade da colheita, do vinho e do comércio. Mas é certo que o teatro grego será um grande marco para a arte ocidental. Os textos encenados eram, principalmente, adaptações para o teatro dos mitos e lendas, passados de geração em geração através da oralidade. O gênero mais valorizado na época era a tragédia, já que, segundo Aristóteles em sua Poética, configurava-se como a representação de caracteres superiores e tinha o poder da catarse1. O riso não era considerado um comportamento de bom gosto, daí a comédia ser um gênero menos valorizado. Seus personagens eram pessoas comuns, do povo, representadas em situações consideradas ridículas para a época. 1.2.8 Literatura Quanto a essa manifestação artística, trataremos mais especificamente no próximo tópico. 1.3O que é Literatura e para que ela Serve? Até o momento, discutimos o conceito de arte e suas manifestações. Agora, começaremos a conversar sobre “O que é literatura?” “Qual a sua função na sociedade?”. Você sabe? 1Do grego kátharsis, quer dizer purgação, purificação. Competência 01 12 Técnico em Biblioteca 1.3.1 Conceitos e Definições sobre a Arte Literária O termo literatura tem sido usado indistintamente por diversas áreas do conhecimento humano. É fácil encontramos expressões como, “literatura médica”, “literatura farmacêutica”, “literatura filosófica”. De acordo com Massaud Moisés (2004), em seu Dicionário de Termos Literários, a confusão acontece pela associação do termo com texto escrito. Entretanto, a literatura, em seu sentido primeiro, não se constitui em conhecimento científico, pois não é sua pretensão provar verdades por meio da experiência. Ela também não pode ser confundida com a história, já que não necessariamente pretende ser um registro documental2. Também não é sociologia ou antropologia, apesar de ter como matéria a sociedade e seus tipos humanos. Tão pouco a literatura pode ser restrita a uma disciplina escolar, pois se configura em algo mais amplo que transpõe os portões escolares. Palavra cunhada do termo latino littera (letra), a literatura é arte que toma como material de produção cultural a palavra, seja ela na modalidade escrita ou oral. A arte literária tem como função principal a recriação, pela palavra artística, da realidade, ou seja, a representação do mundo referencial perpassado pela subjetividade do autor. Veja o poema de Vinicius de Morais: 2 Há muitas controvérsias entre os teóricos de ambas áreas, pois, em alguns casos, o texto literário é o único registro de uma época. Boa parte do nosso conhecimento sobre a Grécia antiga, por exemplo, provém das suas narrativas épicas. Competência 01 13 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Figura 10 – Poema Rosa de Hiroshima, de Vinicius de Moraes Fonte: http://fernandodezena.arteblog.com.br/459493/Rosa-de-Hiroshima/ No poema, o poeta, a começar do título, usa a palavra em sentido conotativo. A dita rosa faz referência ao cogumelo radioativo (Figura11) que surgiu após a explosão de uma bomba nuclear, na cidade de Hiroshima, em 1945. Aqui, o fato histórico é transformado em arte, que, usando linguagem polifônica, ou seja, aquela perpassada pelos diversos discursos sociais, leva o leitor a uma reflexão sobre as circunstâncias e consequências do fato histórico por meio da estimulação da emoção e do sentimento. Esse uso especial e criativo da linguagem marca a diferença entre o texto artístico e o texto prosaico3. Figura 11 – Cogumelo atômico de Hiroshima (06/08/1945) Fonte: http://topazio1950.blogs.sapo.pt/80413.html 3Chamamos de texto prosaico aquele que não é artístico. "Rosa de Hiroshima" é o título de música lançada no ano de 1973, no disco de estreia do grupo Secos e Molhados. O poemade Vinicius de Moraes foi musicado por Gerson Conrad, ganhando notoriedade na interpretação de Ney Matogrosso. Veja mais: www.youtube.com/ watch?v=1_GvcQTN EJE Competência 01 http://fernandodezena.arteblog.com.br/459493/Rosa-de-Hiroshima/ http://topazio1950.blogs.sapo.pt/80413.html http://www.youtube.com/watch?v=1_GvcQTNEJE http://www.youtube.com/watch?v=1_GvcQTNEJE http://www.youtube.com/watch?v=1_GvcQTNEJE 14 Técnico em Biblioteca Convidamos você, agora, a estudar mais especificamente as características da linguagem literária. Vamos lá? Sendo a realidade tornada ficção, a literatura não se constitui em uma mentira, mas em mimeses, isto é, imitação. Assim, para estudar o texto literário, o teórico precisará lançar mão de uma bibliografia interdisciplinar, pois a arte da palavra lida com aspectos históricos, científicos e antropológicos, entre outros, apesar de não se constituir emnenhum desses campos das ciências humanas. Sobre os temas, até pouco tempo acreditava- se que existiam temas pertinentes ao fazer literário, como o amor. A partir do movimento modernista, esse último paradigma é quebrado. Qualquer assunto passou a ser um possível tema para a composição literária. Chamamos de Estilo de Época as características comuns, presentes em um conjunto de obras, de vários escritores de uma mesma época. Os artistas contemporâneos apresentam semelhanças no modo como utilizam a linguagem, a visão que apresentam do mundo e também quanto aos temas explorados. Já o estilo individual é o modo particular na utilização da língua e na representação dos temas de uma época. 1.3.2 A Função da Literatura Como manifestação artística, a literatura apresentará várias funções. Vamos estudá-las? 1. Expressar sentimentos, ideias e emoções humanas – por meio do texto literário, o escritor pode expressar a sua subjetividade, comoele vê o mundo, que percepção ele tem das relações sociais e os sentimentos que ele traz. E isso nos ajuda a despertar nossas próprias percepções. 2. Comunicar – através da literatura, podemos nos comunicar com pessoas de lugares e de época diferentes. . Ainda hoje nos deliciamos com a leitura dos textos homéricos, por exemplo. Competência 01 15 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia 3. Fruição – ninguém poderá negar que, ao ler um livro, nos transportamos para épocas diferentes e lugares que talvez nunca poderíamos ir. E isso nos dá prazer e diversão no momento da leitura. 4. Fazer denúncia social – através da sensibilidade artística, o leitor é convidado a meditar sobre aspectos sociais. Se você já leu o livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos, por exemplo, será impelido a não se conformar com a situação subumana a que estão abandonados tantos sertanejos. 1.4 A Origem de Nossa Literatura A literatura brasileira teve sua origem no gênero epistolar, ou seja, seu primeiro texto é a Carta, escrita por Pero Vaz de Caminha, a D.Manuel, rei de Portugal. Através do olhar do cronista, nem sempre fiel à realidade, podemos conhecer as primeiras impressões que os portugueses tiveram do nosso país e dos índios. E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram (CAMINHA, 1500). Dessa forma, considerando que o Brasil foi colônia de Portugal, não há como dissociar a origem da literatura brasileira da literatura portuguesa. A exemplo de Caminha, muitos dos viajantes que vieram ao Brasil manifestaram suas percepções sobre a terra e ospovos nativos em cartas, crônicas e tratados. Ao conjunto dessa obra, que pretendia principalmente informar, denominamos literatura de informação. Esses textos, obedecendo a uma visão etnocêntrica Competência 01 16 Técnico em Biblioteca (ou seja, centrados na visão de uma etnia; nesse caso, a branca e europeia), não raras vezes, estavam carregados de preconceitos contra a cultura dos indígenas, aos quais os europeus classificavam como bárbaros. Muitos deles ou quase a maior parte dos que andavam ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços. E alguns, que andavam sem eles, tinham os beiços furados e nos buracos uns espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha; outros traziam três daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos cabos. Aí andavam outros, quartejados de cores, a saber, metade deles da sua própria cor, e metade de tintura preta, a modos de azulada; e outros quartejados de escaques. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha. Ali por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbaria deles ser tamanha, que se não entendia nem ouvia ninguém (CAMINHA, 1500). Também nessa época, chegam os primeiros jesuítas, com o objetivo de expandir a fé cristã católica no novo continente. Nesse cenário, ganha destaque o Padre José de Anchieta. Ele escreveu poemas, cartas e peças teatrais. Mas é pelo último gênero que ficou mais conhecido. Suas peças teatrais, de cunho pedagógico e moralizante, eram encenadas em português, espanhol e tupi a fim de atingir o público heterogêneo da Colônia. Pelos seus autos à moda de Gil Vicente, Anchieta ensinava sobre os valores cristãos com o objetivo de converter os nativos e preservar a fé dos europeus residentes em nossas terras. Esse grupo de obras, com o intuito catequético, convencionou-se chamar literatura de catequese. Enquanto Colônia, o Brasil seguia os passos dos movimentos literários portugueses. Alguns dos autores da Metrópole, inclusive, são adicionados ao Competência 01 17 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia rol das primeiras manifestações literárias brasileiras. Este é o caso de Padre Antonio Vieira, que, apesar de ter nascido português, é classificado como literatura brasileira por tratar de temas pertinentes à nossa terra. Com a Independência do Brasil, e sob a influência dos ideais da Revolução francesa de liberdade, igualdade e fraternidade, começa a se produzir em nosso país uma literatura de cunho nacional. Os autores dessa época usavam a literatura para atingir a valorização dos aspectos nacionais. Assim, em 1836, é publicado o primeiro texto romântico brasileiro, de autoria de Gonçalves de Magalhães, chamado “Suspiros poéticos e saudades”. (Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/suspiros_poeticos.pdf) Por um aspecto prático e didático, a literatura brasileira é dividida em manifestações literárias do período colonial (literatura colonial) e literatura nacional. Dessa forma, numa perspectiva histórica e estética, estudamos: Competência 01 http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/suspiros_poeticos.pdf 18 Técnico em Biblioteca Figura 12 – Quadro comparativo Fonte: O autor (2012) 1.5 Tipos de Literatura Considerando que este curso é voltado para pessoas que trabalham ou pretendem atuar em bibliotecas, acreditamos ser importante uma reflexão sobre os principais tipos de literatura presentes nesses locais e alguns dos autores importantes de cada categoria. SAIBA MAIS!! Cartade Pero Vaz de Caminha http://objdigital.bn. br/Acervo_Digital/Li vros_eletronicos/ca rta.pdf Competência 01 http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf 19 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia 1.5.1 Literatura Brasileira Compõe-se de todas as obras literárias de autoria de escritores brasileiros, naturais ou naturalizados, que têm como tema os aspectos culturais brasileiros. Observe o quadro: Competência 01 20 Técnico em Biblioteca Figura 13 - Cronologia e características dos movimentos literários Fonte: www.cmjf.com.br/cmjf24horas/aluno/material/1181602541.doc SAIBA MAIS! www.infoescola.co m/biografias/pero- vaz-de-caminha/ Competência 01 21 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Dessa forma, destacamos os seguintes autores: Pero Vaz de Caminha: Escreveu o primeiro texto literário brasileiro, de caráter epistolar, considerado a certidão de nascimento de nosso país. Padre José de Anchieta: É o principal representante da literatura de catequese. Sua obra é composta de cartas, poemas, uma gramática de língua tupi e autos. Entre seus títulos destacamos: Poema à Virgem, Os feitos de Mem de Sá, Arte e gramática da língua mais usada na costa do Brasil, Auto de São Lourenço, Auto da Pregação Universal, Na festa de natal. Bento Teixeira: Apesar de Português, veio morar no Brasil muito jovem. Escreveu o primeiro texto barroco do Brasil, Prosopopeia, em 1601, poema épico que versa sobre a vida do terceiro donatário da capitania de Pernambuco, Jorge Albuquerque Coelho. Gregório de Matos Guerra: Nasceu em Salvador - Bahia, em 7 de abril de 1636. Faleceu em Pernambuco, em 1696. Sua obra é composta por poemas cultistas e conceptistas, de ordem lírica, religiosa e satírica. Por causa de seus poemas satíricos, foi expulso da Bahia, para onde não pode mais retornar; além de ter sido apelidado com a alcunha de “Boca do Inferno”. Sua obra somente foi publicada no século XX, entre 1923 e 1933, pela Academia Brasileira de Letras, em seis volumes: I. Sacra, II. Lírica, III. Graciosa, IV e V. Satírica, VI. Última. Padre Antonio Vieira: Nascido em Portugal, mas tendo sua obra voltada aos temas brasileiros, é um dos autores elencados como parte da literatura barroca brasileira e portuguesa. Escreveu cartas, profecias e sermões conceptistas, pelos quais ficou mais conhecido. Assim, destacamos entre seus textos: Sermão da sexagésima, Sermão de Santo Antônio aos peixes, Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, Sermão do bom ladrão. SAIBA MAIS!! Padre José de Anchieta http://educacao.u ol.com.br/biografi as/jose-de- anchieta.jhtm Bento Teixeira http://educacao.uol .com.br/biografias/ bento-teixeira.jhtm SAIBA MAIS!! Padre Antônio Vieira http://educacao.uol .com.br/biografias/ antonio-vieira.jhtm Tomás Antônio Gonzaga www.jornaldepoesi a.jor.br/tomaz.html http://educacao.uol .com.br/biografias/t omas-antonio- gonzaga.jhtm Competência 01 http://educacao.uol.com.br/biografias/jose-de-anchieta.jhtm http://educacao.uol.com.br/biografias/jose-de-anchieta.jhtm http://educacao.uol.com.br/biografias/jose-de-anchieta.jhtm http://educacao.uol.com.br/biografias/jose-de-anchieta.jhtm http://educacao.uol.com.br/biografias/bento-teixeira.jhtm http://educacao.uol.com.br/biografias/bento-teixeira.jhtm http://educacao.uol.com.br/biografias/bento-teixeira.jhtm 22 Técnico em Biblioteca Tomás Antônio Gonzaga: Nasceu na Cidade do Porto – Portugal, mas veio morar no Brasil ainda na infância. Seus textos mais importantes são: Marília de Dirceu, poema lírico inspirado em seu romance com Maria Doroteia, e Cartas chilenas, obra na qual ele satiriza o governador de Minas Gerais. Cláudio Manuel da Costa: Poeta nascido em Minas Gerais, traz para sua poesia árcade elementos da topografia mineira. Inconfidente, sua morte em uma prisão de Vila Rica (Ouro Preto), em 1789, ainda é discutida entre as ossibilidades de suicídio e assassinato. Obra: Culto métrico, Munúsculo métrico, Epicédio, Obras, O parnaso obsequioso, Vila Rica, Poesiasmanuscritas. Gonçalves Dias: Importante escritor romântico da primeira fase, destaca- se por seus poemas líricos e nacionalistas. Em sua obra temos: Primeiros Cantos, Leonor de Mendonça, Segundos Cantos, Meditação, Últimos Cantos, Cantos, Os Tymbiras, Dicionácio da Língua Tupi. Álvares de Azevedo: Morto prematuramente aos 21 anos, é o mais importante representante da literatura ultrarromântica. Escreveu apenas quatro livros: Lira dos vinte anos (antologia poética), Noite na taverna (contos fantásticos), Macário (teatro) e O conde Lopo (poema épico). José de Alencar: Mais completo escritor romântico brasileiro, publicou em vários gêneros: romance, teatro, crônicas e cartas. Entre seus livros: Iracema, Cinco minutos, O guarani, A viuvinha, O demônio familiar, Senhora, Lucíola, Ao correr da pena. Joaquim Manuel de Macedo: Importante representante do Romantismo brasileiro. O texto mais conhecido é A moreninha, de 1844. Machado de Assis: Mais que grande representante do Realismo brasileiro, é intitulado o grande gênio da nossa literatura. Escreveu romances, crítica e variedade, contos, poemas e textos teatrais. Em sua obra ressaltamos: SAIBA MAIS!! Cláudio Manoel da Costa http://educacao.uol .com.br/biografias/ claudio-manuel-da- costa.jhtm Gonçalves Diashttp://www.br asiliana.usp.br/nod e/375 Álvares de Azevedo http://educacao.uol .com.br/biografias/ alvares-de- azevedo.jhtm José de Alencar http://www.brasilia na.usp.br/node/416 Joaquim Manoel de Macedo http://educacao.uol .com.br/biografias/j oaquim-manuel-de- macedo.jhtm Machado de Assis http://machado.me c.gov.br/ Vídeo: http://www.youtub e.com/watch?v=T8 GC8DmA9Js Aluísio de Azevedo http://educacao.uol .com.br/biografias/ aluisio- azevedo.jhtm Competência 01 http://educacao.uol.com.br/biografias/claudio-manuel-da-costa.jhtm http://educacao.uol.com.br/biografias/claudio-manuel-da-costa.jhtm http://educacao.uol.com.br/biografias/claudio-manuel-da-costa.jhtm http://educacao.uol.com.br/biografias/claudio-manuel-da-costa.jhtm http://www.brasiliana.usp.br/node/375 http://www.brasiliana.usp.br/node/375 http://www.brasiliana.usp.br/node/375 http://www.brasiliana.usp.br/node/375 http://www.brasiliana.usp.br/node/416 http://www.brasiliana.usp.br/node/416 http://www.youtube.com/watch?v=T8GC8DmA9Js http://www.youtube.com/watch?v=T8GC8DmA9Js http://www.youtube.com/watch?v=T8GC8DmA9Js 23 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Quincas Borba, Esaú e Jacó, Memorial de Aires, Lição de botânica. Aluísio de Azevedo: Escritor representativo do movimento naturalista no Brasil, foi o primeiro a viver, por um tempo, da publicação de seus romances. Destacam-se seus livros O mulato e O cortiço. Lima Barreto: Foi crítico impiedoso da República Velha, desvencilhando-se do nacionalismo ufanista. Entre seus tipos humanos representativos temos o carioca. Seu livro mais conhecido é Triste fim de Policarpo Quaresma, em que revela os horrores e contradições do governo de Floriano Peixoto. Publicou também contos. Mário de Andrade: Chamado de o “papa do Modernismo”, idealizou movimento junto a Oswald de Andrade. Sua publicação de mais destaquefoi Macunaíma, a história de um índio que nasce negro e que posteriormente fica branco, quando se lava numa lagoa encantada. Este, assim, é o genuíno representante da união das três raças que formaram o povo brasileiro. Ariano Suassuna: Autor paraibano de nascimento, porém naturalizado pernambucano, Ariano Suassuna é um dos principais expoentes de nossa literatura. Fundador do Movimento Armorial, acredita na valorização da cultura popular e em sua incorporação pela dita “cultura erudita”. Assim, seus textos trazem vários tipos presentes na literatura de cordel: o sertanejo, o padre, o padeiro, a mulher adúltera. Obra: Auto da Compadecida, O santo e a porca, A pena e a lei, Uma mulher vestida de sol, entre outros títulos. Jorge Amado: Foi o autor brasileiro mais traduzido e sua obra uma das mais adaptadas pela televisão e pelo cinema. Destacamos: Mar morto; Capitães de areia; Jubiabá; Grabriela, cravo e canela; Tieta do agreste; Dona flor e seus dois maridos. SAIBA MAIS! Lima Barreto www.culturabrasil.o rg/limabarreto.htm Mário de Andrade http://educacao.uol .com.br/biografias/ mario-de- andrade.jhtm Ariano Suassuna http://educacao.uol .com.br/biografias/ ariano- suassuna.jhtm Jorge Amado http://www.jorgea mado.org.br/ Competência 01 24 Técnico em Biblioteca 1.5.2 Literatura Brasileira João Cabral de Melo Neto Nascido no Recife em janeiro de 1920. Chamado de “o poeta engenheiro”, inaugura um novo modo de fazer poesia, que exclui o adjetivo desnecessário e foge à musicalidade. São temáticas de sua poesia o próprio fazer poético, o nordeste e paisagens do Recife, como no poema O cão sem plumas, no qual o poeta personifica o Rio Capibaribe: O CÃO SEM PLUMAS I / PAISAGEM DO CAPIBARIBE A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro; uma fruta por uma espada. O rio ora lembrava a língua mansa de um cão ora o ventre triste de um cão, ora o outro rio de aquoso pano sujo dos olhos de um cão. Aquele rio era como um cão sem plumas. Nada sabia da chuva azul, da fonte cor-de-rosa, da água do copo de água, da água de cântaro, dos peixes de água, da brisa na água. Sabia dos caranguejos de lodo e ferrugem. Sabia da lama Competência 01 25 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia como de uma mucosa. Devia saber dos povos. Sabia seguramente da mulher febril que habita as ostras. Aquele rio jamais se abre aos peixes, ao brilho, à inquietação de faca que há nos peixes. Jamais se abre em peixes. Abre-se em flores pobres e negras como negros. Abre-se numa flora suja e mais mendiga como são os mendigos negros. Abre-se em mangues de folhas duras e crespos como um negro. Liso como o ventre de uma cadela fecunda, o rio cresce sem nunca explodir. Tem, o rio, um parto fluente e invertebrado como o de uma cadela. E jamais o vi ferver (como ferve o pão que fermenta). Em silêncio, o rio carrega sua fecundidade pobre, grávido de terra negra. Em silêncio se dá: em capas de terra negra, em botinas ou luvas de terra negra para o pé ou a mão Competência 01 26 Técnico em Biblioteca que mergulha. Como às vezes passa com os cães, parecia o rio estagnar-se. Suas águas fluíam então mais densas e mornas; fluíam com as ondas densas e mornas de uma cobra. Ele tinha algo, então, da estagnação de um louco.] Algo da estagnação do hospital, da penitenciária, dos asilos, da vida suja e abafada (de roupa suja e abafada) por onde se veio arrastando. Algo da estagnação dos palácios cariados, comidos de mofo e erva-de-passarinho. Algo da estagnação das árvores obesas pingando os mil açucares das salas de jantar pernambucanas, por onde se veio arrastando. (É nelas, mas de costas para o rio, que “as grandes famílias espirituais” da cidade chocam os ovos gordos de sua prosa. Na paz redonda das cozinhas, ei-las a revolver viciosamente seus caldeirões de preguiça viscosa). Seria a água daquele rio fruta de alguma árvore? Competência 01 27 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Por que parecia aquela uma água madura? Por que sobre ela, sempre, como que iam pousar moscas? Aquele rio saltou alegre em alguma parte? Foi canção ou fonte em alguma parte? Por que então seus olhos vinham pintados de azul nos mapas? O cão sem plumas, 1949-1950 Fazem parte de sua obra ainda: Pedra do sono, O engenheiro, Auto do frade, Dois parlamentos, A educação pela pedra, Morte e vida severina. Osman Lins:O pernambucano é autor de contos, romances, narrativas, livro de viagens e peças de teatro. Seu romance Avalovara (1973) é uma das maiores obras universais de arquitetura narrativa, construído a partir de um palíndromo latino dentro de uma espiral a partir dos quais vão sendo desenvolvidos todos os capítulos do livro. Seu livro Lisbela e o prisioneiro ficou muito conhecido a partir de sua adaptação para o cinema. Gilvan Lemos: O escritor nasceu em São Bento do Una, no agreste de Pernambuco. Publicou contos, novelas e romances. Seus principais livros são: Os pardais estão voltando, Emissários do diabo, Enquanto o rio dorme, Morcego cego, A noite dos abraçados, O anjo do quarto dia, no qual envereda pela narrativa fantástica. Manuel Bandeira: Grande poeta do Modernismo brasileiro, nasceu no Recife, em 1886. Seus versos falam sobre o cotidiano, o próprio fazer poético, o amor e erotismo, a infância no Recife. Competência 01 28 Técnico em Biblioteca EVOCAÇÃO DO RECIFE Recife Não a Veneza americana Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais Não o Recife dos Mascates Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois - Recife das revoluções libertárias Mas o Recife sem história nem literatura Recife sem mais nada Recife da minha infância A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras mexericos namoros risadas A gente brincava no meio da rua Os meninos gritavam: Coelho sai! Não sai! A distância as vozes macias das meninas politonavam: Roseira dá-me uma rosa Craveiro dá-me um botão (Dessas rosas muita rosa Terá morrido em botão...) De repente nos longos da noite um sino Uma pessoa grande dizia: Fogo em Santo Antônio! Outra contrariava: São José! Totônio Rodrigues achava sempre que era são José. Os homens punham o chapéu saíam fumando E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo. Rua da União... Competência 01 29 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Como eram lindos os montes das ruas da minha infância Rua do Sol (Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal) Atrás de casa ficava a Rua da Saudade... ...onde se ia fumar escondido Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora... ...onde se ia pescar escondido Capiberibe - Capiberibe Lá longe o sertãozinho de Caxangá Banheiros de palha Um dia eu vi uma moça nuinha no banho Fiquei parado o coração batendo Ela se riu Foi o meu primeiro alumbramento Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu E nos pegões da ponte do trem de ferro os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras Novenas Cavalhadas E eu me deitei no colo da menina e ela começou a passar a mão nos meus cabelos Capiberibe - Capiberibe Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas Com o xale vistoso de pano da Costa E o vendedor de roletes de cana O de amendoim que se chamava midubim e não era torradoera cozido Me lembro de todos os pregões: Ovos frescos e baratos Dez ovos por uma pataca Foi há muito tempo... A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha da boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil Competência 01 30 Técnico em Biblioteca Ao passo que nós O que fazemos É macaquear A sintaxe lusíada A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem Terras que não sabia onde ficavam Recife... Rua da União... A casa de meu avô... Nunca pensei que ela acabasse! Tudo lá parecia impregnado de eternidade Recife... Meu avô morto. Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro como a casa de meu avô. Poema de Manuel Bandeira Foi autor de textos em prosa e em verso. No conjunto de sua obra, encontramos os títulos: A cinza das horas, Carnaval, Estrela da manhã, Estrela da vida inteira, Libertinagem. Raimundo Carrero: Nascido em Salgueiro, no sertão, é jornalista e escritor. Participou ativamente do Movimento Armorial junto a Ariano Suassuna. Seus romances trazem uma carga intimista e análise psicológica. São títulos de sua obra: A história de Bernarda Soledade – a tigre do sertão, Sombra severa, A dupla face do baralho, Sinfonia para vagabundos. Luzilá Gonçalves Ferreira: Professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco, a pernambucana da cidade de Garanhuns traz para sua obra um tom intimista, sob perspectiva do feminino. Obra: Muito além do corpo, A anti-poesia de Alberto Caeiro, Os rios turvos, A garça malferida, No tempo frágil das horas, etc. Poema deManuel Bandeira – Evocação do Recife www.youtube.com/ watch?v=ShUcinuI W7A Competência 01 31 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia 1.5.3 Literatura Portuguesa Composta por escritores portugueses e que falam sobre aspectos da sociedade portuguesa. Aqui, ressaltamos: Luís Vaz de Camões: Importante representante do Classicismo português, escreveu a primeira epopeia em nossa língua – Os lusíadas, na qual trata dos feitos portugueses à época das Grandes Navegações. Também produziu belíssimos sonetos de caráter lírico-amoroso. Camilo Castelo Branco: Foi o primeiro autor português a viver exclusivamente de sua arte. Suas novelas e romances românticos são povoados de amores intensos, por vezes impossíveis, mortes trágicas, além do sofrimento amoroso. Os livros de sua autoria mais conhecidos são Amor de perdição e Amor de salvação. Fernando Pessoa: É tido, junto a Camões, como grande poeta da língua portuguesa. Da sua personalidade criativa surgem os heterônimos, dos quais os mais importantes são: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Como Fernando Pessoa (ele mesmo) publica Mensagem. 1.5.4 Literatura Estrangeira Formada pelas obras universais em língua diferente da portuguesa. Em bibliotecas maiores, é separada por sua língua de origem: literatura inglesa, italiana, espanhola, russa, alemã, etc. 1.5.5 Literatura Infanto-Juvenil no Brasil Monteiro Lobato: Foi o primeiro escritor a produzir histórias para o público infantil no Brasil. Percebeu que não havia narrativas deste tipo em língua portuguesa. Preocupado com a formação de seus filhos, ele mesmo escreve as histórias que até hoje fazem sucesso: As caçadas de Pedrinho, Competência 01 32 Técnico em Biblioteca Reinações de Narizinho, A chave do tamanho, O picapau amarelo, Memórias da Emília, entre outras narrativas. Ana Maria Machado: Teve o reconhecimento mundial de sua obra em 2000, quando recebeu o Prêmio Hans Christian Andersen, o mais importante prêmio de literatura infantil. Na sua obra, ressaltamos: Alguns medos e seus segredos, Menina bonita do laço de fita, Uma vontade louca. Lygia Bojunga: É um dos maiores nomes da literatura infanto-juvenil brasileira e mundial, assim consagrada pela qualidade de sua obra e caracterização da problemática da criança, acuada dentro do núcleo familiar. Obra: A casa da madrinha, Sapato de salto, Nós três, Seis vezes Lucas, A bolsa amarela, entre outros textos. Querido cursista, acreditamos que você percebeu que a divisão feita é básica. Como já comentamos, você poderá classificar e organizar a biblioteca de forma mais específica, inclusive dividindo as obras por gênero: poesia, romance, conto, etc., de acordo com as condições e tamanho da biblioteca. Sobre esses gêneros literários, trataremos no estudo da competência 2. O que aprendemos? Arte é toda manifestação humana, sem uma utilidade prática em si, mas que é produto da expressão do homem sobre si e sobre o mundo, e que reflete ou transgride os padrões de uma época. Literatura é a arte da palavra, seja escrita ou oral. As funções básicas da literatura: expressar sentimentos e ideias, comunicar, divertir, fazer denúncia social. A origem da literatura brasileira está ligada à literatura portuguesa. Na biblioteca, podemos dividir a literatura em: brasileira, portuguesa, estrangeira, pernambucana e infanto-juvenil. Competência 01 33 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia 2.COMPETÊNCIA 02 | DIFERENCIAR OS GÊNEROS LITERÁRIOS Caro cursista, nesta competência aprenderemos a diferenciar os gêneros literários. Quais as características específicas de cada um? Entretanto, antes disso, refletiremos um pouco sobre as características da linguagem literária; como ela pode apresentar-se de forma ambígua e polifônica. Posteriormente ao estudo dos gêneros literários, discorreremos sobre a importância da leitura em consonância com o papel desempenhado pelo técnico em biblioteconomia. Nas seções REFLETINDO e SAIBA MAIS, você encontrará sugestões de links de leituras e vídeos, a fim de que possa aprofundar seu conhecimento sobre o assunto estudado. Assim, espero que aproveitem a leitura. Bom estudo! 2.1Uso da Linguagem Literária e Não Literária 2.1.1 Denotação e Conotação Para começar este estudo, releia, primeiramente, o poema “Rosa de Hiroshima”, de Vinícius de Moraes, que você já viu na vídeo-aula 1: Percebeu que a palavra “rosa” pode apresentar vários significados e sentidos no poema? Em “como rosas cálidas”, a palavra é usada no sentido usual, ou seja, nomeia um tipo de flor. Dessa forma, podemos dizer que a palavra “rosa” aparece nesse trecho em sentido denotativo, pois é empregada em seu significado primeiro, dicionarizado. Essa característica pode ser encontrada nos textos literários, mas é mais comum aos textos não literários. Competência 02 34 Técnico em Biblioteca Já no trecho “A rosa hereditária/A rosa radioativa”, a palavra “rosa” ganha outro significado – é metáfora do cogumelo radioativo, formado com a explosão de uma bomba atômica na cidade de Hiroshima. O artista literário trabalha a palavra procurando construir sentidos, produzindo novos significados, indo além do seu significado básico (a palavra em estado de dicionário), ao mesmo tempo em que seleciona e combina palavras para obter o máximo de efeito sonoro, em busca do ritmo poético (TERRA; NICOLA, 2002, p. 240). Esse novo sentido atribuído à palavra, que foge ao usual, é o que chamamos de conotação. A sua interpretação irá depender da situação, ou seja, do contexto histórico-cultural. Esse uso da linguagem é característica intrínseca, predominante e principal do texto literário. Assim, podemos afirmar que ele tem plurissignificação, ambiguidade e polifonia, pois é pleno de significados e é ponto de encontro de vários discursos. Todavia, é importante afirmarmos que a ambiguidade também está presente em textos não literários. Na área de publicidade e propaganda, por exemplo, seu uso é muito comum. Veja o anúncio (Figura 14):Figura 14 –Ambiguidade – Outdoor comercial Fonte: www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ8_08.htm Competência 02 http://www.filologia.org.br/vcnlf/anais%20v/civ8_08.htm 35 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Como você pode observar, o uso da palavra “coroa”, no anúncio, apresenta uma ambiguidade, reforçada pela foto de um idoso, pois o leitor poderá associá-la ao sentido de “mulher mais velha” ou à “coroa de flores” dos funerais. O sentido só é esclarecido a partir de outros elementos do anúncio, como a logomarca da funerária. Então, se a conotação pode aparecer em textos não literários e literários, como diferenciá-los? Simples!! Na literatura, a conotação acontece com mais frequência e, também, não podemos esquecer da intenção do escritor em fazer um texto artístico, ficcional, o que não está presente em outros textos. 2.1.2 Prosa e Poesia Os textos literários podem se estruturar de duas formas: em prosa ou em verso. Prosa é a expressão usual da linguagem escrita, estruturada em parágrafos. Os gêneros crônica, conto, romance, por exemplo, pertencem a esta modalidade. Observe, agora, um trecho do romance Senhora, de José de Alencar: Na sala, cercada de adoradores, no meio das esplêndidas reverberações de sua beleza, Aurélia bem longe de inebriar-se da adoração produzida por sua formosura, e do culto que lhe rendiam; ao contrário parecia unicamente possuída de indignação por essa turba vil e abjeta. Não era um triunfo que ela julgasse digno de si, a torpe humilhação dessa gente ante sua riqueza. Era um desafio, que lançava ao mundo; orgulhosa de esmagá-lo sob a planta, como a um réptil venenoso (ALENCAR, 2007, p. 12-13). Poesia é a linguagem usada de forma mais subjetiva, levando em consideração elementos como o ritmo. Não, necessariamente, um poema terá Competência 02 36 Técnico em Biblioteca rima e será estruturado em versos. São elementos do texto poético: • Verso – é cada linha de um poema. • Estrofe – é o conjunto de versos de um poema. • Rima – o recurso usado no poema para dar sonoridade. Entretanto, nem todos os poemas têm rimas. • Ritmo – é uma alternação uniforme de sílabas tônicas e não tônicas em cada verso do poema. 2.2Gêneros Literários Segundo Marcuschi (2005), nós não nos comunicamos por palavras ou frases, e sim através de textos. Estes textos, por sua vez, são materializados na forma de gêneros textuais que assumem, dentro de certo contexto, uma função comunicativa. Por exemplo, é comum registrarmos os livros de uma biblioteca numa ficha catalográfica, a qual trará informações descritivas do volume a que se refere (autor, título, editora, ano de publicação, etc.). Cada domínio discursivo terá os seus gêneros específicos. Isso quer dizer que cada ambiente ou área de conhecimento terá gêneros textuais que servirão para viabilizar a comunicação. Dessa maneira, a Literatura, como uma área de conhecimento humano, também terá os seus gêneros, aos quais denominamos gêneros literários. A divisão mais clássica deles foi feita por Aristóteles, que os dividiu em épico, lírico e dramático. Com o advento da Ah! quem nos dera que isso, como outrora, inda nos comovesse! Ah! quem nos dera que inda juntos pudéssemos agora ver o desabrochar da primavera! (Olavo Bilac Primavera.) SAIBA MAIS! VERSO: www.recantodaslet ras.com.br/teorialit eraria/254091 ESTROFE: www.recantodaslet ras.com.br/teorialit eraria/254733 RIMA: www.recantodaslet ras.com.br/teorialit eraria/254761 RITMO E MAIS: www.spectrumgoth ic.com.br/literatura /elementos.htm Competência 02 http://www.spectrumgothic.com.br/literatura/elementos.htm http://www.spectrumgothic.com.br/literatura/elementos.htm http://www.spectrumgothic.com.br/literatura/elementos.htm 37 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Modernidade, surgem novas formas que se classificam como narrativas ou gênero narrativo. Vamos estudar esses gêneros e conhecer as suas diversas formas de materialização? 2.2.1 Gênero Épico O gênero épico corresponde às narrativas em forma de versos, que têm um fato histórico como base. Geralmente, são fatos grandiosos que interessam a uma coletividade. Nesse tipo de texto literário, o gênero mais comum é a epopeia – gênero textual que, em sua generalidade, narra a história de um herói ou de um povo. São exemplos de epopeia A ilíada e A odisséia, ambas obras de Homero, que tratam, respectivamente, da guerra de Tróia e da volta do herói Odisseu à sua terra natal – a Ilha de Ítaca; Os lusíadas, de Luís Vaz de Camões, primeira epopeia escrita em Língua Portuguesa, e que trata das grandes navegações e das conquistas do povo português. A epopeia segue uma estrutura básica e se divide em: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. Proposição: é a apresentação do tema. Veja um trecho de Os lusíadas, em que o poeta Luís de Camões diz que vai cantar sobre os feitos heróicos dos portugueses: “As armas e os barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana, Por mares nunca dantes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; E também as memórias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas Competência 02 38 Técnico em Biblioteca De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando Cantando espalharei por toda a parte Se a tanto me ajudar o engenho e arte.” Luís de Camões,Os Lusíadas (1572)Canto I, 1—2 Invocação: o poeta pede auxílio e inspiração às musas da poesia. No caso da epopeia portuguesa, o poeta pede ajuda às Tágides, musas do rio Tejo: E vós, Tágides minhas, pois criado Tendes em mim um novo engenho ardente, Se sempre em verso humilde celebrado Foi de mim vosso rio alegremente, Dai-me agora um som alto e sublimado, Um estilo grandíloquo e corrente, Porque de vossas águas, Febo ordene Que não tenham inveja às de Hipocrene. 5 Dai-me uma fúria grande e sonorosa, E não de agreste avena ou frautaruda, Mas de tuba canora e belicosa, Que o peito acende e a cor ao gesto muda; Dai-me igual canto aos feitos da famosa Gente vossa, que a Marte tanto ajuda; Que se espalhe e se cante no universo, Se tão sublime preço cabe em verso.” — Invocação às Tágides, Canto I, estrofes 4 e 5. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A1gides Dedicatória: a quem está sendo oferecido o poema. Neste caso, a D. Sebastião, antigo rei português: Vós, poderoso Rei, cujo alto Império O Sol, logo em nascendo, vê primeiro, Vê-o também no meio do Hemisfério, Texto “Os Lusíadas” completo disponível em www.citi.pt/ciberfo rma/ana_paulos/fic heiros/lusiadas.pdf) Competência 02 http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Lus%C3%ADadas#Canto_I http://www.citi.pt/ciberforma/ana_paulos/ficheiros/lusiadas.pdf http://www.citi.pt/ciberforma/ana_paulos/ficheiros/lusiadas.pdf http://www.citi.pt/ciberforma/ana_paulos/ficheiros/lusiadas.pdf 39 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia E quando dece o deixa derradeiro; Vós, que esperamos jugo e vitupério Do torpe Ismaelita cavaleiro, Do Turco Oriental e do Gentio Que inda bebe o licor do santo Rio: Inclinai por um pouco a majestade Que nesse tenro gesto vos contemplo, Que já se mostra qual na inteira idade, Quando subindo ireis ao eterno templo; Os olhos da real benignidade Ponde no chão: vereis um novo exemplo De amor dos pátrios feitos valerosos, Em versos divulgado numerosos. Excerto de Lusíadas, CANTO I Fonte:www.alvarenga.net/canto1.htm Narração: éa exposição do tema, da história; sendo, assim, a partemais longa do poema. Epílogo: é a conclusão, o encerramento do poema. 2.2.2 Gênero Dramático Caro cursista, antes de começarmos a discutir sobre o gênero dramático, veja o vídeo no link:www.youtube.com/watch?v=a3o1Y8491mA. O vídeo que você acaba de assistir é o trailer de uma adaptação para o cinema de uma obra teatral, Auto da Compadecida, escrita por Ariano Suassuna. No cinema ou no palco, os atores retratam os conflitos humanos e dramas sociais – a seca, a fome, a miséria. No texto dramático, “em vez de ser contado por um narrador, a história é mostrada no palco, ou seja, representada por atores que fazem o papel dos personagens.” (CEREJA; MAGALHÃES, 2005, p. 53). Competência 02 http://www.alvarenga.net/canto1.htm http://www.youtube.com/watch?v=a3o1Y8491mA 40 Técnico em Biblioteca Assim, correspondem ao gênero dramático todos os textos produzidos para representação. Entre eles, destacamos a tragédia, a comédia, o auto e o drama. A seguir, conversaremos sobre as características de cada um. a) Tragédia Sobre esse gênero, já falamos um pouco no texto da competência 1. Do grego tragoidía, trágos, a tragédia é um gênero dramático muito antigo, o qual tem sua origem ligada aos cantos em louvor ao deus Dionísio – os ditirambos. De acordo com Aristóteles, a tragédia seria a imitação de ações de homens superiores, de linguagem ornamentada e que tinha o fim de suscitar terror e piedade. Ele acreditava que a tragédia tinha o poder da catarse, ou seja, um efeito purificador da sociedade, que por causa do exemplo da encenação teria mais cuidado em suas ações. Uma das tragédias gregas mais conhecidas é Édipo Rei, escrita por Sófocles, em que Édipo, por causa de seu temperamento explosivo, termina, sem saber, matando o próprio pai e se casando com a própria mãe. Figura 15 – Édipo e a Esfinge Fonte: http://oraculomudo.blogspot.com.br/2008/04/dipo-e-esfinge- museu-do-vaticano.html Competência 02 http://oraculomudo.blogspot.com.br/2008/04/dipo-e-esfinge-museu-do-vaticano.html http://oraculomudo.blogspot.com.br/2008/04/dipo-e-esfinge-museu-do-vaticano.html 41 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia b) Comédia Se a tragédia é a imitação de ações de homens superiores, a comédia, por sua vez, para Aristóteles, consiste na “imitação dos homens inferiores” em situações ridículas. Do grego komoidía, acredita-se ter sua origem nos cantos fálicos em homenagem ao deus Dionísio. A princípio, os atores e o coro se apresentavam com máscaras e vestidos com roupagens diversas. Das comédias gregas antigas, chegaram aos nossos dias os textos de Aristófanes, os quais se caracterizavam, principalmente, pela crítica aos governantes. Entre eles, ressaltamos Os cavaleiros e Os acamenses. c) Auto Consoante definição de Massaud Moisés (2004, p. 45), “vinculado aos mistérios e moralidades, e talvez deles provenientes, o autodesigna toda peça breve, de tema religioso ou profano, encenada durante a Idade Média”. Entretanto, este gênero foi além dessa época e chegou até nossos dias, em textos como, o já citado, Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna; Auto de natal pernambucano – Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. d) Drama A princípio, a origem da palavra quer dizer apenas “ação”. Mas, na primeira metade do século XVIII, esse gênero assume a característica especial de mesclar elementos trágicos e cômicos; era o chamado drama burguês. No teatro do Romantismo, esse gênero dramático fez muito sucesso. São dessa época peças estudadas e encenadas até nossos dias – O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas; A dama das camélias, de Alexandre Dumas Filho. Competência 02 42 Técnico em Biblioteca 2.2.3 Gênero Lírico Trata-se da manifestação poética do eu lírico, que expressa seus sentimentos, ideias, impressões, desejos. Neste tipo de texto, há a predominância da 1ª pessoa, reflexo da subjetividade do autor. Um dos gêneros mais comuns desse tipo é o soneto. Este é um poema composto por catorze versos, estruturados em dois quartetos (duas estrofes de quatro versos) e dois tercetos (duas estrofes de três versos). Observe o Soneto de fidelidade, de autoria de Vinícius de Moraes (Figura16): Figura16 – Soneto de Fidelidade de Vinicius de Moraes Fonte: http://hippopotamo.blogspot.com.br/2007/06/rosa-para-vc.html 2.2.4 Gênero Narrativo Textos narrativos, redigidos em prosa, que surgiram a partir do final da Idade Média, com o declínio da epopeia. Podem ser escritos em 1ª ou 3ª pessoa. Os verbos, geralmente, vêm no pretérito. São elementos dos textos narrativos ficcionais: espaço (onde se passa a narrativa), tempo (pode ser psicológico ou Competência 02 www.youtube.com/ watch?v=eHgU4ERc 7Nc http://www.google.com.br/url?sa=i&source=images&cd=&cad=rja&docid=aMVOh2AdjP3LoM&tbnid=VF7H9ALIP9SvtM:&ved=0CAgQjRwwAA&url=http://hippopotamo.blogspot.com/2007/06/rosa-para-vc.html&ei=Vu6AUviaGc_IkAfmloD4DQ&psig=AFQjCNEFb0YgWBY3fRU7KZvOqoCaZYyPvg&ust=1384267734468879 http://www.youtube.com/watch?v=eHgU4ERc7Nc http://www.youtube.com/watch?v=eHgU4ERc7Nc http://www.youtube.com/watch?v=eHgU4ERc7Nc 43 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia cronológico), enredo (a história), narrador (quem conta a história), personagens (aqueles que participam da trama). São exemplos desse gênero: conto, crônica, novela, romance, fábula e lenda, sobre os quais estudaremos a seguir. a) Conto É uma narrativa curta que possui poucos personagens e gira em torno de um só conflito. b) Crônica É um tipo de narrativa de pouca extensão que pretende comentar fatos cotidianos. Geralmente, aparece em jornais. RECADO AO SENHOR 903 Vizinho – Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor teria ainda ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós doisapenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o Competência 02 44 Técnico em Biblioteca 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio. Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho,são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou.” E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela”. E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz. Rubem Braga Fonte: http://contobrasileiro.com.br/?p=1334#more-1334 c) Novela É um gênero menor que o romance e maior que o conto, que apresenta apenas um conflito, apesar de ser dividida em capítulos. d) Romance É uma narrativa longa, geralmente dividida em capítulos, possui personagens variadas em torno das quais acontece a história principal e também histórias paralelas a essa, pode apresentar espaço e tempo variados. São exemplos de romances brasileiros conhecidos: Senhora, de José de Alencar, e Macunaíma, de Mário de Andrade. e) Fábula É uma narrativa breve em que os personagens são animais que agem como seres humanos. Tem o intuito de deixar uma lição de moral. Leia a fábula de Esopo: Saiba mais sobre o gênero Novela! http://pt.wikipedia. org/wiki/Novela www.ciencialit.let ras.ufrj.br/garrafa 6/18.html Competência 02 http://contobrasileiro.com.br/?p=1334#more-1334 http://pt.wikipedia.org/wiki/Novela http://pt.wikipedia.org/wiki/Novela http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/garrafa6/18.html http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/garrafa6/18.html http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/garrafa6/18.html 45 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Fonte:http://mensagensepoemas.uol.com.br/mensagem/raposa-e-uvas-morta-de-fome-uma- raposa-foi-ate-um-vinhedo-sabendo-que-ia-encontrar-muita f) Lenda É uma manifestação da tradição oral que surge com a função social de explicar fatos não justificáveis cientificamente, em que se misturam elementos históricos e imaginários. Constitui-se em um episódio heroico ou sentimental com elemento maravilhoso ou sobre-humano, transmitido e conservado na tradição oral popular, localizável no espaço e no tempo. Possui características de fixação geográfica e pequena deformação (CASCUDO, 2000). No Recife e Região Metropolitana, as lendas, em geral, correspondem à histórias de assombração. Destacam-se as lendas da Perna Cabeluda, Papa- Figo, O Pai do Mangue, A Menina do Algodão. 2.3 Leitura 2.3.1 A Importância da Leitura Nas culturas letradas, a leitura é uma atividade valorizada, uma prática extremamente importante para a formação das crianças e dos jovens. Na leitura e na escrita do texto literário encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos e nos “A raposa e as uvas Morta de fome, uma raposa foi até um vinhedo sabendo que ia encontrar muita uva. A safra tinha sido excelente. Ao ver a parreira carregada de cachos enormes, a raposa lambeu os beiços. Só que sua alegria durou pouco: por mais que tentasse, não conseguia alcançar as uvas. Por fim, cansada de tantos esforços inúteis, resolveu ir embora, dizendo: - Por mim, quem quiser essas uvas pode levar. Estão verdes, estão azedas, não me servem. Se alguém me desse essas uvas eu não comeria. Moral: Desprezar o que não se consegue conquistar é fácil.” SAIBA MAIS SOBRE LENDA! BELTRÃO, Roberto. Histórias medonhas d’O Recife assombrado. Recife: Bagaço, 2002. _____. Estranhos mistérios d’O Recife assombrado. Recife: Bagaço, 2007. Para ler as histórias contadas por Gilberto Freyre, em Assombrações do Recife velho: www.4shared.com/ office/0rF1D98w/Gi lberto_ Freyre_- _Assombraes_d.ht ml Para ler os contos de Machado de Assis, bem como outros textos literários, acesse: www.dominiopublic o.gov.br. Competência 02 http://www.dominiopublico.gov.br/ http://www.dominiopublico.gov.br/ 46 Técnico em Biblioteca incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim, sem renúncia da minha própria identidade (COSSON, 2006, p. 17). Nesse contexto, o texto literário traz à vida das pessoas várias possibilidades de pensar sobre si e sobre o mundo, através do lúdico, por exemplo. Já falamos sobre o papel comunicativo e reflexivo da literatura anteriormente. Dessa forma, a literatura, acima de tudo, cumpre um papel humanizador. 2.3.2 O Papel do Bibliotecário É papel do técnico em biblioteconomia contribuir para a formação leitora das pessoas, principalmente crianças, apresentando a literatura como uma possibilidade de conversas e descobertas prazerosas, destituída dos convencionais métodos de leitura obrigatória. Para poder atender convenientemente cada pessoa que frequenta a biblioteca, oferecendo a ela novas indicações de leitura, você, futuro técnico em biblioteconomia, deve ficar atento aos temas e gêneros de texto preferidos em cada fase. Não é de se negar, por exemplo, que crianças em processo de alfabetização tendem a gostar mais de ler pequenos contos que remetam ao imaginário, à fantasia; ou poemas que explorem sons onomatopaicos4, como vemos no texto “Trem de ferro”, de Manuel Bandeira. TREM DE FERRO Café com pão Café com pão Café com pão Virge Maria que foi isso maquinista? 4 Onomatopeia é a figura de linguagem que se refere à reprodução do som das coisas. Competência 02 47 Noções Básicas de Literatura Aplicada à Biblioteconomia Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força (trem de ferro, trem de ferro) Oô... Foge, bicho Foge, povo Passa ponte Passa poste Passa pasto Passa boi Passa boiada Passa galho Da ingazeira Debruçada No riacho Que vontade De cantar! Oô... (café com pão é muito bom) Quando me prendero No canaviá Cada pé de cana Era um oficiá Oô... Menina bonita Do vestido verde Competência 02 48 Técnico em Biblioteca Me dá tua boca Pra matar minha sede Oô... Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Oô... Vou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente... (trem de ferro, trem de ferro) Trem de Ferro, Manuel Bandeira Fonte: www.casadobruxo.com.br/poesia /m/trem.htm Nesse poema, o som e o ritmo lembram o barulho de um trem. Para a criança, a leitura em voz alta desse poema se torna uma brincadeira, uma atividade que explora a ludicidade, a imaginação infantil. Lembrando que a ilustração dos livros infantis ou outros atrativos atrelados aos livros, como buzinas, brinquedos, texturas, formas e cores também ajudam a despertar o interesse dos pequenos leitores. Para atender bem a esse público, o técnico em biblioteconomia pode desenvolver algumas atividades diferenciadas na biblioteca. Vamos ver quais são? a) Contação de História Contar histórias é uma prática muito antiga, remete aos primeiros tempos da SAIBA MAIS! Fica a dica para utilização em atividades de leitura, dos vídeos representativos do poema “Trem de ferro”: www.youtube.com/ watch?v=nkKA5Ebs Vt8 www.youtube.com/ watch?v=GsKAn2N8 UN0&feature=relat ed SAIBA MAIS SOBRE CONTAÇÃO DE HISTÓRIA! www.youtube.co m/watch?v=R8Vs p5Ndwc0 Competência 02 http://www.casadobruxo.com.br/poesia%20/m/trem.htm http://www.youtube.com/watch?v=nkKA5EbsVt8 http://www.youtube.com/watch?v=nkKA5EbsVt8 http://www.youtube.com/watch?v=nkKA5EbsVt8