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Livro Os Simpsons e a Filosofia

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Coletânea de
Aeon }. Skoble, Mark T. Conard 
e William Irwin MADRAS
F iloso fia /T elev isão /D esenho A nim ado
E A F I L O S O F I A \,
Os Simpsom e a Filosofia traz uma série de análises a 
respeito da ironia e da irreverência de uma das comédias 
mais inteligentes da televisão mundial: Os Simpsons. 
Profissionais da Filosofia e de outras áreas do saber reúnem- 
se para desvendar questões filosóficas levantadas pelos 
personagens, enredos e pensamentos da série, mostrando que 
pode haver seriedade por trás de um programa que vai 
muito além da história de um “bobão” e sua família.
Os ensaios aqui reunidos são provocantes, reflexivos e muito 
divertidos de se ler. Há textos que comparam Os Simpsons a 
outras séries televisivas, como Os Flintstons; outros que 
traçam paralelos entre a série e filmes como Psicose, Pulp 
Fiction — Tempos de Violência, O Retrato de Dorian Gray e 
Os Bons Companheiros; e outros ainda mais inusitados, 
aproximando a história dessa família ao cerne do 
pensamento filosófico, a exemplo dos capítulos “Homer e 
Aristóteles”, “Lisa e o antiintelectualismo americano” e 
“Assim falava Bart: Nietzsche e as virtudes de ser mau”. 
Formidável, inusitado e altamente desafiador, Os Simpsons e 
a Filosofia é um livro que mostra como a Filosofia pode 
residir em qualquer lugar, até mesmo em um desenho 
popular. Uma obra que alia a profundidade de uma ciência 
tão antiga à linguagem contemporânea dos desenhos 
animados, introduzindo os leitores ao pensamento filosófico 
pelo meio mais atrativo e agradável: o riso.
Os Simpsons e a 
Filosofia, coletânea de 
filósofos como W illiam 
Irwin, M ark T. Conard e 
A eon J. Skoble, é um 
livro extrem am ente 
inteligente e inusitado 
por apresentar toda a 
profundidade da 
Filosofía por meio da 
linguagem dos desenhos 
anim ados, o que lhe 
garantiu sucesso e 
reconhecim ento em todo 
o m undo.
Veja alguns com entários 
a respeito da obra:
“Recomendo o livro a 
qualquer pessoa 
interessada em usar um 
texto provocante e, às 
vezes, desafiador como 
introdução para um curso 
de Filosofia. ”
Professor M ichael F.
G oodm an, H um boldt 
State U niversity
“Os Sim psons e a 
Filosofia é um grande 
ponto de partida para 
qualquer estudo a respeito
MADRAS
dos Simpsons. Uma visão 
séria de um assunto 
engraçado. ”
M ark I. Pinsky, autor de 
The Gospel According the 
Simpson
“Não só Os Sim psons e a 
Filosofía é altamente 
educacional, mas ainda 
permite ver com novos 
o Utos os episódios, 
trazendo uma nova luz à 
série. ”
Professor Per Brom an, 
Butler University, 
Indianópolis
“Eu recomendo a todos, 
fãs de Simpsons ou não. 
Você ficará surpreso com 
a sabedoria que se 
esconde nestas páginas. ” 
Tom M orris, autor de I f 
Aristotles Ran General 
Motors
“Os fãs dos Simpsons sem 
dúvida acharão este livro 
a resposta perfeita para 
aqueles que dizem que o 
desenho é estúpido. ”
Publishers W eekly
MADRAS
Coletânea de W illian Irw in, 
M ark T. Conard eAeon J. Skoble
Tradução:
Marcos Malvezzi Leal
MADRAS
Publicado originalmente em inglés sob o título The Simpsons and Philosophy por 
Carus Publishing Company 
© 2001, Carus Publishing Company.
Direitos de edição para todos os países de língua portuguesa.
Tradução autorizada do inglés 
© 2004, Madras Editora Ltda.
Editor:
Wagner Veneziani Costa
Produção e Capa:
Equipe Técnica Madras
Tradução:
Marcos Malvezzi Leal
Revisão:
Arlete Genari
Caroline Kazue Ramos Furukawa
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
S621
Os Simpsons e a filosofia/[editores]William Irwin, Mark T. Conard, Aeon J. Skoble; 
tradução Marcos Malvezzi Leal. - São Paulo: Madras, 2004 
Tradução de: The Simpsons and philosophy
ISBN 85-7374-849-4
I. Simpsons (Programa de televisão). 2. Filosofía - Miscelânea. I. Irwin, William, 1970-.
II. Conard, Mark T., 1965-, III. Skoble, Aeon J.
04-0554. CDD 100
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer 
meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo 
ainda o uso da internet, sem a permissão expressa da Madras Editora, na pessoa de seu 
editor (Lei nB 9.610, de 19.2.98).
Todos os direitos desta edição, em língua portuguesa, são reservados pela
CDU 1
11.03.04 09.03.04 005740
MADRAS EDITORA LTDA.
Rua Paulo Gonçalves, 88 — Santana
02403-020 — São Paulo — SP
Caixa Postal 12299 — CEP 02013-970 — SP
Tel.: (0__ 11) 6959.1127 — Fax: (0_ _11) 6959.3090
www.madras.com.br
http://www.madras.com.br
“Eu recomendo a todos, fãs dos Simpsons ou não. Você ficará surpreso 
com a sabedoria que se esconde nestas páginas. ”
Tom Morris, autor de If Aristotles Ran General Motors
“Os fãs dos Simpsons sem dúvida acharão este livro a resposta perfeita 
para aqueles que dizem que o desenho é estúpido. ”
Publishers Weekly
“Não só Os Simpsons e a Filosofía é altamente educacional, mas ainda 
permite ver com novos olhos os episódios, trazendo uma nova luz à série. ” 
Professor Per Broman, Butler University, Indianápolis
“Os Simpsons e a Filosofia é um grande ponto de partida para qualquer 
estudo sobre os Simpsons. Uma visão séria de um assunto engraçado. ”
Mark I. Pinsky, autor de 
The Gospel According the The Simpsons
“Os Simpsons e a Filosofia é um livro formidável. Filósofos e não-filósofos 
se reúnem para mostrar que algumas questões filosóficas muito interessan­
tes são levantadas pelos personagens, pensamentos e enredos de Os 
Simpsons. Os ensaios são bem escritos, muitas vezes provocantes, reflexi­
vos, inteligentes sem elitismo e, talvez, muito valiosos, divertidos de ler. 
Nada de uma apologia aos Simpsons (por exemplo, Bart poderia ser um 
herói nietzschiano ou um pensador heideggeriano?), este livro é um trata­
do filosófico sério aplicado a um programa de televisão às vezes sério (e 
seriamente engraçado). Há também textos dedicados a interesses mais lite­
rários, como paródia, alusão e ironia, com tentativas de mostrar como Os 
Simpsons pode ser comparado a outras formas de arte, como por exemplo o 
cinema. São feitas algumas esplêndidas comparações entre Os Simpsons e 
numerosas outras séries de televisão; por exemplo, Seinfeld, Leave it to 
Beaver, The Jack Benny Show, e MASH, bem como filmes como Psicose, Pulp 
Fiction — Tempo de Violência, Os Bons Companheiros e O Retrato de Donan 
Gray. Recomendo este livro a qualquer um que já fo i pego desprevenido por 
um exemplo de Homer tendo sua lógica desafiada, ou Bart fazendo algum 
“truque sujo”, ou um comentário profundo de Lisa. Recomendo o livro a 
qualquer pessoa interessada em usar um texto provocante e, às vezes, desa­
fiador como introdução para um curso de filosofia.
Você pode aprender muito com este livro (agora ouça as vozes de Homer 
e Bart ecoando), “mas não precisa se não quiser. ”
Professor Michael F. Goodman 
Humboldt State University
5
Dedicatória
Lionel Hutz e Troy McClure (que 
talvez você se lembre de programas 
de TV como Os Simpsons,)
7
Agradecimentos
Escrever, editar e outras miscelâneas de tarefas envolvidas na 
produção de Os Simpsons e a Filosofia fo i uma experiência divertida e 
estimulante. Gostaríamos de agradecer as contribuições por manter­
mos o senso de profissionalismo e o senso de humor em todo o projeto. 
Nossos sinceros agradecimentos ao pessoal simpático da Open Court, 
particularmente David Ramsay Steele e Jennifer Asmuth por seus con­
selhos e assistência. Finalmente, e não com menos louvor, queremos 
agradecer também a nossos amigos, colegas e alunos com quem dis­
cutimos Os Simpsons e a Filosofia, que ajudaram a tomar possível este 
trabalho e ofereceram um valioso retorno enquanto ele estava em an­
damento. Uma lista assim é quase inevitavelmente incompleta, mas entre 
aqueles a quem muito devemos, estão: Trisha Alien, Lisa Bahnemann, 
Anthony Hartle, Megan Lloyd, Jennifer O ’Neill e Peter Stromberg.
9
✓
Indice
Introdução................................................................................................... 13
ParteI
Os personagens ........................................................................................ 17
1. Homer e Aristóteles............................................................. 19
H aja H alwani
2. Lisa e o antiintelectualismo americano...............................33
A eon J. Skoble
3. A importância de Maggie: sons do silêncio, leste e oeste .... 43 
E ric Bronson
4. A motivação moral de M arge............................................... 53
G erald J. E rion e J oseph A . Z eccardi
5. Assim falava Bart: Nietzsche e as virtudes de ser mau .... 65 
M ark T. C onard
Parte II
Temas de Os Simpsons................................................................................81
6. Os Simpsons e alusão: “O pior ensaio já escrito” .............. 83
W illiam Irwin e J. R. L ombardo
7. Parodia popular: Os Simpsons e o filme policial................ 93
D eborah K night
8. Os Simpsons, hiper-ironismo e o significado da v id a ..... 107
C ari. M atheson
9. Política sexual simpsoniana............................................. 123
D ale E. Snow e J ames J. Snow
11
12 Os Simpsons e a Filosofia
Parte III
Não fu i eu: Ética e Os Simpsons...........................................................139
10. O mundo moral da familia Simpson:
urna perspectiva kantiana..................................................... 141
James L awler
11. Os Simpsons: política atomística e a familia nuclear.........153
Paul A . C antor
12. Hipocrisia de Springfield.......................................................169
J ason H olt
13. Apreciando esse tal de “Sorvete”:
Sr. Bums, satanás e felicidade.............................................181
D aniel B arwick
14. Hey-diddily-ho, Vizinhos: Ned Flanders
e o amor ao próximo.............................................................191
D avid V essey
15. A função da ficção: o valor heurístico de Homer..............203
J ennifer L. M cM ahon
Parte IV
Os Simpsons e os filósofos ....................................................................219
16. Um marxista (Karl, não Groucho) em Springfield.............221
James M . W allace
17. “E o resto se escreve sozinho”: .......................................... 237
Roland Barthes assiste a Os Simpsons
D avid L . G. Arnold
18. O que Bart chama de pensamento...................................... 253
Kelly D ean Jolley
Guia de episodios............................................................................... 265
Baseado em idéias d e ............................................................................ 273
Apresentando as vozes d e ................................................................ 281
índice remissivo................................................................................. 285
Introdução
Meditações a respeito de Springfield'P
Quantos filósofos são necessários para escrever um livro sobre Os 
Simpsonsl Aparentemente, uns 20 para escrever e 3 para editar. Mas isso 
não é mau, se levarmos em conta que 300 pessoas levam 8 meses, com o 
custo de 1,5 milhão de dólares, para fazer um único episódio da série. Mas, 
falando sério, será que não temos mais nada para fazer além de escrever 
acerca de programas de televisão? A resposta mais curta é Sim, temos; mas 
gostamos de escrever estes ensaios e esperamos que você goste de lê-los.
As sementes deste volume foram plantadas alguns anos atrás. Quan­
do a popular série cômica Seinfeld estava saindo do ar, William Irwin teve 
uma idéia ardilosa — uma coletânea de ensaios filosóficos a respeito de 
“uma série sobre nada”. Ele e seus colegas filósofos gostavam do progra­
ma e participavam de muitas discussões bem-humoradas e estimulantes 
sobre ele; então, por que não participar da diversão na forma de um livro? 
O pessoal da Open Court teve a visão, a fortitude e o senso de humor para 
assumir o projeto, então Irwin editou Seinfeld and Philosophy: A Book 
about Everything and Nothing. O livro foi um verdadeiro sucesso, não só 
no meio acadêmico, mas entre o público em geral.
Outra série de televisão que Irwin e seus amigos apreciavam e sobre 
a qual tinham discutido era Os Simpsons. Gostavam da ironia do desenho, 
de sua irreverência, e perceberam — como em Seinfeld — que seria um 
terreno fértil para investigação e discussão filosófica. Então, Irwin resolveu 
montar um segundo volume, desta vez a respeito de Os Simpsons, e pediu
13
14 Os Simpsons e a Filosofia
a dois de seus colaboradores em Seinfeld, Mark Conard e Aeon Skoble, 
que co-editassem a obra. Mais urna vez, a Open Court aplaudiu a idéia, e se 
você está lendo isso, é porque obviamente tem pelo menos um leve interesse 
ou por filosofia, ou pelos Sim psons, ou ambos. O conceito é o mesmo: a 
série tem inteligencia e profundidade suficientes para permitir discussões 
filosóficas e, como um programa popular, também serve de veículo para 
explorar uma variedade de assuntos filosóficos para um público geral.
O s Sim psons é rico em sátira. Sem dúvida, é urna das comédias mais 
inteligentes na televisão hoje em dia (Sabemos que isso não é muito, mas...). 
Pode parecer incongruente para aquelas pessoas que desprezam a série, 
considerando-a apenas um desenho animado sobre um bobão e sua familia 
(e já vimos muitos programas assim), dizer que o programa é inteligente, 
mas, se ele for assistido com atenção, revelará níveis de comédia muito 
além da farsa. Vemos segmentos e mais segmentos de sátira, duplos senti­
dos, alusões à alta cultura e à cultura popular, manipulação, paródia e humor 
auto-referencial. Em resposta à crítica de Homer a respeito de um desenho 
animado que as crianças estão vendo, Lisa diz: “Se os desenhos fossem fei­
tos para adultos, passariam no horário nobre!” Apesar das palavras de Lisa, 
Os Simpsons é, sem dúvida, um programa para adultos, e seria superficial 
desprezá-lo simplesmente por ser um desenho animado popular.
Matt Groening estudou Filosofia na faculdade, mas nenhum dos co- 
autores deste livro acredita que exista uma profunda filosofia no desenho 
de Groening. Isto não é “a filosofia de O s Sim psons” nem "Os Sim psons 
como filosofia”; é O s Sim psons e a F ilosofia. Não tentamos aqui transmi­
tir o sentido oculto e pretendido de Groening e da legião de roteiristas e 
artistas que trabalham no programa. Queremos, isto sim, destacar a impor­
tância filosófica de O s Sim psons, como a vemos. Alguns dos ensaios neste 
livro são as reflexões de acadêmicos com relação a um programa do qual 
eles gostam e que, segundo eles, diz algo acerca de um aspecto da filosofia. 
Por exemplo, Daniel Barwick trata do miserável Sr. Bums, para determinar 
se podemos aprender algo sobre a natureza da felicidade a partir da infeli­
cidade desse personagem. Outros exploram o pensamento de um filósofo, 
fazendo uso de um dos personagens. Mark Conard, por exemplo, pergunta: 
A rejeição de Nietzsche da moralidade tradicional pode justificar o mau 
comportamento de Bart? Outros ainda usam a série como um veículo para 
desenvolver temas filosóficos de uma maneira acessível ao não-especialis- 
ta (uma pessoa inteligente que tem um certo interesse em reflexão filosófi­
ca, mas não vive disso). Jason Holt, por exemplo, explora a “Hipocrisia de 
Springfield”, para determinar se a hipocrisia é sempre antiética.
O livro não é uma tentativa de reduzir a Filosofia ao denominador 
comum mais baixo; não temos o intento de “nivelar por baixo”. Pelo contrá­
rio, esperamos que nossos leitores não-especialistas se interessem em ler 
mais a respeito de Filosofia, do tipo que não envolve programas de televi-
Introdução 15
são. Também esperamos que nossos colegas que leiam estes ensaios os 
considerem provocantes e divertidos.
É legítimo escrever ensaios filosóficos sobre cultura popular? A res­
posta padrão a essa pergunta é que Sófocles e Shakespeare também eram 
cultura popular em sua época, e ninguém questiona a validade das refle­
xões filosóficas de suas obras. Mas isso não se aplica no caso de Os 
Simpsons. (Dã!) Se déssemos a mesma resposta,passaríamos a impres­
são errônea de que consideramos Os Simpsons algo equivalente às melho­
res obras de literatura, profundo a ponto de iluminar a condição humana. 
Não é verdade. Mesmo assim, é um trabalho com certa profundidade, e 
suficientemente engraçado para merecer uma atenção séria. Além disso, sua 
popularidade significa que podemos usar Os Simpsons como meio de ilus­
trar questões filosóficas tradicionais para efetivamente atingir os leitores 
fora da academia.
E, por favor, lembre-se de que, embora às vezes sejamos acusados de 
impiedade e até executados por isso, nós, filósofos, também somos huma­
nos. Não fique bravo, cara!
Parte I
Os
beisonagens
17
f
1
Homer e Aristóteles
Raja H alwani
Os homens, por mais que olhem, não vêem o que é o bem-estar, o que é bom 
na vida.
Aristóteles, A Ética a Eudêmio, 1216 a 10
Não sei viver uma vida simples como você. Eu quero tudo! Os aterradores 
baixos, os atordoantes altos, os insossos meios! Claro que eu posso ofen­
der alguns narizes empinados com meu passo arrogante e meu cheiro 
almiscarado —Ah, eu nunca vou ser o queridinho dos tais “Pais da Cida­
d e ”, que soltam a língua, acariciam a barba e perguntam “O que fazer 
com esse Homer Simpson ? ”
HomerSimpson, “Lisa’sR iva l”
Homer Simpson não passa no teste, se for avaliado moralmente. Isso 
se nota particularmente quando nos concentramos em seu caráter, em vez 
de em seus atos (embora ele não brilhe muito também na segunda catego­
ria). Mas, de alguma forma, existe algo eticamente admirável a respeito de 
Homer. Daí surge a seguinte charada: Se Homer Simpson é moralmente 
ruim, onde ele é admirável? Investiguemos isso.
Os tipos de caráter de Aristóteles
Aristóteles nos deu uma categorização lógica de quatro tipos de cará­
ter.1 Falando de um modo geral, e deixando de lado os dois tipos extremos
1 Minhas observações acerca de Aristóteles derivam basicamente de sua obra A Etica a 
Nicômaco, livros I, II, V e VIII, traduzido para o inglês por Terence Irwin (Indianápolis: 
Hackett, 1985) e Política (trad. para o inglês por B. Jowett, em lonathan Bames (ed.), The 
Complete Works o f Aristotles, volume 2 (Princeton: Princeton University Press, 1984). 
Referências específicas aparecem no corpo do texto. Desnecessário dizer que muito do que 
eu argumento a respeito de Aristóteles é passível de debate.
19
20 Os Simpsons e a Filosofia
que são o caráter do super-humano e do bestial, temos o virtuoso, continen­
te, incontinente e o vicioso. Para compreendermos melhor cada tipo, vamos 
contrastá-los em termos de como cada caráter se manifesta em ações, 
decisões e desejos. Devemos também considerar uma situação como exem­
plo e ver como cada um reagiria a ela.
Suponha que uma pessoa, a quem chamaremos de “Lisa”, estivesse 
andando na rua e encontrasse uma carteira com uma considerável quantia 
em dinheiro. Se Lisa fosse virtuosa, ela não só tomaria a decisão de entre­
gar a carteira às autoridades competentes, mas ainda se sentiría bem em 
fazer isso. Os desejos de Lisa estariam em harmonia com a correta ação e 
decisão. Considere agora Lenny, que é continente: se Lenny achasse a car­
teira, ele tomaria a decisão certa - devolver a carteira intacta - e seria capaz 
de cumprir a decisão - mas estaria agindo de forma contrária ao desejo de 
não devolver. Essa é a marca da pessoa continente: lutar contra os desejos 
para conseguir fazer a coisa certa.
Com os tipos incontinente e vicioso de caráter, as coisas pioram. A 
pessoa incontinente é capaz de tomar a decisão certa, mas tem a vontade 
fraca. No caso da carteira, e supondo que Bart seja o tipo de caráter incon­
tinente de que falamos, ele sucumbiría ao desejo de ficar com a carteira e 
não agir corretamente, embora saiba que é errado não entregá-la ao dono. 
Com a pessoa viciosa, não há luta entre os desejos nem vontade fraca. O 
motivo disso, porém, é que a decisão da pessoa viciosa é moralmente erra­
da, e seus desejos cooperam plenamente com ela. Se Nelson fosse vicioso, 
ele resolvería ficar com o dinheiro (e jogar fora o resto da carteira, ou 
devolvê-la e mentir sobre o que encontrou nela), desejaria fazer isso e agi­
ría de acordo com o desejo.
Observemos melhor o que constitui um caráter virtuoso. Uma pessoa 
virtuosa é aquela que tem e exerce virtudes. Essas virtudes, aliás, são esta­
dos (ou características) de caráter que dispõem seu detentor a agir da for­
ma correta e reagir emocionalmente da mesma maneira. Diante disso, vemos 
por que Aristóteles insistia em que as virtudes são estados de caráter que 
concernem tanto à ação quanto ao sentimento (Ética, livro II, especialmen­
te 1106M5-35). Por exemplo, se alguém tem a virtude da benevolência, 
estará disposto a ser caridoso com as pessoas certas nas circunstâncias 
certas. Ele não daria dinheiro a qualquer um que lhe pedisse. O indivíduo 
virtuoso deve perceber que seu beneficiário necessita realmente do dinhei­
ro, e que o usará corretamente. Além disso, a reação emocional da pessoa 
virtuosa é apropriada à situação. Isso significa que a pessoa benevolente 
em nosso exemplo daria o dinheiro de bom grado, sem se lamentar, e sua 
motivação seria a necessidade do beneficiário. Em contrapartida, uma pes­
soa continente não abre mão facilmente do dinheiro, não porque precise 
dele e não possa partilhar, mas porque é predisposta à ganância ou superes­
tima o quanto pode necessitar do dinheiro no futuro.
Homer e Aristóteles 21
Observe, porém, considerando este relato, que o motivo tem um papel 
crucial. Pois, se para ser virtuoso, alguém precisa de habilidades perceptivas 
quanto às situações enfrentadas, então o indivíduo virtuoso não pode ser 
estúpido ou ingênuo. Deve ter habilidades de raciocínio crítico que lhe per­
mitam notar as diferenças nas situações e ser capaz de reagir de acordo. 
De fato, esse é um dos motivos por que Aristóteles enfatizava a idéia de 
que o tema da ética não admite a precisão rigorosa {Ética, 1094M3-19). A 
função da razão prática (phronesis) é algo em que Aristóteles insistia: se 
uma pessoa é virtuosa por impulso, digamos, não possui a virtude “total”, 
mas no máximo “natural” {Etica, 114b3-15); e possuir a virtude natural 
significa estar inclinado a fazer a coisa certa por acaso.2
Se apelarmos para as condições de Aristóteles para as ações corre­
tas, estaremos em posição de completar nosso relato. Aristóteles diz: “Pri­
meiro, [o agente] deve saber que o que está fazendo é uma ação virtuosa; 
depois, deve decidir fazê-la - e decidir pela ação em si; e, finalmente, deve 
agir a partir de um caráter firme e imutável” {Ética, 1105a30-1105b). Em 
suma, o que o filósofo tinha em mente aqui era isto: em primeiro lugar, ao 
agir com virtude, o agente deve saber que sua ação é virtuosa; ele age 
segundo a descrição de que “tal e tal ação é justa (ou generosa, ou hones­
ta).” A segunda condição parece englobar duas condições, não uma. O 
agente deve agir voluntariamente, e assim proceder porque a ação é virtuo­
sa. Isso significa que mesmo que alguém aja sob a descrição de que “esta 
ação é justa”, sua ação não seria virtuosa a menos que ele a praticasse 
justamente por ser virtuosa. A terceira condição estabelecida é crucial, e 
nos leva ao início desta discussão: o indivíduo virtuoso age com virtude não 
só quando a ação é justa e porque é justa, mas também porque ele é um 
indivíduo justo. Ele é do tipo que está disposto a se comportar de modo 
moralmente correto quando a situação assim exige. Isso (faz parte do que) 
significa ter um caráter “firme e imutável”.
0 caráter de Homer: Dãí Dãí E duplo dãí
Tendo em vista o relato de Aristóteles acerca de virtude, a situação 
parece ruim para Homer Simpson (e não voltarei atrás nesse julgamento; 
por isso, não espere alguma distinção engenhosa que me faça rever essas 
palavras). Considere a princípio a virtude da temperança (moderação) que,
2 Devemos resistir à tentação de pensar que uma pessoa viciosa também possui sabedoria 
prática. A pessoa viciosa, segundo Aristóteles,não tem phronesis; tem, isto sim, apenas 
esperteza. Para Aristóteles, a razão prática tem força normativa e não o mero papel de usar 
um meio para chegar a um fim. Phronesis nos permite saber que coisas são importantes e 
éticas na vida. Por isso Aristóteles diz repetidas vezes que o que é certo parece certo para 
o agente virtuoso (ver, por exemplo, Ética 1176al6-19).
22 Os Simpsons e a Filosofia
basicamente, porém com certa contenção, aborda nossa habilidade em 
moderar os apetites físicos. Não é preciso uma observação astuta para se 
perceber que Homer está longe de ser um homem moderado. Ele não só 
não é virtuoso quanto aos apetites físicos, mas é extremamente vicioso, o 
que se observa de modo particular em seu consumo de comida e bebida, 
ainda que não em atividade sexual. Seus desejos o impelem a se empantur­
rar constantemente, e ele sucumbe de bom grado a esses desejos. Por 
exemplo, em “Homer’s Enemy”,3 ele se deliciou comendo metade de um 
sanduíche que pertencia a seu colega de trabalho temporário Frank Grimes 
- ou “Grimey” - embora na lancheira estivesse marcado claramente o 
nome deste. Pior ainda, mesmo depois de Grimes ter mostrado isso a ele, 
Homer conseguiu dar mais duas mordidas no sanduíche antes de colocá-lo 
de volta na lancheira. O desejo de Homer por comida também o faz criar 
algumas receitas interessantes. Observe, por exemplo, quando ele enrola 
um waffle semiassado num palito com manteiga e, claro, o come (“Homer 
the Heretic”). A saúde de Homer ficou comprometida por causa de seus 
maus hábitos alimentares, tanto que ele precisou de uma ponte de safena 
(“Homer’s Triple Bypass”), mas não se intimidou com isso. De fato, mes­
mo quando está sofrendo evidente e forte dor física, Homer não se intimi­
da. Veja-o comer carne estragada no Kwik-E-Mart, depois passar mal e 
ser levado às pressas para o hospital. Em vez de se queixar formalmente 
contra Apu, ele ficou imediatamente satisfeito com a oferta de Apu de 5 
quilos de camarão passado, grátis. Homer sabia que o camarão tinha um 
cheiro “esquisito”, mas o comeu mesmo assim, e teve de voltar ao hospi­
tal (“Homer e Apu”). A gula de Homer é parte tão integrante de seu 
caráter, que ele consome comida mesmo quando está semiadormecido. 
Em “Rosebud”, em estado sonambúlico, Homer entra na cozinha, abre a 
porta da geladeira, comenta: “Hmm... 64 fatias de queijo americano”, e 
vai comendo o queijo durante o resto da noite. A questão da intemperança 
de Homer não precisa de mais explicações; seu nome passou a ser um 
sinônimo de amor por comida e cerveja.
Ele é também um mentiroso contumaz; falta-lhe honestidade. Em 
“Duffless”, ele mentiu para a família sobre seus planos para um determina­
do dia, dizendo a eles que ia trabalhar quando, na verdade, pretendia fazer 
uma excursão pela Cervejaria Duff. Para catalogarmos algumas outras 
lorotas de Homer: ele mentiu para Marge quanto a nunca ter concluído o 
ensino médio (“The Front”); mentiu a respeito de seus prejuízos financeiros em 
investimentos (“Homer vs. Patty and Selma”), e mentiu repetidas vezes
3 Ver “Guia de Episódios” no fim deste livro. Muitas das citações e todos os títulos dos 
episódios em meu texto são de The Simpsons: A Complete Guide to Our Favorite Family, 
editado por Ray Richmond (Nova York: Harper Collins, 1997), e The Simpsons Forever, 
editado por Scott M. Gimple (Nova York: Harper Collins, 1999)
Homer e Aristóteles 23
sobre ter jogado fora a arma que tinha comprado (“The Cartridge Family”). 
Homer também envolveu Apu em uma grande teia de mentiras contadas à 
mãe deste último, dizendo a ela que já era casado com Marge, forçando 
Marge a participar da trama (“The Two Mrs. Nahasappemapetilons”). 
Homer não é sensível às necessidades e direitos dos outros; ele parece não 
ter benevolência nem justiça. Em “When Flanders Failed”, ele insiste para 
que Ned Flanders lhe venda os móveis da casa dele a preço de banana, 
embora soubesse que Ned estava “a zero” e precisava de dinheiro. Em 
“Bart the Lover”, ele aconselhou Bart, que usava o pseudônimo de Woodrow 
(o amante por correspondência da Sra. Krabappel), a romper com ela es­
crevendo uma nota com as seguintes palavras: “Querida, bem-vinda a Ci­
dade dos Rejeitados: população: você” (antes de escrever, ele diz a Bart 
que as cartas de amor sensíveis são sua especialidade). Homer também 
não tem a menor inclinação para a generosidade: certa vez, disse a Bart: 
“Você deu os dois cachorros? Você sabe o que eu acho de dar as coisas!” 
(“The Canine Mutiny”). E resolveu não votar “culpado” na acusação de 
agressão de Fred Quimby, não porque achasse que Quimby era inocente, 
mas porque percebeu que se agisse assim, o júri ficaria num impasse e 
podería se hospedar de graça no Springfield Palace Hotel (“The Boy Who 
Knew Too Much”).
Homer tem vários “chegados”, mas nenhum amigo. Aristóteles 
enfatizava a importância da amizade devido às suas crenças de que, sem 
amigos, não podemos exercer a virtude nem ter uma vida plena e flores­
cente. Homer não tem um único amigo verdadeiro. No máximo, ele encon­
tra companheiros de bebida (Bamey, Lenny e Cari), mas ninguém com 
quem partilhar suas metas, falar acerca de suas atividades, alegrias e triste­
zas.4 Na verdade, é até difícil dizer que Homer tem algum objetivo na vida 
além de beber.
Suas qualidades como marido e pai deixam muito a desejar (Aristóte­
les parece ter incluído cônjuges e filhos no escopo da amizade; ver Ética 
1158b9-16). Pensemos em alguns dos grandes tropeços de Homer. Ele ten­
ta ganhar o amor de Lisa, comprando-lhe um pônei (“Lisa’s Pony”). Res- 
sentiu-se quando Bart arrumou um “Irmão Mais Velho” e, assim, acabou se 
tomando o próprio Irmão Mais Velho de Pepi —a quem ele chama de 
“Pepsi” — (“Brother form the Same Planet”). Mandou Bart trabalhar num 
salão burlesco como castigo (“Bart After Dark”). Homer acendeu o pavio 
da rivalidade entre irmãos quando Lisa descobriu que gostava de hóquei no 
gelo: “Nesta sexta-feira, o time de Lisa vai jogar contra o time de Bart. 
Vocês estão em uma competição direta. Quero ver os dois lutando pelo
4 Marge podería suprir essa falta, já que Homer conclui que ela é sua alma gêmea. (“The 
Mysterious Voyage of Homer”), mas a maioria dos outros episódios da série parece indicar 
que os dois são muito diferentes em termos de objetivos, interesses e atividades.
24 Os Simpsons e a Filosofia
amor dos pais” (“Lisa on Ice”). Não vamos nos esquecer das tentativas de 
estrangulamento de Bart, precedidas por “Ora seu pequeno...!” E, final­
mente, ele vive esquecendo que Maggie existe.5
As qualidades de Homer como marido não são melhores. Ele não 
apóia ou é indiferente aos projetos de Marge; disse isso a ela em “A Streetcar 
Named Marge.” Sua recusa a ir a espetáculos artísticos e exibições certa 
vez levaram Marge a procurar a companhia de Ruth Powers; a amizade das 
duas colocou as duas mulheres em uma caçada policial ao estilo de Thelma e 
Louise. É verdade que ele pediu desculpas, mas suas desculpas são reveladoras: 
“Olhe, Marge, desculpe-me por eu não ter sido um marido melhor, desculpe 
por ter feito molho na banheira, pela vez que usei o seu vestido de noiva 
para encerar o carro, e desculpe - bem, desculpe-me por todo o casamento 
até agora” (“Marge on the Lam”). Em “Secrets of a Successful Marriage”, 
Homer atingiu um novo pico. Percebeu o que podería oferecer com exclu­
sividade a Marge: “completa e total dependência.” Na verdade, mesmo 
quando tenta apoiar, ele acaba fazendo tudo errado: certa vez, tentou ajudar 
Marge em seu negócio de pretzels, e foi procurar auxílio com a Máfia de 
Springfield, forçando Marge a lidar com Fat Tony e seus capangas (“The 
Twisted World of Marge Simpson”).
Além disso, qualquer esperança de que Homer possa um dia adquirir 
as virtudes morais morre quando reconhecemos que ele não tem aquela 
virtude intelectual necessária para um caráter ético, ou seja, a sabedoria 
prática (phronesis). Phronesis não é conhecimento teórico, embora Homer 
não tenha isso também.Tampouco é o conhecimento dos fatos, outra coisa 
que Homer não tem. A sabedoria prática é a habilidade de uma pessoa 
seguir seu caminho no mundo de maneira inteligente, moral e orientada por 
metas. Alguns exemplos serão suficientes. Primeiro, algumas amostras de 
sabedoria de Homer são altamente duvidosas. Em “There’s No Disgrace 
Like Home”, ele diz: “Quando vou aprender? As respostas para os proble­
mas da vida não estão no fundo de uma garrafa. Estão na televisão!” E 
falando de garrafas - uma vez fez o famoso brinde: “Ao álcool! A causa e 
a solução de todos os problemas da vida!” (“Homer ví. the Eighteenth 
Amendment”). Em “The Otto Show”, ele disse a Bart que “Se uma coisa é 
difícil de fazer, então não vale a pena fazer.” E em “Reality Bites”, disse a 
Marge que “Tentar é o primeiro passo para o fracasso.”
Em segundo lugar, Homer parece não ter os poderes mínimos de 
inferência. Certa vez, ele deduziu que Timmy OToole (o menino fictício 
que Bart afirmava ter caído num poço) era um herói real pelo mero “fato” 
de ter caído em um poço e não conseguir sair (“Radio Bart”). Deduziu 
também que a política do prefeito Quimby de ter uma patrulha de ursos era 
eficiente só porque não havia ursos nas ruas de Springfield! Quando Lisa
5 Ver capítulo 3 deste livro.
Homer e Aristóteles 25
explicou que aquele raciocínio era errôneo, ele achou que ela o estava cum­
primentando (“Much Apu About Nothing”). Quando Lisa lhe disse que 
roubar sinal da TV a cabo era errado, ele discutiu com ela, dizendo que a 
menina também era ladra, pois não pagava pelas refeições em casa nem 
pelas roupas que lhe davam (“Homer vs. Lisa and the 8th Commandment”).
Em terceiro lugar, Homer não tem um dos aspectos mais cruciais do 
raciocínio prático: a capacidade de organizar a vida em tomo de metas 
importantes e dignas, e ir atrás delas com responsabilidade e moral. Ele tem 
muitos sonhos, como se tornar um condutor de monotrilho (“Marge vs. 
the Monorail”) e ser o dono do time Dallas Cowboys (“You Only Move 
Twice”); mas sonhos não são metas, e estas Homer não tem. Pelo me­
nos, metas nobres e dignas de alcançar. Ele parece satisfeito em ser um 
inspetor de segurança incompetente, trabalhando no setor 7G na usina de 
força de Bum, vendo alguns de seus subordinados sendo promovidos antes 
dele. Na verdade, ele estava disposto (“King-Size Homer”) a engordar 
para receber uma licença por incapacidade e trabalhar em casa. Se Homer 
tem uma meta na vida, é a de passá-la inutilmente, comendo, bebendo e 
mergulhando na preguiça. Acrescente-se a tudo isso a extrema ingenuida­
de de Homer (veja quantas vezes Bart é capaz de tapeá-lo), e que teremos 
é alguém com capacidade mínima de raciocínio.
0 caráter de Homer: o vislumbre de alguns lu-hús
Não devemos, porém, ser muito duros com Homer, pois, às vezes, ele 
age de modo admirável. Paradoxalmente, por exemplo, embora ele se es­
queça da existência de Maggie, seu local de trabalho é repleto de fotos 
dela, que ele mesmo colocou por amor a ela (“And Maggie Makes Three”). 
Também, que se saiba, ele nunca cometeu adultério, embora tenha tido 
algumas oportunidades (“Coloner Homer” e “The Last Temptation of 
Homer”).6 Ele costuma ser afetuoso e carinhoso com Marge: desposou-a 
novamente (após se divorciar dela) para compensar o casamento “abala­
do” original (“A Milhouse Divided”). Homer também tem um bom relacio­
namento com Lisa. Considere os seguintes exemplos: seu apoio ao plano 
dela de revelar a teia de mentiras que cercava as origens de Jebediah 
Springfield (“Lisa the Iconclast”), o apoio à autoconfiança de Lisa, inscre­
vendo-a no concurso de Pequena Miss Springfield (“Lisa the Beauty 
Queen”), deixar de comprar um ar condicionado duas vezes para poder lhe 
dar um saxofone (“Lisa’s Sax”), e a ocasião em que ele a levou furtiva-
6 Digo “que se saiba” porque em “Viva Ned Flanders”, Homer acorda num hotel em Las 
Vegas e descobre que durante a bebedeira da noite anterior tinha se casado com uma garço- 
nete, mas não fica claro na história se os dois tiveram relação sexual.
26 Os Simpsons e a Filosofía
mente ao Museu Springsoniano para que ela pudesse ver os “Tesouros de 
ísis” (“Lost Our Lisa”).
As vezes, Homer demonstra coragem. Considere agora estes exem­
plos: ele esbravejou com o Sr. Bums por exigir demais dele (“Homer the 
Smithers”) e por não se lembrar de seu nome (“Who Shot Mr. Bums?”), 
deu uma surra em George Bush (os motivos não ficaram claros; nada tinha 
a ver com alianças partidárias, pois ele apóia Gerald Ford, também republi­
cano) (“Two Bad Neighbors”). Homer também exibe atos de bondade, 
mesmo com pessoas que ele detesta. Em “When Flanders Failed”, ele aju­
dou Ned a aumentar suas vendas no Leftorium; em “Homer Loves Flanders”, 
ele defendeu Ned na igreja (“... esse homem deu toda face de seu corpo 
pra levar um tapa”); e em “Homer versus Patty and Selma”, Homer fingiu 
ser ele que estava fumando para que Patty e Selma não fossem despedidas 
por fumar no local de trabalho.
Homer, às vezes, exibe até inteligência e sabedoria teórica. Como 
exemplos da primeira, ele bolou um intrincado plano para trazer álcool 
contrabandeado a Springfield e se tomou o famoso “Barão da Cerveja” 
(“Homer vs. the Eighteenth Amendmenf’), e elaborou um esquema para 
ganhar dinheiro com o esqueleto de um “anjo” (“Lisa the Skeptic”). Como 
exemplo de sabedoria teórica, Homer mostrou um raro discernimento da na­
tureza da religião, quando resolveu parar de ir à igreja, pois - segundo con­
cluiu - Deus está em todo lugar. Até citou, embora não se lembrasse do 
nome, Jesus como alguém que se colocou contra as práticas ortodoxas e 
que estava certo ao fazê-lo (“Homer the Heretic”). Ele tem também raros 
momentos em que parece reconhecer as próprias limitações. Certa vez, 
perguntou a Marge: “Você está aqui para me ver, certo?”, quando ela apa­
receu na usina, revelando sua crença de que, como ele era um homem de 
poucas qualidades, precisava ter certeza de que Marge estava lá de fato 
para vê-lo (“Life on the Fast Lane”). E checou duas, três vezes se Lurleen 
Lumpkin estava realmente flertando com ele, só para ter certeza de que ela 
estava sexualmente interessada nele (“Colonel Homer”).
Avaliação: julgando Homer
O que podemos deduzir de tudo isso? Como fica Homer em uma 
avaliação ética? Ele não é uma pessoa maligna. Embora não seja um para­
digma de virtude, também não é mau. A reação mais dura que podemos ter 
em relação a ele é de pena. Temos pelo menos dois motivos para isso. O 
primeiro é que a formação de Homer deixa muito a desejar. Para começo 
de conversa, ele cresceu em Springfield, uma cidade cujos habitantes - 
com a rara exceção de Lisa - tem graves defeitos de caráter, variando da 
estupidez à maldade, da incompetência à falta de noção do mundo (mesmo 
Marge, que é uma boa candidata a ser outra exceção entre os habitantes de
Homer e Aristóteles 27
Sprinfield, é muito convencional e não costuma ter certas habilidades críti­
cas7). Considere que mesmo quando os membros do capítulo da Mensa em 
Springfield governaram a cidade (após a fuga do prefeito Quimby), conse­
guiram propor regras injustas, restritivas e altamente idealistas. Desneces­
sário dizer que reinou o caos (“They Saved Lisa’s Brain”).8
O efeito de ser criado num ambiente assim pode ser prejudicial para a 
formação do futuro caráter e das habilidades intelectuais de uma pessoa. 
Além disso, a criação num ambiente saudável é um dos principais argu­
mentos para o projeto de Aristóteles em Política: “Nosso propósito é con­
siderar que forma de comunidade política é a melhor para aqueles que 
forem mais capazes de realizar seu ideal de vida” (1260b25). De fato, a 
Ética de Aristóteles também visa ao estadista que deve pensar em qual 
seria o melhor caráter ético, e projetar uma comunidade política capaz de 
produzir esse caráter. Se isso estiver certo, então um motivo por que temos 
pena de Homer é que esse aspecto de sua formação - isto é, Springfield - 
escapa de seu controle.
Alémdisso, a criação de Homer em casa também deixa muito a dese­
jar. Sua mãe o abandonou quando ele era muito pequeno, e seu pai nunca o 
incentivou a se tomou alguém de valor; quando Homer tinha qualquer aspi­
ração, o pai as destroçava (“Mother Simpson” e “Barí Star”). Além disso, 
uma qualidade sobre Homer que ele certamente não podería controlar é o 
gene Simpson, que aparentemente faz um Simpson ficar mais estúpido com 
a idade. Esse gene “tem defeito só no cromossomo Y” e não no X, o que 
explica por que Lisa e outras mulheres Simpsons têm sido espertas e bem- 
sucedidas (“Lisa the Simpson”). Nesse caso, Homer pouco pode fazer para 
melhorar a si próprio. E esses fatores explicam por que costumamos olhar 
para Homer com pena, em vez de desdém ou ódio.
O segundo motivo para o nosso julgamento de Homer não ser duro 
demais, embora ele não seja virtuoso, é que ele geralmente não é uma 
pessoa maldosa. E egoísta, guloso, ganancioso e, às vezes, muito burro, 
mas raramente tem inveja dos outros ou lhes deseja algo ruim. É verdade 
que ele costuma agir com intenção deliberada de prejudicar as pessoas, 
mas achamos que essas pessoas, de certa forma, não merecem um trata­
mento melhor. Por exemplo, o desprezo que Homer tem de Selma e Patty 
parece ser apropriado, se levarmos em conta o jeito como elas o tratam e a 
atitude desdenhosa delas para com ele. Homer também não gosta (embora 
tenha medo) do Sr. Bums. E, digam o que quiserem do Sr. Bums, ele é o 
paradigma do capitalista ganancioso, mau e cruel, disposto a andar por cima 
do cadáver de qualquer um para alcançar seus objetivos.9 E, por fim, Homer
7 Para uma visão aristotélica do caráter de Marge, ver capítulo 4 deste volume.
8 Sobre os vícios e erros de Springfield, ver capítulo 12 deste volume.
9 E também nunca será feliz. Ver capítulo 13 deste volume.
28 Os Simpsons e a Filosofia
trata Flanders de maneira indecente, indo da indiferença ao desdém. Mas 
Flanders, por sua vez, é um sujeito prepotente, arrogante e, ao mesmo tem­
po, ingênuo.10 Isso não justifica o jeito como Homer o trata, mas ajuda a 
entender. Se lembrarmos dessas exceções, veremos que Homer não é um 
indivíduo mau e não trata as pessoas com maldade. Esse é outro motivo por 
que, apesar da falta de caráter ético, Homer não provoca uma reação ne­
gativa em nós.
Podemos, portanto, julgar efetivamente que Homer não é uma pessoa 
viciosa, no sentido de ser governado pelo vício (vício, como inclinação para 
o mal). Digo “efetivamente” porque há uma exceção nesse julgamento: em 
relação aos apetites físicos por comida e bebida, Homer é vicioso. Não se 
contenta em comer e beber moderadamente, e isso deixa fora a virtude, pelo 
menos nessa área. Ele raramente, se é que alguma vez, acredita que deve 
controlar o excesso de comida e bebida, o que deixa de fora continência e 
incontinência. Além disso, não parece pensar que é errado (exceto por 
alguns problemas ocasionais de saúde) exagerar na comilança, mesmo em 
lugares inapropriados. Uma vez, disse a Marge: “Se Deus não quisesse que 
a gente comesse na igreja, não teda colocado a gula como pecado” (“King 
of the Hill”). Essas considerações nos permitem concluir com segurança 
que Homer exibe vícios na área dos apetites físicos da gastronomia.
Tendo em vista a abundância de evidências e exemplos, podemos 
chegar ao seguinte julgamento: Homer não é uma pessoa virtuosa. Nume­
rosos fatores nos levam a essa conclusão, mas talvez o mais saliente seja o 
fato de Homer não ter a estabilidade de caráter que acentua uma pessoa 
virtuosa. Simplesmente não se pode contar com ele para fazer a coisa cer­
ta, nem mesmo com respeito a ações que envolvam seus familiares. Além 
disso, o julgamento de que ele não é virtuoso, diferente do primeiro - i.e., 
que não é vicioso - não é efetivo. Pois embora Homer às vezes se compor­
te corretamente, seus motivos são tortuosos, ou na melhor das hipóteses 
ambíguos (seus atos de coragem são o melhor exemplo). E no que concer­
ne à sua família, mesmo quando ele faz o que achamos próprio de um bom 
pai ou marido, há exemplos demais que mostram o contrário. Homer sim­
plesmente não tem o tipo de caráter estável que é necessário para alguém 
ser virtuoso.
Devemos também nos lembrar de que em muitos casos nos quais ele 
faz a coisa certa, principalmente em relação à sua família, ele precisa lutar 
contra seus desejos de agir de forma contrária. As duas vezes em que com­
prou um saxofone para Lisa, ele teve de lutar contra seu desejo de comprar 
um ar condicionado (“Lisa’s Sax”). Às vezes, apesar de saber o que deve ser 
feito, ele prefere agir errado, exibindo o que os gregos chamam de akrasia, 
ou “fraqueza de vontade”. Por exemplo, em “The War of the Simpsons”,
10 Sobre o caráter de Flanders, ver capítulo 14 deste volume.
Homer e Aristóteles 29
ele prefere ir pescar durante a estada em Catfish Lake, embora soubesse 
que deveria dar atenção a Marge e ao casamento.
Homer não é uma pessoa virtuosa. Ele mostra seus defeitos na área 
da gastronomia e em outras esferas da vida; oscila entre a continência e a 
incontinência. Isso, é claro, não aparece na divisão dos tipos de caráter 
estabelecida por Aristóteles, pois sua divisão é lógica, e não uma descrição 
de que tipos de pessoas existem de fato. Homer exemplifica diferentes 
tipos de caráter, dependendo da área da vida em que se levanta a questão.
Conclusão: 9 importância de ser Homer
No início deste ensaio, afirmei que havia algo eticamente admirável 
em Homer Simpson. Mas tal afirmação gera um problema: Como isso pode 
ser verdade, se Homer não é virtuoso? Pois se o paradigma de um caráter 
eticamente admirável é ser virtuoso, e se Homer não corresponde a esse 
padrão, então dizer que ele é eticamente admirável soa falso. Além disso, 
mesmo que não o achemos maldoso, e mesmo que acreditemos que a for­
mação de seu caráter - pelo menos de um modo geral - estivesse além de 
seu controle, esses fatores não são suficientes para tomá-lo eticamente 
admirável. Para que aquela afirmação seja plausível, deve haver alguma 
outra coisa envolvida. E não pode ser o fato de Homer às vezes fazer a 
coisa certa, pois a afirmação é sobre ele, seu caráter, e não um subgrupo 
de ações.
Em “Scenes form the Class Struggle in Springfield”, Marge se dá 
conta de seu erro em tentar convencer a família a aceitar um círculo social 
elitista para o qual ela entrou recentemente. Aceitando os membros da 
família como eles são, ela enumera as qualidades que aprecia em cada um 
(mas não conseguiu encontrar uma em Bart). A qualidade de Homer que 
ela menciona é a de “humanidade na cara”; e essa qualidade, compreendi­
da em termos suficientemente gerais, não só se aplica a ele mas também 
explica como ele é eticamente admirável.
Essa qualidade não engloba aquelas características que levam Homer 
a fazer coisas que muitos de nós, em diferentes graus, considerariam exe­
cráveis, como arrotar, dar vazão à flatulência, coçar os glúteos e comer e beber 
até desmaiar. Se fosse só isso, Homer seria simplesmente um chato. Na verda­
de, essa qualidade aborda o amor e a paixão de Homer pela vida, em seus 
elementos mais básicos, enquanto, ao mesmo tempo, ele não dá muita atenção 
ao que as pessoas pensam. Homer não costuma ligar para etiqueta ou para 
a opinião que os outros fazem dele. Ele quer desfrutar a vida - a sua versão 
dela - ao máximo. Seu entusiasmo pela vida não é calculado, tampouco ele 
tem consciência disso. Mas esse entusiasmo se manifesta em suas ações, 
atitudes, falta de maldade e comportamento de criança (para não dizermos 
infantil); o que, de fato, pode ser encontrado na maioria dos exemplos deste
30 Os Simpsons e a Filosofía
ensaio. Quando acrescentamos a isso o fato de Homer ser um cidadão 
lutador de “classe média-alta-baixa”, que trabalha em urna fábrica sob a 
tirania de um capitalista cruel, e quando acrescentamos também o fato de 
Homer morar em Springfield, uma cidade que deve fazer uma pessoa parar 
e pensar antes de crer que a vida merece seramada, descobrimos um 
individuo que tem muito a ser admirado.
Essa qualidade que explica a admirabilidade de Homer - vamos cha- 
má-la de “amor pela vida”, lembrando do rótulo de Ned Flanders, “luxúria 
embriagante da vida” (“Viva Ned Flanders”) - não é uma virtude em si. 
Não porque não apareça na lista de Aristóteles, mas porque, como bem 
sabemos, tal qualidade, se não for canalizada, pode ser perigosa tanto para 
os outros quanto à própria pessoa (como penso ser o caso de Homer). 
Assim como a ambição, é uma qualidade positiva, e até admirável. Tam­
bém é uma qualidade ética. Se possuída devidamente, ela melhora a vida da 
pessoa, tomando-a mais agradável, e faz com que nós desejemos estar na 
companhia dela, não porque seja contagiante, mas simplesmente porque é 
agradável estar perto de gente assim. Se essas qualidades que contribuem 
para a felicidade de uma pessoa e seu florescimento geral forem plausivel- 
mente consideradas éticas, então uma qualidade como amor pela vida é útil, 
se usada e regulada pela razão prática. No caso de Homero, a qualidade 
não é canalizada pela razão, e vem com outros traços que fazem de sua 
posse algo perigoso. Mesmo assim, admiramos Homer por tê-la, a despeito 
de todas as probabilidades do contrário.11
Além disso, essa qualidade, especialmente por não estar devidamente 
canalizada em Homer, o fazer abertamente honesto quanto aos seus dese­
jos e necessidades - a ponto do exagero. Enquanto os outros fazem intrigas 
e tramam furtivamente, fingindo ser socialmente conformistas, Homer é 
claro, honesto e até franco demais sobre quem ele é, o que quer, o que 
pensa dos outros. Ele conhece suas limitações, ama sua família - de seu 
jeito próprio e moralmente atenuado - e é uma pessoa que mostra “na 
cara” o que é.
Contudo, não quero ser mal interpretado. Não estou dizendo que Homer 
é uma pessoa admirável, mas apenas que tem uma característica admirá­
vel. E tentador passar da última afirmação para a primeira, porque, em 
primeiro lugar, embora Homer não seja virtuoso também é vicioso, exceto 
pelos apetites físicos; em segundo lugar, o fato de Homer amar a vida a 
despeito de seus modestos meios financeiros e econômicos, e apesar de ter
11 As probabilidades do contrário aqui incluem seus meios financeiros e intelectuais mode­
rados e o fato de viver entre os moradores de Springfield. Devemos nos lembrar também que 
podemos admirar o caráter de Homer por outros motivos. Ele é, obviamente, muito engra­
çado. Também podemos admirá-lo porque vemos nele um sentido exagerado daquilo que 
somos.
Homer e Aristóteles 31
crescido e viver em uma cidade como Springfield (que não induz a uma 
vida boa), pode nos fazer achá-lo admirável por reter esse amor pela vida 
mesmo diante das situações difíceis. Mas devemos resistir à tentação, e 
por três motivos.
Primeiro, e como já mencionei, a qualidade do amor pela vida no caso 
de Homer não é regulada pela razão, e isso pode tomá-la moralmente peri­
gosa. Segundo, gostar da vida não é o mesmo que ter uma vida florescente. 
Uma pessoa pode realmente amar ao máximo a vida, sem, no entanto, vivê- 
la de maneira notável. Pense em alguém plenamente feliz, passando a vida 
contando as folhas da grama ou colecionando tampinhas de garrafa, mas 
que é capaz de ter metas mais nobres. Por mais feliz que seja essa pessoa, 
e por mais que goste do que faz, não podemos dizer que sua vida é bem 
vivida. Diante dos exemplos mencionados na terceira seção anterior, Homer 
certamente é capaz de levar uma vida melhor do que a sua atual. O terceiro 
é um motivo lógico: possuir uma característica admirável não faz de seu 
possuidor um indivíduo admirável. Os vilões geralmente têm a característi­
ca de superar o medo diante do perigo, e embora isso seja admirável, não 
achamos os vilões pessoas admiráveis. Na verdade, é por isso que às vezes 
dizemos a respeito de uma pessoa cruel: “Bem, pelo menos está sendo 
coerente”, reconhecendo essa coerência como uma característica admirá­
vel, embora isso não seja suficiente para considerar a pessoa também admi­
rável.
Além disso, um momento de reflexão nos faz compreender que Homer, 
na verdade, não é um indivíduo admirável. Não é virtuoso, e esse fato em si 
é suficiente para frustrar qualquer tentativa de se atribuir a ele admirabili- 
dade. Entretanto, às vezes as pessoas não-virtuosas são chamadas de admi­
ráveis se compensarem sua falta de virtude dando ao mundo, por exemplo, 
obras-primas artísticas. O exemplo a que me refiro é do artista Gauguin, 
que abandonou sua família à própria sorte enquanto ia se dedicar à arte no 
Taiti. Tais fatores extenuantes, porém, não se aplicam a Homer: Que con­
tribuição perene ele fez ao mundo para compensar sua falta de virtude e 
merecer a descrição de “admirável”?
Mas o amor de Homer pela vida é, sem dúvida, uma característica 
admirável, e essa conclusão não é trivial, pois muita gente só vê nele 
fanfarronice e imoralidade. E, além disso, o amor de Homer pela vida se 
destaca como uma qualidade importante, principalmente em nossos tem­
pos, em que a preocupação com uma política correta, os bons modos e a 
gentileza, a decisão de não julgar os outros, a obsessão pela saúde física, e 
o pessimismo quanto ao que é bom e agradável na vida reinam de maneira 
mais ou menos suprema. Em nossos dias, Homer Simpson - cujo adesivo 
no pára-lama diz “Single’n’Sassy” (Solteiro e gostoso) brilha como uma 
pessoa que se gaba dessas “verdades”. Ele não é politicamente correto, 
fica mais do que feliz por julgar os outros e, certamente, não parece ser
32 Os Simpsons e a Filosofia
obcecado por saúde. Essas qualidades podem não fazer de Homer um ho­
mem admirável, mas o tomam admirável em alguns sentidos e, mais impor­
tante, nos fazem desejá-lo e desejar os outros Homer Simpsons deste 
mundo.12
12 Quero agradecer às seguintes pessoas: os editores deste livro, por seus comentários úteis, 
principalmente Bill Irwin também por seu constante apoio e incentivo; Steve Iones, por 
participar comigo de excelentes conversas sobre Homer Simpson e por tolerar (e às vezes 
até apreciar) meu constante uso de citações homéricas em minha fala regular; meus brilhan­
tes estudantes na Escola do Instituto de Arte de Chicago, por discutir o tópico desse estudo 
comigo em numerosas ocasiões (envolvendo muita indulgência ¡moderada em comida e 
bebida), por usar exemplos de Os Simpsons em seus trabalhos de Filosofia e pela alegria 
contagiante deles só por saberem que eu estava escrevendo este ensaio: Annika Connor, Ted 
Dumitrescu, Christopher Koch, Cory Poole, Sara Puzey, Austin Stewart, e Dahlia Tulett 
(este trabalho é dedicado a eles).
2
Lisa e o antiintelectualismo 
americano
A eon J. Skoble
A sociedade americana costuma ter um relacionamento de amor e 
ódio com a noção do intelectual. Por outro lado, há um senso de respeito 
pelo professor ou dentista; mas, ao mesmo tempo, existe também um gran­
de ressentimento pela “torre de marfim” ou pelo “rato de biblioteca”, urna 
espécie de defensiva contra os inteligentes ou mais instruídos. Os ideais re­
publicanos dos Fundadores pressupõem cidadãos esclarecidos, mas, mesmo 
hoje em dia, a introdução de análises ainda que remotamente sofisticadas de 
tópicos políticos é taxada de “elitismo”. Todos respeitam um historiador; no 
entanto, a opinião dele pode ser desconsiderada com o argumento de que 
“não é mais válida” do que aquela do “operário”. Os comentaristas populistas 
e políticos frequentemente exploram esse ressentimento dos conhecimen­
tos especializados, embora apelem para eles quando lhes convêm; por exem­
plo, quando um candidato ataca seu adversário por ser um “elitista”, quando, 
na verdade, ele é um produto semelhante (ou conta com conselheiros se­
melhantes) da mesma origem educacional.
Do mesmo modo, um hospital pode consultar um especialista em bioética, 
ou rejeitar seus conselhos, alegando ser abstratos demais ou sem ligação com 
as realidades da medicina. Na verdade, parece que a maioria das pessoasgosta de defender suas posições citando especialistas, mas invoca um sen­
timento populista quando estes não defendem suas visões. Por exemplo, 
posso fortalecer meu argumento citando um especialista que concorde co­
migo, mas, se o especialista discordar de mim, eu direi: “Ora, o que ele sabe?” 
ou “Eu tenho direito à minha opinião também.” Por estranho que pareça, vemos 
o antiintelectualismo mesmo entre os intelectuais. Por exemplo, em muitas 
universidades hoje em dia, tanto entre os alunos quanto no corpo docente, a 
importância dos clássicos e das ciências humanas tem sido incrivelmente 
diminuída. A tendência é desenvolver programas pré-profissionais e enfatizar
3 3
3 4 Os Simpsons e a Filosofia
a “relevância”; enquanto as aulas de ciências humanas são consideradas 
um luxo ou apenas um programa adicional, mas não necessariamente ca­
racterísticas de uma educação universitária. Na melhor das hipóteses, são 
vistas como veículos para desenvolver “habilidades transferíveis”, tais como 
composição ou pensamento crítico.
Parece que há modismos periódicos, como o oscilar de um péndulo: 
nos anos 1950 e inicio dos anos 1960, havia um tremendo respeito pelos 
dentistas, enquanto os Estados Unidos competiam com os soviéticos em 
áreas como a exploração espacial. Hoje, parece que o pêndulo reverteu 
seu balanço, à medida que o atual zeitgeist considera todas as opiniões 
igualmente válidas. Mas, ao mesmo tempo, as pessoas ainda parecem inte­
ressadas no que os supostos especialistas têm a dizer. Uma breve análise 
dos talk shows na televisão ou das cartas ao editor, nos jornais, revela essa 
ambivalência. O talk show convida um especialista porque presumivel­
mente as pessoas se interessarão pelas análises ou opiniões de tal indivíduo. 
Mas os participantes do painel e membros da platéia que discordarem do 
especialista poderão dizer que suas opiniões e perspectivas são igualmente 
dignas de notas. Um jornal pode manter uma coluna com opiniões de um 
especialista, cuja análise de uma situação pode ser mais completa do que a de 
uma pessoa comum, mas as cartas dos leitores que discordam geralmente se 
baseiam na subjacente (quando não declarada) premissa de que “Ninguém 
sabe realmente coisa alguma” ou “Tudo é questão de opinião, e a minha 
também conta”. Essa última noção é particularmente insidiosa: na verdade, 
se fosse verdade que tudo depende de opinião, a minha seria tão importante 
quanto a de um especialista; não existiría o conhecimento especializado.
Assim, é justo dizer que a sociedade americana vive em conflito 
quanto aos intelectuais. O respeito por ele parece andar de mãos dadas 
com o ressentimento. Esse é um problema intrigante, e também de grande 
importância, pois parece que estamos à beira de uma nova “idade das tre­
vas”, em que não só a noção da especialidade, mas de todos os padrões de 
racionalidade estão sendo desafiados. As consequências sociais são clara­
mente significativas. Como um veículo de exploração desse tema, pode ser 
surpreendente escolher um programa de televisão que, à primeira vista, 
parece dedicado à idéia de quanto mais idiota melhor; mas, na verdade, 
dentre as muitas coisas que Os Simpsons habilmente ilustra sobre a socie­
dade, a ambivalência americana quanto ao conhecimento especializado e a 
racionalidade é, sem dúvida, uma delas.13
13 Seria antiintelectual para uma pessoa com Ph.D. escrever um ensaio sobre um progra­
ma de tevê? Como discutimos na introdução, não necessariamente: depende se o programa 
pode iluminar algum problema filosófico, ou servir como um exemplo acessível para expli­
car uma questão. Se quiséssemos adotar uma abordagem antiintelectual, poderiamos argu­
mentar que tudo o que precisamos saber pode ser aprendido na televisão, mas, certamente, 
não é isso que estamos dizendo: de fato, estamos tentando usar o interesse das pessoas pelo 
programa como um meio de fazê-las ler mais filosofia.
Lisa e o antiintelectualismo americano 3 5
Em Os Simpsons, Homer é o clássico exemplo de um bobão 
antiintelectual, assim como a maioria de seus conhecidos e seu filho. Mas 
sua filha, Lisa, não só é pró-intelectual, mas tem uma inteligência superior 
à sua idade. Ela é extremamente inteligente, sofisticada e, freqüentemente, 
mais esperta que todos à sua volta. Claro que as outras crianças caçoam 
dela na escola e os adultos geralmente a ignoram. Por outro lado, seu pro­
grama de tevê favorito é o mesmo do irmão: um desenho animado violento 
e inconseqüente. A preferência dela pelo programa retrata o relaciona­
mento de amor e ódio da sociedade americana com os intelectuais.14 Antes 
de estudarmos os modos como isso acontece, examinemos o problema 
mais de perto.
Autoridade falaciosa e a especialidade real
Um tema essencial dos cursos introdutórios de lógica é que é um 
engano ou uma falácia “apelar para a autoridade”; entretanto, as pessoas 
costumam fazer isso com mais frequência do que seria apropriado. Estrita­
mente em termos de lógica, é sempre um erro argumentar que uma propo­
sição é verdadeira porque fulano assim afirma; mas os apelos à autoridade 
costumam ser usados para demonstrar que temos bons motivos para acre­
ditar na proposição, embora não constituam prova de sua veracidade. Como 
todas as falácias envolvendo a tal relevância, o problema com esses argu­
mentos de autoridade é que eles a evocam de uma maneira irrelevante. Por 
exemplo, em questões que são realmente subjetivas, como qual pizza ou 
refrigerante eu devo experimentar, invocar a autoridade de outra pessoa é 
irrelevante, pois eu posso não ter os mesmos gostos.15 Em outros casos, o 
erro está em se supor que, porque uma pessoa é autoridade em determina­
da área, seu nível de conhecimento especializado se estende a todas as 
outras. Por exemplo, Troy McClure endossando a cerveja Duff não consti­
tuiría um apelo válido à autoridade, pois ser ator não garante a especialida­
de em cerveja. (E experiência não é o mesmo que especialidade: Barney 
também não é especialista em cerveja.) Em outros casos, o apelo é enga­
noso, ou falacioso, uma vez que certos assuntos não podem ser resolvidos 
recorrendo-se a especialistas, não por serem subjetivos, mas porque são 
incognoscíveis, como por exemplo o futuro do progresso científico. O exem-
14 Intelectuais e especialistas não são a mesma coisa, claro: muitos intelectuais não se 
especializam em coisa alguma. Mas eu desconfio que a antipatia para com ambos tem raízes 
semelhantes, e a distinção se perde entre aqueles que tendem a rejeitar ou desprezar os dois.
15 Não estou dizendo se há ou não critérios objetivos para julgar a comida, mas simplesmen­
te mostrando que o fato de Smith preferir chocolate à baunilha é bem diferente do fato de 
Jones preferir assassinato ao aconselhamento.
3 6 Os Simpsons e a Filosofía
pío clássico aqui é a afirmação de Einstein, em 1932, de que “não existe a 
menor indicação de que a energia [nuclear] pode ser obtida.”16
Mas após expormos todo esse ceticismo em relação aos apelos à 
autoridade, vale lembrar que algumas pessoas realmente sabem mais so­
bre certas coisas do que outras, em muitos casos, o fato de uma autorida­
de em determinado assunto nos dizer alguma coisa realmente é um bom 
motivo para acreditarmos nela. Por exemplo, como não tenho um conhe­
cimento em primeira mão da Batalha de Maratona, devo acreditar no que 
outras pessoas me dizem sobre o tema, e um historiador clássico é exata­
mente o tipo de pessoa a quem devo recorrer, enquanto um médico já não 
seria.17
Geralmente as pessoas se ressentem da aplicação da sabedoria, prin­
cipalmente em ideais morais ou sociais. Elas podem argumentar que, de 
fato, existe a possibilidade de alguém se especializar no estudo das guerras 
entre gregos e persas, mas isso não significa que tal indivíduo possa nos 
esclarecer a respeito da política mundial na atualidade.18 Você pode ser 
um perito na teoria moral de Aristóteles, mas isso não significa que você 
tem condições de me dizer como devo levar minha vida. Essa espéciede 
resistência ao conhecimento especializado vem, em parte, da natureza 
de um regime democrático, e o problema não é novo, mas já tinha sido 
identificado por filósofos como Platão, por exemplo. Já que em uma demo­
cracia todas as vozes são ouvidas, isso pode levar as pessoas a concluir que 
todas as vozes têm igual valor. As democracias costumam se justificar pelo 
contraste às aristocracias ou oligarquias que pretendem substituir ou resis­
tir. Nessas sociedades elitistas, alguns presumem saber mais ou até ser 
pessoas melhores; enquanto nós, democratas, sabemos que isso não é ver­
dade. Todas as pessoas são iguais. E claro, porém, que a igualdade política 
não implica que ninguém possua conhecimento que os outros não têm; na 
verdade, poucas pessoas levam isso em conta na maioria das habilidades 
específicas, como encanador ou mecânico de automóveis. Ninguém, entre­
tanto (dizem), pode saber mais do que os outros sobre como viver, como ser 
justo. Daí se desenvolve uma espécie de relativismo: da rejeição das elites 
governantes, que podem não saber mais a respeito de justiça do que qual­
quer um de nós, a uma rejeição da noção de padrões objetivos de certo e 
errado. O certo é aquilo que eu sinto ser certo, o que é certo para mim. 
Hoje em dia, há uma tendência até nas academias de se questionar as 
noções de objetividade e especialidade. Não são consideradas como histó­
16 Citado por Christopher Cerf e Victor Navasky, The Experts Speak (Nova York: Pantheon 
Books, 1984), p. 215.
17 Claro que há exceções, caso o médico, por exemplo, também for especialista na Batalha de 
Maratona, se estudá-la como hobby; mas me refiro aqui à profissão médica.
18 Caso você esteja em dúvida, veja The Greco-Persian Wars, de Peter Green (Berkeley: 
University of California Press, 1996).
Lisa e o antiintelectualismo americano 3 7
ria verdadeira, mas apenas diferentes interpretações da história.19 Não há 
interpretações corretas de obras literárias, somente interpretações diferen­
tes.20 Até a ciência física, às vezes, é considerada repleta de valores e não 
objetiva.21
Assim, temos todos esses fatores contribuindo para um clima no qual a 
noção da especialidade se dilui e, ao mesmo tempo, vemos tendências contra­
ditórias. Se não existe o conhecimento especializado, e todas as opiniões são 
igualmente válidas, por que os talk shows e as listas dos livros mais vendidos 
trazem tantos especialistas em amor e anjos? Aliás, para que assistir a esses 
programas ou ler esses livros? Para que mandar as crianças à escola? É 
óbvio que as pessoas ainda dão uma certa importância à noção da especiali­
dade e, em muitos casos, buscam sua orientação. As pessoas parecem ter 
uma tendência a desejar que lhes digam o que fazer. Alguns críticos de reli­
gião atribuem sua influência a essa necessidade psicológica, mas não preci­
samos procurar fora do reino político para ver evidências disso. Espera-se 
“liderança” das figuras políticas: temos o problema do desemprego - ninguém 
sabe que providências tomar? Esse fulano seria um melhor presidente do que 
aquele outro, porque ele sabe como reduzir os crimes, acabar com a pobreza, 
melhorar as vidas de nossas crianças e assim por diante. Mas a ambivalência 
se mostra distintamente nesses contextos. Se o candidato Smith se gabar de 
sua especialidade e capacidade de “fazer as coisas bem feitas”, o candidato 
Jones provavelmente o acusará de ser um elitista de “nariz empinado”. Tam­
bém vemos a situação paradoxal em que as declarações das celebridades a 
respeito de questões políticas são levadas a sério, como se um músico ou ator 
pudesse acrescer alguma coisa à visão política de qualquer pessoa, e ao
19 Veja por exemplo o livro de Mary Lefkowitz, Not Out o f Africa (Nova York: Basic Books, 
1996), no qual ela narra suas experiências como uma classicista tentando manter padrões de 
inquirição na inflamada área da Arqueologia com base em raças.
20 Para uma rara explicação objetiva da interpretação artística, ver William Irwin, Intentionalist 
Interpretation: A Philosophical Explanation and Defense (Westport, CT: Greenwood Press, 
1999). Ironicamente, ao mesmo tempo em que noção de verdade e especialidade está sendo 
desafiada dentro do meio acadêmico - não existem especialistas em moralidade - os talk 
shows e as listas dos livros mais vendidos estão repletos de especialistas em itens como 
relacionamento, horóscopo e anjos. Mas esses especialistas, eu creio, só são procurados 
porque confirmam as predisposições de uma pessoa, e rejeitados quando não o fazem. De 
fato, a rejeição das afirmações de conhecimento no campo de valores é diferente da rejeição das 
afirmações de conhecimento nas áreas físicas; mas o interessante é vermos ambas, e ao mesmo 
tempo também deparamos com afirmações falsas de especialidade em inúmeras questões 
inapropriadas.
21 Ver, por exemplo, Alan Sokal e Jean Bricmont, Fashionable Nonsense Postmodem 
lntellectuals ’ Abuse o f Science (Nova York: Picador, 1998). A base desse livro foi a fraude, 
hoje famosa, de Sokal, na qual ele enviou um ensaio fajuto baseado nesse tema, que foi 
prontamente aceito por editores de periódicos científicos como uma ótima obra. O título do 
ensaio era: “Transgredindo as fronteiras: Na direção de uma hermenêutica transformativa 
da gravidade quântica”, originalmente publicada em Social Text 46-47, (1996), p. 217-252.
3 8 Os Simpsons e a Filosofía
mesmo tempo se deseja a noção de especialidade em govemos. Com quais 
visões a maioria dos americanos está mais familiarizada: de Alee Baldwin e 
Charlton Heston ou de John Rawls e Robert Nozick?
Além da especialidade política, as pessoas também anseiam (embora 
pareçam ambivalentes) pela especialidade tecnológica. A maioria não hesi­
ta em reconhecer que é incompetente para serviços de encanador e mecâ­
nica e para realizar cirurgias, e de bom grado passam essas tarefas para as 
mãos dos especialistas. No caso do cirurgião, vemos outra manifestação da 
ambivalência. Penso nos casos em que as pessoas defendem a medicina 
alternativa ou as curas espirituais - o que sabem os médicos, afinal? Essa é 
uma tendência moderna nos meios acadêmicos de se achar que a ciência 
é repleta de valores e deficiente em objetividade. Mas não encontramos 
defensores dos “encanadores alternativos” ou “mecânica de automóveis 
espiritual”, por isso a especialidade desses profissionais é mais facilmente 
aceita; e os serviços do tipo faça-você-mesmo não são exemplos contrários, 
pois se trata aqui de alguém se considerar hábil nesse ofício, não necessaria­
mente negar aos outros essa aptidão. Além disso, como os encanadores e 
mecânicos não costumam se posicionar como especialistas em campos além 
dos seus (já os cirurgiões podem se posicionar como peritos em ética), são 
menos susceptíveis ao ceticismo alheio.22
Admiramos Lisa ou rimos delâ P
O antiintelectualismo americano, portanto, é penetrante, mas não 
abrange tudo e todos. Assim como muitos outros aspectos da sociedade 
moderna, Os Simpsons usa freqüentemente esse tema como alimento para 
a sua sátira. Na família Simpson, só Lisa poderia ser descrita como inte­
lectual. Mas essa descrição não é totalmente lisonjeira. Em contraste ao 
seu pai, absurdamente ignorante, ela sempre tem a resposta certa para um 
problema ou uma análise mais perceptiva de uma situação; por exemplo, 
quando expõe a corrupção política23 ou quando desiste do sonho de ter um 
pônei para que Homer não precise trabalhar em três empregos.24 Quando 
Lisa descobre a verdade por trás do mito de Jebediah Springfield, muitas 
pessoas não se convencem, mas Homer diz: “Você sempre está certa nes­
sas coisas.”25 Em “Homer’s Triple Bypass”, Lisa chega a conversar com o 
Dr. Nick durante uma cirurgia do coração e salva a vida de seu pai. Mas, 
outras vezes, seu intelectualismo é usado como motivo de piadas, como se
22 Isso também indica por que as atitudes populares em relação a “autoridade” e aos 
“intelectuais” não são exatamente as mesmas.
23 “Mr. Lisa Goes to Washington.”24 “Lisa’s Pony.”
25 “Lisa the Iconoclast.”
Lisa e o antiintelectualismo americano 3 9
ela fosse esperta “demais”, ou estivesse apenas dando sermões. Por exem­
plo, seu vegetarianismo por principios é revelado como dogmático e instá­
vel,26 e ela usa Bart num experimento científico sem o conhecimento dele,27 
evocando exemplos do pior tipo de arrogância, como o infame estudo 
Tuskegee.28 Ela faz um agito para entrar no time de futebol, mas está mais 
interessada em provar uma idéia do que em jogar.29 Assim, embora sua 
sabedoria seja, às vezes, apresentada como valiosa, em outras ocasiões ela 
demonstra o caso de ser santimonial ou condescendente.
Uma crítica populista comum do intelectual é o chavão típico: “Você 
não é melhor do que nós.” A idéia dessa acusação parece ser que, se eu 
consigo demonstrar que o suposto sábio é “na verdade” uma pessoa co­
mum, então talvez eu não precise ficar tão impressionado com a opinião 
dele. Daí a expressão, “ele veste a calça uma perna de cada vez, como 
todo mundo.” A implicação desse vulgarismo é claramente “ele é uma pes­
soa comum como você e eu; então, por que devemos ficar assombrados 
com sua alegada especialidade?” No caso de Lisa, vemos que ela tem 
muitas das mesmas manias das outras crianças: ao lado do irmão, ela assis­
te ao violento desenho animado Comichão e Coçadinha, venera o ídolo 
adolescente Corey, brinca com a boneca que seria a Barbie de Springfield, 
Malibu Stacy. Temos, portanto, ampla oportunidade de ver Lisa como al­
guém que “não é melhor” que os outros em muitos sentidos, o que nos 
permite não levar muito a sério sua esperteza. E verdade, claro, que isso é 
apenas um comportamento típico de uma garota muito jovem, mas como em 
tantos outros casos ela é apresentada não simplesmente como um prodígio, 
mas sim sobrenaturalmente sábia, sua predileção pelo violento desenho e por 
Corey parece ganhar destaque, assumindo uma importância maior. Lisa é 
retratada como o avatar da lógica e da sabedoria; no entanto, ela venera 
Corey, por isso não é “melhor que os outros”. Em “Lisa the Skeptic”, ela é a 
única voz da razão quando a cidade está convencida de que foi encontrado o 
“esqueleto de um anjo” (trata-se de uma fraude), mas quando o esqueleto 
parece falar, ela fica com medo, assim como todas as outras pessoas.
O relacionamento de Lisa com a boneca Maliby Stacy, é na verdade, 
o tema central de um episódio,30 e isso também demonstra uma ambivalên­
cia na sociedade quanto ao racionalismo. Aos poucos, Lisa vai percebendo 
que a boneca não é um modelo positivo para jovens garotas, e ela começa 
a insistir, na verdade até contribui para o desenvolvimento de uma boneca 
diferente que encoraja as meninas a crescer e a aprender. Mas os fabri-
26 Lisa the Vegetarían.”
27 “Duffless.”
28 Esse foi um caso em que os médicos fizeram experiências sem o consentimento e desres­
peitando o bem-estar dos “participantes”, que foram infectados com sífilis.
29 “Bart Star.”
30 “Lisa v í . Malibu Stacy.”
40 Os Simpsons e a Filosofia
cantes de Malibu Stacy contra-atacam com uma nova versão de sua bone­
ca, que triunfa no mercado de brinquedos. O fato de a boneca “menos 
intelectual” ser grandemente preferida à boneca de Lisa, embora todas as 
objeções da menina sejam sensatas, serve para ilustrar como as idéias sen­
satas podem ser relegadas ao segundo plano, perdendo espaço para a “di­
versão” e o hábito de “seguir o fluxo”. Esse debate ocorre com freqüéncia 
no mundo real, claro: Barbie é o alvo de eternas críticas do tipo das que 
Lisa faz contra Malibu Stacy, mas continua sendo imensamente popular, e 
de um modo geral, vemos críticas intelectuais sobre brinquedos considerados 
“fora do real” ou elitistas.31
Reís filósofos*? Dã!
Um exemplo mais específico de como Os Simpsons reflete a ambi­
valência americana em relação aos intelectuais aparece no episodio “They 
Saved Lisa’s Brain”.32 Nesse episodio, Lisa se associa à filial local de 
Mensa, que já inclui o professor Frink, o Dr. Hibbert e o Cara dos Quadri­
nhos (Comic Book Guy). Juntos, eles acabam se tomando responsáveis por 
Springfield. Lisa como que faz urna rapsodia sobre a liderança dos inte­
lectuais, uma verdadeira utopia racionalista, mas muitos dos programas alie­
nam os cidadãos comuns (incluindo, é claro, Homer, líder da brigada dos 
idiotas). Seria muito fácil vermos essa seqüéncia de eventos como urna 
sátira da pessoa comum que é tola demais para reconhecer a liderança 
dos sábios; mas a sátira vai além. A própria noção de liderança intelectual 
é atacada - os membros da Mensa têm algumas idéias legítimas e boas 
(por exemplo, mais regras de trânsito racionais), mas também algumas ridí­
culas (censura, rituais de acasalamento como os que aparecem em Jorna­
da nas Estrelas), e vivem brigando entre si. Eles oferecem algo de valor, 
principalmente em contraste ao regime corrupto do prefeito Quimby ou ao 
reinado de idiotice que Homer representa, e as intenções de Lisa são boas; 
mas é impossível vermos esse episódio como inegavelmente pró-intelectual, 
já que um dos temas é claramente o fato de que os esquemas utópicos das 
elites são instáveis, inevitavelmente impopulares e, às vezes, idiotas. Como 
diz Paul Cantor: “o episódio da utopia representa a estranha mistura de 
intelectualismo e antiintelectualismo característica de Os Simpsons. No 
desafio de Lisa a Springfield, o programa chama a atenção para as limita­
ções culturais das cidadezinhas americanas, mas também nos lembra que o
31 GJ Joe, por exemplo, é criticado por promover o militarismo e a violência, como todos os 
outros brinquedos “armas”; os pais, porém, rejeitam os alertas dos intelectuais para que as 
crianças usem outro tipo de brinquedo.
32 Para uma discussão mais detalhada desse episódio, ver capítulo 11 deste livro.
Lisa e o antiintelectualismo americano 41
desdém intelectual pelo homem comum pode ser levado ao extremo e essa 
teoria pode facilmente levar a um afastamento do senso comum.”33
E verdade, porém, que os esquemas utópicos das elites geralmente 
são mal concebidos, ou constituem, na verdade, esquema de sede de poder 
mascarando o senso comum. Mas será que a única alternativa é a plebe de 
Homer ou a oligarquia de Quimby? Os elaboradores da Constituição dos 
Estados Unidos esperavam combinar principios democráticos (um Con­
gresso) com alguns dos benefícios de um governo de elite não-democrático 
(um Senado, uma Corte Suprema, uma Declaração de Direitos). Isso levou 
a resultados mistos, mas em contraste a outras alternativas parece ter dado 
certo. Será que toda a ambivalência de nossa sociedade sobre os inte­
lectuais se deve a essa tensão constitucional? Certamente não. E parte 
dela, mas, provavelmente, essa ambivalência é uma manifestação de con­
flitos psicológicos mais profundos. Nós queremos ter orientação autoritária, 
mas também queremos autonomia. Não gostamos de nos sentir estúpi­
dos; mas quando somos honestos, percebemos a necessidade de aprender 
algumas coisas, respeitamos as realizações dos outros, mas, às vezes, 
sentimo-nos ameaçados e ressentidos. Temos respeito pelas autoridades 
quando nos convém, e abraçamos o relativismo em outros casos. O uso de 
“nós” aqui, claro, é uma generalização: algumas pessoas manifestam esse 
conflito menos que outras (ou em alguns casos nem o manifestam), mas 
parece uma descrição apropriada de um panorama social geral. Não é uma 
surpresa que Os Simpsons, nosso programa de televisão mais profunda­
mente satírico, ilustra e exemplifica isso.
A ambivalência na sociedade americana com relação aos intelectuais, 
se for de fato um fenômeno psicológico com raízes profundas, provavel­
mente não desaparecerá logo. Mas ninguém melhora de status ou situação 
incentivando ou promovendo o antiintelectualismo. Aqueles que desejam 
salvar a república da tirania do professor Frink e do Cara dos Quadrinhos 
precisam encontrar meios de argumentar contra essa tirania de uma ma­
neira que não desencadeie um ataque em massa contra o ideal do desen­
volvimento

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