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DIREITO CIVIL QUESTAO 1

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QUESTÃO 01
“(...)Caio Mario da Silva Pereira indaga se uma pessoa pode recusar-se a receber sangue alheio, por motivo de convicção filosófica ou religiosa. Em seguida, pondera que a questão tem disso levada à justiça. A que cabe decidir, resguardando a responsabilidade do médico, que opinará se a transfusão é indispensável á sobrevivência do paciente. (...)’’ (Carlos Roberto Gonçalves). Com base no texto apresentado, responda a pergunta a seguir:
a. Com base no texto apresentado, responda a pergunta a seguir: Como tem decidido os Tribunais pátrios acerca da possibilidade ou não de resguardar o direito da vontade previamente declarada pelo paciente e acerca do posicionamento politico do médico?
RESPOSTA :
Nas 2 primeiras decisões citadas abaixo a convicção religiosa não prevalece perante a vida e sim conforme Constituição Federal “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” na 3° decisão são colocados em discussão os Direitos à inviolabilidade de consciência de crença previsto na Constituição Federal e a análise do testamento vital, quando o paciente tem estudos e garantias que o tratamento terá cura, o paciente será submetido à transfusão, entretanto, se tiver que passar por um procedimento apenas para postergar uma morte certa ele pode se negar, utilizando o testamento vital descrevendo a forma que deseja realizar o tratamento. São assegurados pelo testamento vital alguns direitos após o posicionamento do médico, o tratamento sem benefício é denominado Distanásia, onde a morte é compreendida como prolongada e dolorida o paciente deve estar em capacidade plena podendo ser previsto no testamento transfusão de sangue, amputação, quimioterapia, doação de órgãos dentre outros, na 3° decisão ele utiliza esses critérios para prevalecer a inviolabilidade de consciência da crença. Existem vários casos na justiça julgados e outros em andamento com aprovações a transfusão de sangue ou com base na Constituição Federal avaliando o direito a vida todos eles serão analisados e serão julgados avaliando cada caso de forma distinta. 
 “Tribunal Regional Federal da 1° Região TRF -1 -APELAÇÃO CIVEL (AC) : AC 0000958-83.2012.01.3400
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE
Ementa
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA PARA AUTORIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO MÉDICO. TRANSFUSÃO DE SANGUE. TESTEMUNHA DE JEOVÁ. DESNECESSIDADE DO PROCEDIMENTO MÉDICO. ALTA HOSPITALAR. PERDA SUPERVENIENTE DE INTERESSE PROCESSUAL. CABIMENTO. 
I – Na hipótese dos autos, a Fundação universidade de Brasília ajuizou ação ordinária em desfavor da paciente, objetivando autorização para proceder, por meio da equipe médica do Hospital Universitário de Brasília, aos atos médicos e cirúrgicos necessários e disponíveis, para salvaguardar a vida da paciente, inclusive transfusão de sangue.
Ocorre que a transfusão foi desnecessária e a paciente teve alta antes mesmo da prolação da sentença, pelo que resta configurada a perda superveniente do interesse processual.
II – Apelação provida para declarar extinto o processo sem resolução do mérito 
Acórdão
A turma, por unanimidade, deu provimento à apelação”.
“Tribunal Regional Federal da 4° Região TRF-4- APELAÇÃO CIVEL: AC 155 RS 2003.71.02.000155-6
RELATORA: JUÍZA VÂNIA HACK DE ALMEIDA
Ementa
DIREITO À VIDA. TRANSFUSÃO DE SANGUE. TESTEMUNHAS DE JEOVÁ. DENUNCIAÇÃO DA LIDE INDEFERIDA. LIBERDADE DE CRENÇA RELIGIOSA E DIREITO À VIDA. IMPOSSIBILIDADE DE RECUSA DE TRATAMENTO MÉDICO QUANDO HÁ RISCO DE VIDA DE MENOR. VONTADE DOS PAIS SUBSTITUÍDA PELA MANIFESTAÇÃO JUDICIAL.
O recurso de agravo deve ser improvido porquanto à denunciação da lide se presta para a possibilidade de ação regressiva e, no caso, o que se verifica é a responsabilidade solidária dos entes federais, em face da competência comum estabelecida no art. 23 da Constituição Federal, nas ações de saúde. A legitimidade passiva da União é indiscutível diante do art. 196 da Carta Constitucional. O fato de a autora ter omitido qual a necessidade da medicação se deu em face da recusa à transfusão de sangue, não afasta que esta seja a causa de pedir, principalmente se foi também o fundamento da defesa das partes requeridas. A prova produzida demonstrou que a medicação cujo fornecimento foi requerido não constitui o meio mais eficaz da proteção do direito à vida da requerida, menor hoje constando com dez anos de idade. Conflito no caso concreto dois princípios fundamentais consagrados em nosso ordenamento jurídico-constitucional: de um lado o direito à vida e de outro, a liberdade de crença religiosa. A liberdade de crença abrange não apenas a liberdade de cultos, mas também a possibilidade de o indivíduo orientar-se segundo posições religiosas estabelecidas. No caso concreto, a menor autora não detém capacidade civil para expressar sua vontade. A menor não possui consciência suficiente das implicações e da gravidade da situação para decidir conforme sua vontade. Esta é substituída pela de seus pais que recusam o tratamento consistente em transfusão de sangue. Os pais podem ter sua vontade substituída em prol de interesses maiores, principalmente em se tratando de próprio direito à vida. A restrição à liberdade de crença religiosa encontra amparo no princípio da proporcionalidade, porquanto ela é adequada à preservar à saúde da autora: é necessária porque em face do risco de vida a transfusão de sangue torna-se exigível e, por fim ponderando-se entra e vida e liberdade de crença, pesa mais o direito à vida, principalmente em se tratando não da vida de filha menor impúbere. Em consequência, somente se admite a prescrição de medicamentos alternativo enquanto não houver urgência ou real perigo de morte. Logo, tendo em vista o pedido formulado na inicial, limitado ao fornecimento de medicamentos, e o princípio da congruência, deve a ação ser julgada improcedente. Contudo, ressalva-se o ponto de vista ora exposto, no que tange ao direito à vida da menor.” 
“TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO LGCL 
AGRAVO DE INSTRUMENTO: 2178279-13.2019.8.26.0000 COMARCA DE SÃO PAULO AGRAVANTES: CARLOS EDUARDO DE MOURA PEREIRA E OUTRO 
AGRAVADA: SPDM- ASSOCIAÇÃO PAULISTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA MEDICINA – HOSPITAL DE TRANSPLANTES DO ESTADO DE SÃO PAULO EURYCLIDES DE JESUS ZERBINI 
MM. JUÍZA: PAULA REGINA SCHEMPF CATTAN
RELATOR: PAULO ALCIDES AMARAL SALLES
O relatório apresentado pelo médico hematologista que acompanha o paciente indica a necessidade da realização de transfusões de sangue, em razão da piora dos sintomas de anemia profunda, havendo referência expressa ao potencial risco de instabilidade hemodinâmica e óbito (fl. 60). Em contrapartida, o paciente se recusa expressamente a realizar a terapia transfusional, afirmando que esta prática afronta a sua convicção religiosa. Tal manifestação de vontade está materializada em um documento registrado em cartório, com a assinatura do enfermo e de duas testemunhas, denominado “Diretivas Antecipadas e Procuração para Tratamento de Saúde”, no qual ele afirma de forma convicta – porque realçado em regrito – que não aceita “NENHUMA TRANSFUSÃO de sangue total, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas ou plasma, em nenhuma circunstância, mesmo que os profissionais de saúde opinem que isso seja necessário para a manutenção da minha vida (Atos 15:28.29). Recuso-me a fazer doações antecipadas e armazenar meu sangue para posterior infusão”. Nesse contexto, não obstante a necessidade de se resguardar a garantia fundamental à vida, assegurada pelo artigo 5º, caput, da Constituição Federal, deve ser observado que, no caso vertente, também estão em discussão outros direitos fundamentais da pessoa humana, tais como a autonomia da vontade, inviolabilidade da consciência e crença e o direito do enfermo de não se submeter a tratamento médico ou à intervenção cirúrgica. Essa questão, inclusive, já foi levada a debate naV Jornada de Direito Civil, coordenada pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar, na qual foi editado o Enunciado 403:
“O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante.”. Assim sendo, considerando a necessidade de proteção e ponderação de todos os direitos fundamentais e, atentando-se ao fato de que a observância dos preceitos de certa religião é expressão da dignidade humana dos indivíduos que creem, a priori, vislumbro legitimidade na recusa do agravante de se submeter às transfusões de sangue, visto que tal procedimento, para ele, implicaria em tratamento degradante por afrontar as suas crenças. Desta forma, ao menos à primeira vista entendo que deve preponderar a autonomia da vontade do PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO AI - 2178279-13.2019.8.26.0000 - LGCL 7 recorrente, pessoa adulta, consciente, em plena condição de exercer seus direitos mais caros. Assim, em juízo de cognição sumária, presentes os requisitos do parágrafo único do artigo 995 do Código de Processo Civil, defiro a liminar para atribuir efeito suspensivo ao agravo de instrumento.”
b. Quais os efeitos jurídicos acarretado às partes segundo as decisões dos tribunais?
RESPOSTA:
Anterior à data 16 de setembro de 2019 os processos eram analisados conforme as informações contidas, julgados com parecer de aprovação a transfusão de sangue e não aprovação a tal escolha, colocando em pauta suas vontades e diretrizes conforme a medicina emprega junto com a constituição Federal que garante o direito individual e a responsabilidade dos atos decorrentes da convicção religiosa mesmo lhe pondo risco à vida. Não tínhamos uma resolução para que esses julgamentos pudessem ser mais precisos com a resolução RESOLUÇÃO CFM Nº 2.232/2019 as pessoas que fazem uso da convicção religiosa obtiveram o direito de não realizarem transfusão de sangue salvo estar em plena consciência, ser maior de idade, sendo este informado de todos os riscos, podendo utilizar-se de outro tratamento disponível se houver. 
Em pesquisas encontrei pais e médicos processados, não houve condenação conforme as citações abaixo, entretanto todo esse processo acarreta gastos, uma possível cassação de registro profissional, condenação, um transtorno que pode levar anos. 
“A 6ª turma do STJ proferiu decisão nos autos do HC 268.459-SP, por meio da qual inocentou os pais de uma menina pela morte de sua filha de 13 anos por recusa à transfusão de sangue que se fazia necessária. A decisão até então estaria irretocável não fosse a responsabilização - destaca-se, exclusiva - dos médicos por supostamente (i) não ter desrespeitado a vontade do paciente e/ou de seu representante legal em prol da vida e (ii) não utilizar de todos os métodos que estavam à sua disposição para salvar a vida da criança.
Com todo o devido respeito e acatamento, a r. decisão do STJ equivocou-se em diversos aspectos. A começar pela invocação de supostas violações por parte dos médicos do quanto disposto nos arts. 31 e 32 do Código de Ética Médica em vigor em 2009 ("CEM"). Segundo consta da r. decisão, os médicos teriam o dever de (i) desrespeitar o direito do paciente e/ou de seu representante legal em caso de iminente risco de morte e (ii) usar todos os meios disponíveis de diagnósticos e tratamentos ao seu alcance em favor do paciente.
No nosso respeitoso entendimento, a interpretação dada aos artigos do CEM é totalmente equivocada.
Em primeiro lugar, o art. 31 do CEM em momento algum cria um "dever" de o médico desrespeitar a escolha do paciente em caso de iminente risco de morte. Tal dispositivo, a bem da verdade, apenas confere uma faculdade ao médico de desrespeitar a escolha do paciente e/ou de seu representante legal em prol da vida, mas em momento algum cria uma obrigação. Afinal, o que não é "vedado" é "permitido". Confira-se:
"É vedado ao médico:
Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte.(...)"
“A prática médica deve estar acompanhada de uma atuação eticamente responsável[5]. Uma pesquisa jurisprudencial demonstra que o Conselho Federal de Medicina (CFM) já apreciou em três ocasiões casos de médicos que não transfundiram sangue em respeito à posição de pacientes Testemunhas de Jeová: Apelação 1.251/11 CRM-SC; Apelação 654/00 CRM-SP; e Apelação 5.793/98 CRM-SP.
Nos três casos, o CFM reconheceu que não há infração ética quando o médico respeita a autonomia do paciente.
Como exemplo, transcreve-se ementa de acórdão de lavra do conselheiro Roberto Luiz D'Ávila:
PROTOCOLO. RECURSO DE ARQUIVAMENTO. INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE INFRAÇÃO ÉTICA. MANUTENÇÃO DO ARQUIVAMENTO. I - Não se vislumbra indícios de infração ética quando o médico deixa de instituir procedimentos diagnósticos ou terapêuticos necessários ao tratamento do seu paciente, quando impedido por recusa consciente do paciente e de seus familiares, decorrente de motivos de ordem religiosa. II Apelação conhecida e improvida (...) Sem dúvida é um direito individual de todo cidadão professar o credo ou a religião que lhe aprouver. A própria Constituição Federal garante esse direito individual. Porém, a responsabilidade dos atos decorrentes da obediência aos dogmas de credos e religiões professados, mesmos os que coloquem em risco à própria vida, não podem, e não devem, ser transferidos a outras pessoas (CFM - Número: 5793/1998 - Origem: CRM-SP – Pub. 22/10/2001).”

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