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1 DIVERTICULITE − DEFINIÇÃO: A diverticulose ou doença diverticular dos cólons é uma afecção onde ocorre herniação ou protrusão da mucosa e submucosa do intestino grosso, em forma de saculações, através das fibras musculares, em geral onde penetram os vasos sanguíneos. • Quando há aumento da pressão intraluminal, a mucosa e submucosa herniam através de defeitos na parede intestinal (onde passam os vasos) • Quando maior a pressão no segmento intestinal, maior a probabilidade de desenvolver divertículos • A pressão é maior nos segmentos intestinais com lumen menor, como reto e sigmoide. Por isso é mais comum encontrar divertículos nessas partes EPIDEMIOLOGIA − A diverticulite aguda é comumente encontrada em 4% dos indivíduos portadores de doença diverticular dos cólons, sendo mais comum naqueles maiores de 50 anos. − Diverticulite é mais comum em mulheres do que em homens, principalmente após a sexta década de vida. − 85% dos casos trata-se de quadros não complicados por abscesso, obstrução intestinal etc. − É comum em pacientes obsesos, com alimentação repleta de industrializados e sedentário − Fatores de risco: a) Histórico familiar b) Envelhecimento c) IMC>25 e sedentarismo d) Baixo consumo de fibras na alimentação (<23g) e) Alto consumo de carne vermelha (>51g) f) Uso de álcool e tabaco g) Baixa ingestão de água h) Alto consumo de AINES, corticosteroides e analgésicos opiáceos i) Tabagismo e aines são os fatores de risco mais importantes − 50-70% ocorrem em idosos>80 anos − 10% ocorrem em adultos jovens com menos de 40 anos TERMINOLOGIA: • Diverticulose ou doença diverticular assintomática: presença de divertículos no cólon • Doença diverticular sintomática ou diverticulose sintomática: presença de divertículos no cólon associados a sintomas diversos (como sangramento, fistulas, abcesso, perfuração, ... • Diverticulite: doença aguda que consiste em um abdome agudo inflamatório, caracterizada por dor, calor, rubor, febre, leucocitose, ... Pode haver infecção junto da inflamação 2 QUADRO CLÍNICO – DIVERTICULOSE − A maior parte dos pacientes é assintomático − Se houver sintomas, em geral é sangramento, pouca dor ou desconforto abdmonial FISIOPATOLOGIA DA DIVERTICULITE − A inflamação decorre do intupimento do divertículo → basicamente é a mesma fisiopato da apendicite QUADRO CLÍNICO - DIVERTICULITE − Dor abdominal é o sintoma predominante, geralmente localizada em fossa ilíaca esquerda (divertículo do sigmoide) ou região suprapúbica. • Habitualmente a dor pode ser em cólica ou contínua, localizada precocemente em fossa ilíaca esquerda (FIE), podendo irradiar para o dorso ipsilateral. • Distensão abdominal com redução dois ruídos hidroaéreos. − Náuseas e vômitos − Inapetência − Febre baixa − Há alteração do ritmo intestinal culminando com obstipação ou diarreia. − A diverticulite pode evoluir com formação de abscesso, fístula, perfuração com peritonite e estenose com obstrução colônica. − Disúria e polaciúria podem ser relatadas quando houver acometimento das vias urinárias (bexiga e ureter). − Pode haver sinais de peritonite como dor à descompressão brusca (irritação peritoneal) e à percussão. − Massas em FIE podem ser palpáveis, habitualmente dolorosas. − Pacientes com diverticulite geralmente apresentam um número elevado de glóbulos brancos e PCR. − Se houver alteração no estado mental ou comprometimento respiratório ficar alerta para diverticulite grave com sepse. − Diagnóstico geralmente clínico, mas a imagem é necessária para descartar complicações. − A contagem de glóbulos brancos é normalmente levemente elevada na diverticulite não complicada, mas pode ser maior no cenário de complicações. EXAME FÍSICO − Dor abdominal em FIE − Blumberg (descompressão brusca dolorosa) positivo − Rigidez abdominal e defesa involuntária − Toque retal costuma ser doloroso. − Um exame pélvico deve ser realizado em mulheres para avaliar possíveis causas ginecológicas da dor ou busca por fístulas DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS − Apendicite − DIP – Doença Inflamatória Pélvica − Gravidez tubária − Colite infecciosa − Câncer de cólon DIAGNÓSTICO − TC com contraste IV é o padrão outro para diagnóstico de diverticulite • Os achados da TC incluem divertículos, espessamento da parede e aumento da densidade da gordura pericólica. 3 − Imagem abdominal é útil para pacientes que: a) Apresentam o primeiro episódio de diverticulite, para confirmar o diagnóstico b) Apresentam recorrência, para documentar, caso a cirurgia profilática seja uma opção c) Apresentam sinais e sintomas graves d) Não respondem ao tratamento realizado − Raio x de abdome pode demonstrar pneumoperitônio e/ou quadros obstrutivos. − Tomografia computadorizada de abdome é o exame de escolha, substituindo o enema opaco na maioria das vezes, confirmando o diagnóstico e detectando complicações. − Sumário de urina deve ser realizado para excluir causas urinárias de dor e, em mulheres em idade fértil, deve ser realizado o Beta HCG. − Eletrólitos e enzimas hepáticas são úteis para descartar causas biliares de dor. − A USG não é muito recomendada, pois não consegue visualizar adequadamente o intestino TRATAMENTO − O tratamento do paciente com diverticulite irá depender da gravidade da apresentação, presença de complicações e comorbidades associadas. − Inicialmente o médico responsável deverá determinar se o paciente tem doença complicada ou não complicada. − A diverticulite não complicada muitas vezes pode ser tratada clinicamente e ambulatorialmente, enquanto a diverticulite complicada requer cuidados mais agressivos e, muitas vezes, cirurgia urgente ou eletiva. − Inicia-se com tratamento da sintomatologia: dor, náusea, vomito, febre, etc • Costuma-se usar tramadol • Evitar morfina, devido causar contração da musculatura lisa − USO DE ANTIBIÓTICOS • O uso de antibiótico deve ser cautelosa, evitando formação de resistência bacteriana. A maior parte dos casos ainda usa, mas caso haja casos leves, a não utilização pode ser ponderada • Precisa abrangem GRAM NEGATIVO + ANAERÓBIOS • Ciprofloxacino + metronidazol via oral se estiver em regime ambulatorial – artigos discutem sobre sua necessidade. • Cefotriaxona (cefalosporina 3° geração) + Metronidazol EV em pacientes internados • Metronidazol (anaeróbios) • Cefalosporina ou Quinolonas (Gram negativos) − Dieta -Tradicionalmente, uma dieta líquida clara é recomendada no início do curso, com avanço gradual para uma dieta pobre em fibras até que os sintomas resolvam. Após a resolução dos sintomas do paciente, recomenda-se uma dieta rica em fibras e pobre em carne vermelha. Para pacientes hospitalizados com doença grave é recomendada a abstenção ingestão oral até que a doença se estabilize. TRATAMENTO CIRÚRGICO − Cada paciente deverá ser analisado e a abordagem cirúrgica será feita de acordo com fatores individuais, como o local da diverticulite, o grau de inflamação na área da anastomose proposta e a estabilidade do paciente DIVERTICULITE NÃO COMPLICADA − Tratamento cirúrgico - As principais indicações para intervenção cirúrgica na diverticulite são doenças complicadas com perfurações, abscessos, estenoses e fístulas e diverticulite recorrente. − Diverticulites não complicadas, que tiveram boa resolução clinica, pode-se fazer sigmoidéctomia com anastomose primaria (lembrando que o sigmoide é o local mais comum de aparecimento de divertículos) ou ressecção do segmento colônico afetado • A cirugia eletiva é para os pacientes que tem quadros recorrentes de diverticulite • Ou seja, nem todo paciente com doença diverticular ou diverticulite precisa de operação 4 DIVERTICULITE COMPLICADA - CIRURGIA DE HARTMAN − Pacientes graves, com sintomatologia complicada, a melhor indicação é a cirurgia de Hartman − A ressecção colônicacom bolsa de Hartmann é atualmente a cirurgia de escolha em pacientes com peritonite generalizada gravemente enfermos ou com múltiplas comorbidades. − Na cirurgia de Hartman, se retira o segmento acometido, realiza-se uma colostomia proximal e sepultamento do coto distal (primeira imagem) − Depois da resolução do quadro inflamatório, pode-se planejar a reconstrução do trânsito intestinal, fazendo uma colorectostomia, podendo se retirar a colostomia (segunda imagem) − Se o paciente não estiver em condições hemodinâmicas para fazer a cirurgia, realizar apenas uma colostomia para desobstrução do intestino e aguardar resolução do quadro para planejar a cirurgia − Estudos comparando ressecção eletiva aberta e laparoscópica para diverticulite recorrente no sigmoide geralmente indicam que a abordagem laparoscópica diminui a incidência de complicações maiores, tempo de internação e qualidade de vida. − As atuais diretrizes de diverticulite recomendam que a abordagem laparoscópica seja usada para colectomia eletiva para diverticulite, se houver cirurgião com experiência disponível. − Colonoscopia pode ser feita de 4-6 semanas depois do processo inflamatório agudo. Ela é recomendada para descartar outras patologias, como câncer de cólon e doença inflamatória intestinal. Diz-se Cirurgia de Hartman apenas para os procedimentos que são realizados no sigmoide. Caso o divertículo esteja em outro local (no transverso por exemplo) e seja feito cirurgia, provavelmente será feito o mesmo procedimento que é feito em Hartman. Contudo, a cirurgia não pode receber o nome de Hartman, já que ela é 5 • A colonoscopia pode não ser necessária em pacientes que fizeram um exame colonoscópico recente e de alta qualidade. − Estima-se que 80% dos pacientes com diverticulite terão apenas um episódio. − Além disso, eventos recorrentes tendem a ter a mesma ou menor gravidade e complicações como perfuração são geralmente vistas durante o primeiro ou o segundo episódio. CLASSIFICAÇÃO DE HINCHEY − A classificação de Hinchey tem grande importância no estabelecimento do grau de evolução da diverticulite de colo, uma vez que tem correlação direta com a conduta a ser tomada. − É realizado depois da tomografia a) Abscesso intra-abdominal menor do que 4 centímetros de diâmetro, sem peritonite (estádio 1 de Hinchey): Atualmente está prescrita somente a administração de antibióticos e repouso intestinal. b) Abscesso intra-abdominal maior do que 4 centímetros de diâmetro (estádio 2 de Hinchey): drenagem percutânea guiada pela tomografia computadorizada associada à antibioticoterapia, principalmente se houver disponibilidade de radiologia intervencionista. Esse procedimento pode ser programado em um período de 6 a 8 semanas. Esse período coincide com a quiescência do processo inflamatório, normalização do exame físico e redução da leucocitose. Entretanto, pode ser realizada abordagem cirúrgica precoce, em 7 a 30 dias após a resolução do 6 processo infeccioso, o que pode reduzir o tempo de internação hospitalar e determinar menor morbidade e menos necessidade de ostomia. c) Abscesso intra-abdominal com material fecal grosseiro, peritonite generalizada (estádio 3 de Hinchey), perfuração visceral não contida (estádio 4 de Hinchey) e sepse não controlada: procedimento cirúrgico de urgência. A mortalidade nessa eventualidade é elevada. d) Peritonite não feculenta (estágio III de Hinchey): lavagem laparoscópica para controlar a peritonite e permitir uma ressecção eletiva com anastomose primária. Essa técnica consiste na aspiração de pus, lavagem abdominal e colocação de drenos. e) Peritonite feculenta (estágio IV de Hinchey): a ressecção é sempre recomendada.
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