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P1- AULA 2- Clínica Cirúrgica III- Dr. Ademir Amil Catharina Vieira ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO DEFINIÇÃO Afecções intra-abdominais que geram quadro de peritonite secundária a um processo infeccioso ou inflamatório. CAUSAS DE ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO O objetivo de saber a patologia que acomete o quadro de abdome agudo inflamatório, é saber indicar o tratamento para cada paciente, saber se ele é cirúrgico, ou devemos tratar de maneira conservadora. APENDICITE AGUDA ● Afecção cirúrgica mais comumente atendida nos serviços de urgência, em torno de 30% das cirurgias de emergência são apendicite agudo; ● Principal causa de abdome agudo em crianças, adolescentes e adultos jovens; ● Pico de incidência de 10 a 15 anos; ● Mulheres com vida sexual ativa, sempre fazer o diagnóstico diferencial com DIP (doença inflamatória pélvica). FISIOPATOLOGIA ● A maioria dos casos ocorre uma obstrução da luz por tecido linfóide hiperplásico, fecalito, corpo estranho ou parasita que vai aumentar a pressão intraluminal levando a isquemia, levando a um processo inflamatório e depois infeccioso; ● Após instalação do processo infeccioso pode ocorrer a perfuração em 24 horas, porém esse tempo é muito variável. ● A fase ideal para operar o paciente é na fase fibrinosa, uma fase inicial. Na fase final, onde ocorre a obstrução do lúmen do apêndice e seu rompimento, o paciente pode evoluir com abscesso, peritonite. DIAGNÓSTICO Eminentemente clínico, não é por imagem, nem por exame complementar. ● Quadro clássico: dor abdominal inicialmente periumbilical que migra para FID em torno de 12 a 24 horas após o início da dor, acompanhada de anorexia, náuseas e vômitos, com estado subfebril ou afebril. ● Sempre que você vir uma criança com um quadro de apendicite aguda, pergunte para ela, se ela tem fome, se tem vontade de comer alguma coisa, se ela tiver fome não é apendicite. ● A dor se torna cada vez mais localizada na FID, e surge irritação peritoneal que aumenta progressivamente; ● Ausculta: ausência ou acentuada diminuição dos RHA (ruídos hidroaéreos) por conta de peritonite; ● Dor no ponto de McBurney (linha imaginária entre a cicatriz umbilical e a crista ilíaca direita do paciente, divide a linha em 3 partes, o ponto de McBurney é o ponto mais próximo à crista ilíaca) com Sinal de Blumberg + (Dor à descompressão brusca do ponto de McBurney). P1- AULA 2- Clínica Cirúrgica III- Dr. Ademir Amil Catharina Vieira SINAIS SEMIOLÓGICOS ● Blumberg – Dor à descompressão abrupta do ponto de McBurney. ● Rovsing – Dor na FID durante a palpação da FIE. ● Lennander -Temperatura retal maior que a temperatura axilar em 1 grau Celsius. ● Summer – Hiperestesia em FID. ● Lapinski – Dor à compressão de FID ao elevar o MID. ● Punho-percussão – Dor na FID durante a punho percussão do calcâneo. ● Dunphy – Dor na FID que piora com a tosse. ● Obturador – Dor na FID durante rotação interna do MID com flexão passiva. ● Psoas – Dor na FID durante elevação do MID. ● Apresentações clínicas atípicas são comuns em indivíduos que apresentam variações anatômicas do apêndice (paciente pode ter um apêndice tão longo, que vai até a FIE, ou apêndice retrocecal que vai até a região lombar posterior, tendo uma dor localizada que não vai ser em FID), imunocomprometidos (HIV, DM, Lúpus, esclerodermia, uso de imunossupressores); ● Gestantes também podem apresentar dores atípicas devido a posição do ceco na gestação, que fica mais superior; ● Exames laboratoriais são inespecíficos, podendo apresentar leve leucocitose (leucocitose muito evidente, 20.000 leucócitos, desconfie de uma complicação da apendicite); ● Raio X: borramento do psoas, alça parética próximo da FID, cálculo pode sugerir fecalito (fezes calcificadas dentro da luz); ● USG: sensibilidade 75 a 90 %, especificidade 86 a 100%, acurácia geral 90 a 98%; Exame mais realizado, porém é extremamente profissional dependente. ● TC: solicitado em caso de dúvida diagnóstica (hoje em dia, pela facilidade, quase todos os pacientes têm feito tomografia, o que o expõe a mais radiação); ● Laparoscopia diagnóstica – quando a dúvida ainda persiste. Interpretanção da imagem acima: Temos a esquerda uma radiografia, onde é possível ser visualizado um fecalito. À direita temos uma ultrassonografia, onde é possível visualizar um espessamento da parede do apêndice e fundo de ceco (maior que 3mm, diagnóstico em 5mm). E a tomografia, onde a gente consegue ver uma alça espessada, e um borramento da gordura periapendicular. ● Confirmado o diagnóstico – Tratamento cirúrgico = Apendicectomia (Método abordado em questões de PROVA e no Brasil); ● A abordagem pode ser: Laparotômica X Laparoscópica; ● Casos de apendicite que cursam com abscesso: primeiramente deve-se drenar guiado por exame radiológico, deixa o dreno e cirurgia em segundo tempo, normalmente com 30 a 40 dias; ● Tratamento conservador na apendicite não complicada *** - É um tratamento realizado com antibiótico, onde é tratado como se fosse uma inflamação crônica, uma diverticulite e acompanha o paciente de perto. Na apendicite aguda não complicada, que são as primeiras duas fases, consegue-se iniciar o antibiótico e não precisar de operar. Ainda não é muito realizado no Brasil por questão cultural. P1- AULA 2- Clínica Cirúrgica III- Dr. Ademir Amil Catharina Vieira ABORDAGEM LAPAROTÔMICA ● McBurney (diagonal) ● Davis (horizontal) ● Mediana (vertical) ● Para-mediana ABORDAGEM LAPAROSCÓPICA Em serviços avançados é o método de escolha, o método ideal. ● Realiza-se 3 incisões, uma na cicatriz umbilical, e duas incisões na região pélvica, em uma entra a ótica e nas outras duas entram as pinças. COLECISTITE AGUDA ● 3ª causa de internação nas urgências; Frequentemente confundida com cólica biliar, a dor é muito parecida, porém o tempo de permanência e as repercussões clínicas são bastante diferentes. Paciente com colecistite aguda pode evoluir com leucocitose, febre, e a dor é mais insidiosa. Na cólica biliar a dor é mais intensa, não tem febre, nem leucocitose e a dor melhora com analgesia; ● 95% estão associados à cálculos de vesicula biliar; ● Sexo feminino, maior de 40 anos é o pico de incidência; ● Colecistite aguda alitiásica em 3 a 5% dos casos, ocorre muito em pacientes internados na UTI com NPT, a vesícula fica muito parética, aumenta a pressão dentro dela, e ocorre a colecistite. FISIOLOGIA: Ocorre uma obstrução do ducto cístico por cálculo, impactado no infundíbulo, tornando a vesícula inflamada e distendida; Na foto o cálculo está impactando o ducto cístico, mas é mais comum ele impactar o infundíbulo e comprimir a região do cístico. QUADRO CLÍNICO ● Dor persistente em hipocôndrio direito, associado a náuseas e vômitos; ● Febre não é muito comum na fase inicial, mas com o passar do dia torna-se comum, com aumento dos leucócitos; ● Episódios anteriores com melhora espontânea com uso de medicamentos são comuns (cólica biliar). EXAME FÍSICO ● Defesa a palpação em HCD; ● Sinal de Murphy + (Palpação da região subcostal, no ponto de McBurney, o paciente vai realizar uma inspiração e vai interromper essa inspiração forçada). EXAMES LABORATORIAIS ● Hemograma ● Bioquímica – Sódio, potássio, uréia e creatinina. ● Bilirrubina ● Enzimas canaliculares – gama GT, fosfatase alcalina. ● Enzimas pancreáticas – lipase e amilase (para ver se não tem associada uma pancreatite, porque às vezes o cálculo impactado saiu, obstruiu o ducto colédoco, ou o Virchow e fez uma P1- AULA 2- Clínica Cirúrgica III- Dr. Ademir Amil Catharina Vieira pancreatite – esse paciente não pode operar, primeiro a pancreatite tem que ser tratada). EXAME DE IMAGEM ● USG: padrão ouro (muito profissional dependente,mas tem uma acurácia muito elevada); ● Evidencia espessamento da parede da vesícula, líquido e/ou ar perivesicular, e presença/ localização dos cálculos (imagem hiperecogênica com uma sombra acústica posterior). Parede da vesícula espessada, com presença de líquido perivesicular, e uma imagem de cálculo hiperecogênico com presença de sombra acústica posterior, imagem que sugere um quadro de Colecistite Aguda. TRATAMENTO ● Tratamento é cirúrgico, mas o momento pode variar. O quadro de colecistite aguda de 3 a 5 dias, o tratamento é cirúrgico. Depois disso inicia-se medicação, ATB, para que a fase aguda passe. A inflamação torna-se tão grande que a região do pedículo, onde tem que se ligar o ducto cístico e a artéria cística, torna-se um bloco só, e chance de iatrogenia torna-se maior, tem que passar a fase aguda para operar esse paciente. ● Padrão ouro – Videolaparoscópico – é o que mais se faz hoje em dia. É uma covardia operar um paciente com colecistite aguda de forma laparotômica. Aqui encontramos as duas maneiras de se operar um paciente com Colecistite Aguda. A via aberta, laparotômica, é a da direita, onde tem que se realizar uma incisão grande na região sub costal direita, tem que se cortar a musculatura retoabdominal, e os pacientes normalmente evoluem com uma hérnia incisional. Na abordagem videolaparoscópica, realizam-se 4 pequenas incisões, onde em uma entra com a ótica, em outra entra com um trocarte de 10 ou 11mm subesternal e dois trocartes laterais. Em casos graves onde o paciente não posssui condições clínicas para cirurgia, pode-se optar pela realização de colecistostomia. Realiza-se uma drenagem da vesícula em pacientes graves, com uma colecistite avançada, ou paciente que não tem condições clínicas de operar, com contraindicação cirúrgica imediata. Coloca-se um dreno dentro da vesícula biliar, trans-hepático – o ideal é passar dentro do fígado, para evitar vazamento de líquido para dentro da cavidade. Sua colocação é por visualização por ultrassonografia, onde o médico residente de cirurgia é treinado para realizar esse procedimento, e assim difundir mais esse conhecimento, levando essa abordagem para mais pacientes, melhorando seu prognóstico ao realizar essa abordagem em dois tempos. PANCREATITE AGUDA Das três patologias faladas até agora, essa é a mais grave, tem a maior taxa de óbito e a cirurgia sempre é mais complexa. Processo inflamatório do pâncreas, onde ocorre ativação das enzimas pancreáticas ainda dentro do órgão – etiologia mais aceita – as enzimas inativas que ficam dentro do pâncreas acabam sendo ativadas pelo processo obstrutivo dentro do ducto de Virchow; Dividida em pancreatite aguda, leve e grave. Na leve geralmente o tratamento é conservador, e na grave geralmente tem que abordar cirurgicamente, ou tratar com ATB. CAUSAS Entre as principais causas estão a litíase biliar (30 a 60%), seguida de álcool (15 a 30%) e hipertrigliceridemia (5 a 10%). OUTRAS: ● Drogas; ● Pós-CPRE – principalmente por uso de contraste na via biliar principal, onde pode ir contraste para dentro do pâncreas gerando inflamação; ● Hipercalcemia; ● Obstrução não litiásica – por exemplo tumoral; ● Traumática – uma pancada no pancreas pode levar a uma lesão do parênquima e ativação das enzimas; ● Genética – existem alguns casos autoimunes; ● Idiopática. PANCREATITE AGUDA LEVE INTERSTICIAL OU EDEMATOSA Restrita ao pâncreas; Apresentação clínica favorável; Representa 80/90% dos casos. PANCREATITE AGUDA GRAVE NECROSANTE Acomete tecidos peripancreáticos; Pode evoluir com complicações: necrose infectada, pseudocisto e abscesso; Representa 10 a 20 % dos casos; É possível evolução complicada com comprometimento de órgãos à distância - às vezes paciente pode evoluir com pneumonia, síndrome inflamatória disseminada, sepse. QUADRO CLÍNICO Dor abdominal (o mais importante) - Dor em faixa ou em barra em abdome superior que irradia para dorso, está presente em 50% dos pacientes; Náuseas e vômitos – sempre presentes porque a inflamação do pâncreas gera um processo inflamatório peripancreático, e um dos órgãos que está em cima do pâncreas é o estômago, que gera uma estase gástrica e vômitos incoercíveis. Icterícia Sinais de toxemia como febre e alterações circulatórias denotam quadros avançados – paciente fica hipotenso devido à desidratação importante, que no atendimento, na reposição volêmica, alguns pacientes podem precisar de até 6 litros nas primeiras 6 horas, vai muito volume pro 3º espaço. SINAIS PROPEDÊUTICOS Cullen: manchas equimóticas periumbilicais; Grey-Turner: Equimose no flanco esquerdo. As duas entidades podem estar associadas. DIAGNÓSTICO Amilase sérica elevada – pouca espeficidade, seus níveis são mais elevados na litíase biliar; Lipase sérica – maior especificidade, demoram a diminuir, seus níveis são mais elevados na pancreatite por álcool; PCR. ESCALA DE GRAVIDADE E PROGNÓSTICO ● RANSON ● APACHE II ● BALTHAZAR RANSON Sensibilidade 75 a 87% Especificidade 68 a 77,5% 0 a 2: mortalidade de 2% 3 a 4: mortalidade de 15% 5 a 6: mortalidade de 40% 7 a 8: mortalidade de até 100% APACHE II Essa é uma escala melhor; Sensibilidade de 76%; Especificidade de 61,5%; Vantagem de avaliar nas primeiras 24 horas, além de obter avaliação diária; Pancreatite aguda grave com 8 ou mais pontos. BALTHAZAR TRATAMENTO Pancreatite leve: Repouso, analgesia, dieta zero, infusão de líquidos e eletrólitos. Pancreatite grave: Tudo que se realiza na pancreatite aguda leve + reposição volêmica vigorosa, suporte nutricional (enteral com parenteral associado), ATB (se houver necrose maior que 30%, ou necrose com ar dentro dessa necrose), Cirurgia (indicada em casos de necrose importante, onde o tratamento clínico não está resultando em melhora), abordagem da via biliar (Se for por conta de uma coledocolitíase – devemos desobstruir essa via biliar depois de tratamento de 15 dias da pancreatite). DIVERTICULITE AGUDA É causada pela perfuração de um divertículo resultado da ação erosiva de um fecalito ou do aumento demasiado da pressão intraluminal. CLASSIFICAÇÃO DE HINCHEY- localização e extensão. QUADRO CLÍNICO ● Dor em FIE com sinais de peritonite localizada ao exame físico – ou seja, um quadro de apendicite do lado esquerdo, mais comum dos divertículos serem encontrados no sigmóide, mas também podem ser encontrados em todo o cólon; ● febre persistente; ● Pode ocorrer fístulas – retovesical – pneumatúria e ITU de repetição; ● Obstrução – em casos graves de diverticulite. DIAGNÓSTICO ● TC de abdome e pelve com contraste – padrão ouro para o diagnóstico; ● Colonoscopia e enema opaco – são contraindicados na fase aguda, porque pode causar um pneumoperitôneo, causar uma peritonite localizada e tornar ela difusa. Essa é a escala antiga, que já sofreu algumas modificações •Hinchey I: internação hospitalar, jejum (questionável, muitas vezes o caso de diverticulite ocorre por um quadro de aumento da pressão intra- abdominal, se o cólon tiver sem fezes, ele vai fazer mais força dentro da luz, vai contrair mais, quando tem fezes, ele faz menos força, menos contrações, e hoje acredita-se que o jejum pode piorar o quadro de diverticulite), hidratação, antiespasmóticos, antibióticos (cobertura gram negativo e anaeróbicos), observação por 48/72 horas; •Hinchey Ia: aqui só se vê um borramento próximo ao local da diverticulite;1 •Hinchey Ib: aqui já tem uma coleção; •Hinchey II: Abscesso maior, longe do lugar do divertículo. Falha no tratamento clínico de um abscesso pequeno ou a presença de uma grande coleção pélvica demandam de uma drenagem, preferencialmente percutânea (guiada por USG ou TC); •Hinchey III: Peritonite purulenta generalizada. Ressecção cirúrgica, dependendo do caso anastomose primária – se não for tiver uma infecção generalizada. Pode ser realizada por via videolaparoscópica; •Hinchey IV: Cirurgia de Hartmann (retossigmoidectomia com colostomia terminal) por laparotomia e em um segundo tempo uma reconstrução; INDICAÇÕES DE CIRURGIA ELETIVA: ● casos tratados comdrenagem ● 2 ou mais crises em maiores 50 ou 1 caso menores de 50 anos ● presença de complicações (fístula, estenose, segmentar, perfuração e hemorragia), imunodeprimidos e impossibilidade de excluir câncer. 1
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